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GESTÃO DO DESEMPENHO HUMANO Pablo Rodrigo Bes Gestão do desempenho: aspectos introdutórios Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir desempenho e sua evolução histórica dentro da gestão de pessoas. Distinguir gestão do desempenho de avaliação do desempenho. Descrever o papel das lideranças no processo de gestão do desempenho. Introdução As empresas sempre apresentaram interesse no desempenho dos seus trabalhadores, porém, assim como a área de gestão de pessoas e o próprio entendimento sobre o papel dos sujeitos nas organizações modificaram-se com o passar do tempo, as finalidades desse gerencia- mento também mudaram. Se, anteriormente, tínhamos um enfoque no desempenho que visava muito mais o controle e a fiscalização das atividades a serem executadas pelos funcionários, hoje em dia, temos uma ênfase muito maior nas questões formativas, as quais visam desen- volver as competências dos colaboradores. Para que isso ocorra, a gestão de pessoas é responsável por aliar tais competências às tendências do mercado e aos objetivos estratégicos da organização, o que envolve, necessariamente, ações voltadas à aprendizagem organizacional. Da mesma forma, se os trabalhadores eram vistos como meros executores de ordens movidos apenas por interesses econômicos antes, atualmente, entende-se que as pessoas responsabilizam-se pelo seu crescimento profissional e preocupam-se com as suas competências e a construção das suas carreiras. Neste capítulo, você estudará sobre o conceito de desempenho e a sua evolução ao longo da história da gestão de pessoas, reconhecendo elementos importantes para a mudança das suas ênfases. Você também Administrador Destacar Administrador Destacar aprenderá a distinguir as avaliações de desempenho do processo de ges- tão do desempenho organizacional, descrevendo o papel das lideranças com vistas a que essa gestão efetive-se. 1 O desempenho e a sua evolução histórica na gestão de pessoas A preocupação com os resultados que o trabalhador produz para a organização remontam às primeiras teorias de administração e psicologia na esfera do trabalho, datadas do início do século XX, as quais foram reconfi guradas em função dos novos entendimentos acerca do papel do indivíduo no ambiente organizacional e da maneira de conduzir os negócios com o objetivo de acom- panhar as transformações do mercado ao longo do tempo. No entanto, antes de tratarmos dos pormenores de algumas dessas teorias, é importante defi nirmos o que é desempenho. Segundo o Minidicionário da língua portuguesa, de Bueno (2016, p. 257), o termo “desempenho” pode ser compreendido como “[...] ato ou efeito de desempenhar; exercício; representação; execução”. Portanto, o desempenho remete, diretamente, à forma como os indivíduos realizam as atividades para as quais foram contratados pelas empresas ou, em outras palavras, à maneira como exercem os seus cargos com o intuito de cumprir com as obrigações assumidas perante os seus empregadores. A evolução histórica das teorias e das práticas de administração de recursos humanos e gestão de pessoas permite-nos notar que houve uma modificação considerável na percepção dos indivíduos e do seu desempenho no trabalho, abrangendo estudos sobre a aprendizagem organizacional, a gestão de com- petências e a formação de lideranças e equipes que pudessem elevar os níveis da performance e dos resultados para promover a otimização do desempenho de todos os trabalhadores. Para que possamos entender como o conceito de desempenho evoluiu ao longo do século XX até chegar à sua configuração atual, vamos considerar as seguintes concepções acerca dos indivíduos situados nas corporações: Homo economicus; Ênfase nas tarefas proposta por Frederick W. Taylor (1856–1915) e Henry Ford (1863–1947); Relações humanas; Gestão do desempenho: aspectos introdutórios2 Flexibilidade abordada pelo toyotismo; Teoria do capital humano; Globalização e gestão; Trabalhador empresário de si; Aprendizagem organizacional; Gestão de competências. No início do século XX, surgiu a área do conhecimento humano deno- minada administração. Inicialmente, esse campo do saber pautava-se pelos princípios da administração científica de Taylor, de modo a enfatizar os aspectos voltados às tarefas dos trabalhadores das indústrias. Nesse período, entendia-se que seria possível aumentar a produtividade dos empregados e, por conseguinte, produzir benefícios a eles e à organização por meio de estudos sobre o tempo dispendido para a execução de determinados movi- mentos nas tarefas das linhas de produção, a redução da fadiga no trabalho e a devida adequação dos trabalhadores aos cargos para as quais foram contratados, conforme os seus conhecimentos e as suas habilidades. Ao referir-se a esse momento da história da administração, Kwasnicka (1980, p. 18) comenta que: Os princípios estabelecidos pela administração no início do século XX previam uma administração rígida, onde o chefe ou o proprietário, no caso de pequena empresa, eram os donos absolutos das decisões, a autoridade vinha de cima para baixo e as suas atividades principais eram mandar fazer as tarefas e controlá-las com muito rigor. O objetivo principal da organização era produzir mais e com maior eficiência para que o lucro fosse maior. Essa visão de Taylor, a qual também foi adotada por Ford posterior- mente, ficou conhecida como taylorismo e, mais tarde, fordismo. De acordo com esse ponto de vista restritivo, o trabalhador era interpretado como alguém a ser impelido e supervisionado de modo constante para que apresentasse o desempenho esperado pelos seus superiores. Ambos os teóricos fundadores dessa perspectiva associavam o ser humano ao conceito de homo economicus, segundo o qual o indivíduo seria motivado apenas pelas quantias em dinheiro que ele poderia adquirir como fruto do seu trabalho. 3Gestão do desempenho: aspectos introdutórios O conceito de homo economicus originou-se no século XIX com os estudos de economia e, em suma, tratou de converter o ser humano em uma espécie de objeto de estudo subordinado à ordem da razão e necessário às investigações científicas da época. Assim, o indivíduo foi reduzido a interesses relacionados à produção e ao consumo, uma vez que a racionalidade do homo economicus teria como foco exclusivo a obtenção de riquezas por intermédio do menor esforço possível. Logo, o objetivo final de todo trabalhador seria receber a maior quantia em dinheiro pelo menor gasto de energia possível nas suas tarefas. Ao analisar os efeitos da obra Princípios da Administração Científica, lançada em 1911 por Taylor, Harvey (2011, p. 121) afirma que ela pode ser resumida como: [...] Um influente tratado que descrevia como a produtividade do traba- lho podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento. Dessa maneira, a administração científica de Taylor concebia os colabo- radores como sujeitos cujo desempenho seria definido com base nas tarefas executadas, independentemente do caráter mecânico e repetitivo das mesmas. Porém, com o advento da teoria das relações humanas, desenvolvida por Elton Mayo (1880–1949) e demais adeptos do humanismo aplicado à administração — entre os quais podemos destacar John Dewey (1859–1952) e Kurt Lewin (1890–1947), ambos citados por Nogueira (2007) —, começou-se a reconhecer que existiam outros fatores psicológicos que afetavam o funcionamento das pessoas no trabalho. Averiguou-se que havia potência no trabalho dos grupos e que os trabalhadores procuravam organizar-se em grupos informais a partir de critérios de identificação pessoal. Tais noções contribuíram para que o desempenho fosse compreendido também com fundamentação no trabalho em grupo, o qual foi reorganizadona proposta das equipes nas organizações na década de 1990. Gestão do desempenho: aspectos introdutórios4 Já no fim da década de 1960, Theodore Schultz (1902–1998) apresentou a teoria do capital humano, a qual associava a educação às questões relativas ao desenvolvimento econômico ao propor que o investimento em educação seria a solução para otimizar o desempenho das pessoas, pois os problemas sociais existentes nas nações seriam resolvidos com um grau maior de instrução das suas populações. A esse respeito, Schultz (1973, p. 23) destaca que: A instrução tanto pode proporcionar satisfações no presente (prazer imediato com a companhia dos colegas do colégio) quanto no futuro (capacidade cres- cente de saborear os bons livros). Quando os benefícios ocorrem no futuro, a instrução tem as características de um investimento, tanto pode afetar as futuras despesas como as futuras rendas. Formulada para ser adotada pelo Estado em um primeiro momento, essa teoria foi transferida às organizações e, após o início da globalização, aos sujeitos também (KLAUS, 2017). Assim sendo, a consciência de que todos somos responsáveis pelos nossos esforços em aprender de modo constante e progressivo também decorre da teoria do capital humano. Com o processo de globalização exponencial que se sucedeu durante a década de 1990 em decor- rência da nova conjuntura político-econômica mundial e da popularização das tecnologias de informações e comunicação, as organizações perceberam que já não era possível conduzir as suas atividades somente com base nos preceitos engessados da administração. Posto isso, eclodiu o conceito de gestão, a qual era entendida como mais flexível, adaptável, estratégica e sistêmica, dando conta da reconfiguração do mercado global e das novas exigências. Ao referir-se à importância de as empresas tornarem-se “organizações que aprendem”, enfatizando a necessidade de ampliar a visão sistêmica nas práticas de gestão empresarial, Senge (2018, p. 37) define que essas são: [...] Organizações nas quais as pessoas expandem continuamente sua capaci- dade de criar os resultados que realmente desejam, onde se estimulam padrões de pensamentos novos e abrangentes, a aspiração coletiva ganha liberdade e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender juntas. Fundamentados nisso, podemos verificar a relevância das práticas direcio- nadas ao desenvolvimento das pessoas mediante o aperfeiçoamento das suas habilidades, melhorando a sua performance e, assim, expandindo os resultados organizacionais. Contudo, isso não deve dar-se de forma coercitiva ou autori- tária, mas sim a partir da motivação e do interesse dos próprios colaboradores. 5Gestão do desempenho: aspectos introdutórios Na contemporaneidade, observamos a decadência do homo economicus em face de um novo modelo de trabalhador: o empresário de si mesmo. Embora mantenha os interesses pré-existentes, sobretudo os relacionados ao consumo e à posse de bens materiais, esse novo modelo de sujeito atuante no mercado de trabalho entende o seu papel enquanto promotor do seu desenvolvimento e canaliza os seus esforços para investir em si próprio por meio do aprimoramento das suas competências e do equilíbrio necessário entre as esferas pessoal e profissional da sua vida. Impulsionado pela evolução do modelo econômico capitalista e pela po- lítica neoliberal ao redor do mundo, também na década de 1990, surgiu o entendimento do trabalhador enquanto empresário de si mesmo, opondo-se ao homo economicus típico do taylorismo e do fordismo. A partir de então, o colaborador empreendedor passou a ser responsável pelo seu próprio in- vestimento pessoal no aprimoramento das suas competências, na elevação do seu grau de educação formal e na busca pela consolidação das suas novas experiências e aprendizagens, visando manter tanto a sua empregabilidade quanto a sua realização profissional ao buscar alcançar as suas ambições pessoais (SENNETT, 2012). Com a emergência das práticas de gestão organizacional, as quais incluem a gestão de pessoas, começaram a ser desenvolvidas pesquisas que enfatizavam a importância da aprendizagem organizacional, da gestão das competências dos colaboradores e do desenvolvimento de lideranças capazes de influenciar as equipes a atingirem a sua melhor performance. Para isso, partia-se do pres- suposto de que realizar a gestão do desempenho envolve iniciativas voltadas à aprendizagem que façam com que as organizações possam continuar a funcionar e a crescer em meio às mudanças econômicas constantes enfrentadas em cada um dos segmentos nos quais atuam. Ao analisar a complexa rede de teorias que envolve o conceito de aprendizagem organizacional, Antonello e Godoy (2011, p. 43) acrescentam que: Em sua longa história, a aprendizagem organizacional foi caracterizada como incremento/melhoria do desempenho no decorrer do tempo; fenômeno com- portamental; fenômeno cognitivo; fenômeno sociocultural; fenômeno com dimensões reflexivas e emocionais; fenômeno experiencial; e, mais recente- mente, baseada em práticas. Gestão do desempenho: aspectos introdutórios6 Uma das correntes de pensamento que nos permite compreender como a gestão do desempenho ocorre em âmbito organizacional hoje em dia é a aprendizagem baseada na prática, desenvolvida por Gherardi (2003). Essa perspectiva sociológica rompe com as teorias cognitivistas que de- fendiam que aprender é, necessariamente, um ato individual, visto que reforça a relevância dos grupos e do contexto no processo de aprendizagem. Nesse sentido, Gherardi (2003, p. 352) define que “[...] knowing é um comprometimento coletivo, o qual depende da extensão da espacialidade e temporalidade distribuídos em práticas locais encontradas fora do controle de qualquer organização e com uma rede de relacionamentos”. A gestão do desempenho dos colaboradores deve considerar esse mecanismo dinâ- mico e coletivo de produção de conhecimentos compartilhados, trocas e identidade de equipe. Fundamentados no que estudamos, podemos perceber que o conceito de desempenho modificou-se ao longo do tempo, sendo reduzido ao simples ato de avaliar em alguns momentos e, portanto, distanciando-se das práticas que buscam a promoção de um desenvolvimento maior e mais integrado dos colaboradores, conforme averiguaremos em mais detalhes na próxima seção deste capítulo. 2 Gestão do desempenho versus avaliação do desempenho Na seção anterior deste capítulo, esboçamos um breve panorama das reconfi - gurações pelas quais o conceito de gestão do desempenho passou em função da evolução da concepção acerca do papel dos trabalhadores no âmbito interno das organizações. Marras (2012) elucida que esse aspecto acompanhou o desenvolvimento da área gerencial que enfoca a atuação dos trabalhadores nas corporações, a qual era identifi cada como departamento pessoal no início do século XX, recursos humanos a partir da década de 1950 e gestão de pessoas mais recentemente, a partir da década de 1990. Essa mudança na denominação da área está diretamente associada ao entendimento que se têm sobre as atribuições do ser humano dentro das empresas e a exigência de profi ssionalização do setor com vistas à condução dos trabalhadores em direção ao seu desempenho máximo, ainda que nos termos de diferentes abordagens ao longo da história. 7Gestão do desempenho: aspectos introdutórios Em síntese, essa transformação do entendimento sobre a gestão do de- sempenho impacta a rotina dos colaboradores das organizações da seguinte maneira, conforme resumem Knapik (2012) e Marras (2012): Departamento pessoal: focado no burocracia e no controle das pessoas. A empresa apresenta caráter centralizador, e o departamento pessoal configura-se como o seu órgão fiscalizador. Administração de recursos humanos: refere mais dinamismo do que o departamento pessoal anteriormente, posto que o seu foco reside no desenvolvimento e na motivação das pessoas. Nesse contexto, a administração de recursoshumanos preocupa-se com os interesses dos colaboradores. Gestão de pessoas: interessa-se pelo gerenciamento em colaboração com os trabalhadores e voltado a eles, entendendo-os como verdadei- ros talentos dotados de capacidades, habilidades e intenção de alçar a empresa ao sucesso. A partir desse resumo, podemos compreender que, como o foco organizacio- nal residia nas atividades de controle das pessoas inicialmente, o desempenho das mesmas era medido de modo individual com a principal finalidade de aprimorar a produtividade, evitando perdas e desperdícios por parte dos tra- balhadores. Para isso, as chefias adotavam procedimentos padronizados, com tarefas repetitivas e mecanizadas nas quais a participação dos empregados era inexistente, sendo considerados meros executores de movimentos. Com o advento da administração de recursos humanos, a gestão do de- sempenho passou a considerar também os aspectos motivacionais intrínsecos aos sujeitos, o que acarretou a proposição de novos formatos de organização e distribuição das atividades que possibilitassem o aumento da produtividade em decorrência dos resultados que os grupos de trabalho apresentavam. Concluiu- -se que os interesses dos trabalhadores também poderiam ser atendidos na medida em que essa ação melhorasse o seu nível de desempenho, a qual precisa ser devidamente medido por meio de práticas de avaliação do desempenho realizadas pelos líderes organizacionais. Por sua vez, a gestão de pessoas deslocou a ênfase da gestão do desempenho para o envolvimento total dos membros da organização com as atividades relativas ao seu desempenho ao sugerir a ampliação das suas competências mediante o esforço conjunto da empresa em parceria com os trabalhadores. Assim, a gestão de pessoas estendeu a ideia de avaliação do desempenho ao Gestão do desempenho: aspectos introdutórios8 conjunto de práticas cujo foco reside, justamente, na gestão do desempenho, o que implica desenvolver estratégias voltadas à aprendizagem organizacional, tais como os treinamentos constantes realizados nas organizações (ANTO- NELLO; GODOY, 2011). Robbins (2009, p. 60) destaca a relação existente entre o esforço e a mo- tivação no desempenho dos colaboradores com fundamentação na teoria da expectativa, segundo a qual “[...] a intensidade da tendência para agir de uma determinada maneira depende da intensidade da expectativa de que essa ação trará um resultado e da atração que esse resultado exerce sobre o indivíduo”. Logo, quando os colaboradores conhecem os critérios de avaliação do seu desempenho, eles dispõem da possibilidade de participar desse processo de modo ativo com o intuito de que os seus esforços resultem em uma performance aprimorada das atividades que já exercem na corporação, pois sabem o que se espera deles e podem agir de acordo com essa expectativa. Robbins, Judge e Sobral (2011) explicam que existem muitos tipos de avaliação do desempenho utilizados nas práticas voltadas ao monitoramento das competências dos colaboradores hoje em dia. Entre eles, podemos listar os seguintes métodos: Relatórios escritos: considerados o método mais simples de avaliação do desempenho do trabalhador, os relatórios escritos especificam quais são os pontos fortes e os pontos fracos dos funcionários, analisando o seu desempenho anterior e o seu potencial para expor sugestões concretas com vistas ao seu aperfeiçoamento. Incidentes críticos: a atenção do avaliador volta-se à descrição dos com- portamentos que se mostraram especialmente eficazes ou ineficazes por parte dos funcionários, os quais são reunidos em uma lista de incidentes críticos que oferecem um conjunto de exemplos de comportamentos desejáveis ou indesejáveis que orientem a conduta dos colaboradores. Escalas gráficas de mensuração: o avaliador lista uma série de fatores relevantes à avaliação do desempenho dos empregados, de modo que esses aspectos funcionam como parâmetros para classificar os funcio- nários em uma escala incremental. Comparações forçadas: avaliam o desempenho de um indivíduo em relação ao desempenho de uma ou mais pessoas, realizando uma me- dição relativa entre ambos. As comparações forçadas também podem envolver a ordenação simples entre os funcionários e os seus níveis de desempenho. 9Gestão do desempenho: aspectos introdutórios Apoiados nessa breve descrição dos principais métodos de avaliação do desempenho em voga atualmente, podemos concluir que a sua finalidade principal está relacionada à mensuração do nível de desempenho apresentado pelos funcionários de uma organização. Porém, essas avaliações por si só não significam a promoção de mudanças com vistas à melhoria estratégica requerida pela gestão de pessoas, a não ser que façam parte de um processo maior de gestão do desempenho. Afinal, a gestão do desempenho organi- zacional vale-se dos resultados dos métodos de avaliação do desempenho para fornecer subsídios para que as lideranças da empresa possam tomar decisões e implementar os programas de treinamento e desenvolvimento necessários, bem como as práticas de recompensas mais adequadas aos seus colaboradores. De acordo com Griffin e Moorhead (2006), podemos fazer uma breve comparação entre os objetivos específicos da avaliação do desempenho e da gestão do desempenho para facilitar a identificação das diferenças entre ambas, conforme apresentado no Quadro 1 a seguir. Fonte: Adaptado de Griffin e Moorhead (2006). Avaliação do desempenho Gestão do desempenho Objetivos Justificar a destinação de recursos. Melhorar o desempenho futuro. Justificar promoções, transfe- rências, demissões, etc. Aperfeiçoar o trabalho. Identificar funcionários com alto potencial. Identificar oportunida- des de treinamento e desenvolvimento. Validar procedimentos de seleção. Desenvolver formas de superar obstáculos ao desempenho. Avaliar treinamentos já realizados. Criar acordos sobre expec- tativas entre supervisores e funcionários. Quadro 1. Diferença entre avaliação do desempenho e gestão do desempenho Gestão do desempenho: aspectos introdutórios10 O Quadro 1 permite-nos notar que os objetivos específicos da avaliação do desempenho e da gestão do desempenho diferem entre si, pois a avaliação prioriza a obtenção de informações sobre o desempenho, ao passo que a gestão vale-se desses dados para propor ações de melhoria do desempenho requerido com base no julgamento da performance dos colaboradores. Assim sendo, podemos dizer que a gestão do desempenho é um processo mais abrangente que tem a avaliação do desempenho como um dos seus elementos mais im- portantes. Isso porque é com fundamentação nas informações geradas pelas avaliações que a gestão do desempenho consegue sugerir ações que produzam os conhecimentos necessários para desenvolver as habilidades exigidas dos colaboradores, de modo que eles tornem-se mais eficientes nas suas tarefas e, assim, alcancem os resultados organizacionais propostos. Para que essas ações da gestão do desempenho possam ser realizadas, a liderança deve constituir-se com foco as pessoas e nos seus potenciais, conforme discutiremos na próxima seção deste capítulo. Educação corporativa é uma expressão usada para referir as iniciativas organizacionais que visam realizar a gestão e a produção sistemática de conhecimentos no ambiente corporativo, podendo envolver os processos de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Além disso, a educação corporativa também pode incluir as universidades corporativas que algumas empresas públicas e privadas de grande porte possuem e disponibilizam para a formação dos seus líderes organizacionais. 3 O papel das lideranças na gestão do desempenho Conforme estudamos anteriormente, avaliar o desempenho dos colaboradores é fundamental à constituição de uma gestão do desempenho efetiva, uma vez que as informações geradas pela avaliação servem de referência para a elaboração das ações a serem implementadas com vistas a que as atitudesdos colaboradores correspondam aos objetivos estratégicos defi nidos pelas organizações. Por essa razão, Ivancevich (2008, p. 251) defi ne que: 11Gestão do desempenho: aspectos introdutórios Gestão de desempenho é o processo por meio do qual executivos, gestores e supervisores trabalham para alinhar o desempenho do funcionário com as metas da empresa. Um bom processo de gestão de desempenho adota uma definição precisa de excelência em termos de desempenho, usa medidas de desempenho e fornece ao funcionário feedback a respeito do seu desempe- nho. Portanto, ele define, mede, monitora e oferece feedback. A avaliação de desempenho é parte crucial do processo de gestão do desempenho de uma empresa. Assim sendo, os responsáveis pelo alinhamento do desempenho dos fun- cionários com as metas e os objetivos estratégicos expressados pela organi- zação são os sujeitos que ocupam as funções de liderança. Os líderes devem encarregar-se de fazer com que as etapas definidas na gestão do desempenho efetuem-se. Griffin e Moorhead (2006) assinalam que essas etapas costumam envolver alguns elementos específicos, quais sejam: Alinhamento das metas com os objetivos estratégicos; Ajuste das competências individuais; Avaliação do desempenho; Análise das informações coletadas; Feedbacks; Planos de melhoria. Em outras palavras, cabe aos líderes empresariais alinhar as metas das suas unidades de negócio com os objetivos estratégicos da organização, os quais visam resultados a serem atingidos pela corporação a médio e a longo prazos. Convém esclarecer que, de acordo com Griffin e Moorhead (2006, p. 158): Uma meta é um objetivo desejável. Na maioria das organizações, as metas são usadas com duas finalidades. Em primeiro lugar, criam um contexto apropriado para a motivação. [...] Em segundo lugar, as metas são um instru- mento de controle eficiente, que é o monitoramento pelos gestores do bom desempenho da empresa. As metas referem-se tanto aos aspectos subjetivos relativos aos colabora- dores como às particularidades das tarefas que eles desempenham conforme as competências que possuem. É responsabilidade dos gestores ajustar as competências exigidas dos colaboradores às metas delimitadas pela empresa para que eles tenham condições de atingi-las. Dessa maneira, tais competências devem ser observadas desde o recrutamento e a seleção das pessoas, aplicando- Gestão do desempenho: aspectos introdutórios12 -se a todas as políticas de treinamento, desenvolvimento, monitoramento e recompensa dos funcionários. Vejamos o exemplo a seguir, o qual ilustra como o líder atua na gestão do desempenho da sua unidade de negócios. Suponhamos que o gerente de uma empresa que presta serviços de suporte tecno- lógico realiza algumas das suas operações organizacionais em regime presencial e outras via telemarketing. Por ocasião de uma pandemia que acometeu o seu país, os funcionários foram proibidos de abordar os clientes da corporação presencialmente, de modo que passaram a atendê-los somente em regime remoto. Essa mudança de cenário obrigou o gerente a implementar um plano de desenvolvimento de compe- tências para que os colaboradores da organização aprendessem a atender os clientes pela interface digital, tendo como agravante a realização desse atendimento via home office. Houve, ainda, a necessidade de contratar novos colaboradores, os quais já foram selecionados para as respectivas vagas por possuírem as habilidades necessárias ao uso de aplicativos digitais na rotina de trabalho em home office. Ao tratarem da gestão de competências, tão necessária às organizações contemporâneas, as autoras Bitencourt, Azevedo e Froehlich (2013, p. 6, grifos nossos) destacam o valor da inovação e da tecnologia, esclarecendo que “[...] o sucesso das empresas depende da implementação de mudanças organizacionais que possibilitem a reorganização e da velocidade de resposta às variações da dinâmica do mercado”. Mediante a gestão do desempenho, os líderes também podem adequar as competências dos colaboradores às novas exigências tecnológicas e propor novas maneiras de atender os clientes da empresa, com produtos e serviços inovadores e diferenciados. Ademais, cabe aos líderes da corporação a devida formulação e a respec- tiva explicação dos critérios avaliativos, bem como a correta aplicação dos procedimentos de avaliação do desempenho dos colaboradores que estão sob a sua orientação. Da mesma maneira, os líderes devem realizar a análise dessas informações para verificar o nível de desempenho dos trabalhadores. Após a realização das avaliações do desempenho, sucedem-se etapas igualmente im- portantes para que a gestão do desempenho efetive-se, entre as quais podemos mencionar a execução das entrevistas de feedback com os colaboradores. Ao dar o feedback, os líderes podem estabelecer planos de melhoria individuais ou coletivos, no caso de equipes, sempre que for necessário. Esses planos devem 13Gestão do desempenho: aspectos introdutórios ser condizentes com os aspectos das habilidades avaliadas como necessárias ao aprimoramento da performance dos trabalhadores. Ao referir-se à importância da construção de um feedback eficaz fornecido pela liderança, Moscovici (1997, p. 53) afirma que: No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, feedback é um processo de ajuda para mudanças de comportamento; é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar seu desempenho e assim alcançar seus objetivos. A autora também aponta que o feedback dos líderes organizacionais aos trabalhadores que eles coordenam deve apresentar as seguintes características para ser eficaz (MOSCOVICI, 1997, p. 53-55): Descritivo em vez de avaliativo; Específico ao invés de geral; Compatível com as necessidades da corporação; Dirigido; Solicitado ao invés de imposto; Oportuno; Esclarecido para assegurar a comunicação precisa. Embora uma entrevista de feedback por parte dos gestores possa originar- -se de uma avaliação do desempenho dos trabalhadores já realizada, ela deve descrever os fatos, uma vez que “[...] quando não há julgamento, apenas o relato de um evento, reduz-se a necessidade de reagir defensivamente e assim o indivíduo pode ouvir e sentir-se à vontade para utilizar aquele dado como julgar conveniente” (MOSCOVICI, 1997, p. 53). Assim, os líderes devem ater- -se às habilidades e aos conhecimentos evidenciados ou necessários, evitando julgamentos sobre o comportamento dos receptores. A objetividade deve fazer parte do feedback, pois quanto mais específico ele for, maior será a sua chance de cumprir com os objetivos voltados ao desenvolvimento dos colaboradores. A objetividade relaciona-se à adequação das necessidades e das motivações dos envolvidos no processo de feedback e deve considerar tanto o comuni- cador quanto o receptor. Moscovici (1997, p. 53) acrescenta que o feedback “[...] pode ser altamente destrutivo quando satisfaz somente às necessidades do comunicador sem levar em conta as necessidades do receptor”. O mesmo pode suceder quando o feedback não ocorre de forma dirigida, sendo que um Gestão do desempenho: aspectos introdutórios14 feedback dirigido é aquele que, ao destacar aspectos que devem ser modificados no comportamento de uma pessoa ou de um grupo, explicita quais caminhos podem ser seguidos para a condição apresentada seja revertida. Dessa maneira, os líderes devem manter um canal de comunicação aberto para que os sujeitos que se encontram sob a sua lideranças possam solicitar feedbacks quando sentirem necessidade. A característica de ser oportuno refere-se à orientação de que o feedback seja realizado mediatamente após a verificação de algum fato que o exija sempre que possível, tendo em vista a adequação às questões impostas pelo contexto. Ao concluir a realização de um feedback,a liderança deve assegurar-se de que o mesmo foi plenamente compreendido pelos colaboradores da empresa, analisando se a comunicação foi precisa ou não. Para isso, existem algumas técnicas que podem ser adotadas pelos líderes, conforme explica Moscovici (1997, p. 54): Um modo de proceder é fazer com que o receptor repita o feedback recebido para ver se corresponde ao que o comunicador quis dizer. Quando o feedback ocorre num grupo de treinamento, ambos têm oportunidade de verificar com os outros membros a extensão do feedback: é uma impressão individual ou compartilhada por outros. Outra etapa de igual relevância na gestão do desempenho diz respeito ao desenvolvimento contínuo e sistemático dos colaboradores da organização, o que envolve o caráter formativo e pedagógico desses sujeitos. Ao contrário da etapa de avaliação do desempenho, a qual possui caráter meramente somativo com vistas a mensurar os resultados obtidos em termos de performance para uma análise posterior, a gestão do desempenho volta-se à implementação de estratégias de aprendizagem individuais e colaborativas direcionadas aos funcionários das organizações. No que concerne ao desenvolvimento de pessoas que visam aprimorar as suas competências, as organizações têm investido os seus esforços em ações voltadas à gestão do conhecimento, à gestão de competências, à educação corporativa, ao treinamento e ao desenvolvimento dos colaboradores, entre outras práticas que objetivam construir uma cultura organizacional dirigida à necessidade de aprendizagem contínua por parte dos trabalhadores. Além disso, os colaboradores têm procurado ajustar-se às tendências do mercado por intermédio do desenvolvimento de novas aptidões e habilidades para manter a sua empregabilidade e ampliar as suas possibilidades de exercer um pensamento inovador e atual. 15Gestão do desempenho: aspectos introdutórios ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. Aprendizagem organizacional no Brasil. Porto Alegre: Bookman, 2011. BITENCOURT, C.; AZEVEDO, D.; FROEHLICH, C. (org.). Na trilha das competências: caminhos possíveis no cenário das organizações. Porto Alegre: Bookman, 2013. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Gestão do desempenho: aspectos introdutórios
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