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Assistência pré-natal Ginecologia e Obstetrícia – Profa. Dra. Maria Christina. 30/08/2021 Objetivos de uma assistência pré-natal: C Aconselhar, educar e apoiar a gestante e seu núcleo familiar; C Conduzir pequenos distúrbios adaptativos da gravidez; C Proporcionar rastreamento contínuo, clínico e laboratorial, das intercorrências que podem implicar em risco para a saúde materno-fetal. Critérios de qualidade C Captação precoce da gestante; C Escuta atenta à gestante e acompanhante, com exame clínico completo; C Implementação de práticas educativas para prevenção, promoção da saúde e controle de agravos; C Estímulo ao parto normal; C Mínimo de 6 consultas: Mensais até 28 semanas; Quinzenais até 36 semanas; Semanais até o parto. Avaliação risco gestacional Período ideal para realização: período pré-natal; Objetivo: identificar fatores de risco gestacional; C Extremos de idade (<18 anos ou >35 anos); História prévia ou familiar de doenças: C HAS; C Diabetes mellitus; C Doenças gênicas. Uso de fármacos/hábitos que devem ser abolidos antes de engravidar: C Diuréticos e iECA; C Tabagismo e alcoolismo. Humanização da assistência obstétrica Indicadores de saúde: C Mortalidade materna; C Mortalidade infantil. Serviços de saúde de qualidade: C Promoção, prevenção e assistência. Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde: C Programa de Humanização no pré-natal e nascimento – rede cegonha; C Ações mínimas preconizadas; C Cobertura x qualidade. Privacidade, confidencialidade e dignidade no pré-natal C O respeito à privacidade, confidencialidade e dignidade no pré-natal é uma recomendação da OMS; C Importância no sigilo médico; C Garantia de um pré-natal que assegure proteção e suporte à gestante. Ficha clínica da gestante: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_clinica_prenatal.pdf Marcar gestação, parto (se normal ou se cesárea – C) e aborto; Patologias que podem causar aborto precoce ou tardio: C Alterações cromossômicas, más formações graves: aborto de 1º trimestre – precoce; C Incompetência/insuficiência istmocervical (abertura indolor do colo do útero), trombofilias: aborto do 2º trimestre – tardio. Gestações próximas: aumenta o risco de ruptura uterina durante o trabalho de parto. Tabela 1 – substâncias de categoria X, segundo classificação do Food and Drug Administration, que devem ser suspensas ou substituídas durante a gestação. Varfarina; Isotretinoina; Ácido valpróico; Antagonistas do ácido fólico (metotrexato, pirimetamina, trimetoprima); Lítio; Ouro; Dietilestilbestrol; Talidomida; Vacina de vírus vivo (ou atenuados); Antineoplásicos. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/ficha_clinica_prenatal.pdf Obstetrícia – primeira consulta Anamnese: C DUM, história obstétrica atual: náuseas, vômitos, sonolência, aumento do fluxo urinário, cólicas; história obstétrica pregressa. Antecedentes menstruais: C Menarca, ciclo menstrual. História pregressa: C DST, leucorréias; C Uso de medicamentos; C Alergias; C Doenças crônicas: DM, HAS, doenças autoimunes; C Tromboses. Exame físico geral: C Peso, pressão arterial, estatura, ausculta cardíaca. Exame físico obstétrico: C Avaliação do colo; C Realizar toque bimanual: Amolecimento do colo; Aumento de volume uterino; Presença ou não de massas anexiais (trompa e ovário); Presença ou não de dor. Solicitação de exame complementar: Laboratoriais e ultrassonografia. Exames laboratoriais: C Grupo sanguíneo/Rh; C Pesquisa de anticorpos irregulares (Coombs); C Hemograma, glicemia de jejum (diabetes mellitus); C Eletroforese de hemoglobina (pesquisa de traço talassêmico); C Proctoparasitológico; C Urina (rotina, cultura e antibiograma) – pesquisa de bacteriúria assintomática; C T4 livre/TSH (hipotireoidismo); C Vitaminas C, D e B12; C Ferritina. Sorologias: C Toxoplasmose IgG/IgM; C Hepatite B (HbsAg/Anti Hbs/Hbc total) – Anti Hbs e Hbc total: imunização/presença de anticorpos; C Hepatite C; C VDRL (sífilis); C HIV; C Citomegalovírus IgG/IgM. Tabela 3 – situações clínicas em que deve ser pesquisada a presença do anticorpo antifosfolipídico. Gestação: Um ou mais abortamentos inexplicáveis após a 10ª semana gestacional; Restrição do crescimento fetal grave sem causa aparente; Pré-eclâmpsia grave e precoce; Três ou mais abortamentos precoces antes da 10ª semana gestacional. Acompanhamento pré-natal C Pacientes Rh- e parceiros Rh+ (Coombs negativo): Repetir Coombs indireto 1x/mês; 28 semanas: solicitar dose de imunoglobulina (recebe o soro Rh). Fluxograma de gestante com Rh negativo C Sorologia toxoplasmose: quando IgG e IgM negativos (esperado IgG positivo e IgM negativo); C Solicitar todos os meses a sorologia. Qualquer sinal de contaminação durante o pré-natal deve ser tratado imediatamente. C 24-28 semanas: solicitar TOTG (teste oral de tolerância à glicose) - rastreamento de diabetes gestacional. Terceiro trimestre: C Sorologias para sífilis e HIV (repetição); C Hepatite B e Hepatite C (repetição); C Pesquisa de colonização vaginal e perianal para Streptococcus agalactiae (pode causar infecção fetal e materna) – 35 a 37 semanas. Cálculo da idade gestacional: DUM Regra de Naegele: Soma-se 7 ao 1º dia da menstruação; Retira-se 3 ao mês da menstruação. Até o mês 3: +9 ao mês; Acima do mês 3: -3 do mês. Exemplo: DUM: 25/07/2021 DPP (data prevista para o parto): 01/05/2022 Idade gestacional em relação ao ultrassom inicial: quando a paciente não se lembra da DUM. Diferença de mais de 4 dias no ultrassom de 1º trimestre: utiliza-se como referência o ultrassom. Até 4 dias de diferença mantenha-se a idade gestacional pela DUM. Duração da gestação C A duração média de uma gravidez é de 280 – 286 dias ou 40 semanas a 40 semanas e 6 dias a partir do 1º dia do ciclo menstrual. C Gestação a termo: duração maior que 37 semanas completas e menor que 42 semanas completas; C Gestação pré-termo: duração menor que 37 semanas completas; C Pós-datismo: gestação com duração entre 40 e 42 semanas. Cálculo das semanas Mês gestacional: 28 dias – 4 semanas de 7 dias. 0-4 semanas: mês 0; 5-8 semanas: mês 1; 9-12 semanas: mês 2; 13-16 semanas: mês 3; 17-20 semanas: mês 4; 21-24 semanas: mês 5; 25-28 semanas: mês 6; 29-32 semanas: mês 7; 33-36 semanas: mês 8; 37-40 semanas: mês 9. Ultrassonografia Pede-se no 1º trimestre. C Avaliar a topicidade da gestação (gravidez dentro do útero); C Avaliar a viabilidade da gestação (ex: ausência de batimento cardíaco – gestação inviável); C Datação da gestação; C Avaliar corpo lúteo (estrutura que se forma no ovário após a ovulação – durante a gestação serve para manter a produção de progesterona até 12-13 semanas) e útero; C Fatores de risco para aneuploidias; C Gemelaridade: Mono/dicoriônica; Mono/diamniótica. Ultrassom para gestações de baixo risco C FEBRASGO/FIGO: 3 exames: 1º trimestre: 11-13 semanas e 6 dias: + Doppler Aut (artérias uterinas); Morfológico 2º trimestre: 20-24 semanas: + Doppler Aut + CC (circunferência cefálica); Obstétrico 3º trimestre: 36-37 semanas (verificar posição fetal, líquido amniótico, maturidade placentária); Casos de indicações: C Ecocardiografia fetal: 26-30 semanas; C Dopplefluxometria: a partir de 24 semanas (rastreamento de pré-eclâmpsia). Pré-natal de alto risco: realiza quantos ultrassons forem necessários. Periodicidade de consultas C Who: mínimo 6 consultas; Ideal: C Consulta inicial/retorno – 15 dias; C Consulta mensal (baixo risco) a cada 4 semanas; C Alto risco: avaliadas de acordo com a necessidade; C A partir de 28 semanas: consultas quinzenais (mesmo em gestações de baixo risco); C A partir de 36 semanas: consultas semanais(mesmo em gestações de baixo risco). Consultas de retorno pré-natal Anamnese Fazer as seguintes perguntas: C Apresenta queixas? C Percebe os movimentos fetais ativos (a partir de 23-24 semanas)? C Houve perdas transvaginais (corrimento, sangue ou líquido)? C Como está o funcionamento do sistema digestivo (alimentação e evacuação)? C Há queixas urinárias? Exame físico C Examinar mucosas, verificar PA, peso, pulso, medir o fundo uterino, realizar manobras de Leopold (após 28 semanas de gestação) e ausculta do BCF (batimentos cardiofetais). Fazer outros exames se necessário. Consultas subsequentes C Sintomas da paciente; C Avaliar peso e PA; C Medida da altura uterina; C Ausculta do BCF; C Avaliar presença/ausência de edema de extremidades. Medida da altura uterina (AU) C Tem como objetivo avaliar o crescimento fetal; C Útero: cresce cerca de 1cm por semana a partir de 16 semanas (até 16 semanas o útero está intrapélvico); C Exemplo: 25 cm de AU, aproximadamente 25 semanas da idade gestacional; C Ponto de corte: serão considerados parâmetros de normalidade para o crescimento uterino o percentil 10 (para limite inferior) e o percentil 90 (para o limite superior). Técnica para a medida da altura uterina Fita métrica na porção superior do púbis da paciente até o topo do útero, com as mãos paralelas. Após 36 semanas: o bebê começa a se insinuar = entrar na cavidade pélvica. Não sendo fidedigna esta técnica após 36 semanas. Interpretação do traçado obtido e condutas: C Acima da curva superior (P90): erro de cálculo da idade gestacional, polidrâmnio, gemeralidade, molha hidatiforme, miomatose uterina e obesidade. Caso permaneça dúvida, marcar retorno em 15 dias para reavaliação; C Abaixo da curva inferior (P10): erro de cálculo, feto morto, oligoâmnio, restrição de crescimento fetal. Ausculta de batimentos cardíacos fetais Realizado em todas as consultas. Frequência varia de acordo com a idade gestacional: C 1º trimestre: pode alcançar até 180-190 bpm; C 2º trimestre: média de 150-170 bpm; C 3º trimestre: entre 120-150 bpm. Linhas dermacatórias para ausculta de BCF Linha de Ribemont: linha entre a cicatriz umbilical e sínfise púbica como ponto de referência para inicio da gestação. Coloca 2cm acima da sínfise púbica (lado homolateral ao dorso fetal) e conforme desenvolve a gestação vai movendo a linha. Situações que dificultam a ausculta do BCF: C Obesidade; C Edema de parede abdominal; C Presença de polidrâmnio; C Implantação placentária anterior; C Variedade de posições e atitudes fetais; C Presença de contração uterina. Taquicardia fetal: FC > 160 BPM; Bradicardia fetal: FC < 110 BPM. Ganho de peso na gestação: C Primeiro: avaliar o peso pré-gestacional; C Ganho mensal e relação peso/estatura; C Curva de Atalah: peso é calculado em cada consulta e colocado no gráfico de acordo com a idade gestacional. C Ganho ponderal médio ideal: 12,5 kg; C Para obesas: ganho ponderal máximo: 9,1 kg. Avaliação nutricional na gestação Obesidade materna: C Alterações imunológicas e processo inflamatório sistêmico, aumentando a disponibilidade de glicose e o número de adipócitos; C Placenta: menor atividade da taurina transferase reduz a disponibilidade de taurina ao feto, aumenta o estresse oxidativo placentário (HAS) e estresse inflamatório. Na evolução da gravidez, fetos de mães obesas apresentam: C Macrossomia fetal; C Grandes para idade gestacional; C Traumatismos de parto; C Durante o aleitamento, o sobrepeso materno mostra excesso de ácidos graxos com prejuízo para desenvolvimento visual e neurológico fetal. Altas concentrações de leptina no leite materno aumentam a chance de desenvolvimento de obesidade infantil. Filhos cujas mães são obesas têm mais complicações psicológicas: C Sintomas emocionais; C Dificuldades psicossociais; C Diagnósticos de déficit de atenção e hiperatividade; C Autismo; C Atraso de desenvolvimento neurológico; C Necessitam de apoio fonoaudiólogo. Nutrição: ingestão de macronutrientes e micronutrientes. Macronutrientes: C Fonte de energia e construção corporal; C Proteínas, gorduras e carboidratos. Micronutrientes: C Reações metabólicas e estruturação corporal; C Vitaminas e sais minerais. Mulheres grávidas requerem 15% a mais de calorias – 300 a 500 kcal a mais, na dependência do peso e da atividade da paciente. C IMC normal pré-gestacional: 9 a 11 kg; C IMC baixo pré-gestacional: 18 kg (ou mais); C IMC alto pré-gestacional: menos de 11 kg. C 1 a 2,5 kg são geralmente ganhos no 1º trimestre; C 0,3 a 0,4 kg por semana: 2 trimestres seguintes; C Caso não haja ganho de peso de 4,5 kg até metade da gestação: risco de RN de baixo peso ao nascer; C Paciente obesa: 6 a 8 kg – ganhos menores: associados à falta de expansão do volume do plasma e risco RCIU; C 1.800 a 2.200 calorias diárias totais – IMC e trimestre da gestação. Dieta fracionada: C 45% a 50% de carboidratos (integrais); C 30% a 35% de lipídeos; C 15% a 20% de proteínas. Cálculo das necessidades calóricas diárias: peso corporal ideal durante a gravidez C Peso ideal: 30 kcal/kg/dia; C Sobrepeso: 25 kcal/kg/dia; C Obesas: 20 kcal/kg/dia (peso atual) – ingesta mínima de 1800 kcal/dia. Evitar a cetose; C Abaixo do peso: até 40 kcal/kg/dia. Ácido fólico tem feito protetor contra: C Defeitos abertos do tubo neural (DTN); C Defeitos septais cardíacos; C Fendas faciais Fatores de risco: C Antecedentes DTN com uso de medicamento anticonvulsivante: Ácido valproico e carbamazepina. C Baixo nível socioeconômico; C Diabetes insulinodependente; C Medicamento antagonista folato: metotrexato e sulfonamidas; C Obesidade (IMC maior ou igual a 35 kg/m2); C Síndromes de má absorção (cirurgias bariátricas); C Exposição a altas temperaturas (febre alta); C Raça e etnia (brancas hispânicas) Única suplementação realmente necessária: usado rotineiramente pelo menos 30 dias antes da concepção – dose diária de 400 mcg (0,4 mg) e até, no mínimo, a 12ª semana de gestação; Pacientes grupo de alto risco: doses 10x maiores (4 mg por dia) por período superior a 90 dias na pré-concepção. Ferro elementar: evitar administração no período da embriogênese – maior estresse oxidativo trofoblástico – maior incidência de DM e pré-eclâmpsia. Suplementação de ferro: concentração da ferritina. C < 30 ng/mL: iniciar ferro no 1º trimestre; C 30 e 70 ng/mL: iniciar no 2º trimestre; C > 70 ng/mL: não usar suplementação. Avaliação presença de edema C Palpação do maléolo lateral, face anterior da tíbia ou região sacral. Atividade física na gestação Manter o condicionamento cardiovascular e muscular durante toda a gravidez e no período pós-parto; C Pode contribuir para menores índices de complicações na gravidez; C Atividade de baixo risco: exercícios que qualquer gestante saudável pode praticar – caminhadas, hidroginástica leve, bicicleta ergométrica, dança e ioga. Imunizações Ideal: mulheres fossem imunizadas “antes” da gestação. Vacinação antitetânica: C Prevenir tétano materno-fetal (30 a 70% materna e 60% neonatal); C Dupla bacteriana ou tríplice bacteriana (dTpa). C Objetivo da vacinação: imunidade passiva ao lactante. Dupla adulto (dT) e tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) Gestantes previamente vacinadas com 3 doses de dT (esquema vacinal completo): C Tomar 1 dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação ou até 45 dias após o parto (puerpério). Gestantes com vacinação incompleta: C Completar com 1 dose com dT (caso tenha tomado apenas 1 de dT); C Tomar 1 dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação ou até 45 dias após o parto. Gestantes não vacinadas ou com vacinação desconhecida: C Realizar 2 doses de dT; C Tomar 1 dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação ou até 45após o parto; C Respeitar o intervalo mínimo de 1 mês entre as vacinas. Influenza: dose única anual no momento que estiver ocorrendo à vacinação. Hepatite B C Esquema completo: não precisa ser vacinada; C Vacinação incompleta: completar as doses ate que seja realizado um total de 3 doses; C Não vacinada ou vacinação desconhecida: deve ser aplicado 3 doses no esquema de 0, 1 e 6 meses; a primeira dose deve ser aplicada após o 1º trimestre de gestação. Vacinas contraindicadas na gestação (atravessam a barreira placentária): C Febre amarela; C Tríplice viral; C HPV; C Varicela; C Dengue. Manobras de Leopold Verificar a posição do feto dentro do útero. Realizada a partir de 24-26 semanas, pois antes é difícil de conseguir sentir a posição do feto. 4 tempos: 1. De costas para os pés da paciente e posiciona a mão no fundo uterino, para sentir se está a cabeça (apresentação pélvica – bumbum para baixo e cabeça para cima) ou o bumbum do bebê (apresentação cefálica – contrário da pélvica). 2. Palpar com as duas mãos as laterais do abdome materno, para sentir qual lado está o dorso do feto. Lado do dorso: é mais duro; lado que está os membros: faz uma discreta compressão e sente um buraco. 3. Verificar se o bebê está insinuado ou não. Utiliza-se o polegar e os dedos de uma das mãos a parte inferior do abdome exatamente acima da sínfise pubiana. Não insinuado: cabeça móvel; insinuado: praticamente não se movimenta; 4. Realizada somente quando o feto já está insinuado. Examinador de costas para a cabeça da mãe, posiciona as duas mãos nas laterais (atrás do púbis da paciente) e verificar o quão insinuado o feto está.