SP5 - Anemia de difícil tratamento · Marilene, 15 anos, natural da Bahia; · Nasceu de parto domiciliar em um pequeño município sem muitos recursos assistenciais à saúde; · Desde menina se queixa de ‘’cansaço’’, que a impedia de praticar atividades esportivas e dores principalmente nas extremidades e articulações; · Procurou atendimento médico diversas vezes, sempre recebeu o diagnóstico de anemia, tendo recebido prescrição para tomar sulfato ferroso, entre outras vitaminas, bem como medicamentos orexígenos para que melhorasse seu apetite e sua alimentação; · Havia outros casos de anemia na família; · Há dois dias passou a apresentar dor abdominal generalizada, sem antecedentes de trauma, que aumentou de intensidade a ponto de fazê-la procurar a UPA; · Descobriram que a paciente não havia sido submetida a testes de triagem neonatal; · Mesmo tendo encontrado uma discreta distensão abdominal, com rigidez da parede e descompressão dolorosa, os internos optaram por solicitar exames complementares que indicaram hemoglobina de 9.8g/dL, com hematoscopia, leucometria e plaquetometria normais; · Exames de imagem não apresentavam alteração; · Falso abdome agudo; · Após exames complementares, foi possível confirmar o diagnóstico inicial e iniciar o tratamento clínico. Brainstorming: · Cansaço e dores nas pernas pode ter sido confundido com dores do crescimento; · Apenas com hemograma não se faz o diagnóstico; · Sulfato ferroso desnecessário; · Sintomas de anemia falciforme podem iniciar aos 6 meses; · Anemia falciforme só manifesta em homozigose; · Hemoglobina alfa e beta, a beta pode sofrer uma mutação e virar S, pode ter recebido hemoglobina S da mãe e do pai→ pode ocorrer até microinfartos; · Anemia sem diagnóstico, não de difícil tratamento. Fluxograma: Perguntas: 1. Sobre as anemias (megaloblástica, ferropriva, hemorrágica, hemolítica, apastica) Etiologia - Diagnóstico laboratorial Megaloblástica · Etiologia Definição: Grupo heterogêneo de doenças provocadas por defeito na síntese de DNA e caracterizadas pela presença de hemácias macrocíticas no sangue periférico. Na medula óssea observam-se alterações morfológicas nos precursores eritróides, com eritroblastos aumentados e parada na maturação nuclear. Etiologia: Deficiência de vitamina B12 e deficiência de ácido fólico · Diagnóstico laboratorial Hemograma: · Anisocitose · Poiquilocitose · São grandes e ovais VCM >100 · Podem apresentar pontilhado basofílico (2) e restos nucleares Reticulócitos: baixos Alteração nuclear em neutrófilos com hipersegmentação nuclear, com neutrófilos de 6 ou mais lobos. Ferropriva · Etiologia · A carência de ferro impede a formação do anel Heme com consequente diminuição da formação de hemoglobina e eritrócitos · É a causa mais comum de anemia no mundo. · Ferropenia: · Perda gastrointestinal de sangue · Má absorção · Perda de sangue não gastrointestinal · Gestação · Lactação · Dieta deficiente · Diagnóstico laboratorial Hemograma: · Diminuição de eritrócitos · Hb <10 · Microcíticos e hipocrômicos · Anisocitose · Ovalocitose moderada · Codocitose · Eliptocitose · VCM diminuído (<80) · RDW aumentado · HCM diminuído Reticulócitos · Normal ou reduzido Perfil do ferro · Ferro sérico diminuído · Capacidade total de ligação ou concentração de transferrina aumentada · Saturação de transferrina diminuída · Ferritina baixa · Receptor solúvel de transferrina elevado Diagnóstico diferencial: · Anemia de doença crônica · Betatalassemia e hemoglobinopatias · Intoxicação por chumbo · Anemia sideroblástica Hemorrágica · Etiologia Por perdas: Pode ser (A) aguda, como as anemias pós-hemorrágicas, em que há compensação pela medula caso estoques de Fe estejam preservados ou (B) crônica, que causam espoliação do Fe e, consequentemente, anemia por falta de produção. Hemolítica · Etiologia Síndrome adquirida caracterizada pela destruição precoce dos eritrócitos, de etiologia imune. Raro, 3: 100.000 pessoas por ano. Etiologia: ligação de autoanticorpos à membrana eritrocitária, que leva a hemólise extravascular por fagocitose pelo SER. (sistema retículo endotelial.) Surgem de maneira idiopática ou associado a doença sistêmica · Diagnóstico laboratorial Hemograma: diminuição da Hb, presença de esferócitos, pontilhado basofílico, policromasia, presença de eritoblastos. · Hemaglutinação, principalmente na presença de crioaglutininas. · VCM levemente aumentado · Reticulócitos bastante elevados · Aumento de LDH · Aumento de BI · Queda de haptoglobina Aplástica · Etiologia Destruição dos precursores hematopoiéticos e hipocelularidade da medula. Anemia + leucopenia + plaquetopenia. Sangramento · Diagnóstico laboratorial Hemograma: · VCM aumentado · Reticulócitos baixos · Alterações nos leucócitos e plaquetas 0. Sobre a anemia falciforme: a. Definição Trata-se de uma mutação no gene beta-globina (Hb B), de caráter genético e que causa anemias hemolíticas crônicas, por alteração nos eritrócitos, deixando as hemácias com formato de foice. Maior incidência: afrodescendentes. Genética: o padrão genético mais característico na anemia falciforme é o de homozigose recessiva (hemoglobina SS) para o gene βS. b. Etiologia A hemoglobina S resulta de uma mutação de ponto no gene da beta hemoglobina que leva a substituição do ácido glutâmico pela valina na posição c. Fisiopatologia 1. Transcrição de adenina para timina no códon 6 (A6T ). 2. Substituição de um resíduo de ácido glutâmico por um de valina, o que dá a propriedade de polimerização quando desoxigenada. 3. Essa polimerização causa uma lesão no eritrócito e gera um grupo heterogêneo de células falciformes, com citoesqueleto membrânico danificado. 4. Assim, na vasculatura, as células falciformes interagem com o endotélio e com outras células sanguíneas, causando vaso-oclusão. 5. Alguns eritrócitos danificados hemolisam e liberam o grupo heme no plasma, que reduz as concentrações de NO. ●A diminuição da disponibilidade do NO endotelial impede as funções homeostáticas vasculares da molécula, como a inibição da agregação plaquetária e a diminuição das moléculas de adesão. d. Quadro clínico As manifestações clínicas são variáveis, derivadas, em sua maioria, da oclusão vascular e, em menor grau, da anemia; podendo afetar todos os órgãos. Apenas quando há diminuição importante dos níveis de Hb F que ocorre a sintomatologia e geralmente isso ocorre após os 6 meses de vida. ●Manifestação comum nessa idade: síndrome mão-pé → dactilite falcêmica. Fatores que precipitam crises: ●Hipóxia. ●Infecção. ●Frio extremo. ●Desidratação. ●Acidose sanguínea. ●Febre. Possíveis intercorrências clínicas: ●Episódios dolorosos (crise de falcização). ●Síndrome torácica aguda. ●AVC. ●Osteonecrose. ●Priapismo. ●Retinopatia proliferativa. ●Infarto e sequestro esplênico. ●Úlceras de MMII. ●Cálculos. ●Crise aplástica. ●Osteopenia. ●Deficiências nutricionais. ●Doença pneumocócica e sepse. ●Insuficiência placentária. e. Diagnóstico Ausculta cardíaca com sopro sistólico. O diagnóstico das síndromes falciformes depende da comprovação da existência da hemoglobina S pela eletroforese de hemoglobina. Técnicas mais utilizadas: ●Eletroforese de hemoglobina: ●Teste de solubilidade da hemoglobina em tampão fosfato concentrado. Características: ●Anemia normocítica ou microcítica e normocrômica. ●Possui elevação de reticulócitos (> 10% - reticulocitose) e pode haver eritroblastos. Principal caracterização: drepanocitose → hemácias em foice. Alterações laboratoriais: ●Aumento de lactato desidrogenase. ●Aumento de aspartato aminotransferase. Diagnóstico precoce: ●Teste em sangue do cordão umbilical ou em amostras para outros testes neonatais, como a fenilcetonúria. ●Teste do pezinho. ○Nesse caso o tratamento começa imediatamente. Eritrograma: ●Hemoglobina: reduzida (<10) → principalmente. ○Fase estável: entre 6 e 10. ○Casos graves: < 4. Hematócrito: reduzido (< 0,5). ●VCM: normal (entre 80-100). ●HCM: normal (entre 27-33). ●CHCM: normal (entre 32-35). ●RDW: normal ou elevado - anisiocitose (> 14%). ●Reticulócitos: