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CASO CLÍNICO 5 - DEMÊNCIA GRUPO: FELLIPE PESENTE LUCAS BRUMATTI SETUBAL GUILHERME MARQUES NUNES MAMEDE BIANCA GARCIA SARDI ANA LUIZA DOS SANTOS MACHADO COSTA JULIA GASPARINI RIBEIRO LARISSA FERNANDES LANNES MARINHO MATÉRIA: INTEGRAÇÃO BÁSICO-CLÍNICO II ORIENTADOR: POLYANA LIMA MEIRELES DALPIAZ TURMA: 107 CURSO: MEDICINA Descrição do caso: João tem 73 anos e está acamado há 7 meses em decorrência de Doença de Alzheimer em estágio avançado. Recebeu visita da equipe de home care, que foi acionada pela família por causa do aumento da dificuldade de se alimentar, agitação e alteração no padrão do sono. O médico assistente é novo na equipe e não tem experiência prévia em home care. Após uma breve conversa com a filha de João para entender o caso, solicita o exame de imagem do crânio mais recente. Laudo da PET/RM: plano coronal sequência FLAIR demonstrando atrofia dos lobos temporais mesiais, particularmente dos hipocampos; PET demonstra hipometabolismo no córtex temporal mesial e parietal. Após analisar a imagem, estabelece o seguinte diálogo com a família: - Olha, gente! Eu vou ser bem direto. Vocês já devem saber que o Sr. João está no fim da vida, né?!?! Isso que vocês estão reclamando agora é só o começo. Ele vai piorar em ritmo acelerado a partir de agora. Hoje, vou passar uma sonda nasoentérica e uma dieta específica para ele, e para a agitação psicomotora vou prescrever um antipsicótico de última geração e vou aumentar a dose do benzodiazepínico para ele dormir mais. A partir de agora as expectativas de vocês devem reduzir. Não esperem grandes melhoras. Vai ser assim mesmo. Qualquer coisa vocês ligam para a enfermeira. Vou deixar a receita aqui. Tá tudo explicado ali como vocês vão aplicar a dieta e dar os remédios. Em 30 dias eu retorno. Após essa conversa, a equipe presente se retirou e a família começou a chorar. Diagnóstico: Doença de Alzheimer. TERMOS DESCONHECIDOS ● PET: sigla para Tomografia por Emissão de Pósitrons, exame que avalia o metabolismo dos órgãos por meio de radiação ionizante. ● Hipocampo: estrutura do cérebro encaixada profundamente no lóbulo temporal de cada córtice cerebral. É parte importante do sistema límbico, uma região cortical que regula motivação, emoção, aprendizado e, principalmente, tratando-se de hipocampo, memória. ● Sonda nasoentérica: sonda introduzida através do nariz e passada pelo esôfago e estômago até o trato intestinal. PALAVRAS-CHAVE: 73 anos, acamado há 7 meses, doença de Alzheimer, estágio avançado, aumento da dificuldade de se alimentar, agitação, alteração no padrão do sono, atrofia dos lobos temporais mesiais (hipocampos), PET demonstra hipometabolismo no córtex temporal mesial e parietal, fim da vida, sonda nasoentérica, dieta específica, antipsicótico, benzodiazepínico. QUESTÕES NORTEADORAS ANATOMIA 1. Defina sulcos e giros. Durante o desenvolvimento embrionário, quando o tamanho do encéfalo aumenta rapidamente, a substância cinzenta do córtex aumenta com maior rapidez que a substância branca subjacente. Como resultado, a região cortical se enrola e se dobra sobre si mesma. Portanto, a superfície do cérebro do homem e de vários animais apresenta depressões denominadas sulcos, que delimitam os giros ou circunvoluções cerebrais. A existência dos sulcos permite considerável aumento do volume cerebral e sabe-se que cerca de dois terços da área ocupada pelo córtex cerebral estão “escondidos” nos sulcos. 2. Identifique e marque no exame com asterisco *: ● Espaço subaracnóideo (* laranja) (escolher um local). ● Ventrículos laterais (* verde claro). ● Substância branca (* branco) - no lobo temporal. ● Substância cinzenta (* azul) - no lobo temporal. IMUNOLOGIA 3. Quais são as principais alterações no compartimento imune observado durante a DA. Os microgliócitos (tipo de macrófago especializado localizado no sistema nervoso) se reúnem em torno de placas e áreas de degeneração cerebral, o que reflete, de certa forma, uma resposta passiva ao dano tecidual. Estas células do sistema imunológico, chamadas microgliócitos ou microglias, têm duas funções principais. Cuidam da saúde geral dos neurônios e suas sinapses (junções entre os neurônios, onde elas se comunicam umas com as outras). E patrulham o cérebro, procurando por ameaças e problemas. Quando detectam uma molécula infecciosa ou perigosa, como o β-amilóide ou detritos de células danificadas, elas se tornam ativas e sinalizam para outras microglias que se juntem a elas em um esforço de limpeza. Certas proteínas microgliais se reúnem em grandes complexos chamados inflamassomas (um componente chave do inflamassoma é a proteína NLRP3), que produzem sinais de limpeza na forma de moléculas imunes ativadas (quimiocinas). Inflamassomas geralmente desaparecem quando o trabalho é terminado. Mas no cérebro das pessoas com Alzheimer, as moléculas do inflamassoma parecem permanecer ativas, continuando a bombear moléculas inflamatórias. 4. Como podemos associar elementos imunes à patogênese da DA. Explique. A micróglia e os astrócitos expressam diferentes tipos de receptores similares a Toll (TLRs), grupo de receptores transmembrânicos expressos nas células da imunidade inata essenciais para o reconhecimento de moléculas associadas a patógenos e de substâncias endógenas produzidas e liberadas em situações de dano tecidual, fundamentais na modulação da resposta inflamatória. Evidências crescentes sugerem que proteínas desdobradas e agregadas, no cérebro, se ligam a receptores de reconhecimento de padrões na micróglia e astrócitos e desencadeiam uma resposta imune inata, caracterizada pela liberação de mediadores inflamatórios e neuroinflamação, que contribuem para a progressão e gravidade da doença de Alzheimer. Outro volumoso grupo de moléculas de intercomunicação e sinalização celular são as citocinas, as quais podem ser produzidas a partir da ativação de micróglias e astrócitos no sistema nervoso central (SNC) contribuindo diretamente para o processo de neuroinflamação. Somado a estes fatores influentes na patologia da DA, o estresse oxidativo resultante da produção de intermediários reativos de oxigênio (ROIs) e espécies reativas de nitrogênio (ERN) desempenha papel fundamental na neuroinflamação. A produção abundante de radicais livres gera danos ao sistema de membranas neuronais com consequente peroxidação de lipídeos e oxidação das proteínas membranares. BIOQUÍMICA E BIOFÍSICA 5. Qual a característica biofísica principalmente observável na sequência ponderada em FLAIR? A sequência ponderada em FLAIR (inversão-recuperação com atenuação líquida, fluid atenuated acquision in inversion recovery) utiliza um pulso de inversão (180°) que irá inverter a magnetização longitudinal para saturar o sinal do líquido cefalorraquidiano (LCR). O tempo que decorre entre este pulso e o início da sequência propriamente dita denomina-se Tempo de Inversão (TI) e vai determinar o tecido cujo sinal será anulado. A sequência FLAIR requer um TI longo, por volta de 2000 ms, para anular o sinal do LCR. Dessa forma, ocorre uma supressão (apagamento) apenas do líquor, evidenciando possíveis líquidos de hidratação em áreas patológicas, por se apresentarem de modo destacado na imagem, aumentando a sensibilidade do exame. E, assim como a sequência T2, a substância cinzenta se apresenta clara na imagem e a substância branca, escura. 6. Qual a correlação existente da PET com hipometabolismo do córtex...? A PET (Positron Emission Tomography) é uma técnica de imagem que funciona através de um scanner que detecta fótons emitidos por um radionuclídeo do órgão ou tecido examinado. Os radionuclídeos usados na PET são feitos anexando um átomo radioativo à substâncias químicas usadas naturalmente pelo órgão/tecido estudado. Na PET para diagnóstico cerebral (18FDG-PET), a 18F-2-deoxiglicose, um análogo radioativo da glicose substitui um grupo hidroxila em uma molécula de glicose. A glicose é usada como a fonte preferida de energia dos neurônios.Essa PET pode indicar neurodegeneração e alterações no metabolismo no cérebro. Se o cérebro apresenta neurodegeneração, a PET detectará diferentes níveis de glicose (hipometabolismo) que indicam o diagnóstico de neurodegeneração. Normalmente, na Doença de Alzheimer (AD), áreas hipometabólicas são vistas no córtex cingulado posterior (PCC), no precuneus e nos lobos temporal, parietal e frontal. O exame PET é usado para diagnóstico tanto de AD, quanto de demência frontotemporal (FTD), já que a FTD também apresenta hipometabolismo no córtex frontal, córtex temporal anterior, gânglios basais e tálamo, porém de padrão diferente da AD, permitindo a diferenciação. Atualmente, o uso de PET tem sido associado ao uso de ressonância magnética (RM), como descrito no caso. O PET/RM tem como vantagens o alto contraste de tecidos moles e a capacidade funcional da ressonância magnética. Estudos indicam que essa associação de RM com PET são capazes de diagnosticar patologias associadas à Doença de Alzheimer anos antes da característica demência da DA, o que ajuda em possíveis tratamentos. MEDICINA SOCIAL 7. Analise a comunicação do médico com a família. A comunicação entre o médico e a família claramente não foi efetiva. O médico não teve a empatia para explicar à família a situação de saúde do idoso e o prognóstico da doença. Além disso, houve muita frieza por parte do profissional de saúde durante o diálogo, bem como pressa da equipe em ir embora, o que demonstra o não estabelecimento do vínculo com a família e o paciente. Por fim, ele ainda informou que a receita era autoexplicativa, não orientando de maneira adequada a forma de lidar com a situação, o que também é uma falha no processo da consulta, uma vez que o atendimento médico só termina quando os envolvidos entendem, de fato, como agir e seguir o plano terapêutico proposto e pactuado. 8. Descreva frases, expressões ou comentários que o médico poderia ter utilizado para se comunicar com a família. “Infelizmente, a situação do Sr. João ficará um pouco mais difícil e ele vai precisar mais do apoio de vocês” “Os sintomas são progressivos e ele precisará de ajuda dos familiares para realizar algumas tarefas diárias” “O curso dessa doença varia um pouco a depender do indivíduo, então precisamos acompanhar melhor o quadro para agirmos da forma mais adequada possível”