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Módulo de Didáctica das Línguas Bantu Curso de Licenciatura em Ensino Básico Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia (FACEP) Departamento de Ensino Básico Universidade Pedagógica Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720 Fax: (+258) 21-322113 Centro de Educação Aberta e à Distancia Programa de Formação à Distância Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto Telefone: (+258) 84 20 26 759 e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com Ficha técnica Autoria: Lucério Gundane Revisão Científica: Ilídio Macaringue, Carlos Massango e Luís Eusébio Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Malaquias Tsambe Revisão Linguistica: Salomão Massingue Edição técnica/Maquetização: Valdinácio Florêncio Paulo Layout da Capa: Valdinácio Florêncio Paulo Imagem base da Capa: Gaël Epiney Primeira Edição © 2017 Impresso e Encadernado por © Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio – mecânico ou eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica. Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço a DEUS, pela VIDA e pelo seu SUBLIME AMOR que me acompanha dia após dia. Em segundo, ao Prof. Doutor Geraldo Macalane, meu Director do Curso, pela orientação durante a cadeira de Metodologia de Ensino Bilingue, integrada no Mestrado em Linguística, edição 2013-2015, na qual pude adquirir abordagens teórico-práticas atinentes ao ensino bilingue em Moçambique. Em terceiro, quero, igualmente, expressar a minha profunda gratidão à minha família por tudo o que tem feito por mim, bem como o reconhecimento a todos os que não só tornaram possível a elaboração deste manual, mas também, sob o ponto de vista moral, expressaram o seu valor em diversos momentos. Por último, exprimir os meus sinceros agradecimentos a todos os docentes, em especial aos da UP – Maxixe, aos colegas do CEAD – Maputo, principalmente pelos métodos e técnicas de iniciação e de inserção técnico- científica a esta modalidade de ensino por eles proporcionados. Dedicatória À toda comunidade científica moçambicana, aos estudantes, pesquisadores de cursos de línguas, sobretudo, àqueles que se envolvem em pesquisas com vista à descrição e à sistematização de línguas moçambicanas do grupo bantu. Lista de abreviaturas CEAD Centro de Educação Aberta e à Distância CLG Curso de Linguística Geral EBA Ensino Básico à Distância EB Ensino Bilingue INDE Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação INE Instituto Nacional de Estatística L1 Língua Materna L2 Língua Segunda LA Língua Alvo LAD Dispositivo de Aquisição de Linguagem LB Língua bantu LE Língua estrangeira LP Língua Portuguesa LWC Língua de comunicação mais ampla MINEDH Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano PB Proto-Bantu PEA Processo de ensino e aprendizagem PEBIMO Programa Piloto de Ensino Bilingue em Moçambique PM Português de Moçambique SVO Sujeito-Verbo-Objecto TIC Tecnologias de Informação e Comunicação UniSaF Universidade Pedagógica/Sagrada Família UP Universidade Pedagógica Índice Visão Geral do Módulo i Unidade 1: Aquisição e desenvolvimento da língua (gem): pressupostos teóricos 1 Lição n° 1 3 Didáctica: conceitualização ........................................................................................................................................................... 3 1. Didáctica: conceitualização ............................................................................................................................... 4 Lição n° 2 9 Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) .................................................................................... 9 2. Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) ................................................................ 10 Lição n° 3 15 O processo de aprendizagem de línguas: teorias de aprendizagem .................................................................................. 15 3. O processo de aprendizagem de línguas ................................................................................................................ 16 3.1. Teorias de aprendizagem ......................................................................................................................................... 17 1.1.1. Teoria de aprendizagem mentalista .......................................................................................................... 18 3.1.2. Perspectiva behaviorista ...................................................................................................................................... 19 Lição n° 4 24 Aquisição e aprendizagem da L1 em contexto escolar .......................................................................................................... 24 4. Aquisição e aprendizagem da L1 ............................................................................................................................... 25 4.1. Princípios metodológicos da didáctica da L1....................................................................................................... 27 Unidade 2: Línguas bantu de Moçambique 33 Lição n° 5 35 Classificação das línguas bantu ................................................................................................................................................. 35 5. Classificação das línguas bantu ............................................................................................................................... 36 5.1. Situação linguística de Moçambique ..................................................................................................................... 38 Lição n° 6 43 Sistema fonético, fonológico e morfossintáctico das línguas bantu ................................................................................. 43 6. Sistema fonético, fonológico, morfológico e sintáctico das línguas bantu .................................................... 44 Unidade 3: O Currículo das línguas bantu no ensino primário em Moçambique 55 Lição n° 7 57 O Currículo das línguas bantu no ensino primário em Moçambique ................................................................................. 57 Motivações da introdução das línguas bantu no ensino primário em Moçambique ......................................... 58 7.1. Razões linguístico-pedagógicas ............................................................................................................................. 60 7.2. Razões culturais e identitárias .............................................................................................................................. 61 7.3. A língua como direito .............................................................................................................................................. 62 Lição n° 8 66 Educação bilingue: breve contextualização ............................................................................................................................. 66 8. Educação bilingue: breve contextualização ................................................................................................. 67 8.1. Modelos de educação bilingue ............................................................................................................................... 69 8.1.1. Modelo transicional (assimilacionista) ............................................................................................................... 71 8.1.2. Modelo de manutenção (pluralístico) ................................................................................................................73 8.2. Uma reflexão sobre o modelo de educação bilingue adoptado em Moçambique ...................................... 74 8.3. Noção de diglossia................................................................................................................................................... 79 Unidade 4: Planificação, organização e avaliação do processo de ensino e aprendizagem 83 Lição n° 9 85 Planificação, organização e avaliação do processo de ensino e aprendizagem ............................................................. 85 9. Planificação do processo de ensino e aprendizagem: definição dos objectivos educacionais ................. 86 9.1. Planificação do processo de ensino e aprendizagem ....................................................................................... 88 9.2. Avaliação do processo de ensino e aprendizagem ........................................................................................... 91 9.3. Organização do processo de ensino e aprendizagem ..................................................................................... 95 Unidade 5: Princípios metodológicos da didáctica de línguas: métodos 99 Lição n° 10 101 Princípios metodológicos da didáctica de línguas: método de ensino baseado em tarefas, em conteúdos e abordagem cooperativa ............................................................................................................................................................... 101 10. Ensino de línguas baseado em tarefas ................................................................................................................ 102 10.1. Aprendizagem cooperativa .................................................................................................................................. 105 10.1.1. Vantagens do método de aprendizagem cooperativa ................................................................................. 106 10.2. Método de ensino baseado em conteúdos ...................................................................................................... 108 Unidade 6: Propostas didáctico-metodológicas no âmbito do processo de ensino e aprendizagem de línguas bantu em Moçambique 113 Lição n° 11 115 Propostas didáctico-metodológicas no âmbito do processo de ensino e aprendizagem de línguas bantu em Moçambique .................................................................................................................................................................................... 115 11. Propostas didáctico-metodológicas no âmbito do processo de ensino e aprendizagem de línguas bantu em Moçambique ............................................................................................................................................................... 116 Unidade 7: Aprendizagem da leitura e escrita no ensino básico: modelos, estratégias e técnicas 125 Lição n° 12 127 Aprendizagem da leitura e escrita no ensino básico: modelos, estratégias e técnicas .............................................. 127 12. Aprendizagem da leitura e escrita: modelos, estratégias e técnicas ........................................................... 128 Lição n° 13 136 Ambiente linguístico familiar, escolar e dos pares ............................................................................................................. 136 13. Ambiente linguístico familiar, escolar e dos pares ........................................................................................... 137 Referências bibliográficas do Módulo 141 i Visão Geral do Módulo Introdução SEJA BEM-VINDO AO MÓDULO DE DIDÁCTICA DAS LÍNGUAS BANTU Nota preliminar Actualmente, o ensino e aprendizagem têm sido um principal campo de investigação, não só, tradicionalmente, em ciências atinentes à educação e à pedagogia, como também, diversas áreas de inserção técnico-científica, como, p. e., administração escolar, supervisão escolar, orientação educacional, filosofia, história, linguística, psicologia, didáctica, etc., vêm demonstrando grande interesse no estudo da prática educacional (ensino), não como uma actividade isolada da aprendizagem, mas como ferramentas ou elementos imprescindíveis para a compreensão do quotidiano quer do aluno, quer do professor. Por um lado, o ensinar e o aprender constituem, hoje em dia, um tema bastante complexo no quadro da didáctica geral visto que ambos, larga e positivamente, contribuem para a formação do homem, se se considerar a escola não meramente como uma instituição, mas, principalmente, como uma entidade que se integra dentro de um determinado contexto sociocultural, e, naturalmente, conducente à construção do conhecimento. Por outro lado, ainda que, sob o ponto de vista didáctico-metodológico, se distinga ensino da aprendizagem, é, pois, fundamental, que se observe minuciosamente todo o conjunto de práticas educativas que acompanham ambos os processos. ii Assim, este módulo surge no contexto do plano curricular de Licenciatura para o Ensino Básico, vigente na Universidade Pedagógica de Moçambique e visa proporcionar aos estudantes a aquisição de conhecimentos que lhes permitam conduzir o processo de ensino-aprendizagem, envolvendo uma língua materna (língua bantu). O mesmo se justifica pelo facto de a aprendizagem em contexto escolar de uma L1 ser uma tarefa muito complexa, pois exige-se que o professor saiba desenvolver a competência e as habilidades linguísticas e comunicativas que o aluno já adquiriu em contextos familiar e social. Assim, o futuro professor do Ensino Básico deve saber empregar uma didáctica que possibilite, de entre várias habilidades, desenvolver a L1 (língua bantu) nas quatro modalidades do uso da língua1; treinar tarefas comunicativas; explicitar o conhecimento gramatical e o funcionamento da língua; e criar situações-problema de carácter linguístico. Pretende-se que este módulo proporcione conhecimentos teóricos e práticos aos futuros professores de Ensino Básico para uma melhor compreensão reflexiva da acção didáctica de uma L1 em contexto social, escolar e histórico. Independentemente da formação ou inserção académico-científica, o presente Módulo destina-se a todos os estudantes de Linguística, estudantes de línguas, em particular, ao futuro professor do Ensino Básico e a todos aqueles que militam na área de ensino bilingue. Contudo, tratando-se de primeira edição, na consciência de que não é possível esgotar todos os conteúdos aqui, fica o convite para que me ofereçam críticas e sugestões destinadas principalmente ao melhoramento do Manual. O autor Lucério Gundane Março de 2017 1 Designadamente, compreensão (ouvir/ler) e produção (falar/escrever). iii Tome nota Competências do módulo Caro estudante, terminado o Módulo, você será capaz de desenvolver as seguintes competências: Desenvolve habilidades linguísticas, extralinguísticas e comunicativas na L1 (língua bantu); Conhece as condições históricas sociais e culturais que impulsionaram o surgimento das línguas bantu; Descreve o sistema fonético, fonológico, morfossintáctico das línguas bantu, bem como o seu sistema ortográfico; Desenvolve uma competência linguística, pragmática, comunicativa, discursiva e produtiva conforme a norma escolar; Descreve o currículo de língua bantu no Ensino Básico em Moçambique; Utiliza, com rigor, a L1, em conformidade com a norma escolar; Emprega estratégias, técnicas e métodos adequados ao ensino e aprendizagem da L1; Conduz o processo de ensino e aprendizagem num contexto multilingue. Objectivos do Módulo Caro estudante, quando terminar o estudo do Módulo de Didáctica das Línguas Bantu, você deve: Adquirir conhecimentos e noções básicas para o ensinoe desenvolvimento das competências e habilidades envolvidas no uso de uma L1; iv Usar métodos, estratégias, técnicas e materiais de ensino, aprendizagem e avaliação adequados para uma L1; Adquirir capacidades de auto-formação e actualização contínuas, no âmbito da didáctica de uma L1; Desenvolver capacidades científico-pedagógicas que visem à intervenção activa no ensino e aprendizagem de uma Língua Bantu em Moçambique. Objectivos específicos Caro estudante, especificamente, quando terminar o estudo do Módulo de Didáctica das Línguas Bantu, você deve ser capaz de: Descrever as condições socioculturais, históricas que impulsionaram o surgimento das línguas bantu; Descrever o sistema fonético, fonológico, morfossintáctico das línguas bantu, bem como o seu sistema ortográfico; Desenvolver a competência linguística, pragmática e comunicativa da sua L1, conforme a norma escolar; Explicar as razões que nortearam a introdução da educação bilingue em Moçambique; Descrever o currículo de língua bantu no ensino básico em Moçambique e o respectivo modelo adoptado; Diferenciar os processos de aquisição e da aprendizagem da língua materna; Conduzir o processo de ensino e aprendizagem na sua L1; Reflectir sobre diversas abordagens didáctico- metodológicas no âmbito do ensino e aprendizagem de línguas bantu no ensino básico em Moçambique; Produzir diversos materiais de apoio ao aluno a serem usados durante o ensino e aprendizagem. v Quem deve estudar este Módulo? Particularmente, este Módulo foi concebido para todos aqueles que estão inscritos no Curso de Licenciatura em Ensino Básico à Distância (EBA). Na eventualidade, o Módulo poderá interessar a todos os estudantes de Linguística, estudantes de cursos de línguas, em face dos seus objectivos que se cingem, na reflexão sobre os procedimentos didáctico-metodológicos atinentes ao ensino e aprendizagem de línguas bantu em Moçambique. Como está estruturado este Módulo? Este Módulo contém páginas introdutórias; uma lista completa de conteúdos; uma visão geral detalhada, que traz os aspectos-chave e contextualização da Didáctica das Línguas Bantu, principais objectivos, entre outras orientações de que o estudante precisa conhecer para completar o seu estudo. Em termos de conteúdos, o Módulo está estruturado em unidades. A unidade é constituída por um conjunto de lições. Note-se que cada unidade traz, inicialmente, uma introdução, objectivos e competências, seguindo-se as lições que a constituem. Por seu turno, cada lição inclui o tema de aula, os objectivos, o tempo necessário para a leitura da lição, a terminologia, um sumário e uma ou mais actividades para auto-avaliação e a bibliografia básica. Relativamente aos conteúdos, o Módulo comporta um total de sete unidades didácticas, divididas em 13 lições: a primeira unidade, além do quadro teórico sobre a didáctica, discute o processo de aprendizagem no contexto escolar; teorias de aprendizagem; princípios metodológicos da didáctica de L1; contradições e vi condições de ensino e aprendizagem da L1; a seguir, na segunda unidade, não só são classificadas e descritas as línguas bantu: seu aspecto fonético, fonológico, morfológico e sintáctico, assim como se faz alusão à situação linguística de Moçambique; a terceira unidade descreve o currículo de língua bantu no ensino básico em Moçambique: educação bilingue, o conceito ‘diglossia’; tipos de bilinguismo, motivações da introdução das línguas bantu em Moçambique; na quarta unidade propõem-se conteúdos atinentes à planificação, avaliação; organização do processo de ensino e aprendizagem e objectivos educacionais; A quinta unidade centra-se nalgumas abordagens sobre L1, L2, LE; e métodos e/ou técnicas no âmbito do processo de ensino e aprendizagem da L1; A sexta unidade está virada essencialmente a algumas propostas didáctico-metodológicas concernentes ao processo de ensino e aprendizagem em Moçambique; por fim, é na sétima unidade onde se discute o processo de aprendizagem de leitura e escrita no ensino básico, com enfoque às técnicas e estratégias, bem como ao desenvolvimento da língua em contexto familiar e social e aos pares. Habilidades de estudo Caro estudante! Para tirar maior proveito deste Módulo, você terá de buscar, através de uma leitura cuidadosa das fontes de consulta, a maior parte da informação ligada ao assunto abordado. Uma pergunta bem compreendida representa meia resposta, por isso, antes de resolver qualquer tarefa ou problema, você deve certificar se compreendeu a questão colocada. Deve fazer, sempre que possível, uma sistematização geral das ideias apresentadas na lição corrente. vii Precisa de apoio? Naturalmente, dúvidas são frequentes e comuns ao longo de qualquer outro tipo de estudo. Em face desta situação, você deverá consultar as obras e/ou manuais sugeridos no fim de cada lição pois, alguns, na eventualidade, podem estar disponíveis nos Centros de Ensino à Distância (centro de recursos) mais próximos. Caso enfrente dificuldades na resolução de exercícios, estude os exemplos semelhantes apresentados no Módulo. Caso a dúvida persistir, consulte a orientação que aparece no fim dos exercícios. Em caso de uma necessidade de explicação pormenorizada, recorra ao Departamento de Línguas, da Universidade Pedagógica, devendo, sempre que possível, contactar o autor do Módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) Caro estudante! Ao longo deste Módulo serão disponibilizadas várias tarefas e ou actividades que acompanharão o seu estudo. Tente, sempre que possível, com a juda dos seus colegas, bem como do tutor-local, solucioná-las. De lembrar que em situações de actividades e/ou trabalhos a serem realizados ou desenvolvidos, individual ou colectivamente em ambientes fora do Centro de Recursos, estas devem ser entregues ao Departamento que tutela o curso, através do tutor-geral. Chama-se, desde já, à atenção, o facto de você dever, obrigatoriamente, produzir trabalhos no âmbito das tarefas a serem realizadas, socorrendo-se sobretudo das TICs e, proceder ao seu devido envio, ao respectivo Departamento. vii i As avaliações constam do calendário académico do CEAD e sempre são marcadas pelo Chefe do Departamento em consonância com as avaliações dos cursos regulares. Em caso de impossibilidade de participar no dia marcado para a avaliação, você terá o direito de realizá-la oportunamente, mediante uma justificação convincente e com a autorização do Chefe ou Coordenador do Departamento de Ensino à Distância da sua Delegação. Uma parte importante da realização deste Módulo relaciona-se com a avaliação, que pretende ser inovadora, procurando romper com práticas didácticas baseadas exclusivamente em (2) testes escritos. Para tal, além de, pelo menos um teste semestral, a avaliação desta disciplina será baseada em pesquisas, quer bibliográficas, quer científicas, de acordo com os diferentes temas subjacentes ao plano de estudo, entre outros julgados pertinentes. Haverá, também, seminários em que se apresentarão e se discutirão trabalhos (individuais/grupos) cujos relatórios escritos serão entregues para a avaliação. Resumidamente, a avaliação consistirá na verificação do seu nível de compreensão e assimilação das matérias leccionadas, referentes a cada unidade temática. A avaliação final consistirá na exposição de uma aula na sua L1, cujos temas constam do plano curricular do ensino básico. Ícones de Actividades Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideraçãoa ix diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no módulo: 1. Exercício [enxada em actividade] 2. Actividade [colher de pau com alimento para provar] 3. Auto-Avaliação [peneira] 4. Exemplo/estudo de caso [Jogo Ntxuva] 5. Debate [fogueira] 6. Trabalho em grupo [mãos unidas] 7. Tome nota/Atenção [batuque soando] 8. Objectivos [estrela cintilante] 9. Leitura [livro aberto] 10. Reflexão [embondeiro] 11. Tempo [sol] 12. Resumo [sentados à volta da fogueira] x 13. Terminologia Glossário [Dicionário] 14. Video/Plataforma [computador] 15. Comentários [Balão de fala] 1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática ou aplicar o aprendido. 2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e verificar como está a ocorrer a aprendizagem. 3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não aprendido. 4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso diferente. 5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira. 6. Trabalho em grupo – Para a sua realização há necessidade de entreajuda, que se apoiem uns aos outros 7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção 8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor 9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter informações adicionais através de livros ou outras fontes. 10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber. http://www.freepik.com/index.php?goto=27&url_download=aHR0cDovL3d3dy5mbGF0aWNvbi5jb20vZnJlZS1pY29uL2ZpbGVfMTE4MDk4&opciondownload=318&id=aHR0cDovL3d3dy5mbGF0aWNvbi5jb20vZnJlZS1pY29uL2ZpbGVfMTE4MDk4&fileid=917606 http://www.freepik.com/index.php?goto=27&url_download=aHR0cDovL3d3dy5mbGF0aWNvbi5jb20vZnJlZS1pY29uL2NoYXQtY2lyY3VsYXItYnViYmxlLXdpdGgtbWVzc2FnZS10ZXh0LWxpbmVzXzUwMDEx&opciondownload=318&id=aHR0cDovL3d3dy5mbGF0aWNvbi5jb20vZnJlZS1pY29uL2NoYXQtY2lyY3VsYXItYnViYmxlLXdpdGgtbWVzc2FnZS10ZXh0LWxpbmVzXzUwMDEx&fileid=792302 xi 11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou lição. 12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade. 13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta, indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou então que se apresenta um Glossário com os termos mais importantes. 14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na plataforma digital de ensino e aprendizagem. 15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de auto-avaliação. 1 Unidade 1: Aquisição e desenvolvimento da língua (gem): pressupostos teóricos Pág. 2 - 32 Conteúdos U N ID A D E 1 Lição n° 1 3 Didáctica: conceitualização ......................................... 3 1. Didáctica: conceitualização ............... 4 Lição n° 2 9 Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) ............................................................... 9 2. Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) ............................... 10 Lição n° 3 15 O processo de aprendizagem de línguas: teorias de aprendizagem .............................................................15 3. O processo de aprendizagem de línguas ................................................................... 16 3.1. Teorias de aprendizagem ........................ 17 1.1.1. Teoria de aprendizagem mentalista ............................................................ 18 3.1.2. Perspectiva behaviorista ................... 19 Lição n° 4 24 Aquisição e aprendizagem da L1 em contexto escolar ...............................................................................24 4. Aquisição e aprendizagem da L1 ............ 25 4.1. Princípios metodológicos da didáctica da L1 ........................................................................ 27 Aquisição e desenvolvimento da língua (gem): pressupostos teóricos 2 Introdução Nesta unidade, espera-se que você reflicta sobre o conceito Didáctica, como arte e como ciência. Aqui você irá discutir e diferenciar os processos de aquisição e aprendizagem de línguas. Esta unidade apresenta também as principais diferenças entre estes dois processos. Ainda nesta unidade, você irá aprender algumas teorias que explicam os processos de aquisição e a aprendizagem de línguas, bem como alguns princípios metodológicos atinentes à didáctica da L1. Objectivos da unidade Assim, ao terminar esta unidade você será capaz de: Definir Didáctica, como arte e/ou como ciência; Explicar os condicionalismos que intervêm na aquisição e no desenvolvimento da linguagem; Descrever os princípios metodológicos da didáctica de L1; Explicar as duas teorias de aprendizagem de línguas (mentalista e behaviorista); Explicar as diferenças entre aquisição e aprendizagem da língua (gem). Tome nota Terminada a unidade, você desenvolverá as seguintes competências: Define Didáctica, como arte e/ou como ciência; Descreve os processos de aquisição e o desenvolvimento da língua; Explica as teorias de aprendizagem (mentalista e behaviorista); Descreve os princípios metodológicos da Didáctica de L1. 3 Lição n° 1 Didáctica: conceitualização Introdução Nesta lição, você irá aprender os pressupostos teóricos da ‘didáctica’ – seu objecto de estudo, bem como os aspectos sobre os quais ela se interessa. Irá, também, relacionar o conceito didáctica com outras áreas, como, por exemplo, a pedagogia, assim como os seus vínculos com outras ciências. Ao completar esta lição, você será capaz de: Objectivos Conceitualizar didáctica na óptica de vários autores; Definir o objecto de estudo da didáctica; Relacionar didáctica e outras áreas científicas afins; Distinguir a didáctica da pedagogia. Tempo Tempo de estudo da lição: Deverá reservar 40 minutos para a leitura compreensiva desta lição Terminologia Didáctica, pedagogia, didáctica de línguas. 4 1. Didáctica: conceitualização Caro estudante, no âmbito da disciplina Didáctica Geral você definiu, na óptica de vários autores, didáctica e o seu objecto de estudo. Chamamos, desde já, a sua atenção à seguinte questão: Didáctica é, para si, uma ciência ou arte de ensino? NB: Depois de ter reflectido sobre a questão, recorde-se que muitos autores são da opinião de que a didáctica, seja arte/técnica, seja ciência, integra-se nas ciências pedagógicas, cujo objecto de estudo é o processo de ensino e aprendizagem. A didáctica caracteriza-se como mediação entre “o que”, “como” e “para que” desse processo, com a intenção de promover o encontro formativo entre o aluno e a matéria de ensino. Parauma melhor compreensão desta lição, veja, a seguir, como os autores definem didáctica: 1) Para Barba & Silva (s/d: 6/8) apud Masetto (1977: 32), enquanto a pedagogia2 é reconhecida tradicionalmente como arte e ciência de ensinar, a didáctica é o estudo do processo de ensino e aprendizagem em sala de aula e de seus resultados. Até ao final do século XIX, a didáctica encontrava seus fundamentos quase que exclusivamente na Filosofia. 2) Em conformidade com Libâneo (2013: 67), a Didáctica, na pedagogia tradicional, é uma disciplina normativa, um 2De acordo com Gil (1997, cit: 16), pedagogia provém do grego, paidós = criança e gogein = conduzir. A pedagogia referir-se-ia apenas à educação das crianças. Por essa razão, alguns autores preferem falar de androgogia, para se referir aos esforços sistemáticos destinados à formação de adultos. Para este autor, esta distinção não é necessária, pois, pedagogia é o conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação tanto para crianças quanto para adultos. 5 conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A actividade de ensinar é centrada no professor, que expõe e interpreta a matéria. Na abordagem de Rodrigues et al. (2011: 1/2)3, como arte, a Didáctica não objectiva apenas o conhecimento pelo conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios princípios à finalidade concreta que é a instrução educativa. Enquanto arte de ensinar, ela é tão antiga como o próprio ensino, pois, em todos os tempos houve exímios educadores que, guiados por uma fina observação e por um grande talento, conseguiram os melhores resultados no domínio do ensino e da educação 3) Como ciência, ela é recente. Seus primeiros passos datam do século XVII, apresentando-se como um conjunto apreciável de verdades, de experiências, de factos e de técnicas, que impõem o seu estudo a todos quanto se pretendam dedicar ao nobre trabalho da educação e do ensino. Sublinha, ainda, Gil (op. cit: 22) que a didáctica de ensino superior envolve não apenas os conteúdos que se pretendem verdadeiros em função das evidências científicas, mas também a componentes intuitivos e valorativos. 4) Na asserção de Libâneo (op. cit: 25/6), a Didáctica é o principal ramo de estudos da pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter objectivos sociopolíticos e pedagógicos em objectivos de ensino, seleccionar conteúdos e métodos em função desses objectivos. 5) A Didáctica e as metodologias específicas das matérias de ensino formam uma unidade, mantendo, entre si, relações recíprocas. A Didáctica trata da teoria geral de ensino. As Cf. Rodrigues et al. (2011 : 1) apud Otão et al. (1965). In Revista Científica do ITPAC, Araguaína. V.4. N°.3. 2011. 6 metodologias específicas, integrando o campo da didáctica, ocupam-se dos conteúdos e métodos próprios de cada matéria na sua relação com fins educacionais. A Didáctica, com base em seus vínculos com a pedagogia, generaliza processos e procedimentos obtidos na investigação das matérias específicas, das ciências que dão embasamento ao ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática corrente, (Libâneo, 2013, p. 25/6). Agora que você reviu algumas notas de autores sobre a conceitualização da didáctica, seja arte, seja ciência, veja também que há uma estreita ligação da Didáctica com os demais campos do conhecimento pedagógico. Trata-se de áreas como, p. e., Filosofia, História da Educação, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, etc. Resumo da lição A Didáctica é, pois, uma das disciplinas da Pedagogia que estuda o processo de ensino por meio dos seus componentes – conteúdos escolares, o ensino e aprendizagem, para, com o embasamento na teoria da educação, formular directrizes orientadoras da actividade profissional dos professores. O seu objecto de estudo é o processo de ensino, campo principal da educação escolar. A didáctica investiga as condições e formas que vigoram no ensino. Auto-avaliação 7 Depois de ter aprendido esta lição, você deve resolver as seguintes actividades de auto-avaliação. Comece por ler atentamente todas as questões que lhe são apresentadas. Redija com clareza e objectividade, cingindo-se ao que lhe é solicitado. Responda pela ordem que mais lhe convier, identificando, correctamente, cada uma das respostas. 1. Defina didáctica, primeiro como arte e depois como ciência. 2. Quais são as relações entre a pedagogia e a Didáctica? 3. Explique os vínculos entre a didáctica e outras ciências; 4. Explique por que existe uma unidade entre a didáctica e as metodologias específicas das matérias de ensino. Bibliográfia Básica 1. Althaus, Maiza T. Margraf. (2004). “Acção Didáctica no Ensino Superior: A Docência em Discussão”. In Revista Teoria e Prática da Educação. V.7. N.°1; (S/L); 2. Barbosa, Jane R. (2011). A Didáctica do Ensino Superior. 2.ª Edição. Curitiba: IESDE Brasil; 3. Gil, António. (1997). Metodologia do Ensino Superior. 3ª Edição. São Paulo: Atlas; 4. Libâneo, José. (2011). Didáctica. 2.ª Edição. Cortez: São Paulo; 5. Rodrigues, Leude Pereira et al. (2011). “O Tradicional e o Moderno Quanto à Didáctica no Ensino Superior”. In Revista Científica do ITPAC. Araguaína. V.4. N.° 3; 6. Santo, Eniel do Espírito & Luz, Luiz C. S. (2013). “Didáctica no Ensino Superior: Perspectivas e Desafios”. (s/l). In Revista Natal – RN. V. 1. N.º 8; 8 7. Silva, Regina Nogueira da & Borba, Ernesto Oliveira. (s/d). A Importância da Didáctica no Ensino Superior. (s/l); 8. Tochon, François V. (1995). A Língua como Projecto Didáctico. [Trad. Maria Vidal]. Porto: Porto Editor. 9 Lição n° 2 Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) Introdução Depois de você ter cenceitualizado didáctica na óptica de alguns autores na lição anterior, tratando-se de um Módulo cujo foco é o processo de ensino e aprendizagem nas línguas bantu, que constituem L1 para a maior parte da população moçambicana, se lhe perguntássemos, por exemplo, qual é diferença entre L1 e L2, ou entre L2 e LE? Obviamente que enfrentaria algumas dificuldades. É nesta lição onde você vai poder distinguir estes conceitos, visto que, ao longo do Módulo, serão retomados em diversas unidades. Objectivos Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de: Distinguir L1 da L2 e da LE; Descrever as características das L1, da L2 e da LE; Estabelecer a relação entre a aprendizagem da L2 e a da LE. Tempo Tempo de estudo da lição: Deverá reservar 60 minutos para a leitura compreensiva desta lição Terminologia Língua materna, língua segunda, língua estrangeira. 10 2. Língua materna (L1), língua segunda (L2) e língua estrangeira (LE) Reflexao Antes de você continuar com a leitura, tente reflectir sobre os conceitos: L1, L2 e LE. Será que a L1 é a língua da mãe? Ou língua do pai? A L2 é sempre o português? A língua inglesa pode ser L2? Ou é sempre LE? Normalmente usa se com o mesmo sentido de Língua Materna (LM) para designar aquela que a pessoa adquire em primeiro lugar em relação a outras línguas que vai adquirindo e/ou aprendendo ao longo da vida. Em Moçambique e em muitos países africanos, a língua primeira ou materna da maioria é, geralmente, uma língua Africana. Comummente, a L1 refere-se à língua materna da criança, isto é, a primeira língua por meio da qual a criança interage com o meio social. É importante sublinhar que qualquer falante adquire, ao longo da sua vida, pelo menos uma língua (a sua Língua Materna ou L1). Na óptica de Silva (s/d: 99), língua materna (L1) é a primeira línguaadquirida por uma pessoa na infância, não correspondendo, esta, necessariamente, à língua oficial do país onde vive, que podemos designar de “língua dominante”. A maioria das pessoas adquire ainda uma outra língua, sendo que a sua aquisição pode dar-se em simultâneo com a L1 (no caso do bilinguismo) ou numa fase posterior. As crianças bilingues aprendem o segundo sistema linguístico como L2 e não como LE. Qual seria a diferença entre a L2 e a LE? A diferença essencial entre os dois conceitos reside no grau de exposição às duas línguas (uma criança bilingue é exposta, desde os primeiros meses de vida e ao longo de todo ou grande parte do seu período de aquisição e desenvolvimento linguístico, a duas línguas, 11 que adquire como línguas maternas), ao passo que uma língua estrangeira é aprendida sob as condições formais, geralmente em contexto escolar. Ainda sobre a L1, L2 e LE, veja algumas abordagens: Para Spinassé (2006: 4/5), o conceito língua materna é tratado, pela maioria dos autores, como uma denominação um tanto óbvia. Esse deve ser realmente de mais fácil denominação que os outros, porém pouco se encontram definições para o termo4. A L1 não é, necessariamente, a língua da mãe, nem a primeira língua que se aprende. Tão pouco se trata de apenas uma língua. Normalmente, é a língua que aprendemos primeiro e em casa, através dos pais e também, é frequentemente a língua da comunidade. Entretanto, muitos outros aspectos linguísticos e não-linguísticos estão ligados à definição. A caracterização de uma L1 como tal só se dá se combinarmos vários factores e se todos eles forem levados em consideração: a língua da mãe, a língua do pai, a língua dos outros familiares, a língua da comunidade, a língua adquirida em primeiro, a língua com a qual se estabelece uma relação afectiva, a língua do dia-a-dia, a língua predominante na sociedade, a de melhor status para o indivíduo, a que ele melhor domina, língua com a qual ele se sente mais à vontade, (Spinassé, 2006, p. 4/5). 4 Uma descrição simples e directa, contudo antiga, encontrada nas pesquisas foi a de Mues (1970) no livro Sprache: Was ist das? (“Língua: o que é isso?”): “Muttersprache ist die Sprache, die jeder Mensch als erste lernt und die somit die Grundlage seines Menschwerdens ist”. Essa definição é antiga e, por isso, cheia de lacunas, mas apresenta dois factores importantes: a justaposição com o conceito “primeira língua” e o factor identitário que carrega – a pessoa identifica-se, de alguma forma, com a língua materna. A aquisição da L1 é uma parte integrante da formação do conhecimento de um mundo do indivíduo, pois, junto à competência linguística se adquirem também os valores pessoais e sociais. A L1 caracteriza, geralmente, a origem e é usada, na maioria das vezes, no dia-a-dia. 12 Ainda na perspectiva de Spinassé (op. cit: 5), é sabido que uma segunda língua (L2) não é necessariamente uma segunda, no sentido de que haverá uma terceira, uma quarta, e assim por diante. “Segunda” está para “outra que não a primeira (a materna) ”, e a ordem de aquisição se torna irrelevante – desde que não se trate de mais uma L1. Dependendo de como a língua foi adquirida, ela pode ser classificada de uma forma ou de outra. Diferenciando, porém, do conceito de língua estrangeira; uma segunda língua é uma ‘não-primeira-língua’ que é adquirida sob a necessidade de comunicação e dentro de um processo de socialização. A aquisição de uma L2 e a aquisição de uma LE assemelham-se no facto de serem desenvolvidas por indivíduos que já possuem habilidades linguísticas de fala, isto é, por alguém que possui outros pressupostos cognitivos e de organização do pensamento que aqueles usados para a aquisição da L1. Do contrário, no processo de aprendizagem de uma LE não se estabelece um contacto tão grande ou tão intenso com a mesma. A grande diferença é que a LE não serve necessariamente à comunicação e, a partir disso, não é fundamental para a integração, enquanto a L2 desempenha um papel até mesmo vital numa sociedade, (Spinassé, 2006, p. 6). Ellis (1986) apud Spinassé (op. cit: 6) defende o ponto de vista de que a diferenciação entre a L2 e a LE não deve estar em factores psicolinguísticos, mas sim em sociolinguísticos. Numa segunda língua possui-se uma maior competência e uma maior performance, pois o meio ou a situação exige isso do falante – o aprendente de língua estrangeira dificilmente precisa de chegar a esse nível de conhecimento. Não existe, na verdade, uma “receita” para a diferenciação entre L1, L2 e LE. O status de uma língua também 13 pode variar com o tempo, é necessário apenas estabelecer uma outra relação com ela. Resumo da lição L1, L2 e LE Auto-avaliação Para você poder testar o seu nível de leitura e compreensão dos conteúdos, deve resolver as actividades de auto-avaliação. Leia atentamente as questões que lhe são apresentadas. Redija com clareza e objectividade, cingindo-se ao que lhe é solicitado. Responda pela ordem que mais lhe convier, identificando, correctamente, cada uma das respostas. 1. O que entente por L1? 2. Estabeleça as principais diferenças entre L2 e LE. 3. Será que a L1 é a língua da mãe? A L2 é sempre o português? A língua inglesa pode ser L2? Ou é sempre LE? 14 Bibliográfia Básica 1. Molina, G. T. et al. (s/d). Corrent approaches and teaching methods. Bilingual Progammes. Faculty of Humanities and Education. University of Jaen; 2. Silva, Maria Cristina da (s/d). “A aquisição de uma Língua Segunda: muitas questões e algumas respostas”. In: Saber e Educar. Lisboa: Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa; 3. Spinassé, Karen Pupp. (2006). “Os conceitos Língua Materna, Segunda Língua e Língua Estrangeira e os falantes de línguas autóctones minoritárias no Sul do Brasil”. In: Revista Contingentia. UF do Rio Grande do Sul. Vol. 1. 15 Lição n° 3 O processo de aprendizagem de línguas: teorias de aprendizagem Introdução Esta lição aborda o processo de aprendizagem, com enfoque às teorias de aprendizagem (mentalista e behaviorista). Você terá a oportunidade de distinguir as duas teorias de aprendizagem de línguas, tentando relacioná-las com a lição que viu anteriormente. Objectivos Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de: Explicar o desencadeamento do processo de aprendizagem; Descrever as teorias de aprendizagem; Explicar o processo de aprendizagem e desenvolvimento da língua em contexto familiar e social com base nas teorias de aprendizagem; Conhecer os precursores da teoria mentalista e behaviorista. Tempo Tempo de estudo da lição: Deverá reservar 60 minutos para a leitura compreensiva desta lição Terminologia Processo de aprendizagem, teorias de aprendizagem. 16 3. O processo de aprendizagem de línguas Se se lembra, o que é Didáctica? Caro estudante, você na lição anterior falou sobre a didáctica e viu que o seu foco é o processo de ensino e aprendizagem. Nesta lição você terá mais abordagens teóricas para diferenciar estes dois processos. Mas antes disso, comecemos com a seguinte questão: Para si, o que seria um processo de aprendizagem? Recorde-se que a prática educativa escolar se insere em contextos mais abrangentes. O ensino e aprendizagem são conceitos que se encontram indissociavelmente ligados. Constituindo, em parte, objecto da didáctica, torna-se fundamental determinar acções atinentes a cada processo e, como nos lembra Gil (op. cit: 20), ao falar-se do ensino, invocam-se conceitos que indicam o professor como elemento principal do processo. Já, ao se tratar de aprendizagem, evidenciam-se conceitos como, p. e.,descoberta, apreensão, modificação de comportamentos e aquisição de conhecimentos que se referem directamente aos alunos. Contudo, de acordo com Ribeiro (2003: 32), estes processos de educação e socialização começam na fase de criança, no seio familiar, sob o signo da dependência, e prosseguem até à vida adulta, sob a forma de participação no trabalho e na construção da sociedade, segundo proporções variadas e modalidades de educação informal e formal. Tendo em conta essas perspectivas e/ou visões, como definiríamos a aprendizagem? Veja as seguintes definições: A aprendizagem é o processo pelo qual as competências, habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Este processo 17 pode ser analisado a partir de diferentes perspectivas, de forma que há diferentes teorias de aprendizagem. A aprendizagem é uma das funções mentais mais importantes em humanos e animais e também pode ser aplicada a sistemas artificiais. A aprendizagem humana está relacionada à educação e desenvolvimento pessoal. Deve ser devidamente orientada e é favorecida quando o indivíduo está motivado. O estudo da aprendizagem utiliza os conhecimentos e teorias da neuropsicologia, psicologia, educação e pedagogia. A aprendizagem como um estabelecimento de novas relações entre o ser e o meio ambiente tem sido objecto de vários estudos empíricos em animais e seres humanos. O processo de aprendizagem pode ser medido através das curvas de aprendizagem, que mostram a importância da repetição de certas predisposições fisiológicas, de ‘tentativa e erro’ e de períodos de descanso, após o qual se pode acelerar o progresso5. NB: Caro estudante, aqui você pôde ver várias visões e abordagens em torno do conceito aprendizagem. Na Didáctica Geral, naturalmente, você estudou este conceito, caso queira aprofundar mais a sua definição, pode recorrer às páginas de internet ou mesmo consultar manuais ligados à didáctica, certamente que lá você encontre conteúdos que abordam o processo de aprendizagem. 3.1. Teorias de aprendizagem Depois te ter falado sobre o processo de aprendizagem na lição anterior, agora você vai concentrar-se nas duas teorias de aprendizagem que se seguem. 5 Cf. Velásquez, Freddy. (2001). Enfoques sobre el aprendizaje humano. (s/l). 18 Tome nota As teorias de aprendizagem, de entre os vários objectivos, buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos actos do processo de ensino e aprendizagem, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do Homem; o papel do professor na escola, etc. Trata-se, nomeadamente, da teoria comportamentalista (behaviorista), teoria cognitiva (mentalista) e teoria construtivista. Porém, nesta lição, serão aprendidas duas teorias (mentalista e behaviorista). 1.1.1. Teoria de aprendizagem mentalista Caro estudante, ao ler este sub-tema, você deve concentrar-se nos seguintes pontos: Quem é o mentor desta teoria? Qual é a tese que o autor defende? Qual é a funcionalidade da teoria no âmbito da aquisição e/ou aprendizagem de línguas? Piaget é o mentor desta teoria. A essência desta teoria é o desenvolvimento cognitivo linguístico da criança, ou seja, a linguagem faz parte de uma organização cognitiva mais vasta que obedece a mecanismos sensório-motores, que estão na base da função semiótica de que a linguagem é uma das manifestações. Piaget defende a existência de estágios para o desenvolvimento da linguagem. Apesar de não ser objecto de estudo nesta lição, a teoria inatista de Chomsky, sobre o desenvolvimento da linguagem, é interessante salientar que a teoria cognitivista/mentalista apresenta algumas semelhanças com a inatista. Veja os pontos em que estas duas teorias convergem e divergem: 19 É o seguinte: Ambas postulam a existência do meio para a aquisição da linguagem. No entanto, por um lado, as duas teorias diferem-se, visto que os inatistas advogam a independência no desenvolvimento linguístico, ou seja, para os inatistas a aquisição da linguagem não tem a ver com as diferentes fases do desenvolvimento cognitivo do falante. Por outro lado, os cognitivistas refutam este posicionamento, considerando que a apropriação da linguagem pela criança avança com o respectivo nível de desenvolvimento global. Slobin (1973) apud Maciel (1998) defende que as estruturas linguísticas profundas se modificam com a idade, à medida que aumenta a capacidade de operatividade e o espaço de armazenamento; aumento da compreensão das intenções linguísticas leva a criança para o domínio de uma nova complexidade formal, ao mesmo tempo que as respectivas estruturas internas se reorganizam de acordo com os princípios gerais da organização cognitiva. Em forma de conclusão, Segundo a teoria mentalista, o desenvolvimento da cognição processa-se, gradualmente, desde o nível mais básico dos processos sensório-motores até ao nível das funções mentais superiores. Note-se que a cognição (inteligência na perspectiva piagetiana) aparece como uma forma específica (mental) da adaptação biológica indispensável às trocas entre o organismo e o meio. 3.1.2. Perspectiva behaviorista Para finalizar esta lição, você agora irá focalizar a sua atenção na teoria behaviorista ou comportamentalista, tendo em conta as questões que se seguem: 20 Quem é o mentor desta teoria? Qual é a tese que o autor defende? Qual é a funcionalidade da teoria no âmbito da aquisição e/ou aprendizagem de línguas? Os seus defensores postulam que a linguagem é um comportamento verbal. As crianças ganham mestria do comportamento verbal através da interacção com o ambiente, imitando o que observam à sua volta. Em todo o caso, os behavioristas destacam o papel do meio, particularmente dos pais na aquisição da linguagem, ao considerarem como determinante na estabilização do comportamento linguístico da criança, o que significa que para o desenvolvimento da L1 da criança, é muito importante se verificar as variáveis ambientais, sendo que esta aquisição é determinada pela prática ou exercícios e não pela programação genética. Esta teoria refere, ainda, que são os estímulos do meio ambiente que condicionam as aprendizagens. Os behavioristas não se interessam pelo conhecimento linguístico do sujeito, mas da realização conseguida pelos indivíduos. O crescimento linguístico é visto como uma progressão que vai da produção aleatória de sons de comunicação verbal estruturada, que é atingida através dos processos gerais da aprendizagem que são: o condicionamento clássico, o condicionamento operante e a modelação por imitação. NB: Nos dois últimos parágrafos, o caro estudante pôde depreender a tese e os fundamentos da teoria Behaviorista. Então, recorde-nos o precursor da mesma. 21 Skinner (1957), como um dos mentores desta teoria, refere que a criança possui capacidades gerais de aprendizagem, que não são apenas para a linguagem (comportamento de cariz verbal), modeladas e reforçadas pelos falantes adultos, que privam com a criança e a quem ela imita, neste caso, destaca-se a aprendizagem e a influência do meio empírico. Durante as aulas que teve na cadeira Introdução aos Estudos Linguísticos, você aprendeu sobre o pai e fundador da Linguística Moderna, Ferdinand de Saussure. No parágrafo seguinte, vamos relacionar as duas teorias com a perspectiva Saussureana em relação à linguagem: Na visão de Saussure (1999), a língua6 é um facto social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social. Neste sentido, Saussure aponta a linguagem como a faculdade natural que permite ao Homem constituir uma língua.Em consequência, a língua caracteriza-se por ser um produto social da faculdade da linguagem. 6 Benveniste (1973) apud Mussalim & Bentes (2001.) observa que é dentro da língua, que o indivíduo e a sociedade se determinam mutuamente, pois, ambos só ganham existência pela língua. Este autor considera que a língua é manifestação concreta da faculdade humana da linguagem. Sendo assim, defende o exercício da linguagem pela utilização da língua, que o Homem constrói a sua relação com a natureza e com outros homens. A linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura linguística definida e particular, inseparável de uma sociedade definida e particular, logo, a língua e a sociedade não podem ser concebidas separadamente. 22 Resumo da lição Se prestou atenção, concluirá que o processo de aprendizagem de uma língua é complexo, se se partir da asserção segundo a qual a língua (gem) é um facto puramente social e cultural. As teorias de aprendizagem, embora cada uma com as suas abordagens e particularidades, elas apresentam muitas visões sobre o processo de aprendizagem de uma língua. Note-se que estas teorias mostram e descrevem as circunstâncias em que a aprendizagem ocorre, bem como os seus resultados. Auto-avaliação Depois de ter aprendido esta lição, você deve resolver as seguintes actividades de auto-avaliação. Comece por ler atentamente todas as questões que lhe são apresentadas. Redija com clareza e objectividade, cingindo-se ao que lhe é solicitado. Responda pela ordem que mais lhe convier, identificando, correctamente, cada uma das respostas. 1. Explique, em que consiste o processo de aprendizagem. 2. O que entende por teorias de aprendizagem? 3. Discuta as teorias de aprendizagem, não se esqueça de fazer menção aos seus precursores. 23 Bibliográfia Básica 1. Gonçalves, Perpétua & Uamusse, Luis. (1997). Proposta da Adequação de programas e métodos de Ensino e Aprendizagem da Leitura para a 1.ª Classe ao Contexto das Zonas suburbanas de Maputo. Maputo: UME; 2. Krashen, Stephen. (s/d). Language acquisition and education, University Southern California; 3. Maciel, Carla A. (1998). Texto de apoio. Maputo: UEM; 4. Mussalim, Fernanda & Bentes, Anna Christina. (2001). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez; 5. Stern, H. H. (1970). Perspectives on Second Language Teaching. Toronto: Ontario Institute for studies in education; 6. Xavier, M.S. & Mateus, M.H. (1992). Dicionário de termos linguísticos. Vol.2. Lisboa: Edição Cosmos; 7. Saussure, Ferdinand de. (1999). Curso de Linguística Geral. 2.ª Edição. [Trad: José Victor]. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 24 Lição n° 4 Aquisição e aprendizagem da L1 em contexto escolar Introdução Depois de termos falado sobre o processo de aprendizagem e desenvolvimento da língua, bem como das teorias de aprendizagem na lição anterior, essencialmente, nesta, pretende-se que você discuta, de forma minuciosa, os dois processos, aquisição e aprendizagem da L1 em contexto escolar. Ainda nesta lição, além das teorias subjacentes a cada processo, você irá aprender alguns princípios metodológicos da didáctica da L1. Objectivos Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de: Distinguir aquisição da aprendizagem; Descrever algumas teorias no âmbito do processo de aquisição e aprendizagem de uma L1; Explicar alguns métodos usados na didáctica de L1; Tempo Tempo de estudo da lição: Deverá reservar 90 minutos para a leitura compreensiva desta lição Terminologia Aquisição e aprendizagem da L1, princípios metodológicos da didáctica da L1. 25 4. Aquisição e aprendizagem da L1 Caro estudante, você definiu o processo de aprendizagem na lição anterior. Ainda se lembra? Aqui irá estudar outro processo, a aquisição. Partindo do pressuposto de que a aquisição da L1 e aprendizagem da L1 e/ou da L2 são processos diferentes, depois de ver o que os autores abordam sobre esta matéria, tente relacionar os dois conceitos, com enfoque nas semelhanças e diferenças. Para Xavier & Mateus (1992: 49), a aquisição da língua é um processo através do qual o indivíduo aprende a sua língua materna, adquirindo as regras de funcionamento dessa língua por simples exposição à sua utilização no contexto em que está inserido. NB: A partir desta perspectiva, entende-se que o termo aquisição só se aplica ao processo natural de interiorização de uma LM. Porém, este pensamento é contraposto por Dias et al. (2009: 82/3)7. Estes referem que, em Moçambique, por exemplo, a aquisição da L1 como um processo inconsciente (como um desenvolvimento da 7 Dias et al. (op. cit) levantam uma série de indeterminações, sobretudo face à imagem que muitos tinham da aquisição como um fenómeno exclusivo à L1. Numa tentativa de desmistificação desta ‘aparente ou efectiva’ indeterminação, sugere-se a análise das visões de outros estudiosos desta matéria. Com efeito, Krashen (s/d: 8), embora alguns teóricos usem estes dois conceitos de um modo afim, refere-se ao facto de estes processos serem antagónicos. Ao longo deste processo (aquisição), o aprendente da L2 não toma consciência do processo em curso, muito menos dos seus resultados. Contrariamente à perspectiva de Krashen (op. cit), que se serve dos binómios ‘consciente’ e ‘inconsciente’ para distinguir a aquisição da L1 da aprendizagem da L2, Mclaughlin (1987: 56/7) recorre aos termos ‘formal’ e ‘informal’. Este autor defende que a expressão aquisição da L2 se refere ao processo em que se adquire uma nova língua, num ambiente natural sem instruções formais. O indivíduo, geralmente, está inserido na comunidade da LA (língua alvo), onde tem a oportunidade de interagir com os falantes nativos, com uma razoável frequência. 26 língua que o indivíduo atinge num contexto social através da interacção) se difere da aquisição da L2 (que é um processo mais consciente da língua), particularmente em situação escolar, onde o ensino da língua é concebido como uma série de actividades, que visam levar a efeito uma aprendizagem, tendo em conta as capacidades, os interesses e as faculdades de atenção e assimilação do aprendente. Pronto! Aqui você vai encontrar a principal diferença entre aquisição e aprendizagem: Podemos notar que a aquisição da L1 resulta de um processo natural de interacção entre o indivíduo e o meio social em que está inserido, usando-se a língua em comunicação significativa, diferindo-se, assim, da aprendizagem, que é resultante da experiência na sala de aula (um processo guiado e orientado), no qual o aprendente é levado a voltar a sua atenção para a forma e aprender as regras gramaticais. A aprendizagem da L2 implica uma situação de aprendizagem ‘formal’, com aprendizagem de regras, correcção de ‘erros’, etc., num ambiente artificial (a sala de aula), no qual um aspecto da gramática é apresentado de cada vez. Em síntese, a hipótese de aquisição/aprendizagem de Krashen é criticada por certos teóricos, como é o caso de Mclaughlin (1987) apud Menezes (op. cit: 563), pelo facto de se colocar a distinção entre a aquisição e aprendizagem na dicotomia processo ‘consciente’ e ‘inconsciente’, visto que nenhum destes processos pode ser verificado empiricamente a ponto de se saber com precisão que se está diante da aquisição ‘inconsciente’ ou da aprendizagem ‘consciente’. NB: Veja as teorias: de (i) universais linguísticos e (ii) do discurso no âmbito da aprendizagem da L1! 27 Entre as diferentes teorias que se podem destacar na aprendizagem da L1, pode se apontar a teoria dos universais linguísticos, tambémconhecida como teoria da gramática universal, segundo a qual existe um comportamento linguístico, biológico e inato, que é comum a todas as pessoas. Os defensores desta teoria refutam a tese da existência de um período crítico, que consiste no atrofiamento do LAD8 no período após a puberdade. Os proponentes desta teoria avançam igualmente que, se todas as pessoas utilizam estratégias universais no processo de aquisição de L1 e de L2, é de esperar que erros semelhantes ocorram nos dois processos. A par da teoria dos universais linguísticos, tem-se a teoria do discurso, que advoga que o indivíduo não só desenvolve a competência na L1 através de um input apropriado, mas também por meio de uma interacção entre falantes nativos e falantes não nativos. 4.1. Princípios metodológicos da didáctica da L1 Depois de ter falado sobre os processos de aquisição e aprendizagem de línguas no ponto anterior, agora você vai poder conhecer alguns procedimentos metodológicos concernentes à didáctica da L1. Mas antes disso, reflicta sobre a questão que se segue: Será que os métodos usados para a didáctica da L2 são os mesmos para o ensino e aprendizagem da L1? Para o ensino da L1 pode-se promover actividades orientadas em dois sentidos, a conhecer: ensino virado para a forma e ensino virado para o conteúdo. O ensino virado para a forma preocupa-se pela estrutura da frase, ou seja, uma boa produção textual, obedecendo às estruturas gramaticais, enquanto o ensino virado para o conteúdo se preocupa pela mensagem veiculada pelos enunciados. 8 Do inglês: language acquisition divice, defendido por Noam Chomsky. 28 Reflexão Agora reflicta: Qual desses métodos é mais ideal para o ensino e aprendizagem da L1? Tome nota! Estudos recentes sobre a Metodologia de Ensino Bilingue em contextos cuja maioria linguística é tratada como minoria (veja- se Patel, 2006; Almeida e Filhos 2007; Beker, 1993; Cavalcanti, 1999; Cummins, 1980) defendem que se deve enveredar pelo ensino virado ao conteúdo, ou seja, pela abordagem comunicativa/competência comunicativa9, que envolve o conhecimento não apenas do sistema linguístico em si como também de outros elementos e/ou formas extralinguísticas, como, por exemplo, o comportamento gestual ou social do indivíduo guiado por aspectos culturais ou morais aceites pela comunidade onde se encontra. Stern (1970: 64) afirma que a presença da L1 no indivíduo, aprendendo uma L2 é um factor que não pode ser ignorado. Este autor refere que as regras e hábitos de uma L1 interferem na aprendizagem da segunda língua. Contudo, o processo de aquisição da L1 pode apoiar-se nos princípios de aprendizagem da L2, se se partir do pressuposto segundo o qual a aprendizagem de uma língua, seja primeira, seja segunda, é sistemática. Neste sentido, a busca pela compreensão da aprendizagem da L1 no contexto escolar tem resultado numa pluralidade de hipóteses, não obstante, a convergência de muitos 9 Assim, do ponto de vista de Metodologias de Ensino de Línguas Moçambicanas, o conceito de abordagem comunicativa emprega-se em situações onde o programa é organizado não somente em termos de elementos gramático-estruturais, mas também, e, talvez, prioritariamente, em termos de como esses elementos estruturais são utilizados para realizar funções comunicativas em eventos de fala, dependendo dos papéis sociais/psicológicos, cenários e tópicos que um grupo de alunos necessite para manusear a língua de maneira apropriada. 29 teóricos no postulado segundo o qual, na aprendizagem da L2 há uma interferência da L1. Veja agora os dois tipos de gramática para o ensino e aprendizagem da L1! Gramática implícita, em que a criança aprende no seu meio social, de uma forma assistemática, isto é, na ausência de um orientador. Esta aprendizagem apresenta algumas vantagens, tais como: privilégio à aprendizagem com o meio social, sobretudo com outras crianças, é uma aprendizagem espontânea em que a criança não se sente inibida. Contudo, o demérito desta aprendizagem consiste na fossilização de erros, na medida em que não existe nenhum orientador para sanar possíveis erros. Gramática explícita – consiste na presença de um orientador (professor), num meio apropriado (escola). Neste caso, a gramática explícita ocorre num contexto formal, a criança adquire a língua e as suas regras, tem um orientador. O ensino desta gramática anda paralelamente com o ensino virado para a forma, onde o professor providencia os materiais de consulta e, conscientemente, o aprendente da L1 adquire a língua na base de regras. A probabilidade de fossilizar estruturas agramaticais é relativamente menor. Porém, nesta aprendizagem, o falante fica limitado às regras, não desfrutando de uma liberdade na produção da linguagem (língua). 30 Resumo da lição De forma resumida, depois de ter aprendido os conteúdos que fazem a lição, você pode concluir que: A aquisição da língua é um processo através do qual o indivíduo adquire a sua língua materna; Aprendizagem é resultante da experiência na sala de aula (um processo guiado e orientado), no qual o aprendente é levado a voltar a sua atenção para a forma e aprender as regras gramaticais. Entretanto, a aquisição de uma L1 e a de uma L2 são processos diferentes. Para o ensino da L1, pode-se promover actividades orientadas em dois sentidos: ensino virado para a forma e ensino virado para o conteúdo. Ainda para o ensino de uma L1, pode-se recorrer a dois tipos de gramática: implícita e explícita. Auto-avaliação Depois de você ter aprendido os princípios metodológicos da didáctica da L1, bem como algumas teorias atinentes ao ensino e aprendizagem da L1, a seguir propomos algumas actividades para você avaliar as suas leituras. Lembre-se, comece por ler atentamente todas as questões que lhe são apresentadas. Redija com clareza e objectividade, cingindo-se ao que lhe é solicitado. Responda pela ordem que mais lhe convier, identificando, correctamente, cada uma das respostas. 1. O que entende por aquisição de uma L1? 2. Descreva algumas actividades e/ou princípios que podem ser desenvolvidos no âmbito do ensino e aprendizagem da L1. 3. Apresente os pressupostos da teoria dos universais linguísticos, também conhecida como teoria da gramática universal. 31 Bibliográfia Básica 1. Krashen, Stephen. (s/d). Language acquisition and education. California: University Southern California; 2. Maciel, Carla A. (1998). Texto de apoio. Maputo: UEM; 3. Mussalim, Fernanda & BENTES, Anna Christina. (2001). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez. 33 Unidade 2: Línguas bantu de Moçambique Pág. 34 - 53 Conteúdos U N ID A D E 2 Lição n° 5 35 Classificação das línguas bantu .............................. 35 5. Classificação das línguas bantu ............ 36 5.1. Situação linguística de Moçambique . 38 Lição n° 6 43 Sistema fonético, fonológico e morfossintáctico das línguas bantu .......................................................... 43 6. Sistema fonético, fonológico, morfológico e sintáctico das línguas bantu ..................................................................... 44 Línguas bantu de Moçambique 34 Introdução Continuamos a chamar a sua atenção, pois, nesta unidade, você irá encontrar conteúdos que abordam aspectos ligados às línguas bantu, concretamente as faladas em Moçambique. Nela, irá conhecer a estrutura e funcionamento destas línguas, facto que lhe irá permitir uma maior abordagem e descrição sobretudo da sua língua materna. Além destesconteúdos, no geral, você irá conhecer a situação linguística de Moçambique. Objectivos da unidade Ao terminar esta unidade, você deve ser capaz de: Descrever as características das línguas bantu; Classificar as línguas bantu faladas em Moçambique; Descrever a situação linguística de Moçambique; Descrever o sistema fonético, fonológico e morfossintáctico das línguas bantu, bem como o sistema ortográfico padronizado das línguas bantu. Tome nota Terminada a unidade, você desenvolverá as seguintes competências: Descreve as características das línguas bantu; Classifica, com base nalgumas perspectivas, as línguas bantu faladas em Moçambique; Descreve o sistema fonético, fonológico e morfossintáctico das línguas bantu, bem como o sistema ortográfico padronizado das línguas bantu. 35 Lição n° 5 Classificação das línguas bantu Introdução Para você conduzir o processo de ensino e aprendizagem na sua L1 precisa, antes de tudo, de conhecer o funcionamento da língua em questão. Tente, na medida do possível, concentra-se, uma vez que os conteúdos desta lição envolvem conhecimentos profundos da linguística teórica e africana, todos eles aprofundados em cursos de linguística. De forma resumida, nesta lição, você encontrará duas perspectivas no âmbito da classificação das línguas africanas, a genealógica e a tipológica e a situação linguística de Moçambique. Objectivos Ao completar esta lição, você será capaz de: Descrever bases teóricas que impulsionaram a expansão de línguas bantu; Classificar as línguas bantu a partir de várias teorias; Conhecer a situação linguística de Moçambique. Tempo Tempo de estudo da lição: Deverá reservar 60 minutos para o estudo desta lição. Terminologia Línguas bantu, classificação de línguas bantu, situação linguística de Moçambique. 36 5. Classificação das línguas bantu Caro estudante! Antes de você ver a classificação das línguas africanas, veja o que alguns estudiosos sistematizaram no início do século XIX. No início do século XIX, vários estudiosos de Linguística Bantu (cf. Edwin Norris, Adrien Balbi, Liechtenstein, Lepsius, F. Muller, W. Bleek, D. F. Bleek, Westermann, C. Meinhof, A. Werner, A. Drexel, Sir Johnston, Doke) sistematizaram, em diversas publicações, as relações genéticas entre línguas africanas, classificando-as em famílias, sub-famílias, zonas, grupos, etc., e estabeleceram as suas bases estruturais, quer ao nível fonético- fonológico, morfológico, quer ao nível morfosemântico de itens lexicais e gramaticais. Quais são os métodos usados para a classificação das línguas africanas? Quando se fala de classificação das línguas africanas, no quadro da linguística comparativa, destacam-se, sobretudo, dois métodos, nomeadamente, tipológico e genealógico, ou seja, as duas mais importantes classificações das línguas africanas são de Guthrie (1967/71) que é tipológica e a de Greenberg (1955) que é genealógica. a) Método genealógico: A hipótese básica para a classificação genealógica é que, no passado, diversas línguas tinham sua origem numa única proto-língua e, para determinar relações genealógicas, era preciso comparar a forma e o significado dos morfemas lexicais e gramaticais dessas línguas. É neste contexto que Greenberg (1955) estabelece (4) famílias10, sendo 10Greenberg classifica e divide as línguas africanas em 4 principais famílias, sub- famílias e grupos. Relativamente à família temos: (i) línguas afro-asiáticas, também designadas por camítico-semíticas, esta cobre toda a África do Norte, 37 a família Níger-Kordofaniano a que o grupo Bantu pertence, que se estende desde a África Central l, Oriental até à Meridional. Em conformidade com a perspectiva de Greenberg (1955), as línguas bantu faladas em Moçambique pertencem à família Congo- Kordofaniano, sub-família Níger-Congo. Em Moçambique, ainda que não haja consenso sobre o número exacto de línguas Bantu, dados de vários autores indicam cerca 20 línguas com ortografia padronizada que são faladas em todas as províncias. Agora vamos praticar! Você acaba de aprender a visão de Greenberg sobre a classificação das línguas africanas. Ora vejamos! Como poderíamos, por exemplo, classificar ou estabelecer a relação genética do dialecto Xikhambani, falado no Distrito de Panda na província de Inhambane? Veja o esquema que se segue: Família Congo-Kordofaniana Sub-família Níger-Congo Grupo de línguas Bantu Língua Citshwa Dialecto Xikhambani b) Método tipológico: Guthrie (1967-71) classificou as línguas Bantu faladas em Moçambique em quatro zonas, nomeadamente: Zona G, P, N e S. segundo Ngunga (2004), de acordo com esta classificação, existem (8) grupos linguísticos (Swahili, Yao, Makhuwa-Lomwe, Nyanja, Nsenga-Sena, Shona, Copi e Tswa-Ronga e o número de línguas Etiópia, Somália e uma parte da Tanzânia. Esta família divide-se em 5 sub- famílias, igualmente diferenciadas, designadamente, o berbere, o egípcio antigo, o cuxítico, o semítico e o chádico; (ii) Congo-Kordofaniano; (iii) família Nilo- sahariana, e (iv) por fim, família khoi-san. 38 varia de grupo para grupo, uma vez que nem todas línguas moçambicanas foram inventariadas por Guthrie. Observe alguns exemplos: De acordo com esta classificação, vamos codificar algumas línguas bantu faladas em Moçambique11: Citshwa (S.51) Cicopi (S/61) Emakhuwa (P.31) Xirhonga (S.54) Gitonga (S.62) Cindau (S.15) Ciwute (S.13b) Cinyanja (N.31) Shimakonde (P.23) Kimwani (G.45) Ciyaawo (P.21) Cisena (N.44) Xichangana (S.53) Depois de você ter visto os dois métodos usados na classificação das línguas africanas, com enfoque às línguas bantu faladas em Moçambique, chamamos, a seguir, a sua atenção, para uma análise detalhada da situação linguística de Moçambique. 5.1. Situação linguística de Moçambique Moçambique é, tal como a maioria de países africanos, um país multilingue e multicultural. De acordo com Ngunga et al. (2011: 1), dados do Recenseamento Geral da População realizado em 2007 indicam que as línguas africanas do grupo Bantu continuam a constituir o principal substracto linguístico de Moçambique por serem línguas maternas de mais de 80% de cidadãos de cinco anos de idade ou mais. Os mesmos dados indicam que cerca de quinze milhões de moçambicanos de cinco ou mais anos de idade (10.8%) falam português como língua materna e (0.23%) falam línguas estrangeiras 11 (cf. Ngunga, 2004: 46/8) 39 que não são especificadas. Porém, INE (2010)12 ilustra que além do Português, de línguas Bantu, de línguas de origem estrangeira, línguas ‘não conhecidas’, as línguas de Sinais são usadas como línguas maternas por pessoas de 5 ou mais anos de idade. Veja-se a tabela a seguir: Tabela 1: Distribuição de línguas faladas por população de 5 ou mais anos de idade Nº Língua Fala ntes % Província onde se fala 1 Makhuw a 4.097.788 26. 1 Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Sofala Zambézia 2 Portugu ês 1.693.024 10. 8 Todas as províncias de Moçambique 3 Changa na 1.660.319 10. 5 Gaza, Maputo, Maputo Cidade, Inhambane, Niassa 4 Sena 1.218.337 7.8 Manica, Sofala, Tete, Zambézia 5 Lomwe 1.136.073 7.2 Nampula, Niassa, Zambézia 6 Nyanja 903.857 5.8 Niassa, Tete, Zambézia 7 Chuwab o 716.169 4.8 Zambézia, Nampula, Sofala 8 Ndau 702.464 4.5 Manica, Sofala 9 Tshwa 693.386 4.4 Inhambane, Gaza, Maputo, Sofala 10 Nyungw e 457.292 2.9 Manica, Tete 11 Yaawo 341.796 2.2 Niassa, Cabo Delgado 12 Copi 303.740 1.9 Gaza, Inhambane, Maputo, Cidade de Maputo 13 Makond e 268.910 1.7 Cabo Delgado 14 Tewe
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