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Micoses PITIRÍASE VERSICOLOR Causada principalmente pelo Malassezia furfur. Essa é a forma sexuada do fungo, a forma assexuada (Pityrosporum) é relacionada à dermatite seborreica. É comumente chamada de pano/micose de praia, porque aparece mais no verão ➜ proliferação do fungo (mais umidade) + bronzeamento, que deixa a hipocromia mais visível. Mas não é uma micose que se pega na praia. O Malassezia é um fungo saprobiota da pele hu- mana, encontrado em mais de 90% da população hí- gida. • Ocorrência universal, principalmente em locais de clima quente e úmido. • Mais frequente em adultos. Igual entre os sexos. • Predisposição individual. É caracterizada por lesões assintomáticas na maioria das vezes (eventualmente prurido leve). São máculas ou manchas múltiplas, confluentes, de cor variável (versicolor). • Hipocrômicas, eritematosas ou hipercrômicas acastanhadas. • Com descamação (pitiríase) fina ao se estirar a pele (sinal de Zileri). A raspagem da pele com a unha também faz descamação (sinal de Bernier). • Mais comum em áreas mais oleosas: couro cabe- ludo, pescoço, tronco superior e raiz de membros. Mais comumente aparece como máculas hipocrô- micas. Quando a pele é esticada, surge descama- ção (sinal de Zireli). Na dermatite atópica (pitiríase alba), o estiramento provoca descamação de toda a pele, porque toda a pele está seca (não é Zireli). No vitiligo, não tem des- camação. LOCAIS MAIS ACOMETIDOS: face, pescoço, tronco superior e porção proximal dos MMSS. • Região palmoplantar e mucosa sempre poupadas. Fatores predisponentes Má nutrição Hiper-hidroses Imunodepressão Agente etiológico Malassezia furfur. É mais fácil de ser tratado, as outras formas tendem a ser mais resistentes ao tra- tamento. Também ocorre no couro cabeludo. • Pode ser associado com M. pachydermatitis e M. sympodialis. A forma parasitária é a de esporos e pseudo-hifas (M. furfur). A forma saprófita, leveduriforme, é a do Pityrosporum ovale ou orbiculare, associada à derma- tite seborreica. Fisiopatologia O fungo se reproduz na camada córnea da epi- derme. Conforme cresce, vai causando descamação. Existe pouca inflamação associada, só a queratólise. • Reação à pitirosporina (imunidade celular). • Anticorpos anti-leveduras circulantes. Esses an- ticorpos, no entanto, não são eficazes porque não chegam à camada córnea. HIPOPIGMENTAÇÃO • Inibição da tirosinase, uma das enzimas respon- sáveis pela formação da melanina. • A colonização faz um anteparo físico aos raios UV. • Ação tóxica de ácidos dicarboxílicos (ácido aze- láico) sobre melanócitos. Quadro clínico Máculas com descamação, de cor variável, múl- tiplas, de formatos diversos e podendo confluir. • Em pele clara: acastanhadas, cor de café-com-leite ou hipo- crômicas. • Em pele escura: hipocrômicas ou hipercrômicas. • Sinal de Zileri. • Sinal de Bernier. Como existe uma certa predisposição individual, o paciente é sujeito a ter recidivas. As lesões hipocrômicas tendem a ser mais no dorso e as hi- percrômicas mais na porção proximal dos MMSS. Diagnóstico O diagnóstico é clínico, mas, caso dúvida, pode ser feito exame em luz de Wood e exame micológico. Se o paciente tiver tomado banho logo antes de vir à consulta, não vai ter descamação, então pode con- fundir o diagnóstico e ser necessário fazer exame adicional. Exame em luz de Wood: fluorescência rósea-dou- roda das lesões. No vitiligo, fica bastante roxo. Nor- malmente fica mais positiva quando o Zileri também é positivo. Exame micológico das escamas. Exame histopatológico. Exame micológico mostra Malassezia sp. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Pitiríase alba: quadro atópico e sem Zileri. Vitiligo: sem Zileri. Leucodermia gutata: em áreas fotoexpostas e pes- soas mais velhas. CANDIDÍASE Causada pela Candida albicans (70-80%), um fungo leveduriforme saprófita que habita a pele, mu- cosa oral, intestino e mucosa vaginal. Quando se torna patogênico, age como agente oportunista, por alguma queda na imunidade. • Infecção cutânea, muco-cutânea ou sistêmica, principalmente do tipo intertriginosa (áreas de dobras). Na mucosa, dá mais dor, na pele, mais prurido. • Lesões eritemato-esbranquiçadas, maceradas. • Diagnóstico é pelo exame direto ou cultura. • Outras espécies: C. tropicalis, C. parapsilosis, C. guilliermondii. A cândida gosta de locais úmidos, principalmente os que têm contato com líquido. Fatores predisponentes Menor grau de defesa Gravidez e uso de ACO DM, câncer, AIDS Terapia com antibióticos*, CO e citostáticos Umidade e maceração cutânea Deficiências congênitas Formas clínicas CANDIDÍASE ORAL É a forma mais comum da doença cutâneo-mu- cosa. É mais comum em lactentes, idosos com dentes mal conservados e imunodeprimidos. • O quadro é comum no período neonatal, quando a defesa imunológica ainda não está bem desen- volvida. Pode ser contraído da mãe durante o tra- jeto pelo canal do parto. • A contaminação em crianças se dá também por fô- mites. • Placas branco-cremosas, úmidas, às vezes com pseudomembranas, podendo assumir aspecto eri- tematoso ou enegrecido. As lesões não são remo- víveis. Geralmente faz uma queilite angular, pois é o local onde se acumula saliva. São dolorosas. • Casos graves: envolvimento de laringe, faringe, esôfago, traqueia e brônquios. É importante in- vestigar imunossupressão. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL • Leucorreia pruriginosa (ex- cluir gonococo, tricomonas e clamídia). Pode fazer ardência. • Placas esbranquiçadas e cre- mosas. CANDIDÍASE BALANOPREPUCIAL • Condições predisponentes: idosos, DM, obesi- dade, fimose, higiene e secagem inadequadas, uso de creme/pomada com corticoide. • Evitar uso de pomadas com corticoide no sulco balanoprepucial: predispõem à candidíase, afi- nam a pele e provocam dor na relação. • Lesões eritematosas ou eritêmato-erosivas, reco- bertas ou não por induto esbranquiçado. • Prepúcio com eritema e edema. • Ardor e prurido. • Secreção purulenta por infecção secundária. CANDIDÍASE INTERTRIGINOSA Ocorre nas dobras axilares, inguinais, interglútea e submamária. É mais comum em pacientes obesos, diabéticos e com higiene inadequada. A umidade lo- cal também propicia o surgimento. Começa normalmente com uma placa eritema- tosa, que depois se espalha. • Lesões eritematosas, úmidas, exsudativas, po- dendo formar erosões ou fissuras. • As erosões/fissuras são envoltas por um colarete córneo. • Com frequência, há lesões satélites: vesículas ou pústulas na periferia. Isso ajuda a diferenciar a da Tinea cruris e da Tinea corporis. • Cursa com prurido e ardor. Colarete córneo em volta da lesão. CANDIDÍASE FOLICULAR: ocorre na área da barba como pústulas foliculares ou erosões crostosas que se assemelham a foliculite bacteriana ou dermatofí- tica. É frequente em diabéticos e imunossuprimidos. CANDIDÍASE DA REGIÃO DAS FRALDAS: ocorre pela retenção de urina e fezes, que levam à umidade local. Diferente da der- matite de contato por fraldas, tem lesão satélite (pequenas pústulas ao redor das placas). CANDIDÍASE UNGUEAL: comum em diabéticos, desnutridos e nas pessoas que retiram a cutícula. Há eritema e edema doloroso em torno da matriz un- gueal (Paroníquia por Candida). DERMATOFITOSES São infecções causadas por fungos adaptados à invasão da camada córnea da pele, pelo e unha, uti- lizando a queratina como meio de subsistência. Os fungos se alimentam da queratina. A pitiríase versi- color é uma ceratofitose. Diferente das dermatofito- ses, nas ceratofitoses não há reações de hipersensi- bilidade cutânea. Os fungos dermatófitos tendem a ser mais pro- fundos, enquanto que o Malassezia fica mais restrito à camada córnea. DERMATOFITOSES Tinea • Tinea • Capitis • Corporis • Cruris • Mannus • Pedis • Incógnito OnicomicosesTínea As principais espécies que provocam tínea são Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Microsporum canis: é um fungo zoofílico. Adquirimos ele mais comumente do gato (portador sadio). Pode ser adquirido do cachorro também. Microsporum gypseum: é um fungo geofílico. Epidermophyton e Trichophyton: são fungos antro- pofílicos. Tinea capitis Causada por Microsporum ou Trichophyton. O cabelo é invadido pelo fungo, quebrando-o perto da base e deixando uma área tonsurada. Com a evolu- ção, o folículo é destruído e surge alopécia cicatri- cial. Exige tratamento sistêmico. Muito mais comum em crianças. A partir da pu- berdade, o aumento das glândulas sebáceas, com produção de ácidos graxos, dificulta a proliferação do fungo. Em adultos, deve-se levantar a hipótese de imunodepressão. Trichophyton: vários pontos de tonsura. Microsporum: lesão única e inflamatória. Área de alopécia porém com pelos tonsurados (conseguimos ver o pelo quebrado). A da esquerda é microspórica e a da esquerda é tricofítica. Quérion: reação inflamatória intensa pela presença do fungo. Normalmente, ocorre por fun- gos não antropofílicos, como o Microsporum canis. É a única forma de tínea que precisa de tratamento com corticoide. TÍNEA TONSURANTE Microspórica: lesão focal com alopécia e inflamação (mais Quérion). • Mais comum por Microsporum canis. • Mais comum em crianças. • Em adultos, pensar em imunossupressão grave. Tricofítica: vários pontos tonsurados. Não é comum em adultos, deve-se pensar em imunossupressão. • Trichophyton tonsurans. TÍNEA FAVOSA: faz a escútula fávica, como se fosse um favo de mel. É uma crosta repleta de hifas que cresce em cima do pelo e o impede de crescer. • Mais comum por Trichophyton schoenleinii. A infecção do pelo pode ser tanto por fora (ecto- trix) quanto por dentro dele (endotrix). Ectotrix: a infecção caracteriza-se pela invasão ex- terna da haste do cabelo. Principalmente micrósporo. • M. canis, M. gypseum, T. equinum, T. verrucosum. • Floresce à luz de Wood. Endotrix: a invasão fica confinada dentro da haste capilar, tendendo a cronicidade, podendo ser erra- dica apenas com tratamento sistêmico. • Causada por fungos antropofílicos (Trichophyton). • Não floresce à luz de Wood. Tinea corporis Formada por colônias que crescem de forma centrífuga e vão cicatrizando no centro, determi- nando uma placa de formato anular ou circinada (em forma de toldo de circo). A descamação é periférica e acompanha os bordos papulosos. É popularmente chamada de impingem. Assim como as dermatofitoses em geral, o cres- cimento dos fungos é devagar, então demora uns 2 meses para evoluir pra essa forma circinada. • Mais comum por Trichophyton rubrum e Micros- porum canis. Placa anular/circinada, com bordos papulosos, des- camação periférica e crescimento centrífugo. É eri- temato-descamativa e tem prurido. Tinea cruris Ocorre em região inguinal, também tem aspecto circinado, com parte central mais clara e é uma lesão bem desenhada. É mais frequente em homens. A candidíase intertriginosa é muito mais sinto- mática (pruriginosa) e tem crescimento mais rápido. A tinea tem aspecto circinado e a candidíase tem as- pecto mais macerado e úmido. Diferente da candidí- ase, poupa o escroto e não tem lesão satélite. Tinea pedis Mais comumente faz um aspecto descamativo entre os dedos (intertriginosa). Era chamada de pé de atleta, pela umidade e calçado (sapatos de couro nor- malmente são mais aerados, então a chance de ocor- rer é menor). A tinea mannus é mais rara. É uma importante porta de entrada para o Streptococcus pyogenes e pode ser responsável por episódios de erisipela de repetição. Tinea incógnito É a tinea modificada pelo uso de corticoide. Não tem a característica de descamação e crescimento circinado. Onicomicoses É a contaminação da unha por fungo. O principal fungo é o Trichophyton rubrum. Qualquer unha pode ser acometida, mas ocorre mais na do hálux porque é a que mais sofre trauma. As unhas se tornam grossas, opacas, de tonali- dade amarelo esverdeada, frágeis, com sulcos e irre- gularidades. Se as bordas forem afetadas, deve-se suspeitar de infecção por Candida. A tendência é que a simetria nas dermatofitoses não seja muito importante. Nas doenças inflamató- rias, como na psoríase ungueal, a simetria é mais co- mum. DIAGNÓSTICO Exame micológico direto + cultura para fungos. O paciente deve estar sem uso de antifúngico tópico há uma semana e/ou antifúngico sistêmico há 2 meses. Pelo exame micológico direto, não conseguimos de- finir qual o fungo, mas dá para diferenciar entre piti- ríase versicolor, candidíase e dermatofitose. TRATAMENTO Sempre o tratamento é tópico. Eventualmente, oral. O veículo, a dose, o tempo e a concentração do antifúngico dependem do local a ser tratado. • Nunca tratar sem ter confirmação clínica ou labo- ratorial. • Nunca usar corticoide, exceto se quérion (tinea capitis). ANTIFÚNGICOS DE 1ª GERAÇÃO: quase não são mais utilizados, porque tem maior efeito colateral. A nistatina ainda é bastante utilizada. ANTIFÚNGICOS DE 2ª GERAÇÃO: melhor espectro. O maior problema do cetoconazol é que tem muitas marcas e às vezes acaba não funcionando. Se for escolher imidazólico, escolher outro que não ce- toconazol. INDICAÇÕES DE TRATAMENTO SISTÊMICO Pitiríase versicolor extensa ou recidivante. Candidíase em mucosas ou imunodeprimidos. Dermatofitoses: • Tinea capitis. • Onicomicoses: acometimento da matriz ungueal, > 50% do leito ungueal acometido ou + de 2 unhas afetadas. Pitiríase versicolor Tópico: o melhor veículo para tratamento aqui é di- minuir a oleosidade. Sprays alcóolicos são eficazes. • Imidazólico 1-2x/dia por 10 dias. • Xampu com cetoconazol. • Sabonete com enxofre/ác. salicílico. Sistêmico: itraconazol 100 mg 2x/dia por 5 dias. PITIRÍASE VERSICOLOR RECIDIVANTE: provavel- mente se dá pela seborreia ou composição do sebum. Principalmente no verão. Prevenção: repetir ou usar semanalmente o xampu e um dos tópicos, itraconazol por 1 mês, isotretinoína por 4-6 meses (casos resistentes). Candidíase Tópico: imidazólico 1-2x/dia por 15 dias ou nistatina 3x/dia por 5 dias (principalmente se lesões de mucosa). Nistatina é interessante nas lesões de mu- cosa porque não sofre absorção. Sistêmico: itraconazol 100 mg 1x/dia por 10 dias ou fluconazol 150 mg DU. ORAL: eliminar fatores predisponentes. • Nistatina, violeta de genciana, clotrimazol. • Medicação sistêmica em casos extensos. BALANOPREPUCIAL: • Limpeza com permanganato de potássio. • Cremes imidazólicos de uso vaginal. • Violeta de genciana. • Postectomia (indicação formal se pelo menos 2 re- cidivas). • Medicações sistêmicas. Tinea Normalmente, é tópico, 1-2x/dia por 30 dias nas áreas de pele normal ou 45 dias nas áreas palmoplan- tares (camada córnea mais espessa): imidazólico, amorolfina, terbinafina, ciclopiroxolamina. Sistêmico: itraconazol 100 mg 1x/dia 15-30 dias, flu- conazol 150 mg 1x/sem por 2-4 semanas ou terbina- fina 250 mg 1x/dia por 2-4 semanas. Capitis: a única exceção para corticoide é na pre- sença de Kerium Celsi (alteração inflamatória impor- tante nas crianças). • Spray com imidazólicos, terbinafina ou ciclopiro- xolamina. • Sistêmico: griseofulvina, terbinafina ou itracona- zol. Onicomicose Tópico: esmalte com amorolfina 5%, ciclopiroxola- mina 8% ou tioconazol 28%. Tem que limpar bem o local antes e também lixar. Faz-se 1x/sem até a unha ficar boa. Sistêmico: > 2 unhas, > 50% do leito ou matriz. • Terbinafina. • Itraconazol. Efeitos adversos TÓPICOS • Imidazólicos: dermatite de contato. • Ácidos, violeta genciana, iodo (1ª geração): derma- tite irritativa, queimadura. SISTÊMICOS: • Cetoconazol: hepatite medicamentosa, arritmia, ginecomastia,diminuição de testosterona, intole- rância gástrica. • Griseofulvina: intolerância gástrica, interação, re- ações alérgicas. • Fluconazol e itraconazol: intolerância gástrica, tontura, sonolência. CUIDADOS • Manter a pele sempre seca, livre de umidade. • Evitar roupas sintéticas e calçados fechados por um período longo de tempo • Não usar calçados, roupas íntimas e toalhas de ou- tras pessoas. • Não andar descalço em áreas úmidas. • Evitar contato com terra e animais.
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