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CASOS CLÍNICOS MEDICINA INTERNA 1.6 Tatiana Rodrigues 01 Dona de casa obesa de 35 anos apresenta-se com dor lombar, requisitando um raio X. Ela tem essa dor há vários anos, mas, nos últimos dois dias, piorou muito. A dor começou depois que ela passou o aspirador em um tapete e acomete especialmente o lado direito da região lombar, irradiando-se para a face posterior da coxa até o joelho, mas não é acompanhada de dormência ou formigamento e melhora quando a paciente deita-se de costas, com as pernas ligeiramente elevadas, e quando toma 400 mg de ibuprofeno. Exceto pela obesidade moderada e pela dificuldade de manobras sobre a mesa de exame por causa da dor, seu exame é praticamente normal. Qual é o seu diagnóstico? Qual deve ser o próximo passo? A única anormalidade que você nota é o teste positivo de dor na região lombar à elevação da perna, com a direita provocando mais dor do que a esquerda. Força muscular, sensibilidade e reflexos profundos são normais nas extremidades. Diagnóstico mais provável: Lombalgia musculoesquelética, possivelmente ciática, sem déficits neurológicos. Próximos passos: Estimular a continuidade das atividades normais, evitando movimentos de torção e levantamento de objetos pesados. Utilizar AINEs de forma programada e recomendar, opcionalmente, relaxantes musculares, embora essas medicações possam causar sonolência. Fazer massagens ou fisioterapia também pode ser útil. Realizar acompanhamento em quatro semanas. Aconselhar perda de peso e exercícios para fortalecimento da musculatura das costas. Resumo: Mulher obesa de 35 anos com lombalgia crônica queixa-se que a dor piorou agudamente, irradiando-se ao longo da perna direita. O exame físico é normal. RESPOSTA PARA O CASO 01 CONSIDERAÇÕES Essa paciente jovem com lombalgia crônica tem exacerbação aguda com irradiação da dor para a perna, o que pode indicar possível compressão de nervo isquiático. Não tem outras anormalidades neurológicas, como déficits sensoriais, fraqueza muscular ou sintomas característicos de etiologias mais graves de lombalgia que, se presentes, exigiriam avaliação mais urgente. Assim, ela tem bom prognóstico de recuperação com o tratamento conservador, sendo talvez o tempo o fator mais importante. Se não melhorar em seis semanas, a realização de estudos de imagem pode ser considerada. 02 Homem sadio de 52 anos vai ao consultório médico queixando-se de fadiga crescente nos últimos 4 ou 5 meses. Faz exercício todos os dias, mas ultimamente tem falta de ar quando corre. Nega ortopneia, dispneia paroxística noturna (DPN) e edema dos tornozelos. O paciente relata artralgia ocasional, para a qual toma ibuprofeno sem receita. Nega sintomas intestinais, melena ou fezes sanguinolentas, mas relata dor abdominal vaga do lado esquerdo durante alguns meses, intermitente, e que não está relacionada com a ingesta de alimentos. Nega febre, calafrios, náusea e vômito. Ele perdeu alguns quilos intencionalmente com dieta e exercícios. Qual deve ser o diagnóstico mais provável? Qual deve ser o próximo passo diagnóstico? Ao exame, o peso é de 102 kg e está afebril. Há leve palidez das conjuntivas, da pele e das palmas das mãos. Não há linfadenopatia observável. Os pulmões estão limpos. No sistema cardiovascular, o rítmo cardíaco é normal, sem atrito ou galope. Há um sopro sistólico de ejeção. O abdome flácido, indolor e sem hepatosplenomegalia. Ruídos hidroaéreos estão presentes. Não tem edema de extremidades, cianose ou baqueteamento digital. Os pulsos periféricos são palpáveis e simétricos. O nível de hemoglobina é de 8,2 g/dL. Diagnóstico mais provável: Anemia por deficiência de ferro resultante de perda de sangue crônica. Próximo passo: Analisar o hemograma completo, particularmente o volume corpuscular médio (VCM), para determinar se a anemia é microcítica, normocítica ou macrocítica; avaliar a contagem de leucócitos e plaquetas. Resumo: Um homem sadio de 52 anos queixa-se de intolerância crescente ao exercício há 4 ou 5 meses, mas nega ortopneia, DPN, edema nos tornozelos ou outros sintomas de insuficiência cardíaca. O paciente usa anti-inflamatório não esteroide (AINE) regularmente. Ele não notou qualquer sangramento gastrintestinal (GI). Pesa 102 kg e tem leve palidez das conjuntivas, da pele e das palmas das mãos. Está anêmico, com um nível de hemoglobina de 8,2 g/dL. RESPOSTA PARA O CASO 02 CONSIDERAÇÕES Esse homem de 52 anos vai ao consultório médico com queixa de fadiga e dispneia aos esforços nos últimos meses antes da consulta. O exame físico é significativo apenas pela palidez. O nível de hemoglobina sérica confirma anemia. O próximo passo é caracterizar a anemia como microcítica, que seria consistente com deficiência de ferro e confirmada com exame de capacidade ferropéxica (CFP) e ferritina. A fonte mais provável de perda de sangue em pacientes masculinos é o trato gastrintestinal; portanto, o achado de anemia por deficiência de ferro deve sugerir a presença de possível fonte GI de sangramento, sendo que câncer do colo é a possibilidade mais grave. Esse paciente usa um AINE que pode predispor à gastrite erosiva. Uma vez confirmada a anemia por deficiência de ferro, é necessária uma avaliação completa do trato GI, incluindo endoscopias alta e baixa. 03 Homem de 61 anos vai à emergência queixando-se de dor abdominal cuja intensidade aumentou há três dias. A dor é localizada no quadrante inferior esquerdo do abdome. Começou como cólica intermitente e agora se tornou contínua e moderadamente intensa. Sente-se nauseado, mas não vomitou. Eliminou pequena quantidade de fezes moles no início da doença, mas desde então não evacuou. Nunca teve sintomas como esse antes nem qualquer doença gastrintestinal (GI). Sua temperatura é de 37,8°C, a frequência cardíaca é de 98 bpm e a pressão arterial de 110/72 mmHg. Não tem palidez nem icterícia. Os pulmões estão limpos, e o rítmo cardíaco é sinusal, sem sopros. O abdome está levemente distendido, com ruídos hidroaéreos hipoativos e dor intensa à palpação do quadrante inferior esquerdo, que provoca defesa voluntária. O exame retal é doloroso. A pesquisa para sangue oculto nas fezes é negativa. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual deve ser o próximo passo? Os exames laboratoriais apresentam contagem de leucócitos de 12.800/mm3, com 74% de neutrófilos, 22% de linfócitos, com hemoglobina e hematócrito normais. A radiografia simples do abdome não mostra pneumoperitônio, e o padrão do gás intestinal é inespecífico. Diagnóstico mais provável: Diverticulite aguda do sigmoide. Próximo passo mais apropriado: Internação para administração de antibióticos intravenosos e monitoração. Um exame de tomografia computadorizada (TC) do abdome é muito útil para confirmar o diagnóstico e excluir a possibilidade de abscesso pericólico e outras complicações, como formação de fístula. Resumo: Um homem de 61 anos tem há três dias de dor com piora progressiva no quadrante inferior esquerdo do abdome. Sente-se nauseado e não evacuou desde que a doença começou. Ele está com febre baixa e hemodinamicamente estável. Não apresenta palidez ou icterícia, e seu abdome está levemente distendido, com ruídos hidroaéreos hipoativos e dor intensa à palpação no quadrante inferior esquerdo que, gera defesa voluntária. Ele apresenta leucocitose e concentração de hemoglobina normal, sem sangue oculto nas fezes. A radiografia simples de abdome não mostra mudanças consideráveis. RESPOSTA PARA O CASO 03 CONSIDERAÇÕES Esse é um paciente mais velho, com estabelecimento recente de dor intensa e progressiva no abdome inferior do lado esquerdo, sugerindo diverticulite como diagnóstico. A febre baixa e a leucocitose são consistentes com diverticulite aguda do sigmoide, que provavelmente irá melhorar com antibioticoterapia. A radiografia do abdome não mostra pneumoperitônio, tornando a hipótese de perfuração menos provável. A diverticulose, ou seja, os divertículos não inflamatórios, pode se manifestar como sangramento vermelho-brilhante no reto. Colite isquêmica é outra consideraçãodiagnóstica em pacientes mais velhos, mas geralmente apresenta sinais de sangramento, o que não ocorre na diverticulite. Como a apresentação clínica pode ser similar, é importante avaliar o paciente quanto à existência de câncer de colo com perfuração, assim que todos os sinais de inflamação desaparecerem. 04 Um homem de 24 anos vai à emergência queixando-se de febre e calafrios há 24 horas. Atualmente, ele está sendo tratado para leucemia linfoblástica aguda (LLA). Sua quimioterapia mais recente foi há sete dias, com CVAD (ciclofosfamida, vincristina, doxorrubicina e dexametasona) hiperfracionada. Nega tosse e dispneia, cefaleia, dor abdominal ou diarreia. Não teve contato com doentes nem fez viagem recente. Ao exame, está febril, com 39,4°C, com frequência cardíaca de 122 bpm, pressão arterial de 118/65 mmHg e frequência respiratória de 22 mpm. Ele tem aparência de doente; a pele está quente e úmida, mas sem exantema. Não tem lesões orais, os pulmões estão limpos, a frequência cardíaca está taquicárdica e regular, com sopro sistólico suave na borda esternal esquerda, e o abdome está normal. Qual é o diagnóstico mais provável? Quais são seus próximos passos terapêuticos? A região perianal está normal e o toque retal foi adiado; as fezes são negativas para sangue oculto. Apresenta cateter inserido na veia jugular interna direita sem eritema sobre o trajeto subcutâneo e sem secreção purulenta no local de saída do cateter. É interessante notar que ele relata o aparecimento de tremores com calafrios decorridos 30 minutos do congestionamento do cateter. Os exames laboratoriais mostram contagem de leucócitos totais de 1.100 células/mm3, com diferencial de 10% de neutrófilos, 16% de bastonetes, 70% de linfócitos e 4% de monócitos (a contagem absoluta de neutrófilos é de 286/mm3). O raio X de tórax está normal. Diagnóstico mais provável: Neutropenia febril e possível infecção do cateter vascular. Próximos passos: Depois da coleta de hemoculturas, o paciente deve receber antibióticos de amplo espectro por via intravenosa, incluindo cobertura para microrganismos gram-positivos, como espécies de Staphylococcus. O cateter vascular deve ser retirado, se possível. Resumo: Um homem de 24 anos com LLA está recebendo quimioterapia imunossupressora. Agora tem febre, mas não tem sintomas respiratórios ou abdominais. O raio X de tórax está normal, e a contagem absoluta de neutrófilos é de 286/mm3. Possui um cateter venoso central e história sugestiva de possível infecção do cateter. RESPOSTA PARA O CASO 04 CONSIDERAÇÕES Esse paciente está sendo tratado para doença maligna hematológica com quimioterapia combinada, que tem o efeito colateral comum de leucopenia, especialmente neutropenia. Geralmente, o nadir da contagem de leucócitos ocorre entre 10 e 14 dias depois da quimioterapia. Esse paciente certamente tem neutropenia, definida por contagem absoluta de neutrófilos < 500 células/mm3. A contagem absoluta de neutrófilos é calculada multiplicando- se o percentual de neutrófilos pela contagem de leucócitos total. Nessa situação de imunossupressão, a infecção ameaça a vida, e a cobertura antibiótica imediata é obrigatória. Os pacientes neutropênicos têm risco de várias infecções bacterianas, fúngicas e virais, mas as fontes mais comuns de infecção são as bactérias gram-positivas da pele e as bactérias gram- negativas do intestino. A infecção do cateter de longa permanência, como no caso desse paciente, é comum. A administração rápida do tratamento antibiótico empírico é fundamental enquanto se procura a fonte da infecção.
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