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@resumosdamed_ 1 ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO II ANATOMIA E FISIOLOGIA DAS VIAS BILIARES: VIAS BILIARES: A árvore biliar é composta por ductos que coletam a bile do parênquima hepático e a transportam até́ a parte descendente do duodeno. De maneira geral, ela é dividida em: intra-hepática e extra-hepática. Os ductos intra-hepáticos têm origem nos canalículos biliares maiores, que se reúnem e formam os ductos segmentares, os quais se fundem próximo da porta do fígado, dando origem aos ductos hepáticos direito e esquerdo. A porção extra-hepática é constituída pelos ductos hepáticos direito e esquerdo, pelo ducto hepático comum, pelo ducto cístico, pela vesícula biliar e pelo ducto colédoco. ÁRVORE BILIAR INTRA-HEPÁTICA: Composta pelos ductos segmentares e setoriais, responsáveis pela formação dos ductos hepáticos, sendo que o ducto hepático esquerdo é formado pela união dos ductos dos segmentos II e III, e, geralmente, do segmento IV também. Já́ o ducto hepático direito é formado pela união dos ductos setoriais medial e lateral direitos, os quais são formados por ductos segmentares, provenientes dos segmentos VI, VII, V e VIII. ÁRVORE BILIAR EXTRA-HEPÁTICA: • Ducto cístico: é o ducto responsável por drenar o conteúdo da vesícula biliar para o ducto colédoco. Possui de 3 – 4 cm de comprimento, emerge do colo da vesícula biliar, se une ao ducto hepático comum e forma o ducto colédoco. No geral, essa junção entre o ductos cístico e o hepático comum ocorre ao nível da porta hepática. • Ductos biliares hepáticos: são os ductos hepáticos direito e esquerdo, que emergem do fígado e fundem-se próximo da extremidade direita da porta do fígado, formando o ducto hepático comum. O ducto hepático comum está localizado à direita da artéria hepática e é anterior à veia porta na margem livre do omento menor. • Ducto colédoco: formado próximo da porta do fígado pela junção dos ductos cístico e hepático comum. No geral, possui de 6 – 8 cm de comprimento e tem por volta de 6mm de diâmetro. O colédoco penetra junto com os ductos pancreáticos na parede duodenal, formando a ampola hepato-pancreática, também conhecida como papila de Vater onde está́ situado o esfíncter de Oddi. • Trígono cisto-hepático (deCalot): é um espaço triangular formado entre o ducto cístico, o ducto hepático comum e a superfície inferior do segmento V do fígado. Trata-se de um importante marco anatômico, pois é nesse espaço onde passa a artéria cística, próximo a vesícula biliar; o linfonodo cístico e os vasos linfáticos que deixam a vesícula; uma ou duas veias císticas pequenas; os nervos autônomos que seguem para a vesícula; e um pouco de tecido adiposo frouxo. @resumosdamed_ 2 VESÍCULA BILIAR: É um divertículo em forma de cantil, com fundo cego, ligado ao ducto colédoco por intermédio do ducto cístico, estando, geralmente, preso à face inferior do lobo hepático direito por tecido conjuntivo. No adulto, ela tem cerca de 7 – 10 cm de comprimento e uma capacidade de armazenamento de até 50ml. No geral, está em uma fossa rasa no parênquima hepático, sendo coberta pelo peritônio. É descrita como um órgão constituído por: fundo, corpo e colo, sendo que o colo está́ na extremidade medial, perto da porta do fígado e quase sempre está preso a ele por uma conexão curta coberta por peritônio, o mesentério, o qual, no geral, contém a artéria cística. Na extremidade lateral, o colo se alarga para formar o corpo da vesícula biliar, conhecido também como bolsa de Hartmann. SECREÇÃO E COMPOSIÇÃO DA BILE: A bile formada nos lóbulos hepáticos é secretada para dentro de uma complexa rede de canalículos, pequenos dúctulos biliares e ductos biliares maiores que se deslocam juntamente com linfáticos e ramos da veia porta e da artéria hepática nos tratos portais localizados entre os lóbulos hepáticos. Esses ductos biliares inter-lobulares coalescem para formar ductos biliares septais maiores que se unem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo, os quais, por sua vez, se unem para formar o ducto hepático comum. Este último é alcançado pelo ducto cístico da vesícula biliar para formar o ducto colédoco (DC), que penetra no duodeno (na maioria das vezes, após unir-se ao ducto pancreático principal) pela ampola de Vater. A bile hepática é um líquido isotônico com uma composição eletrolítica semelhante à do plasma. A composição eletrolítica da bile vesicular difere daquela da bile hepática, pois a maioria dos ânions inorgânicos, cloreto e bicarbonato, já foi removida pela reabsorção por meio do epitélio da vesícula. Como resultado da reabsorção da água, a concentração total de solutos na bile aumenta de 3 a 4 g/dL na bile hepática para 10 a 15 g/dL na bile da vesícula. Os principais solutos da bile, por moles percentuais, consistem em ácidos biliares (80%), lecitina e traços de outros fosfolipídeos (16%), além de colesterol não esterificado (4%). No estado litogênico, o valor do colesterol pode alcançar níveis de até 8 a 10%. Outros componentes incluem a bilirrubina conjugada, proteínas (todas as imunoglobulinas, a albumina, os metabólitos de hormônios e outras proteínas metabolizadas no fígado), eletrólitos, muco e, com frequência, medicamentos e seus metabólitos. A secreção basal diária total de bile hepática é de cerca de 500 a 600 mL. Muitas substâncias captadas ou sintetizadas pelos hepatócitos são secretadas nos canalículos biliares. A membrana canalicular forma microvilosidades e está associada a microfilamentos de actina, microtúbulos e outros elementos contráteis. Antes de sua secreção para dentro da bile, muitas substâncias são captadas e penetram o hepatócito, enquanto outras, como os fosfolipídeos, parte dos ácidos biliares primários e do colesterol, são sintetizadas de novo no hepatócito. Três mecanismos são importantes na regulação do fluxo da bile: 1) Transporte ativo dos ácidos biliares dos hepatócitos para dentro dos canalículos biliares; 2) Transporte ativo de outros ânions orgânicos; 3) Secreção colangiocelular. Esta última é um mecanismo mediado pela secretina e depende do AMP cíclico, resultando na secreção de um líquido rico em sódio e bicarbonato que é lançado nos ductos biliares. A secreção vetorial ativa dos componentes biliares do sangue portal para o interior dos canalículos é acionada por um conjunto de sistemas de transporte polarizados ao nível @resumosdamed_ 3 dos domínios das membranas plasmáticas basolateral (sinusoidal) e apical canalicular do hepatócito. Dois sistemas de captação dos sais biliares sinusoidais foram clonados em humanos, o cotransportador de Na+/taurocolato (NTCP, de Na+/taurocholate cotransporter, SLC10A1) e as proteínas transportadoras de ânions orgânicos (OATP, de organic anion transporting proteins), que transportam também uma grande variedade de ânions orgânicos diferentes dos sais biliares. Foram identificados diversos sistemas de transporte canaliculares dependentes de ATP, as denominadas “bombas de exportação” (proteínas de transporte de cassetes de ligação de ATP, também conhecidas como transportadores ABC), das quais as mais importantes são a bomba de exportação de sais biliares (BSEP, ABCB11); a bomba de exportação de conjugados aniônicos (MRP2, ABCC2), que medeia a excreção canalicular de vários conjugados anfifílicos formados pela conjugação da fase II (p. ex., mono e diglucuronídeos de bilirrubina e medicamentos); a bomba de exportação de múltiplos fármacos (MDR1, ABCB1) para os compostos catiônicos hidrofóbicos; e a bomba de exportação de fosfolipídeos (MDR3, ABCB4). Dois hemitransportadores ABCG5/G8, funcionando como uma dupla, constituem o transportador canalicular de colesterol e de fitosterol. F1C1 (ATP8B1) é uma aminofosfolipídeo transferase (“flipase”) essencial para a manutenção da assimetrialipídica da membrana canalicular. A membrana canalicular também contém sistemas de transporte independentes de ATP, como a isoforma 2 trocadora de ânions Cl/HCO 3 (AE2, SLC4A2) para a secreção canalicular de bicarbonato. Para a maioria desses transportadores, foram identificados defeitos genéticos associados a várias formas de colestase ou a defeitos da excreção biliar. A F1C1 está deficiente na colestase intrahepática familiar progressiva tipo 1 (CIFP1) e na colestase intrahepática recorrente benigna tipo 1 (CIRB1) e resulta em ablação de todas as outras funções transportadoras dependentes de ATP. A BSEP está deficiente na CIFP2 e na CIRB2. As mutações de MRP2 (ABCC2) causam a síndrome de Dubin- Johnson, uma forma hereditária de hiperbilirrubinemia conjugada. Uma alteração de MDR3 (ABCB4) resulta em CIFP3. Os ABCG5/G8, os hemitransportadores canaliculares para o colesterol e outros esteróis neutros, são defeituosos na sitosterolemia. O regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR, ABCC7), localizado sobre as células epiteliais dos ductos biliares, porém não sobre as membranas canaliculares, está alterado na fibrose cística, que está associada a um comprometimento da regulação do pH colangiocelular durante a formação da bile ductular e à doença hepática colestática crônica, resultando ocasionalmente em cirrose biliar. PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS CÁLCULOS BILIARES A vesícula é a sede predominante dos cálculos biliares. A litíase dos canais biliares resulta, geralmente, da migração a partir da vesícula. Menos frequentemente, os cálculos podem se formar nos próprios canais, quando há infecção ou estase biliar. A litíase biliar é condição altamente prevalente nos países ocidentais, onde 10 a 15% da população adulta abriga cálculos no interior da vesícula. Apresenta elevada prevalência familiar, provavelmente por influência genética. Entretanto, os fatores ambientais também são responsáveis pela formação dos cálculos. Raramente é observada em crianças e adolescentes, sendo mais frequente em mulheres a partir da 5ª década de vida, aumentado progressivamente com a idade. Os cálculos de colesterol são três vezes mais frequentes na obesidade acentuada. ORIGEM DOS CÁLCULOS A formação dos cálculos biliares acontece em 3 fases principais: 1. Supersaturação biliar com formação de bile litogênica, entende-se por tal bile a que contém excesso de colesterol em relação aos sais biliares e fosfolipídios, condição que leva a mudança de estado, antes homogêneo, para um sistema bifásico, aparecendo a cristalização do colesterol. Na etiopatogenia da litíase do colesterol, que responde por 90% dos cálculos, admite-se o papel fundamental exercido pelo fígado, ao secretá-la. @resumosdamed_ 4 2. Nucleação: é o processo pelo qual os cristais de colesterol monoidratado, se formam e aglomeram. Esse processo e facilitado pela desidratação, estase e interação de fatores pró-nucleares e antinucleantes. O cálcio promove a fusão e aumento dos cristais de colesterol, embora ainda não esteja bem definido seu exato papel. 3. Crescimento do cálculo: aposição dos cristais para formar cálculo. Depende muito da estase biliar na vesícula. A hipomotilidade da vesícula é um componente importante da formação de cálculos, promovendo a permanência dos cristais na vesícula por um tempo prolongado e exposição a novos cálculos e o gel de mucina, que age como cimento aderindo os cristais. O colesterol é uma substância insolúvel e tende a precipitar e formar cristais. Além dos cálculos de colesterol, existem também os cálculos pigmentares, sendo estes mais raros, representando apenas cerca de 10% dos casos de litíase biliar. Os cálculos pigmentares castanhos são maciços e sem formas definidas. São os únicos formados fora da vesícula biliar – originados nos ductos biliares (coledocolitíase primária). Contém sais de bilirrubina e outras substâncias. A litíase pigmentar castanha é mais comum na vigência de infecção, bile cronicamente infectada por bactérias, como E. Coli e Klebsiella sp, que produzem betaglucuronidase, elevando a atividade desta enzima na bile, com consequente desconjugação de quase toda bilirrubina direta em bilirrubina indireta. Já os cálculos pigmentares negros, associam- se predominantemente as doenças hemolíticas, à cirrose, à alimentação parenteral prolongada e ao pós-ressecção ileal. Sua patogenia varia com as diferentes etiologias. A bile é rica em sais biliares e lecitina, substâncias encarregadas de solubilizar o colesterol. Em concentrações ideais, as três formam micelas mistas, que são solúveis e impedem formação do cálculo. Esse equilíbrio não acontece em todos os indivíduos, o que leva a formação da bile supersaturada em colesterol – bile litogênica. O desenvolvimento da ultrassonografia permitiu o reconhecimento frequente da lama biliar no interior da vesícula. A lama biliar é geralmente uma mistura de muco, bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol monoidratado. Esta é considerada precursora da litíase, embora, nem sempre se desenvolvam cálculos macroscópicos. Os cálculos de colesterol quase sempre dão radiolucentes por não terem cálcio (não aparecem no rx simples de abdome) – apenas 15% são radiopacos (quando tem maior concentração de sais de cálcio). CÁLCULOS BILIARES EPIDEMIOLOGIA E PATOGÊNESE Os cálculos biliares são bastante prevalentes na maioria dos países ocidentais. A formação de cálculos biliares aumenta após 50 anos de idade. Nos EUA, o terceiro National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III) revelou uma prevalência global de cálculos biliares de 7,9% nos homens e de 16,6% nas mulheres. A prevalência é alta nos mexicanos- americanos (8,9% nos homens, 26,7% nas mulheres), intermediária nos brancos não hispânicos (8,6% nos homens, 16,6% nas mulheres) e baixa nos afro-americanos (5,3% nos homens, 13,9% nas mulheres). Os cálculos biliares são formados devido a uma composição anormal da bile. Eles se dividem em dois tipos principais: cálculos de colesterol e cálculos pigmentares. Os cálculos de colesterol são responsáveis por mais de 90% de todos os cálculos nos países ocidentais industrializados. Os cálculos de colesterol costumam conter >50% de monoidrato de colesterol mais uma mistura de sais de cálcio, pigmentos biliares, proteínas e ácidos graxos. Os cálculos pigmentares são constituídos principalmente por bilirrubinato de cálcio; contêm <20% de colesterol e são classificados em tipos “pretos” e “marrons”, sendo os últimos formados em razão de infecção biliar crônica. CÁLCULOS DE COLESTEROL E LAMA BILIAR O colesterol é essencialmente insolúvel na água e depende de sua dispersão aquosa dentro de micelas ou vesículas, sendo em ambos os casos necessária a presença de um segundo lipídeo para solubilizar o colesterol. O colesterol e os fosfolipídeos são secretados e lançados na bile como vesículas unilamelares formando duas camadas, que são transformadas em micelas mistas que consistem em ácidos biliares, fosfolipídeos e colesterol @resumosdamed_ 5 pela ação dos ácidos biliares. Se houver excesso de colesterol em relação aos fosfolipídeos e ácidos biliares, observa-se a persistência de vesículas instáveis ricas em colesterol, que se agregam em grandes vesículas multilamelares a partir das quais ocorre a precipitação dos cristais do colesterol. Para resumir, a doença com cálculos biliares de colesterol ocorre em função de várias alterações, que consistem em: 1. supersaturação da bile com colesterol; 2. nucleação do monoidrato de colesterol com subsequente retenção de cristais e crescimento do cálculo; 3. função motora anormal da vesícula biliar com esvaziamento retardado e estase. CÁLCULOS PIGMENTARES Cálculos pigmentares pretos são compostos de bilirrubinato de cálcio puro ou de complexos tipo polímeros com cálcio e glicoproteínasmucinas. Eles são mais comuns em pacientes com estados hemolíticos crônicos (com aumento da bilirrubina conjugada na bile), cirrose hepática, síndrome de Gilbert ou fibrose cística. Os cálculos de vesícula nos pacientes com doenças ileais, ressecção ileal ou bypass ileal geralmente são cálculos pigmentares pretos. A reciclagem êntero-hepática da bilirrubina nos estados de doença ileal contribui para sua patogênese. Cálculos pigmentares marrons são compostos de sais de cálcio de bilirrubina não conjugada com quantidades variáveis de colesterol e proteínas. Eles são o resultado da presença de quantidades aumentadas de bilirrubina insolúvel não conjugada na bile, a qual se precipita e forma cálculos. A desconjugação de um excesso de mono e diglicuronatos de bilirrubina solúveis pode ser mediada por β-glicuronidase endógena, embora possa ocorrer também por hidrólise espontânea. Às vezes, a enzima é produzida também quando a bile é infectada cronicamente por bactérias, caso em que esses cálculos são marrons. A formação de cálculos pigmentares é frequente na Ásia e costuma estar associada a infecções na vesícula e na árvore biliar. CÓLICA BILIAR E COLECISTITE AGUDA: FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO CÓLICA OU LITÍASE RENAL A cólica biliar é a manifestação clínica da presença de cálculos (pedras) na vesícula. Também conhecida por litíase, é uma condição frequente. QUADRO CL ÍNICO Cerca de 80% dos portadores de litíase biliar são assintomáticos ou oligossintomática, enquanto apenas uma minoria apresenta-se plenamente sintomática, consequência da obstrução do canal cístico. Desses sintomas, o principal é a dor recidivante, que pode evoluir para quadros de colecistite aguda, empiema e perfuração vesicular. Fistula biliar e peritonite são possíveis consequências da ruptura do colecisto. O Sinal de Murphy é caracterizado pela dor à palpação do hipocôndrio direito durante a inspiração, sugerindo a presença de doença da vesícula biliar. A dor epigástrica ou no quadrante superior direito, geralmente é intermitente. A dor biliar típica e chamada de cólica biliar. A dor é intensa, contínua, e, raramente, em cólica, com períodos de exacerbação. A localização é em epigástrio, hipocôndrio direito e a região dorsal direita, às vezes irradiando-se para a região interescapulovertebral. O início é súbito e a intensidade é aumentada rapidamente. Entre 10 e 15% dos casos, acontece a passagem de cálculos para o colédoco. Esses pacientes, na sua imensa maioria, podem apresentar crises dolorosas, icterícia obstrutiva, colangite e/ou pancreatite biliar. A obstrução é episódica e transitória do ducto cístico ou infundíbulo por um cálculo, que migra e subitamente oclui a via de saída. A contração vigorosa da musculatura lisa da vesícula para liberar a via leva a dor biliar. Na maioria das vezes, o cálculo sai em algumas horas, seja para a vesícula ou para o colédoco. A dor costuma durar de 1 a 3 horas e é recorrente, mas não @resumosdamed_ 6 diária. Pode haver o desaparecimento de cálculos biliares no interior da vesícula por migração desses cálculos para o intestino, mesmo sem dor ou icterícia e pode ocorrer a dissolução espontânea de cálculos de colesterol. DIAGNÓSTICO O diagnostico da litíase biliar leva em consideração quadro clínico da cólica biliar simples, associada a exames hematológicos geralmente normais. Por isso é necessário lançar mão de métodos complementares de diagnósticos, sendo os mais importantes os exames radiológicos e ultrassonográficos. O primeiro exame de imagem pelo qual iniciamos a investigação é a ultrassonografia devido sua alta sensibilidade especificidade (95%) para cálculos maiores eu 2mm. Caso não sejam observadas alterações na ultrassonografia e a litíase biliar seja a suspeita diagnostica do paciente, prossegue-se com a colecistografia oral e prova motora, embora o método seja pouco usado atualmente, pode ser útil. Muito embora o espessamento da parede da vesícula biliar seja considerado um sinal inespecífico, podendo ser encontrado em grande número de doenças, na grande maioria das vezes está relacionado à presença de litíase biliar. Os cálculos vesiculares apresentam-se na ultrassonografia como uma imagem ecogênica produtora de sombra acústica posterior, independente de sua constituição bioquímica e habitualmente móvel com as variações de decúbito na avaliação da vesícula biliar que contém cálculos. Devido a baixa incidência de exames falso-negativos e inconclusivos a ultrassonografia também é indicada em emergências e em pacientes grávidas. As imagens podem ser prejudicadas passar despercebidas nos indivíduos obesos e naqueles com gás sobre a área vesicular. Quanto à radiografia simples de abdome, eventualmente pode diagnosticar cálculos radiopacos, que não excedem 15% dos casos. Na colecistografia oral, quando a vesícula não é identificada, recomenda- se repetir o exame no dia seguinte com dose dupla de contraste. Se, ainda assim, persistir a falha de impregnação, há 95% de chance de existir doença vesicular. Devido ao elevado número de erros de diagnóstico com a colangiografia venosa, o método quando não é mais usado atualmente. Já a colangiopancreatografia retrógrada por via endoscópica (CPRE) constitui um meio muito sensível de diagnosticar a litíase ductal e que além de servir para fins diagnósticos, serve ainda, principalmente, como medida terapêutica. A CPRE é uma técnica que utiliza simultaneamente a endoscopia digestiva, procedimento que consiste na utilização de tubos flexíveis que permitem a visualização de imagens do tubo digestivo em monitores de televisão, e a imagem fluoroscópica para diagnosticar e tratar doenças associadas ao sistema biliar e pancreático. Um endoscópio é inserido na garganta do paciente, passando pelo esôfago e estomago até a primeira parte do intestino delgado. Através desse tubo é injetado um contraste para demarcar o ducto biliar e o ducto pancreático nas imagens de raio X. Por essas imagens é possível visualizar qualquer estreitamento ou bloqueio nos dutos. Embora seja mais invasiva, a principal vantagem é que o médico pode retirar o cálculo que está bloqueando a passagem da bile ou proceder em outras doenças biliares e pancreáticas. TRATAMENTO A litíase assintomática não exige tratamento cirúrgico e comumente se adota condutas conservadoras como: evitar dietas gordurosas e em grande quantidade. Entretanto, há algumas situações em que há indicações para colescistectomia profilática, sendo elas vesícula em porcelana, pólipos de alto risco – idade superior a 60 anos, maiores que 1 cm e com crescimento documentado em USG seriada –; cálculos grandes (maiores que 3 cm); vesícula com anomalia congênita; anemias hemolíticas; portadores de um longo ducto após junção do colédoco e ducto pancreático. Cálculos de colesterol radiopacos e com diâmetro inferior a 1,5 cm podem ser dissolvidos com uso de medicamentos a base de ácido ursodesoxicólico por via oral, durante o período de 2 anos, no mínimo. Para tanto, é importante que a vesícula esteja funcionante. Embora costume ser eficaz, o tratamento tem alto custo e alta chance de recidiva dos cálculos. COLECISTITE AGUDA A inflamação aguda da parede da vesícula em geral acompanha a obstrução do ducto cístico por um cálculo. A resposta inflamatória pode ser @resumosdamed_ 7 induzida por três fatores: (1) inflamação mecânica produzida por pressão e distensão intraluminais aumentadas com subsequente isquemia da mucosa e da parede da vesícula biliar, (2) inflamação química causada pela liberação de lisolecitina (devido à ação da fosfolipase sobre a lecitina na bile) e por outros fatores teciduais locais, assim como (3) inflamação bacteriana, que pode desempenhar algum papel em 50 a 85% dos pacientes com colecistite aguda. Os organismos frequentemente isolados por cultura dabile da vesícula nesses pacientes incluem Escherichia coli, Klebsiella spp., Streptococcus spp e Clostridium spp. A colecistite aguda costuma começar como uma crise de dor biliar que piora progressivamente. Cerca de 60 a 70% dos pacientes relatam já haver experimentado crises precedentes que regrediram espontaneamente. Porém, à medida que o episódio progride, a dor da colecistite aguda torna- se mais generalizada no quadrante superior direito do abdome. Como acontece com a cólica biliar, a dor da colecistite pode irradiar-se para a área interescapular, a escápula direita ou o ombro. Os sinais peritoneais de inflamação, como o agravamento da dor com a movimentação ou a respiração profunda, podem ser evidentes. O paciente apresenta-se anorético e, na maioria das vezes, nauseado. Os vômitos são relativamente comuns, podendo produzir sintomas e sinais de depleção volêmica vascular e extravascular. A icterícia é incomum no início da evolução da colecistite aguda, mas pode ocorrer quando as alterações inflamatórias edematosas acometem os ductos biliares e linfonodos circundantes. Caracteristicamente, a febre é baixa, porém os calafrios ou os arrepios não são incomuns. O QSD do abdome apresenta- se quase invariavelmente hipersensível à palpação. Uma vesícula biliar tensa e aumentada de volume é palpável em 25 a 50% dos pacientes. A respiração profunda ou tosse durante a palpação subcostal do QSD costuma produzir aumento da dor e parada inspiratória (sinal de Murphy). A descompressão dolorosa com hipersensibilidade localizada no QSD é comum, o mesmo ocorrendo com distensão abdominal e ruídos intestinais hipoativos em função do íleo paralítico, porém em geral faltam sinais peritoneais generalizados e rigidez abdominal na ausência de perfuração. O diagnóstico de colecistite aguda é feito habitualmente com base em uma anamnese característica e um bom exame físico. A tríade de início súbito de hipersensibilidade no QSD, febre e leucocitose é altamente sugestiva. A leucocitose fica entre 10.000 e 15.000 células por microlitro com um desvio para a esquerda na contagem diferencial. A bilirrubina sérica torna-se levemente elevada em menos da metade dos pacientes, enquanto cerca de 25% evidenciam elevações moderadas das aminotransferases séricas (em geral, elevação inferior a 5 vezes). A ultrassonografia demonstra a presença de cálculos em 90 a 95% dos casos, sendo útil na identificação dos sinais de inflamação da vesícula, como espessamento da parede, líquido pericolecístico e dilatação do ducto biliar. A cintilografia biliar com radionuclídeo (p. ex., HIDA) poderá confirmar o diagnóstico se for vista a imagem do ducto biliar sem a visualização da vesícula biliar. Cerca de 75% dos pacientes tratados clinicamente obtêm a remissão dos sintomas agudos dentro de 2 a 7 dias após a hospitalização. Porém, em 25% dos casos, uma complicação da colecistite aguda ocorre apesar do tratamento conservador. Nestas circunstâncias, é necessária uma intervenção cirúrgica imediata. Dos 75% dos pacientes com colecistite aguda que conseguem a remissão dos sintomas, cerca de 25% têm recidiva da colecistite dentro de 1 ano, e 60% têm pelo menos um episódio recorrente dentro de 6 anos. Diante da história natural da doença, a colecistite aguda deve ser tratada preferencialmente com cirurgia precoce sempre que possível. A síndrome de Mirizzi é uma complicação rara na qual um cálculo biliar fica impactado no ducto cístico ou colo da vesícula biliar, causando compressão do colédoco, resultando em obstrução coledociana e icterícia. A ultrassonografia mostra cálculo(s) biliar(es) fora do ducto hepático. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou a colangiografia transepática percutânea (CTP) ou a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) costumam demonstrar a compressão extrínseca característica do colédoco. A cirurgia consiste em remover o ducto cístico, a vesícula biliar doente e o cálculo impactado. O diagnóstico préoperatório da síndrome de Mirizzi é importante para evitar uma lesão do colédoco. TRATAMENTO CLÍNICO @resumosdamed_ 8 Apesar de a intervenção cirúrgica continuar sendo a base da terapia da colecistite aguda e suas complicações, um período de estabilização intra- hospitalar pode ser necessário antes da colecistectomia. A ingestão oral deve ser eliminada, a aspiração nasogástrica pode estar indicada, e a depleção do volume extracelular bem como as anormalidades eletrolíticas são corrigidas. Meperidina ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são utilizados habitualmente para obter analgesia, pois esses fármacos podem produzir menos espasmo do esfincter de Oddi do que medicamentos como a morfina. A antibioticoterapia intravenosa costuma ser indicada aos pacientes com colecistite aguda grave, embora seja possível que a infecção bacteriana da bile não tenha ocorrido nos estágios iniciais do processo inflamatório. A antibioticoterapia deve ser orientada pelos organismos mais comuns que costumam estar presentes: E. coli, Klebsiella spp. e Streptococcus spp. Os antibióticos efetivos consistem nas ureidopenicilinas, como piperacilina ou mezlocilina, ampicilina sulbactam, ciprofloxacina, moxifloxacina e as cefalosporinas de terceira geração. A cobertura anaeróbia proporcionada por medicamentos como o metronidazol deve ser acrescentada quando se suspeita de colecistite gangrenosa ou enfisematosa. Imipenem/meropenem representam antibióticos parenterais potentes que proporcionam cobertura contra todo o espectro de bactérias que causam colangite ascendente. Entretanto, esses fármacos devem ficar reservados às infecções mais graves e ameaçadoras quando outros esquemas falharam. As complicações pósoperatórias de infecção da ferida, formação de abscesso e sepse são reduzidas nos pacientes tratados com antibióticos. TRATAMENTO CIRÚRGICO O momento ideal da intervenção cirúrgica nos pacientes com colecistite aguda depende da estabilização do paciente. A tendência é clara para a cirurgia mais precoce, o que se deve em parte às exigências de permanências hospitalares mais curtas. A colecistectomia ou colecistostomia urgente (emergencial) é provavelmente apropriada na maioria dos pacientes nos quais há suspeita ou confirmação de complicação da colecistite aguda, como empiema, colecistite enfisematosa ou perfuração. Os pacientes com colecistite aguda sem complicações devem ser submetidos a colecistectomia laparoscópica eletiva precoce, de preferência dentro de 48 a 72 horas após o diagnóstico. A taxa de complicações não está aumentada nos pacientes submetidos a colecistectomia precoce em comparação com a intervenção mais tardia (>6 semanas após o estabelecimento do diagnóstico). A intervenção cirúrgica postergada deve ficar reservada provavelmente aos (1) pacientes cuja condição médica global impõe um risco inaceitável para a cirurgia precoce e (2) pacientes cujo diagnóstico de colecistite aguda é duvidoso. Assim, a colecistectomia precoce (dentro de 72 horas) constitui o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes com colecistite aguda. Na maioria dos centros, as taxas de mortalidade para colecistectomia emergencial variam de 1 a 3%, enquanto o risco de mortalidade para colecistectomia precoce eletiva é de cerca de 0,5% nos pacientes com menos de 60 anos. Evidentemente, o risco operatório aumenta nas doenças relacionadas com a idade de outros sistemas orgânicos e na presença de complicações a longo ou a curto prazo da doença vesicular. Os pacientes gravemente doentes ou debilitados com colecistite podem ser manejados com colecistostomia e drenagem por tubo da vesícula biliar. A colecistectomia eletiva pode então ser realizada mais tarde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Medicina Interna de Harrison - [Dennis L.] Kasper... [et al.] 19a edição - Porto Alegre - AMGH, 2017 - Volume2. 2. Goldman - Cecil Medicina, editado por Lee Goldman, Andrew I. Schafer [et al.] 25a edição - Rio de Janeiro - Elsevier, 2018.
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