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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA: TRANSPORTE DE GASES NO SANGUE OXIGÊNIO 1. TRANSPORTE DE O2 NO SANGUE Existem duas formas de transportar oxigênio no sangue: I.. Dissolvido no plasma; II. Combinado proteínas plasmáticas. 1.1. TRANSPORTE POR OXIGÊNIO DISSOLVIDO NO SANGUE Representa uma fração muito pequena; uma fração tão baixa que é insuficiente para suprir as demandas de O2 do organismo. Lembrete – Lei de Dalton!!! Define a pressão parcial dos gases. A fisiologia respiratória utiliza vários conceitos da físico- química. A dinâmica de absorção ou mistura de gases em solução aquosa é definida pela Lei de Henry. LEI DE HENRY: a quantidade de um gás dissolvido em solução aquosa dependerá da pressão parcial desse gás e de sua solubilidade na solução. Passagem de O2 dos alvéolos para o sangue: passa da fase gasosa nos alvéolos para a fase aquosa no sangue Cálculo: Oxigênio dissolvido x Demanda Exemplo 1: Solubilidade de O2 no sangue = 0,003 mL/(dl.mmHg) pO2 no sangue arterial = 100 mmHg [O2] = 0,003 mL/dL.mmHg x 100 mmHg [O2] = 0,3 mL de O2/dL ou 3 mL/L. Sabendo que o coração libera aproximadamente 5 L/min de sangue em repouso, qual será o máximo de O2 que será dissolvido? [Máximo de O2 dissolvido] = 3 mL/L x 5 L/min [Máximo de O2 dissolvido] = 15 mL/min. A demanda de O2 em repouso é de aproximadamente 250 a 300 mL/min. Sendo que durante a prática de exercícios físicos, a demanda pode aumentar em torno de 10x. Ou seja, o O2 dissolvido (15 mL/min) não consegue suprir a demanda de 250 a 300 mL/min. 1.2. TRANSPORTE DE OXIGÊNIO POR PROTEÍNAS PLASMÁTICAS I. Hemácias O nosso sangue é composto majoritariamente por hemácias. As hemácias são células vermelhas que possuem seu interior aproximadamente 250 milhões de proteínas conhecidas como hemoglobinas ou Hb, correspondente a 15 gramas de Hb por decilitro de sangue. Cada hemoglobina possui quatro grupos denominados Grupamentos Heme, cada um possui um átomo de Fe2+ que é capaz de se ligar ao oxigênio em milisegundos. Quando a hemoglobina é ligada ao O2 é chamada de oxi-hemoglobina. As hemoglobinas deixam os pulmões com saturação de O2 próximo a 100%, ou seja, elas realizam o transporte de uma quantidade enorme de oxigênio. Essa é a principal forma de transporte de oxigênio no organismo. Um dos motivos de observarmos a cor vermelho-brilhante, no sangue arterial, e outra vermelho-azulado, no sangue venoso, se deve a ligação da hemoglobina com o O2. Quando ligada ao O2, a hemoglobina tem sua capacidade de absorver a luz alterada o que deixa o sangue mais vermelho e brilhante. II. Mioglobina Outra proteína chamda mioglobina tem sua estrutura parecida com a da hemoglobina, porém só possui um domínio para ligação com o oxigênio. Importante na manutenção de suprimento de O2 nos músculos. III. Hemoglobina Para que a hemoglobina exerça adequadamente a sua função de transporte ela deva ser capaz de se ligar e se soltar do O2. Isto é, ela deve ter uma capacidade de combinação reversível com o oxigênio. A hemoglobina pega o O2 nos capilares pulmonares e o libera nos capilares teciduais. Afinidade O2 – Hb: facilidade com que a hemoglobina e o oxigênio se combinam. Quanto maior a afinidade, mais fácil é a combinação O2 – hemoglobina. 1.3. SATURAÇÃO (SAT%) A proporção de hemoglobina ligada ao oxigênio é chamada de saturação (SAT%). Isso significa que de toda a capacidade de se ligar ao O2, quanto de fato está sendo utilizado. Esses valores são expressos em porcentagem. Por exemplo, no sangue arterial esse valor é em volta de 98%, ou seja, SAT% = 98%. Na prática clínica, a saturação pode ser medida oxímetria (oxímetro de pulso não invasivo). A saturação da hemoglobina está diretamente relacionada à pressão parcial de oxigênio. A relação entre pO2 e a saturação pode ser observada no gráfico que dá origem a curva de equilíbrio O2 – Hb ou curva de dissociação O2 – Hb. 2. No sangue arterial que acabou de passar pelos alvéolos, a pressão de O2 é muito alta, em torno de 100 mmHg, o que gera uma saturação de quase 100% da hemoglobina. No topo da curva podemos observar uma espécie de platô, ou seja, para valores moderados a alto de pO2, acima de 60 mmHg, não há uma variação grande na saturação da hemoglobina que permanece em valores elevados. Então, nós vemos uma queda brusca na curva. Essa inclinação pode ser explicada pela interação entre as subunidades da hemoglobina. Quando um oxigênio se liga a hemoglobina, a afinidade aumenta de modo a facilitar a ligação de outras moléculas desse gás nos grupos heme. De forma complementar, o desligamento do O2 gera uma perda de afinidade, de modo que o desligamento das demais moléculas de O2 é fácil. Desse modo, a queda da pO2 gera um aumento da inclinação da curva e uma redução brusca na saturação abaixo de 60 mmHg. O ponto azul mostra um ponto com uma saturação de aproximadamente 75%, com a pO2 já bem reduzida por volta de 40 mmHg. O P50 representa o valor de pO2 necessário para saturar a hemoglobina em 50%. Nesse ponto, a pO2 é por volta de 27 mmHg Através desses pontos podemos medir a afinidade O2 – hemoglobina. A curva de equilíbrio de O2 – Hb, em verde, pode ser deslocada para a direita, representada na curva azul, e para esquerda, curva em vermelho no gráfico, em resposta ao ambiente em que a célula se encontra. Esse deslocamento afeta a saturação da hemoglobina, o que fica claro no ponto P50. Com o deslocamento para direita, o valor do P50 aumenta, ou seja, é necessário uma maior pO2 para saturar a hemoglobina em 50%. Isso significa dizer que houve uma redução da afinidade da O2 – hemoglobina, o que resulta em uma maior facilidade para liberar o O2 para os tecidos. Por outro lado, com o deslocamento da curva para a esquerda, o valor de P50 reduz, sendo necessária uma maior pO2 para saturar a hemoglobina em 50%. Nesse caso, dizemos que a afinidade de O2 – hemoglobina está aumentada, o que resulta em uma maior facilidade da hemoglobina para capturar o O2. Esses deslocamentos da curva ocorrem devido a alguns fatores que podem alterar a afinidade da hemoglobina pelo O2. Entre eles: pH – está diretamente ligado a produção de gás carbônico pelo corpo; maior liberação de CO2 gera uma redução de pH. Desloca a curva da oxi-hemoglobina para a direita, ou seja reduzem a afinidade da hemoglobina facilitando a liberação de oxigênio para os tecidos. Temperatura – a elevação da temperatura coporal desloca a curva para a direita e facilita a liberação de oxigênio para os tecidos. Isso é benéfico se pensarmos no exercício físico, por exemplo, que aumenta a temperatura corporal e exige uma quantidade de O2 maior para os tecidos musculares. Presença de 2,3-fosfoglicerato ou 2,3-DPG: intermediário da glicólise (quebra da glicose para produzir energia). Quanto maior a presença desse, mais a curva se desloca para a direita. Isso ocorre, porque o 2,3-DPG se liga à hemoglobina gerando um efeito alostérico, isto é, ele muda a conformação da proteína dificultando que ela se ligue ao O2. CO2 – quanto mais CO2 for liberado, mais o tecido necessitará de O2. Exemplo: No exercício físico se tem: aumento da temperatura corporal (contração muscular), aumento do metabolismo para suprir as demandas energéticas, o que eleva a produção de ácidos (reduzindo o pH) e a liberaçãode CO2. Esses fatores no tecido irão reduzir a afinidade Hb – O2 , deslocando a curva para a direita. Nesse momento, o tecido precisa consumir mais O2 para manter o seu metabolismo e o deslocamento da curva para a direita é uma resposta benéfica durante o exercício, ou seja, a redução da afinida de O2 – Hb facilitará a liberação do O2 para o tecido. Detalhe: nenhum dos fatores citados acima competem com o oxigênio pelo mesmo sítio de ligação na hemoglobina. Além desses fatores, o CO2 possui uma afinidade com a hemoglobina, em torno, de 220 vezes maior quando comparado com o O2. Uma grande quantidadade desse O2 que é inspirado se liga reversivelmente a hemoglobina, mas quando uma ou mais moléculas de CO se ligam aos grupos heme, estes gases competem com o O2 pelo mesmo sítio de ligação. Como o gás carbônico porssui maior afinidade com a hemoglobina do que o oxigênio, ao invés de carregar o O2, a hemoglobina se irá se ligar e carregar o CO2. Além disso, o CO também pode descolar a curva O2 – Hb dificultando a liberação do O2 para os tecidos. Por esse motivo, o gás carbônico é considerado tóxido para o nosso organismo e sua intoxicação grave pode ser fatal. Vários fatores podem alterar a quantidade de O2 que chega aos tecidos, como: - A capacidade de oxigenação do sangue para o pulmão; - O teor ou quantidade de Hb no sangue; - Débito cardíaco (quantidade de sangue arterial que o coração libera para o corpo por minuto). Cálculo de O2 que chega aos tecidos: (concentração de O2 no sangue arterial – a concentração de O2 no sangue venoso) x o débito cardíaco. Quantidade de O2 = ( [O2] no sangue arterial - [O2] no sangue venoso) x débito cardíaco DIÓXIDO DE CARBONO 1. TRANSPORTE DE CO2 NO SANGUE Uma vez dentro das células o O2 é utilizado nos processos metabólicos de respiração aeróbia. Um dos produtos finais desse processo de respiração é o CO2, que após ser produzido precisa ser expelido para outro lugar para não acumular no corpo. O CO2 faz o caminho contrário do O2 pelo sangue venoso, ou seja, vai dos tecidos para os alvéolos e para onde será eliminado pelo corpo. Existem três formas de transportar CO2 no sangue: I. Dissolvido no plasma As hemácias também são extremamente importantes para o transporte de CO2. O valor de CO2 dissolvido no sangue (dentro das hemácias) é baixo, sendo cerca de 0,067 mL/dL. Esse valor, entretanto, é 20x maior do que o oxigênio. Lei de Henry também vale para o CO2. II. Como compostos carbamínicos Ligação amino-terminal: Ligação do CO2 com um grupo NH2 terminal na proteína hemoglobina, formando a hemoglobina, NH, COOH-. III. Na forma de HCO3- (bicarbonato) Dentro das hemácias existe uma enzima chamada anidrase carbônica que é responsável por catalisar a reação da água com o CO2 produzindo bicarbonato e H +. A facilidade da hemoglobina de transportar o CO2 é maior na desoxi-hemoglobina, ou seja, o processo se complementa. O desligamento do O2 na hemoglobina aumenta a afinidade do CO2 pela mesma, fazendo com que o gás seja rapidamente transportado pelas hemácias de volta para os pulmões onde será liberado. A partir da reação de formação do HCO3-, também podemos compreender a relação do pH com a curva de saturação da oxi-hemoglobina. Mais H+ no sangue significa um menor pH e uma concetração maior de HCO3 -, indicando uma maior necessidade de liberar O2 para os tecidos, o que diminui a saturação da oxi-hemoglobina. A conversão do CO2, que tem como produto H+, é extremamente importante na manuutenção do pH corporal que deve ser mantido em níveis homeostáticos, isto é, em torno de 7,45. A redução da pressão do CO2 desloca a reação para a esquerda, diminuindo consequentemente a concentração de H+ e causando uma alcalose respiratória. É o que acontece, por exemplo, na hiperventilação durante uma crise de ansiedade. De modo inverso, quando a pressão de CO2 aumenta, a reação se desloca para a direita e há um aumento na produção de H+, causando uma acidose respiratória. Pode estar presente em algumas doenças pulmonares. O pH é determinado pelo HCO3- e CO2. Os sistemas renal e respiratório atuam no equilíbrio ácido-base do corpo. Equilíbrio ácido-base Ao eliminar o CO2, o sistema respiratório contribui diretamente para a manutenção do pH do organismo. Por meio da equação de Henderson-Hasselbach é identificamos o porquê nas doenças pulmonares, com a retenção do CO2, há como consequência um caso de acidose respiratória. O conteúdo de CO2 é inversamente proporcional ao pH.
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