Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DM As principais complicações micro e macrovasculares do diabetes mellitus. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES • Retinopatia diabética • Nefropatia diabética • Neuropatia diabética FISIO/PATOGÊNESE • Glicosilação irreversível dos AGE (produtos finais de glicosilação avançada): Esses fatores podem se ligar ao colágeno dos vasos, contribuindo para a lesão endotelial da microvasculatura, levando à fragilidade capilar e obstrução microvascular. • Aldose redutase: Aplicada à neuropatia diabética, é uma enzima que converte glicose em sorbitol no interior das células. Esse acúmulo leva a: o Aumento da osmolaridade celular: Faz a célula inchar e perder função. o Depleção do mioinositol celular: Faz a célula perder metabolismo e função. • Espessamento da membrana basal capilar • Proliferação endotelial QUANDO FAZER O RASTREAMENTO? • DM tipo 1: Após 5 anos de doença. Rastrear retinopatia antes dos 5 anos de doença em caso de puberdade e gravide • DM tipo 2: Ao diagnóstico! RASTREAMENTO • Retinopatia diabética: Fundoscopia anual para aqueles sem retinopatia. • Nefropatia diabética: Albuminúria e creatinina anualmente! • Neuropatia diabética: Exame neurológico anual! RETINOPATIA DIABÉTICA (RD) • Uma das principais causas de cegueira em indivíduos entre 20-47 anos • Ocorre em quase 100% dos DM 1 em 20 anos e 60% dos DM2 após o mesmo período • Início: No DM1 pode aparecer após 3-5 anos de doença, mas raramente surge antes da puberdade, enquanto no DM2 alguns pacientes já apresentam retinopatia quando são diagnosticados. FISIOPATOLOGIA • A hiperglicemia causa perda de pericitos (células de reserva) • Formação de microaneurismas: Resultados da perda dos periquitos e falta de adesão endotelial, favorecendo o desenvolvimento de edema. • Expansão de zonas avasculares entre os capilares: Modificam o aporte sanguíneo, causando hipóxia crônica e, em última análise, proliferação vascular. CLASSIFICAÇÃO DA RETINOPATIA DIABÉTICA • RD não proliferativa • RD proliferativa • Maculopatia diabética RD NÃO PROLIFERATIVA/ RETINOPATIA DE FUNDO • Forma mais frequente de retinopatia diabética: Encontrada em 90% dos casos! LESÕES TÍPICAS À FUNDOSCOPIA • Parede vascular frágil: → Microaneurismas: São vistos na fundoscopia como pequenos pontos vermelhos, o primeiro achado da RDNP! • Exsudatos duros: Resultado do extravasamento de material proteináceo e lipídico em alguns pontos. • Progressão da doença: Leva a edema endotelial, descamação de células para o lúmen, proliferação intraluminal e obliteração de pequenos vasos. • Hemorragia intrarretiniana em chama de vela: Decorrentes da rotura de vasos adjacentes à obstrução. • Manchas algodonosas: São pontos de isquemia retiniana. • Veias em rosário: Resultado da fragilidade venular. CLASSIFICAÇÃO • RD não proliferativa leve: Presença de microaneu- rismas e/ou exsudatos duros e/ou hemorragias em chama de vela (pequenas). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • RD não proliferativa moderada: Presença de manchas algodonosas, hemorragias numerosas, veias em rosário em um quadrante. • RD não proliferativa grave (pré-proliferativa): Múltiplas lesões isquêmicas na retina, mais de 20 hemorragias intrarretinianas em cada quadrante, veias em rosário em pelo menos um quadrante. o 50% de chance de evoluir p/ proliferativa o Veias em formato ômega RD PROLIFERATIVA • Mais grave e ameaçador: Isquemia retiniana difusa, co • Múltiplos neovasos: A fundoscopia mostra uma densidade grande de vasos, associado a múltiplas alterações da RDNP. Essa angiogênese se dá pela produção de fatores de crescimento como o VEGF, IGF-1 e fator de crescimento de fibroblasto básico. • Descolamento de retina por tração: Secundário à fibrose e retração dos neovasos em longo prazo. EDEMA MACULAR (MACULOPATIA DIABÉTICA) • Edema macular reversível: Causa mais comum de sintoma visual no diabético, são a principal causa de perda da visão central em diabéticos. • Múltiplos exsudatos duros em volta da fóvea FATORES DE RISCO • Duração da diabetes • Controle glicêmico • Hipertensão arterial e nefropatia • Gestação: Alta chance de desenvolver e principal- mente de acentuar (faz pantofotocoagulação prévia para evitar os desfechos). A paciente que não era DM e tem DM gestacional não há desenvol- vimento de RD, porque o quadro se instalou agora. • Dislipidemia: Tendência a edema macular e exsudatos duros. • Tabagismo • Cirurgia intra-ocular: Principalmente catarata. • Obesidade • Anemia TRIAGEM (MONITORAMENTO) • A frequência é determinada pelo grau da RD: o RDNP leve: Semestral (5% progride). o RDNP moderada: Quadrimestral (27% progride para RD Proliferativa). o RDNP grave: Trimestral (>50% progridem se não tiverem acompanhamento em um ano). • Gestantes: Acompanhamento trimestral! • DM tipo 1: 5 anos após o quadro sistêmico ou com o surgimento da puberdade. • DM tipo 2: No momento do diagnóstico, anual sem retinopatia. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO EDUCAÇÃO DO PACIENTE • Acompanhamento multiprofissional regular • Mudança de hábitos de vida • Mostrou benefícios na prevenção e controle CONTROLE DA GLICEMIA • DCCT: Preconiza as metas de HbA1c < 7% e trata- mento intensivo da nefropatia como forma de retardar as complicações e progressão da doença. FOTOCOAGULAÇÃO COM LASER • Utiliza luz com nível de energia que coagula o tecido retiniano • Uso na RDNP: Na presença de edema de mácula! Faz-se uma fotocoagulação focal ou em grid. • Uso na RD Proliferativa: Panfotocagulação, poupando apenas a mácula, cerca de 1500 pontos em 2-3 sessões. Na coexistência com edema de mácula, corrigir primeiro o edema. ANTIANGIOGÊNICOS E ESTERÓIDES INTRAVÍTREOS • Utilizado principalmente no tratamento adjuvan- te: Geralmente em associação com a fotocoag. • Anticorpos monoclonais anti-VEGF: Eylea (afliber- cepte), Lucentis (Ranibizumabe) e Avastin (Bevacizumabe). VITRECTOMIA • Remoção cirúrgica do vítreo • Indicações: Hemorragia vítrea de longa duração (> 6 meses), descolamento de retina tracional e em membrana epirretiniana. CRIOTERAPIA • Indicações: Mesmas da fotocoagulação. • Quando fazer? Em pacientes que tenham opacida- des como catarata ou hemorragia vítrea intensa. NEFROPATIA DIABÉTICA: Abordada com detalhes em resumo a parte! Leia! NEUROPATIA DIABÉTICA: Uma das principais complicações microvasculares do diabetes (60% dos pacientes tem algum comprometimento). • Rastreio: Exame neurológico anual! • Olhar o pé diabético em toda consulta! ETIOLOGIA: O acúmulo dos AGE (produtos da glicação avançada) que levam à lesão endotelial e alteração do metamolismo do sorbitol, essa alteração no sorbitol gera infarto nos axônios e consequente lesão periférica. TIPOS DE NEUROPATIA DIABÉTICA • Polineuropatia periférica (mais comum) • Neuropatia Autonômica • Radiculoneuropatia ou amiotrofia diabética • Mononeuropatias: Dos nervos periféricos, principalmente do n. mediano e n. ulnar. • Mononeurite Múltipla POLINEUROPATIA DIABÉTICA DEFINIÇÃO: A mais comum dentre as neuropatias, acometimento bilateral simétrico. QUADRO CLÍNICO • Parestesia de extremidades: Iniciam com um comprometimento dos dedos e da região plantar do pé e pode chegar ao acometimento em botas e luvas. • Perda do precoce do reflexo Aquileu • Dor Neuropática: Dor que acorda o paciente de noite, sente a sensação de “facadas” na planta dospés, é um sintoma de mal prognóstico, pois indica um possível pé diabético. TRATAMENTO: Antidepressivos tricíclicos como a amitriptilina (1ª escolha), mas em substituição podem V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ser feitos patches de lidocaína, anticonvulsivantes (gabapentina e pregabalina) e duloxetina (inibidor seletivo da recaptação de serotonina). • TENS: Neuroestimulação elétrica cutânea, recurso alternativo à refratariedade às drogas convencionais, mostraram atenuação nos sintomas. NEUROPATIA AUTONÔMICA DEFINIÇÃO: Quadro mais preocupante, leva o paciente à uma síndrome disautonômica, carece muita atenção! QUADRO CLÍNICO • Hipotensão postural sem taquicardia postural • Taquicardia fixa: Aumenta e muito o risco de morte súbita cardíaca. • Gastroparesia diabética: Plenitude pós-prandial e náusea inexplicada. Ocorre devido à degeneração do plexo mioentérico, a motilidade do TGI é comprometida. • Constipação e diarreia crônica: Pela queda da motilidade, o paciente tem constipação e o aumento do tempo de retenção das bactérias no trato suscita um quadro de diarreia crônica. o Tratamento: Pró-cinéticos e anti-eméticos • Bexiga neurogênica: Hipotônica, o paciente perde a sensibilidade de sentir a bexiga cheia, isso o pre- dispõe a hesitação, retenção urinária, ITU, cistite. • Impotência masculina e perda de lubrificação feminina: Por neuropatia do plexo pélvico. • Edema, hiperidrose e alteração de temperatura: Disautonomia periférica. MONONEUROPATIAS DIABÉTICAS Mononeuropatia do nervo mediano e ulnar: Acometimento de punho (síndrome do túnel do carpo) e cotovelo, respectivamente, são as mononeuropatias mais comuns. • Síndrome do túnel do carpo: Mononeuropatia diabética mais comum, o paciente cursa com parestesia, hipoestesia e fraqueza muscular do polegar, indicador e dedo médio e a principal causa é a LER ou DORT (lesão por esforço repetitivo). Mononeuropatia do IIIº par craniano: O 3º par é o oculomotor, e ele é responsável pela motilidade extrínseca e intrínseca ocular. Sendo assim, o paciente apresenta um quadro de ptose palpebral, oftalmoplegia, estrabismo divergente, diplopia e falta de midríase (poupa a porção parassimpática). A falta de midríase é o que diferencia uma mononeuropatia de um AVE, que não apresenta esse achado. • Mononeuropatia de outros nervos: Pode acometer o VIº e VIIº pares. Algumas literaturas apontam que o nervo facial (VII) é o mais acometido pela mononeuropatia diabética. AMIOTROFIA DIABÉTICA Radiculopatia de L2, L3 e/ou L4, paciente apresenta dor lombar baixa que evolui com fraqueza (paresia) e atrofia proximal unilateral, que pode evoluir para o outro membro em casos mais graves, é uma doença autolimitada e o paciente passa a se recuperar depois de 6 meses. REVISÃO DA NEUROPATIA DIABÉTICA PÉ DIABÉTICO DEFINIÇÃO: Infecção, ulceração e/ou destruição de partes moles associados a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial obstrutiva periférica. • O diabetes mellitus é a principal causa de amputa- ção de membro inferior não traumática do BR • Uma das complicações mais devastadoras do DM ABORDAGEM DO PÉ DIABÉTICO AVALIAÇÃO PRÉ-CLÍNICA • Consiste em identificar fatores de risco: Anamnese social, avaliar os calçados do paciente. • Identificação de queixas: Na avaliação clínica! • Anamnese social: Saber as condições de moradia, forma de deslocamento, escolaridade daquele paciente. • Calçados: Evitar sapatos que aumentem a temperatura, que predisponham a quedas, que marquem o calcâneo, que exponha dedos, que saiam facilmente, evitar saltos finos. o Critérios globais mínimos: Sapatos devem ser leves, confortáveis, anatômicos e seguros para o uso! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O AVALIAÇÃO CLÍNICA • Anamnese: Importante identificar pontos-chave! o Queixas atuais: Dor, dormência, suor nos pés, queixas sistêmicas e neurológicas. o Antecedentes: Se teve alguma úlcera prévia, amputações, quedas. o Controle do diabetes: Olhar exames recentes, medicamentos em uso. o Comorbidades: Nefropatia, retinopatia... • Exame físico: Geral e específico! o Aspecto geral: Cor, deformidade, lesões. o Avaliação vascular o Avaliação neurológica AVALIAÇÃO VASCULAR • Pele: Coloração e temperatura, no comprometi- mento isquêmico a pele está fria e cianótica. • Pulsos: Pedioso e tibial posterior. • Índice tornozelo braquial: ITB < 0,9 indica comprometimento da circulação arterial (DAP)! AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA • Exame de sensibilidade: Avaliar a sensibilizade tátil, térmica, dolorosa e vibratória com um mono- filamento (passa o fio no hálux e cabeça do 1º, 3º e 5º metatarsos). • Reflexo de aquileu: Percussão do tendão aquileu. • Perda da sensibilidade protetora plantar (PSP): Achado comum no pé diabético, o paciente não sente mais as lesões que o afetam e isso compromete diretamente a piora das lesões. FATORES DE RISCO PARA ÚLCERA EM PÉ DIABÉTICO • DM de longa data • Polineuropatia • Deformidades em MMII • Doença Arterial Periférica • Antecedente de úlcera e/ou amputação CLASSIFICAÇÃO DE WAGNER: GRAUS DE LESÃO • Grau 0: Sinais de neuropatia e/ou isquemia, sem ulceração. • Grau I: Úlcera superficial. • Grau II: úlcera profunda sem abscesso e osteomielite. • Grau III: Úlcera profunda com celulite, abscesso, possivelmente com focos de osteomielite e gangrena do subcutâneo. • Grau IV: Gangrena úmida localizada em podáctilo. • Grau V: Gangrena úmida em todo o pé. AGENTE ETIOLÓGICO • Infecções brandas: Geralmente por bactérias Gram-positivas (estreptococo, estafilococo). • Infecções moderadas-graves: Associação de Gram-positivos com Gram-negativos entéricos (Escherichia coli, Klebsiella, Enterobacter) e aos anaeróbios (Peptotreptococcus, Bacteroides). RECOMENDAÇÕES • Autoavaliação e apoio familiar: Incentivar o doente a cuidar dos seus pés e ficar sempre atento a quaisquer sinais de lesão. • Orientar bons calçados • Tratamento das queixas: Controle da DM, mudanças no estilo de vida, fisioterapia. • Tratamento das lesões: Avaliação do cirurgião vascular para ver a necessidade de desbridamento e tratar a infecção. o Antibioticoterapia: ATB empírica de amplo espectro (Ampicilina/sulbactam, cef + clindamicina, cipro + clindamicina) • Tratamento da dor: Arsenal vasto! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o Analgésicos o AD tricíclicos o ISRS: Principalmente a duloxetina. o Anticonvulsivantes: Gabapentina, carba- mazepina e pregabalina. o Tratamento tópico: Adesivos de lidocaína e capsaicina. o Antioxidantes: Ácido tiótico, benfotiamina
Compartilhar