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Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS As obrigações, direitos pessoais, têm como característica fundamental seu caráter transitório (Silvio de Savio Venosa). Ao contrário dos direitos reais, que tendem à perpetuidade, os direitos obrigacionais gerados pelo contrato caracterizam-se pela temporalidade. Não há contrato eterno. O vínculo contratual é, por natureza, passageiro e deve desaparecer, naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação prometida ao credor. - Humberto Theodoro Jr. Em uma análise puramente terminológica: Os contratos encontrarão seu fim -> Com o adimplemento Os contratos serão dissolvidos -> A partir da detecção de vícios -> A partir da resolução contratual baseada no inadimplemento -> A partir da teoria da onerosidade excessiva -> A partir da revogação do negócio jurídico -> A partir de elementos externos que impeçam o cumprimento do contrato Há formas de extinção por causas anteriores ou contemporâneas ao nascimento do contrato (nulidade e anulabilidade) ou supervenientes à sua formação (resolução e resilição). Ou, ainda, por mortes e por adimplemento. Assim, são formas de extinção contratual: Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 ❖ Extinção normal do contrato (por adimplemento); ❖ Extinção por fatos anteriores à celebração; ❖ Extinção por fatos posteriores à celebração; ❖ Extinção por morte. Modo normal de extinção dos contratos: A extinção normal dos contratos se dá da seguinte maneira: O devedor executa a prestação e o credor atesta o cumprimento por meio da quitação – consubstanciada em um recibo -, sobre o qual tem direito o devedor, visando a provar a satisfação obrigacional. Se a quitação não lhe for entregue ou se lhe for oferecida de forma irregular, poderá o sujeito passivo da relação obrigacional reter o pagamento, sem que se configure a mora, ou, ainda, efetuar a consignação em pagamento, de forma judicial ou extrajudicial. - Flávio Tartuce O modo normal de extinção do contrato, portanto, dá-se por meio da execução do mesmo, seja ele instantânea, diferida ou continuada. Atingida a finalidade para a qual foi criada, a obrigação extingue-se. O modo de extinção normal, ainda, ocorre a partir do prazo final previsto para o negócio (Silvio de Savio Venosa). Extinto o contrato, não há que se falar em obrigações dele decorrentes, em regra. - Silvio de Savio Venosa Comprova-se o pagamento da dívida nos termos do seguinte dispositivo: Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 Art. 320, CC: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo Único: Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. Modo anormal de extinção contratual – Causas anteriores ou contemporâneas ❖ HIPOTESE 1 – INVALIDADE CONTRATUAL É possível que, desde o início de sua formação, o contrato esteja eivado de vício. Há invalidade nos casos envolvendo o contrato nulo e o contrato anulável. N U LI D A D E A B S O LU TA Conceito: Enseja em contrato nulo. Decorre da ausência de elemento essencial do ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitos desde a sua formação. Se ocorrer vício insanável, a nulidade opera desde a raiz do vínculo. Hipóteses: arts. 166 e 167, CC (abaixo relacionados) Tratando-se de vício originário, o pronunciamento pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou por promoção do MP (art. 168, CC) Se a hipótese for de nulidade parcial, só quanto a ela poderá ser exercido o direito (art. 184, CC). Quando cabível a conversão, a procedência do pedido extintivo de nulidade será apenas parcial, devendo o juiz declarar qual o negócio jurídico que subsiste (art. 170, CC) Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 A N U LA B IL ID A D E Conceito: Advém da imperfeição da vontade, ou porque emanada de um relativamente incapaz não assistido ou porque contém algum dos vícios do consentimento, como erro, dolo, coação, etc. Hipóteses: art. 171, CC A penas pode ser arguida pelo contraente em cujo interesse foi estabelecida a regra (art. 177, CC), e não pode ser declarada de ofício pelo magistrado. Como pode ser sanada e até mesmo não arguida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto não se mover ação que a decrete, sendo ex tunc os efeitos da sentença. O contrato tem eficácia até a sentença proferida pelo juiz (art. 177, CC). Será de 4 anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico eivado de anulabilidade (art. 178, CC) São alguns dos dispositivos pertinentes: Art. 166, CC: É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV – não revestir a forma prescrita em lei; V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 Art. 167, CC: É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós- datados. § 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Art. 171, CC: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. ❖ HIPOTESE 2 – EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA Na execução do contrato, cada contraente tem a faculdade de pedir a resolução, se o outro não cumpre as obrigações avençadas. Tal faculdade pode ser oriunda de estipulação legal ou de estipulação consensual, esta última realizada por meio da cláusula resolutiva expressa. O instituto da resolução é uma porta que se abre ao credor lesado pelo incumprimento, mecanismo o qual possui lógica própria e definível, visando corrigir desequilíbrios que, por infinitas razões, possam atacar o curso do itinerário negocial, encontrando amparo no fato de que o escopo econômico- Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 social das prestações devidas entre os sujeitos que reciprocamente se obrigam poderá restar desestabilizado diante do inadimplemento. - Marcos Jorge Catalan Em todos os contratos há a cláusula resolutiva tácita, nos seguintes termos: Art. 475, CC: A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial (art. 474, CC). ❖ HIPÓTESE 3 – EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO Há no próprio contrato, pactuado pelas partes, hipóteses em que o negócio será extinto, mediante declaração unilateral de vontade, se qualquer um deles se arrepender. Quando expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer das partes a rescindir o ajuste,mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-se à perda do sinal, ou à sua devolução em dobro, sem, no entanto, pagar indenização suplementar. Configuram-se, in casu, as arras penitenciais, previstas no art. 420, CC. - Carlos Roberto Gonçalves O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado ou antes da execução do contrato, se nada foi estipulado a esse respeito, pois o adimplemento deste importará renúncia tácita àquele direito. Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 Modo anormal de extinção contratual – Causas posteriores Fala-se em rescisão contratual. Esta corresponde a um gênero, do qual são espécies a resolução (extinção por inadimplemento) e a resilição (dissolução por vontade bilateral ou unilateral). Também se enquadra nessa categoria a extinção por morte. São hipóteses de resolução: ❖ A inexecução voluntária: Impossibilidade da prestação por culpa ou dolo do devedor. Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, inclusos as perdas e danos do credor. Em contratos de trato sucessivo, os efeitos são ex nunc. ❖ A inexecução involuntária: inadimplemento decorrente de fato não imputável às partes, como sucede nas hipóteses de ação de terceiro e nas de caso fortuito ou foça maior. Somente se justifica a extinção nos casos em que a impossibilidade persistir por tanto tempo que o cumprimento da obrigação deixa de interessar ao credor. Não há de se falar em perdas e danos. ❖ A cláusula resolutiva tácita. ❖ A resolução por onerosidade excessiva: Em algum momento, o adimplemento contratual se torna excessivo para uma das partes. Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 Sobre a resilição: A resilição não deriva do inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral. Resilir, significa voltar atrás. - Carlos Roberto Gonçalves A resilição bilateral denomina-se distrato. É declaração de vontade das partes contratantes, no sentido oposto ao que havia gerado o vínculo. Art. 472, CC: O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. ➔ Qualquer contrato pode cessar pelo distrato, desde que os efeitos não estejam exauridos; ➔ Se já produziu algum efeito, o acordo para extingui-lo não é o distrato, mas outro contrato que modifica a relação contratual; ➔ O distrato exige a mesma forma utilizada no próprio contrato; ➔ Efeitos ex nunc A resilição unilateral pode ocorres somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade. Art. 473, CC: A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo Único: Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. ➔ Somente pode ocorrer nas obrigações duradouras, contra a sua renovação ou continuação; ➔ Independe do não cumprimento da outra parte; ➔ Independe do pronunciamento judicial; ➔ Produz efeitos ex nunc; ➔ É declaração receptícia da vontade; ➔ Não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige- se que obedeça à justa causa; ➔ O direito de resilição trata-se de direito potestativo, que se contrapõe a um estado de sujeição. A extinção por morte de um dos contratantes apenas acarreta a dissolução dos contratos persoalíssimos, que não poderão ser executados pela morte daquele em consideração a qual foi ajustado. ➔ Seus efeitos operam-se ex nunc ➔ Ocorre uma espécie de resilição automática, haja vista que é impossível a substituilão da parte falecida; OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Em boa técnica, o termo rescisão pode ser aplicado na dissolução de alguns contratos nas seguintes hipóteses: LESÃO Defeito do negócio jurídico que se configura quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação assumida pelo outro contraente (art. 157, CC). Consiste, portanto, na desproporção oi desequilíbrio entre a prestação Érika Cerri dos Santos UFES – 2021/1 executada ou prometida pela parte e a que deve receber, a qual decorre do estado de necessidade em que se encontrava. ESTADO DE PERIGO Assemelha-se à anulação pelo vício da coação e caracteriza-se quando a avença é celebrada em condições desfavoráveis a um dos contratantes, que assume obrigação excessivamente onerosa, em situação de extrema necessidade, conhecida da outra parte (art. 156, CC). Os efeitos da sentença retroagem à data da celebração do contrato, em ambos os casos. A parte que recebeu fica obrigada a restituir.
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