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Desta forma, quando o liberalismo foi colocado em prática, como doutrina econômica, em regimes constitucionais, o poder popular foi inicialmente li...

Desta forma, quando o liberalismo foi colocado em prática, como doutrina econômica, em regimes constitucionais, o poder popular foi inicialmente limitado por sistemas eleitorais onde o sufrágio (o direito de votar) era atribuído apenas à parcela da população que tivesse um certo poder econômico. Era o chamado voto censitário, que existiu no Brasil entre a Constituição de 1824 e a de 1891. O voto feminino demorou ainda mais tempo para ser autorizado. No Brasil o foi em 1932. Na França e na Grã-Bretanha, apenas em 1946. Atualmente, porém, os países que seguem a tradição liberal, não apenas adotam o sistema de sufrágio universal, como também realizam eleições regulares com ênfase no pluralismo político e na competição entre diferentes partidos. O keyne ..... No final do século XIX já era possível perceber que a doutrina liberal clássica, embora fosse capaz de gerar crescimento econômico, não era capaz de, por si só, garantir desenvolvimento social. A grande maioria da população vivia na miséria e o Estado continuava delegando para as entidades religiosas a maior parte das medidas voltadas à assistência social. Os trabalhadores não encontravam amparo em caso de doença e aqueles que conseguiam alcançar uma idade avançada não tinham direito à aposentadoria. Ademais, muitos industriais, nutrindo o desejo de aumentar ainda mais a sua margem de lucro, “procuravam baixar o custo da produção com pagamento de ínfimos salários à grande massa de trabalhadores” (BASTOS, 1979, p.70). Na rica Inglaterra até mesmo crianças eram contratadas para trabalhar nas minas de carvão ou na indústria têxtil. Neste passo, como alertado por Marcos Souza (2012, p.350), é preciso fazer uma diferença entre “crescimento econômico” e “desenvolvimento”. Carla Rister ensina que: “a ideia de desenvolvimento supõe dinâmicas mutações e importa em que se esteja a realizar, na sociedade por ela abrangida, um processo de mobilidade social contínuo e intermitente. O processo de desenvolvimento poderia levar a um salto, de uma estrutura social para outra, acompanhado da elevação do nível econômico e do nível cultural-intelectual comunitário” (RISTER, 2007, p.2.). O crescimento, por outro lado, seria algo meramente quantitativo, gerando maior disponibilidade de bens e serviços, mas sem progresso estrutural ou qualitativo (RISTER, 2007, p. 2), incapaz de oferecer uma melhoria geral no padrão de vida da população (habitação, transporte, educação, lazer, etc.). Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, fazendo uso dos dois termos, adverte: “O crescimento econômico não deve sensatamente ser considerado um fim em si mesmo. O desenvolvimento tem de estar relacionado, sobretudo, com a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos” (SEN, 2000, p. 29.). Em outro ponto, Amartya Sen esclarece (apud SOUZA, 2012, p. 351): “Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis relacionadas à renda”. Ora, o liberalismo clássico, na prática, acabava legitimando um individualismo egoísta, voltado para a proteção do interesse pessoal. Pouco a pouco, pressionados pelos movimentos sociais, diferentes países começaram a ampliar a função do Estado. Percebeu-se que a liberdade somente pode ser alcançada se temos a possibilidade de fazer coisas dignas de mérito e de usufruir dos prazeres que a vida nos oferece. Seguindo esta linha, a percepção do Estado mínimo começou a ser redirecionada “pois a sua função passa a ser a de removedor de obstáculos para o autodesenvolvimento dos homens” (STRECK; MORAIS, 2001, p.57). Assim, ainda no século XIX, países como a Alemanha começaram a criar sistemas previdenciários para a proteção dos trabalhadores atingidos por doenças ou acidentes de trabalho. Leis esparsas deste tipo começaram a surgir no Brasil na década de 1920, graças à crescente força do movimento sindical. Nesta fase ficou patente o aumento da intervenção do Estado na sociedade, baseada na noção de “justiça social”. Esta tendência, apoiada por diferentes correntes ideológicas, gerou aquilo que ficou conhecido como Estado de bem-estar social, facilitando o acesso de milhões de pessoas à educação, à saúde, à moradia e aos benefícios previdenciários. Embora este momento histórico tenha coincidido com um grande aumento de produtividade e do progresso dos transportes (com as máquinas a vapor) e das comunicações (com o telégrafo), o ocidente capitalista das primeiras décadas do século XX não conseguiu alcançar o paraíso. “Em lugar do equilíbrio entre a produção e o consumo previstos pelos economistas liberais, sucedem-se crises periódicas de superprodução, com saturação dos mercados, queda brutal dos preços, falências, fechamento de fábricas, ruína de empresários, desemprego e miséria dos trabalhadores” (BASTOS, Op. cit., p.70). aram as fileiras das forças armadas de diferentes países e precisavam urgentemente encontrar trabalho. Ademais, boa parte da Europa estava arrasada e precisava ser rapidamente reconstruída: situação para a qual o liberalismo clássico não oferecia uma solução a curto ou médio prazo. A injeção de recursos públicos na economia, subsidiando empresas privadas, investindo em obras de infraestrutura e até mesmo criando empresas “estatais” foram iniciativas que ajudaram grande parte do mundo a escapar do colapso que o final da guerra mundial parecia indicar. Houve até mesmo um crescimento econômico admirável que resultou “ao menos nos países ocidentais, a abundância generalizada” (HEYWOOD, 2010, p.70). A influência de Keynes no pensamento econômico dos países capitalistas das décadas de 1950 a 1970 foi tão forte que viria a cunhar o termo “keynesianismo”. Mas o keynesianismo não representava uma ruptura total com o liberalismo e estava longe do intervencionismo estatal do socialismo ou do comunismo. Afinal, “a política intervencionista do governo deve ter por fim suprir ou complementar e não substituir e muito menos eliminar a iniciativa privada” (BASTOS, Op. cit., p.98). Com a volta da inflação e do desemprego na década de 1970, o keynesianismo perdeu a aura de verdade absoluta. Ainda assim, continua relevante, indicando “uma percepção renovada do fato de que o capitalismo desregulado tende a trazer baixo investimento, imediatismo e fragmentação social” (HEYWOOD, Op. cit., p.70.). Quanto ao Estado de bem-estar social, Norberto Bobbio afirmava que ele levou ao estabelecimento de um novo contrato social “no qual, partindo-se da mesma concepção individualista da sociedade e adotando os mesmos instrumentos liberais, se incluem princípios de justiça distributiva, onde o governo das leis – em contraposição ao governo dos homens – busque a implementação da democracia com um caráter igualitário” NEOLIBERALISMO - A já mencionada estagnação econômica da década de 1970 fez com que muitos políticos e empresários voltassem sua atenção para um grupo de economistas que, já há bastante tempo, se batiam contra o Estado de bem-estar social. Para homens como Frederick Hayek e Milton Friedman, os encargos sociais assumidos pelo Estado, assim como a regulamentação da economia destruíam “a liberdade dos cidadãos e a competição , sem as quais não há prosperidade” (CHAUI, 2010, p.499). O Estado precisaria encolher novamente, dedicando sua atenção à estabilidade da moeda e à reforma tributária, com vistas a facilitar a vida das empresas. Eles sustentavam que “a tarefa de alocar recursos em uma economia complexa e industrializada era muito difícil para que um conjunto de burocratas do Estado pudesse realizá -la de maneira satisfatória” (HEYWOOD, 2010, p.99). Hayek, autor do clássico “o caminho da servidão” (1944) combatia o intervencionismo econômico, por considera-lo implicitamente totalitário (HEYWOOD, 2010, p.98). Estas receitas econômicas, que buscam adaptar o liberalismo econômico às características do capitalismo moderno, formaram uma doutrina que costuma ser chamada de neoliberalismo. Porém, ao contrário do liberalismo clássico, muitos neoliberais reconhecem a necessidade da intervenção do Estado, não apenas para controlar a inflação, mas também para garantir a livre conc

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