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Reinventando Freire

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Livro2.indd 1 30/05/18 10:18
Capa: Com as cores do IPF - vermelho e azul - a capa reproduz obra de autoria de Paulo de 
Tarso Santos, jurista, que também usava a pintura para se expressar. Foi Ministro da Educação 
de João Goulart, que convidou Paulo Freire, em 1963, para criar e coordenar o Programa 
Nacional de Alfabetização. Ambos, posteriormente, exilados no Chile. 
Livro2.indd 2 30/05/18 10:18
Moacir Gadotti e Martin Carnoy
Organizadores
A práxis do Instituto Paulo Freire
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Expediente
INSTITUTO PAULO FREIRE
Paulo Freire 
Patrono
Moacir Gadotti 
Presidente de Honra
Ângela Biz Antunes
Francisca Pini
Paulo Roberto Padilha 
Diretores(as) Pedagógicos(as)
Janaina Abreu
 
Pablo Mazzucco
 
LEMANN CENTER FOR EDUCATIONAL ENTREPRENEURSHIP AND INNOVATION 
IN BRAZIL/STANFORD GRADUATE SCHOOL OF EDUCATION
Eric Bettinger
Paulo Blikstein
Martin Carnoy
David Plank
Codiretores
Martin Carnoy
Rebecca Tarlau
Coordenação com Instituto Paulo Freire
Cristina Antunes
Coordenação administrativa
Livro2.indd 2 30/05/18 10:18
“O Instituto Paulo Freire deve ter uma peculiaridade. Deve 
ser um fertilizador do inusitado. Quero dizer que não se tra-
ta de pensar miudamente práticas específicas de educação 
com base nas ideias de Paulo Freire. Isto negaria o próprio 
Paulo Freire pela base. Pois, nada menos freiriano do que 
ser seguidor de ideias sem saber ser criador de espíritos. 
Trata-se de criarmos condições para estarmos pondo fra-
ternalmente à prova a nossa própria capacidade de criar. 
De ousar mesmo. De abrir horizontes em nome da justiça 
e da igualdade. De estabelecermos pontos comuns através 
da experiência da diferença e da confrontação de opostos”. 
Carlos Rodrigues Brandão, 1992.
Livro2.indd 3 30/05/18 10:18
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5
Dedicamos este livro a todos e todas que fizeram do Instituto Paulo Freire (IPF), durante 
seus 27 anos de existência, um instrumento de luta por um mundo “mais humano, mais 
justo e menos feio”, “em que seja menos difícil amar”, como nos lembra Paulo Freire no 
final de seu livro Pedagogia do oprimido, que, em 2018, completa 50 anos.
Reinventando Freire é resultado de um trabalho que contou com a contribuição de 
mais de uma centena de pessoas. Sentimo-nos honrados e agradecidos por mais esta 
construção coletiva. Mas existem muitas outras “gentes”, como dizia Freire, que não estão 
neste livro e fizeram parte das ações, projetos, fóruns, encontros, redes, movimentos, 
publicações desta organização conectiva. Impossível mencionar todos e todos. Não são 
centenas, mas milhares, como no caso do projeto MOVA-Brasil. Não estão aqui citadas, mas 
a cada um há um reconhecimento e agradecimento presentes na memória institucional e 
das pessoas que fizeram parte dessa história. 
Aos que diretamente empenharam-se na produção desta obra, nossa gratidão, 
começando pelos nomes daqueles que deixaram suas mensagens num livro de visitas 
que se encontra no Centro de Referência Paulo Freire e que apresentamos no capítulo 27. 
São depoimentos de amor e compromisso com a causa que todos e todas defendemos e, 
também, de reconhecimento ao trabalho do IPF na manutenção do legado que o “guardião 
da utopia”, o “semeador de sonhos” nos deixou: Alexandre Aguiar, Ariane Slazer, Arturo 
Ornellas, Barbara Harrell-Bond, Bernandino Mata Garcia, Betsi Pendry, Brenda Morrison, 
Carlos Alberto Torres, Clodomir Santos de Moraes (in memoriam), Cristina Freire, David 
Yang, Domingos Nobre, Edna Carvalho Bicudo, Frei Carlos Josaphat Pinto de Oliveira, 
Gestine Cássia Trindade, Irma Parentella, Jacinta Castelo Branco, José Carlos dos Reyes 
Maldonado (in memoriam), Leoncio Soares, Liana Borges, Ligia Chiappini Moraes Leite, 
Lilian Cristina Prado Contreira, Liz Ellioh, Maria Clara Di Pierro, Maria Rita Pereira, Mariano 
Islo, Mário Acevedo, Maximiliano López, Noemi Lilia Solis Bello Ortez, Olympe Olivier, 
Otaviano Pereira, Paulo Edgar da Rocha Resende, Roberto Mazzini, Rosa Noal, Rubens 
Harry Born, Sandro Pitano, Sérgio Guimarães, Sônia Couto Souza Feitosa, Wolfdietrich 
Schmied-Kowarzik, Yoshimori Ikezumi e Yvon Minvielle.
A práxis do Instituto Paulo Freire não poderia ser demonstrada sem o testemunho 
daqueles e daquelas que participaram do desenvolvimento de suas ações e projetos. 
Registramos aqui nossa alegria por “memorar com” cada um e cada uma que, por meio 
dos textos entregues, trouxe à tona lembranças de uma história que juntos e juntas 
construímos. Agradecemos a todos e todas que deram seus depoimentos, consignados 
nos capítulos 28 e 29: Adriano Salmar Nogueira e Taveira, Alcir de Souza Caria, Alessandra 
Rodrigues dos Santos, Alessio Surian, Ângela Biz Antunes, Angélica Ramacciotti, Antonio 
João Mânfio, Camila Teo da Silva, Carlos Ferrari, Célia Linhares, Célio Vanderlei Moraes, 
Delma Lúcia de Mesquita, Eliseu Muniz dos Santos, Erick Morris, Fernanda Soares 
de Campos, Florenço Varela, Guillermo Willianson, Helena da Silva Christov, Ismar de 
Oliveira Soares, Jaciara de Sá Carvalho, Jason Mafra, Júlia Tomchinsky, Juliana Fonseca 
de Oliveira Neri, Luiz Marine José do Nascimento, Oscar Jara Holiday, Priscila Ramalho, 
Ramon Moncada, Renata Roza, Roberta Scatolini, Roberta Stangherlim, Roberto Elisalde, 
Sabrina Abbas, Sheila Ceccon, Simone Lee e Tereza Mara Cruz.
Dezenas de pequenos ensaios fazem parte deste livro, abordando a Atualidade de 
Freire, bem como as propostas do Instituto Paulo Freire, no campo da Educação Básica e 
da Educação Superior e apontando para Outras Educações e Pedagogias Possíveis. Nosso 
especial agradecimento a: Alice Akemi Yamasaki, Anderson Fernandes de Alencar, Ângela 
Biz Antunes, Carlos Alberto Torres, Carlos Rodrigues Brandão, Cheron Zanini Moretti, Danilo 
AGRADECIMENTOS
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6
Romeu Streck, Fernanda Soares, Francisca Pini, Genuíno Bordignon, Janaina Abreu, Jason 
Ferreira Mafra, José Eustáquio Romão, Ladislau Dowbor, Licínio C. Lima, Luiza Cortesão, 
Lutgardes Costa Freire, Maria Aparecida Costa dos Santos, Mario Sergio Cortella, Martin 
Carnoy, Moacir Gadotti, Paulo Blikstein, Paulo Roberto Padilha, Pep Aparicio Guadas, 
Pia Lindquist Wong, Rebecca Tarlau, Reinaldo Matias Fleuri, Roberto da Silva, Sandro de 
Castro Pitano, Sheila Ceccon, Silvia Maria Manfredi e Sônia Couto Souza Feitosa.
Somos gratos a todas as pessoas e instituições parceiras que, ao longo destes 
27 anos, foram determinantes para que o IPF se tornasse instituição educacional de 
referência no Brasil e em outros países, que, dessa forma, também, colaboraram para a 
concretização deste livro. 
Por fim, o reconhecimento muito especial pelo trabalho realizado por todos os IPFs 
presentes no exterior, que, com o IPF-Brasil, contribuem para a reafirmação da vigência 
da obra e da práxis de Paulo Freire e, também, nosso especial agradecimento à Faculdade 
de Educação da Universidade de Stanford e ao Lemann Center daquela Universidade, que 
aceitaram nosso convite para deixar registrada essa história de luta por um outro mundo 
possível.
Juntos, reinventamos e seguiremos reinventando Freire e a própria educação.
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Introdução - Redescobrir Freire e reinventar a educação - Moacir Gadotti e 
Martin Carn11
ATUALIDADE DE FREIRE
1. Mario Sergio Cortella, Paulo Freire: utopias e esperanças 
2. Licínio C. Lima, Três razões para estudar Freire hoje, para além da ma21 
29
3. Danilo Romeu Streck, Cheron Zanini Moretti e Sandro de Castro Pitano, 
Paulo Freire na América Latina: tarefas daqueles/as que se deslocam por q37 
devem 
4. Luiza Cortesão, Contra o desperdício do conhecimento: Paulo Frei47
re ontem e hoje 
5. Pia Lindquist Wong, Paulo Freire: um aliado para aqueles que se atre63 
ensinar 
6. Paulo Blikstein, Paulo Freire vai a Palo Alto: tecnologias e pedagogia77 
progressistas em um mundo desigual
7. Martin Carnoy e Rebecca Tarlau, Paulo Freire continua relevante para87 
a educação nos EUA 
Segunda parte
EDUCAÇÃO BÁSICA103
8. Ângela Biz Antunes, Exercício da cidadania desde a infância 
9. Paulo Roberto Padilha, Educar em todos os cantos: educação integr119 
com qualidade sociocultural e socioambiental no Município que Educa 
10. Moacir Gadotti e Sônia Couto Souza Feitosa, Reinventar a educaçã137 
inverter prioridades: o lugar da educação de adultos como política pública149 
11. Genuíno Bordignon, Reconhecimento e certificação de saberes 
populares155 
12. Francisca Pini e Janaina Abreu, Os direitos humanos mudando a cara da 
escola e da sociedade 167
13. Silvia Maria Manfredi, Trabalho e educação no futuro: inquietações 
e perspectivas 
Terceira parte
EDUCAÇÃO SUPERIOR189
14. José Eustáquio Romão, Paulo Freire e a extensão universitária 209
universidade a partir da extensão universitária 229
16. Reinaldo Matias Fleuri, Paulo Freire: aprender a educar com os povos 
indígenas 237
Introdução - Redescobrir Freire, reinventar a educação - Moacir Gadotti e Martin 
Carnoy 
Primeira parte
ATUALIDADE DE FREIRE
1. Mario Sergio Cortella, Paulo Freire: utopias e esperanças 
2. Licínio C. Lima, Três razões para estudar Freire hoje, para além da mais óbvia 
3. Danilo Romeu Streck, Cheron Zanini Moretti e Sandro de Castro Pitano, Paulo 
Freire na América Latina: tarefas daqueles/as que se deslocam por que devem 
4. Luiza Cortesão, Contra o desperdício do conhecimento: Paulo Freire ontem 
e hoje 
5. Pia Lindquist Wong, Paulo Freire: um aliado para aqueles que se atrevem 
a ensinar 
6. Paulo Blikstein, Paulo Freire vai a Palo Alto: tecnologias e pedagogias 
progressistas em um mundo desigual
7. Martin Carnoy e Rebecca Tarlau, Paulo Freire continua relevante para a 
educação nos EUA 
Segunda parte
EDUCAÇÃO BÁSICA
8. Ângela Biz Antunes, Exercício da cidadania desde a infância 
9. Paulo Roberto Padilha, Educar em todos os cantos: educação integral com 
qualidade sociocultural e socioambiental no Município que Educa 
10. Moacir Gadotti e Sônia Couto Souza Feitosa, Reinventar a educação é 
inverter prioridades: o lugar da educação de adultos como política pública 
11. Genuíno Bordignon, Reconhecimento e certificação de saberes populares 
12. Francisca Pini e Janaina Abreu, Os direitos humanos mudando a cara da escola 
e da sociedade 
13. Silvia Maria Manfredi, Trabalho e educação no futuro: inquietações e 
perspectivas 
Terceira parte
EDUCAÇÃO SUPERIOR
14. José Eustáquio Romão, Paulo Freire e a extensão universitária 
15. Ângela Biz Antunes, Moacir Gadotti e Paulo Roberto Padilha, Reinventar a 
universidade a partir da extensão universitária 
16. Reinaldo Matias Fleuri, Paulo Freire: aprender a educar com os povos indígenas 
17. Paulo Roberto Padilha, EaD Freiriana como educação a distância 
emancipatória e criativa 
SUMÁRIO
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18. Anderson Fernandes de Alencar, Lições do passado e educação do 
futuroinformática, software livre e compartilhamento do conhecimento em 
Paulo Freire 257
19. Alice Akemi Yamasaki, Fertilizar e semear Educação Popular com Paulo 
Freire: desafios à universidade, à formação de educadores e educadoras do 
campo e à educação audiovisual 271
Quarta parte
OUTRAS EDUCAÇÕES E PEDAGOGIAS POSSÍVEIS
20. Carlos Rodrigues Brandão, Platão, Paulo e nós: uma viagem entre os tempos 
da cultura popular e da educação popular285 
21. Roberto da Silva, Outras educações possíveis305 
22. Ângela Biz Antunes, Moacir Gadotti e Sheila Ceccon, Refazendo o caminho, 
cuidando da Terra: ecopedagogia e educação para a sustentabilidade317 
23. Ladislau Dowbor, Por uma pedagogia da economia: educando para o mundo 
rea331
24. Maria Aparecida Costa dos Santos e Jason Ferreira Mafra, O Hip-Hop como 
prática da liberdade347 
25. Carlos Alberto Torres e Moacir Gadotti, Educar para a cidadania global e 
planetária 359
Quinta parte
TESTEMUNHOS DA PRÁXIS FREIRIANA
26. Pep Aparicio Guadas, Na prática da prática... Três movimentos e um 
testemunho. Uma leitura hermenêutica 
27. Fernanda Soares, Lutgardes Costa Freire e Sônia Couto Souza Feitosa, “375 
eu sinto a presença de Paulo Freire” 
28. Práxis freiriana nas áreas de atuação do IP387 
1. Antonio João Mânfio, Revisitando a Escola Cidadã do Paraná 393
2. Roberta Stangherlim, Revistando Paulo Freire na área de educação cidadã do394 
3 Juliana Fonseca de Oliveira Neri, O currículo da educação cidadã na afirmaç397 
 
 da criança como sujeito histór399 
5. Sabrina Abbas, Oficina de jardinagem 403
6. Alessandra Rodrigues dos Santos, Aprendizagens oriundas da vivência no I404 
7. Tereza Mara Cruz, A articulação social no MOVA-Brasil ..........406
8. Luiz Marine José do Nascimento, Leitura e escrita no MOVA-Brasil: o verbo é407 
compartilhar 
9. Célia Linhares, PAEMA, o pensamento vivo de Paulo Freire em ação408 
10. Ângela Biz Antunes, TOPA, lugar de muita ousadia e esperança 411
11. Renata Roza, Alfabetização cidadã: da digital ao digital 414
12. Florenço Varela, Educação de adultos em Cabo Verde e o pens418 
13. Carlos Ferrari, A libertação de uma equação equivocada 
14. Célio Vanderlei Moraes, Amorosidade dialeticamente como forma e conteúdo419
15. Roberto Elisalde, Recriando a educação popular na Argentina: a estratégia do424 
Bacharelados Populares e suas influências freirianas 425
426
18. Anderson Fernandes de Alencar, Lições do passado e educação do futuro: 
informática, software livre e compartilhamento do conhecimento em Paulo 
Freire 
19. Alice Akemi Yamasaki, Fertilizar e semear Educação Popular com Paulo Freire: 
desafios à universidade, à formação de educadores e educadoras do campo e 
à educação audiovisual 
Quarta parte
OUTRAS EDUCAÇÕES E PEDAGOGIAS POSSÍVEIS
20. Carlos Rodrigues Brandão, Platão, Paulo e nós: uma viagem entre os tempos 
da cultura popular e da educação popular 
21. Roberto da Silva, Outras educações possíveis 
22. Ângela Biz Antunes, Moacir Gadotti e Sheila Ceccon, Refazendo o caminho, 
cuidando da Terra: ecopedagogia e educação para a sustentabilidade 
23. Ladislau Dowbor, Por uma pedagogia da economia: educando para o mundo 
real 
24. Maria Aparecida Costa dos Santos e Jason Ferreira Mafra, O Hip-Hop como 
prática da liberdade 
25. Carlos Alberto Torres e Moacir Gadotti, Educar para a cidadania global e 
planetária 
Quinta parte
TESTEMUNHOS DA PRÁXIS FREIRIANA
26. Pep Aparicio Guadas, Na prática da prática... Três movimentos e um 
testemunho. Uma leitura hermenêutica 
27. Fernanda Soares, Lutgardes Costa Freire e Sônia Couto Souza Feitosa, “Aqui 
eu sinto a presença de Paulo Freire” 
28. Práxis freiriana nas áreas de atuação do IPF 
1. Antonio João Mânfio, Revisitando a Escola Cidadã do Paraná 
2. Roberta Stangherlim, Revisitando Paulo Freire na área de educação cidadã do IPF 
3 Juliana Fonseca de Oliveira Neri, O currículo da educação cidadã na afirmação da 
criança como sujeito histórico 
4. Júlia Tomchinsky, Sementes de primavera: o protagonismo das crianças 
5. Sabrina Abbas, Oficina de jardinagem 
6. Alessandra Rodrigues dos Santos, Aprendizagens oriundas da vivência no IPF 
7. Tereza Mara Cruz, A articulação social no MOVA-Brasil 
8. Luiz Marine José do Nascimento, Leitura e escrita no MOVA-Brasil: o verbo é 
compartilhar 
9. Célia Linhares, PAEMA, o pensamento vivo de Paulo Freire em ação 
10. Ângela Biz Antunes, TOPA, lugar de muita ousadia e esperança 
11. Renata Roza, Alfabetização cidadã: da digital ao digital 
12. Florenço Varela, Educação de adultos em Cabo Verde e o pensamento político-
pedagógico de Paulo Freire 
13. Carlos Ferrari, A libertação de uma equação equivocada 
14. Célio Vanderlei Moraes, Amorosidade dialeticamente como forma e conteúdo 
15. Roberto Elisalde, Recriando a educação popular na Argentina: a estratégia dos 
Bacharelados Populares e suas influências freirianas 
Livro2.indd 8 30/05/18 10:18
16. Ismar de Oliveira Soares, Paulo Freire mobiliza crianças e jovens pela 
educomunicação428 
29. Práxis freiriana na dinâmica de uma organização conectiva433 
1. LuizaHelena da Silva Christov, Meu encontro com o IPF: memórias de apre434 
2. Erick Morris e Roberta Scatolini, Quinta-poesia: lembranças dos tempos de IPF e 
de como Paulo Freire nos436
3. Priscila Ramalho, Em roda e em poesia: o jeito freiriano de transformar o mun438
4. Simone Lee, Cuidado com o registro e a sistematização das ações440 
5. Fernanda Soares de Campos, Memória e presença de Paulo Freire no século 441 
6. Delma Lúcia de Mesquita, Um permanente encontro com Paulo Freire443 
7. Camila Teo da Silva, Edições especiais: MOVA, Angicos e TOPA 447
449
8. Angélica Ramacciotti, Uma declaração de amor armado 452
9. Jaciara de Sá Carvalho, EaD Freiriana: Educando-se, juntos, desde o454 
planejamento 
10. Eliseu Muniz dos Santos, Vivências de construção compartilhada no cot456
11. Alcir de Souza Caria, Educando para a criatividade e a inovação 458
12. Jason Mafra e Sheila Ceccon, UNIFREIRE, utopia e projeto possível459 
460
13. Adriano Salmar Nogueira e Taveira, Superar Paulo Freire 462
14. Guillermo Willianson, Paulo Freire, o IPF e as suas contribuições à questão da464 
educação e o seu espaço nos territórios: uma reflexão do Chile. 466
15. Oscar Jara Holiday. Paulo Freire e o desafio de reinventá-lo 467
16. Ramon Moncada, IPF, conector de ideias, propostas e experiências 
17. Alessio Surian, Obrigao IPF!471
Sobre os autores e autoras 
16. Ismar de Oliveira Soares, Paulo Freire mobiliza crianças e jovens pela 
educomunicação 
29. Práxis freiriana na dinâmica de uma organização conectiva 
1. Luiza Helena da Silva Christov, Meu encontro com o IPF: memórias de aprender 
2. Erick Morris e Roberta Scatolini, Quinta-poesia: lembranças dos tempos de IPF e 
de como Paulo Freire nos inspirou 
3. Priscila Ramalho, Em roda e em poesia: o jeito freiriano de transformar o mundo 
4. Simone Lee, Cuidado com o registro e a sistematização das ações 
5. Fernanda Soares de Campos, Memória e presença de Paulo Freire no século XXI 
6. Delma Lúcia de Mesquita, Um permanente encontro com Paulo Freire 
7. Janaina Abreu, Democratização da informação e difusão do legado de Paulo Freire
8. Camila Teo da Silva, Edições especiais: MOVA, Angicos e TOPA 
9. Angélica Ramacciotti, Uma declaração de amor armado 
10. Jaciara de Sá Carvalho, EaD Freiriana: educando-se, juntos, desde o planejamento 
11. Eliseu Muniz dos Santos, Vivências de construção compartilhada no cotidiano 
do IPF 
12. Alcir de Souza Caria, Educando para a criatividade e a inovação 
13. Jason Mafra e Sheila Ceccon, UNIFREIRE, utopia e projeto possível 
14. Adriano Salmar Nogueira e Taveira, Superar Paulo Freire 
15. Guillermo Willianson, Paulo Freire, o IPF e as suas contribuições à questão da 
educação e o seu espaço nos territórios: uma reflexão do Chile. 
16. Oscar Jara Holiday, Paulo Freire e o desafio de reinventá-lo 
17. Ramon Moncada, IPF, conector de ideias, propostas e experiências 
18. Alessio Surian, Obrigado IPF! 
Sobre os autores e autoras 
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11
Em 2018, o Instituto Paulo Freire completa 27 anos de existência. Uma trajetória de 
sonhos, de realizações e tempo de reflexão. 2018 é também uma data simbólica já que o 
livro Pedagogia do oprimido celebra seu 50º aniversário - que está entre os 100 livros mais 
pedidos em universidades de língua inglesa pelo mundo - e recordamos os 100 anos da 
ousada Reforma Universitária de Córdoba, na Argentina.
Foi nesse contexto que surgiu a parceria entre o IPF e a Universidade de Stanford para a 
publicação de um livro que resgate essa trajetória. 
Não se trata de relatar diferentes ações e experiências do Instituto e nem de ficar 
respondendo ao contexto brasileiro. Estamos interessados em nos inspirar em Freire e na 
práxis do IPF e de freirianos e freirianas ligados a ele, sem ficar na descrição ou relato de 
seus projetos. Buscamos apontar caminhos para a educação do futuro, operando mudanças 
na educação do presente e evitando dar respostas apenas para a conjuntura brasileira, com 
ideias que podem contribuir na construção de políticas públicas em outros contextos. 
Não estamos falando apenas para nosso “público interno”, para aqueles e aquelas que 
já estão “afinados” com nosso discurso. Gostaríamos de alcançar um público mais amplo, 
principalmente a juventude, interessada na educação, mas não limitado a ela, atraindo e 
agregando mais gente para a causa que nos une em torno do legado de Paulo Freire, que 
ainda precisa ser mais conhecido e reinventado criticamente. 
A ideia é revisitar Freire e encontrar, na experiência do Instituto Paulo Freire e em alguns 
de seus colaboradores, inspiração para reinventar a educação. A educação, no mundo, passa 
por uma crise, associada à crise civilizatória atual, e Paulo Freire pode ser uma importante 
referência para o surgimento de novas políticas públicas de educação. 
Pensamos num livro que se atenha ao essencial, crítico e reflexivo, aberto e à escuta de 
vozes divergentes. Um livro que possa nutrir a esperança em tempos de descrença, que fale 
ao coração das pessoas, que as sensibilize, que as convença e não só as informe. Pensamos 
num livro que não seja apenas mais um trabalho científico de sociologia, de história, de 
filosofia, sobre os temas candentes da atualidade educacional. Ele reflete nossas mais 
profundas convicções a partir do legado freiriano, mas não ficando só nele, como numa seita. 
Consideramos a possibilidade de reinventar a educação a partir da mobilização e união de 
diferentes energias intelectuais e afetivas, numa visão democrática e humanizadora. A 
reinvenção da educação precisa ser uma obra coletiva, crítica e prospectiva.
1. Instituto Paulo Freire: educar para transformar
O Instituto Paulo Freire (IPF) nasceu em 1991 em meio ao contexto da efervescência 
política que se sucedeu aos acontecimentos que culminaram com a queda do muro de 
Berlim e do fim do império soviético. Aquele foi um momento marcante para os militantes de 
esquerda no mundo. De certa forma, era como se tivéssemos perdido o chão, o paradigma. 
Paulo Freire foi perguntado, naquela época, pelo jornal Folha de S. Paulo, se ele achava que 
se tratava do “fim do socialismo”. Ele respondeu que não era o fim do socialismo, mas, sim, 
de um certo rosto do socialismo. E acrescentou que, assim, seria mais fácil defender um 
socialismo democrático, o socialismo com liberdade. 
Foi nesse contexto político que nasceu o IPF, num contexto de crise paradigmática. Era 
o momento de reafirmar e reforçar o paradigma do oprimido que nada tinha a ver com o 
paradigma socialista autoritário. 
Ao sair da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em 1991, Paulo Freire estava 
mais livre para se dedicar a esse novo desafio, mesmo considerando sua difícil agenda de 
INTRODUÇÃO
REDESCOBRIR FREIRE, 
REINVENTAR A EDUCAÇÃO
Moacir Gadotti e 
Martin Carnoy
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12
compromissos. Até 1997, ele acompanhou todos os projetos do IPF. Seu último projeto foi 
organizar conosco o curso que ele iniciaria em setembro daquele ano no seu celebrado 
retorno à Universidade de Harvard, onde havia lecionado em 1969. Já havíamos selecionado 
vários textos que fariam parte das leituras que iria recomendar a seus futuros alunos. 
Infelizmente, veio a falecer em maio daquele ano sem realizar esse sonho.
Dar continuidade a Freire não é repeti-lo, mas reinventá-lo. Como ele afirmou certa 
vez, “a única maneira que alguém tem de aplicar, no seu contexto, alguma das proposições 
que fiz é exatamente refazer-me, quer dizer, não me seguir. Para seguir-me, o fundamental 
e não me seguir” (FREIRE & FAUNDEZ, 1985: 41). É isso que tenta fazer o Instituto Paulo 
Freire (www.paulofreire.org). A utopia que move esta instituição é educar para transformar, 
é construir a cidadania planetária, a “planetarização” (ANTUNES, 2002), combatendo a 
injustiça social provocada pela globalização capitalista, à luz de uma nova cultura política, 
inspirada no legado freiriano.Um conjunto de propostas, projetos e programas contribuem 
para a realização dessa missão institucional. 
A Educação Cidadã, a Educação Popular e de Adultos, bem como a Educação em Direitos 
Humanos, sempre foram programas estruturantes do IPF com numerosas ações que já 
beneficiaram milhares de pessoas. Entendemos a Educação de Adultos como um direito 
humano fundamental, crucial na superação da pobreza e da exclusão social. É um direito 
humano já que todo ser humano busca completar-se e, para isso, precisa ler o mundo, 
construir conhecimento e aprimorar-se. Reconhecer a Educação de Adultos como direito 
humano implica considerar todas as pessoas como capazes de produzir conhecimento, 
produzir cultura e, por meio dela, transformar a natureza e organizar-se socialmente.
Outro programa central do IPF é o programa da Escola Cidadã (ANTUNES & PADILHA, 2010). 
A Escola Cidadã opõe-se à Teoria do Capital Humano, ao movimento da “qualidade total” e 
da “Mercoescola” (AZEVEDO, 2007; ROMÃO, 2000). Seus eixos temáticos são: autonomia da 
escola, integração da educação com a cultura e o trabalho, escola e comunidade, visão inter 
e transdisciplinar e a formação crítica dos professores (BRANDÃO, 2002). Este foi um dos 
últimos sonhos de Paulo Freire que, pouco antes de falecer, numa entrevista concedida no 
IPF, definiu a Escola Cidadã como “escola de companheirismo, escola de comunidade, que 
vive a experiência tensa da democracia”. 
O IPF abraçou a causa da Ecopedagogia criada por um de seus fundadores, Francisco 
Gutiérrez (GUTIÉRREZ & PRADO, 1989) que logo ganhou enorme receptividade. A 
Ecopedagogia inclui o estudo da planetaridade, da sustentabilidade, da cidadania 
planetária e da virtualidade. Ela objetiva problematizar, a partir da vida cotidiana, o sentido 
mais profundo do que fazemos com a nossa existência. Entendemos a Ecopedagogia 
como uma Pedagogia da Terra (GADOTTI, 2002), um novo capítulo da Pedagogia do oprimido 
já que a própria Terra, um ser vivo e em evolução, no antropoceno, tornou-se um grande 
oprimido (BOFF, 1999). O último texto escrito por Paulo Freire foi sobre ecologia, publicado 
postumamente no livro Pedagogia da indignação (FREIRE, 2000).
Em 1998, um ano após a morte de Paulo Freire, o IPF criou o Fórum Paulo Freire, um 
espaço internacional de estudo e atualização do seu legado, bem como de fortalecimento 
de vínculos entre pessoas e organizações que desenvolvem trabalhos e pesquisas na 
perspectiva da filosofia freiriana (http://forum.unifreire.org/). O Fórum Paulo Freire 
funciona permanentemente num campus virtual e realiza encontros internacionais 
presenciais a cada dois anos. No Fórum Paulo Freire de Bologna (Itália), no ano 2000, foi 
fundada a UNIFREIRE (Universitas Paulo Freire). A UNIFREIRE vem se organizando como 
um conjunto de Institutos e Cátedras, com diferentes programas, independentes e unidos 
pelo mesmo espírito freiriano, em mais de vinte países e publicando uma revista digital 
(www.paulofreire.org/unifreire). 
O IPF mantém o Centro de Referência Paulo Freire, dedicado a preservar e divulgar 
a memória e o legado do educador, disponibilizando vídeos das aulas, conferências, 
palestras e entrevistas que ele deu, aumentando o acesso de pessoas interessadas na 
sua vida, obra e legado. Um acervo digital (www.acervo.paulofreire.org) disponibiliza para 
download gratuito grande parte de sua obra.
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O IPF é membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e do Fórum Mundial 
de Educação. Esses Fóruns não teriam nascido, no Brasil, sem a história de lutas de mais 
de 50 anos do movimento de Educação Popular do qual Paulo Freire é um dos seus maiores 
inspiradores (GADOTTI & TORRES, 1994). Participando e impulsionando, desde o início, esses 
Fóruns, o IPF busca construir, coletivamente, as estratégias necessárias para a construção 
de um “outro mundo possível” (GADOTTI, 2006). Educar para outro mundo possível é educar 
para a emergência do que ainda não é, o ainda-não, a utopia. Educar para outro mundo 
possível é também educar para a ruptura, para a rebeldia, para a recusa, para dizer “não”, 
para gritar, denunciando e anunciando. 
O neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, reduzindo nossas 
identidades às de meros consumidores, desprezando o espaço público e a dimensão 
humanista da educação. Opondo-se a esse paradigma, a educação para outro mundo 
possível respeita a diversidade, convive com a diferença, promove a intertransculturalidade 
(PADILHA, 2004). 
A globalização capitalista roubou das pessoas o tempo para o bem viver e o espaço da 
vida interior, roubou a capacidade de produzir dignamente nossas vidas. Esse não pode 
ser o caminho. Educar para outro mundo possível é educar para mudar radicalmente 
nossa maneira de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta, portanto, é uma 
educação para a sustentabilidade (GADOTTI, 2009); é educar para a paz, para os direitos 
humanos (PINI & MORAES, orgs. 2011), educar para a justiça social (TORRES & NOGUERA, 
orgs. 2008) e para a diversidade cultural, contra o sexismo e o racismo. É educar para 
erradicar a fome e a miséria. 
2. Paulo Freire, um pensador global
Paulo Freire começou a ser mais conhecido no mundo a partir de seu exílio no Chile 
(1964-1969) quando escreveu sua principal obra, Pedagogia do oprimido. As ideias que aí 
defendia tiveram grande ressonância porque elas correspondiam à expectativa de muita 
gente. Muitos se sentiram tocados por elas. Pedagogia do oprimido teve grande repercussão 
porque expressava o que muita gente já tinha em mente em seus sonhos e utopias, um 
mundo de iguais e diferentes, com justiça social, amorosidade, solidariedade, “um mundo 
em que seja menos difícil amar”, como afirma ele no final daquele livro. 
Paulo Freire escreve para educadores e não-educadores, médicos, cientistas sociais, 
físicos, estudantes, pais e mães, operários, camponeses e outros. Pessoas muito diferentes 
se encontraram nesse livro, identificaram-se com o seu ponto de vista. O livro ressoou 
nos mais diversos ambientes, seja na academia, seja na sociedade. Sindicatos, igrejas, 
movimentos sociais e populares foram responsáveis por uma grande difusão e debate de 
suas ideias, servindo de guia para a ação transformadora. Alfabetizadores, intelectuais, 
indígenas, camponeses, militantes políticos, universitários, políticos, trabalhadores sociais 
e outros utilizaram-se de suas teses para defender seus próprios pontos de vista. 
A obra de Paulo Freire tem sido reconhecida mundialmente como uma contribuição 
original e destacada da América Latina ao pensamento pedagógico universal. Não se 
pode dizer que seu pensamento responda apenas à questão da educação de adultos 
ou à problemática do chamado “Terceiro Mundo”. Ele dialoga com outras realidades e, 
assim, elabora uma teoria complexa. Sua obra teórica tem servido como fundamento de 
trabalhos acadêmicos e inspirado práticas em diversas partes do mundo. A crescente 
publicação das obras de Paulo Freire em dezenas de idiomas e a ampliação de fóruns, 
cátedras e centros de pesquisa criados para pesquisar e debater o legado freiriano, bem 
como o número de trabalhos escritos sobre ele, são indicações da grande vitalidade do 
seu pensamento. Tal projeção confere ao conjunto de suas produções o caráter de uma 
obra universal (GADOTTI, 2017).
Mais do que um método de ensino, Paulo Freire construiu uma filosofia educacional. 
É certo que, inicialmente, ficou mais conhecido por seu método de ensino e de pesquisa, 
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mas que é também um método de conhecimento e de aprendizagem, ancorado numa 
antropologia, numa teoria do conhecimento, imprescindível, até hoje, na formação do 
educador. Mas ele não ficou nisso. Seu labor intelectual foi muito além de uma metodologia 
(FEITOSA, 2011). Ele foi um dos grandes idealizadores do paradigma da Educação 
Popular. São conhecidas as suas teses que contribuíram para com o avanço na teoria e 
naspráticas da Educação Popular, entre outras: teorizar a prática para transformá-la; o 
reconhecimento da legitimidade do saber popular; a harmonização entre o formal e não-
formal. Essas inspiradoras contribuições de Paulo Freire à Educação Popular continuam 
muito atuais, constantemente reinventadas por novas práticas sociais e educativas. 
Muitas experiências de Educação Popular e de adultos inspiram-se e continuam 
inspirando-se em suas ideias pedagógicas. 
Em entrevista à Revista Veja de São Paulo e publicada 19 de abril de 2000, Thomas 
Skidmore, conhecido “brasilianista”, afirmou que o Brasil estava no rumo errado, tentando 
copiar modelos do exterior, quando deveria buscar seus próprios caminhos e citou Paulo 
Freire como um exemplo de elaboração de uma pedagogia própria, uma solução apropriada 
aos problemas brasileiros: “o Brasil, disse ele, age como se não houvesse mais possibilidade 
de descobrir novos caminhos. O país produziu o método Paulo Freire de alfabetização, que 
foi testado e se tornou famoso no mundo. Ele foi deixado de lado e, em vez de usar a cultura 
popular para melhorar o ensino, como propunha Paulo Freire, recorre-se às fórmulas 
estrangeiras, que nem sempre ajudam”. 
Um ano antes, Alvin Toffler, “futurólogo” norte-americano, convidado pelo Ministério 
da Educação para falar sobre educação e novas metodologias na era da informação, 
apresentou o “Método Paulo Freire” para os convidados do Ministério, afirmando que era 
o mais apropriado para o ensino da informática. Disse que há 40 anos Paulo Freire havia 
criado uma metodologia que hoje os jovens utilizam, espontaneamente, numa espécie de 
“círculo de cultura”, para ensinar uns aos outros o que aprenderam no uso do computador. 
Em poucos dias, eles acabam tornando-se “professores” de informática, o que demonstra a 
eficácia do método global de Paulo Freire.
Não há dúvida de que Paulo Freire deu uma grande contribuição à educação para a 
justiça social e à concepção dialética da educação. A pedagogia autoritária e seus teóricos 
combatem suas ideias justamente por seu caráter emancipatório e dialético. Seja como for, 
aceitemos ou não as suas contribuições pedagógicas, ele constitui um marco decisivo na 
história do pensamento pedagógico mundial. 
Como parte de seu pós-doutorado na Universidade Estadual do Estado de São Paulo 
(UNESP-Marília), o argentino Roberto Elisalde frequentou o Centro de Referência Paulo 
Freire, em 2011, onde buscou inspiração para uma exitosa experiência conhecida como 
“Bachilleratos Populares”. Ele assinala que “um dos aspectos que diferenciam a gestão 
de Paulo Freire frente à SME-SP é a relação entre políticas públicas, poder popular e 
movimentos sociais. A existência de uma práxis educativa assumida pelo movimento social, 
urbano e rural, e inclusive prévia à gestão freiriana, nos permitiu analisar o protagonismo 
autogestionário do movimento social, em relação à ‘tomar a educação em suas mãos’, e, ao 
mesmo tempo, exigindo do Estado neoliberal dos anos 80 que assuma a responsabilidade 
de garantir o funcionamento do sistema educativo” (ELISALDE, 2015: 126). 
As ideias de Paulo Freire continuam válidas não só porque precisamos ainda de mais 
democracia, mais cidadania e de mais justiça social, mas, porque a escola e os sistemas 
educacionais encontram-se, hoje, frente a novos e grandes desafios diante da generalização 
da informação e do uso intensivo de novas tecnologias na sociedade. Paulo Freire tem muito 
a contribuir para a reinvenção da educação atual.
Para enfrentar esses novos desafios, a escola, e demais instituições educativas, nesse 
novo contexto, precisam tornar-se um organismo vivo e “organizador” (DOWBOR, 1998) dos 
múltiplos espaços de formação, precisa tornar-se um “círculo de cultura”, como dizia Paulo 
Freire, muito mais gestoras sociais do conhecimento do que lecionadoras. 
E, para isso, Paulo Freire tem muito a contribuir, pois, em toda a sua obra, ele insistiu 
nas metodologias, em como conhecemos e produzimos conhecimentos, insistiu nas formas 
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de aprender e ensinar, nos métodos de ensino e pesquisa, nas relações pessoais, enfim, no 
diálogo, necessário para aprender e ensinar com sentido. 
Em momentos de crise de paradigmas o recurso às fontes, aos clássicos, torna-
se inevitável. A busca de fundamentos e de referenciais é um imperativo, não por obra 
voluntarista, mas por necessidade histórica. E isso já está acontecendo, no caso da educação, 
com o aumento do interesse na leitura crítica de Paulo Freire e de debates em torno da sua 
obra que serve de referência frente ao ressurgimento ou surgimento e proliferação, em nível 
teórico e prático, de pedagogias “bancárias” e colonizadoras. 
O ressurgimento do debate que questiona os modelos hegemônicos de educação não 
se limita às Américas. Ele está presente em todos os continentes, buscando alternativas ao 
pensamento e a práxis hegemônica, unificadora e uniformizadora da educação promovida 
principalmente pelas agências intergovernamentais. 
Hoje, esses diferentes movimentos pedagógicos críticos buscam cada vez mais se 
reencontrar, na fonte comum, revisitando Freire e reinventando a educação do nosso tempo. 
É nesse contexto que a produção teórica se encontra com as práticas político-pedagógicas 
e os movimentos sociais de resistência e luta de inspiração freiriana. 
3. Um convite aos leitores e leitoras
Não é verdade que Paulo Freire esteja sendo esquecido e ignorado hoje. Ao contrário, 
ele é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas. O 
levantamento foi feito através do Google Scholar, ferramenta de pesquisa para literatura 
acadêmica, por Elliot Green, professor associado da London School of Economics. Uma 
consulta da CAPES revelou que, entre 1987 e 2010, 1441 pesquisas tiveram como referência 
o educador Paulo Freire, 75% na área das Ciências Humanas, 19% nas biológicas e 6% nas 
exatas. “Esses números, que têm crescido a cada ano, e a diversidade de áreas, mostram 
como é fértil a reflexão de Paulo”, apontam Ana Maria Saul e Antonio Fernando Gouvêa Silva 
(SAUL & SILVA, 2011). 
A atualidade do pensamento de Paulo Freire vem sendo atestada pela multiplicidade 
de experiências que se desenvolvem tomando o seu pensamento como referência, em 
diferentes áreas do conhecimento ao redor do mundo.
Neste livro, buscamos mostrar essa atualidade e como Paulo Freire está sendo 
redescoberto e reinventado nessas experiências, partindo da trajetória do Instituto que 
leva o seu nome. A reinvenção da educação atual passa pela redescoberta de Freire. E, é 
claro, não só dele. O desafio é enorme. Sabemos o quanto é difícil pensar o futuro numa 
era de tantas incertezas. 
Vários autores chamaram a atenção, nesses últimos anos, sobre essa relação entre 
a necessidade de reinventar a educação a partir da redescoberta de Freire. Entre eles 
destacamos Vera Maria Candau (2006) e Muniz Sodré (2012). 
Os sistemas educacionais no mundo se estiolaram com sua ânsia de controle, criando 
toda sorte de mecanismos de avaliação que embotam a capacidade crítica dos educadores 
e educadoras de criar e desempenhar com dignidade sua profissão. A reinvenção da 
educação passa pela recuperação dos educadores como agentes e sujeitos do processo 
de ensino-aprendizagem e da prática educativa; passa pela “educação como prática da 
liberdade”, como sustentava Freire. 
Essa burocratização dos sistemas de ensino já havia sido denunciada por Ivan Illich 
nos anos de 1970 do século passado. O resultado está estampado hoje na ineficiência dos 
sistemas, no dispêndio de energias e recursos, materiais e humanos, na manutenção de 
uma concepção/realização de uma visão “bancária” (Freire) da educação. 
Martin Carnoy, como estudioso da educação comparada e das políticas educacionais, 
há anos vem acompanhando a evolução do ensino na América Latina, com um olhar 
muito atento aos dados empíricos. Em seu livro em parceria com Amber K. Gove e Jeffery 
H. Marshall,A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola 
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ele mostra que não existe antagonismo entre a necessária padronização nacional da 
Educação Básica (Base Nacional Comum) e a autonomia dos sistemas municipais e 
estaduais de educação e da própria escola, superando a velha dicotomia centralização-
descentralização. Mas o resultado só é positivo (qualidade da educação) se houver 
um forte “regime de colaboração” (homogeneidade), a “responsabilidade pública” do 
Estado, e adequada formação e motivação dos trabalhadores em educação: “o caminho 
para uma melhor educação nas sociedades democráticas não precisa ser uma volta ao 
autoritarismo” (CARNOY, GOVE & MARSHALL, 2009: 210). 
A reinvenção da educação só pode ser obra de um esforço coletivo, colaborativo, plural, 
não sectário, pensando numa transição gradual para outras formas de conceber os sistemas 
educacionais, seu planejamento, sua gestão e monitoramento, se quisermos dar uma 
contribuição significativa para a construção de novas políticas públicas de educação. Essa 
mudança de paradigma deve nascer “da fala dos educadores que estão na ponta do ensino” 
(CANDAU, 2006) e não apenas de um grupo de especialistas. Os educadores precisam ser 
seus principais protagonistas.
A mudança precisa partir do vivido, do experimentado, do que está em processo, da 
“reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 1996: 43). É isso que estamos relatando nos 
pequenos ensaios e testemunhos que compõem este livro. 
A reinvenção da educação passa pelo reconhecimento da necessidade de cada um 
“dizer a sua palavra” (Freire), olhando “a cada pessoa em sua mais profunda dignidade e 
singularidade”, como sujeito da sua própria educação, superando a “homogeneização e o 
silenciamento das diferenças” (CANDAU, 2006). Reinventar a escola e a universidade supõe 
recriar a qualidade da educação, construir uma “nova qualidade” como propôs Paulo Freire 
ao assumir o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo em 1989. Para isso, ele 
repensou o financiamento e a gestão da educação municipal e envolveu toda a comunidade 
escolar na sua avaliação, afirmando que essa nova qualidade só seria construída por meio 
do diálogo, da socialização de experiências e da construção coletiva. 
Muniz Sodré (2012) nos lembra que a palavra chave da reinvenção da educação 
é “emancipação”, a emancipação intelectual que se entende como “conscientização”, 
conceito-chave freiriano da constituição do sujeito. Ele lembra que “o princípio geral é o da 
igualdade das inteligências contra um fundo de diversidade das vontades, em contraposição 
à ideologia que fazendo da individualidade a lei do mundo, sustenta que as inteligências são 
tão desiguais quanto cada indivíduo humano é de seu próximo” (SODRÉ, 2012: 150).
E não se espere que a nova qualidade da educação surja apenas como fruto do uso das 
novas tecnologias ou de uma disfarçada “sociedade do conhecimento”. Na verdade, mais 
do que numa sociedade do conhecimento, vivemos numa sociedade do desconhecimento, 
da manipulação da palavra, da massificação, portanto, da colonização de corações 
e mentes. Repete-se ingenuamente mais a palavra do outro do que se conquista a sua 
própria palavra. A educação tem contribuído mais para repetir o já dito, o já feito, o já 
realizado, do que com a criação do novo. Ela não tem sido crítica e criativa, nem reflexiva. 
Daí a sua ineficiência para se tornar um instrumento de humanização. Como sustenta 
Muniz Sodré, a expressão sociedade do conhecimento “tornou-se recorrente no discurso 
publicitário das grandes empresas de tecnologia da informação e da comunicação, porém 
se revela mais um slogan do que um conceito, na medida em que reduz a diversidade dos 
modos de conhecer ao modelo maquínico” (SODRÉ, 2012: 31) das novas tecnologias. É 
verdade, o conhecimento se expandiu com as TICs, mas não quer dizer que melhorou a sua 
qualidade. Vivemos ainda um mundo de ignorância: “a pedagogia de Paulo Freire comporta 
ou acolhe a tecnologia, mas, por seu compromisso visceral com a emancipação social, 
não é desencarnada, isto é, não está acima das condições sócio-históricas de produção e 
transmissão do conhecimento” (SODRÉ, 2012: 160). 
A educação não pode restringir-se apenas a treinamento, a assimilação de saberes 
e competências úteis para disputar um emprego. Educar pessoas e educar-se é buscar 
sentir a beleza do bem viver consigo mesmo, com os outros e com a natureza. A vida, 
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para ser plena, precisa ser vivida na plenitude do saber, do ser, do sentir. Precisamos nos 
formar para a sensibilidade, para a emoção e a imaginação, para além da ciência e do 
conhecimento. 
Ao apresentarmos essa obra buscamos articular desejos, ideias e iniciativas que 
possam agregar pessoas, instituições e empresas, públicas e privadas, organizações 
e organismos nacionais e internacionais em torno de um propósito comum: chamar a 
atenção para a necessidade de repensar os fundamentos da educação atual e de seus 
complexos sistemas que tem ocultado por trás de tantas normas e regulamentos o 
essencial: os fins da educação. Os meios não podem obscurecer nosso olhar, nossos fins. 
Não podemos esquecer a questão da educação ocultando-a atrás de um emaranhado de 
pequenos regulamentos e avaliações globais. 
O convite que fazemos é para redescobrir Freire e reinventar a educação.
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GADOTTI, Moacir, 2002. Pedagogía de la Tierra. México: Siglo XXI.
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GADOTTI, Moacir, 2009. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Instituto Paulo Freire.
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2011 EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO DE PAULO FREIRE. http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum 
SODRÉ, Muniz, 2012. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis: Vozes.
TORRES, Carlos Alberto e Pedro Noguera, orgs. 2008. Social Justice Education for Teachers: Paulo Freire and the 
Possible Dream. Rotterdam and Taipei: Sense Publischers
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ATUALIDADE 
DE FREIRE
Primeira Parte
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Há uma recusa em referir-se ao professor Paulo Freire no passado. Sempre, quando o 
mencionamos, tropeçamos ao utilizar os verbos no passado, o que denota exatamente a 
nossa convicção em relação ao amanhã e a um dia como hoje: a impossibilidade de deixar a 
obra, o trabalho, a vida, a amorosidade de Paulo Freire num tempo verbal que já foi. Por isso, 
cada vez mais se pensa na ausência/presença de Paulo Freire. 
Não é por acaso que uma parte das pessoas utilize várias vezes a expressão “memória 
de Paulo Freire”. Falar sobre ele é uma forma expressiva de comemoração, isto é, de 
memorar junto. De trazer a memória de novo. Cuidado, muitas vezes se utiliza a noção de 
memória ou de comemorar apenas e tão-somente no sentido de festejar. Não é verdade, há 
muitas maneiras de comemoração. Não se deve, obviamente, identificar comemorar com 
festejar. Uma das formas de comemoração é a comemoração festiva. Há comemorações 
que não são festivas como, por exemplo, algumas cerimônias em relação a atos de violência 
ou agressividade numa sociedade. Ou em relação à morte de alguém também se faz a 
comemoração. No entanto, um dia como hoje é, para nós, um dia de comemoração festiva. 
Afinal de contas, a nossa ideia de saudade é uma saudade que se encarna na nossa 
prática, no nosso desejo, na nossa capacidade amorosa. Como deve ser recuperado, é 
uma saudade que se apresenta. Esse apresentar-se da saudade não é uma mera figura 
simbólica. Ao contrário, comemorar é, antes de mais nada, celebrar. Por isso é também 
uma celebração, algo que se deseja que fique célebre, que fique na nossa história, que 
nós consigamos fazer, sim, desse dia não só uma homenagem, mas, um reavivamento, 
uma revitalização das nossas convicções, das nossas crenças, dos nossos compromissos 
políticos e, em última instância, da nossa atividade pedagógica como sendo uma atividade 
existencial. Por isso, é celebração. 
Se é comemoração e é celebração, hoje é também um dia de confraternização, Aliás, 
um dos nomes que se utiliza para uma celebração, uma comemoração, é exatamente 
esse: confraternizar. Por mais que essa palavra eventualmente carregue hoje um sentido 
até cínico, mas confraternizar é ficar com os fraternos. É ficar com os irmãos e irmãs. A 
palavra irmão, hoje, ganha às vezes uma conotação cínica: “E aí meu irmão?”, “E aí, bro’”. 
Como se fosse apenas uma saudação, a noção do mano, em espanhol, que se usa também 
em português. Vez ou outra, essa ideia fica um pouco fluida. Mas a palavra “irmão” e “irmã” 
tem um sentido muito mais forte porque todo o trabalho, toda a obra prática e teórica de 
Paulo Freire é uma obra de confraternização. 
Ele trabalha fortemente na história a ideia de fraternidade humana. Afinal de contas, 
ao falar de oprimido, desejava que não existisse oprimido, para que nenhum homem ou 
mulher se colocasse num patamar inferior ao outro, dado que a noção de irmão e de irmã 
pressupõe uma igualdade de dignidade e de existência. Quando Paulo Freire fala em 
liberdade, ele está preocupado o tempo todo em que a gente tenha a fraternidade como o 
nosso modo de convivência. 
Talvez a prova mais contundente da vitalidade de Paulo Freire seja o fato de que os 
homens e as mulheres nos reunimos e dizemos não à ausência dele. O modo de dizermos 
não à ausência dele é a nossa presença 
Em maio de 2007, quando se passaram 10 anos da morte do corpo dele, alguém me 
perguntava: “Qual é a sua posição sobre os 10 anos sem Paulo Freire?” E eu dizia o óbvio: 
não há e não haverá ano algum sem Paulo Freire na medida em que a obra, a atividade, o 
trabalho, o resultado, a impregnação do dia-a-dia que ele produziu está conosco. 
É claro que, quando olhamos a palavra “memória”, ela muitas vezes nos remete para 
algo que já foi, mas não quando se mantém essa vitalidade dentro da obra. Paulo Freire 
imaginaria, cada vez com mais força, que a presença dele se dá porque nós todos e todas 
continuamos e não desistimos. 
1. PAULO FREIRE: UTOPIAS 
E ESPERANÇAS
Mario Sergio Cortella
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Muitos (ainda bem) recusam-se a supor que seja possível em algum momento referir-
se a Paulo Freire apenas como um passado. Ao contrário, a projeção que se faz é de um 
Paulo Freire presente, com essa presença talvez colocada na nossa própria presença, 
como obra coletiva.
Dentro da nossa sociedade há uma palavra de que eu gosto demais, que se usa muito 
mais na área da periferia social e econômica do que nas outras áreas da cidade. É uma 
palavra forte no dia-a-dia da periferia, que é quando as pessoas se juntam para construir 
uma obra. É muito comum, o pessoal se juntar no sabadão – com um churrasco, cerveja 
– para levantar uma laje. Essa laje é levantada por todo mundo junto. Esse levantar da 
laje junto termina sempre com festa. O que, aliás, é um princípio religioso. Leonardo Boff 
costuma dizer que é uma forma religiosa a festa, Jesus queria a festa. Foi por isso que Ele 
transformou a água em vinho, e não o contrário. Essa é uma fala clássica do Leonardo Boff. 
Esta ideia da festa, de juntar-se, de comemorar depois de se levantar uma laje, ela ganha 
um nome na área periférica que é “bater laje”. Parece ate uma coisa francesa, um ar mais 
sofisticado: “Aonde você foi? Fui a uma ‘batelaje’”. Mais ou menos como ir a um vernissage. A 
burguesia vai ao vernissage e o povão vai à “batelaje”...
E nessa “batelaje” se dá um nome que eu acho muito gostoso: mutirão. A palavra 
“mutirão” tem origem no idioma tupi. A nação tupi usava a palavra “mutirão” para o trabalho 
que é feito junto. E a expressão em tupi vem da junção de duas ideias: a noção de tiron, que 
significa “junto” e po, que é “mão”. Por isso, a noção de potiron é a noção de mãos juntas. E 
daí que vem para nós a noção de mutirão. Paulo Freire é o grande inspirador deste mutirão. 
Homens e mulheres que se juntam no dia-a-dia e na história para construir uma outra 
realidade. Para fazer o inédito viável. 
No dia 03 de maio de 2007 foi inaugurada, dentro do campus da Universidade Católica 
de Brasília (UCB), uma esquina, com placa e tudo, chamada Inédito Viável, em homenagem 
a Paulo Freire. Para que as pessoas dali pudessem sentar-se nos banquinhos na esquina 
e pensar o futuro. Porque a noção de esquina é muito forte para nós. Paulo Freire usava 
muito essa expressão da esquina, ele gostava muito de falar da esquina da briga. Aliás, 
ele dizia que há uma briga na vida que vale a pena ser brigada: a briga pela dignidade 
coletiva. E dizia ele: “Cada um de nós briga numa esquina”. Lembra daquela história da 
briga da esquina? “Te pego lá na esquina, te espero na esquina”? Ele dizia cada um de nós 
briga numa esquina. Você briga na esquina da escola pública, o outro briga no núcleo de 
trabalhos comunitários, o outro briga na universidade, a outra briga na escola privada, o 
outro brigana ONG, o outro briga num teatro. Paulo Freire dizia: “Na vida, você pode até 
mudar de esquina, o que você não pode mudar é de briga”. E essa briga é, evidentemente, a 
briga pela dignidade coletiva. Por isso que na UCB há uma esquina com plaquinha em que 
está escrito: “Esquina Inédito Viável”. 
Qual é o inédito viável? Sem ser excessivamente piegas nisso, juntando as mãos, sejamos 
capazes de colocar a possibilidade de construir essa obra, o futuro, que ofereça dignidade 
coletiva, amorosidade partilhada e, ao mesmo tempo, esperança. 
Esse foco no “inédito viável”, aquilo que ainda não é, mas pode e deve ser, na visão 
freiriana tem como única possibilidade o potiron. 
No entanto, há um elemento que ele não expressava, e que penso que cabe refletir: 
a presença do feminino como atitude ética, pois o feminino (que não é exclusividade das 
mulheres) é a incapacidade de desistir. Em outras palavras, o feminino, como a maximização 
do cuidado e da proteção, origem na nossa biologia evolutiva de uma característica que a 
fêmea humana nos primórdios portava mais que os machos: cuidava da cria, vigiava contra 
os predadores e colhia coisas da natureza. 
Nós, homens, formados como caçadores (tá lá o bicho, vai atrás do bicho, pega o bicho e 
traz o bicho), homens, somos mais “práticos”. E nem sempre o prático é certo, muitas vezes 
o prático é só o prático. 
É mais prático dar escola para as crianças em vez de fazer a educação de jovens e adultos. 
Neste país, já se propôs várias vezes que se deixassem os adultos sem alfabetização porque 
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a natureza ia resolver o problema e você alfabetiza as crianças. É mais prático, mas nem 
sempre o prático é o certo. É mais prático fazer com que as pessoas continuem no modo de 
vida como estão, quem sabe, menos conscientes de sua própria realidade. “Para que, além 
de alfabetizar alguém, dar a ele consciência?”, “Para quê? Para ele passar a sofrer?”, “Para 
ele, além de sofrer, saber por que sofre?”. É mais prático, mas não necessariamente é certo. 
E uma das coisas que Paulo Freire sempre fez foi recusar aquilo que era apenas prático, 
sem necessariamente ser certo. Razão pela qual, desse ponto de vista, o feminino nele veio 
à tona. Paulo Freire era um homem extremamente feminino, tal como Mahatma Ghandi, 
Nelson Mandela, Chico Xavier, Florestan Fernandes.
Esse feminino não tem, evidentemente, conotação sexual, e sim de atitude persistente e 
amorosa, incapaz de abandonar o que merece vitalidade.
Eu tenho um exemplo pessoal. Na minha casa, éramos originalmente cinco pessoas: três 
homens e duas mulheres. Janete, com quem fui casado, eu e mais três filhos, André, Ana 
Carolina e Pedro. A Carol quando tinha 15 anos trabalhou num pet shop em São Paulo. Isso 
faz 13 anos, e era moda nos pet shops, além dos animais usuais, ter bichos mais exóticos: 
lagarto, cobra, essas coisas. E um dia, uma quarta-feira, ela chegou em casa na hora do 
almoço e falou: 
– Pai, a coelha que está lá, está prenha. Ela vai ter coelhinhos.
– Ah, que legal. 
No outro dia, quinta-feira, ela chegou e falou:
– Pai, a coelha teve 15 coelhinhos. 
– Que bom. 
– Só que aconteceu uma coisa estranha. Ela recusou os coelhinhos, ela não está 
amamentando. 
Quem é do interior, como eu, na hora já entendeu. Falei assim:
– Alguém mexeu no ninho?
– É, a gente até ajudou, a gente limpou o ninho para ela. 
Claro, boa vontade. Por isso, cuidado. Paulo Freire nos ensinou que não basta amorosidade, 
tem de ser uma amorosidade competente. Porque a amorosidade que não é competente é 
mera boa intenção e, muitas vezes, o desastre é grande. Não basta ter amorosidade. Não 
basta gostar, tem de gostar sabendo fazer. Isto é, tem de dar competência à amorosidade. 
Não basta falar numa pedagogia do amor que não carregue a competência e a formação. 
Porque, do contrário, ela fica apenas no plano das intenções. Para isso, o amor, insisto, é 
necessário, mas ele não basta. Tem de ser um amor que carregue competência. E toda a 
amorosidade da Carol naquele momento não foi suficiente. Faltava a ela uma informação 
competente. Eu falei:
– Olha, filha, vai acontecer o seguinte: há vários animais, entre eles coelhos, que, quando 
têm coelhinhos, se alguém mexer no ninho, eles matam ou rejeitam. Então, eles vão morrer. 
E aí os outros dois homens em casa falaram:
– É, eles vão morrer.
E as duas mulheres disseram juntas:
– Não vão. 
Nós, os machos, falamos:
– Eles vão morrer, é óbvio que vão. 
Elas disseram:
– Não vão. 
O meu filho Pedro ainda falou uma coisa prática, de homem:
– Olha, já que vão morrer, aproveita e dá eles pros lagartos. Que, aliás, é o que eles 
comem mesmo. 
É uma coisa prática. Mulheres não pensariam nisso. Mas nós, homens, pensamos: “Já 
que vão morrer mesmo, aproveita e dá para os lagartos”. 
Elas falaram:
– Não vão. 
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Nós falamos:
– Vão. 
O que elas fizeram? Trouxeram os 15 coelhinhos para casa. Pegaram caixas grandes, 
alugaram aquelas tomadas com pedra aquecida, tomaram emprestadas aquelas bolsas de 
água quente e ficaram três dias e três noites amamentando aqueles coelhos. Três dias e 
três noites com seringa de injeção e leite. Quando elas estavam amamentando o terceiro, 
o primeiro já queria mamar de novo, porque a coelha tem uma estrutura, um “hardware” 
equipado para fazer os 15 ao mesmo tempo. Três dias e três noites, a Janete pediu licença 
do trabalho, a Carol parou de ir a escola e ficaram amamentando aqueles coelhos. A gente 
só passava pelo quarto de vez em quando, olhava para dentro e falava: “Vão morrer”. 
Três dias e três noites e morreram os 15. 
Quando conto isso, ouço muito, em soprano ou contralto, a expressão de lamento 
“aaahhh”, sempre pelas mulheres. Sabe por quê? Porque nós, homens, sabíamos que iam 
morrer. Nós somos práticos. E quando os 15 morreram, o que nós, homens, falamos:
– Estão vendo, nós não tínhamos avisado? 
E as duas falaram:
– A gente não podia deixar. A gente não podia não tentar. 
O feminino é a incapacidade de desistir, o feminino é a incapacidade de achar que as 
coisas são como são e não há outro modo de elas serem. O feminino é a impossibilidade de 
admitir que as coisas não tenham alternativa. 
Afinal de contas, qual é a primeira palavra que um ser humano é capaz de dizer e de 
entender? “Não”. Você vai com a mamadeira e ele diz: “Não”. Você põe na boca, ele cospe. 
Você quer levar a criança e ela não quer ir, ela solta o peso do corpo e você vai ter de 
arrastar. Porque ser humano é ser capaz de dizer “não”. Ser humano é ser capaz de recusar 
o que parece não ter alternativa, ser humano é ser capaz de dizer “não” ao que parece 
não ter saída. E só quem pode dizer “não” pode dizer “sim”. Há pessoas que dizem: “Ah, eu 
queria ser livre como um pássaro”. Pássaros não são livres, pássaros não podem não voar, 
pássaros não escolhem se vão voar ou não, nem para onde vão. Se quiser ser livre, tem de 
ser livre como um humano. 
E isso, um dia, Paulo Freire quando escreveu Educação como prática da liberdade, estava 
pensando na nossa humanidade. O que nos caracteriza é a possibilidade da recusa ao óbvio, 
a recusa àquilo que parece fatal. E, deste ponto de vista, quando lembramos de Paulo Freire 
hoje, estamos lembrando desta ideia da incapacidade de desistir. Aliás, isso é tão marcante 
no nosso cotidiano, que o mês de maio, a noção de parto, de lidar com o cuidado e com 
a proteção é absolutamente presente nesta nossa relação. Se você olhar, domingo agora, 
numa penitenciária dessas que temos em São Paulo, está lá um sujeito há 20 anos, que 
cometeu latrocínio, e eu quero que fique lá todo o tempo que a lei permitir. Os amigos não 
vão mais visitá-lo, os filhos não vão faz cinco anos, a ex-mulher não aparece, às vezes quem 
está lá de manhã, na fila de domingo? A mãe. Porque quem ama não desiste. Quando você 
começa a desistir de algo, está começando a deixar de amar. E se há uma coisa que Paulo 
Freire não fez foi ter desistido. Porque a noção de não-desistênciaé uma noção amorosa. 
E quando ele levantava a ideia de uma briga que vale a pena ser brigada, essa briga é pela 
não-desistência do futuro onde há dignidade coletiva, onde há possibilidade de felicidade, 
onde há possibilidade de liberdade a ser partilhada. É por isso que fazemos mutirão, é por 
isso que nos juntamos. 
Paulo Freire era uma pessoa absolutamente humilde, jamais subserviente. Há uma 
diferença entre humildade e subserviência. Uma pessoa subserviente é aquela que se 
dobra a qualquer coisa. Paulo Freire era humilde. Ele sabia que não era o único que sabia. 
Ele sabia que não sabia do único modo que se pode saber. Ele sabia que o que ele sabia não 
era a única coisa a ser sabida. Por isso, que, na concepção de Paulo Freire, o diálogo não 
é um método, é um princípio ético. A relação dialógica na obra prática e teórica de Paulo 
Freire não é uma questão de método, é uma questão de princípio ético. É o diálogo como 
capacidade de respeito ao outro e o outro como fonte de vida, fonte de conhecimento, fonte 
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de amorosidade. Vez ou outra, em algumas realidades, até se pega o trabalho de Freire e se 
puxa só a questão do método como diálogo. Aliás, se fala do diálogo freiriano, vez ou outra 
inclusive, comparando o diálogo freiriano com o diálogo socrático. 
É claro que Sócrates é uma personagem fundamental na história do pensamento 
ocidental e da humanidade. Mas não se pode comparar o pensamento socrático no que se 
refere ao diálogo com o pensamento de Freire. Porque o diálogo freiriano não é a mesma coisa 
que o diálogo socrático. O diálogo socrático tem um ponto de partida: a de que o mestre já 
sabe e o discípulo é mero discípulo. Portanto, ele é um néscio, que ainda não sabe. E saberá 
quando o mestre com ele falar. O diálogo freiriano parte de outra perspectiva, de que ambos 
sabem e de que, no diálogo, há uma permuta, uma repartição desse conhecimento, que tem 
fonte recíproca. 
Por isso, há uma diversidade no que se refere a esse pólo. Porque tirar de Paulo Freire 
apenas a dimensão dialógica e inseri-la apenas numa percepção de método de educação, 
como se fosse uma técnica de trabalho pedagógico, é restringir uma convicção ética forte. A 
noção de diálogo em Paulo Freire é parte da essência do mutirão. Isto é, as mãos juntas são 
fortes porque são juntas, não porque são mãos. E a “juntidade”, para usar uma expressão 
que ele usaria, dessas mãos é que dá a elas força. 
Desse ponto de vista, nossa ideia de não conseguir com muita tranquilidade dizer 
“Paulo Freire fez”, “Paulo Freire estava”, “Paulo Freire foi”, isto é, colocá-lo no passado, tem 
evidentemente a ver com a nossa incapacidade de achar que as ideias que ele fermentou, 
que ele disseminou, que ele semeou, que elas tenham já passado. 
É necessário ter muita cautela e educação, porque educação é um território fácil para 
novidades. É preciso não confundir novo com novidade. Novidade é aquilo que vem, é 
passageiro, se coloca por um tempo, mas tem um nível de volatilidade muito grande e depois 
se vai. Educação tem muita novidade, que é algo da moda, algo episódico. Muito diferente 
disso, é aquilo que na história humana é novo. A diferença entre novo e novidade é que o 
novo vem, se instala, muda e permanece. O novo permanece porque ele mantém vitalidade. 
A novidade passa logo. O pensamento de Paulo Freire é novo, a música de Mozart é nova, a 
obra de Platão é nova, Catulo da Paixão Cearense é novo. Por quê? Porque o seu trabalho 
não perdeu vitalidade, não perdeu a irrigação, não perdeu a conexão com a vida e com o 
sangue que a vida partilha e emana. Desse ponto de vista, o pensamento de Paulo Freire é 
absolutamente atual, no sentido de guardar a sua forma de ser novo. Ele não é novidade. A 
novidade é passageira, é fluida, ela escorre. Ele permanece. 
Eu tenho insistido em algumas conversas, as pessoas têm dialogado em torno disso, 
que nós precisamos também uma outra reflexão quando se pensa em Paulo Freire. 
Muita gente lê Paulo Freire no original, isto é, vai ler a Pedagogia do oprimido, a Educação 
como prática da liberdade, a Pedagogia da autonomia, a Pedagogia da esperança e diz: 
“Engraçado, isso é claro. É claro que é assim.” E acha Paulo Freire meio óbvio. Cuidado. É 
claro que nós achamos Paulo Freire meio óbvio quando a gente vai lê-lo. Afinal de contas, 
aquilo que a gente lê ali e que leu em outros lugares é aquilo que ele escreveu há 50 anos. 
E por ter escrito há 40 anos e ter disseminado por tantos lugares, nós já lemos isso em 
tantos autores, em tantos debates, em tantas lógicas que, quando você vai ao original, fala 
“mas eu sabia disso”. Sim, sabia, foi ele mesmo quem disse. 
Por que estou insistindo nesse ponto? Porque, vez ou outra, algumas pessoas dizem: 
“Esse pensamento não tem mais atualidade, porque muitos e muitos já escreveram sobre 
isso”. Escreveram a partir dele, em função dele e referenciados exatamente naquela obra. 
Por isso, quando Paulo Freire produz algo que é novo, ele guarda algo que é típico dos 
clássicos. Claro que Paulo Freire é um clássico, no sentido de que ele não tem perda de 
irrigação de sua atualidade. A atualidade do pensamento freiriano o mantém como um 
clássico. Clássico é aquilo que não deixou de ter atualidade. É interessante porque a palavra 
“atual” não significa apenas moderno, ela também significa, vindo do latim para o inglês, 
“verdadeiro”. Tanto que no inglês se usa o actually, no sentido de “verdadeiramente”, de 
“verazmente”. Paulo Freire se sustenta não só em nós, mas em sua própria obra. Porque, vez 
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ou outra, temos uma tendência de dizer que Paulo Freire continua vivo no que nós fazemos. 
Mas ele continua vivo também nas obras que escreveu há 40 anos, há 35 anos, há 20 anos. 
Porque essas obras estão vivas. O manuscrito de Pedagogia do oprimido fará 40 anos agora 
neste ano. Será que é uma obra que perdeu atualidade? Ao contrário. E não estou dizendo 
isso apenas como louvor, porque se o fosse, Paulo Freire, humilde que era, diria: “Calma”. 
Mas eu estou dizendo isso como reconhecimento de algo que é absolutamente concreto. 
Nesta direção, o pensamento freiriano é novo, não é novidade. Ele é um clássico, sem ter 
se emoldurado num processo de engessamento. O pensamento de Freire continua animado. 
Paulo Freire nos anima. Quero lembrar as pessoas, se um dia virem isso mais de perto, que 
a palavra “animar” significa “encher de alma”, de “anima”, de “vida”. Animar é inspirar. Paulo 
Freire tem um pensamento altamente inspirador.
Há autores, pensadores, que não são necessariamente inspiradores. Uma parte deles 
é expiradora, ou seja, tira o fôlego. Não vou nem mencionar alguns, mas há de se imaginar 
aquele autor que, ao se aproximar dele, você antes de começar a leitura faz: ahnnn. Paulo 
Freire inspira. Paulo Freire foi Secretário de Educação do Município de São Paulo (1989/1991), 
eu fui secretário adjunto dele. Ele era meu chefe, aliás, era chefe de vários. Paulo Freire não 
era só um chefe, era um líder. Não se confunda líder com chefe. Liderança não tem a ver 
com hierarquia. Liderança está ligada à atitude. Líder é aquele que inspira, motiva, anima 
pessoas, ideias e projetos. Liderança é uma virtude, não é um dom. Um dom é aquilo que 
nasce contigo, uma virtude é uma força intrínseca. Do ponto de vista filosófico, uma virtude 
é uma força intrínseca, algo a ser realizado ou, como diria Aristóteles, a ser atualizado. 
Desse ponto de vista, Paulo Freire era um líder. Líder não é aquele a quem você obedece, 
mas aquele que você respeita, admira e segue. Paulo Freire é uma liderança, não um mero 
chefe. Mas ele foi nosso chefe, mas, como chefe, não abria mão da responsabilidade dele na 
hierarquia. Mas ele não deixava jamais de ser líder. 
Qual é a diferença entre o líder e o chefe? O chefe você teme e obedece. Quando esse 
chefe é um líder, você admira e respeita. Paulo Freire era um líder tão grande, que, até 
quando ele me chamava à sala dele parame dar uma bronca – sempre amorosa, mas dava 
– eu ia animado. Eu ia sair de lá chateado, mas saía animado também, porque eu sabia 
que ia sair de lá melhor. Porque Paulo Freire tinha a grande capacidade de corrigir sem 
ofender. Orientar sem humilhar. Portanto, eu sabia que ia sair melhor de lá, mesmo que eu 
tivesse sido admoestado por ele, por quaisquer das razões que se têm numa convivência de 
trabalho executivo. Eu ia para a sala dele animado mesmo que ele dissesse “isso não pode, 
isso não deve ser feito” etc. Por quê? Inspiração. 
Aliás, essa capacidade dele é tão permanente, que continuamos produzindo trabalho, 
fazendo tese, orientando, tendo as cátedras. Há quantos e quantas Paulo Freire impregnou? 
E eu quero usar a palavra com o som italiano “emprenhou”. Quantos homens e mulheres 
Paulo Freire engravidou com o Inédito Viável como sendo o nosso sonho – mas o sonho da 
possibilidade, não do delírio? Isso é que dá vivacidade, que o torna um clássico, que o torna 
atual, que o torna presente. 
A capacidade de fazer com que a gente tenha nele uma liderança pedagógica, política, 
espiritual. Um homem que tinha as mãos com uma capacidade muito grande de fala. Ele 
tinha um hábito, eu mesmo não sei fazê-lo, de quando falava, ele segurava nas pessoas. E 
punha a mão no ombro e ficava segurando enquanto falava. Eu não tenho essa capacidade, 
acho que a outra pessoa pode reagir. Eu não gosto tanto de contato humano, ele gostava. Ele 
punha a mão e ficava, e esta forma de ficar era uma forma atenciosa. 
Eu vi dezenas de vezes Paulo Freire fazer uma coisa dificílima: quem tinha uma atividade 
como ele, ou que é um ídolo como ele, não só um líder, em todo o lugar que ia, era cercado 
por pessoas. E todo mundo, quando cerca alguém dessa natureza, tem a sua história para 
contar e se considera, com toda a razão, a pessoa mais importante naquele momento. Para 
que a outra pessoa dê a atenção, para fazer o autógrafo, para ouvir o que ela está dizendo. 
E Paulo Freire tinha uma capacidade inacreditável de respeito ético. Ele punha a mão no 
ombro e ficava ouvindo. Porque é muito comum você estar no meio de pessoas, elas estarem 
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falando e você responder apenas gentilmente: “Ah, legal. Obrigado”. Ele parava e ouvia. E o 
que a pessoa dizia tinha muita importância para ele. 
Portanto, ele não era alguém que apenas falava e escrevia em relação ao diálogo. Ele 
vivia de forma dialógica, e esse viver de forma dialógica é uma coisa tão impactante que, 
certa vez, eu li uma frase de que gosto muito e até agreguei isso em alguns pensamentos. 
Um pensador do século VIII, chamado São Beda, um santo dos católicos, britânico, um 
grande especialista em métodos de historiografia medieval, tem uma frase de que eu gosto 
demais: “Há três caminhos para o fracasso: primeiro, não ensinar o que se sabe, segundo, 
não praticar o que se ensina e, terceiro, não perguntar o que se ignora”. É preciso inverter: 
três são os caminhos para o sucesso: ensinar o que se sabe, praticar o que se ensina e 
perguntar o que se ignora. Paulo Freire tinha essa tríplice capacidade. 
A humildade freiriana vem inclusive de uma coisa: paulus, em latim, significa “pequeno”. E 
Paulo nunca encarnou o que seria a origem do seu nome, mas Paulo Freire se sabia pequeno 
para poder crescer. E fazia uma coisa magnífica: para crescer, ele não precisava baixar as 
outras pessoas. Porque há pessoas que só conseguem se elevar quando diminuem o outro. E 
Paulo Freire conseguia crescer com o outro, em vez de baixar o outro. E ele se sabia pequeno 
para não crescer artificialmente. 
O saber-se pequeno em nenhum momento significou falsa modéstia. Se há uma coisa 
que ele nunca admitia é que a gente dissesse a ele “o seu trabalho está ótimo” e ele dissesse: 
“Obrigado, bondade sua”, porque essa é uma forma cínica de relação. Ele dizia: “Que bom, eu 
gostei mesmo de fazê-lo”. Ele tinha orgulho da própria obra, não tinha soberba. 
Ele sabia a importância dele, não era tolo. Existe aquele que, como ele, passou a vida 
pelo mundo afora escrevendo, impregnando, partilhando, esperançando. É lógico que ele 
sabia. Ele era homenageado em eventos, recebeu dezenas de títulos honoris causa. Não 
dava para ele ter desconhecimento da importância dele na História. Seria uma contraprova à 
inteligência dele. Mas jamais eu presenciei uma atitude que fosse arrogante. Presenciamos, 
claro, atitudes de firmeza, como chefe. Como secretário ele era implacável, no sentido de que 
não admitia negligência, nem desesperança, nem desânimo. E partilhava as coisas conosco 
o tempo todo. Como orientador, ele sempre foi amoroso. E essa amorosidade significava me 
corrigir sem me humilhar.. 
Paulo Freire, como amigo, era capaz de adorar piadas. Nós nos juntávamos sempre nos 
finais de semana, quando se podia, e contávamos piadas e ele ria bastante. Paulo Freire 
sabia que ser sério não é sinal de ser triste. Seriedade não é sinônimo de tristeza. Tristeza 
é sinônimo de problema, não de seriedade. O contrário de seriedade é descompromisso. O 
contrário de seriedade não é alegria. Alegria é o contrário de tristeza e Paulo Freire era um 
homem alegre, capaz de, entre outras coisas, ter vitalidade suficiente para que a alegria 
não descambasse, isto é, não beirasse o descompromisso. Mas gostava de rir, de pensar 
conosco e de dizer que a gente não poderia desistir. 
Paulo Freire não desanimava, isto é, não perdia a alma. Aliás, ele conhecia bem a 
possibilidade de as pessoas desanimarem, porque o que ele fez em boa parte de sua existência 
foi sair pelo mundo afora animando, dando alma, dando anima, dando vitalidade. Impedindo 
que se caísse numa coisa perigosa, que é achar que as coisas não têm alternativas. De novo: 
ser humano é ser capaz de dizer “não” ao que parece não ter alternativa. Ser humano é ser 
capaz de recusar o que parece não ter saída. Não é casual que nós sejamos capazes de 
dizer “não”, se achássemos que as coisas são como são, nós não teríamos todo o trabalho 
que se faz em educação. 
O trabalho que se faz hoje em educação, especialmente nas redes públicas de ensino, 
que são majoritárias, é um trabalho que, em princípio, seria desanimador. A dificuldade do 
trabalho, as condições salariais, a dificuldade de lidar com alunos que a gente não conhece 
tão bem, que mudaram muito rapidamente, políticas públicas que se sucedem e que nem 
sempre são compromissadas com o coletivo, haveria lugar para o desânimo. Por que não 
há? Nós estamos atrás de quê? Estamos atrás de algo que Paulo Freire trouxe com força, e 
isso é clássico, é novo, é atual: a possibilidade do inédito viável. Isto é, o outro modo como 
ele usava a palavra “utopia”. 
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Aliás, vale lembrar àqueles que um dia leram A Utopia, de Thomas Morus, que Morus 
era conhecedor de algumas formas do grego. E quando escreveu A Utopia, não por acaso 
usou o prefixo ou para o radical topus, em vez de a. Porque “atopia” seria “não-lugar”, mas 
em “utopia” o u é utilizado na Grécia Antiga como negação de tempo também. Portanto 
a palavra “utopia” tem um sentido muito próprio em Thomas Morus, o sentido de “ainda 
não”, em vez de “lugar nenhum”. E quando Paulo Freire fala em utopia, ele evidentemente 
está falando nesse inédito viável. Que é inédito porque ainda não o temos, mas é viável 
porque Paulo Freire está presente e nós estamos presentes. Esta nossa presença torna 
Paulo Freire vivo. 
Será que essa presença viva é uma presença que honra Paulo Freire? Será que estamos 
honrando Paulo Freire, isto é, estamos sendo justos em relação ao legado e à memória dele? 
Será que o trabalho que fazemos no dia-a-dia, com as suas obras e a partir delas, é um 
trabalho que dignifica o trabalho de Paulo Freire? 
Algumas pessoas se aproveitam do legado de Paulo Freire, em vários lugares, não só no 
Brasil, mas também aqui. Se aproveitam muitas vezes para falar em nome dele, outras vezes 
para falar como se pudessem dar seqüência a algo que não é uma

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