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Julia Paris Malaco – UCT16 Lombalgias A lombalgia (LBP do ingle ̂s low back pain) e ́ a queixa musculoesquele ́tica mais comum e uma das principais causas de inca- pacidade laboral. Estima-se que 80% da populac ̧a ̃o apresentara ̃o este problema durante a vida. A LBP afeta a regia ̃o entre o arcabouc ̧o costal inferior e as pregas glu ́teas, e frequentemente irradia para as coxas. A maioria das LBPs e ́ benigna e autolimitada. Noventa por cento dos pa- cientes com LBP aguda melhoram espontaneamente dentro de 4 semanas, embora sintomas de baixo grau possam persistir em alguns pacientes. A lombalgia é a dor que ocorre na região lombar inferior. A lombociatalgia é a dor lombar que se irradia para uma ou ambas as nádegas e/ou para as pernas na distribuição do nervo ciático. Pode ser aguda (duração menor que 3 semanas), subaguda ou crônica (duração maior que 3 meses). Freqüentemente o problema é postural, isto é, causado por uma má posição para sentar, para se deitar, para se abaixar no chão ou para carregar algum objeto pesado. Outras vezes pode ser causada por inflamação, infecção, hérnia de disco, escorregamento de vértebra, artrose (processo degenerativo de uma articulação) e até emocional. Como existe um grande número de estruturas na coluna (ligamentos, tendões, músculos, ossos, articulações, disco intervertebral) há inúmeras causas diferentes para a dor. Somando-se a isso há inúmeras doenças sistêmicas não reumatológicas que podem manifestar-se com dor lombar. A maioria das dores lombares é causada pelo “mau uso” ou “uso excessivo” das estruturas da coluna (resultando em entorses e distensões), esforços repetitivos, excesso de peso, pequenos traumas, condicionamento físico inadequado, erro postural, posição não ergonômica no trabalho e osteoartrose da coluna (com o passar do tempo, as estruturas da coluna vão se desgastando, podendo levar à degeneração dos discos intervertebrais e articulações). Classificação A lombalgia pode ser classificada quanto à etiologia podendo ser mecânica (com ou sem irradiação), não mecânica ou referida quanto ao tempo de evolução, ou seja, aguda (menos que 3 meses), crônica (mais que 3 meses) ou recorrente (menos que 3 meses mas recorrente após um período sem dor que restrinja função ou qualquer atividade) Quanto a duração Aguda: até 4 semanas Subaguda: entre 4 e 12 semanas Crônica: dor por pelo menos 12 semanas e dor em pelo menos metade dos dias nos últimos 6 meses. Quanto a etiologia Não irradiadas o Não especificas o Degenerativa o espondilolistese Irradiadas com radiculopatias (citalgia): dor irradiada desde a região lombar até abaixo da região do joelho, sendo que a dor lombar é com menor intensidade do que a irradiada. (hérnia de disco, estenose espinal, cauda equina) Visceral (referida) ou outras causas especificas: sistemica (fratura por osteoporose, infecção, malignidade, espondilite anquilosante, doenças do tecido conectado Referida (aneurisma aórtico, pancreatite aguda, pielonefrite aguda, cólica renal, ulcera péptica. Quanto a fisiologia Mecânica: A LBP meca ̂nica e ́ decorrente de uma anormalidade anato ̂mica ou funcional que na ̃o esta ́ associada com doenc ̧a inflamatória ou neopla ́sica. A LBP meca ̂nica aumenta com a atividade fi ́sica e postura ereta, sendo aliviada pelo repouso e decu ́bito. Alterac ̧ões degenerativas na coluna lombar sa ̃o a causa mais comum de LBP meca ̂nica. Melhora com repouso, piora com movimento, relacionado a postura Não mecânica – metabólicas, inflamatórias (principal), infecciosa, neoplásica. Especialmente quando acompanhada por dor noturna, sugere a possibilidade de infecc ̧a ̃o subjacente ou neoplasia Piora com repouso, melhora com movimento, rigidez matinal maior que 30 minutos Julia Paris Malaco – UCT16 Avaliação A história deve tentar eliminar a chance de alguma patologia específica, procurando classificar a lombalgia em um de três grupos Devem ser investiado se há doença sistêmica grave que possa estar causando a dor, se existe comprometimento neurológico, se existe sofrimento social ou psicológico que amplie ou prolongue ador. Deve ser avaliado coisas como: duração, frequência, severidade, constância, presença de irradiação, fraqueza, alteração da sensibilidade, demais órgãos afetados, relação com o trabalho, tratamentos anteriores, cronologia e natureza da dor, impacto na função, sinasi de alerta que indiquem urgência ou pior prognostico Sinais de alerta Vermelho: indicativo de possibilidade de lombalgia não mecânica Amarelo: indicativo de evolução crônica, desfavorável, de lombalgia mecânica Os alertas amarelos (yellow flags) são sinais que podem indicar recorrência da lombalgia bem como ausências no trabalho além de déficit funcional por longo tempo. Ao contrário dos alertas vermelhos que indicam riscos eminentemente físicos, os alertas amarelos sugerem fatores de risco psicossociais. Julia Paris Malaco – UCT16 Sinal verde: adultos com menos de 70 anos, atividade com carga mecânica na região lombar, lombaldia de inicio recente com padrão mecânico, sem sinais vermelhos. Exame físico: Um exame fi ́sico geral, incluindo um exame neurolo ́gico, pode ajudar a identificar aqueles poucos pacientes que te ̂m uma doenc ̧a siste ̂mica ou envolvimento neurolo ́gico. A inspec ̧a ̃o pode revelar a presenc ̧a de escoliose. A escoliose pode ser estrutural ou funcional. A palpac ̧a ̃o pode detectar espasmo muscular paravertebral, que frequentemente leva a ̀ perda da lordose lombar normal. Um ponto doloroso sobre a coluna tem sensibilidade, mas na ̃o espe- cificidade para osteomielite vertebral. Um degrau palpável entre processos espinhosos adjacentes indica espondilolistese. Uma limitaça ̃o do movimento vertebral (flexa ̃o, extensa ̃o, flexa ̃o lateral e rotac ̧a ̃o) na ̃o esta ́ associada a qualquer diagno ́stico especi ́fico, uma vez que a LBP de qualquer causa pode limitar o movimento. As medidas da amplitude do movimento, no entan- to, podem ajudar a monitorar o tratamento. As articulac ̧ões do quadril devem ser examinadas para ve- rificar qualquer reduc ̧a ̃o na amplitude do movimento, porque a artrite do quadril, que normalmente causa dor na virilha, pode ocasionalmente se apresentar como LBP. Sensibilidade dolorosa sobre o trocanter maior do quadril e ́ observada na bursite tro- cantérica, que pode ser confundida com LBP. A presenc ̧a de mais pontos dolorosos disseminados sugere a possibilidade de que a LBP pode ser secunda ́ria a ̀ fibromialgia. Em todos os pacientes com ciatalgia ou pseudoclaudicac ̧a ̃o. A elevac ̧a ̃o da perna em extensa ̃o provoca tensa ̃o sobre o nervo cia ́tico e, assim, estira as rai ́zes nervosas do cia ́tico (L4, L5, S1, S2 e S3). Se alguma destas rai ́zes nervosas ja ́ estiver irritada, tal como ocorre por compressa ̃o exercida por um disco herniado, tensa ̃o adicional sobre a raiz nervosa por elevac ̧a ̃o em extensa ̃o, resultará em dor radicular que se estende abaixo do joelho. O teste é feito com o examinador colocando sua ma ̃o em concha sob o calcanhar do paciente, fletindo seu quadril, enquanto mante ́m o joelho es- tendido. O teste e ́ positivo se provocar dor radicular (na ̃o mera- mente dor lombar ou dor na musculatura isquiocrural) quando a perna e ́ elevada a menos de 60 graus. O exame neurológico sempre deve incluir o teste motor, com atenc ̧a ̃o para a dorsiflexão do tornozelo (L4), dorsiflexa ̃o do ha ́lux (L5) e flexa ̃o plantar do pe ́ (S1), determina- ça ̃o dos reflexos profundos do joelho (L4) e tornozelo (S1) e tes- tes para verificar a perda sensorial dermatomal (ver Figura 10-1). A incapacidade de andar na ponta dos pododa ́ctilos (principal- mente S1) e de andar com o calcanhar (principalmente L5) pode indicar fraqueza muscular. A atrofia muscular pode ser detectada por meio de medidas circunferenciais da panturrilha e coxa, no mesmo ni ́vel bilateralmente. Paciente em pé: Observar a marcha normal, na ponta dos pés e apoiado no calcanhar: pessoas com dor intensa podem apresentar uma marcha “dura”, e, se houver radiculopatia, pode haver favorecimento de um membro. Dificuldade para andar apoiado no calcanhar indica compressão de L5 (possível herniação de L4-L5); dificuldade para andar na ponta dos pés indica lesão de S1 (possível herniação de L5-S1) (D); dificuldade para agachar e levantar indica compressão de L4 (possível herniação de L3-L4) (Tabela 193.2). Inspeção: avaliar se há a presença de hiperlordose, cifose ou escoliose. A presença de escoliose é melhor avaliada com a coluna fletida para frente e os braços estendidos sobre a maca7. A ausência da lordose fisiológica pode indicar tensão da musculatura na região lombossacra. Palpação: palpar a musculatura paravertebral de toda a extensão da coluna bem como as apófises espinhosas de cada vértebra. Dor localizada sugere tumor, processo infeccioso ou compressão por fratura. Dor difusa à palpação, mesmo em área restrita, é o principal sinal de lombalgia mecânica sem irradiação por distensão ou tensão muscular. Palpar região glútea para avaliar síndrome do piriforme. Teste de Schober: com a pessoa em pé marca-se um ponto na linha da coluna na altura de L5-S1 (projeção da espinha ilíaca posterior) e outro ponto 10 cm acima deste; quando a pessoa se agacha (flexão ventral) a distância aumenta 5 cm ficando 15 cm no mínimo entre os dois pontos. O teste positivo (aumento inferior a 5 cm) pode indicar limitação funcional com a ressalva que idosos e obesos a possuem naturalmente. Flexão lateral e extensão (normalmente até 30°). A flexão lateral é prejudicada em espondiloartropatias. Paciente apoiado na maca: Testar função motora: flexores do quadril (L2-L3), extensores do Julia Paris Malaco – UCT16 quadril (L4-L5), extensores do joelho (L3-L4), flexores do joelho (L5-S1), flexor plantar do pé (S1- S2) e dorsiflexores do pé (L4-L5). A força é graduada de 0 a 5 sendo 5 a força normal, 4 vence parcialmente a resistência, 3 vence a gravidade apenas, 2 não vence a gravidade, 1 tem apenas tônus e 0 não tem tônus. Paciente sentado na maca: Testar reflexos patelares e aquileus com as pernas pendentes. A alteração no reflexo patelar indica alteração de L2 a L4, enquanto aquileu sugere nas raízes de S1- S2. “Manobra de Lasègue com o paciente distraído”:7 ainda com o paciente sentado é possível fazer uma prévia do teste de Lasègue sem que a pessoa saiba que está sendo feito um exame para detectar possível sobrevalorização de sinais. Nesse caso, basta estender cada perna do indivíduo provocando estresse nas raízes nervosas. É possível detectar a raiz nervosa acometida apenas retornando a perna até a posição que a dor desaparece (D). Manobra de PACE: pessoa tenta abduzir coxa sob resistência do examinador; dor em região glútea sugere síndrome do piriforme6. Paciente deitado em decúbito dorsal: Manobra de Lasègue clássico (D): com a pessoa deitada e a perna estendida, é feita uma flexão passiva do quadril; em geral não há dor até 80 exceto na região poplítea e da coxa por causa do encurtamento dos músculos isquiotibiais. O teste é positivo quando há dor que irradia até abaixo do joelho afetando o lado testado ou bilateralmente partir de 60. Dor irradiada quando a perna é elevada a menos de 30 é suspeita de reação exagerada. Teste de Patrick ou FABER (flexão, abdução, rotação externa): posiciona-se o maléolo lateral de um pé encostado na patela contralateral e pressiona-se para baixo o joelho da perna fletida estabilizando a pelve contralateral com a outra mão; dor associada a esse teste pode indicar origem na articulação sacrilíaca. Teste de FAIR (flexão, adução, rotação interna): movimento contrário ao FABER avalia síndrome do piriforme caso haja dor na região glútea irradiando para coxa.9 Avaliação sensitiva dos dermátomos (Tabela 193.2): ainda com o indivíduo deitado. A anestesia em sela indica síndrome da cauda equina (afeta L4-L5) e necessita encaminhamento urgente para descompressão em até 48 h. Paciente em decúbito lateral apoiando o lado com menos dor Manobra de Beatty: pessoa ativamente abduz a coxa estendida; se tiver dor na região glútea sem dor na região lombar, indica síndrome do piriforme.9 Paciente deitado em decúbito ventral Inspecionar simetria dos glúteos e da coluna. Testar extensão femoral por meio de extensão passiva do quadril: dor na parte anterior da coxa indica acometimento de L2-L3 e na região medial em L4. Diagnostico diferencial: espondilite, hérnia de disco, espondilolistese, estenose espinal, Hiperostose esquele ́tica idiopa ́tica difusa, infecção, lombalgia idiopática, neoplasia, inflamação, alteração metabólica, patologia visceral. Tratamento Lombalgia aguda: Pacientes com LBP aguda sa ̃o aconselhados a permanecer ativos e continuar com as atividades dia ́rias normais, dentro dos limites permitidos pela dor. Repouso no leito por mais de 1 a 2 dias e ́ desencorajado. Medicamentos sa ̃o usados para o ali ́vio da dor. Ácido acetilsalici ́lico, acetaminofeno e medicamentos anti- -inflamato ́rios na ̃o esteroides (AINEs) sa ̃o analge ́sicos eficazes. Alguns pacientes, no entanto, podem necessitar de analgesia opioide por curto peri ́odo. Relaxantes musculares, usados por alguns dias, podem ajudar alguns pacientes. Os glicocorticoides orais na ̃o sa ̃o bene ́ficos para pacientes com lombalgia aguda, in-cluindo aqueles com ciatalgia. Lombalgia crônica: Pacientes com lombalgia cro ̂nica podem apresentar peri ́odos de Julia Paris Malaco – UCT16 exacerbac ̧a ̃o aguda. O tratamento esta ́ dirigido para o ali ́vio da dor e restaurac ̧a ̃o da func ̧a ̃o. Os resultados sa ̃o frequentemente insatisfato ́rios, e o alívio completo da dor e ́ irreal para a maioria dos pacientes. Entretanto, a grande maioria dos pacientes com lombalgia cro ̂nica continua trabalhando. Acetaminofeno e AINEs fornecem algum grau de analgesia, mas as evide ̂ncias de sua efica ́cia na ̃o sa ̃o convincentes. O uso a longo prazo de analge ́sicos opioides deve ser evitado, mas isso nem sempre e ́ possi ́vel. Antidepressivos sa ̃o úteis em um terc ̧o dos pacientes que apresentam depressa ̃o associada. Antidepres- sivos tricíclicos em dose baixa (por exemplo, amitriptilina 10-75 mg ao deitar) podem ser u ́teis em alguns pacientes sem depres- sa ̃o, mas os efeitos colaterais anticoline ́rgicos sa ̃o comuns. Os exerci ́cios para a coluna lombar (ver sec ̧a ̃o sobre “Lom- balgia aguda”, antes), condicionamento aero ́bico, perda do exces- so de peso e educac ̧a ̃o do paciente são eficazes no tratamento da lombalgia cro ̂nica. Julia Paris Malaco – UCT16 Exames complementares (sinais de alerta vermelho): hemograma, VHS, PCR, fosfatasealcalina, raio x de coluna lombar AP e perfil, raio x de sacroiliacas, TC ou ressonância, hemocultura, uroultura, cintilografia óssea, eletroforese de proteínas, PSA
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