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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - Urinálise 5 2.1 Características gerais 7 2.2 Exame químico 8 2.2.1 Métodos qualitativo e quantitativo 13 2.3 Pesquisas complementares 13 2.4 Sedimento urinário 14 2.5 Cálculos urinários 16 2.6 Cálculos biliares 16 2.6.1 Marcha analítica para cálculos biliares 17 2.7 Regras básicas para colheita e manipulação de amostras 20 UNIDADE 3 - Parasitologia 20 3.1 Cuidados básicos no exame parasitológico 21 3.2 Métodos empregados 22 3.3 Controle de qualidade 24 3.4 Exame parasitológico de fezes 25 3.5 Exame parasitológico do sangue 27 3.6 Exame parasitológico de secreções de úlceras da pele 29 UNIDADE 4 - Coproparasitologia 30 4.1 Colheita e processamento de fezes 31 4.2 Isolamento e identificação de enterobactérias patogênicas 33 4.3 Diferenciação 35 4.4 Exame sorológico 38 4.5 A biossegurança em coproparasitologia 39 4.6 A pesquisa coproparasitológica 40 REFERÊNCIAS 42 ANEXOS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Na Antiguidade, mais precisamente pelos estudos de Hipócrates, estava se delinean- do os rumos da medicina para o diagnóstico de doenças. Tradicionalmente foi a sua me- dicina que deu impulso ao diagnóstico, prog- nóstico e tratamento em bases científicas. Estabeleceu, ainda, um conjunto de normas de conduta que fundamenta até hoje a ética médica. Souza (2011) volta ainda mais no tempo e pontua o surgimento da medicina laborato- rial com o início da análise da urina tomando como referências os desenhos dos homens das cavernas e nos hieróglifos egípcios, como no papiro cirúrgico de Edwin Smith. Os quadros que representavam os mé- dicos da antiguidade, geralmente os mos- travam examinando um frasco em forma de bexiga e na maioria das vezes, estes médicos nunca viam os pacientes, apenas sua urina. Embora não contassem com os sofistica- dos métodos atuais, eram capazes de obter informações diagnósticas a partir de obser- vações básicas, como cor, odor, turvação, volume e até mesmo presença de açúcar, ao observarem que certas amostras atraíam formigas. É interessante notar que essas mesmas características urinárias ainda são relacionadas pelos laboratórios hoje em dia. O exame de urina é um precioso meio de avaliação da função renal do organismo hu- mano, sendo, portanto, um forte elemento diagnóstico no estado das patologias em ge- ral. Para tanto, o emprego de técnicas sen- síveis e específicas é fator preponderante para o bom desenvolvimento da análise. Com a introdução das tiras reativas, as provas pú- nicas anteriormente complexas e demora- das, foram substituídas e a análise foi sim- plificada. Logicamente, há necessidade de levar-se em conta os possíveis interferentes que possam falsear os resultados, além do fato de existirem ainda métodos químicos indispensáveis para a conclusão do diagnós- tico laboratorial. A Urinálise é o setor responsável pela avaliação da função renal. Na detecção das infecções do trato urinário, o Exame de Uri- na (EQU) é um elemento indispensável e am- plamente utilizado pelos médicos. Como as infecções do trato urinário podem resultar em complicações mais graves, o diagnóstico precoce é de extrema importância. Além das doenças renais, o exame de uri- na também avalia o funcionamento do pân- creas endócrino, taxas de Diabetes Mellitus e o funcionamento do fígado. Quanto à Parasitologia Clínica, esta com- preende a análise das fezes e seus compo- nentes. O Exame Parasitológico de Fezes (EPF) permite que seja feita a detecção dos parasitos de uma maneira seletiva, rápida e eficaz. Desta forma, orienta a administração de vermífugos específicos e efetivos para cada tipo de parasito, evitando uma possível resistência causada por medicamentos de amplo espectro. Pela avaliação da amostra fecal pode-se ter uma noção sobre a presen- ça de gordura e alimentos não digeridos. Lembremos que as doenças parasitárias ainda são responsáveis por um alto índice de morbidade, principalmente em países não desenvolvidos, portanto, seu diagnóstico e tratamento merecem atenção. 4 54 Características gerais, exame químico qualitativo e quantitativo, pesquisas com- plementares, sedimento urinário, análise de cálculos urinários e cálculos biliares, bem como a marcha analítica para estes dois últi- mos exames, fazem parte dos conteúdos da unidade 1 que tratará do exame de urina. Quanto à Parasitologia, veremos noções básicas de laboratórios, alguns métodos em- pregados, o cuidado com o exame e o contro- le de qualidade. Daremos atenção especial aos exames parasitológicos de fezes, san- gue e secreções de úlceras da pele. A questão da biossegurança e da pesquisa em Coproparasitologia, a colheita e proces- samento das fezes, bem como isolamento e identificação de enterobactérias patogê- nicas, a diferenciação e o exame sorológico completam os temas abordados nesse mó- dulo. Ressaltamos em primeiro lugar que embo- ra a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vá- rios autores, incluindo aqueles que conside- ramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expres- sas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 55 A urina é formada pelos rins, sendo na verdade um ultrafiltrado do plasma, do qual foram reabsorvidos componentes essen- ciais ao metabolismo, como água, glicose, aminoácidos, etc. Ela é formada por ureia e algumas outras substâncias dissolvidas em água. As concentrações dessas substâncias podem variar de acordo com metabolismo, ingesta alimentar, atividade física, função endócrina e até posição do corpo. Urinálise, por sua vez, compreende as análises física, química e microscópica da uri- na, com o objetivo de detectar doença renal, do trato urinário ou sistêmica, que se mani- festa através do sistema urinário. É um teste laboratorial amplamente utilizado na prática clínica, constituindo um dos indicadores mais importantes de saúde e doença. Trata-se de um dos exames mais antigos de que se tem conhecimento, mas ainda ca- rece de uma padronização universalmente aceita. Os componentes do exame de urina incluem a avaliação das características ma- croscópicas (cor e aspecto), físicas (pH e den- sidade ou gravidade específica), químicas (através de tiras reagentes), bioquímicas e microscópicas, além de testes confirmató- rios quando necessário. Os principais erros em urinálise incluem tipo de amostra inadequada para o exame a ser realizado, frascos de coleta inadequados, demora no transporte, falta de homogenei- zação das amostras, cuidados inadequados com os reagentes, uso de técnicas inade- quadas, relato inadequado dos achados, desconsiderar um achado na análise, des- conhecimento do papel dos interferentes e não analisar todos os achados em conjunto (DPC/HC/UNICAMP, 2006). 2.1 Características gerais O volume urinário diário de um adulto normal é de 800 a 1.800 mL (WADA, 2008) e 1200 a 1500 mL, segundo o DPC/HC/UNI- CAMP (2006). O valor do volume depende de vários fatores tais como: dieta, ingestão de água, temperatura ambiente, volume corpo- ral, sudoração, etc. As crianças excretam mais urina por kg de peso que os adultos, con- forme mostra a tabela abaixo: Fonte: Wada (2008, p. 131). Enquanto o aumento do volume urinário (acima de 2.000 mL, no adulto) denomina-se poliúria e pode ocorrer no diabete melito, no diabete insípido, na uremia, na nefrite crôni- ca, etc., a diminuição desse volume (abaixo de 500mL, no adulto) denomina-se oligúria e pode ocorrer na nefrite aguda, atrofia tu- bular renal, diarreia, vômitos, doenças car- díacas e pulmonares, desidratação, choque, reação transfusional, agentes tóxicos, etc. Quando existe retenção total de água, cha- mamos anúria e ela pode ocorrer em nefro- UNIDADE 2 - Urinálise Idade Volume de 24 horas 1 a 2 dias 3 a 10 dias 10 a 60 dias 2 a 12 meses 1 a 3 anos 3 a 5 anos 5 a 8 anos 8 a 14 anos 30 a 60 mL 100 a 300mL 250 a 450 mL 400 a 500 mL 500 a 600 mL 600 a 700 mL 650 a 1.000 mL 800 a 1.400 mL 6 7 ses e obstrução das vias excretoras urinárias. Normalmente, um terço da urina é excretado à noite e, dois terços, durante o dia. Quando há uma inversão destes valores, denomina- mos nictúria. Ao efetuarmos uma análise qualitativa de urina, não é necessária a coleta da urina de 24 horas. Bastará uma única micção, de pre- ferência a primeira da manhã. a) Aspectos da urina A urina recente, normalmente, tem as- pecto límpido. Em casos patológicos, onde existe a pre- sença de grandes quantidades de piócitos, hemácias, células epiteliais, cristais e bacté- rias, a urina deverá apresentar-se turva, o que também pode ocorrer devido a contami- nação com antissépticos, talcos ou material fecal. Quanto ao aspecto, a urina é classificada em límpido, ligeiramente turvo e turvo. Frequentemente, a turbidez é ocasionada por precipitação de fosfatos e carbonatos, em meio alcalino. Eles se dissolvem, quan- do são adicionadas algumas gotas de ácido acético diluído; os carbonatos produzem desprendimento de CO2. O resfriamento da urina causa precipitação de uratos, em meio ácido. Um aquecimento, a 56°C, fará desapa- recer a turvação. Quando as urinas não se aclaram com o re- pouso, por filtração através de papel ou por mudanças de pH, a turbidez poderá ser de origem bacteriana. A presença de matéria gordurosa (lipú- ria, quilúria) também pode produzir turva- ção, devido às gotículas de graxa, formando emulsão. b) Odor A urina normal apresenta odor caracte- rístico, ligeiramente aromático. No entanto, após algum tempo de repouso, a urina em decomposição apresentará odor pútrido ou amoniacal, devido à fermentação bacteria- na. A dieta e a medicação também podem provocar variações no odor. Em urinas nor- mais, o odor é classificado como próprio, sui generis ou característico. c) Cor Normalmente, a urina apresenta cor ama- rela, variando do tom claro ao escuro. Em casos de hematúria, a urina pode apresenta-se vermelha ou castanha, depen- dendo do estado de conservação dos eritró- citos. A ingestão de beterraba também pode provocar o aparecimento da cor vermelha. Diversas medicações também podem mo- dificar a cor da urina em tons de vermelho, verde, laranja, etc. Já a cor âmbar, em estados patológicos, aparece geralmente associada a problemas hepáticos. É comum a utilização do termo amarelo citrina, para classificar a cor das urinas nor- mais. d) Densidade A medida da densidade é realizada para verificar a capacidade de concentração e di- luição do rim, ou seja, ajuda a avaliar a função de filtração e concentração renais e o estado de hidratação do corpo. A densidade da urina normal varia de 1015 a 1025, no volume de 24 horas. Em amostras colhidas ao acaso, ela pode variar de 1003 a 1030. Significado clínico: estado de hidratação do paciente, incapacidade de concentração pelos túbulos renais, diabetes insípido e de- terminação da inadequação da amostra por 6 7 baixa concentração. Dentre os métodos para medir a densida- de da urina temos: Urodensímetro, pesa-urina ou urinômetro. Homogeneizar a urina e passá-la para uma proveta de tamanho apropriado. Introduzir o densímetro, com uma leve rotação, dei- xando-o flutuar, sem que toque nas paredes da proveta. Ler a graduação que aparece à base do menisco. Como a densidade depende da temperatura, é necessário fazer a correção da leitura. O urodensímetro é calibrado para uma de- terminada temperatura. Para cada 3°C acima ou abaixo da temperatura de calibração do aparelho, adicionar ou subtrair, respectivamente, uma unidade ao último algarismo da densidade lida. Caso o volume de urina seja insuficiente, podemos diluí-la a 1:3, de modo que o urodensímetro possa flutuar na proveta. Efetuar a leitura e multiplicar os dois últimos números da escala gradu- ada pelo fator da diluição. Neste caso, também é necessária a correção de acordo com a temperatura. O método não é muito exato, mas pode ser utilizado para fins clínicos. Utilização de refratômetro Como o índice de refringência de uma solução se relaciona com a quantidade de sólidos dissolvidos, é possível medir-se a densi- dade, por intermédio de refratômetros, utilizando apenas uma gota de urina. É um método simples e rápido e a leitura se faz diretamente sobre a escala de densidade, através de uma linha que divide a parte clara do contraste escuro, quando o aparelho é dirigido contra uma fonte de luz. Para pequenos volumes, com utilização de mistura de líquidos orgânicos Fazer uma mistura de benzeno (d = 0,897) e clorofórmio (d = 1,504) e adicionar uma gota de urina. Adicionar um ou outro lí- quido até que a gota fique suspensa. Medir a densidade da mis- tura com um urodensímetro. O valor da leitura será o mesmo da gota de urina. Utilização de fita reativa Recentemente, surgiu a fita reativa para medida da densidade, baseada na mudança do pka de certas moléculas polieletrolíti- cas que são sensíveis ao número de íons presentes na amostra de urina, o que acarreta uma mudança de pH. Na presença de um indicador, ocorre mudança de cor. A medida não é afetada por glicose ou ureia, mesmo em altas concentrações. 2.2 Exame químico O pH urinário normal varia de 4,5 a 8. Si- tuações de acidez da urina ocorrem, por- tanto, quando há uma dieta rica em prote- ína que aumenta a produção de fosfatos e sulfatos. Uma dieta vegetariana pode ele- var o pH acima de 6. A medicação também altera o resultado. O pH urinário deve ser medido logo após a micção, pois assim evitaremos a eleva- 8 9 ção do valor devido a alcalinização causa- da pelo crescimento bacteriano. A urina noturna tem pH mais baixo por causa da acidose respiratória fisiológica do sono. O pH urinário pode ser medido com papel in- dicador universal ou com pH-metro. 2.2.1 Métodos qualitativo e quantitativo A excreção de proteínas na urina do ho- mem adulto é cerca de 30 a 50 mg por 24 ho- ras (WADA, 2008). Normalmente, as proteínas urinárias são constituídas pela albumina e por globulinas secretadas pelas células tubulares. Entre as proteínas não plasmáticas observadas na urina, destaca-se a mucoproteína de Tamm- -Horsfall, proveniente dos túbulos distais. Sua importância decorre do fato de que esta proteína é a base dos cilindros encontrados na urina (DPC/HC/UNICAMP, 2006). A determinação qualitativa é efetuada por testes químicos ou fitas reativas. A sen- sibilidade desses ensaios está em torno da concentração de excreção protéica normal; portanto, podemos avaliar as alterações com os resultados positivos. O resultado qualitativo, geralmente, é expresso por: negativo, traços e positivo. O resultado positivo vem acompanhado pelo número de cruzes respectivo, dado pelo grau de intensidade da reação. As proteinúrias são observadas em pro- cessos degenerativos tubulares (acima de 7 g/24 h), associadas a infecções bacterianas (5 a 7 g/24 h), em enfermidades vasculares, incluindo arteriosclerose (0,5 a 4 g/24 h), na hipertensão maligna (10 a 15 g/24 h) (WADA, 2008). Nos quadros a seguir temos alguns dos métodos utilizados para proteí- nas e seu fundamento: Método qualitativo para proteínas Fundamento Método Reativo de Robert Formação de metaproteínas e proteinatos insolúveis a partir da ação de ácido forte e sal de metal pesado. Método Reativo do ácido sulfossalicílico Desnaturação protéica com formação de meta proteínas. Pesquisa pelo calor e acidificação A albumina e a globulinase coagulam pelo calor, em pH áci- do. Tiras reativas Baseado no fenômeno do “erro protéico dos indicadores”, ou seja, a um pH tamponado constante, o azul de tetrabro- mofenol, amarelo, torna-se verde-azulado, passando pelo amarelo-esverdeado e pelo verde, em presença de con- centrações crescentes de proteínas. Reação de Heller Baseia-se no ácido nítrico concentrado. 8 9 A glicose do filtrado glomerular é reabsor- vido pelos túbulos. A capacidade máxima de reabsorção tubular é de cerca de 160 mg/dL e quando as concentrações sanguíneas ul- trapassam essa cifra, aparece a glicosúria. No adulto normal, há excreção de 130 mg de glicose durante 24 horas, em média, com concentrações menores de outros açúcares. Além da glicose, temos outros açúcares re- dutores como a frutose, a lactose, a galacto- se, a pentose. As provas mais utilizadas para pesquisar a presença de glicose eram as que se base- avam na ação redutora sobre sais de cobre, em meio alcalino. Essa ação redutora é exer- cida por diferentes açúcares, além da glicose. Outras substâncias redutoras, tais como a creatinina e o ácido sérico, normalmente excretadas pela urina, podem dar falsos re- sultados positivos. Entre as substâncias anormais estão o ácido homogentísico e muitos outros fárma- cos, tais como: clorofórmio, formol, ácido as- córbico, penicilina, etc. A prova mais sensível e específica para a glicose é a tira reativa contendo glicose oxi- dase. Pesquisa de proteínas de Bence-Jones São proteínas anormais que apresentam precipitação a 40-60° C, redissolvendo-se a temperaturas em torno de 100°C. Elas aparecem com grande frequência em pacien- tes com mieloma múltiplo, podendo surgir também em processos neoplásicos do osso, leucemias e nefrite crôni- ca. Método de Denis e Ayer As proteínas são precipitadas pelo ácido sulfossalicílico e a turvação é medida, fotometricamente. Método qualitativo para glicose Fundamento Método de Benedict A glicose urinária reduz o reativo alcalino de sulfato de co-bre a um precipitado avermelhado de óxido cuproso. Defecação da urina Em caso de resultados duvidosos ou quando a urina con- tém albumina ou quantidades elevadas de ácido úrico, cre- atinina e outros reagentes redutores, devemos defecar a urina com o reativo de Courtonne, antes de realizar a prova de Benedict Método da tira reativa A glicose oxidase reage com a glicose urinária formando a glicolactona e liberando 2 átomos de hidrogênio. A glico- lactona se hidrata rapidamente dando ácido glicônico. O hidrogênio liberado se combina com o oxigênio atmosfé- rico para formar o peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio oxida a ortotoluidina em presença de peroxi- dase, formando coloração azul. 10 11 Os chamados corpos cetônicos da uri- na, o ácido acetoacético, a acetona e o ácido beta-hidroxi-butírico aparecem em determinados estados patológicos e fi- siológicos. A acetona se forma por descar- boxilação do ácido acetoacético e o ácido betaidroxibutírico deriva também do áci- do acetoacético, mas por redução. Os corpos cetônicos são produtos de- rivados, principalmente, do metabolismo dos ácidos graxos tendo origem hepática. Uma pequena quantidade pode ser origi- nária de aminoácidos. Quando o metabolismo hepático dos ácidos graxos se acelera, seja por carên- cia de glicose, como na inanição, seja por excesso de gorduras na alimentação, ou seja, ainda por não poder utilizar a glicose como no diabete, os corpos cetônicos au- mentam no sangue e na urina. Nestas condições, a produção de ener- gia é conseguida a partir das gorduras. A urina normal contém pequenas quan- tidades de corpos cetônicos, que não são detectáveis pelos métodos de pesquisa comumente utilizados. Método qualitativo para corpos cetônicos Fundamento Pesquisa pelo Reativo de Rothera A acetona e o ácido acetoacético reagem com o nitroprus- siato de sódio, em meio alcalino, formando um complexo de cor roxa. Método da tira reativa Baseia-se no desenvolvimento de coloração roxa a partir da reação do ácido acetoacético ou da acetona com o nitro- prussiato. A fita reativa está impregnada com nitroprussia- to de sódio, glicina e fosfato. Pesquisa pelo teste de Lange Idêntico ao anterior Pesquisa do Ácido Acetoacético O ácido acetoacético reage com o cloreto de ferro, dando uma cor vermelho-vinho. Pesquisa do ácido betaidroxibutírico Primeiramente, elimina-se a acetona e o ácido acetoa- cético. Depois o ácido betaidroxibutírico é transformado em acetona por oxidação. Finalmente, realiza-se a reação com nitroprussiato de sódio. A bilirrubina é o resultado da desinte- gração que sofre a porção porfirínica da hemoglobina, quando as células do siste- ma reticuloendotelial destroem os eritró- citos. Nesta fase, a bilirrubina não é solú- vel em água. Nas icterícias hemolíticas, embora os valores de bilirrubinemia sejam elevados, é possível que a urina não apresente bilir- rubina evidente, pois há aumento da bilir- rubina livre que não é hidrossolúvel, po- dendo somente ser encontrada na urina, após ultrapassar o limiar renal para sua reabsorção. 10 11 A pesquisa é realizada de uma forma simples, embora ela seja sujeita a muitas causas de erro. Alguns conservadores, como o timol, podem dar falso positivos. O urobilinogênio é derivado da bilirrubi- na pela ação da flora bacteriana intestinal. Uma parte do urobilinogênio é reabsorvi- do, retornando ao fígado. Uma pequena parte cai na circulação, sendo excretada pelos rins. Normalmente, o adulto excreta menos de 4 mg por dia. Esta excreção poderá es- tar aumentada nas icterícias hemolíticas. Valores aumentados são também encon- trados nas icterícias parenquimatosas, cirrose hepática, constipação crônica. Aumentos menores são encontrados nas icterícias obstrutivas e, se a obstrução é completa, as quantidades poderão ser im- perceptíveis. Por ação da luz e do ar atmosférico, o urobilinogênio se oxida formando a uro- bilina. A urobilina também se encontra na urina normal. Normalmente, as provas para detecção da bilirrubina na urina dão resultados ne- gativos. Em vários transtornos hepáticos, a uri- na apresenta, além da bilirrubina, outros componentes como os ácidos biliares e os sais biliares. A bilirrubina direta ou conjugada pode atravessar o túbulo renal e aparecer na urina, portanto a bilirrubinúria é encon- trada mais facilmente nas icterícias mecâ- nicas. A bilirrubinúria poderá anteceder a ic- terícia porque o limiar renal de eliminação de bilirrubina é menor que 2 mg/dL, en- quanto que os indivíduos aparecem ictéri- cos, quando a concentração de bilirrubina direta no sangue é maior que 2,5 mg/dL. Método qualitativo para pigmentos biliares Fundamento Método de Fouchet Há uma co-precipitação pelo cloreto de bário e uma oxida-ção a biliverdina, pelo cloreto férrico. Método da Diazorreação A bilirrubina reage com o sulfato de p-nitrobenzeno-dia-zônico-p-tolueno, dando coloração de azul a púrpura. Método para ácidos e sais biliares Fundamento Método de Hay Os ácidos biliares e seus sais reduzem a tensão superficial da urina e a flor de enxofre deposita-se, lentamente, no fundo do tubo. 12 13 A hemoglobina urinária pode ter duas origens: a. da lise das hemácias derivadas de processos hemorrágicos do trato uroge- nital. b. resultante da excessiva destruição de hemácias. Em condições normais, a hemoglobi- na é destruída e metabolizada no siste- ma retículo endotelial. Não havendo uma metabolização normal, há ultrapassagem do limiar renal para a hemoglobina (100 a 130 mg/dL), ela não é reabsorvida e sofre eliminação renal. Portanto, a hemoglo- binúria verdadeira está relacionada com um processo metabólico (b). A hemoglobina proveniente da lise das hemácias é originária de uma hematúria. Pode ainda ocorrer uma hemoglobinúria, devido à lise das hemácias em urinas de muito baixas densidades e alcalinas. A hemoglobinúria poderá ocorrer na anemia hemolítica, hemoglobinúria pa- roxística noturna,autoimune alérgica. Podem aparecer ainda em reações pro- vocadas por transfusões, na malária, em queimaduras, intoxicações por agentes químicos e alcalóides. Método qualitativo para Urobilinogênio Fundamento Prova de Ehrlich O urobiliogênio reage com o p-dimetilamino-benzaldeído, formando uma coloração vermelho-cereja. Método da tira reativa As tiras são impregnadas com o mesmo reativo do teste anterior, tendo, portanto, o mesmo tipo de reação. Método qualitativo para Hemoglobina Fundamento Método utilizando o reativo de Johanessen Por causa da presença de hemoglobina, há decomposição da água oxigenada com liberação de oxigênio. A fenolfta- leína que se encontra na forma reduzida, devido a presen- ça de zinco, é oxidada. Como o meio é alcalino, aparece cor característica. Método das tiras reativas A hemoglobina decompõe o peróxido de hidrogênio e o oxigênio liberado oxida a ortoluidina, aparecendo colora- ção azul. 12 13 2.3 Pesquisas complemen- tares Segundo Wada (2008), existe uma sé- rie de pesquisas solicitadas pela clínica médica que não está incluída na rotina, por se tratar de exames específicos, para a complementação de determinados diag- nósticos, que muitas vezes dispensam os próprios exames rotineiros. Dentre eles temos: ESCATOL e INDICAN – em estados de putrefação intestinal intensa, dietas excessivamente ricas em proteínas, obs- trução do intestino delgado, constipação crônica, casos de peritonite e nos grandes abscessos por decomposição de prote- ínas, estas duas substâncias podem ser encontradas na urina. A pesquisa do Esca- tol utiliza a reação de Ehrlich e a pesquisa de Indicon, a reação de Obermayer. UROBILINA – a urobilina é formada pela oxidação do urobilinogênio. Normal- mente, existe vestígio de urobilina pre- sente na urina. Utiliza-se o Método de Nauman, modificado – Reação de Schle- singer. PORFOBILINOGÊNIO – o porfobili- nogêno é um precursor das porfirinas. Ele é incolor, mas se converte em porfobilina vermelha e uroporfirina depois de sua ex- creção. A eliminação de porfobilinogênio aumenta consideravelmente na porfiria intermitente aguda e pode estar aumen- tada na hepatite e carcinomatose PORFIRINAS – as porfirinas são pig- mentos tetrapirrólicos cíclicos, precurso- res das hemoglobinas e dos citocromos. Entre as afecções que se acompanham por porfirinúrias, citam-se as porfirias pro- priamente ditas, hereditárias ou adquiri- das, intoxicações por sedativos e metais pesados, em particular o chumbo, além de algumas hepatopatias e hemopatias. LACTOSE – utilizam-se os Métodos de Rubner e Método de Tollens. FRUTOSE – utiliza-se a Reação de Seliwanoff. PENTOSE – utiliza-se a Reação de Bial. ÁCIDO FENILPIRÚVICO – utiliza-se o método de Meulemans. 2.4 Sedimento urinário O exame microscópico do sedimento é um estudo muito importante para a ava- liação do estado funcional do rim. Os elementos que compõem o sedi- mento podem sofrer muitas modificações estruturais, devido a mudanças de pH, decomposição bacteriana, baixa densi- dade de algumas urinas muito diluídas, alterações provocadas por medicamen- tos e pelo tipo de dieta, etc. Muitas vezes, apresentam artefatos e contaminantes de difícil identificação. Tudo isto torna necessário um procedimento cuidadoso e meticuloso, para evitar possíveis falhas que, posteriormente, venham comprome- ter o diagnóstico clínico. A coleta de urina é essencial; portanto, é importantíssimo ressaltar a necessida- de da utilização de frascos bem limpos e devidamente identificados. A amostra de urina deve ser recente e colhida segundo o pedido médico. Caso não haja recomendação especificada, colher a primeira urina da manhã, que é mais concentrada; as urinas hipotônicas 14 15 podem causar lise celular e dois cilindros. Nos homens, colher o segundo jato; nas mulheres, após higiene íntima. Isto evita- rá contaminações com a secreção vaginal, uretral ou prostática. Os elementos do sedimento que de- vem ser descritos são: a) os leucócitos e piócitos. b) as hemácias. c) as células epiteliais. d) os cilindros (classificados em hiali- nos, epiteliais, hemáticos, leucocitários e finos e longos). e) os cristais (uratos amorfos, oxala- to de cálcio, ácido úrico, leucina, tirosina, cistina, ácido hipúrico, fosfatos amorfos, fosfato triplo, carbonato de cálcio, fosfa- to de cálcio). f) muco e filamentos. g) flora bacteriana. Quando presente deve ser também anotado também no exame de urina: 1. Presença de fungos ou leveduras – pode ser observada em urina de mulheres ou em diabéticos, ou por contaminação. 2. Presença de Trichomonas vagi- nalis – pode ser observada em infecções provocadas por este parasita. Pode es- tar presente em várias quantidades. Tem grande interesse clínico. 3. Presença de gordura – pode apare- cer em casos de degeneração tubular ou por contaminação. 4. Presença de espermatozóides – pode aparecer na espermatorreia. Anotar somente em urina de homens. 5. Presença de cristais de substân- cias não identificada se não for identifica- do, mas presumir-se a sua origem, anotar. Ex.: sugestivo de sulfa. Surgindo qualquer alteração nas pes- quisas, quanto à morfologia dos elemen- tos, esta deve ser assinalada, pois nem sempre o paciente segue rigorosamente as prescrições médicas, no que se refere a medicamentos, dietas, etc. Para concluir, Wada (2008) chama aten- ção para os casos de fístulas, em que são encontrados detritos fecais no sedimen- to. Assinalar também nas observações. 2.5 Cálculos urinários Cálculos urinários são concreções sóli- das, formadas no trajeto das vias urinárias (rins, bacinete, ureter e bexiga). Resultam de deposição, por causas ainda não bem esclarecidas, de material insolúvel. Em geral, a deposição das substâncias insolú- veis se faz, paulatinamente, por camadas, o que confere aos cálculos, visto em corte, um aspecto característico. A natureza química dos mesmos é va- riável e a composição pode diferir de uma camada para outra; por isso, a análise deve ser efetuada no cálculo inteiro, ou numa parte que possa refletir a natureza do conjunto. Os cálculos podem ser classificados de acordo com a natureza química, ressal- tando que não são totalmente puros e po- dem ainda vir combinados com sangue e pigmentos biliares. 1. Ácido úrico e uratos – sempre colo- ridos, desde amarelo pálido até vermelho- -pardo; superfície, em geral, lisa, podendo também ser áspera e irregular. 2. Fosfatos – em geral, formados de 14 15 fosfatos alcalinoterrosos e de fosfato triplo; frequentemente, vêm misturados com uratos e oxalatos. A superfície é, ge- ralmente áspera, mas podendo ser lisa. 3. Oxalato de cálcio – são extrema- mente duros, existindo duas formas em sementes de linhaça (pequenos e lisos) e muriformes (de tamanho médio irregular). 4. Carbonato de cálcio – são, em geral, pequenos, esféricos, lisos e duros, bran- cos ou acinzentados. Raros no homem. 5. Cistina – são pequenos, lisos, ovais ou cilíndricos, brancos ou amarelos e mui- to moles. São raros. 6. Xantina – cor variando do branco ao amarelo pardacento. Muitas vezes, a xan- tina se acha associada a ácido úrico e ura- tos. Muito raros. 7. Urostealita – formado, principal- mente, de gordura e ácidos graxos. Quan- do úmidos são moles e elásticos, porém, quando secos, tornam-se quebradiços. Muito raros. 8. Fibrina – constituem o núcleo de ou- tros cálculos. São raros. 9. Colesterol – semelhantes aos de cis- tina. Raros. 10. Indigo – são azuis. Extremamente raros. Ilustração de alguns tipos de cálculos urinários 2.5.1 Marcha analítica para análise de cálculos uri- nários Reativos a) Ácido acético glacial. b) Ácido acético a 5%. c) Ácido clorídrico concentrado. d) Ácido clorídrico a 10%. e) Ácido sulfúrico concentrado. f) Anidrido acético. g) Carbonato de sódio a 20%. h) Clorofórmio. i) Hidróxido de amônio concentrado. j) Hidróxido de potássio a 5%. k) Hidróxido de sódio a 10%. l) Hidróxido de sódio a 20%. m) Soluçãosaturada de oxalato de 16 17 amônio. n) Solução do amarelo Titan a 0,05%. o) Solução saturada de Sudan III em ál- cool a 70°. p) Reativo fosfotúngstico – igual ao da dosagem de ácido úrico. q) Reativo de molibdato – a 20 g de ácido molíbdico (livre do amoníaco), adi- cionar 25 mL de hidróxido de sódio a 20%. Aquecer ligeiramente para dissolver. Es- friar e diluir para 250 ml, com água desti- lada. Antes do uso, misturar ácido sulfúri- co concentrado, em partes iguais. r) Reativo de Nessler – em um balão volumétrico de 100 mL, adicionar 10 g de iodeto de mercúrio (HgI2), 7 g de iodeto de potássio (KI) e juntar cerca de 70 mL de água destilada. Agitar, até dissolver com- pletamente. Em outro recipiente, dissol- ver 10 g de hidróxido de sódio em cerca de 40 mL de água destilada. Deixar esfriar e passar para o balão volumétrico, com agi- tação. Completar para 100 mL, com água destilada. Utilizar após 2 ou 3 dias de re- pouso. Se houver formação de precipita- do, decantar o sobrenadante e conservar em frasco escuro. s) Papel indicador. 2.6 Cálculos biliares Os cálculos biliares, ou pedras de vesí- cula, formam-se frequentemente na vesí- cula biliar, mas podem também existir no canal colédoco e, mais raramente, nos ca- nais biliares. Existem cinco tipos de cálculos bi- liares. 1. Cálculos colesterínicos – são fre- quentes; de cor branco-acinzentada, de consistência cérea e de textura radiada. São constituídos apenas de colesterol. 2. Cálculos cálcio-colesterínicos – fre- quentes; esbranquiçados ou amarelos, de textura cristalina e estratificada. Com- põem-se de colesterol e cálcio. 3. Cálculos cálcio-colesterínicos pig- mentários – são os mais frequentes; de cor variável, desde o pardacento até o preto. Constituem-se de colesterol e bilir- rubinato de cálcio; neles se encontra tam- bém, embora raramente, a biliverdina. 4. Cálculos cálcio-pigmentários – mui- to raros; são constituídos de bilirrubinato de cálcio. 5. Cálculos inorgânicos – raríssimos no homem, compõem-se de carbonato e fos- fato de cálcio. 2.6.1 Marcha analítica para cálculos biliares Reativos a) Ácido sulfúrico concentrado. b) Álcool etílico. c) Anidrido acético. d) Clorofórmio. e) Éter etílico. f) Solução de acetato de sódio a 20%. g) Solução de oxalato de amônio a 4%. h) Solução de ácido clorídrico a 4%. i) Solução tiocianato de potássio a 10%. j) Solução de ácido nítrico-nitroso: Ni- trito de sódio - 100 mg; Ácido nítrico con- centrado - 100 mL. k) Solução estoque de verde de bro- mocresol: Verde de bromocresol - 0,1 g; Solução de hidróxido de sódio 0,05N - 3,2 16 17 mL; Água destilada - qsp 100 mL. Para o exame qualitativo, tritura-se o cálculo inteiro em um gral, deixando uma parte do pó e guardar o restante para verificações comprobatórias ou análises complementares. Observações: Os cálculos contendo pigmentos, cálcio e colesterol são, geralmente, concreções de colesterol e bilirrubinato de cálcio. A biliverdina ocorre raramente nos cálculos. No homem, são raros os cálculos de bilirrubina e material inorgânico, mas em outros animais, como o gato, esses cálcu- los são frequentes. No homem, o cálculo mais comum é o misto de colesterol e bilir- rubinato de cálcio. Ainda não se conhece a causa pela qual se formam os cálculos biliares. Sabe-se que fatores locais são importantes, bem como a composição e a concentração de bile, devido a sua estagnação na vesícula. As infecções constituem também fator importante, sobre quando determinam lesões nas paredes da mucosa da vesícula biliar. A dieta rica em colesterol constitui também fator que deve ser considerado (WADA, 2008). 2.7 Regras básicas para co- lheita e manipulação de amostras Segundo Dellalibera-Joviliano (2010), para analisar amostras de urina, alguns cuidados devem ser tomados, como não manipular as amostras sem luvas e nem centrifugá-las sem tampa. O descarte pode ser feito em uma pia, contanto que grande quantidade de água seja jogada depois e o recipiente onde a amostra é colocada deve ser descartado como lixo com risco biológico. Se após a colheita e a amostra não receber os cuidados neces- sários para manter sua integridade, ocor- rem alterações na composição da urina tanto in vivo como in vitro (STRASINGER, 2000). Em um laboratório, são obedecidas três regras básicas de como proceder com a amostra urinária quando che- ga para ser analisada: 1) A coleta deve ser feita em um re- cipiente seco e limpo, de preferência descartável, diminuindo as chances de ocorrer contaminação. Há recipientes de diferentes tamanhos, inclusive bolsas de plástico com adesivo para uso pediátrico; uso preferencial de tampas com roscas para evitar vazamentos. 2) O recipiente dever possuir identifica- ção com uso de etiquetas contendo nome do paciente, data e hora da colheita; no- mes do médico e do hospital também po- dem ser identificados. O uso de etiqueta garante a autenticidade do resultado, serve com um fator de controle de quali- dade. 3) Depois de coletada, a amostra deve ser entregue ao laboratório imediata- mente e analisada em 1 hora; se isto não for possível, é necessário refrigerar ou adicionar conservantes químicos à amos- tra (STRASINGER, 2000). Quanto ao tipo de amostra para que seja realmente representativa do estado metabólico do paciente, muitas vezes é necessário controlar certos aspectos da coleta, como hora, duração, dieta e medi- 18 19 camentos ingeridos e método de colheita. É importante dar instruções aos pacien- tes quando eles tiverem de seguir proce- dimentos especiais de colheita. Amostras aleatórias (ao acaso): é útil nos exames de triagem, para detectar anormalidades bem evidentes. Contudo, pode produzir resultados errados, devi- do à ingestão de alimentos ou à atividade física realizada pouco antes da coleta da amostra. Primeira amostra da manhã: é a amostra ideal para o exame de rotina ou tipo I. Trata-se de uma amostra concen- trada, o que garante a detecção de ele- mentos figurados que podem não estar presentes nas amostras aleatórias mais diluídas. Amostra em jejum (segunda da manhã): difere da primeira da manhã por ser resultado da segunda micção após um período de jejum. Não conterá metabóli- tos provenientes dos alimentos ingeridos antes do início do período de jejum, sendo recomendada para monitorização da gli- cosúria. Amostra colhida duas horas após a refeição (Pós prandial): faz-se a prova da glicosúria, e os resultados são utilizados principalmente para monitorar a terapia com insulina em portadores de diabetes melito. Amostra para teste de tolerância à glicose: as amostras de urina são colhi- das no mesmo instante em que se colhe o sangue para se fazer o teste de tolerância à glicose. O número de amostras pode va- riar. Na maioria das vezes, as amostras são colhidas em jejum, depois de meia hora, depois de uma hora, depois de duas horas e depois de três horas, consecutivamente após a ingestão da carga de glicose neces- sária na prova de tolerância à glicose. Amostra de 24 horas: é utilizada, pois muitas vezes é necessário medir a quantidade exata de determinada subs- tância química na urina, ao invés de regis- trar apenas sua presença ou ausência. No laboratório, a amostra deve ser homoge- neizada e seu volume deve ser medido e registrado com precisão. Amostra colhida por cateter: a amostra é colhida em condições estéreis, passando-se pela uretra um cateter que chegue até a bexiga. A finalidade mais comum desse tipo de amostra é a cultu- ra bacteriana. Outra condição menos fre- quente, é a avaliação da função de cada rim, isoladamente. Coleta estéril de jato médio: é um método mais seguro e menos traumático de se obter urina para cultura bacteriana. É necessário orientar o paciente sobre os métodos de higiene da genitália, com ins- truções para coleta apenas da parte mé- dia do jato de urina. Aspiração suprapúbica: a urina é colhida por introdução de uma agulha que, do exterior,atinge a bexiga. Esse método proporciona amostras para cultu- ra de bactérias completamente isentas de contaminação externa. Também pode ser usado para exame citológico. Prova de Valentine (coleta de três frascos): esse procedimento é semelhan- te ao da coleta de jato médio; é usado para a detecção de infecções da próstata (co- lher 1º e 2º jato de urina separadamente e o 3º jato/amostra após massagem pros- tática). 18 19 Amostras pediátricas: Para este tipo de coleta, são utilizados coletores de plástico transparente com adesivos que se prendem à área genital de crianças de ambos os sexos, para coleta de amostras de rotina. Quando a coleta tem que ser feita em condições estéreis, a cateteriza- ção ou a aspiração suprapúbica são utili- zadas. Recomenda-se cuidado na hora de manipular a bolsa plástica para não tocar seu interior; para as análises bioquímicas quantitativas, existem bolsas que pos- sibilitam a inserção de um tubo, transfe- rindo-se o excesso de urina para um reci- piente maior (STRASINGER, 2000). 20 2120 UNIDADE 3 - Parasitologia As doenças parasitárias continuam a ser um problema significativo no mundo todo, especialmente nas áreas tropicais e subtropicais de países em desenvolvi- mento. Campos et al. (1988) e Hoshino-Shi- mizu et al. (2003) confirmam que as infec- ções por enteroparasitos estão entre os mais frequentes agravos infecciosos en- contrados em todas as áreas geográficas do planeta, mostrando-se mais frequen- tes em países temperados. Estima-se que o número de infectados no mundo seja de aproximadamente 3,5 bilhões de pessoas. No Brasil, este tipo de parasitose ainda se encontra disseminada e com alta preva- lência, sendo que 130 milhões de habitan- tes são acometidos por alguma espécie de parasito intestinal. Doenças como a malária, que estava sob razoável controle em várias áreas, estão novamente aumentando sua incidência. Não apenas o relaxamento de medidas de controle como também o surgimento de cepas de insetos resistentes a inseticidas estão contribuindo para isso, portanto, é fundamental a participação do laborató- rio clínico na confirmação do diagnóstico das infecções parasitárias. O diagnóstico clínico e acurado das pa- rasitoses humanas é difícil, por isso deve- -se buscar através do exame laboratorial, o auxílio para a diferenciação do agente etiológico. Assim, para os parasitos intes- tinais e do sangue, a demonstração mor- fológica do(s) estágio(s) de diagnóstico é o principal meio para estabelecer uma diagnose diferencial e definitiva (SOUZA; AMOR, 2010). 3.1 Cuidados básicos no exame parasitológico Vimos falando ao longo do curso sobre a questão da biossegurança. Aqui tam- bém ela se faz presente, embora saiba- mos que os laboratoristas venham bus- cando por capacitação, são conscientes e sensibilizados em relação à infectabilida- de dos materiais colhidos dos pacientes para análise. De todo modo, não custa sublinhar algumas informações: sangue ou amostras de tecidos con- tendo parasitas da malária, tripanosso- mas, leishmanias ou taxoplasmas podem causar infecção se houver uma solução de continuidade na pele; podem também ser infecciosas amos- tras de fezes frescas contendo cistos de protozoários, trofozoítos de Dientamo- eba fragilis, ovos de Enterobius vermicu- laris, Hymenolepis nana ou Taenia solium, ou amostras contendo larvas filariformes de Strongyloides stercoralis; amostras de fezes colhidas a mais tempo podem conter larvas filariformes de ancilostomídeos ou de Trychostron- gylus sp ou ovos embrionados de Ascaris lumbricóides ou Trichuris Trichiura; tanto as fezes como qualquer outro material submetido a exame parasitoló- gico, podem conter bactérias como Sal- monella, Shigella, Campylobacter, etc. ou vírus altamente patogênico como rotaví- 20 2121 rus, poliovírus, vírus da hepatite, da AIDS e outros (MOURA, 2008). Todas as amostras devem ser conside- radas infecciosas, do mesmo modo que qualquer outro material recebido no labo- ratório, para exame, portanto, quando for necessária a manipulação de materiais a fresco, deve-se empregar técnicas assép- ticas e de desinfecção iguais às usadas em microbiologia. 3.2 Métodos empregados O diagnóstico de laboratório das para- sitoses compreende métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos envolvem: a) o en- contro do parasita ou de um de seus está- gios evolutivos no material colhido de um paciente; e, b) a multiplicação do parasita por meio de cultura ou pela inoculação de animais, possibilitando a demonstração dos mesmos. No laboratório clínico, o diagnóstico das parasitoses geralmente é feito pela de- monstração do parasito ou de um de seus estágios evolutivos, através de seus as- pectos macroscópicos ou microscópicos, após coloração ou não, dependendo do caso. A demonstração da presença de alguns parasitos pode necessitar de métodos de cultura ou de inoculações de animais. Con- tudo, os laboratórios clínicos não estão preparados para isso e o custo envolvido na infraestrutura necessária não poderia ser repassado aos clientes. Como exem- plo, citamos as culturas para Trichomonas vaginalis, Trypanosoma cruzi, Leishmania brasiliensis, as inoculações de macacos, camundongos, cobaias, etc. ou o xeno- diagnóstico (que utiliza ninfas de triato- mídeos criados em laboratório e alimenta- dos em aves). Essas técnicas são reservadas a Cen- tros especializados, ligados a Universi- dade ou a laboratórios centrais de Saúde Pública (MOURA, 2008). Os métodos indiretos envolvem: a) re- ações imunológicas com as quais se pes- quisa, “in vitro”, a presença de anticorpos produzidos pelo paciente contra os para- sitos ou seus antígenos purificados; e, b) reações intradérmicas, pesquisando-se a imunidade no próprio paciente. Na pesquisa de anticorpos “in vitro”, os métodos sorológicos pressupõem a existência de antígenos confiáveis, bons antissoros de referência, tecnologia apro- priada e, no laboratório clínico, somente podem ser realizadas para algumas infec- ções parasitárias, cujos reagentes e seus controles são produzidos industrialmen- te. As técnicas sorológicas das parasito- ses, por parte dos laboratórios clínicos envolvem reação de aglutinação passiva (do látex) para anticorpos antiamebianos, reações de fixação de complemento para doença de Chagas (reação de Machado Guerreiro), para a cisticercose (reação de Weinberg) e para toxoplasmose e reações de imunofluorescência para toxoplasmo- se e para doença de Chagas, além de ou- tras que estão sendo introduzidas, mas não nos laboratórios clínicos. O preparo dos reagentes é dificulta- do por antígenos diferentes por vezes presentes nos diversos estágios do ciclo evolutivo do parasita e pelas reações cru- zadas dos antissoros com antígenos não 22 23 pertencentes ao parasita em estudo. As técnicas das reações feitas no la- boratório clínico devem seguir à risca as instruções dos fabricantes, para que os resultados tenham significado. Geralmente só há um resultado signifi- cativo se o título obtido no soro de um pa- ciente, colhido na fase aguda, aumentar pelo menos quatro vezes no soro colhido em fase de convalescença. Em muitas pa- rasitoses, que se cronificam, esse aumen- to de título não pode ser demonstrado. Em algumas situações, é possível a medi- da de anticorpos das classes IgG, IgM ou IgA (MOURA, 2008). Quanto às reações intradérmicas, do mesmo modo que na bacteriologia e na mi- cologia, essas reações estão sendo cada vez menos usadas nos laboratórios clíni- cos (MORAES; PAES; HOLANDA, 2005). Os antígenos encontrados à venda em geral não são confiáveis. A única exceção é a shistosomina, produzida industrial- mente por um laboratório multinacional. Os demais antígenos, quando encontra- dos à venda, são produzidos por peque- nos laboratórios não identificados, não são padronizados, não têm seu prazo de validade declarado nem indicação de sua potência. Se confiáveis, os seguintes antígenos poderãoser úteis: toxoplasmina, leishma- nina e shistosomina. 3.3 Controle de qualidade Para o controle de qualidade em labora- tório de Parasitologia Clínica há uma preo- cupação em evitar o diagnóstico laborato- rial incorreto, que tem em sua origem dois tipos de erros: erros de procedimento pelo uso in- correto do microscópio, da preparação inapropriada dos esfregaços, da deficiên- cia do exame ao longo das etapas de pre- paração, de uma observação rápida das preparações, da falha no uso de aparelhos de medida, do erro de técnicas; erros de interpretação que ocorrem pela falta de conhecimento das várias es- pécies, da presença de artefatos (como no caso dos exames de fezes), das variações morfológicas apresentadas por microrga- nismos (DE CARLI; OLIVEIRA, 2001). Em 1979, Chaves et al. afirmaram que apesar da existência de inúmeros méto- dos, qualitativos e quantitativos, propos- tos para o exame parasitológico de fezes, todos têm sido objeto de críticas variadas, quer pela complexidade e baixa sensibili- dade quer pelo elevado custo de execu- ção, restringindo suas utilizações na ro- tina laboratorial de exame de fezes, mas essa realidade veio mudando ao longo do tempo. Hoje já se trabalha com o pensamen- to que coloca o nível da performance de qualquer diagnóstico de laboratório em Parasitologia Clínica como um reflexo di- reto do treinamento e da qualificação do pessoal técnico, dos recursos do laborató- rio e dos esforços positivos concernentes à melhoria do desempenho. O Controle de Qualidade (CQ) in- clui: a) preparação adequada, armazena- mento e preservação dos espécimes sub- metidos ao diagnóstico. b) avaliação permanente dos reativos e reagentes. 22 23 c) monitoramento do equipamento. d) correta supervisão e treinamento periódico da equipe técnica. e) uso de manuais de procedimentos, revistas específicas e referências biblio- gráficas, as quais sempre deverão estar à disposição dos técnicos e analistas dos laboratórios (DE CARLI, 1994). Todas as atividades realizadas pelo la- boratório são diretamente conduzidas por um programa de Garantia da Qualidade (GQ) que assegura a qualidade de todo o processo. Relembremos as Boas Práticas Labo- ratoriais (BPL) que são normas, dispostas neste programa, que disciplinam a orga- nização, o funcionamento e as condições sob as quais os exames são planejados, registrados, liberados e como as amostras são preservadas e descartadas e os resul- tados arquivados. Essas normas incluem: atividades pré-analíticas (treinamen- to do pessoal técnico, preparação do pa- ciente, colheita da amostra, qualidade e volume das amostras, transporte e iden- tificação das amostras); atividades analíticas (manual de pro- cedimentos para processamento dos es- pécimes e identificação dos parasitos em seus estágios de diagnóstico; descrição dos métodos e/ou das técnicas; plano de ação corretiva quando os resultados es- perados não são obtidos); atividades pós-analíticas (informa- ções verbais, escritas ou por meios eletrô- nicos, do laboratório ao clínico, permitindo tratamento imediato do paciente; infor- mações relacionadas com a qualidade dos espécimes fecais) (GARCIA; BRUCKNER, 1997 apud SOUZA; AMOR, 2010). O CQ interno, um dos componentes do programa de CQ, consiste na documen- tação do correto funcionamento dos re- agentes e equipamentos em determina- dos intervalos de tempo e na avaliação da performance das amostras individuais, e, dentro de cada lote, na realização de es- tudos de reprodutibilidade. No CQ interno, é necessário e importante seguir as se- guintes fases: a) controlar o corante após nova prepa- ração (ou quando um novo número de lote é comprado) e anotar o período de valida- de no rótulo do frasco. b) controlar semanalmente os métodos de coloração permanente com amostras positivas e registrar todos os resultados do CQ. c) quando amostras positivas não são disponíveis, usar fezes contendo células epiteliais ou pus (STERWART; KOEPKE, 1989 apud SOUZA; AMOR, 2010). Todo laboratório de Parasitologia deve ser submetido a programas de proficiên- cia (Controle de Qualidade Externo) para pôr em prática uma imparcial avaliação dos procedimentos de diagnóstico. O con- trole deve ser aplicado a todas as áreas da Parasitologia. A existência de um material de referência é de importância primordial na comparação das amostras clínicas com os organismos desconhecidos durante os treinamentos regulares e no treinamento dos novos analistas. O material ideal in- clui: ovos e larvas de helmintos e cistos de 24 25 protozoários intestinais preservados no formaldeído; esfregaços permanentes corados para o estudo de oocistos, cistos e trofo- zoítos de protozoários intestinais; slides coloridos, atlas, livros, carta- zes fixados às paredes e manuais de di- ferentes autores usados como materiais de referência, indispensáveis para o fun- cionamento de qualidade do laboratório (NEIMEISTER, 1992 apud SOUZA; AMOR, 2010). 3.4 Exame parasitológico de fezes Muitos tipos de materiais podem ser submetidos a exame parasitológico. Os materiais mais comuns são amostras de fezes para pesquisa de protozoários e hel- mintos, preparações perianais para a pes- quisa de Enterobius e esfregaços de san- gue para o diagnóstico da malária e para o encontro de tripanossomas e microfi- lárias. Podem ser pesquisados parasitos também em lesões de pele, no escarro, no sedimento urinário, nas secreções va- ginais e uretrais, no líquido cefalorraqui- diano, em biópsias, em aspirados endos- cópicos, etc. (PRICE, 1993 apud SOUZA; AMOR, 2010). Para permitir a identificação do parasi- to suspeito, o material deve ser apropria- damente colhido, e no tempo mais indi- cado, de acordo com as características da doença suspeitada. As normas de colheita de todos os materiais utilizados em labo- ratório podem ser vistas no livro “Colheita de material para exames de laboratório”, de R. A. Moura, publicado pela Livraria Atheneu. Vamos apresentar um roteiro básico sobre a colheita de amostras de fezes, seu transporte e citar alguns méto- dos diretos e indiretos. As fezes formadas devem ser colhidas em recipientes limpos ou mesmo sobre papel e transferidas (5 a 10 g) para uma la- tinha ou um frasco de boca larga com tam- pa, por meio de uma espátula descartável. Fezes líquidas devem ser colhidas em recipientes limpos e transferidas para um frasco de boca larga, com tampa. Essas fezes líquidas são emitidas normalmente por pacientes com diarreia, na fase aguda de certas parasitoses ou podem ser indu- zidas pela administração de um purgativo salino (30 g de sulfato de sódio em um copo de água, para um adulto) ou por um enema com solução salina fisiológica. Enquanto que em fezes formadas ou pastosas encontramos facilmente cistos de protozoários ou ovos e larvas de hel- mintos, a pesquisa de trofozoítos neces- sita de fezes liquefeitas. As amostras de fezes não podem es- tar contaminadas com água, urina ou com terra, pois tais elementos causam a dege- neração de alguns parasitos ou introdu- zem organismos de vida livre, que podem confundir o diagnóstico. Amostras contendo bismuto, bário ou óleo mineral não são satisfatórias, bem como amostras colhidas após a adminis- tração de terapêutica antidiarreica ou an- tiácida. Em todos esses casos, a amostra deve ser colhida pelo menos uma semana depois. A administração de antibióticos pode baixar o número de protozoários detectáveis, especialmente amebas. As amostras enviadas ao laboratório devem ser rotuladas com a identificação do pa- 24 25 ciente e com a hora e a data da colheita. Para alguns parasitos, que são elimina- dos intermitentemente, são necessários vários exames (geralmente três), colhidos em intervalos de 2 a 3 dias. As amostras de fezes formadas devem ser enviadas ao laboratório logo após a colheita, à tem- peratura ambiente ou sob refrigeração, preferentemente antes de duas horas de colhidas. Para fezes pastosas ou líqui-das esse tempo é crítico, pois, contendo provavelmente trofozoitos, estes vão se degenerar rapidamente. Nunca devemos conservar fezes em estufa, pois a tempe- ratura acelera a degeneração de muitos parasitos. Se a temperatura ambiente for eleva- da ou se houver uma previsão de maior demora como distância do laboratório, demora imposta pela rotina diária do labo- ratório ou pela colheita em fins de sema- na, se a colheita é realizada em hospitais ou em postos de colheita, as amostras de fezes devem ser preservadas em solução fixadora e conservadora de MIF. Dentre os métodos usados para exame parasitológico de fezes temos: método direto – as fezes são exami- nadas ao microscópio, entre lâmina e lamí- nula, diluídas numa densidade que dê para se ler as letras de um jornal através do preparado. Podem ser usadas fezes nor- malmente emitidas (formadas, pastosas ou líquidas) ou após purgativo (líquidas), tanto preservadas em MIF ou formalina como sem preservativos (se colhidas an- tes de duas horas do exame); método de concentração de fezes – eles facilitam o encontro de parasitas diminuindo as matérias fecais na prepa- ração a ser observada ao microscópio, concentrando os parasitas baseando nas diferenças de densidade existente entre as formas dos parasitas e o material fecal ou fazendo com que certas larvas migrem para fora do material fecal e sejam con- centradas no fundo de um funil. Os três métodos envolvem: a) Sedimentação, com os parasitos sendo concentradas no sedimento obtido por gravidade ou cen- trifugação; b) Flutuação, onde os para- sitos flutuam ou são condensados num sedimento por meio de uma solução de densidade diferente da sua. A desvanta- gem destes métodos de flutuação é que se as fezes forem preservadas, podem causar distorção em cistos de protozoá- rios e larvas ou mesmo causar a abertura de opérculos, impedindo o parasito de flu- tuar. Se a amostra for primeiramente fixa- da em formalina, essa inconveniência não ocorre; c) Migração, onde certas larvas vi- vas migram para fora do material fecal e são coleta das no fundo de um funil. São métodos de concentração por sedimentação: Método de Hoffmann. São Método de concentração por flutuação: Método de Ritchie para fezes frescas; Método de Ritchie para fezes preservadas; Método de Faust; Método de Willis. São Método de concentração por mi- gração: Método de Baermann; Método de Rugai; método de contagem de ovos nas fezes. 3.5 Exame parasitológico do sangue Em geral são colhidas amostras de sangue periférico, sem anticoagulantes, 26 27 por punção da polpa digital ou do lobo da orelha. Pode ser usado sangue com anti- coagulante se as preparações forem fei- tas dentro de 1 hora após a colheita, mas as colorações de preparações feitas com sangue sem anticoagulante se coram me- lhor. Para determinados exames, como na pesquisa de microfilárias pelo exame a fresco, é colhido sangue venoso em EDTA. O exame microscópico desse sangue, logo após a colheita (sangue puro ou diluído com solução fisiológica), evidencia as mi- crofilárias móveis. Afora esses raros exames, no laborató- rio clínico não se faz pesquisa de parasitos em preparados de sangue a fresco, isto é, sem coloração. Mesmo quando o exame a fresco é possível, o encontro do parasito é problemático. O sangue colhido é sistematicamen- te depositado em lâmina de microscopia, para a elaboração de esfregaço e de gota espessa, recomendando-se que as duas preparações sejam feitas, mas em lâminas separadas, pois são processadas de modo diverso. As lâminas usadas devem ser no- vas, isentas de gordura e não podem estar riscadas. Quanto a hora da colheita do sangue, é preciso atentar que o encontro de pa- rasitos no sangue periférico varia com a espécie do parasito, com o ciclo evolutivo e com o grau de infecção. Algumas amos- tras de sangue contêm poucos parasitos e podem passar como negativas. Outras vezes, como na malária, os trofozoítos jo- vens se apresentam em forma de anel, o que dificulta a identificação da espécie. De acordo com os argumentos acima, o melhor horário para a colheita de amos- tras de sangue é a metade do tempo en- tre as crises de febre. Essa regra, no en- tanto, não é rígida. Se houver suspeita da presença de Plasmodium faciparum, es- pecialmente no estágio agudo precoce, os parasitos podem ser numerosos no mo- mento do pique da febre. Algumas micro- filárias (por exemplo, a Wuchereria ban- crofti) podem ser encontradas somente à noite, entre as 22 horas e as 2 horas da madrugada. Os esfregaços de sangue apresentam uma grande área, na lâmina de microsco- pia, na qual a camada celular é única e as hemácias estão ligeiramente separadas entre si, portanto, as lâminas devem ser cuidadosamente preparadas, de acordo com a técnica de preparo de esfregaços. Ao preparar uma lâmina de gota espes- sa, devemos tomar as mesmas precau- ções de limpeza da lâmina de microscopia exigidas na preparação de esfregaços he- matológicos, ou seja, coloca-se 2 a 3 gotas de sangue no centro da lâmina de micros- copia e com o canto de outra lâmina, espa- lha-se o sangue numa área de 1 cm2. Não pode ser colocado pouco sangue na lâmina, para que o material não seja apenas um esfregaço pequeno, nem o material pode ficar muito espesso, para não descolar durante o processo de colo- ração. Espalhado o sangue na pequena área, a lâmina é deixada em posição horizontal para secar em temperatura ambiente, o que leva em média algumas horas e a colo- ração é feita no dia seguinte. Enquanto os esfregaços de sangue têm de ser fixados por imersão em metanol (álcool metílico), 26 27 por alguns segundos e secos ao ar, as pre- parações de gota espessa não podem ser fixadas. No caso de gota espessa, é necessário que o corante (aquoso) lise as várias ca- madas de hemácias, o que a fixação iria impedir. Se o corante não for aquoso, as lâminas devem ser antes desemoglobina- das com água destilada. Em parasitologia de laboratório clínico usa-se, em geral, a coloração de Giemsa, tanto para esfregaços (já fixados pelo metanol), como para gota espessa recen- te, preparada até 24 horas antes. Ultrapassado esse tempo, as prepara- ções de gota espessa devem ser hemo- lisadas em água, antes da coloração. Se muito antigas, as lâminas devem sofrer o seguinte tratamento: devem ser primei- ramente mergulhadas em formalina a 2% durante 5 minutos e, sem serem lavadas, são mergulhadas em solução de Known (ácido acético a 2%, 80 mL e ácido tartá- rico a 2%, 20 mL). Lavar em seguida, por duas vezes, em água tamponada, pH 7,2 e secar ao ar. O corante de Giemsa em pó é de difícil preparo no laboratório e deve ser compra- do pronto, de boa procedência (MOURA, 2008). 3.6 Exame parasitológico de secreções de úlceras da pele O exame da secreção vaginal para a pesquisa de Trichomonas vaginalis é um exame muito solicitado ao laboratório clí- nico, especialmente agora, que a tricomo- níase é considerada doença sexualmente transmissível. O material deve ser colhi- do pela manhã, antes da higiene íntima e sem que a paciente esteja em tratamen- to. Deve ser colhido bastante material, se possível com pipeta e colocado em tubo estéril contendo solução salina estéril. Enviar imediatamente ao laboratório. O melhor material é colhido com uso de espéculo vaginal sem lubrificante, dire- tamente do fundo de saco vaginal (saco de Douglas). Havendo suspeita médica e, mesmo sem a paciente ter se lavado, for encontrada pouca secreção, fazemos uma lavagem do fundo de saco com 4 a 6 mL de solução fisiológica estéril e recolhemos o líquido, para exame. Se o material for abundante pode ser colhido com “swab” de algodão estéril e imediatamente mer- gulhado em solução fisiológica, também estéril. O material colhido deve ser examinado entre lâmina e lamínula (a fresco), para se procurar formas de Trichomonas, móveis (trofozoitos). Se o material for muito es- pesso, diluímos com solução fisiológica. Se muitoescasso, centrifugamos e exa- minamos o sedimento. Alguns livros re- comendam colorações para Trichomonas, mas na prática, não funcionam a contento. São raras as formas que se coram, mes- mo numa preparação rica em trofozoítos (MOURA, 2008). No homem, é difícil o encontro de Tri- chomonas vaginalis, pois estes parasitos estão aderentes ao epitélio do meato uri- nário e raramente são eliminados no ma- terial eliminado pela uretra, em quantida- de suficiente para serem detectados. É necessária uma raspagem da uretra, com uma pequena cureta ou mesmo com a alça bacteriológica. 28 2928 Para a raspagem, o instrumento usado é introduzido na uretra, numa profundi- dade de 2 a 2,5 em, é rodado e retirado. O material é suspenso numa gota de solução fisiológica previamente colocada numa lâ- mina de microscopia, coberto com lamínu- la e examinado com médio aumento. Não devemos usar “swab” na colhei- ta, pois o material, que é escasso, iria ser absorvido pelo algodão e as Trichomonas não seriam detectados. A pedido do médico assistente, pode- mos procurar Trichomonas na secreção uretral (ou no sedimento urinário da urina do 1º jato), após massagem prostática. A secreção uretral é colhida com alça bac- teriológica e transferida para um tubo de ensaio contendo uma pequena quantida- de de solução fisiológica (cerca de 0,5 mL). Dependendo da região geográfica em que se situa o laboratório clínico, terá necessidade de procurar parasitos em úlceras cutâneas, para o diagnóstico da leishmaniose. Essas lesões são ulcera- ções de bordos endurecidos, fundo gra- nuloso, indolores, sangram facilmente e só se apresentam nas partes descobertas do corpo. Os esfregaços (do tipo usado em bacteriologia) são preparados do se- guinte modo: - limpar bem a área com álcool a 70% e depois com solução fisiológica; - raspar as bordas com uma espátula de metal sem corte e esperar a exsudação da linfa no local raspado; - colher a linfa (evitar pus ou detritos celulares) e preparar duas ou mais lâmi- nas. Secar ao ar e enviar ao laboratório; - a fixação é feita pelo metanol e a colo- ração pelo Giemsa (MOURA, 2008). 28 2929 Esta unidade tratará da cultura de fe- zes para o diagnóstico de várias formas de diarreia e, também, as enterobactérias em geral, uma vez que várias delas podem ser isoladas de materiais não intestinais os mais diversos, como os provenientes do trato urinário, de infecções, etc., onde são patogênicas. Além de enterobacté- rias, focaremos um grupo heterogêneo de bacilos e coco-bacilos Gram-negativos, que produzem um apreciável número de infecções e que não se utilizam dos açú- cares empregados na identificação das enterobactérias. São os chamados bacilos Gram-negativos não fermentadores. As enterobactérias ocorrem nas fezes de homens e de animais e são definidas como bacilos Gram-negativos, não es- porulados e que crescem bem em meios artificiais. Podem se apresentar com mo- tilidade e, nesses casos, são flageladas (flagelos peritríquios). Reduzem nitrato a nitrito, utilizam glicose fermentativamen- te, com produção de ácido ou de ácido e gás. A prova de indofenolxidase é negati- va, não liquefazem alginato e a não ser no gênero Erwinia, não liquefazem pectato. Moura (2008) explica com proprieda- de que apesar do nome “enterobactéria” significar bactéria do intestino, é funda- mental que se considere a Família Entero- bacteriaceae participando apenas de uma parte dos germes que vivem no intestino. As fezes contêm cerca de 1011 (100 trilhões) de bactérias por gramo, dos mais diversos tipos: cocos e bacilos Gram-po- sitivos e, coco-bacilos e bacilos Gram-ne- gativos, tanto aeróbios como anaeróbios. São encontráveis também vírus, fungos, parasitos, etc. Esses microrganismos apresentam-se em seus tipos clássicos e também como mutantes, por vezes di- fíceis de serem identificados. Ecologica- mente, esses milhões de germes interfe- rem entre si, através de antogonismos e sinergismos. A família Enterobacteriaceae é com- posta de 20 gêneros, sendo 18 de inte- resse médico, por apresentarem germes patogênicos para o homem ou germes que, isolados de material humano, têm de ser levados em conta para eventuais diag- nósticos diferenciais. Os gêneros de interesse médico são: Escherichia, Shigella, Salmonella, Citro- bacter, Klebsiela, Enterobacter, Erwinia, Serratia, Hafnia, Edwardsiella, Proteus, Providencia, Morganella, Yersinia, Fluyve- ra, Rahnella, Cedecea e Tatumella. Três gêneros podem produzir doença entérica primária (amplas epidemias de diarreia, casos esporádicos ou casos en- dêmicos): Salmonella, que é o agente etio- lógico da febre tifóide e de outras salmo- neloses; Shigella, o agente da disenteria bacilar e certas raças de Escherichia coli, chamadas de enteropatogênicas, entero- toxigênicas e invasivas, e que podem pro- duzir enterite, especialmente, em crian- ças pequenas, atingindo, por vezes, forma epidêmica. As outras enterobactérias são ocasio- nalmente isoladas de fezes provenientes de casos de diarreia ou de pessoas nor- mais. Hoje em dia a tendência é de verifi- UNIDADE 4 - Coproparasitologia 30 31 car a predominância desses microrganis- mos nas fezes de que foram isolados. Não havendo predominância, devemos dar como resultado a seguinte frase: “Presen- ça de flora normal, eutrófica”. Se houver predominância, relatamos: “Flora normal, com predominância de...” ou ainda: “Pre- sença exclusiva (ou quase exclusiva, con- forme o caso, de...”). A justificativa para tal procedimento é simples: como a rotina seguida para a co- procultura visa a detecção principalmente de salmonelas, shigelas e de cepas de Es- cherichia coli enteropatogênicas, grande parte desses germes, se presentes, pas- sam despercebidos. Somente as colônias que eram inicialmente suspeitas de se- rem patogênicas é que são selecionadas (pela coloração, forma, brilho etc.) e que, pela sequência dos exames, são identi- ficadas como uma bactéria diferente. Se não utilizássemos meios seletivos e iden- tificássemos todas as colônias isoladas em coprocultura, o que não é factível em laboratório de análises clínicas, teríamos uma noção melhor da real prevalência desses germes tanto em pessoas com al- guma manifestação clínica como em casos normais. Do modo que procedemos a essas iden- tificações, os resultados são aleatórios e raramente confirmados, inclusive pelo mesmo laboratório. Acrescente-se a isso a confusão que fatalmente leva ao cliente ou a um profissional menos avisado, que tentará “tratar” seu cliente que apresen- tou um isolamento, por exemplo, de Haf- nia (às vezes uma única colônia), de uma amostra de fezes normais ou não (MOU- RA, 2008). Todas as enterobactérias, no entanto, devem ser identificadas e relatadas se fo- rem isoladas de outros materiais. 4.1 Colheita e processamen- to de fezes As amostras de fezes devem ser colhi- das no início da doença diarreica e antes de qualquer tratamento. No laboratório, as amostras devem ser semeadas o mais rapidamente possível e, quando presentes, devemos selecio- nar constituintes patológicos como muco, pus ou pedaços de epitélio. Amostras que não puderem ser semeadas logo após a colheita devem ser colocadas em solução para transporte. Moura (2008) recomenda a salina glice- rinada tamponada: cloreto de sódio, 4,2 g; fosfato dipotássico, 3,1 g; fosfato mono- potássico, 1 g; e vermelho de fenol 0,003 g em 700 mL de água destilada. Misturar e juntar 300 mL de glicerol p.a. Distribuir em frascos de boca larga, com tampa. Esterili- zar a 121ºC, durante 15 minutos. A solução tem o pH 7,2 e deve permanecer rósea. Se estiver ácida, deve ser desprezada, pois terá efeito prejudicial sobre Shigella, caso ela esteja presente. Para estudos epidemiológicos de disen- teria em hospitais e em populações com doença diarreica têm sido usados swabs retais, mas os resultados de culturas po- sitivas são inferiores em comparação com os resultados obtidos de amostras de fe- zes,especialmente se o agente etiológico for Shigella. Apesar disso, foi exatamente esse método de colheita que serviu de base a muitos trabalhos sobre a incidência de Shigella e de outras enterobactérias na 30 31 doença diarreica. 4.2 Isolamento e identifica- ção de enterobactérias pa- togênicas Para o isolamento e a identificação de Salmonella, Shigella e Escherichia coli (raças enteropatogênicas, em fezes de crianças), a tecnologia envolvida torna-se relativamente simples. Em geral, os meios usados no isolamen- to de enterobactérias podem ser dividi- dos em várias categorias, de acordo com sua seletividade: meios não inibidores ágar-sangue, ágar simples; meios diferenciais pouco seletivos para bactérias Gram-negativas aeróbias – meios de Teague (também chamados de meio de eosina- azul de metileno); de ágar-desoxicolato e de Mac Conkey; meio de Hektoen; meios-diferenciais, moderadamen- te seletivos – meio Shigella-Salmonella (também chamado de meio SS) e meio de citrato-desoxicolato; meios altamente seletivos – ágar- -verde-brilhante; ágar-bissulfito de bis- muto. O meio de ágar-verde-brilhante é particularmente útil no isolamento de sal- monelas. Ocasionalmente, raças especiais de Shi- gella não crescem em meio MacConkey ou de SS ou, então, uma Salmonella particu- lar não se desenvolve em ágar-verde-bri- lhante. Por isso, usa-se sempre um esque- ma através do qual as várias categorias de meios de cultura estão representadas. Quanto ao uso dos meios de enriqueci- mento, estes são essenciais para tentati- vas de isolamento de enteropatogênicos de portadores, porém Moura (2008) reco- menda que sejam usados de rotina: meio de tetrationato e caldo-selenito F. No meio de tetrationato, as salmone- las, incluindo S. typhi, aumentam muito de número e algumas Shigellas podem ser isoladas. O meio de selenito-F foi propos- to para o enriquecimento de salmonelas, inclusive S. typhi, mas não para shigelas. Contudo, os meios hoje disponíveis de várias firmas foram ligeiramente modifi- cados, de modo que não raramente são úteis também para o isolamento de shige- las. É importante que se note que tanto o meio de selenito como o de tetrationato podem ser tóxicos para certas raças de Salmonella (por ex., Salmonella cholerae- suis). O esquema a seguir é usado para fezes de adultos, a não ser que o pedido seja para isolamento também de Escherichia coli enteropatogênica. A placa de Teague é semeada com uma alça de suspensão de fezes em água destilada ou solução fisio- lógica e a placa de SS com o dobro desse inóculo. Em ambas as placas, o material é espalhado com a própria alça, em três áre- as distintas, de modo a se obter colônias isoladas. Cerca de 1 mL da suspensão de fezes, ou então 1 g de fezes, é colocado num tubo de selenito F. O mesmo é feito com o tubo de tetrationato, no qual tínhamos acabado de juntar duas gotas de lugol. As placas e os tubos são incubados a 32 33 36ºC de 18 a 24 horas. Depois desse tem- po, inoculamos uma placa de SS com o ma- terial enriquecido no tubo de selenito e uma placa de ágar-verde-brilhante com o material proveniente do tubo de tetratio- nato e incubamos essas duas placas até o dia seguinte. Isolamento de Shigelas e Salmonelas Fonte: Moura (2008, p. 195). 32 33 O exame das placas inoculadas direta- mente com suspensão de fezes ou inocu- ladas com material enriquecido deve ser cuidadoso. Shigella e Salmonella, geral- mente, produzem colônias típicas nos di- ferentes meios de cultura, mas deve ser lembrado que esses aspectos podem ser alterados pelo crescimento em estreita associação com outros microrganismos. Outras vezes, esses patógenos produ- zem colônias atípicas, de modo que mes- mo pessoas com longa experiência em enterobactérias podem se enganar com o aspecto das colônias. Recomenda-se que sejam selecionadas pelo menos duas colô- nias representativas de cada tipo de bac- téria que não seja franca fermentadora de lactose. Mesmo esse critério está sendo posto em dúvida, uma vez que têm sido isoladas raças de Salmonella fermentadoras de lactose. Assim sendo, não havendo numa placa nenhuma colônia suspeita, devemos selecionar dessa placa quatro colônias, mesmo lactose-positivas (MOURA, 2008). Após selecionadas, as colônias suspei- tas devem ser repicadas para meios de diferenciação, por meio de estilete mon- tado em cabo de Colle (cabo idêntico ao usado para a alça de platina) e que deve ser esterilizado a fogo antes e depois de cada repique. Como os meios seletivos usados nas placas apenas inibem o crescimento de muitas bactérias, que continuam vivas na superfície do ágar chegando mesmo a for- mar microcolônias, é importante que não se toque a superfície do ágar com o mes- mo estilete, nem mesmo para esfriá-lo como vemos costumeiramente ser feito, numa área da placa onde aparentemente não houve crescimento bacteriano. Reco- mendamos que o estilete seja esfriado ao ar e que cada colônia seja apenas tocada, sem aprofundar o estilete até o ágar. Quanto ao isolamento de Escherichia coli patogênica, em laboratório clínico, fa- zemos procura especial de Escherichia coli enteropatogênica em fezes de crianças menores de 2 anos, independentemente do pedido do médico assistente. Para o isolamento de E. coli enteropato- gênica, é preciso semear as fezes em pla- ca com meio não inibidor, como ágar-sim- ples ou ágar-sangue, sendo o segundo o preferido porque placas desse meio são muito usadas em laboratório clínico. Não devemos usar placas de meios seletivos, já que estes meios podem ser algo impe- diente para E. coli enteropatogênicas e as colônias desenvolvidas nesse meio po- dem dar reação de aglutinação atípicas, de difícil interpretação (MOURA, 2008). 4.3 Diferenciação a) Diferenciação primária Cada colônia selecionada é repicada em dois tubos: um com meio de tríplice-açú- car-ferro e outro com meio de ureia, de Christensen. Esses dois tubos são identi- ficados como pertencentes à mesma colô- nia em estudo. O meio de ureia é inclinado e deve ser semeado pesadamente, mas só na super- fície. O tubo de tríplice-açúcar-ferro tam- bém é inclinado, mas devemos semeá-lo introduzindo primeiro o estilete até o fun- do e depois semeando a superfície incli- nada, em ziguezague. 34 3534 Os dois tubos são incubados a 37ºC, durante 24 horas, 4 horas após a semea- dura; no entanto, devemos observar o as- pecto do meio de ureia. Após esse tempo, as culturas de Proteus produzem acentu- ada alcalinidade nesse meio, tornando-o rosado. Culturas que pertencem a outros gêne- ros produzem vários graus de alcalinidade depois da incubação de 24 horas ou mais ou não utilizam ureia. O aspecto do tubo de tríplice-açúcar-ferro, no dia seguinte, dá uma boa orientação quanto à possível identidade do germe em estudo. Se o aspecto apresentado for diferen- te do esperado (pelas características da colônia suspeita), a cultura pode estar misturada ou se tratar de um bacilo Gram- -negativo que não é enterobactéria ou mesmo nem se tratar de bacilo Gram-ne- gativo. Nesses casos, o ideal é fazer um exame bacterioscópico e tentar re-isolar o germe em estudo. Moura (2008) recomenda que seja usa- do um meio de tríplice-açúcar-ferro co- mercial, de boa procedência, para que as reações observadas estejam de acordo com a tabela abaixo: Semeadura de placa de cultura para isolamento de germes A: Semeadura inicial. B e C: Semeaduras posteriores, após a flambagern de alça. 34 3535 Como substituto desse meio, alguns la- boratórios propuseram uma formulação diferente, com vantagens quanto à deter- minação de outros caracteres bioquími- cos, mas esses meios não são convenien- temente industrializados, podendo variar de partida a partida e apresentam prazo de validade muito instável. Durante algum tempo, Moura (2008) teve a oportunidade de utilizar, em pa- ralelo com o meio de tríplice-açúcar-fer- ro, o meio de lisina-ferro, proposto por Edwards e Fife, mas sem obter