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CAPÍTULO 15 Pirrol o pirrol foi primeiramente isolado de óleo de osso, mas também ocorre no carvão. Pode ser preparado pela destilação seca do sal de amônio do ácido D-glutárico (ácido múcico). É um líquido incolor com um odor característico que lembra o cloro- fórmio, com p.f. de -24°C e p.e. de 131 0e. É ligeiramente solúvel em H20 e rapidamente torna-se cinza na presença de ar. o 1,42A J = 2,1 Hz ~H °H = 6,05 ppm 1,38A-...........-..tiJ J= 2,7 Hz o / t;4 H ôH = 7,70 ppm 1,37A H o anel do pirrol, embora não muito comum na natureza, ocorre em alguns produtos naturais importantes. Uns poucos antibióticos contêm o anel pirrólico, entre os 'quaís o pirrolnitrina. CI CI Tetrapirróis biologicamente importantes contêm quatro anéis pirrólicos que são ligados por pontes de CHz e CH, o que constitui uma diferença entre tetrapirróis lineares (bilirrubinóides) e tetrapirróis cíclicos (porfirinas e corina). Bilirrubinóides são compostos coloridos que ocorrem em vertebrados, em alguns invertebrados e até em algas. São forma- dos pela oxidação biológica de porfirinas. O exemplo mais representativo é a bilirrubina de cor laranja que ocorre na bílis, em pedras biliares e é excretada nas fezes e na urina. A bilirrubina foi primeiramente isolada por Staedeler (1864) e pode ser purificada como sal cristalino de amônio. É oxidada à biliverdina, de coloração verde-azulada, com cloreto de ferro (lII). bilirrubina (biladieno) OO N I H N I H lFec'3-2H C02H biliverdina (bilina) OO 76 Pirrol Os compostos correspondentes não-substituídos são conhecidos como biladieno e bilina. Numerosos fármacos são derivados do pirrol, como o analgésico e antiinflamatório Zomepirac, ácido l5-(4-clorobenzoil)- 1,4-dimetilpirrol-2-il)acéticol, Lipitor (controle do colesterol), Ketorolac (analgésico). o N H o F ~ N ~ I OH HO"'VC02- Lipitor SÍNTESE Síntese de Paal-Knorr 0\5=\0 Ketorolac OH CI Me ~C02H O Me Zomepirac } eo~ O~,\C02Me MeO ~ NMe - O Me02C j N O HO Me Isocrisoermidina Os compostos l,4-dicarbonílicos são tratados com NH 3 ou aminas primárias (ou com sais de amônio ou alquilamônio) em etanol ou ácido acético, levando para pirróis 2,5-dissubstituídos. Reações sucessivas do nitrogênio nucleofílico com o grupo 1,4-dicarbonílico são seguidas por perda de duas molécu- las de água com um agente desidratante, normalmente H2S04, P20S' ZnCI2, levando ao produto aromático. A limitação desta reação concentra-se na disponibilidade do composto dicarbonílico. Por exemplo, hexan-2,S-dioha reage com NH3 para formar 2,5-dimetilpirrol. Reação 5+R-NH2 catalisador solvente •. RI = H, alquil, aril; R'-3 = H, alquil, aril, CO2-alquil, CO,-aril; R4 = H, alquil, aril; R5 = H, alquil, aril, heteroaril, NR2, NHR, NH" OH. Precursores de amônia: NH40Ac, (NHJ2C03; Catalisador: zeolita, Al203, p-TsOH, CSA, Ti(Oi-Pr)4, microondas; Solvente: MeOH. EtOH, H20, tolueno, DMF, líquido iônico. Mecanismo -2 H20 . R H. \ Cr:N OHbJÇ-?CCH3 R R hemiaminal transferência de próton °primeiro passo leva para o hemiaminal que, por eliminação seqüencial de H,O, fornece o sistema pirrólico via irnina, Pirrol 77 No entanto, existem controvérsias quanto à ocorrência simultânea do ataque do nitrogênio nas duas carbonilas e do ataque seqüencial por parte do nitrogênio nas carbonilas, levando à molécula do pirro!. ~H~H O N OH ~~ / \ "-... H H -H20~ N OH I H Síntese de Hantzsch Os compostos o-halocarbonílícos reagem com j3-cetoésteres ou j3-dicetonas e NH3 ou aminas primárias para formar derivados pirrólicos 3-alcooxicarbonil- ou 3-acil pirrólicos, respectivamente. Reação Esta estratégia combina o uso de um composto a-halocarbonílico (cetona ou aldeído), um j3-cetoéster e amônia. No exemplo seguinte, o pirrol é formado, provavelmente, pela reação inicial da amônia ou por uma amina primária com o j3-cetoéster, formando o a-aminocrotonato que, em seguida, é alquilado pela o-halocetona ou aldeído. Reação Mecanismo NH3 aq. • t.a._ 60°C J:{~EI N I H 78 Pirrol A regiosseletividade depende dos substituintes no material de partida, mas forma-se principalmente o pirrol 1,2,3.::- tetrassubstituído. ~-Cetoésteres reagem com NH3 ou aminas, formando um éster ~-aminoacrílico, como primeiro pa C-Alquilação da função enamina pela o-halocetona produz o pirrol 1,2,3,5-substituído, enquanto Nalquilação forma ~ pirrol 1,2,3,4-substituído. Síntese de Knorr a-Aminocetonas reagem por ciclocondensação com ~-cetoésteres ou ~-dicetonas para formar pirróis 3-alcoóxi carbonílicos ou 3-acil substituídos. Na presença de ácido acético (freqüentemente) ou álcali (menos freqüente), uma a-aminocetona, ou um o-amino- ~-cetoéster, é condensada com uma cetona ou um cetoéster, contendo um grupo a-metileno ativado. Formação de a-amínoceronas o O ~OEt N-'OH ou Zn/AcOH Freqüentemente, as a-aminocetonas não são empregadas como tais, mas geradas in situ pela redução de a-oximinoce- tonas. As a-aminocetonas, para serem usadas nesta metodologia, podem ser preparadas pela condensação de ~-cetoésteres com nitrito alquílico ou ácido nitroso, seguido por redução, preferivelmente com ditionito de sódio. A reação tem como fator limitante a dimerização da o-aminocetona. Para contornar o problema da dimerização das a-aminocetonas, prepara-se a oximinocetona e reduz-se in situ com zinco/ácido acético ou ditionito de sódio. Reação R, = H, aril, C02R; R2 = alquil, aril; R3 = grupos elétron-atratores = COR, C02R, CN, S02R; Solventes: AcOH, H20. Pirrol 79 Mecanismo Formação da imina R3 ( + H(f) OA R 4" •. R3 o R2 transferência( y depróton ~6~~R1" .. (f) a-amino cetona .. imina Tautomerização da imina para a enamina e ciclização O~ R2 (f) R3 o R2 R3 transferência R3 HO-H '-"NlR1 tautomerização •• 0:, de próton R2...• + H(f)R4 R4 N R R4 R1 I imina Henamina R3 R2 -HOH _H(f) R4) N , "" .. ':.. -H (f) ..• R4 R1 +H(f) R1 I H Um grande número de métodos foram usados para fazer a condensação entre um composto 1,3-dicarbonílico e um l3-amino éster (derivado da glicina), empregando trietilamina como base e produzindo uma imino-cetona intermediá- ria, com posterior reação de ciclização. EtONa/EtOH •• -H20EtOH, t.a. Ésteres pirrólicos 2-carboxílicos 3-substituídós Ésteres pirrólicos 2-carboxílicos 3-substituídos são sintetizados a partir do éster N-tolilsulfonil glicina e vinil cetonas. Pela adição de Michael e condensação aldólica intramolecular, produzem-se primeiramente ésteres pirrolidino-2-carboxílicos que são convertidos em pirróis pela eliminação sucessiva de H20 e ácido sulfínico. UROH 1) POCI3N C02R 1 2) R'ONa- I Tos RÓ-- C0 2R1 I H 80 Pirrol Cic1ocondensação de nitroalquenos com isocianetos Carbonos metilênicos, de isocianetos, na presença de bases levam à formação de pirróis trissubstituídos. Reação -TosH /N=C R3 R3- C02Et, Tos. °primeiro passo desta reação é a adição de Michael do isocianeto ao nitroalceno, seguida de ciclização e eliminação de HNOz. Por outro lado, isocianetos a,l3-insaturados e nitrometano produzem 3-nitropirróis. t-BuOK •• Reação multicomponente Reações multicomponentes (RMC), pela sua convergência, produtividade, fácil execução e, geralmente, altos rendi- mentos dos produtos têm atraído a atenção dos químicos envolvidos com química combinatória. Aminopirróis foram sintetizados através da reação entre aldeídos, N-tosiliminas e isocianato de ciclo exila empregando benzeno como solvente. ••~- c Reação ~ Meo~%c y ~ C02 M e .••••f--d.....:e_s_lo.....:ca.....:m_e.....:n.....:to_1.....:,5..,..-_H__ HN N I ~Ó Ts A Mecanismo Pirrol 81 A reação pode envolver a geração inicial de um intermediário zwiteriônico, gerado a partir do isocianeto e DMAD (acetilenodicarboxilato de dimetila), o qual se conecta à dupla ligação carbono-nitrogênio da tosilimina para formar um intermediário iminolactama. Na seqüência, esta sofre um deslocamento de hidrogênio [1,5]para formar o aminopirrol. REAÇÕES Reações ácido-base Amolécula do pirrol possui o grupo NH típico de aminas secundárias. A basicidade do pirrol (pKa= 3,8) para o ácido conjugado é, portanto, muito menor que a da dimetilamina (pKa = 10,38). Esta grande diferença deve-se à incorporação do par de elétrons não-ligantes do átomo de nitrogênio no sistema conjugado cíclico. A protonação, no entanto, não ocorre no átomo de nitrogênio, mas no C-2 (80%) e no C-3 (20%). •• (J Q N I + H2S04 H HS04- ~ polímeros I QH •• N I H Uma conseqüência da perda do sistema cíclico 6Jt é a rápida polimerização dos cátions gerados. Por analogia com aminas primárias, o pirrol tem um NH ácido. Por esta razão, o pirrol reage com sódio, hidreto de sódio ou potássio em solventes inertes, e com amideto de sódio em amônia líquida, formando sais. c 0+ NaH N I H o N Na+ + o N I H + MeMgl o N I Mgl A presença de um "hidrogênio ativo" no pirrol pode ser detectada com iodeto de rnetilmagnésio (MeMgI), de acordo com Zerewitinoff: n-Butilítio reage de forma análoga: o N I H + n-BuLi --.~ + n-BuH Reações de substituição eletrofílíca no carbono o pirrol reage, em reações de" substituições eletrofílicas, aproximadamente 105 vezes mais rápido que o furano sob condições similares. Isto vai contra o fato de sua energia de 'ressonância ser maior que a do furano, devendo, portanto, reagir mais lentamente. A discrepância pode ser explicada considerando o mecanismo descrito para o furano, o qual postula, que no caso do pirrol, o complexo a é especialmente estabilizado pelo mesomerismo carbênio- imínio. 82 Pirrol Na maioria das reações de substituições eletrofílicas, o pirrol é preferencialmente atacado na posição a. Esta regiosseletividade, porém, também depende de as reações serem feitas em solução ou em fase gasosa. O pirrol reage com N-clorossuccinimida, formando 2-cloro pirrol; porém, com S02Cl2 ou NaOCI aquoso, obtém- se 2,3,4,5-tetracloro pirrol. NBS forma 2-bromo pirrol e bromo forma 2,3,4,5-tetrabromo pirrol. Os pirróis são nitrados com HN03 em anidrido acético a -10°C, produzindo 2-nitropirrol. Ácido sulfúrico concentrado causa polimeriza- ção de pirróis, mas a 100 "C o complexo piridina-SO, fornece os correspondentes ácidos 2-pirrolossulfônicos. B,J) I H A alquilação dos pirróis é um problema, já que os ácidos de Lewis, usados como catalisadores, iniciam a polirneriza- ção. A formilação de Vilsmeier-Haack, porém, leva à formação de pírrol-z-carbaldeído em bom rendimento. A acilação de Houben-Hoesch (reação com nitrilas na presença de HCl) fornece 2-acilpirróis. R-C=N + HCI •• R&=NHCI--C I!{)~~-R •• Q<~-R""liN NHI I 11 H H NH ~ f(yR •• f(yR H NH2 ~ O <±> O mecanismo desta reação é ilustrado de forma a mostrar a estrutura de baixa energia do imínio no complexo a. 2-Acilpirrol é formado somente após o sal cetimino ser hidrolisado com H20. A alta reatividade do pirrol frente a eletrófilos é demonstrada por duas reações que não são observadas no furano e no tiofeno: - pirróis reagem com sais de areno diazônio para formar azo-compostos. Pirrol 83 +)Ir-H Com pirróis 2,5-dissubstituídos, o acoplamento ocorre na posição 3. Pirróis sofrem hidroximetilação na posição 2 com compostos carbonílicos na presença de ácido, e os produtos reagem posteriormente para formar dipirrolilmetanos. R R&"C=O + H+ )Ir -,-OHFI •• FI Á) R (it) )lrMR +H++ "C-OH -H+ )IrFI N 6-0H -H20 I I I H H R ~R + pirrol )Ir-H+ R R No caso de aldeídos (R = H), o cloreto de ferro(III) oxida os dipirrolilmetanos, formando pirrolil (pirrol-2-ilideno)metanos coloridos, que são convertidos por ácidos em sais com prótons simetricamente deslocalizados. FeCh )Ir-2H +HX )Ir••-HX o pirrol (pirrol-2-ilideno) de cor laranja forma-se a partir do 2-metilpirrol e formaldeído, o qual não é substituído na posição 5. Em reações catalisadas por ácido com compostos carbonílicos, os pirróis comportam-se similarmente aos fenóis, que formam difenilmetanos via seus derivados hidroximetilados. Reações de substituição eletrofilica no nitrogênio Sais de sódio ou potássio do pírrol produzem pirróis l-substituídos com haloalcanos, haletos de ácido, haletos de sulfonila e cloreto de trimetilsilano. Por outro lado, 2-metil pirrol é obtido de iodeto de l-pirrolilmagnésio e iodeto de metila. I-Fenilsulfonil pirrol é acilado pela reação de Friedel-Crafts com substituição na posição 3. 3-Acilpirróis são obtidos de pirróis, como segue: 84 Pirrol Q I ...-:8-, C6HSO/" 'O Q I H + NaH ~ O OR + NaOH N ----------~~~I -C6Hs803Na 0=8=0 I C6H5 + RCOCI (AICI3)~ -NaCI -HCI Como já mencionado, n-butilítio promove a litiação de pirróis na posição 1. Se esta posição está bloqueada por um substituinte, então 2-pirróis são formados regiosseletivamente, podendo ser usados para a síntese de pirróis substituídos: +RX ~ ~~~ARn Me ~NAL· I I Me ~Q ~ C02Li Me Q I Me Buli t. Reações de adição Hidrogenação de pirróis para pirrolidinas, via níquel de Raney, ocorre somente sob pressão e altas temperaturas. A auto-oxidação de pirróis com peróxido de hidrogênio pode ser considerada como uma reação de adição. C) 'O.\.'O.C\,'\leek (\ C)'\lH2C)2 C)c,C)He'Ç)úme\Ic) 1\0. 'Ç)C)'&\.ç~C)'2 e e1\i.~C)m. 'Ç)Cl'&\.Ç~Cl5, te.'&\lti.andCl \\nahnente. na tonnaç.~Cl da maleimida ou maleimida N-substituída. Q I R ----.·O~O N I R A grande reatividade do pirrol com eletrófilos é a razão pela qual o anidrido maléico não forma um produto oriundo de uma cicloadição de Diels-Alder, mas uma de substituição eletrofílica: !TA.. .rr= ,,~L. l(~.J O~~A-O I H Esta reação pode ser vista como uma adição de Michael do pirrol ao anidrido maléico. Alguns pirróis substituídos, no entanto, participam de cicloadição [4+2] com dienófilos acetilênicos, por exemplo, l-(etoxicarbonil)pirrol com o éster dicarboxilacetileno. Pirrol 85 Entre as cicloadições [2+2],a reação de Paterno-Büchi com pirróis tem sido investigada. As oxetanas formadas isomerizam, formando 3-hidroximetil pirróis sob as condições de reação. Me MerIMe O ol Me OH + MeyMe Luz •••• •••• N N I O I IMe Me Me ~ I R NOH Etl Jl »<: ./+ 2 HONH3CI- + Na2C03 -----.. •. /' <;»: y' NOH + Uma reação de cicloadição bem estabelecida do pirrol é a ciclo adição [2+1] com diclorocarbenos. Ocorre em compe- tição com a formilação de Reimer-Tiemann. /\/H n. ~~A - u;..A -OH •. ~ ÇCI2 ~ CHCI2 H H (CI CI ~CI -HCI •. ~'ZNl' ' ~ ..) I:..J N H ~CHO I H+ CCI2Q I Me Sob condições fortemente básicas (geração de diclorocarbeno CHCl/KOH), a substituição eletrofílica do pirrol por dialocarbeno domina, conduzindo, eventualmente, para pirrol-2-carbaldeído. Em meio fracamente básico (geração de diclorocarbeno pelo aquecimento de tricloroacetato de sódio), a cicloadição [2+1] prevalece. O produto primário elimina HCI, formando 3-cloropiridina. Reação de abertura de anel A abertura do anel do pirrolleva para reações limpas somente em poucos casos. Conseqüentemente, tanto ácidos de ~ Brônsted como de Lewis iniciam a polimerização, e bases fortes levam à formação de sais. Cloridrato de hidroxilamina e carbonato de sódio em etanol reagem com pirróis, formando dioximas de compostos l,4-dicarbonílicos. O pirrol produz dioxima de amônia e succinodialdeído.
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