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Fonte: Aula 1 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto GOTA INTRODUÇÃO ➢ A gota é o principal representante do grupo de artrites microcristalinas ➢ DEFINIÇÃO → A gota é uma artrite inflamatória e destrutiva resultante da deposição de cristais de urato monossódico na articulação ➢ Nessa doença tem-se os 4 sinais flogísticos (dor, edema, calor e rubor da articulação) de forma exuberante ➢ Para que haja a gota é imprescindível a presença da hiperuricemia, pois para que os cristais se precipitem no interior da articulação é preciso que eles primeiramente sejam insolúveis no plasma. Assim, quando o ácido úrico ultrapassa seus níveis normais ele se torna insolúvel no plasma, podendo precipitar sob a forma de cristais no interior da articulação, ativando a cascata inflamatória ➢ Valores de referência normais para os níveis de ácido úrico: • Homens ≤ 7 mg/dL • Mulheres ≤ 6,5 mg/dL ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É a artrite inflamatória mais comum no homem • Pico de incidência → na 5ª década de vida • Prevalência → mais prevalente nos homens ▪ Homens → 13,6:1000 (13,6 casos para cada 1000 habitantes) ▪ Mulheres → 6,4:1000 (6,4 casos para cada 1000 habitantes) • Segundo dados dos EUA → estima-se que 5 – 10% da população tem hiperuricemia assintomática (nível elevado de ácido úrico na ausência de queixas articulares) ▪ Desse total de 5 - 10% → < ¼ desenvolverão a doença ➢ É condição obrigatória para o desenvolvimento da gota que se tenha hiperuricemia, mas nem todo mundo que tem hiperuricemia irá desenvolver a gota CLASSIFICAÇÃO DA HIPERURICEMIA ➢ É classificada em 3 grandes grupos, podendo ter como causa uma: • Superprodução de Urato (< 5% das causas de hiperuricemia): ▪ Hiperuricemia Primária: ✓ Idiopática ✓ Alterações enzimáticas (HGPRT, PRPP sintetase) ▪ Hiperuricemia Secundária: ✓ Consumo excessivo de purinas ✓ Distúrbios mielo ou linfoproliferativos* ✓ Doenças hemolíticas* ✓ Psoríase* ✓ Doenças do armazenamento de glicogênio (tipos 1, 3, 5, 7) *Esses três grupos de doenças promovem um alto turnover celular. Assim, o ácido úrico será produzido em quantidades maiores. O rim não conseguirá excretar esse excesso de ácido úrico produzido por essas doenças que promovem lise celular (é dessa lise celular que decorre a superprodução de ácido úrico) • Excreção Deficiente de Ácido Úrico (≥ 95%): ▪ Grande parte dessa excreção é renal ▪ É nesse grupo que se observa a maior parte das causas secundárias de hiperuricemia ▪ Hiperuricemia Primária: ✓ Idiopática ▪ Hiperuricemia Secundária: ✓ Insuficiência Renal Crônica (IRC) ✓ Acidose metabólica ✓ Desidratação ✓ Uso crônico de Diuréticos ✓ Hipertensão ✓ Hiperparatireoidismo ✓ Medicamentos → Ciclosporina, Pirazinamida, Etambutol e Salicilatos em doses baixas ✓ Nefropatia pelo chumbo • Superprodução e Deficiência da Excreção (< 5%): ▪ Uso de álcool ▪ Deficiência da glicose-6-fosfato fosfatase ▪ Deficiência da frutose-1-fosfato aldolase FISIOPATOLOGIA ➢ Ao ultrapassar níveis maiores que 7 mg/dL no homem e 6,5 mg/dL na mulher, o ácido úrico se precipita no interior da articulação na forma de um cristal, que é o cristal de Urato Monossódico. Esse cristal será fagocitado pelos leucócitos e, a partir dessa fagocitose, haverá interações com os receptores de membrana e moléculas de sinalização intracelulares que vão provocar a fusão vacuolar e das membranas lisossomais, levando à ruptura do fagolissosomo e à ativação de lisossomas no citoplasma. A partir daí, há liberação de pro-interleucina 1 e de mediadores de síntese e transcrição, culminando com a liberação de múltiplos mediadores pro-inflamatórios, especialmente a IL-1, instalando-se a inflamação articular, que é bastante exuberante, com dor, edema, calor e rubor da articulação acometida ➢ HIPERURICEMIA → O que faz uns indivíduos com hiperuricemia ter gota e outros não: • Se os cristais de urato monossódico receberem uma cobertura/capa de imunoglobulina da classe IgG ela Cristalização do Urato Monossódico Deposição de tofos de cristais pré- formados Fagocitoses leucocitária, interação com as membranas dos receptores e sinalização molecular Fusão das membranas vacuolar e lisossomal Ruptura do Fagolisossomo, ativação de inflamassomas no citoplasma Inflamação Clivagem da pro-IL 1, sinalização, transcrição e síntese de mediadores Liberação de múltiplos mediadores pro- inflamatórios Fonte: Aula 2 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto consegue se ligar nos receptores que vão ativar moléculas da sinalização intracelular, e a partir daí se forma todo o esquema de desenvolvimento da gota, promovendo a liberação de múltiplas citocinas pro-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-α) - na qual a IL-1 é a principal, metabólitos reativos (Nitrogênio e Oxigênio), prostaglandinas e leucotrienos (promovem uma vasodilatação importante para o surgimento dos sinais flogísticos), Substância P, Endotelina e outras substâncias que também participam da inflamação intra-articular • Porém, se os cristais de urato monossódico receberem uma cobertura/capa de Apolipoproteínas dos subtipos Apo- E e Apo-B elas não conseguem se ligar nesses receptores. Assim, não haverá sinalização intracelular para a formação do fator lisossomo e liberação das enzimas lisossomais • O que leva um indivíduo a receber a cobertura de IgG e outro receber a cobertura de Apo-E/Apo-B → fatores genéticos. Assim, tem-se uma predisposição genética para o desenvolvimento da gota ▪ Dessa forma, no histórico dos antecedentes familiares geralmente observa-se que há familiares sofrendo do mesmo problema EVOLUÇÃO NATURAL DA DOENÇA ➢ A gota pode ser classificada em 3 estágios: • I Estágio → Hiperuricemia Assintomática ▪ Ao realizar exames laboratoriais observa-se hiperuricemia, mas o paciente nunca teve queixas articulares ▪ Não precisa de tratamento medicamentoso (Exceção: ácido úrico > 13mg/dL) ▪ Pode ser feita uma intervenção dietética e instituída uma mudança no estilo de vida, mas não é necessário um tratamento hipouricemiante a não ser que os níveis de ácido úrico sejam > 13mg/dL • II Estágio → Artrite Aguda e Gota Intercrítica ▪ O paciente vai ou não desenvolver gota, passando do estágio I para o II, a depender da cobertura que o cristal vai receber: ✓ IgG → Gota ✓ Apolipoproteínas (Apo-E/Apo-B) → não desenvolve gota. Assim, não passa para esse segundo estágio, fica apenas no I ▪ Observando-se o gráfico: ✓ 1ª crise → é bastante dolorosa, mas tem curta duração. Assim, nessa primeira crise, o paciente consegue sair da crise em: o 7 – 14 dias (sem tratamento) o 1 – 2 dias (com tratamento) ✓ A gota é uma doença que ocorre em crises, e é isso que caracteriza a doença. Assim, o paciente não terá uma dor contínua, pelo menos não no estágio II, períodos intercríticos, nos quais o paciente é totalmente assintomático, até que um dia apresenta outra crise ▪ 2ª crise → dor intensa e com curta duração ▪ Quando não se trata a doença de forma adequada observa-se que: ✓ O período intercrítico vai diminuindo ✓ A intensidade da dor diminui um pouco ▪ Com a progressão da doença, aquela crise que antes passava com 3 a 4 dias de anti-inflamatório, por exemplo, agora só vai melhorar depois de 10 – 15 dias e assim por diante ▪ Caso o paciente não receba o diagnóstico e o devido tratamento no estágio II, ele entrará no estágio III ▪ É preciso identificar e tratar a doença no estágio II para diminuir a morbimortalidade da doença e impedir que o indivíduo chegue no estágio III • III Estágio → Artrite Gotosa Crônica ▪ O paciente sempre terá um limiar basal de dor → pois o paciente teve múltiplas crises de artrite, o que causou uma erosão, uma diminuição do espaço articular e a instalação de uma osteoartritesecundária, por exemplo. Assim, esse limiar basal de dor é, muitas vezes, decorrente de uma osteoartrite secundária ▪ Não se observa mais períodos intercríticos tão nítidos quanto quando se observa no estágio II ▪ Presenta de picos de agudização → há crises que vão intensificar esse limiar basal de dor do paciente ▪ É nesse estágio III que se observa a presença dos Tofos, que são cristais de urato monossódico que se precipitam no tecido celular subcutâneo e que tem uma predileção por superfícies extensoras das articulações ▪ Nesse estágio III o ácido úrico pode se precipitar nos cálices renais, levando à Nefrolitíase por cálculos de cristais de urato monossódico ▪ Os cristais podem se precipitar no parênquima renal, levando à Nefropatia Crônica por urato, que pode ser uma causa de insuficiência renal crônica ▪ Assim, no estágio III a morbimortalidade da doença é bastante significativa ARTRITE GOTOSA AGUDA – Estágio II ➢ Apresenta sinais flogísticos (dor, edema, calor e rubor) exuberantes ➢ 80% das crises agudas são monoarticulares ➢ Há predomínio de membro inferior: • 1ª metatarsofalangiana (MTF) → principalmente Intensidade da dor Duração da Crise álgica 1ª 2ª Limiar basal de dor Fonte: Aula 3 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto • Tarso • Tornozelo • Calcanhar • Joelho ➢ Pico da severidade dos sintomas em 12 – 24h → assim, o paciente atinge o pico doloroso em 12 a 24h do início dos sintomas ➢ Resolução completa em dias a no máximo 2 semanas, com ou sem tratamento → é isso que define as crises agudas ➢ ACHADOS LABORATORIAIS: • Leucocitose Neutrofílica • Elevação de provas inflamatórias → VSH elevado, PCR elevado, pode haver trombocitose (aumento do número de plaquetas), Ferritina pode estar elevada, Albumina pode estar baixa... ➢ DOSAGEM DE ÁCIDO ÚRICO → realizar preferencialmente após 2 semanas da crise • O momento ideal para dosar o ácido úrico não é na crise aguda, devendo-se dosar após, no mínimo, 2 semanas da crise, pois o excesso de ácido úrico se precipita praticamente todo na articulação. Assim, na crise, pode-se ter um falso-negativo, não se conseguindo flagrar a hiperuricemia • Desse modo, o período ideal para se dosar é o intercrítico, quando o paciente já tiver apresentado resolução completa dos sintomas ➢ FATORES DESENCADEANTES DAS CRISES AGUDAS: • Trauma → infeccioso, cirúrgico ou traumático • Cirurgia • Jejum • Desidratação • Medicamentos → Alopurinol (agente uricosúrico), Diuréticos (principalmente os de Alça), AAS em baixas doses... ▪ Alopurinol → é utilizado no tratamento da gota, na prevenção das crises agudas. É um agente uricosúrico, que estimula a excreção urinária do ácido úrico. Assim, esse medicamento é paradoxal, pois tanto pode tratar a gota quanto pode desencadear uma crise aguda • Dieta rica em gordura, carnes, frutos do mar e Álcool → pois aumentam a produção das purinas, culminando também com a diminuição da excreta do ácido úrico pelos rins ➢ Articulações com Osteoartrite são mais predispostas para o surgimento das crises agudas → isso é o que explica o fato de as crises agudas terem uma predileção pelos membros inferiores, pois são articulações que são bastante acometidas pela osteoartrite ➢ Crises Poliarticulares → ocorrem nos casos em que há uma superprodução do urato monossódico nas doenças em que ocorre alto turnover celular. Assim, são secundárias a/ao: • Doenças Mielo ou Linfoproliferativas • Doenças Hemolíticas • Psoríase • Uso de Ciclosporina A ➢ DIAGNÓSTICO: • Padrão-ouro → ARTROCENTESE ▪ Método que retira o líquido sinovial do local acometido e manda esse material para análise: ✓ Pesquisando-se a celularidade total e diferencial ✓ Dosando-se proteína e glicose ✓ Corar pelo método gram ✓ Fazer cultura ▪ Quando se está diante de um quadro de monoartrite aguda deve-se fazer uma artrocentese diagnóstica ▪ Quando se coloca o Liquido sinovial do paciente com gota na análise da microscopia óptica sob luz polarizada consegue-se identificar os cristais de urato, que tem a chamada birrefringência negativa ▪ O método padrão-ouro é quando se consegue identificar os cristais de urato monossódico na microscopia óptica sob luz polarizada ▪ Porém, nem sempre se dispõe de um microscópio óptico sob luz polarizada nos serviços de emergência para dar o diagnóstico em uma crise gotosa aguda. Assim, pode-se fazer o diagnóstico de forma clínica • Diagnóstico Clínico → o diagnóstico de crise gotosa aguda é dado quando se tem pelo menos 6 dos seguintes 12 itens: 1. História Clássica ✓ Ex: indivíduo que passou o dia no churrasco, comeu bastante carne vermelha, tomou cerveja, chega em casa e dorme, depois acorda na madrugada com dor, edema, calor e rubor da 1ª Metatarsofalangiana (MTF) 2. Pico dos sintomas em 24h 3. Artrite Monoarticular 4. Eritema Articular 5. Podagra → é o nome dado à artrite da 1ª MTF 6. Crise Unilateral acometendo Metatarsofalangianas (MTF) 7. Crise unilateral acometendo tarso 8. Presença de lesão visível ou palpável (Tofo) → paciente já está no estágio III 9. Hiperuricemia 10. Aumento do volume articular (no Raio x) Aumento do volume da 1ª MTF e hiperemia dessa articulação. À palpação observa-se que o paciente sentiria dor e há presença de calor Fonte: Aula 4 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto 11. Cistos subcorticais sem erosões (no Raio x) → na crise aguda ainda não houve tempo de se instalar uma erosão, ao contrário do paciente no estágio III 12. Cultura negativa do líquido sinovial ➢ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Artrite Séptica → é o principal diagnóstico diferencial. Ela também causa uma monoartrite com dor, edema, calor e rubor ▪ É uma urgência que precisa ser diagnosticada e tratada em até 24h devido ao risco desse paciente evoluir com sepse e até mesmo óbito ▪ Assim, quando se está diante de uma primeira crise de monoartrite do paciente deve-se fazer uma artrocentese diagnóstica • Trauma • Outras Artrites Cristalinas → Ex: Condrocalcinose • Artrite Reativa • Reumatismo Palindrômico • Febre Reumática Aguda → é caracterizada por acometer mais crianças e adultos jovens e por ser uma poliartrite migratória das articulações (Ex: tem-se uma monoartrite no joelho direito com dor, edema, calor e rubor, e, 2 a 3 dias depois, desaparece no joelho direito e aparece no tornozelo esquerdo) GOTA INTERCRÍTICA – Estágio II ➢ Paciente sai da crise aguda e entra nesse período intercrítico, que é o período em que há a resolução total dos sintomas ➢ A presença de crises agudas com intervalor intercriticos entre elas é altamente sugestivo da doença ➢ O período intercritico tem duração variável → há relatos de que duram dias, semanas e até mesmo anos ➢ Esse período intercrítico é o momento ideal para: • Estabelecer diagnóstico → pois na vigência da crise aguda pode-se ter um falso-negativo para hiperuricemia, que é essencial para o diagnóstico • Identificar fatores modificáveis → Ex: suspender diurético em paciente hipertenso que faz uso e trocar por Losartana, por exemplo, que tem um papel hipouricemiante, pois ela ajuda na excreção renal do ácido úrico, sendo o anti- hipertensivo de escolha para pacientes com gota ▪ Instituir mudança de vida em relação à alimentação, ao consumo de álcool (principalmente as bebidas fermentadas, como a cerveja)... • Classificar o paciente → Estágio II ou III • Instituir o tratamento profilático e redutor do urato • Avaliar e manejar as comorbidades: ▪ Hiperuricemiaé um fator de risco para: ✓ Doença cardiovascular ✓ Insuficiência Renal Crônica (IRC) ▪ Assim, é preciso minimizar os outros fatores de risco para doença cardiovascular e IRC GOTA TOFÁCEA CRÔNICA – Estágio III ➢ Quando não se trata ou quando paciente não adere ao tratamento, que é o mais comum de ocorrer ➢ A gota tofácea crônica pode acometer mais os membros superiores, pois a aguda é quem tem a predileção pelo membro inferior ➢ Há uma predileção pelas articulações que sofrem de osteoartrite CURSO DA DOENÇA ➢ O curso da doença é muito variável e depende muito da adesão ao tratamento ➢ Intervalo entre a 1ª crise (Estágio II) e o surgimento da artrite crônica (Estágio III) → em média 12 anos (mas pode ser de 5 – 40 anos) ➢ Complicações renais: • Nefrolitíase por Cristais de Urato Monossódico → pode cursar com Nefropatia Obstrutiva, Hidronefrose e/ou Insuficiência Renal Pós-Renal • Nefropatia Crônica pelo Urato → pelo depósito de cristais nos glomérulos, no parênquima renal • Insuficiência Renal em decorrência do uso de anti- inflamatórios → pois pacientes com gota costumam fazer uso abusivo de anti-inflamatórios Tofo Gotoso - Nas articulações interfalangianas distais do 2º e 5º quirodáctilos - São cristais de urato monossódico precipitados no tecido celular subcutâneo Tofo Gotoso - Aumento de partes moles (seta azul) → devido ao tofo - Múltiplas erosões ósseas (seta amarela) → Erosões em Saca Bocado, que são bem características da gota Fonte: Aula 5 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto TRATAMENTO ➢ Objetivos do Tratamento: • Proporcional alívio rápido e seguro da dor → dizer ao paciente quais as medicações que ele pode utilizar para sair da crise • Prevenir novas crises • Prevenis a formação de tofos e o surgimento de erosões (impedindo que o paciente chegue no estágio III) • Prevenir as complicações e condições clínicas associadas → diminuir morbimortalidade cardiovascular e renal desses pacientes ➢ TRATAMENTO DA CRISE AGUDA: • ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS (AINE’s) → geralmente são as medicações de escolha, podendo fazer uso de qualquer um que esteja disponível no momento e na sua posologia habitual ▪ Não há evidência científica que mostre superioridade de um anti-inflamatório sobre outro ▪ Caso o paciente não tenha contraindicações, deve-se tentar inicialmente tirar ele da crise com um AINE ▪ Se o paciente está no estágio III e já tem um certo grau de insuficiência renal deve-se evitar o uso de AINE’s, dando preferência à Colchicina ou aos Glicocorticoides • COLCHICINA • GLICOCORTICOIDES → faz-se em dose um pouco maior do que a usada na artrite reumatóide, mas durante um período de tempo mais curto Prednisolona 30 – 35 mg/dia por 3 – 5 dias • Recomendações do EULAR (2016) para o manejo dos quadros agudos da gota: ▪ Educar sobre a doença → desidratação, alimentação... ▪ Checklist das medicações que o paciente está usando → se necessário, avaliar a necessidade de troca da medicação, como no caso da troca do diurético pela Losartana, por exemplo ▪ Insuficiência Renal Crônica Severa (TFG < 30 ml/min) → Evitar Colchicina e AINE’s ▪ Em pacientes que usam inibidores fortes da glicoproteína P e/ou CYP3A4 → evitar Colchicina, pois ela altera o metabolismo dessa medicação ▪ Opções terapêuticas dependem do(a): ✓ Severidade das crises ✓ Número de articulações acometidas ✓ Duração dos ataques • No Brasil, não se dispõe de bloqueador da IL-1 para todos os pacientes, pois é uma medicação de alto custo, sendo usado apenas em algumas síndromes autoinflamatórias da infância • Infiltração com corticoide → principalmente quando se tem apenas 1 articulação acometida ▪ Faz-se a artrocentese e pelo aspecto macroscópico do líquido sinovial, em um paciente com história clássica de gota, é um líquido amarelo citrino e não tem características de ser purulento, pode-se, no mesmo ato da artrocentese diagnóstica, fazer a infiltração com corticoide • Terapia Combinada (AINE + Colchicina ou AINE + Corticoide ou Colchicina + Corticoide) → nos casos de crises refratárias • Se o paciente, após o tratamento, chegou na resolução do ataque agudo: ▪ Orientar a automedicação → ensinar ao paciente como sair de uma nova crise, caso ele tenha novamente ▪ Considerar terapia hipouricemiante + Profilaxia para ataques agudos ➢ PROFILAXIA → PREVENÇÃO DA GOTA RECORRENTE: • Indicações para tratamento hipouricemiante: ▪ Pelo menos 1 ataque agudo de gota em 12 meses ▪ Na presença de: ✓ Tofos ✓ Insuficiência Renal Crônica ✓ Nefrolitíase ✓ Necessidade de continuar diuréticos para Insuficiência Cardíaca ✓ Idade < 40 anos ✓ Ácido úrico > 8mg/dL (para pacientes que já tem diagnóstico de gota. Não é naqueles com Hiperuricemia assintomática, que só é tratada quando o ácido úrico é > 13 mg/dL) • A terapia hipouricemiante deve ser discutida e considerada na ocasião do diagnóstico • Meta → manter o ácido úrico < 6mg/dL (< 5mg/dL se houver presença de tofos) ▪ Estágio II < 6mg/dL ▪ Estágio III < 5mg/dL ▪ É por isso que é importante a classificação do paciente, pois é a partir do estágio em que ele se encontra que vai determinar qual a meta do ácido úrico ▪ A medicação hipouricemiante deve ser iniciada 2 semanas após a remissão de uma crise aguda → o cristal fica no interior da articulação quando ele se Fonte: Aula 6 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto torna insolúvel no plasma, > 7mg/dL para homens e > 6,5mg/dL para mulheres. Porém, esse cristal também pode se tornar insolúvel com variações bruscas, tanto pra mais quanto pra menos, nos níveis de ácido úrico. Assim, o Alopurinol, que é o principal hipouricemiante no Brasil, promove uma redução brusca para menos, fazendo com que o ácido úrico se torne insolúvel no plasma e, paradoxalmente, pode-se ter uma crise aguda iniciada pelo uso do Alopurinol. Por isso que é necessário manter uma medicação profilática de crise. Assim, sempre que se iniciar o Alopurinol deve-se manter o AINE ou a Colchicina em dose profilática, que é o equivalente a metade da dose que foi capaz de tirar o paciente da crise ➢ Recomendações do EULAR (2016) para o manejo da hiperuricemia em pacientes com gota: • Primeiramente deve-se determinar o alvo do ácido úrico → paciente em: ▪ Estágio II < 6mg/dL ▪ Estágio III < 5mg/dL (devido à presença de tofo) • Losartana → é o anti-hipertensivo de escolha para pacientes com gota • Estatinas ou fenofibrato → diminuem o risco cardiovascular • Pacientes com gota tem muita síndrome metabólica associada à doença, sendo necessário manejar essas comorbidades • Iniciar tratamento profilático (AINE ou Colchicina) → na metade da dose que tirou o paciente da crise aguda • Iniciar terapia Hipouricemiante (concomitantemente ao tratamento profilático) • Alopurinol → é a droga hipouricemiante de escolha ▪ Inicia-se com uma dose de 100mg/dia, podendo chegar até 900mg/dia ▪ Ajustar a dose de acordo com a função renal → só é preciso começar a fazer ajuste do Alopurinol com o Clearence de Creatinina < 30ml/min. Até 30ml/min não é preciso fazer ajustes ▪ Titular lentamente até a dose máxima permitida ▪ Se na dose máxima: ✓ Atingiu o alvo → continuar o Alopurinol ✓ Não atingiu o alvo: o Trocar o Alopurinol por: ❖ Febuxostate ou ❖ Uricosúrico o Depois da troca de medicação: ❖ Atingiu o alvo → continuar o Febuxostate ou Uricosúrico ❖ Não atingiu o alvo → considerar Terapia combinada (Inibidor da Xantina Oxidase (XO), que é o Alopurinol + Uricosúrico) - Pegloticase (é a medicação dessa combinação) → em casos de gota tofácea crônica severa. Esse medicamento não tem no Brasil ➢ INTERVENÇÕES DIETÉTICAS NOS INDIVÍDUOS COM GOTA: • Dieta mais rica em vegetais• Evitar frutas adocicadas • Estimular a ingesta de vitamina C → pois também tem papel hipouricemiante • Evitar bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja • Beber água diminui o risco de crises agudas, assim como beber café • Evitar bebidas adocicadas, pois aumentam o risco de crise aguda • Evitar carnes processadas • Limitar a ingesta de carne vermelha... ➢ OUTRAS INTERVENÇÕES: • Manter-se ativo • Reduzir e manter o peso sob controle DOENÇA POR DEPÓSITO DE CRISTAIS DE PIROFOSFATO DE CÁLCIO - DCPC (CONDROCALCINOSE) INTRODUÇÃO ➢ É a causa mais comum de calcificação da cartilagem articular ➢ FATORES DE RISCO: • Envelhecimento* • Genéticos → mutações no gene ANKH • Trauma • Menisectomia • Osteoartrite* • Doenças metabólicas (Ex: Hiperparatireoidismo, Hemocromatose, Hipomagnesemia) *Principais fatores de risco Fonte: Aula 7 ARTRITES MICROCRISTALINAS Gizelle Felinto REGIÕES MAIS COMUMENTE AOCMETIDAS ➢ Locais mais acometidos: • Punho → pode-se identificar a calcificação do ligamento triangular do carpo • Joelho → pode-se identificar a calcificação do menisco ➢ Outros locais que também podem ser acometidos: • Ombros • Cotovelos • Metacarpofalangianas • Tornozelo APRESENTAÇÃO CLÍNICA ➢ A apresentação clínica é dividida em 4 formas: • Pseudo Osteoartrite (50%) → maioria dos pacientes ▪ Indivíduos terão dor de caráter mecânico, que melhora com o repouso e piora com os movimentos, e podem ter um discreto edema articular, mas sem calor ou rubor ▪ Ex: paciente chega com uma queixa de dor mecânica no joelho e, no raio x, observa-se a calcificação do menisco, caracterizando uma condrocalcinose de joelho • Pseudogota (25%) → pacientes apresentam dor, edema, calor e rubor da articulação acometida ▪ Se for feita uma artrocentese diagnóstica nesses pacientes, ela demonstra a presença de um cristal rombóide • Assintomáticos (20%) → a evidência da calcificação é um achado radiográfico. Paciente descobre por acaso, quando realizar uma radiografia. Ex: faz-se uma radiografia da mão e vê-se a calcificação do ligamento triangular do carpo, mas o paciente não tem sintoma algum • Similar à Artrite Reumatóide – AR (5%) → dor, edema e calor acometendo as metacarpofalangianas e as interfalangianas proximais de forma simétrica TRATAMENTO ➢ NO ATAQUE AGUDO → mesmas medicações usadas na gota e com as mesmas contraindicações • AINE’s • Glicocorticoides • Colchicina ➢ MANEJO A LONGO PRAZO: • AINE’s e/ou COLCHICINA → mas não de forma contínua. Deve-se ensinar o paciente a usar de forma segura a menor dose possível e durante o menor número de dias possível ▪ Associar um Inibidor de Bomba de Prótons (IBP) quando necessário, minimizando os riscos a longo prazo • DROGAS MODIFICADORAS DO CURSO DE DOENÇAS (DMCD’s) → principalmente nos casos que tem uma forma de apresentação clínica similar à Artrite Reumatóide (quando há acometimento de mãos) Hidroxicloroquina Metotrexate Condrocalcinose imitando a Artrite Reumatóide - Aumento do volume das metacarpofalangianas e de uma interfalangiana proximal Pseudogota - Aumento do volume articular acompanhado de hiperemia da articulação, lembrando a apresentação clínica da gota Calcificação do ligamento triangular do carpo - Na maioria dos casos manifesta-se como uma pseudo osteoartrite Calcificação do menisco - Na maioria dos casos manifesta-se como uma pseudo osteoartrite Cristal Romboide - Demostra a presença de pirofosfato de cálcio no interior da articulação
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