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Hérnias Abdominais: Hérnias são penetrações de uma víscera ou tecido, através de uma abertura, geralmente circular, podendo ser congênita ou adquirida, que são resultado de um defeito, enfraquecimento, ruptura ou relaxamento das estruturas da parede abdominal. **Hérnia incisional é a que ocorre em área de cicatriz cirúrgica, já a hénia ventral, ocorre na parede abdominal. As hérnias são causadoras de realização de 2 milhões a 3 milhões de laparotomias, por ano. Entretanto, as herniações tem diminuído com o surgimento das cirurgias minimamente invasivas (laparotomia é fator de risco para o desenvolvimento de herniação, visto que forma uma cicatriz no tecido -> cicatriz = fibra, que é um tecido + frágil que o normal da região). INDICAÇÃO CIRÚRGICA: Não são todas as hérnias que são de indicação cirúrgica e devemos avaliar o risco/benefício do paciente para realizar a indicação. Fatores de indicação: • Aumento de tamanho ao longo do tempo; • Encarceramento (quando o conteúdo extravasa do seu local de origem sem o comprometimento vascular) -> se a pessoa é uma pessoa muito ativa, pode ocorrer extravasamento maior da víscera/tecido para fora do seu local de origem, podendo levar ao estrangulamento; • Estrangulamento -> Ocorre comprometimento do suprimento vascular do tecido herniado, por torção/compressão de um segmento do órgão que está extravasado (dor sem sinal de melhoras, mesmo após a analgesia, presença de náuseas, vômitos...); • Fístula enterocutânea -> Comunicação da alça intestinal com o tecido cutâneo (causador de infecção e inflamação); • Perda de domicílio -> Quando o órgão sai da cavidade abdominal e se instala no tecido cutâneo, levando a redução da pressão intracavitária (causa queda do retorno venoso, vasodilatação, estase venosa abdominal e alteração funcional pulmonar, de micção, defecação e deformidades estéticas). Também pode causar compensação lombar, devido ao peso instalado na parte da frente do corpo, fora da cavidade (sintomas de dor lombar e abdominal). ETIOLOGIA DAS HÉRNIAS: Podem ser causadas por aumento crônico da pressão intra-abdominal (obesidade, ascite, gravidez...), por fragilidade da parede abdominal (idade, doenças crônicas, traumas, procedimentos cirúrgicos prévios, tabagismo...) e por aumento da atividade de mataloproteinases (MMP), que degradam a matriz extracelular -> lembrar que hérnias são causadas por condições multifatoriais. PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO: O reforço com a tela é recomendado para o reparo de todas as hérnias incisionais, sendo que devemos centralizar e trazer a musculatura (músculos retos) o mais próximo, e se possível, sob tensão fisiológica (tensão maior que a fisiológica é fator de risco para má cicatrização). Além disso, é necessário que seja feita a redução do tecido desvitalizado e infectado, antes do reparo. Faculdade Ciências Médicas MG // Técnicas Operatórias Luísa Trindade Vieira (@medstudydalu) – 72D A tela pode ser fixada de 5 formas, sendo elas pré- aponeurótico, por interposição, intermúsculo- aponeurótica, pré-peritoneal ou intraperitoneal, sendo que a primeira citada é utilizada apenas quando não há condição de reaproximação adequada da musculatura, visto que seu posicionamento é extremamente superficial e qualquer lesão acabaria expondo a tela, levando ao risco de contaminação dos poros por bactérias. **Lembrar que independente da forma de fixação, a tela escolhida deve se estender por pelo menos, 4cm do defeito herniário para que essa hérnia não retorne após a operação -> a prótese deve superar a força da pressão intra- abdominal. PRÓTESE IDEAL: É válido relembrar que: A grande maioria das telas não pode entrar em contato direto com alças intestinais, e por isso a técnica intraperitoneal não pode ser feita com as telas comuns, mas sim com a DUPLA-FACE, que possui um lado de celulose (o que entra em contato com a alça intestinal). Além disso, devemos lembrar que quanto mais porosa for a tela, maior a probabilidade de infecção e quanto menos porosa, maior a resistência. RIVES STOPPA vs TAR: Rives-Stoppa e TAR são duas técnicas de reparo aberto com tela, mas elas se diferenciam na extensão em que a tela é colocada: REVES STOPPA (SUBLAY): Dissecação do músculo reto, até o seu seguimento posterior (lâmina posterior de sua bainha) -> Tela é colocada acima da lâmina por toda a extensão do músculo reto do abdome; TAR: Dissecação do músculo reto, até o seu seguimento posterior (lâmina posterior de sua bainha). Além disso, disseca-se também o músculo transverso do abdômen de ambos os lados -> tela permanece no espaço retromuscular estendendo-se por toda parede abdominal. HÉRNEAS ÍNGUINO-FEMORAIS: Revisão da anatomia -> Para o estudo de técnicas operatórias de hérnias da região ínguino-femorais, devemos relembrar a anatomia da região inguinal, da região femoral e da ínguino femoral. **O QUE DEVEMOS SABER SOBRE AS REGIÕES: REGIÃO FEMURAL -> Ligamento pectíneo é o ponto de referência para o reparo das hérnias femurais; REGIÃO ÍNGUINO-FEMURAL -> Lembrar que os vasos epigástricos inferiores são o ponto de referência para a divisão entre hérnias inguinais diretas (medial aos vasos epigástricos inferiores -> TRÍGONO DE HASSELBACH -> ANEL INGUINAL SUPERFICIAL) e hérnias inguinais indiretas (lateral aos vasos epigástricos inferiores). Além disso, devemos saber os limites do canal inguinal: • Parede anterior: Aponeurose do músculo Oblíquo externo; • Parede posterior: Fáscia transversalis e o tendão conjunto; • Teto: Fibras dos Músculos oblíquo interno e transverso do abdome; • Assoalho: Ligamento inguinal, lacunar e trato ílio púbico. E o conteúdo, que é diferente nos sexos feminino e masculino: SEXO FEMININO: Ligamento redondo do útero, artéria e veia do ligamento redondo, nervo íleoinguinal e ramo genital do nervo genitofemoral; SEXO MASCULINO: Funículo espermático, nervo íleoinguinal e ramo genital do nervo genitofemoral. O reparo das hérnias, pode ser feito com estruturas do próprio corpo, sem a utilização de prótese, por meio do imbricamento de tecido (criação de parede mais rígida: Bassini, McVAY, Zimmerman, Shouldisse) e por meio do implante de prótese/tela (técnica mais utilizada: Linchtenstein, Stoppa e Stoppa-Reeves). REPARO DAS HÉRNIAS INGUINAIS: Técnica de Lishtenstein -> É uma técnica de laparotomia (livre de tensão), e é executada da seguinte maneira: - Incisão da pele e abertura da tela subcutânea; - Dissecção do anel inguinal superficial (trígono do Hasselbach) e posterior abertura da aponeurose do músculo oblíquo externo; - Isolar o nervo ílio-hipogastro, com cuidado para não rompê-lo, visto que seu rompimento é causador de dor crônica no pós operatório, além dele, devemos isolar o funículo espermático, o nervo íleo-inguinal e gênito femoral e realizar o isolamento e o tratamento dos sacos herniários; - Após o tratamento dos sacos herniários, devemos fazer a fixação da tela no ligamento inguinal, por meio da sutura contínua (chuleio simples), com FIO INABSORVÍVEL de propileno (2-0); - Posteriormente é feito o posicionamento da tela entre a parede posterior e o funículo espermático (é feito um furinho na tela, para a passagem do funículo espermático); - Realizar a fixação da tela no músculo oblíquo interno, fazendo sutura com pontos simples separados (fio inabsorvível -> propileno 2-0); Pinça anatômica a esquerda: N. ílio-hipogástro; Isolado logo abaixo do nervo, temos o funículo espermático isolado por esse instrumento branco. CIRCULADO -> Funículo espermático que passou entre o “furinho” feito na tela. - Para finalizar a fixação da tela, deve-se realizar o cruzamento das duas asas da tela e fazer a sutura no ligamento inguinal, com ponto único de fio inabsorvível (propileno 2-0); - Ao final do procedimento, devemos realizar sutura contínua (chuleiosimples), para o fechamento da aponeurose do músculo oblíquo externo, com FIO ABSORVÍVEL (poligalactina 2-0) e o fechamento da tela subcutânea e pele.] VÍDEO PARA MELHOR ENTENDIMENTO DA TECNICA: https://www.youtube.com/watch?v=2V2jE0qlBqI (obs: no lugar de grampos, são feitas as suturas, assim como foi citado acima). Técnica de Stoppa Reeves -> Técnica de laparoscopia (minimamente invasiva), em que a visão da anatomia é diferente da visão anatômica na cirurgia aberta, e devemos saber localizar e entender bem o posicionamento dessas estruturas. Para isso, foi criada a ilustração de um “Y invertido”, na região inguinal, formada pelos vasos epigástricos inferiores (superior -> Perninha do Y), ductos e vasos deferentes (medialmente -> um dos bracinhos do Y) e vasos espermáticos (lateralmente -> o outro bracinho do Y). Além do “Y invertido”, devemos saber identificar o trato íleo-púbico (passa horizontalmente através do anel inguinal profundo no centro do Y invertido). Essas estruturas, juntas, formam os “5 triângulos”, que são visualizados na cirurgia laparoscópica: Esses 5 triângulos visualizados, são 5 regiões importantes de serem entendidas, sendo elas: Triângulo do desastre (DOOM): Corresponde a região dos vasos ilíacos externos; Triângulo da dor (PAIN): Representa a passagem do nervo cutâneo lateral da coxa, ramo femoral do nervo genito- femoral e do nervo; Triângulo das hérnias indiretas (I): Corresponde ao anel inguinal profundo, que é a fonte das hérnias indiretas; Triângulo de Hesselbach (D): É o local de ocorrência das hérnias diretas; Triângulo das hérnias femorais (F): Área correspondente às hérnias femorais, próximas ao óstio da veia femoral. Para a realização da técnica, os aspectos técnicos que devemos conhecer, necessariamente são: CIRCULADO -> Funículo espermático. Orifício miopectíneo de Fruchaud: Em 1956, ele foi descrito e este corresponde aos locais mais comuns de todas as hérnias da região inguinal. A importância de conhecer esta divisão de Fruchaud está na possibilidade de tratamento simultâneo de três tipos de hérnia diferentes, a partir da instalação de uma tela sintética sobre a fáscia transversal (região mais profunda da parede abdominal) em toda extensão do orifício. Esse orifício é delimitado pela borda lateral do músculo reto abdominal, borda lateral do músculo psoas, ligamento de cooper e linha imaginária entre as espinhas ilíacas antero-superiores. HÉRNIA UMBILICAL -> Aspectos técnicos: Realizamos a incisão cutânea peri- umbilical e fazemos a dissecção circunferencial da cicatriz umbilical. Posteriormente é feita a identificação do saco herniário, para a realização da redução do conteúdo. Para finalizar é realizada a sutura aponeurótica sem tensão. OBS: Uso de telas é obrigatório, se o defeito herniário for superior a 3 a 5 cm (tendência ao uso de telas, mesmo naquelas com tamanho inferior a 2 cm) e devemos sempre relembrar que deve ser feita a sobreposição da tela em aproximadamente 4 cm do defeito herniário. HÉRNIA EPIGÁSTRICA: É um defeito herniário, que pode se localizar, desde o apêndice xifoide até a cicatriz umbilical, na linha Alba. Sua fisiopatologia é multifatorial, sendo que temos 2 principais teorias para explicar o surgimento desse tipo de hérnia: • Teoria dos vasos penetrantes na linha Alba; • Teoria da ausência da terceira camada de fibras de decussação em linha Alba: Região “mais fraca”, logo, há uma maior chance de extravasamento visceral. **Considera-se o somatório das duas teorias, como o principal fator, ou seja, região mais enfraquecida do abdômen. Aspectos técnicos: Realizamos a incisão cutânea mediana vertical e fazemos a identificação do saco herniário. Posteriormente é feita a redução do conteúdo herniário e a identificação das bordas do anel herniário. O procedimento é finalizado com a sutura aponeurótica sem tensão. Assim como nas hérnias umbilicais, o uso de telas é obrigatório, apenas se o defeito herniário for superior a 2 cm (devemos realizar a sobreposição da tela em aproximadamente 4 cm). PRINCÍPIOS QUE FAVORECEM O USO OU NÃO DE TELAS:
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