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Anne Karen Reis GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Endometriose ● Doença ginecológica crônica, benigna (não é um câncer, mas às vezes esses focos de endometriose vão se multiplicando de tal maneira que o quadro fica tão agressivo quanto), estrogênio-dependente e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. - Por que em idade reprodutiva? Porque ela menstrua, e se é uma doença que tem relação com a célula endometrial em outro local que não o útero, normalmente esse problema se dá em idade reprodutiva. ● Presença de tecido que se assemelha à glândula e/ou ao estroma endometrial fora do útero, com predomínio na pelve feminina, mas é possível ter endometriose em qualquer lugar. ● Endometriose peritoneal, ovariana e endometriose profunda. - Peritoneal → caracteriza-se pela presença de implantes superficiais no peritônio. - Ovariana → por implantes superficiais no ovário ou cistos (endometriomas). - Endometriose profunda → lesão que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos, com uma profundidade de 5 mm ou mais. - Pacientes que têm endometriose profunda têm dores fortíssimas na região do cóccix, quando vão evacuar e durante a relação sexual ● Prevalência da doença: entre 5% a 10% da população feminina em idade reprodutiva. FISIOPATOLOGIA - Não se sabe a causa da endometriose. Essas são as teorias mais lógicas para entender a endometriose. Teoria de Sampson ou da menstruação retrógrada Refluxo tubário. Células endometriais implantar-se-iam no peritônio e nos demais órgãos pélvicos, iniciando a doença. Teoria da metaplasia celômica Lesões de endometriose poderiam originar-se diretamente de tecidos normais mediante um processo de diferenciação metaplásica. Teoria genética Predisposição genética ou alterações epigenéticas associadas a modificações no ambiente peritoneal (fatores inflamatórios, imunológicos, hormonais, estresse oxidativo) poderiam iniciar a doença nas suas diversas formas. QUADRO CLÍNICO - Existe uma grande importância em se atentar aos sintomas de uma endometriose, pois se diagnosticada a doença, a paciente precisará cessar sua menstruação, caso contrário, os focos de endometriose irão continuar a se multiplicar, podendo causar obstrução das trompas, causando aderências que, consequentemente, levam à infertilidade. Anne Karen Reis GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Principais sintomas ● Dismenorreias → dor no período menstrual - Primária → não tem uma causa, é fisiológica - Secundária → quando tem causa, pode ser endometriose ● Dor pélvica ou dor acíclica ● Dispareunia de profundidade → dor na relação sexual - As aderências às vezes fazem com que o útero fique totalmente fixo e retrovertido, o que gera desconforto e dor na relação sexual. ● Alterações intestinais cíclicas (distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação e dor anal no período menstrual) → pode ser um foco endometrial no intestino ● Alterações urinárias cíclicas (disúria, hematúria, polaciúria e urgência miccional no período menstrual) → pode ser um foco endometrial na bexiga ● Infertilidade EXAME FÍSICO ● Nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco posterior ao exame especular sugerem a doença. ● Ao toque, útero com pouca mobilidade sugere aderências pélvicas. ● Nódulos geralmente dolorosos em fundo de saco posterior podem estar associados a lesões retrocervicais, nos ligamentos uterossacros, no fundo de saco vaginal posterior ou intestinais. ● Anexos fixos e dolorosos, assim como a presença de massas anexiais, podem estar relacionados a endometriomas ovarianos. DIAGNÓSTICO ● USG pélvico e transvaginal com preparo intestinal → paciente precisa estar em jejum, não pode ter fezes no intestino, porque é realizado um rastreio na bexiga, no fundo de saco, no ovário e no intestino. ● Ressonância magnética → a ressonância complementa o diagnóstico ● Exames de imagem especializados são muito eficientes na detecção e no estadiamento de lesões profundas e dos endometriomas ovarianos → a endometriose não é um câncer, mas às vezes é tão agressiva quanto e existe um estadiamento do nível de gravidade. Quanto mais focos houver fora do útero, maior a gravidade e maior o risco de aparecerem aderências. ● Videolaparoscopia no diagnóstico da endometriose → pacientes que apresentam exames normais e falha no tratamento clínico. TRATAMENTO Tratamento clínico da dor pélvica ● Progesterona de forma contínua (anticoncepcional): bloqueio ovulatório e tem efetividade no tratamento da dor pélvica ● Medicações orais de forma contínua: acetato de noretindrona, desogestrel e dienogeste ● Acetato de medroxiprogesterona de depósito: aplicado na dose de 150 mg intramuscular a cada 3 meses ● Anticoncepcionais de longa duração: DIU liberador de levonorgestrel (Mirena) e implante de etonogestrel ● Efeitos colaterais dos progestagênios: ganho de peso, alterações de humor, perda de massa óssea (principalmente acetato de medroxiprogesterona de depósito) ● Pílulas combinadas de estrogênios e progestagênios: indicado como tratamento de primeira linha Anne Karen Reis GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Medicações adjuvantes para controle da dor ● Danazol, os agonistas do GnRH e os inibidores da aromatase não têm sido amplamente utilizados na prática clínica em função dos efeitos colaterais. ● Antiinflamatórios não hormonais: na dismenorreia primária, apenas para alívio temporário da dor - Buscopan para cólica é péssimo, porque tira a dor, mas relaxa o músculo do útero, o que aumenta os coágulos, o que leva o útero a contrair mais ainda e o sangramento se prolonga. ● Terapias complementares na endometriose sintomática - Acupuntura - Fisioterapia do assoalho pélvico - Psicoterapia - Analgésicos como gabapentina e amitriptilina - Especialista no manejo da dor Tratamento cirúrgico ● Quando o tratamento clínico é ineficaz ou contraindicado. ● O objetivo da cirurgia é a remoção completa de todos os focos de endometriose, restaurando a anatomia e preservando a função reprodutiva. ● Preferencialmente por videolaparoscopia. ● Realizar a excisão completa dos focos utilizando pontos de referência e dissecção de espaços avasculares da pelve como etapas fundamentais para se desfazer a obliteração do fundo de saco e individualizar os órgãos da pelve. Tensão pré-menstrual (TPM) ● Síndrome pré-menstrual (SPM): distúrbio prevalente entre as mulheres em idade fértil. ● Definição: conjunto de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que aparecem no período pré-menstrual, com resolução rápida após o início da menstruação. Os sintomas são cíclicos e recorrentes. ● 75 a 80% das mulheres apresentam sintomas durante o período pré-menstrual. ● Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM): entre 3 a 8% das mulheres em idade reprodutiva padecem de sintomas severos o suficiente para desequilibrar suas vidas social, familiar e/ou profissional durante uma a duas semanas de cada mês. Conforme a manifestação principal, a SPM pode ser definida em quatro grupos: ● A - se predomina ansiedade, irritabilidade ou tensão nervosa. ● H - se predomina edema, dores abdominais ou tensão nervosa. ● C - cefaléia, podendo ser acompanhada por aumento do apetite, desejo de doces, fadiga, palpitação e tremores. ● D - se o quadro depressivo é preponderante, com insônia, choro fácil, esquecimento e confusão. - Cada um relacionado a fatores desencadeantes diferentes. Anne Karen Reis GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS - MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DA ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA (DSM IV) Devem estar presentes cinco ou mais sintomas na maioria dos ciclos menstruaisdurante a última semana da fase lútea, sendo que estes começam a diminuir após o início da fase folicular. Dentre os cinco ou mais sintomas relatados, deve estar presente pelo menos um dos quatro primeiros listados a seguir: ● Humor deprimido, sentimentos de falta de esperança ou pensamentos autodepreciativos ● Acentuada ansiedade, tensão, sentimento de estar com “nervos à flor da pele” ● Instabilidade afetiva acentuada ● Raiva ou irritabilidade persistente e acentuada ou conflitos interpessoais aumentados ● Diminuição do interesse pelas atividades habituais ● Sentimento subjetivo de dificuldade em concentrar-se ● Letargia, fadiga fácil ou acentuada, falta de energia ● Acentuada alteração do apetite, excessos alimentares ou avidez por determinados alimentos ● Hipersonia ou insônia ● Sentimento subjetivo de descontrole emocional ● Outros sintomas físicos, como sensibilidade ou inchaço das mamas, cefaléia, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço geral” e ganho de peso ETIOLOGIA ● Níveis livres de triptofano (aminoácido precursor da serotonina) mostraram alterações durante o ciclo menstrual correlacionadas com as concentrações de estrogênio. ● Causas ambientais: o papel da dieta. Alguns alimentos parecem ter importante implicação no desenvolvimento dos sintomas, como chocolate, cafeína, sucos de frutas e álcool. As deficiências de vitamina B6 e de magnésio. TRATAMENTO 1. Entender o processo pelo qual está passando. 2. Medidas úteis para aliviar os quadros mais leves, como: - Atividade física e a prática de esportes e de atividades relaxantes - Repouso suficiente, alimentação leve e variada, menor ingestão de sódio e água, visando reduzir a retenção hidrossalina. 3. Eliminação das flutuações hormonais e supressão da ovulação. 4. “Correção” da desregulação dos neurotransmissores com medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos. ● Paroxetina - efetivo tanto em seu uso contínuo como intermitente, com relação à redução da irritabilidade, labilidade emocional e alterações de humor. ● Substâncias aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA): a fluoxetina, a sertralina e a paroxetina CR. ● Medicamentos, todos ISRS 12, tiveram seu uso aprovado tanto para uso contínuo como intermitente. ● ACO composto por EE 20 mcg associado com drospirenona recebeu aprovação do FDA para o tratamento da SPM e TDPM: melhor efeito sobre os sintomas de intumescimento que outros ACOs já que a dose de 3 mg de drospirenona se mostrou equivalente a 25 mg de espironolactona, em relação aos seus efeitos diuréticos. Anne Karen Reis GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA CONCLUSÃO ● Diversas teorias têm sido propostas para justificar a etiologia da SPM e do TDPM. ● Fatores hormonais, psicológicos e ambientais parecem estar envolvidos; no entanto, ainda não há conclusões precisas que justifiquem essa patologia. ● Uma vez confirmado o diagnóstico, modificações no estilo de vida, suplemento de cálcio, vitamina B12 e V. agnus castus são opções não farmacológicas razoáveis. ● Se for necessária medicação, os ISRS são atualmente considerados a classe farmacológica mais efetiva. ● Outra opção é o uso de ACO combinados com EE e drospirenona que foram aprovados pelo FDA para o tratamento da SPM e do TDPM.
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