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CONCEITOS GERAIS SOBRE A ANAMNESE Não deve existir uma rígida rotina, um roteiro inflexível de abordar a paciente durante o interrogatório. A sequência e a profundidade das perguntas vão depender da sensibilidade do médico e da compreensão da paciente. Com frequência, durante e após o exame físico, é necessário obter informações que não foram relatadas ou bem exploradas na anamnese. PONTOS FUNDAMENTAIS ● História da doença; ● Conhecimento dos antecedentes pessoais fisiológicos, principalmente do ciclo menstrual; ● Registro da idade da menarca, o ritmo e a duração das menstruações*; ● Idade do aparecimento da pubarca e da telarca; ● Data da última menstruação; ● Início da atividade sexual; ● Uso de anticoncepcionais; ● Antecedentes pessoais patológicos: Doenças infectocontagiosas (p. ex., tuberculose), diabetes melito, doenças sexualmente transmissíveis, doenças ginecológicas anteriores, radioterapia, hormonioterapia, cauterizações, curetagens e antibioticoterapia; ● História familiar: Atenção com a ocorrência de tuberculose, de diabetes mellitus, neoplasias, endocrinopatias e anomalias genéticas, principalmente câncer de mama, do endométrio, do ovário e do cólon. Todas as doenças hereditárias ou de ocorrência familiar; ● Paciente em atividade reprodutiva: ○ Número de gestações, anotando-se o número de partos e de abortamentos, seus tipos, idades e complicações. Se for o caso, as épocas do último parto ou aborto devem ser registradas; ○ A evolução do puerpério e da lactação; *Com esses dados, define-se o padrão menstrual da paciente, formado de três números: o primeiro corresponde à idade da menarca; o segundo, à duração do fluxo; e o terceiro, à periodicidade ou ao intervalo entre as menstruações. Exemplo: 12/03/28, o que significa que a menarca ocorreu aos 12 anos, a duração do fluxo é de 3 dias e o intervalo entre as menstruações é de 28 dias. ROTEIRO DA ANAMNESE IDENTIFICAÇÃO ● Nome; ● Data de nascimento: Fundamental para o cálculo da idade e enquadramento no grupo etário específico para análise das características fisiológicas e patológicas mais predominantes nessa faixa etária, haja visto que o sistema genital femino passa por diversas variações anátomo-fisiológicas dependentes da idade. ○ Na adolescência e no climatério: são fases de transição e de grande instabilidade endócrina, com perturbações no ciclo genital. ○ Período reprodutivo: os problemas mais usuais são relacionados a gravidez, contracepção e infecções genitais. ○ Pós menopausa: predomínio de alterações tróficas e neoplásicas. ● Estado civil: Importante para saber se existiu ou existe prática sexual. É indicado que a pergunta sobre a prática sexual seja feita posteriormente nos antecedentes sexuais para que não haja retração da paciente. ● Profissão: Tem sua importância mas não é tão relevante na ginecologia, servindo na maioria das vezes para traçar um perfil da paciente. Mas há alguns tipos de patologias, como certas dermatoses vulvares ou desvios posicionais uterinos que observam-se mais em populações com atividade agrícola e relacionam-se com o manuseio de produtos químicos. ● Cor: Importante na suspeita de algumas patologias predominantes em determinados grupos étnicos, como a miomatose e mulheres pretas. ● Naturalidade e procedência: Relaciona-se a frequência de certas patologias em Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 determinada área. ● Orientação sexual. QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO Refere-se ao motivo da consulta, o sintoma principal e a duração, porém às vezes a razão da consulta pode ser profilático ou de aconselhamento, para rastreio oncológico ou orientação anticoncepcional. CICLO GENITAL 1. MEN (Idade da Menarca) Representa o ponto de partida para definir o ciclo menstrual de cada mulher. 2. Ciclos (Perfil do ciclo menstrual) A maioria das queixas são relacionadas às oscilações com o ciclo genital. O ciclo não é uniforme, mas em grande parte das mulheres ele é relativamente constante. Deve-se descrever o ciclo em forma de uma fração: ◆ Numerador: duração total do ciclo ◆ Denominador: período menstrual Atenção! Na adolescência os ciclos começam irregular e se regularizam por volta dos 18 anos. Se liga! Ao perguntar sobre a regularidade dos ciclos algumas pacientes podem se confundir ao pensar que a regularidade significa iniciar seu ciclo todo mês no mesmo dia. Contudo, no âmbito médico a regularidade significa um intervalo constante de um ciclo para o outro. Dessa forma, é interessante questionar a paciente se ela menstrua todos os meses, se tem dias de diferença entre um ciclo e outro. Colher as seguintes datas para confirmar os dados do ciclo menstrual: ◆ DUM (Data da última menstruação) ◆ DPUM (Data da penúltima menstruação) ◆ DAPUM (Data da antepenúltima menstruação) Avaliação da quantidade do fluxo catamenial pode ser feita através dos seguintes parâmetros: ◆ Duração do período menstrual; ◆ Número de tampões utilizados a cada dia; ◆ Avaliação subjetiva por parte da paciente a cera da quantidade; ◆ Coloração; ◆ Fluidez do fluxo A presença de coágulos é um indicador razoável da quantidade de fluxo menstrual, dessa forma utiliza-ser o sistema de cruzes: ◆ + escassa ◆ ++ moderada ◆ +++ abundante ◆ ++++ perdas muito abundantes ◆ +/- para as diminutas Depois de colher os dados sobre o período menstrual utiliza-se a fração associada ao sistema de cruzes. Exemplo: mulher com ciclos de 28 a 30 dias e períodos de 4 a 5 dias em quantidade moderada, descreve-se como ciclo 28-30/4-5 ++. As síndromes não são inquiridas obrigatoriamente para não prolongar a consulta e tem interesse clínico apenas em alguns casos. ◆ Síndrome periovulatório (SPO) ◆ Síndrome pré-menstrual (SM) ◆ Síndrome menstrual (SM) Atenção Como a duração e a quantidade dos fluxos menstruais são bastante variáveis, não tem tanta importância clínica a não ser em casos de hipermenorréia ou menorragia, pois pode significar uma perturbação homeostática por anemia hemorrágica. Quando uma mulher que tem períodos de 6-7 dias e passa a ter somente 3, tem-se uma hipomenorreia. Nas usuárias de anticoncepcional a longo prazo apresentam um ciclo alterado que passa ser o seu “novo normal”, mas quando suspense o uso retorna-se ao seu ciclo normal . 3. AS (Antecedentes Sexuais) Refere-se inicialmente a idade das primeira relações sexuais (IPRS). Pode-se perguntar em casos especificos a idade das últimas relações sexuais (IURS), mais no caso de idosas. HISTÓRIA SEXUAL 1. História Sexual Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 É feito a história sexual quando se constitui em motivo específico da consulta. Normalmente as perguntas não são abordadas de forma direta, pelo menos não na primeira consulta. ➔ Consultas de planejamento familiar motivada por esterilidade: ◆ Conhecer a frequência das relações, regularidade ao longo da semana, relacionar ao período fértil. ➔ Consultas de contracepção. ➔ Consultas de coito doloroso (dispareunia). É importante também saber o número de parceirxs sexuais devido a elevada prevalência de ISTs. 2. História Anticoncepcional Interessa saber se está fazendo uso de alguma técnica anticoncepcional no ciclo. ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS (AO) Existem várias formas de realizar a descrição dos antecedentes obstétricos, a mais simples e menos informativa é a francesa, que define #G (número total de gravidez incluindo a atual se presente - dito Gesta ) #P (partos por via vaginal - dito Para). Descrição pela escola americana, fórmula de 4 posições (TPAL fórmula: Term pregnancies, Premature liveries, Abortion, Living Children). ● Número de partos a termo ● Total de partos pré-termo ● Abortamento e outras gravidezes patológicas ● Filhos vivos A forma mais completa e mais complexa é a descrição com 6 posições, que correspondem: ● Número total de partos ● Número de partos distócicos ● Número de partos pré-termo ● Número de abortamentos ● Número de outras gravidez patológicas (ectópicas, tumores do trofoblasto) ● Número de filhos vivos atualmente ANTECEDENTES PESSOAIS Os antecedentespessoais referem-se ao ciclo genital, as patologias (principalmente se houve afecções genitais), se foi feita alguma cirurgia, alergias, medicação em curso, reações alérgicas, histórico de ISTs, etc. HÁBITOS DE VIDA ● Alimentação ● Atividade física ● Uso de drogas lícitas e ilícitas ANTECEDENTES FAMILIARES A presença de alguma patologia na família pode permitir incluir em um grupo de risco particular para determinada afecção, possibilitando mais atenção no quadro da paciente para um rastreio mais rigoroso ou para prescrição de determinado tipo de terapêuticas profiláticas da doença em causa. Para além das doenças neoplásicas, genéticas e endócrinas, a patologia vascular assume muita importância, devido ao uso de terapias homais. Também pode ser relevante averiguar a existência de problemas semelhantes ou afins (CF = Colaterais familiares), como nos casos de malformações genitais (que justificam algumas situações de esterilidade e em outras questões neoplásicas). HISTÓRIA DA DOENÇA (HDA) A história da doença compreende a pormenorização da queixa principal. É importante deixar a paciente falando livremente, interrompendo só quando necessário, para que haja uma ideia global da queixa. Após a exposição espontânea da paciente deve-se à inquirir sobre a existência de outros sintomas que às vezes são secundarizados. Dessa forma, é importante confirmar se há: ● Alterações do ciclo ou do fluxo menstrual ● Hemorragias não menstruais ● Corrimento genitais ● Dor, ardor, prurido genitais ● Modificações ou perturbações mamÁrias, subjetivas ou objetivas; ● Dificuldade coitais; ● Perturbações miccionais e/ou perda involuntária de urina; ● Alterações nos hábitos intestinais e defecatórios. Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 Para cada anomalia deve-se indagar em termos gerais sobre seu início, duração, intensidade, persistência e relação com as outras. Assim: ➔ Modificação no perfil do ciclo: (encurtamento -polimenorréia e polimenorréia relativa - ou alongamento - oligomenorreia ou oligomenorreia relativa - ou ausência amenorreia) e ao fluxo menstrual (diminuição - hipomenorreia - ou menorragia). ➔ Hemorragias intermenstruais: é importante saber-se são espontâneas ou provocadas, seja por esforço, coito ou qualquer outro fator; se é uma perda ocasional, irregular, esporádica ou frequente periódica, sistemática (como a metrorragia periovulatória, por exemplo). ➔ Corrimentos vaginais: envolve a definição do seu início, fatores eventualmente desencadeantes (coito, antibioticoterapia), relação das suas características com o ciclo, associação com outros sintomas, como dor ardor, prurido, afectação ou não do cônjuge; alguns fluxos são fisiológicos e consequentemente relaciona-se temporalmente com os fenômenos que os justificam (mucorréia pré-ovulatória ou hidrorreia sexual); outros, embora patológico, evidenciam clara relação com a fase do ciclo em termo de aparecimento, recrudescimento ou regressão. ➔ Dor: Interessa indagar sobre o início (súbito ou progressivo, relação ou não com ciclo); tipo (em moedeira, cólica, queimadura, lancinantes, perfurante); intensidade e grau de interferência nas atividades cotidiana; localização e irradiação; se é espontânea ou provocada. Interessa ainda averiguar sua relação com a posição; a mobilização; a micção e a defecação; a relação sexual (coitalgia ou dispareunia); e ciclo genital. ➔ Aumento de volume ligeiro, de peso e tensão mamária: são comuns na segunda fase do ciclo genital e são considerados consequência da proliferação glandular acinar e ductal, bem como de retenção hídrica; existe assim aumento da densidade e de granulações glandulares à palpação; a patologia mamária funcional ou disfuncional apresenta-se com quadro similar embora mais agravado. ➔ Dificuldade coitais: podem ser ligeiras ou impedir mesmo a consumação do coito (apareunia); deve-se-á inquirir sobre a localização dos sintomas (superficiais ou vestibulares e profundos, e sobre seu aparecimento em função do ato (iniciais ou protocoitais, intra ou mesocoitais, terminais ou telecoitais e pós-coitais) bem como da sua duração (limitadas se apenas presentes quando do coito ou prolongadas, se persistem para além dele). ➔ Perturbações miccionais: muito comuns nas senhoras, referem-se a alterações da frequência, da diurese, do jato ou a percepção de sintomas associados. ➔ Alterações dos hábitos intestinais e defecatórios. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO CABEÇA E PESCOÇO: cefaleias, acuidade visual, auditiva, olfativa e gustativa, além da presença de nódulos cervicais e tireoidianos (alterações nessas glândulas podem ter repercussões na função ovariana e na gravidez). PELE E FÂNEROS: algumas alterações hormonais podem culminar em queda de cabelo (SOP aumenta a testosterona em mulheres e em excesso pode causar calvície) ou ressecamento da pele. APARELHO RESPIRATÓRIO: bem esclarecido, assim como o passado de tuberculose, bronquite crônica e surtos de eczema podem ser a causa de incontinência urinária de esforço. ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES: devem ser anotadas, principalmente em jovens que querem ser mães. MAMAS: considerar dor e suas características, queixas de nódulos, secreção etc. APARELHO DIGESTIVO: algumas patologias desse aparelho se confundem com queixas ginecológicas. APARELHO URINÁRIO: principais motivos de queixas ginecológicas, são mais frequentes cistite e litíases renais. SINAIS E SINTOMAS Os principais sinais e sintomas das afecções dos órgãos genitais femininos são as hemorragias, os distúrbios menstruais, a dor, o aparecimento de tumoração, corrimento ou leucorreia, prurido, Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 dificuldade de engravidar, distúrbios sexuais e alterações dos pelos. DISTÚRBIOS MENSTRUAIS Menstruação é o sangramento cíclico que ocorre cada 24 a 38 dias, durando de 3 a 8 dias, com perda sanguínea de 50 a 80 mℓ. O ciclo menstrual pode apresentar anormalidades quanto ao: ● Intervalo entre os fluxos,; ● Duração; ● Intensidade. Anormalidades do ciclo menstrual: ● Sangramento menstrual frequente (polimenorreia): quando a menstruação ocorre com intervalos menores que 24 dias. ● Sangramento menstrual infrequente (oligomenorreia): quando a menstruação ocorre com intervalos maiores que 38 dias. ● Amenorreia, que é a falta de menstruação por um período de tempo maior do que três ciclos prévios. ● Sangramento menstrual prolongado (hipermenorreia): quando a menstruação dura mais de 8 dias. ● Sangramento menstrual encurtado (hipomenorreia): quando a menstruação dura menos de 3 dias. ● Sangramento uterino excessivo (menorreia): quando há excessiva perda de sangue durante o fluxo menstrual. Às vezes, confunde-se com hipermenorreia. ● Sangramento uterino leve: quando o fluxo é pouco, baseado na percepção da paciente, raramente associado à patologia. ● Sangramento uterino intermenstrual (metrorragia): quando a perda de sangue não obedece ao ritmo do ciclo menstrual. ● Dismenorreia: que é a dificuldade ou dor relacionada a menstruação. DOR A dor representa uma das queixas mais frequentes, sendo necessário um interrogatório correto para poder fazer o diagnóstico diferencial. LOCALIZAÇÃO Região pélvica Abdominopélvica Lombossacra. SURGIMENTO Espontâneo Provocado (Coito; Deambulação; Ortostatismo; Palpação) CLASSIFICAÇÃO Contínua Paroxística Relacionada com o ciclo menstrual CAUSAS Processos inflamatórios Distopias genitais Neoplasias anexial Gravidez ectópica Endometriose. Na avaliação clínica da dor, deve-se lembrar de causas psíquicas, resultantes de somatização no aparelho genital. É grande a importância de causas não ginecológicas nos quadros dolorosos da pelve, da região lombossacra e perineal, destacando-se as afecções dos órgãos do sistema urinário, digestório e osteoarticular. As vias sensoriais do reto e da bexiga são as mesmas do útero e da vagina. Por isso, infecções e litíase do sistema urinário, neoplasias e traumatismos anorretais podem ser relatados como “dor no ovário”. Não esquecer, também, de que a apendicite e a diverticulitemanifestam-se, às vezes, com dor no baixo ventre, a mesma localização das doenças dos ovários e das trompas. As dores de origem osteotendineomusculares são frequentes, incluindo artrite coxofemoral, hérnias de disco, coccidinia, isquialgia, lordose, Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 espondiloartrose, sequelas de traumatismo e ciatalgia. Process� Inflamatóri� Características: pélvica, aguda, contínua, espontânea, podendo, com a expansão do processo, alcançar outras regiões. A dispareunia (dor durante o ato sexual) é a regra, tanto nas infecções pélvicas como nas da vulva e da vagina. Distopia� Genitai� As distopias genitais só provocam dor em casos excepcionais. Nas pacientes com prolapso genital, pode ocorrer dor lombossacra por estiramento dos ligamentos cardinais e uterossacros. Retroversões fixas, sequelas de ginecopatias anteriores, determinam dor pélvica e lombar, descontínua, crônica, que se acentua com o esforço e durante o coito. Neoplasia� An�iai� As neoplasias anexiais habitualmente não se acompanham de dor. No entanto, aderências, compressões de órgãos vizinhos e a torção dos pedículos tumorais podem desencadear sintomatologia dolorosa, de localização geralmente pélvica, contínua, crônica, espontânea ou provocada, podendo irradiar-se para o abdome superior e/ou para os membros inferiores. Nos traumatismos que acompanham torção de pedículo, surge dor intensa, espontânea e aguda. Gravid� Ectópic� A gravidez ectópica, enquanto estiver íntegra, determina a dor pélvica, sem irradiação, surda, principalmente após esforço. Sua ruptura modifica totalmente o quadro, aparecendo, então, dor aguda, espontânea, acompanhada de sinais de irritação peritoneal, lembrando o quadro de apendicite ou de diverticulite aguda. Endometri�� Na endometriose, quando as lesões são mínimas, não há dor. A extensão do processo provoca a sintomatologia clássica: ● Dor periódica (dismenorreia), paroxística e progressiva. ● A localização geralmente é pélvica, mas pode ser também lombar ou perineal (retal), com agravamento durante a evacuação. DISMENORREIA O termo dismenorreia significa menstruação dolorosa. Dor na região hipogástrica, como cólica, durante a menstruação, chama-se algomenorreia. Quando ela é acompanhada de lombalgia com irradiação para o baixo ventre e para as pernas, náuseas e cefaleia, constitui a síndrome da dismenorreia. A intensidade da sintomatologia da síndrome dismenorreica é variável, podendo ser classificada em leve, moderada e acentuada ou grave. A dismenorreia pode ser primária ou secundária! Dismenorrei� Primári� A dismenorreia é primária quando ocorre em pacientes sem nenhuma causa orgânica. A dismenorreia primária acompanha os primeiros ciclos menstruais. Dismenorrei� Secundári� A dismenorreia é secundária quando relacionada com qualquer doença pélvica orgânica, como endometriose, mioma submucoso, doença inflamatória ou presença de DIU (dispositivo intrauterino). É secundária quando, após vários ciclos menstruais indolores, instala-se o quadro doloroso. SÍNDROME PRÉ MENSTRUAL Síndrome pré-menstrual (SPM) é a denominação que se dá a um conjunto de sintomas que surgem na segunda metade do ciclo menstrual e desaparecem com a ocorrência da menstruação. Sinais e Sintomas: cefaléia, mastalgia, peso no Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 baixo ventre e nas pernas, irritação, nervosismo e insônia. Mecanismo fisiopatológico básico: retenção de sódio e de água. Assim, teríamos: ✓ Hiperatividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona: Os estrogênios aumentam a produção de renina que, por sua vez, estimula a secreção de aldosterona, responsável pela retenção de sódio e de água. Esses efeitos seriam contrabalançados pela ação da progesterona, que tem ação natriurética. A deficiência de progesterona explicaria alguns aspectos da síndrome de tensão pré-menstrual. ✓ Hipoglicemia: Que é comum na segunda metade do ciclo. ✓ Aumento do hormônio antidiurético: Também estimula a retenção de água. ✓ Hiperprolactinemia: Provoca desequilíbrio na secreção de LH/FSH, redundando em um corpo lúteo que produz menor quantidade de progesterona. ✓ Aumento da produção de vasopressina: A qual, juntamente com a prolactina, produz retenção de líquido. TUMORAÇÃO É uma queixa muito importante que merece investigação. Importante estabelecer:época do aparecimento, localização, velocidade de crescimento, bem como a presença de outros sintomas originados de eventual compressão de órgãos vizinhos. As “tumorações” dos órgãos genitais femininos podem ser: ➔ Abdominopélvicas; ➔ Vaginais; ➔ Vulvares. Classificadas em: ➔ Falsas (distensão vesical ou intestinal e pseudociese); ➔ Verdadeiras (miomas, neoplasias ovarianas e tubárias), firmes (miomas), císticas e sólido-císticas (neoplasias do ovário), malignas (carcinomas), benignas (miomas, cistos ovarianos) e inflamatórias (piossalpinge). CORRIMENTO A genitália da mulher na menacme é úmida, tendo a vagina um pH de 4 a 4,5 (ácido) devido ao desdobramento do glicogênio do epitélio vaginal em ácido láctico, sob a ação dos bacilos de Döderlein, na presença dos estrogênios. Tais condições constituem o mecanismo de autodepuração e de defesa da vagina. Considera-se corrimento ou leucorreia a alteração das características da secreção normal, que tem o aspecto de “catarro fluido” ou de “clara de ovo”. A secreção aumenta sob ação estrogênica (pico ovulatório e terapêutica hormonal). PS: Não se esquecer que é fisiológica a secreção das glândulas vestibulares maiores (Bartholin) durante a excitação sexual. Nos corrimentos patológicos, suas características variam conforme a etiologia. Características de corrimento patológico: ● Prurido; ● Ardência; ● Odor fétido Além do exame direto, a fresco, da secreção, a bacterioscopia e a cultura em meios apropriados podem ser necessárias para o diagnóstico etiológico. Corriment� Aqu�� Assim, corrimento aquoso, abundante, como se fosse o descrito como normal, mas em grande quantidade (hidrorreia), pode significar varicocele pélvica, retroversão uterina fixa ou uso de pílulas anticoncepcionais; Corriment� Amarel� Quando for amarelo, espesso, fétido e espumoso, a causa costuma ser tricomoníase e/ou blenorragia; Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 Corriment� Branc� O corrimento branco, em grumos, como nata de leite ou coco ralado, indica a presença de fungos tipo Candida; Corriment� “Águ� d� carn�” O corrimento com aspecto de “água de carne” é próprio das neoplasias e das infecções graves. PRURIDO VULVAR O prurido como sintoma isolado é pouco frequente. Pode, entretanto, ser muito intenso e penoso para a paciente. Costuma surgir nas lesões distróficas da vulva (principalmente em pacientes idosas) e nas vulvites micóticas e alérgicas. O prurido vulvar é frequente em paciente diabéticas. Não se esquecer de que o câncer da vulva está quase sempre associado a prurido. ALTERAÇÕES DOS PELOS Alterações na distribuição dos pelos podem acompanhar certos desequilíbrios hormonais. A produção aumentada de androgênios pelas suprarrenais ou pelos ovários, como na síndrome dos ovários policísticos, pode provocar crescimento excessivo de pelos no buço, face, lobos das orelhas, triângulo púbico superior, tronco ou membros. Cumpre assinalar que alguns medicamentos podem causar hirsutismo, incluindo ciclosporina, minoxidil, diazóxido, corticoides e penicilamina. CLIMATÉRIO E MENOPAUSA Climatério é a fase de transição entre a menacme (período reprodutivo) e a senectude (período não reprodutivo). Inicia-se com a queda da capacidade reprodutiva ao redor dos 40 anos. A menopausa é a data do último fluxo menstrual. Só pode ser datada com segurança após 1 ano sem menstruações e representa falta da ovulação e falência ovariana. Subdivide-se o período climatérico em pré, peri e pós-menopausa. ● Menopausa normal: 48-52 anos ● Menopausa precoce: Antes do 40 anos ● Menopausa tardia: Depois dos 52 anos Fenômeno do climatério: ● Diminuição dos folículos primordiais com posterior atresia; ● Essa falênciaovariana está associada à queda na produção de estrogênio e de androgênio, principalmente, acarretando a elevação do FSH. O diagnóstico do hipoestrogenismo hipogonadotrófico que ocorre nesse período é realizado pela medida do FSH e presença de sintomas climatéricos. Os sintomas do climatério podem ser divididos em precoces e tardios: Precoces: instabilidade vasomotora (fogachos e suores noturnos), que incide em torno de 75% dos casos; atrofia urogenital, que está associada a dor na relação sexual (dispareunia) e a síndrome uretral (urgência e incontinência urinária); e sangramento uterino anormal, considerado um dos primeiros sintomas relacionados com o hipoestrogenismo, apresenta-se como metrorragia e menorragia. A consequência tardia do hipoestrogenismo é a osteoporose. CICLO MENSTRUAL No ciclo menstrual normal, a produção cíclica ordenada de hormônio e proliferação paralela do revestimento uterino prepara para a implantação do embrião. Distúrbios do ciclo menstrual e da fisiologia menstrual podem levar a vários estados patológicos, incluindo infertilidade, aborto recorrente e malignidade. O ciclo menstrual humano normal pode ser dividido em dois segmentos: 1. Ciclo ovariano a. Fase folicular b. Fase lútea 2. Ciclo uterino a. Fase proliferativa b. Fase secretora Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 Os ciclos ovariano e uterino estão sob controle primário de vários hormônio: ● GnRH do hipotálamo ● FSH e LH da adeno-hipófise ● Estrogênio, progesterona, inibina e AMH (anti-mülleriano) do ovário. Fase folicular: o estrogênio é o hormônio dominante. Ovulação: é desencadeada pelo pico de LH e de FSH. Fase Lútea: a progesterona é dominante. O AMH aparentemente atua como um regulador para evitar que muitos folículos ovarianos se desenvolvam ao mesmo tempo. CICLO OVARIANO Consiste nas alterações nos folículos ovarianos. Fas� Folicular É um período de crescimento folicular no ovário. Sob a influência do FSH, um grupo de folículos ovarianos terciários começa a crescer. Conforme os folículos crescem, as suas células da granulosa (sob a influência do FSH) e suas células da teca (sob a influência do LH) começam a produzir hormônios esteróides. As células da granulosa também começam a secretar AMH. Esse AMH diminui a sensibilidade do folículo ao FSH, o que aparentemente impede o recrutamento de folículos primários adicionais após um grupo ter iniciado o desenvolvimento. Atenção: o AMH pode ser dosado para indicar quantos folículos estão em desenvolvimento inicial. As células da teca sintetizam androgênios que se difundem para as células vizinhas da granulosa, onde a aromatase os converte em estrogênios. Gradualmente, os níveis crescentes de estrogênio na circulação têm diversos efeitos. Os estrogênios exercem retroalimentação negativa na secreção de FSH e de LH pela adeno-hipófise, o que impede o desenvolvimen- FASE FOLICULAR: a retroalimentação hormonal promove o desenvolvimento ordenado de um único folículo dominante, que deve estar maduro na metade do ciclo e preparado para a ovulação. A média de duração da fase folicular humana varia de 10 a 14 dias, e a variabilidade nessa duração é responsável pela maioria das alterações na duração total do ciclo. FASE LÚTEA: O período da ovulação até o início da menstruação dura, em média, 14 dias. Um ciclo menstrual normal dura de 21 a 35 dias, com média de 2 a 6 dias de fluxo e de 20 a 60 ml de perda sanguínea. Os extremos da vida reprodutiva (após a menarca e perimenopausa) são caracterizados por uma porcentagem mais alta de ciclos anovulatórios ou ciclos irregulares. Variaçõe� Hormonai� 1. Ao começo de cada ciclo menstrual mensal, os níveis de esteróides gonadais são baixos e vêm diminuindo desde o final da fase lútea do ciclo anterior. 2. Com a involução do corpo lúteo, os níveis de FSH começam a se elevar, e uma coorte folicular em crescimento é recrutada. Cada um desses folículos secreta níveis crescentes de estrogênio enquanto se desenvolve na fase folicular. O aumento de estrogênio, por sua vez, é o estímulo para a proliferação endometrial 3. A elevação dos níveis de estrogênio provém de uma retroalimentação negativa sobre a secreção de FSH hipofisário, que começa a declinar próximo Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 à metade da fase folicular. Além disso, os folículos em crescimento produzem inibina-B, que suprime a secreção de FSH pela hipófise. De maneira oposta, o LH inicialmente diminui em resposta a níveis de estradiol elevados, mas, em um momento mais tardio na fase folicular, o nível de LH é dramaticamente aumentado (resposta bifásica). 4. Ao final da fase folicular (pouco antes da ovulação), receptores de LH/FSH-induzidos estão presentes na superfície de células da granulosa e, com a estimulação do LH, modulam a secreção de progesterona. 5. Após um grau suficiente de estimulação estrogênica, o aumento repentino de LH hipofisário é disparado, o que desencadeará a ovulação, que ocorre de 24 a 36 h mais tarde. A ovulação anuncia a transição para a fase lútea – secretora. 6. O nível de estrogênio é reduzido durante a fase lútea inicial, pouco antes da ovulação até o meio da fase lútea, quando começa a se elevar outra vez como resultado da secreção do corpo lúteo. De modo semelhante, a inibina-A é secretada pelo corpo lúteo. 7. Os níveis de progesterona se elevam após a ovulação e podem ser usados como um sinal presumido de que a ovulação ocorreu. 8. A progesterona, o estrogênio e a inibina-A agem centralmente para suprimir a secreção de gonadotrofina e um novo crescimento folicular. Esses hormônios permanecem elevados durante o tempo de vida do corpo lúteo e, então, diminuem com a sua involução, preparando o caminho, portanto, para o próximo ciclo. CICLO UTERINO O progresso do ciclo histológico do endométrio pode ser visto em duas partes: as glândulas endometriais e o estroma circundante. Os dois terços superficiais do endométrio correspondem à zona que prolifera e é, por fim, descartada a cada ciclo se não ocorrer gravidez. Essa porção do endométrio que passa pelo ciclo é conhecida como decidua funcionalis ou decídua funcional, a qual é composta de uma zona intermediária situada profundamente (stratum spongiosum) e uma zona compacta superficial (stratum compactum). A decidua basalis ou decídua basal é a região mais profunda do endométrio. Ela não sofre proliferação mensal significativa, mas, em vez disso, é a fonte de regeneração endometrial após cada menstruação. Fas� Proliferativ� Por convenção, o primeiro dia de sangramento vaginal é chamado de dia 1 do ciclo menstrual. Após as menstruações, a decídua basal é composta por brotos glandulares e estroma denso escasso na sua localização adjacente ao miométrio. A fase proliferativa é caracterizada pelo crescimento mitótico progressivo da decídua funcional no preparo para a implantação do embrião em resposta à elevação dos níveis circulantes de estrogênio. No início da fase proliferativa, o endométrio é, de certa maneira, fino (de 1 a 2 mm). A mudança notada predominantemente durante esse período é a evolução das glândulas endometriais – a princípio, retas, estreitas e curtas – em estruturas mais longas e tortuosas. Do ponto de vista histológico, essas glândulas em proliferação apresentam múltiplas células mitóticas e mudanças na sua organização – de um padrão colunar baixo, no início do período proliferativo, para um padrão pseudoestratificado antes da ovulação. Por todo esse período, o estroma é uma camada compacta densa, e estruturas vasculares não são vistas com frequência. Fas� Secretor� Em um ciclo típico de 28 dias, a ovulação ocorre no dia 14. Dentro de 48 a 72 h após a ovulação, o início da secreção de progesterona produz uma mudança no aspecto histológico do endométrio ao passar para a fase secretora, assim denominada pela presença evidente de produtos eosinofílicos ricos em proteína e secretados na luz glandular. Laura Ellen | Medicina | P4 | 2021.1 Em contraposição à fase proliferativa, a fase secretora do ciclo menstrual é caracterizadapelos efeitos celulares da progesterona, além dos efeitos do estrogênio. Em geral, os efeitos da progesterona são antagonistas àqueles do estrogênio, e há diminuição progressiva na concentração de receptores de estrogênio nas células endometriais. Durante a fase secretora, as glândulas endometriais formam vacúolos característicos contendo glicogênio. No início, esses vacúolos aparecem subnuclearmente e, então, progridem em direção à luz glandular. Os núcleos podem ser vistos na porção medial das células e, por fim, sofrem secreção apócrina para a luz glandular, em geral, até o dia 19 ou 20 do ciclo. No sexto ou no sétimo dia pós-ovulatório, é comum a atividade secretora das glândulas ser máxima e o endométrio estar plenamente preparado para a implantação do blastocisto. O estroma da fase secretora permanece sem modificações histológicas até aproximadamente o décimo sétimo dia pós-ovulatório, quando há o aumento progressivo do edema. Tal como ocorre com o edema estromal máximo na fase secretora tardia, as artérias espiraladas tornam-se claramente visíveis e, então, alongam-se de maneira progressiva, espiralando-se durante o restante da fase secretora. Por volta do dia 24, um padrão de coloração eosinofílico, conhecido como cuffing, é visível no estroma perivascular. A eosinofilia progride, então, para formar ilhas no estroma, seguidas de áreas de confluência. Esse padrão de coloração do estroma edematoso é denominado pseudodecidualização em razão da sua semelhança com o padrão que ocorre na gravidez. Aproximadamente 2 dias antes da menstruação, há um aumento dramático no número de linfócitos polimorfonucleares que migram a partir do sistema vascular. Essa infiltração leucocitária anuncia o colapso do estroma endometrial e o início do fluxo menstrual. Menstruaçã� Na ausência de implantação, a secreção glandular cessa, e ocorre o colapso irregular da decídua funcional. A descamação resultante dessa camada do endométrio é chamada menstruação. A destruição do corpo lúteo com consequente queda da produção de estrogênio e progesterona é a causa presumida da descamação. Com a retirada dos hormônios sexuais, há profundo espasmo vascular das artérias espiraladas, que, por fim, leva à isquemia endometrial. De maneira simultânea, há um rompimento de lisossomos e a liberação de enzimas proteolíticas, que, depois, promovem destruição tecidual local. Essa camada do endométrio é então descamada, deixando a decídua basal como a fonte subsequente do crescimento endometrial. As prostaglandinas são produzidas ao longo do ciclo menstrual e estão em sua concentração máxima durante a menstruação. A prostaglandina F2α (PGF2α) é um vasoconstritor potente, causando vasospasmo arteriolar e isquemia endometrial adicionais. O PGF2α produz contrações miometriais que diminuem o fluxo sanguíneo da parede uterina local e podem servir para expelir fisicamente o tecido endometrial descartado do útero.
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