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Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS SÍNDROME DA LISE TUMORAL: A síndrome da lise tumoral (SLT) é uma emergência oncológica de base metabólica, na qual a degradação aguda de múltiplas células cancerígenas pode causar alterações da homeostase, devido ao influxo de produtos intracelulares. Ainda que possa manter relações tratamentos como quimio e radioterapia, a SLT também pode se apresentar de forma espontânea. A epidemiologia da lise tumoral está diretamente associada à ampliação do acesso a terapias citotóxicas, bem como à não utilização de medidas profiláticas para essa condição. A grande maioria dos tumores pode levar ao desenvolvimento de SLT, porém são as neoplasias hematológicas de alto grau as manifestações que mais comumente geram essa complicação. Apenas pequenos tumores sólidos totalmente ressecados não representam risco para a síndrome, uma vez que não há mais células neoplásicas o suficiente para induzir estresse metabólico. Fatores de risco para SLT Normalmente, a síndrome de lise tumoral ocorre após 48 a 72 horas da realização do tratamento anti-neoplásico. A destruição celular leva à liberação excessiva de ácidos nucleicos, fósforo e potássio para o meio extracelular, e, quando a capacidade de excreção é insuficiente, ocorre a SLT. Cascata de eventos da síndrome de lise tumoral As principais alterações presentes nesse contexto são: Hiperuricemia: causada pelo catabolismo excessivo de ácidos nucléicos, que tem como metabolismo final a oxidação da xantina em ácido úrico. Esse composto pouco solúvel normalmente é excretado pelos rins e, quando se acumula, forma cristais, alterando a patência das vias urinárias, o que culmina em injúria renal aguda; Hipercalemia: pacientes oncológicos apresentam redução dos níveis de ATP intracelular, motivado pelo estresse metabólico terapêutico, fazendo com Antigamente a SLT era observada quase exclusivamente em neoplasias hematogênicas (leucemias e linfomas), porém percebeu-se que tumores sólidos também podem estar associados ao quadro Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS que o escape de fósforo preceda a SLT. Esse processo é a consequência mais ameaçadora na síndrome, pois pode causar arritmias; Hiperfosfatemia: como as células tumorais apresentam maiores reservas de potássio, sua degradação é responsável pela liberação de grandes quantidades desse elemento, que, ao se precipitar com o cálcio, se relaciona com a lesão renal aguda; Hipocalcemia: está diretamente ligada ao processo acima, levando a uma redução drástica na concentração sérica desse composto. Tal condição é responsável por sintomas como convulsões e arritmias. O quadro de SLT pode ser definido com a ajuda dos critérios de Cairo-Bishop, que empregam parâmetros laboratoriais para os componentes supracitados, bem como indícios clínicos de manifestação aguda. Critérios de Cairo-Bishop para definição da síndrome de lise tumoral Os pacientes diagnosticados com SLT devem ser mantidos em ambientes com monitorização constante e possibilidade de terapia renal substitutiva, preferencialmente em um centro de referência em oncologia ou uma UTI. O seguimento com nefrologistas é adequado após o manejo do quadro agudo. De modo geral, a monitorização desses pacientes deve ser realizada da seguinte forma: Pacientes de alto risco para SLT: dosagem de desidrogenase lática, ácido úrico, creatinina, potássio, sódio, fósforo e cálcio a cada 12h nos primeiros três dias e a cada 24h nos seguintes; Pacientes já diagnosticados com SLT: As análises devem ser feitas num intervalo mais curto, a cada 6h nas primeiras 24h, com dosagem de: ácido úrico, fosfato, cálcio, potássio, creatinina, pH urinário e osmolaridade. A contagem de células sanguíneas, bem como provas de avaliação da função renal, gasometria, LDH e ECG devem ser feitas diariamente. Como a desidratação reserva riscos para o paciente (piora sua capacidade de excreção), a reposição volêmica (4 a 6 L/dia) deve ser iniciada ainda antes da quimioterapia para os pacientes de alto risco, e mantida por ao menos 48h. Esse processo, ainda que “intenso”, aumenta o volume intravascular e o volume urinário (débito de 3 L/dia), estimulando a atividade de filtração glomerular. A rasburicase pode ser usada para alcalinizar a urina, aumentando a precipitação de alguns solutos litiásicos, mas reduzindo a síntese dos metabólitos tóxicos da SLT (ex.: forma alantoína no lugar de ácido úrico). Esse medicamento pode ser usado tanto de modo terapêutico quanto profilático em pacientes com linfomas ou leucemia. O alopurinol, por sua vez, é usado para impedir a formação dessa substância, porém não interfere sobre o ácido úrico já formado. A baixa solubilidade da xantina e de outros intermediários do metabolismo Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS proteico pode tornar necessária a diminuição da dose de quimioterápicos. A hipercalemia deve ser acompanhada atentamente na SLT, podendo ser controlada por retirada de potássio de dieta e fluidos, uso de gluconato de cálcio (se há alterações no ECG), e pelo emprego de fármacos potencializadores da diurese, sendo possível o encaminhamento para hemodiálise em caoses extremos.
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