Prévia do material em texto
Indaial – 2021 Planejamento e Gestão de Uan Prof. ª Aline De Faveri Prof. ª Michele Borba 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. ª Aline De Faveri Prof. ª Michele Borba Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F273p Faveri, Aline de Planejamento e gestão de UAN. / Aline de Faveri; Michele Borba. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 203 p.; il. ISBN 978-65-5663-513-2 ISBN Digital 978-65-5663-514-9 1. Nutrição. - Brasil. 2. Alimentos. – Brasil. I. Borba, Michele. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 612.3 aPresentação Prezado acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Planejamento e Gestão de UAN! Este livro didático tem o propósito de auxiliá-lo no processo de aprendizagem acerca dos principais conteúdos e conceitos que irão nortear a atuação profissional do nutricionista em UAN. Para gerenciar uma UAN é necessário conhecimento técnico, habilidades e competências relacionadas à gestão de pessoas, planejamento e monitoramento financeiro, conhecimentos acerca das legislações, fiscalizar ou executar contratos, entre outros. Neste livro estão reunidas as principais informações para este aprendizado. Para melhor organização do livro didático ele foi dividido em três unidades, com objetivos, conteúdos, leituras complementares, autoatividades e dicas para facilitar seu entendimento. Na primeira unidade, você irá estudará o setor de alimentação coletiva, o papel do profissional nutricionista neste setor, além dos conceitos e técnicas importantes para o processo de elaboração de cardápios e seus métodos de avaliação. Na segunda unidade, você poderá aprofundar os conhecimentos referentes ao planejamento físico de uma UAN, conhecendo as legislações que regulamentam os serviços de alimentação, planejamento e dimensionamento das áreas e equipamentos, e irá estudar os princípios da sustentabilidade nestes locais. Já na terceira unidade, o foco é para a gestão e administração de uma UAN. Você poderá compreender como funcionam aspectos relacionados aos recursos humanos, segurança e saúde ocupacional, além das ferramentas para gestão da qualidade nos serviços de alimentação. Vamos começar os estudos desta disciplina? Desejamos uma boa leitura! Prof. ª Aline De Faveri Prof. ª Michele Borba Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sUmário UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN .............................................................. 1 TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA ............................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ........................................................................ 4 2.1 FUNÇÕES DO NUTRICIONISTA QUE TRABALHA EM UAN ............................................. 6 3 RESPONSABILIDADE TÉCNICA ................................................................................................. 16 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS ........................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 GUIA ALIMENTAR E LEIS DA NUTRIÇÃO .............................................................................. 26 3 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS ............................................................................................. 28 3.1 COMPOSIÇÃO BÁSICA DO CARDÁPIO ................................................................................ 30 3.1.1 Entrada .................................................................................................................................. 31 3.1.2 Prato base .............................................................................................................................. 31 3.1.3 Prato principal ...................................................................................................................... 32 3.1.4 Guarnição .............................................................................................................................. 32 3.1.5 Sobremesa ............................................................................................................................. 32 3.1.6 Bebidas .................................................................................................................................. 32 3.1.7 Complementos ..................................................................................................................... 33 3.2 CUIDADOS IMPORTANTES NO PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS ............................ 33 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS .................................................. 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 MÉTODO DE AVALIAÇÃO QUALITATIVA DAS PREPARAÇÕES DO CARDÁPIO (AQPC) ......................................................................................................................... 48 3 MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRICIONALE SENSORIAL (AQNS) ........................................................................................................................ 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 52 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 61 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN ................................................................... 65 TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS ......................... 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67 2 A LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................ 67 2.1 PORTARIA Nº 326, DE 30 DE JULHO DE 1997 ....................................................................... 69 2.2 RESOLUÇÃO – RDC Nº 275, DE 21 DE OUTUBRO DE 2002 ............................................... 69 2.3 RESOLUÇÃO N° 216, DE 15 DE SETEMBRO DE 2004 .......................................................... 70 3 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS INSTALAÇÕES ....................................................................................................................... 70 3.1 ILUMINAÇÃO .............................................................................................................................. 70 3.2 VENTILAÇÃO, TEMPERATURA E UMIDADE...................................................................... 72 3.3 COR ................................................................................................................................................. 73 3.4 SONORIZAÇÂO ........................................................................................................................... 75 3.5 LOCALIZAÇÃO .......................................................................................................................... 76 3.6 CONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA ........................................................................................... 77 3.7 REVESTIMENTOS ........................................................................................................................ 78 3.7.1 Pisos ....................................................................................................................................... 78 3.7.2 Paredes .................................................................................................................................. 78 3.7.3 Portas e janelas ..................................................................................................................... 79 3.8 INSTALAÇÕES ............................................................................................................................. 79 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS ........................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 ÁREAS DE UMA UAN .................................................................................................................... 83 2.1 PARÂMETROS DO DIMENSIONAMENTO ........................................................................... 84 2.2 ÁREA PARA RECEBIMENTO DE MERCADORIAS .............................................................. 85 2.3 ÁREAS PARA ESTOCAGEM ..................................................................................................... 86 2.3.1 Almoxarifado/estoque ......................................................................................................... 86 2.3.2 Estoque frio ........................................................................................................................... 87 2.4 ÁREAS PARA PRODUÇÃO/ PROCESSAMENTO ................................................................. 88 2.4.1 Área de pré-preparo ............................................................................................................ 89 2.4.2 Área de cocção ...................................................................................................................... 90 2.4.3 Área de expedição das preparações .................................................................................. 91 2.4.4 Higienização dos utensílios de cozinha ........................................................................... 91 2.4.5 Área de cozinha dietética ................................................................................................... 92 2.5 ÁREA DE DISTRIBUIÇÃO .......................................................................................................... 93 2.6 ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO DE BANDEJAS E UTENSÍLIOS DE MESA ............................ 94 2.7 ÁREA DA SALA DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................ 94 2.8 ÁREA DA INSTALAÇÕES SANITÁRIAS E VESTIÁRIOS .................................................... 95 2.9 ÁREA DESCARTE DE RESÍDUOS/LIXO.................................................................................. 96 2.10 ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO DE MATERIAL DE LIMPEZA ............................................... 97 2.11 ÁREA DE GUARDA DE BOTIJÕES DE GÁS ......................................................................... 97 3 EQUIPAMENTOS ............................................................................................................................. 98 3.1 CALDEIRÕES ................................................................................................................................ 99 3.2 BALCÕES DE DISTRIBUIÇÃO ................................................................................................ 101 3.3 RECIPIENTES PARA BALCÕES .............................................................................................. 102 3.4 FORNOS ....................................................................................................................................... 102 3.5 AQUISIÇÃO ................................................................................................................................ 103 3.6 MANUTENÇÃO ......................................................................................................................... 104 3.7 EQUIPAMENTOS PRINCIPAIS ............................................................................................... 105 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 108 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 109 TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE ............................................................................................. 111 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 111 2 PRINCÍPIOS DA SUSTENTABILIDADE APLICADOS A UAN ......................................... 111 3 SUSTENTABILIDADE X ECONOMIA ...................................................................................... 112 3.1 CARDÁPIO................................................................................................................................. 112 3.2 AQUISIÇÃO ALIMENTOS ...................................................................................................... 113 3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS/ ORGÂNICOS ...................................................................................... 113 3.4 ÁGUA ........................................................................................................................................... 113 3.5 ÓLEO ............................................................................................................................................ 114 3.6 ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................................ 114 4 DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS ................................................................................................ 115 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 117 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 123 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 124 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 126 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN ................................................................................................. 129 TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS ......................................................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 PROCESSOS PARA CONTRATAÇÃO ...................................................................................... 132 2.1 RECRUTAMENTO .................................................................................................................... 132 2.2 SELEÇÃO .................................................................................................................................... 134 2.2.1 Entrevistas........................................................................................................................... 134 2.2.2 Testes.................................................................................................................................... 136 2.2.3 Dinâmicas ........................................................................................................................... 136 2.2.4 Outros .................................................................................................................................. 137 2.3 ADMISSÃO ................................................................................................................................. 137 2.4 EDUCAÇÃO EM SERVIÇO E TREINAMENTO/ DESENVOLVIMENTO ........................ 137 2.4.1 Tipos de treinamento ........................................................................................................ 138 2.4.2 Fases do treinamento ........................................................................................................ 138 2.5 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ........................................................................................... 139 2.6 AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS .............................................................................. 140 3 DIMENSIONAMENTO E CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE ........................................... 141 3.1 JORNADA DE TRABALHO ..................................................................................................... 142 3.2 DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL EM UND .................................................................. 143 3.2.1 Cálculo pelo número de leitos ......................................................................................... 143 3.2.2 Cálculo em relação ao quadro de pessoal do hospital ................................................. 143 3.2.3 Pelo número de refeições (Indicador de Pessoal Fixo) ................................................. 144 3.3 DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL EM UAN .................................................................. 145 3.3.1 Indicador de Pessoal Fixo (IPF) ....................................................................................... 145 3.3.2 Indicador de Período de Descanso (IPD) ...................................................................... 146 3.3.3 Indicador de Pessoal Substituto de Dias de Descanso (IPS) ........................................ 147 3.3.4 Indicador de Pessoal Total (IPT) ...................................................................................... 147 3.4 CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE ......................................................................................... 148 3.4.1 Indicador de Rendimento de mão de obra (IRd) .......................................................... 148 3.4.2 Índice de Produtividade Individual – IPI ..................................................................... 149 4 FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS ............................................................................ 150 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL .......................................................... 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161 2 RISCOS OCUPACIONAIS ........................................................................................................... 161 2.1 RISCOS FÍSICOS ........................................................................................................................ 163 2.1.1 Ruído ................................................................................................................................... 163 2.1.2 Temperatura ....................................................................................................................... 163 2.2 RISCOS QUÍMICOS ................................................................................................................... 165 2.3 RISCOS BIOLÓGICOS .............................................................................................................. 165 2.4 RISCOS MECÂNICOS ............................................................................................................... 166 2.5 RISCOS ERGONÔMICOS ......................................................................................................... 166 2.6 MEDIÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS ................................................................................. 167 2.6.1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) ............................................... 167 2.6.2 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) .............................. 167 2.7 MEDIDAS DE PREVENÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS ................................................. 168 2.7.1 Equipamentos de proteção coletivos .............................................................................. 168 2.7.2 Equipamentos de proteção individual ........................................................................... 168 2.8 CIPA (COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES) .................................. 169 3 DOENÇAS OCUPACIONAIS ...................................................................................................... 172 4 NORMAS REGULAMENTADORAS ..........................................................................................172 4.1 NR-05 – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA .................... 172 4.2 NR–06 – DISPÕE SOBRE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) ............ 173 4.3 NR–07 – PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO E DE SAÚDE OCUPACIONAL (PCMSO) ....................................................................................................................................... 174 4.4 NR–09 – PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS ...................................174 4.5 NR–15 – ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES .......................................................... 174 4.6 NR–17 – ERGONOMIA ............................................................................................................. 176 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE .................................................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 2 FERRAMENTAS PARA QUALIDADE EM UAN .................................................................... 181 2.1 CICLO PDCA .............................................................................................................................. 182 2.2 FLUXOGRAMA ......................................................................................................................... 183 2.3 FOLHA DE VERIFICAÇÃO – CHECKLIST ........................................................................... 184 2.4 HISTOGRAMA ........................................................................................................................... 185 2.5 BRAINSTORMING ..................................................................................................................... 186 2.6 DIAGRAMA DE ISHIKAWA .................................................................................................... 187 2.7 DIAGRAMA DE PARETO ......................................................................................................... 187 2.8 PROGRAMA 5S .......................................................................................................................... 188 2.9 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS E POPs ............................................................................... 189 2.10 APPCC ........................................................................................................................................ 189 3 CERTIFICAÇÕES ........................................................................................................................... 190 3.1 NBR ISO 9000:2000 – SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE – FUNDAMENTOS E VOCABULÁRIO ..................................................................................... 190 3.2 NBR ISO 14000 ............................................................................................................................ 191 3.3 NBR ISO 22000:2019 ................................................................................................................... 191 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 192 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 198 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 199 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 201 1 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o setor de alimentação coletiva; • compreender o papel do profissional nutricionista que atua neste setor; • entender a estrutura e os métodos para elaboração de cardápios de uma UAN; • identificar métodos para avaliação de cardápios. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA TÓPICO 2 – ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS TÓPICO 3 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você conhece o setor de alimentação coletiva? Já viu ou ouviu falar na sigla “UAN”? Sabia que é uma das áreas de atuação que mais oferece oportunidades de emprego e boas remunerações para nutricionistas? Conhece o papel do profissional nutricionista que trabalha nesta área? Vamos aprofundar os conhecimentos sobre o setor de alimentação coletiva neste tópico! A alimentação é uma necessidade fisiológica básica, sendo uma das atividades mais importantes para o ser humano, tanto por razões biológicas óbvias, quanto pelas questões sociais e culturais que envolvem o comer. Assim, o ato de se alimentar engloba vários aspectos que vão desde a produção dos alimentos até a sua transformação em refeições e disponibilização às pessoas (PROENÇA et al., 2005). O estilo de vida moderno tem promovido importantes modificações no hábito alimentar da população, incluindo o hábito de se alimentar fora de casa (IBGE, 2019). A sigla “UAN” significa Unidade de Alimentação e Nutrição, uma unidade de trabalho ou órgão de uma empresa, que desempenha atividades relacionadas à alimentação e nutrição (TEIXEIRA et al., 2006). O objetivo de uma UAN é fornecer refeições seguras, equilibradas e apropriadas quanto às necessidades de seus consumidores, além de buscar desenvolver hábitos alimentares saudáveis (PROENÇA, 1997). Considerando estes objetivos, é importante relembrar que o planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de UAN são atividades privativas do profissional nutricionista, conforme dispõe a regulamentação da profissão, realizada pela Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991 (BRASIL, 1991). O nutricionista ainda, na condição de profissional de saúde, deve atuar na UAN de forma a aprimorar a qualidade, tanto no âmbito do controle higiênico- sanitário como no controle das preparações dietéticas, na elaboração do cardápio, para uma melhor adequação nutricional das refeições servidas (TEIXEIRA et al., 2006). UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 4 2 UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Vamos conhecer mais as Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN)? Uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) é considerada um local que desempenha atividades relativas à produção de refeições, cujo objetivo é o fornecimento de uma refeição equilibrada nutricionalmente, apresentando bom nível de sanidade, e que seja adequada ao comensal, denominação dada tradicionalmente ao consumidor em alimentação coletiva (PROENÇA, 1997). Segundo a mesma autora: Esta adequação deve ocorrer tanto no sentido da manutenção e/ ou recuperação da saúde do comensal, como visando a auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, a educação alimentar e nutricional. Além desses aspectos ligados à refeição, uma Unidade de Alimentação e Nutrição objetiva, ainda, satisfazer o comensal no que diz respeito ao serviço oferecido. Este item engloba desde o ambiente físico, incluindo tipo, conveniência e condições de higiene de instalações e equipamentos disponíveis, até o contato pessoal entre operadores da UAN e comensais, nos mais diversos momentos (PROENÇA 1997, p. 2). Segundo Teixeira e colaboradores(1990), a UAN pode ser considerada um subsistema desempenhando atividades fins ou meios. No primeiro caso, como atividades fins, podem ser citados os serviços ligados a hospitais e centros de saúde, que colaboram diretamente com a consecução do objetivo final da instituição, uma vez que correspondem a um conjunto de bens e serviços destinados a prevenir, melhorar e/ou recuperar a população a que atendem. No segundo caso, ou seja, como órgãos meios, podem ser citados os serviços ligados a indústrias, instituições escolares e quaisquer outras que reúnem pessoas por um período que justifique o fornecimento de refeições. Nesses, desenvolvem-se atividades que procuram reduzir índices de acidentes, taxas de absenteísmo, melhorar a aprendizagem, prevenir e manter a saúde daqueles a que atendem. Colaboram, assim, para que sejam realizadas, da melhor maneira possível, as atividades fins da entidade. A UAN, ou também chamada Unidade Produtora de Refeições (UPR), pode ser segmentada em alimentação coletiva e alimentação comercial. O nutricionista é o profissional habilitado para atuar no âmbito da gestão de produção de refeições em UAN. Ainda neste tópico iremos estudar quais são as atividades inerentes a este profissional em cada área de atuação. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 5 A diferença entre as duas categorias, coletiva ou comercial, refere-se ao grau de autonomia do indivíduo em relação à unidade. Quer dizer, o quanto o comensal, cliente, paciente, usuário (denominações variadas que designam o ser humano que vai se alimentar nessas unidades) pode escolher entre alimentar-se ali ou não. Na alimentação coletiva, o ser humano apresenta uma relação de catividade. Os níveis de catividade variam, indo desde a dependência quase total, caso dos hospitais, creches ou trabalho em locais isolados (plataformas de petróleo, por exemplo), até a dependência relativa, caso dos locais de trabalho nos centros das cidades ou dos restaurantes universitários, por exemplo (PROENÇA, 1997). Já as unidades comerciais devem conquistar os seus consumidores a cada momento, pois eles não apresentam obrigatoriedade nenhuma com relação à unidade. Essas unidades abarcam desde as distintas modalidades de restaurantes comerciais (por peso, à la carte), os serviços de hotelaria, as lanchonetes e unidades de fast-food, bem como as outras modalidades de serviço de refeições, incluindo os ambulantes em diversos níveis (PROENÇA, 1997). A UAN também é categorizada de acordo com seu tipo de administração ou modalidade de serviço: autogestão ou terceirização. Na autogestão, a própria empresa gerencia a produção de refeições, assumindo toda a responsabilidade desde contratação de pessoal até a distribuição dos alimentos aos seus funcionários. Já na terceirização, uma empresa especializada na produção de refeições fica encarregada pelo serviço de alimentação, e o fornecimento das refeições é formalizado por intermédio de contrato firmado entre a empresa beneficiária e a prestadora do serviço. Independentemente do tipo de UAN ou serviço por ela ofertada, destaca- se a importância e a necessidade do nutricionista à frente destas unidades, como gestor, administrador e agente promotor da saúde (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2007). Atualmente, o setor de alimentação coletiva é a área de atuação profissional que mais oferece oportunidade de emprego para os profissionais nutricionistas. O Conselho Federal de Nutrição (CFN) realizou uma pesquisa em 2016 com 1.104 nutricionistas empregados(as) em todo o país, e os resultados deste estudo demonstraram que a maior parte dos entrevistados (30,8%) atuavam na área. Com a criação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) pela Lei nº 6.321/1976, permitindo a dedução de imposto de renda de um percentual sobre o lucro tributável das empresas participantes do programa, as UAN das indústrias sofreram importante expansão. Você pode consultar a lei na íntegra em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/L6321.htm. DICAS UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 6 GRÁFICO 1 – PERFIL DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA NAS DIFERENTES ÁREAS FONTE: <http://pesquisa.cfn.org.br/>. Acesso em: 25 fev. 2021. 2.1 FUNÇÕES DO NUTRICIONISTA QUE TRABALHA EM UAN Acadêmico, você sabe quais são as funções do nutricionista que trabalha em UAN? A Resolução CFN nº 600, publicada em 25 de fevereiro de 2018, determina como atribuições do profissional nutricionista que atua na área de nutrição em alimentação coletiva as seguintes competências: “planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição; realizar assistência e educação alimentar e nutricional à coletividade ou a indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas”. Para melhor detalhar a atuação do nutricionista, esta resolução subdivide a área de Nutrição em Alimentação Coletiva em quatro segmentos: • Segmento – Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) institucional (pública e privada): o Subsegmento – Serviços de alimentação coletiva (autogestão e concessão) em: empresas e instituições, hotéis, hotelaria marítima, comissarias, unidades prisionais, hospitais, clínicas em geral, hospital-dia, Unidades de Pronto Atendimento (UPA), spas clínicos, serviços de terapia renal substitutiva, Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e similares. • Segmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar: o Subsegmento – Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). o Subsegmento – Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar – Rede Privada de Ensino. • Segmento – Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). o Subsegmento – Empresas Fornecedoras de Alimentação Coletiva: Produção de Refeições (autogestão e concessão). o Subsegmento – Empresas Prestadoras de Serviços de Alimentação Coletiva: Refeição-Convênio. TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 7 o Subsegmento – Empresas Fornecedoras de Alimentação Coletiva: Cestas de Alimentos. • Segmento – Serviço Comercial de Alimentação. o Subsegmento – Restaurantes Comerciais e similares. o Subsegmento – Bufê de Eventos. o Subsegmento – Serviço Ambulante de Alimentação. QUADRO 1 – SEGMENTO: UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (UAN) INSTITUCIONAL (PÚBLICA E PRIVADA) Subsegmento Serviços de Alimentação Coletiva (autogestão e concessão) em: • Empresas e instituições; • Hotéis hotelaria marítima e comissarias; • Unidades prisionais; • Hospitais, clínicas em geral, hospital-dia, Unidades de Pronto Atendimento (UPA); • Spa clínicos; • Serviços de terapia renal substitutiva; • Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e similares; Atividades obrigatórias: • Elaborar os cardápios de acordo com as necessidades nutricionais, com base no diagnóstico de nutrição da clientela, respeitando os hábitos alimentares regionais, culturais e étnicos. • Elaborar informação nutricional do cardápio e/ou preparações, contendo valor energético, ingredientes, nutrientes e aditivos que possam causar alergia ou intolerância alimentar. • Coordenar as atividades de recebimento e armazenamento de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, mantendo-as atualizadas. • Implantar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. Acadêmico! Os quadros a seguir detalham as atribuições do profissional nutricionista nas diferentes áreas de atuação em Nutrição em Alimentação Coletiva, segundo a Resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018. Acesse a resolução pelo link: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm. DICAS UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 8 • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas específico da UAN, mantendo-o atualizado. • Elaborar e implantar os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) específicos da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN),mantendo-os atualizados. • Promover periodicamente o aperfeiçoamento e atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins. • Promover programas de educação alimentar e nutricional para clientes/usuários. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. • Prestar atendimento, por meio de cardápio específico, aos clientes/usuários com doenças e deficiências associadas à nutrição, bem como aos portadores de necessidades especiais, visando o direito humano à alimentação adequada e saudável. • Promover a redução das sobras, restos e desperdícios. • Monitorar as atividades de seleção de fornecedores e procedência dos alimentos. Atividades complementares • Participar das atividades de gestão de custos de produção. • Participar do planejamento e da supervisão da implantação ou adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). • Realizar visitas periódicas aos fornecedores, avaliando o local e registrando os dados. • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores. • Promover a sensibilização de gestores e representantes de instituições da área quanto à responsabilidade destes pela saúde da população, bem como a importância do nutricionista neste processo. • Organizar a visitação de clientes/usuários às áreas relacionadas à produção de refeições. • Realizar e divulgar estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico-científico. • Participar do planejamento e da supervisão das atividades de compras de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Participar da elaboração dos critérios técnicos que subsidiam a celebração de contratos na área de prestação de serviços de fornecimento de refeições para coletividade. TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 9 • Participar do planejamento e supervisão de estágios para estudantes de graduação em nutrição e de curso técnico em nutrição e dietética e educação permanente para profissionais de saúde, desde que sejam preservadas as atribuições privativas do nutricionista. • Realizar teste de aceitabilidade de preparações/refeições. • Realizar análise sensorial das preparações por meio de testes de degustação prévios ao consumo. • Promover ações de incentivo ao desenvolvimento sustentável. FONTE: Adaptado de CFN (2018) QUADRO 2 – SEGMENTO: ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR Subsegmento • Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE): Atividades obrigatórias: • Para realizar as atribuições de Nutrição do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no âmbito da alimentação coletiva, o nutricionista deverá realizar as atividades descritas na Resolução CFN específica vigente. Subsegmento • Alimentação e Nutrição no Ambiente Escolar – Rede Privada de Ensino: Atividades obrigatórias: • Realizar a avaliação, diagnóstico e monitoramento nutricional do escolar, com base nas recomendações e necessidades nutricionais específicas. • Identificar escolares ou estudantes com doenças e deficiências associadas à nutrição, para atendimento por meio de cardápio específico e encaminhamento para assistência nutricional adequada. • Elaborar os cardápios de acordo com as necessidades nutricionais, com base no diagnóstico de nutrição da clientela, adequando-os à faixa etária e respeitando os hábitos alimentares regionais, culturais e étnicos. • Planejar e supervisionar as atividades de seleção de fornecedores e procedência dos alimentos. • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas, mantendo-o atualizado. • Implantar e supervisionar Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e métodos de controle de qualidade de alimentos, em conformidade com a legislação vigente. • Desenvolver projetos de educação alimentar e nutricional para a comunidade escolar, inclusive promovendo a consciência social, ecológica e ambiental. • Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, mantendo-as atualizadas. UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 10 • Implantar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. • Realizar teste de aceitabilidade de preparações/refeições. • Elaborar informação nutricional do cardápio e/ou preparações, contendo valor energético, ingredientes, nutrientes e aditivos que possam causar alergia ou intolerância alimentar. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. Atividades complementares • Participar do planejamento e da supervisão das atividades de compras, recebimento e armazenamento de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Participar do planejamento e da supervisão da implantação ou adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). • Participar de equipes multidisciplinares destinadas à realização de atividades voltadas para a promoção da saúde. • Realizar e divulgar estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico- científico. • Participar do planejamento e supervisão de estágio para estudantes de graduação em nutrição e de curso técnico em nutrição e dietética. • Realizar testes de degustação das preparações prévios ao consumo. • Promover ações de incentivo ao desenvolvimento sustentável. • Realizar visitas periódicas aos fornecedores, avaliando o local e registrando os dados. FONTE: Adaptado de CFN (2018) QUADRO 3 – PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR (PAT) Subsegmento • Empresas Fornecedoras de Alimentação Coletiva: Produção de Refeições (Autogestão e Concessão): Atividades obrigatórias: • Idem quadro 1. Atividades complementares • Idem quadro 1. TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 11 Subsegmento • Empresas Prestadoras de Serviço de Alimentação Coletiva: Refeição-Convênio: Atividades obrigatórias: • Coordenar as equipes de informação ao usuário final. • Integrar equipes de controle de qualidade em estabelecimentos comerciais credenciados. • Integrar a equipe responsável pelo cadastro de empresas contratantes. Atividades complementares • Realizar ações junto aos gestores e representantes de instituições da área, referentes à responsabilidade destes pela saúde da população, bem como a importância do nutricionista neste processo. • Realizar e divulgar estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico e científico. • Participar do planejamento e supervisão de estágios para estudantes de graduação em nutrição, desde que sejam preservadas as atribuições privativas do nutricionista. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. • Realizar visitas técnicas, recomendando, quando necessário, o descredenciamento dos estabelecimentos que estiverem em condições higiênico-sanitárias inadequadas ou que descumpram as recomendações nutricionais do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Subsegmento • Empresas Fornecedoras de Alimentação Coletiva – Cestas de Alimentos: Atividades obrigatórias: • Atender a legislação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) nos itens relativos à educação nutricional e aos referenciais de valores nutricionais.• Coordenar a equipe na composição da cesta de alimentos, adequando-a às necessidades nutricionais da clientela. • Planejar e supervisionar as atividades de recebimento e armazenamento dos gêneros alimentícios. • Implantar e supervisionar Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e métodos de controle de qualidade de alimentos, em conformidade com a legislação vigente. • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas, mantendo-o atualizado. • Realizar atividades de informação aos clientes/usuários quanto ao valor nutritivo dos componentes da cesta de alimentos. • Promover ações de educação alimentar e nutricional para os clientes/usuários. UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 12 • Coordenar, supervisionar ou executar programas de treinamento, atualização e aperfeiçoamento de colaboradores. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. Atividades complementares • Participar das atividades de seleção de fornecedores, quanto à procedência dos alimentos, para avaliar sua qualidade. • Realizar análise sensorial dos produtos alimentícios que compõem a cesta. • Realizar ações junto aos gestores e representantes de instituições da área, referentes à responsabilidade destes pela saúde da população, bem como a importância do nutricionista neste processo. • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores. • Realizar e divulgar pesquisas e estudos relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico-científico. • Participar do planejamento e supervisão de estágios para estudantes de graduação em nutrição, desde que sejam preservadas as atribuições privativas do nutricionista. FONTE: Adaptado de CFN (2018) QUADRO 4 – SERVIÇO COMERCIAL DE ALIMENTAÇÃO Subsegmento • Restaurantes Comerciais e similares: Atividades obrigatórias: • Propor adequação nos cardápios visando à promoção da alimentação saudável, considerando os aspectos econômicos e sazonais. • Elaborar informação nutricional do cardápio e/ou preparações, contendo valor energético, ingredientes, nutrientes e aditivos que possam causar alergia ou intolerância alimentar. • Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, mantendo-as atualizadas. • Implantar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas específico da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), mantendo-o atualizado. TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 13 • Elaborar e implantar os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) específicos da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), mantendo-os atualizados. • Promover periodicamente o aperfeiçoamento e atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins. • Planejar e executar ações educativas de alimentação e nutrição para os clientes/usuários. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. Atividades complementares • Participar das atividades de seleção de fornecedores e procedência dos alimentos. • Realizar visitas periódicas aos fornecedores, avaliando o local e registrando os dados. • Realizar testes de degustação das preparações prévios ao consumo. • Participar do planejamento e da supervisão das atividades de compras de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Participar do planejamento e da supervisão da implantação ou adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). • Participar das atividades de gestão de custos de produção. • Planejar e orientar as atividades de recebimento e armazenamento de alimentos e material de higiene, descartáveis e outros. • Promover a redução das sobras, restos e desperdícios. • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores. • Promover ações de sensibilização dos gestores e representantes de instituições da área quanto à responsabilidade destes pela saúde da população, bem como a importância do nutricionista neste processo. • Organizar a visitação de clientes/usuários às áreas relacionadas à produção de refeições. • Realizar e divulgar estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico-científico. • Participar do planejamento e supervisão de estágios para estudantes de graduação em nutrição e de curso técnico em nutrição e dietética. • Promover ações de incentivo ao desenvolvimento sustentável. UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 14 Subsegmento • Bufê de Eventos: Atividades obrigatórias: • Propor cardápios visando à promoção da alimentação saudável. • Implantar e monitorar procedimentos de controle de qualidade, especialmente no que se refere ao “tempo x temperatura”. • Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, mantendo-as atualizadas. • Implantar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, armazenamento, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas específico, mantendo-o atualizado. • Elaborar e implantar os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) específicos, mantendo-os atualizados. • Elaborar informação nutricional do cardápio e/ou preparações, contendo valor energético, ingredientes, nutrientes e aditivos que possam causar alergia ou intolerância alimentar. • Promover periodicamente o aperfeiçoamento e atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. Atividades complementares • Realizar visitas periódicas aos fornecedores, avaliando o local e registrando os dados. • Promover ações para minimizar desperdícios dos gêneros alimentícios e preparações, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. • Participar do planejamento e da supervisão das atividades de compras de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Planejar e supervisionar as atividades de recebimento e armazenamento de alimentos e material de higiene, descartáveis e outros. • Participar do planejamento e da supervisão da implantação ou adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios. • Participar das atividades de gestão de custos de produção. • Realizar análise sensorial das preparações por meio de testes de degustação prévios ao consumo. • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores. • Realizar e divulgar estudos e pesquisas relacionados à sua área de atuação, promovendo o intercâmbio técnico-científico. TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 15 • Participar do planejamento e supervisão de estágios para estudantes de graduação em nutrição e de curso técnico em nutrição e dietética. Subsegmento • Serviço Ambulante de Alimentação: Atividades obrigatórias: • Planejar e supervisionar as atividades de seleção de fornecedores e procedência dos alimentos. • Realizar visitas periódicas aos fornecedores, avaliando o local e registrando os dados. • Implantar e supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. • Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas específico, mantendo-o atualizado. • Elaborar e implantar os Procedimentos OperacionaisPadronizados (POP) específicos, mantendo-os atualizados. • Promover periodicamente o aperfeiçoamento e atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins. • Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. • Propor a adequação das preparações visando à promoção da alimentação saudável. • Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, mantendo-as atualizadas. • Participar do planejamento e da supervisão das atividades de compras de alimentos, material de higiene, descartáveis e outros. • Participar do planejamento e do projeto sanitário ou adequação de instalações físicas, equipamentos e utensílios. • Planejar e orientar as atividades de recebimento e armazenamento de alimentos e material de higiene, descartáveis e outros. • Promover ações para minimizar desperdícios dos gêneros alimentícios e preparações, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. • Participar da definição do perfil, dimensionamento, recrutamento, seleção e avaliação de desempenho dos colaboradores. • Promover ações de sensibilização de gestores e representantes de instituições da área quanto à responsabilidade destes pela saúde da população, bem como a importância do nutricionista neste processo. • Realizar estudo para determinação dos prazos de validade dos produtos. UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 16 • Elaborar rotulagem nutricional das preparações. • Orientar proprietários quanto à regularização da atividade nos órgãos competentes. FONTE: Adaptado de CFN (2018) 3 RESPONSABILIDADE TÉCNICA Agora, você conhece as atividades obrigatórias e complementares do profissional nutricionista que atua em UAN. Iremos estudar profundamente algumas destas atribuições nos próximos tópicos e unidades do presente livro didático! Mas como garantir a autonomia do nutricionista para realização de todas atividades em UAN? Você já ouviu falar de Responsabilidade Técnica ou RT? A Responsabilidade Técnica (RT), exercida pelo Nutricionista, é a atribuição concedida pelo CRN ao profissional habilitado, sendo um compromisso profissional e legal na execução de suas atividades, compatível com a formação e os princípios éticos da profissão, visando à qualidade dos serviços prestados à sociedade. Segundo a Resolução CFN nº 600/2018, o Nutricionista RT deverá cumprir e fazer cumprir todos os dispositivos legais do exercício profissional do nutricionista, assumindo o planejamento, coordenação, direção técnica, avaliação e supervisão na execução das atividades de sua equipe na área de alimentação e nutrição. Assim, o RT responde integralmente – tanto na esfera civil quanto ética – pelas atividades de alimentação e nutrição desenvolvidas na UAN. Para assumir a RT, o Nutricionista precisa fazer uma solicitação ao CRN, mediante o preenchimento de formulário próprio. O CRN obedecerá a critérios específicos para conceder a Responsabilidade Técnica, tais critérios estão disponíveis na Resolução CFN nº 576/2016. Prezado acadêmico! Para conhecer como funciona o procedimento de solicitação de Responsabilidade Técnica, leia a Resolução CFN nº 576/2016. O acesso é pelo site: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_576_2016.html. DICAS TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 17 UNIDADE PRODUTORA DE REFEIÇÕES (UPR) E UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (UAN) – DEFINIÇÕES, DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS Welliton Donizeti Popolim Há diversas definições para os termos Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) e Unidade Produtora de Refeições (UPR) e outros abordados aqui, utilizados, em alguns casos, de forma errônea ou inconsistente em relação aos propósitos do tipo de serviço prestado pelo estabelecimento. A seguir são apresentadas algumas definições, que não são as únicas e, provavelmente, não refletem, na sua totalidade, a complexidade que envolve o tema e tampouco pretendem esgotar a sua discussão. A segmentação inicial, no mercado de alimentação, refere-se às refeições feitas em casa ou fora de casa. Na Europa o termo utilizado na língua inglesa é catering, derivado do verbo to cater, que significa fornecer todos os alimentos necessários. Define-se o termo como sendo a preparação e distribuição de comida e bebida a grupos de pessoas que estão reunidos em um local. Nos Estados Unidos da América (EUA), a designação para a provisão de alimentação, incluindo produção e serviço, é food service. Nos países de idioma francês, o termo genérico utilizado é restauration. Ocorre, porém, a especificação mais precisa em restauration commerciale e restauration collective. O primeiro termo engloba os estabelecimentos que atendem indivíduos ou grupos, clientela ocasional ou regular, abertos a qualquer tipo de público. O segundo termo refere-se ao atendimento de uma clientela definida, comunidade de direito ou de fato, com o restaurante geralmente localizado no seio da mesma. Situa-se no setor do trabalho (empresas), do ensino (escolas públicas e privadas nos diversos níveis), da saúde e do social (hospitais públicos e privados, asilos, orfanatos) e outros (prisões, comunidades religiosas, forças armadas). No Brasil, a designação acompanha a do idioma francês com os termos alimentação comercial e alimentação coletiva. Os estabelecimentos que trabalham com produção e distribuição de alimentação para coletividades recebiam a denominação de Serviço de Alimentação e Nutrição (SAN), se ligados às coletividades sadias e Serviço de Nutrição e Dietética (SND), se ligados a coletividades enfermas. Ambos se fundiram em uma denominação comum, ou seja, Unidade de Alimentação e Refeição (UAN) (Proença, 1999). Segundo Gandra & Gambardella (1983), os Serviços de Nutrição e Alimentação devem ter como objetivo geral contribuir para manter, melhorar ou recuperar a saúde da clientela a que atendem, por meio de alimentação equilibrada. Entre os objetivos específicos, que podem variar conforme as peculiaridades desses serviços destacam-se: UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 18 • Elaborar e fornecer dieta que seja balanceada (aqui definida como aquela que é suficiente, completa, harmônica e adequada às características e hábitos alimentares dos usuários), segura em relação à higiene e que se ajuste aos limites financeiros das instituições; • Elaborar e fornecer dietas modificadas; • Desenvolver atividades relacionadas com a educação, pesquisa, assessoria e consultoria na área de nutrição. Tal abordagem é a mais adequada ao termo cunhado atualmente como UAN, pois abrange tanto o conceito de segurança alimentar (food security: alimento garantido, certeza de alimentação) quanto o de segurança dos alimentos (food safety: alimento fora de perigo, seguro). De acordo com Proença (1999), e que vai de encontro ao estabelecido por Gandra & Gambardella (1983), o objetivo de uma UAN é o fornecimento de uma refeição equilibrada nutricionalmente, apresentando bom nível de sanidade, e que seja adequada ao comensal, denominação dada tradicionalmente ao consumidor em alimentação coletiva. Esta adequação deve ocorrer tanto no sentido da manutenção e/ou recuperação da saúde do comensal, como visando a auxiliar no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, a educação alimentar e nutricional. Além desses aspectos ligados à refeição, uma UAN objetiva, ainda, satisfazer o comensal no que diz respeito ao serviço oferecido. Este item engloba desde o ambiente físico, incluindo tipo, conveniência e condições de higiene de instalações e equipamentos disponíveis, até o contato pessoal entre operadores da UAN e comensais, nos mais diversos momentos. A UAN é, ainda, considerada como a unidade de trabalho ou órgão de uma empresa, que desempenha atividades relacionadas à alimentação e à nutrição, independentemente da situação queocupa na escala hierárquica da entidade. A UAN pode também ser considerada um subsistema desempenhando atividades fins ou meios. No primeiro caso, como atividades fins, podem ser citados os serviços ligados a hospitais e a centros de saúde, que colaboram diretamente com a consecução do objetivo final da instituição, pois correspondem a um conjunto de bens e serviços destinados a prevenir, melhorar e/ou recuperar a população a que atendem. No segundo caso, ou seja, como órgãos meios, podem ser citados os serviços ligados a indústrias, instituições escolares e quaisquer outras que reúnem pessoas por um período de tempo que justifique o fornecimento de refeições. Nesses, desenvolvem-se atividades que procuram reduzir índices de acidentes, taxas de absenteísmo, melhorar a aprendizagem, prevenir e manter a saúde daqueles que atendem. Colaboram, assim, para que sejam realizadas, da melhor maneira possível, as atividades fins da entidade (TEIXEIRA et al. 1990). TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 19 Considerando o hospital como um subsistema, o SA é um de seus subsistemas mais importantes, que mantém um relacionamento necessário com outros subsistemas, também decisivos na consecução do objetivo final da instituição: a produção de um elevado atendimento à sua clientela. É o serviço de apoio destinado ao funcionamento de refeições aos pacientes e funcionários. É o serviço hospitalar que presta assistência aos pacientes, funcionários e acompanhantes, por meio da distribuição de refeições e educação alimentar (MEZOMO, 1994). Para Abreu, Spinelli e Zanardi (2003), o mercado da alimentação é dividido em alimentação comercial e alimentação coletiva, sendo que os estabelecimentos que trabalham com produção e distribuição de alimentos para coletividades, atualmente recebem o nome de UAN, que é um conjunto de áreas com o objetivo de operacionalizar o provimento nutricional de coletividades. Consiste em um serviço organizado, compreendendo sequência e sucessão de atos destinados a fornecer refeições balanceadas dentro dos padrões dietéticos e higiênicos, visando assim, atender as necessidades nutricionais de seus clientes, de modo que se ajuste aos limites financeiros da instituição. As UAN podem ser estabelecidas em complexos industriais, empresas ou escolas sob diversas formas de gerenciamento: • Auto-gestão: a própria empresa possui e gerencia a UAN, produzindo refeições que serve a seus funcionários; • Concessão: a empresa cede seu espaço de produção e distribuição para um particular ou para uma empresa especializada em administração de restaurantes, livrando-se dos encargos da gestão da UAN; • Refeição transportada: a UAN está estabelecida em uma empresa especializada na produção de refeições, transportando e distribuindo para um local conveniado que não dispõe de cozinha, somente de refeitório. A administração da UAN deve ser delegada ao nutricionista, que é o profissional melhor preparado para essa função (ABREU; SPINELLI; ZANARDI, 2003). De forma complementar, duas outras definições presentes em legislações brasileiras são apresentadas a seguir. Na primeira, o Conselho Federal de Nutricionistas (Resolução CFN 380/05) define UAN como uma unidade gerencial do serviço de nutrição e dietética na qual são desenvolvidas todas as atividades técnico-administrativas necessárias para a produção de alimentos e refeições, até a sua distribuição para coletividades sadias e enfermas, além da atenção nutricional a pacientes na internação e em ambulatórios. Na segunda, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da resolução RDC nº 216, que aprova o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, cujo âmbito de aplicação são os serviços de alimentação que realizam algumas das seguintes atividades: manipulação, preparação, fracionamento, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à venda e entrega de alimentos preparados ao consumo, tais como cantinas, bufês, comissárias, confeitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, delicatessens, UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 20 lanchonetes, padarias, pastelarias, restaurantes, rotisserias e congêneres, define SA como o estabelecimento em que o alimento é manipulado, preparado, armazenado e ou exposto à venda, podendo ou não ser consumido no local. Para contrapor as definições anteriores e a palavra restaurante, Zanella & Cândido (2002) afirmam que este último não representa apenas um local em que se come, podendo representar muito mais. Restaurante pode inspirar ambiente, sabor, energia, informalidade, poder, envolvimento e, principalmente, prazer. Para muitos gourmets, o restaurante representa um verdadeiro templo em que poderá misturar gula, entretenimento, amor de viver e no qual o envolvimento ao abrigo das emoções opera trocas materiais, representadas por negócios e situações afetivas, representadas por encontros amorosos. Porém, esse templo, esse lugar mágico não poderá ser composto somente de aparências, de beleza externa que inspira aos poetas a rima e aos comensais, a gula. Existe a composição inteira de um ambiente que além do salão deve ter uma cozinha que representa um atelier para a sofisticada elaboração do que se come não somente com a boca, mas também com os olhos. É difícil localizar as origens mais remotas dos restaurantes e bares. Locais para a venda de alimentos possuem história secular. As trocas simples de produto entre os povos contabilizam mais de 10 mil anos. Os primeiros estabelecimentos que poderiam ser chamados de restaurantes surgiram antes da Revolução Francesa de 1789, na época de Luiz XIV e Luiz XV. Um dos primeiros estabelecimentos é considerado como o de um comerciante que oferecia sopas restauradoras, o que teria originado a palavra restaurante. Os bares surgiram de alterações sofridas pelos restaurantes e os mais típicos desenvolveram-se nos EUA tanto que, após a segunda guerra mundial, tiveram grande impulso, adotando, definitivamente, o american way of life (MARICATO, 2001). O termo UPR vem sendo utilizado mais recentemente para designar todos os estabelecimentos integrantes do segmento da alimentação fora do lar (catering, food service, restauration), sejam eles comerciais (restaurantes, bares e similares) ou coletivos (UAN). Basicamente, o que diferencia as UPR comerciais das coletivas é o grau de fidelidade do cliente ao serviço associado ao escopo do serviço que, no caso da UPR coletiva, deve aproximar-se, ou igualar-se, aos objetivos da UAN como preconizado por Gandra e Gambardella (1983). A indissociabilidade entre os conceitos anteriormente apresentados e três aspectos bastante importantes para a área de alimentação e nutrição, ou seja, as mudanças nos hábitos alimentares pós-Revolução Industrial e, especialmente, a partir da segunda metade do século XX, a evolução da profissão de nutrição no Brasil e as transformações no mercado de atuação dos profissionais de alimentação, não pode deixar de ser abordada pois contextualiza a utilização deste novo termo. É evidente a configuração de um padrão de alimentação em que a refeição fora do domicílio (fornecida pelas UPR) e a utilização de alimentos preparados possuem grande ou crescente importância. Segundo Franco (2001), no terreno específico dos hábitos alimentares e dos estabelecimentos de fast food (UPR comercial), pode-se identificar os seguintes traços de mudança: TÓPICO 1 — O SETOR DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA 21 • desritualização da refeição; • simplificação e homogeneização dos processos culinários e dos alimentos servidos; • referência enfática ao tamanho e quantidade dos produtos vendidos, quase nunca à qualidade; • atendimento da clientela com o mínimo de comunicação verbal, com fórmulas despersonalizadas e estereotipadas; • emprego de mão de obra jovem, cujo treinamento se resume em aprender gestos simplificados, repetitivos e automáticos; • alta rotatividade da mão de obra, emdecorrência do trabalho tão totalmente racionalizado; • desumanização das relações entre os membros do staff e destes com a clientela; • esvaziamento da refeição de seus elementos de ritual de comunicação e intercâmbio humano, transformando-se esta em mera operação de reabastecimento; • generalização paulatina de refeições domésticas calcadas no modelo fast food, até mesmo em ocasiões festivas – substituição dos tradicionais utensílios de mesa por equivalentes descartáveis ou simplesmente pela criação de maneira que os dispensem; • preferência pela previsibilidade de uma refeição ao invés da surpresa que ela possa oferecer. A nutrição se solidificou com o processo desenvolvimentista instalado no País, firmando-se nos grandes centros, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, encontrando nichos de atuação conforme a necessidade se impunha, como educação alimentar das famílias dos trabalhadores, alimentação nos hospitais e administração dos restaurantes populares do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS). Nas décadas de 1940-60 a nutrição consolidou-se em quatro grandes áreas, a nutrição clínica, alimentação coletiva, nutrição social e docência. A nutrição clínica ou dietoterapia é voltada para ações curativas, no nível individual, utilizando o alimento como terapêutica. Em geral, é uma prática identificada com a instituição hospitalar e com o atendimento a pacientes em ambulatórios, clínicas especializadas, consultórios particulares e spas. A alimentação coletiva, alimentação institucional, administração de serviços de alimentação ou produção são campos do conhecimento da nutrição em que se procura racionalizar a alimentação de coletividades sadias e enfermas, cujo local de trabalho é restaurante ou cozinha industrial de empresas públicas e privadas. A nutrição social, nutrição comunitária, nutrição aplicada ou nutrição em saúde pública é a área dirigida para ações de caráter coletivo e preventivo, pretendendo contribuir para que toda a sociedade tenha acesso aos alimentos de forma igualitária. Normalmente acontece no âmbito dos órgãos públicos (RODRIGUES, 2004). UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 22 A partir destas quatro grandes áreas, podem ser citados novos ramos de negócios (UPR) nos quais o nutricionista e outros profissionais afins podem atuar: produção de congelados e congelados de baixas calorias, cesta básica, alimentação escolar (tanto no setor público quanto privado), empresas de refeição convênio, refeições transportadas, empresas de logística, catering, franquias, lanchonetes, delivery, lojas de conveniência, praças de alimentação, restaurantes por peso, pizzarias, rotisserias, doceiras, padarias, comércio ambulante, restaurantes diferenciados, restaurantes inusitados, restaurantes exóticos, eventos gastronômicos, spas, personais, personal chef, festas infantis, gastronomia, hotelaria, entre outros (POPOLIM, 2006). Esta diversidade de ramos de negócios surge pois o mercado de alimentação no Brasil cresce constantemente, fruto de alguns movimentos mundiais, tais como: a) redução do tempo disponível das pessoas; b) maior oferta/ variedade de produtos e serviços; c) ganhos de produtividade sendo repassados aos consumidores; d) maior foco no consumidor, o que permite produtos mais adequados às necessidades individuais; d) marcas globais que indicam tendências e criam necessidades, dentre outros fatores (VAZ, 2003). Independente do segmento de atuação, do tipo de serviço ou estabelecimento, da clientela, todos os integrantes da cadeia produtiva de alimentos, inclusive as UPR, possuem como obrigação garantir que os produtos possam ter qualidade microbiológica, nutricional e sensorial mínimas, independentemente da existência de um determinado Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ), legalmente estabelecido para o produto considerado (POPOLIM, 2005). Tanto que o foco atual da formação profissional do nutricionista é investir naquelas práticas que mostram caminhos diferenciados ou conhecimentos técnicos exclusivos como, por exemplo, aqueles pertencentes à Alimentação Institucional. Não a simples administração de serviços (o que um administrador poderia realizar melhor do que um nutricionista), nem o preparo das refeições (tarefa de um bom cozinheiro), mas a autonomia técnica: trazer o campo de atenção à saúde para dentro de um ambiente industrial, com todas as avaliações e critérios microbiológicos e nutricionais adequados (RODRIGUES, 2004). FONTE: <http://www.gastronomiabh.com.br/arquivos/AV1-Unidade%20Produtora%20de%20 Refeicoes.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2021. 23 Neste tópico, você aprendeu que: • A Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) é considerada um local que desempenha atividades relativas à produção de refeições. • O objetivo principal de uma UAN é oferecer alimentação adequada às necessidades nutricionais dos comensais. • É indispensável garantir a qualidade e a segurança do alimento do ponto de vista higiênico sanitário. • As UAN podem ser classificada de acordo com o tipo de administração ou modalidade de serviço: autogestão ou terceirização. • As atribuições do profissional nutricionista em UAN são estabelecidas por meio de Resoluções do Conselho Federal de Nutrição (CFN). • São exemplos de atividades obrigatórias: planejar cardápios de acordo com as necessidades da clientela; calcular o valor nutritivo das refeições; elaborar/ coordenar receituário padrão e fichas técnicas; planejar/executar periodicamente programas de treinamento aos colaboradores; supervisionar as atividades de seleção, compra e armazenamento de alimentos; supervisionar as atividades de pré-preparo, preparo e distribuição de refeições, entre outras. • A Responsabilidade Técnica (RT) é a atribuição concedida pelo CRN ao profissional habilitado, sendo um compromisso profissional e legal na execução de suas atividades. RESUMO DO TÓPICO 1 24 1 A Resolução CFN n° 600, de 25 de fevereiro de 2018, determina as atribuições obrigatórias e complementares do profissional nutricionista que atua na área de nutrição em alimentação coletiva. Dentre as atividades previstas, assinale a alternativa incorreta: a) ( ) Elaborar e implantar fichas técnicas das preparações, Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Manual de Boas Práticas específico da UAN, mantendo-os atualizados. b) ( ) Realizar as atividades de pré-preparo, preparo, distribuição e transporte de refeições e/ou preparações. c) ( ) Elaborar relatórios técnicos de não conformidades e respectivas ações corretivas, impeditivas da boa prática profissional e que coloquem em risco a saúde humana, encaminhando-os ao superior hierárquico e às autoridades competentes, quando couber. d) ( ) Prestar atendimento, por meio de cardápio específico, aos clientes/ usuários com doenças e deficiências associadas à nutrição, bem como aos portadores de necessidades especiais, visando ao direito humano à alimentação adequada e saudável. e) ( ) Promover periodicamente o aperfeiçoamento e atualização de funcionários por meio de cursos, palestras e ações afins. 2 As UAN possuem dois tipos distintos de gestão: autogestão ou terceirização. Diferencie estes dois tipos de administração, apresentando as principais diferenças entre elas. 3 O Nutricionista Responsável Técnico (RT) é o Profissional habilitado que assume o planejamento, coordenação, direção, supervisão e avaliação na área de alimentação e nutrição. Considerando esta afirmação, explique quais atribuições são realizadas por este profissional em UAN. 4 Você sabe como funciona a solicitação de Responsabilidade Técnica do Nutricionista? Acesse o site do CRN do seu estado, e conheça como funciona este processo. AUTOATIVIDADE 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Você já aprofundou seus conhecimentos do setor de alimentação coletiva, certo? Agora vamos estudar um dos instrumentos de trabalho mais importantes em uma UAN, o cardápio!O cardápio não é somente uma lista de preparações que compõe as refeições do dia, mas uma ferramenta importante elaborada pelo profissional nutricionista que inicia o processo produtivo na UAN. A nutricionista não acorda e pensa: “Hum, hoje seria legal colocar bife acebolado com batata frita no cardápio”, o planejamento do cardápio precisa considerar os princípios da alimentação saudável, segundo aspectos nutricionais, sensoriais, dietéticos, higiênicos, econômicos e operacionais. Vamos estudar a elaboração de cardápios? Para iniciar, é importante compreender a importância desta ferramenta! O cardápio é um instrumento que reúne preparações culinárias que compõem as refeições, considerando aspectos nutritivos e sensoriais, tendo por finalidade auxiliar os clientes na escolha dos alimentos ou bebidas (ALMEIDA, 2007). Tal instrumento serve como base para o processo de trabalho em uma UAN, guiando seu fluxo produtivo e podendo interferir nas condições de trabalho dos seus funcionários (NOVELLETTO; PROENÇA, 2004). O planejamento, a elaboração e a avaliação dos cardápios são atribuições obrigatórias ao nutricionista, conforme dispõe a Resolução do CFN N°600/2018. Segundo Teixeira et al. (1997), no momento da sua elaboração, devem ser considerados alguns aspectos fundamentais: necessidades nutricionais; hábitos alimentares da clientela; disponibilidade de gêneros alimentícios; recursos humanos; disponibilidade das áreas e equipamentos da UAN; estimativa do número de refeições e estimativa de custo. Os cardápios ainda devem ser: variados, suprir necessidades nutricionais dos comensais, levar em consideração hábitos e preferências alimentares da clientela, considerar a sazonalidade dos alimentos, disponibilidade no que tange a equipamentos, número e capacitação de funcionários, tipo e quantidade de refeições, e tipo de preparações. 26 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN Deve-se sempre optar pela melhor forma de produção e ter cuidado com as qualidades sensoriais e higiênico-sanitárias, além de promover uma reeducação alimentar (VEIROS; PROENÇA, 2003). É importante usar a criatividade na elaboração dos cardápios, para oferecer alimentos saudáveis de maneira atrativa e prazerosa, garantindo a variedade nos alimentos, nas combinações, nas preparações, nos temperos, nas formas, cortes, técnicas de preparação e apresentação e/ou decoração, privilegiando as preparações saudáveis (PROENÇA et al., 2005). De acordo com os princípios de uma alimentação saudável, todos os grupos de alimentos devem compor a dieta diária. A alimentação saudável deve fornecer água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, fibras e minerais, os quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom funcionamento do organismo. A diversidade dietética que fundamenta o conceito de alimentação saudável pressupõe que nenhum alimento específico – ou grupo deles isoladamente –, é suficiente para fornecer todos os nutrientes necessários a uma boa nutrição e consequente manutenção da saúde (BRASIL, 2014). Considerando ainda as recomendações nutricionais, determinados ingredientes devem ter uso reduzido na preparação e/ou confecção de alimentos como: açúcares simples, sal e gorduras. Cuidados com a quantidade de óleo, frequência do número de doces, frituras e alimentos gordurosos e pouco nutritivos ou saudáveis devem nortear o trabalho do nutricionista e demais responsáveis pela qualidade da alimentação oferecida em UAN (KISNER, 2003). 2 GUIA ALIMENTAR E LEIS DA NUTRIÇÃO Antes de começar seus estudos da elaboração de cardápios, é importante relembrar algumas recomendações que norteiam o planejamento destes. O primeiro documento importante para atuação do profissional nutricionista na UAN é o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014). O guia é elaborado pelo Ministério da Saúde com o intuito de promover a saúde da população, por meio de uma alimentação saudável, cujas recomendações incluem: • Utilizar alimentos in natura ou minimamente processados como a base da alimentação. • Limitar o uso de alimentos processados a pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados. • Evitar sempre que possível o uso de alimentos ultra processados. • Alimentos ricos em amido, de preferência integrais ou minimamente processados, devem garantir de 45 a 55% da energia total, até um máximo de 60%. • Variedade de legumes, verduras e frutas existentes durante todo o ano deve garantir 10% do total de energia diária. TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 27 • Variedade de feijões e outros vegetais ricos em proteína, deve garantir cerca de 5% do total da energia diária. • Estimular o consumo de arroz e feijão, combinação de alimentos tipicamente brasileira e com excelente valor nutricional. • Alimentos de origem animal devem alcançar cerca de 25% do total de energia, provenientes da carne, frango, ovos, leite e derivados, de preferência magros e todos os tipos de peixe. • Gorduras e óleos, de todas as fontes, devem garantir não mais de 20-25% da energia total da dieta no dia. O total de gordura saturada não deve ultrapassar 7,5% do total da energia diária. • O consumo de açúcares simples não deve ultrapassar 10% da energia total diária. • Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. • Promover o consumo de alimentos e bebidas que foram processados de maneira a conservarem seus nutrientes. • Desencorajar o consumo de alimentos que tiveram a adição de gorduras e óleos hidrogenados. Além disso, não podemos nos esquecer das clássicas leis de Pedro Escudero, médico argentino, quem criou as leis da alimentação, que direcionam o cuidado em nutrição e o planejamento de cardápios. Estas são assim enunciadas: Lei da Quantidade; Lei da Qualidade, Lei da Harmonia e Lei da Adequação (PAPPIANI, 2019). • Lei da qualidade: uma alimentação completa inclui todos os nutrientes para formação e manutenção do organismo. As refeições devem ser variadas, contemplando todos os grupos de nutrientes para o bom funcionamento do corpo. A variedade permite a oferta de diferentes cores, sabores e aromas. • Lei da quantidade: a quantidade de alimentos deve ser suficiente para atender ao organismo em todas as suas necessidades para o bom funcionamento e manutenção da saúde. Dessa forma, os excessos e restrições são situações prejudiciais ao organismo, pois ambos são considerados um desequilíbrio. • Lei da adequação: a alimentação deve se adequar às necessidades do organismo de cada indivíduo, às especificidades de quem está consumindo. Os ciclos da vida (infância, adolescência, adulto e idoso), o estado fisiológico (gestação, lactação), o estado de saúde (doenças), os hábitos alimentares (deficiência de nutrientes), e as condições socioeconômicas e culturais (acesso aos alimentos) são fatores que devem ser considerados, pois resultam em diferentes necessidades nutricionais. • Lei da harmonia: é a distribuição e proporcionalidade entre os nutrientes, resultando no equilíbrio. Para que o nosso organismo consiga aproveitar os nutrientes, estes devem se encontrar em proporções adequadas nas refeições, uma vez que as substâncias não agem sozinhas, e sim em conjunto. 28 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN FIGURA 1 – ILUSTRAÇÃO DAS LEIS DE PEDRO ESCUDERO FONTE: <https://pratocheio.org.br/wp-content/uploads/2014/03/6-Educacao.png>. Acesso em 18 fev. 2021. 3 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS Acadêmico! Quando você vai a um restaurante, costuma prestar a atenção na composição do cardápio? Tem o hábito de observar a variedade de alimentos, texturas, cortes e cores das preparações? Vamos conhecer a estrutura e os principais aspectos necessários para o planejamento de cardápios! O cardápio é a principal ferramenta de trabalho do nutricionista. Consiste na listade preparações servidas em cada refeição, e o seu planejamento é o princípio de todo o serviço da UAN. A partir dele, é possível adequar a ingestão de nutrientes, e identificar todos os recursos necessários para sua execução como: insumos alimentícios, equipamentos e utensílios, recursos humanos, receitas ou fichas técnicas, bem como controlar: custos e estoques. Segundo Proença e colaboradores (2008), o objetivo final do cardápio deve ser o de proporcionar saúde ao seu consumidor, de modo a prevenir o aparecimento de doenças, melhorando, mantendo ou recuperando a saúde. O enfoque deve ser estabelecido de acordo com o tipo de UAN, as características do comensal, correlacionando o estado de saúde e a faixa etária. Para atingir esse objetivo, certas ferramentas podem e devem ser utilizadas pelo profissional nutricionista, assegurando-se, assim, as dimensões pelas quais o alimento pode ser percebido e apreciado pelo ser humano: as higiênico-sanitárias, as nutricionais e as sensoriais. O cardápio, de maneira geral, deve apresentar variedade nos alimentos selecionados, nas combinações e nas preparações, temperos, cores, formas, cortes, técnicas de preparo e modo de apresentação e/ ou decoração. As opções disponibilizadas e a possibilidade de escolha significam oferecer ao comensal a oportunidade de decidir o que prefere consumir, como e onde (PROENÇA et al., 2008, p. 4). TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 29 Um grande desafio do nutricionista no processo de elaboração de refeições, é o de considerar não apenas aspectos nutricionais (em relação aos nutrientes, ou de segurança microbiológica), mas de contemplar, de forma conjunta, ações direcionadas ao desenvolvimento de técnicas de preparo que associem ao mesmo tempo saúde e prazer, pois o homem come alimentos, e não nutrientes. Assim, as qualidades sensoriais como: sabor, odor, textura e aparência, são fatores determinantes para a escolha dos alimentos em uma refeição (PROENÇA, 2008). Por onde devemos começar? Para elaboração do cardápio, o nutricionista deve considerar alguns aspectos importantes: • Quem é o meu público? Por exemplo: trabalhadores (cargos administrativos ou operacionais), pacientes enfermos, estudantes (crianças, adolescentes, adultos), idosos. • Qual é a necessidade nutricional do meu público? Valor calórico da refeição, quantidade de proteínas por refeição. • Quais são as especificidades do contrato (quando houver)? Quantidade de refeições ofertadas aos comensais, nº de pratos principais, complementos, sobremesas, entre outros. • Qual é o período do cardápio proposto? Semanal, quinzenal, mensal. • Qual é a disponibilidade da UAN? Quanto à mão de obra, espaço, equipamentos disponíveis, orçamento. Com base nestas variáveis, o nutricionista deve planejar as preparações (alimentos) e combinações que irão compor os cardápios, priorizando a oferta de alimentos saudáveis. É importante garantir além das necessidades do público, uma alimentação quantitativamente suficiente, qualitativamente completa e harmoniosa em seus componentes, respeitando suas preferências e hábitos alimentares. Conforme exposto, a elaboração de cardápios é responsabilidade técnica do nutricionista. Para isso, é importante desenvolver suas habilidades culinárias, visando transformar os alimentos sugeridos em seu cardápio, em preparações saudáveis, atrativas e saborosas. ATENCAO 30 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN FIGURA 2 – FIGURA ILUSTRATIVA DA COMPOSIÇÃO DE UMA REFEIÇÃO OFERTADA AOS COMENSAIS DE UMA UAN FONTE: <https://bit.ly/3cBWs3C>. Acesso em: 18 fev. 2021. 3.1 COMPOSIÇÃO BÁSICA DO CARDÁPIO O conjunto de preparações que compõe a estrutura básica de uma grande refeição no Brasil são: QUADRO 5 – REPRESENTAÇÃO DA COMPOSIÇÃO BÁSICA DE CARDÁPIOS PARA UAN Composição Preparações Entrada Saladas Pratos base Arroz e feijão (ou outra leguminosa) Prato principal Preparação proteica Opção de prato principal Opção proteica O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) estabelece parâmetros nutricionais que devem ser considerados na elaboração de cardápios de trabalhadores. Revise estas exigências contidas na Portaria Interministerial nº 66 de 25/08/2006 do Ministério da Fazenda: https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/108109- programa-de-alimentacao-do-trabalhador-pat-alteracao. DICAS TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 31 Guarnição Acompanhamento para o prato principal Sobremesa Fruta ou preparação doce Bebidas Água, sucos, chás e refrigerantes Complementos Temperos e farinha de mandioca FONTE: A autora 3.1.1 Entrada As entradas podem ser compostas por saladas, sopas, caldos, antepastos, frios, entre outros. Nas UAN, na maior parte das vezes, todas as entradas são saladas. As saladas podem ser simples ou compostas, podendo ser incluídas no cardápio de diversos tipos: folhas, cruas, cozidas, mistas, acrescidas de leguminosas (grão de bico, feijão branco, lentilha), grãos e cereais (trigo, milho, quinoa) ou outros produtos (frutas, queijos, frios, cogumelos); e formas: tipos de cortes, temperada, com molhos, diferentes técnicas de preparo, modo de apresentação e/ou decoração. Os alimentos que compõem estas preparações são fontes de fibras, vitaminas e minerais, portanto, é importante variar as preparações e cores, visando estimular o aumento do seu consumo. Sugere-se que o cardápio das entradas seja composto por duas ou mais preparações (MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). 3.1.2 Prato base Os pratos base, ou também chamados de acompanhamentos, são a combinação arroz e feijão. Estas preparações estão habitualmente no prato das grandes refeições dos brasileiros, sendo alimentos de grande importância nutricional e cultural. Mas estas preparações não precisam ser ofertadas sempre da mesma forma. O arroz, por exemplo, pode ser incrementado com outros ingredientes para modificar sua aparência, cor e sabor, como: especiarias (açafrão, urucum); hortaliças (cenoura, brócolis, pimentão colorido, salsinha); ou grãos/leguminosas (milho, ervilha, lentilha). Já o feijão, pode ser ofertado os seus diferentes tipos (preto, vermelho, carioca, fradinho) ou substituído em alguns dias da semana por outra leguminosa como a lentilha (MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). Destaca-se que a mistura típica brasileira, arroz e feijão, é uma fonte de proteínas completa para as grandes refeições, isso porque mesmo se tratando de dois alimentos de origem vegetal, o arroz é fonte de metionina e o feijão de lisina, e estes aminoácidos juntos formam uma proteína de alta qualidade nutricional. Além das proteínas, estes alimentos são fonte de fibras, vitaminas do complexo B e minerais essenciais. O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda o consumo diário destes alimentos (BRASIL, 2014). 32 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 3.1.3 Prato principal O prato principal trata-se da preparação proteica da refeição. Este item do cardápio é o que mais contribuirá no aporte de proteínas total da refeição, uma vez que as carnes (produto de origem animal) são a melhor fonte de proteínas. O prato principal pode ser composto por diferentes tipos de cortes de carnes (bovinos, aves, suínos, peixes, vísceras, embutidos), podendo ser preparado de diferentes formas e acompanhado ou não de molhos. As carnes em geral, costumam ser o item mais caro do cardápio (MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). A opção de prato principal é uma alternativa que deve fazer parte do cardápio, sendo uma escolha diferente do tipo de carne e do preparo do prato principal. Se o prato principal for carne vermelha, a opção deve ser uma carne branca. Caso o prato principal tenha molho, a opção deve ser uma preparação que não tenha. É importante que estes dois itens do cardápio sejam opostos, o que intensifica o aspecto de diversidade do cardápio, oferecendo escolhas aos comensais. Os ovos também podem ser servidos como opção proteica, podendo ter sua forma de preparo variada(MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). 3.1.4 Guarnição Já a guarnição é a preparação culinária que acompanha o prato principal. Este item do cardápio deve acompanhar, “guarnecer” o prato principal e a opção de prato principal, ou seja, precisa combinar com as duas preparações, equilibrando sabores e texturas. Dependendo do custo do cardápio, pode haver duas ou mais guarnições. Utilizam-se como guarnições vegetais apresentados em diferentes formas de preparo (refogados, assados, gratinados, purês); massas (como: talharim, espaguete, nhoques); farofas quentes ou frias (MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). 3.1.5 Sobremesa As sobremesas podem ser compostas por doces ou frutas, e devem ser harmoniosas com o restante do cardápio. Geralmente são porcionadas, podendo ser oferecido como sobremesa: frutas da época in natura ou em sobremesa, doces caseiros e industrializados. Para favorecer o consumo das frutas, pode-se optar por servi-las picadas e descascadas (quando necessário) (MENDONÇA, 2010; FONSECA; SANTANA, 2012). 3.1.6 Bebidas As bebidas são os líquidos ofertados como: água, sucos naturais ou artificiais, chás gelados e refrigerantes. Em algumas empresas, é comum servir café e leite (MENDONÇA, 2010). TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 33 3.1.7 Complementos Os complementos do cardápio geralmente são os insumos que ficam à disposição do comensal. São comuns os temperos para as saladas como: azeite de oliva, vinagre, limão, temperos e molhos, torradas e farinha de mandioca (MENDONÇA, 2010). Agora que você conhece detalhadamente a composição do cardápio de uma grande refeição, observe no Quadro 6 o exemplo: QUADRO 6 – CARDÁPIO PARA GRANDE REFEIÇÃO Composição Preparações Entrada Salada folhosa mista: alface lisa, crespa, rúcula e agrião Salada de repolho verde e roxo ralado com abacaxi Salada de grão de bico ao vinagrete Pratos base Arroz parboilizadoFeijão preto Prato principal Bife acebolado Opção de prato principal Frango ensopado ao molho vermelho Guarnição Purê de batatas Sobremesa Gelatina de abacaxi com frutas Bebidas Suco natural de melancia com hortelã Complementos Azeite de oliva, vinagre, limão e farinha de mandioca FONTE: A autora 3.2 CUIDADOS IMPORTANTES NO PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS O cardápio demonstra a qualidade e a preocupação do profissional nutricionista com seus comensais. Ao planejar, é de extrema importância pensar nas combinações dos alimentos como um todo, considerando aspectos visuais e sensoriais como a variação das cores, texturas e consistências dos alimentos, além de priorizar a utilização de alimentos saudáveis, para uma alimentação variada, balanceada e equilibrada. Alguns cuidados são necessários na hora de compor os cardápios: • Evitar a monotonia, repetição de um mesmo ingrediente em diferentes preparações de uma refeição (verdura/legume). • As cores devem ser contrastantes, evidenciando os diferentes alimentos e nutrientes da refeição. 34 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN • Alternar diferentes tipos de cortes para os pratos principais (exemplos: cubos, iscas, bifes, postas, entre outros). • Não servir mais de uma fritura por refeição, e tentar evitar ao máximo este tipo de cozimento. • Diversificar as formas de preparo para racionalizar o uso de equipamentos (opções: assados, grelhados, cozidos, ensopados, gratinados, empanados, entre outros). • Verificar as preparações mais elaboradas (com maior manipulação e que exigem mais mão de obra) para não as colocar no mesmo dia (panqueca, lasanha, bife a rolê, rocambole de carne, escondidinho, empanados à milanesa). • Variar as formas de apresentação de verduras e hortaliças, quanto aos cortes (opções: Julienne, brunoise, cubos, chiffonade) e cozimento (opções: crus, cozido por imersão em água ou ao vapor, refogados, entre outros). • Variar as texturas e consistências das preparações (exemplos: alimentos podem ser secos, crocantes, cremosos, moídos, úmidos, firmes, macios, isto irá variar de acordo com as receitas do cardápio). • Ofertar diferentes guarnições, variando as preparações nos diferentes dias da semana, com cuidado para que combinem com o prato principal do dia. • Optar por combinações que favoreçam a deglutição, ou seja, um alimento seco sempre associado a uma preparação macia ou cremosa. • Evitar alimentos com uma mesma característica sensorial (tudo cozido ou tudo com molho). • Quando ofertar preparações ricas em lipídeos (gordurosas), associar a alimentos mais leves e de fácil digestão. • Não usar excesso de sal, temperos fortes ou preparações muito condimentadas, o cardápio deve agradar a todos os paladares. • Não fixar preparações em dias da semana (feijoada toda sexta-feira). Outro aspecto importante são os pratos com combinações preestabelecidas e tradicionais, por exemplo: estrogonofe com arroz e batata palha; feijoada com couve refogada e laranja; frango ao molho com polenta; língua ensopada com ervilhas servida com purê de batatas; frango xadrez com arroz chop suey. Não são regras, mas são alguns exemplos de combinações com boa aceitação. Durante o planejamento, é importante ainda fazer um levantamento das datas comemorativas do período, para programação de cardápios diferenciados em datas como: carnaval, páscoa, dia do trabalhador, dia dos pais, dia das mães, natal, entre outros. Outro ponto importante é adequar os cardápios de acordo com a sazonalidade dos hortifrutis, ou chamado período de safra, ou alimentos da época. As frutas, verduras e legumes quando estão na época são mais baratos, impactando positivamente no custo do cardápio, além de serem mais nutritivos e terem menos impacto ambiental. Analise as Figuras 3 e 4, e observe as frutas e verduras que estão na época conforme as tabelas de sazonalidade. TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 35 Neste contexto, se vê o desafio de elaborar cardápios com qualidade compatível às necessidades, expectativas e valores dos clientes, que sirva de modelo para uma alimentação saudável (PROENÇA et al., 2005). FIGURA 3 – TABELA DA SAZONALIDADE DE VERDURAS FONTE: <https://bit.ly/3sFCryG>. Acesso em: 18 fev. 2021. FIGURA 4 – SAZONALIDADE DE FRUTAS FONTE: <https://bit.ly/3sFCryG>. Acesso em: 18 fev. 2021. 36 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN Ao planejar o cardápio da UAN é fundamental inserir preparações atrativas e que agradem o público atendido, mas também ousar e buscar ou criar receitas, considerar a inclusão ou substituição de alimentos, novos ingredientes e técnicas de preparo visando a oferta de um cardápio saudável. O custo costuma ser o principal responsável pela dificuldade nestas modificações para melhoria da qualidade dos cardápios, entretanto, muitas alterações não impactam substancialmente no custo, ou muitas vezes até o reduzem. É importante também considerar a inclusão de preparações com ingredientes funcionais. A inserção de alimentos funcionais no cardápio dos comensais promove a exposição rotineira a esses alimentos, garantindo os benefícios de seu consumo. O Brasil define legalmente alimento com propriedade funcional como todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou benéficos à saúde, inclusive a prevenção e tratamento de doenças. Diversos são os alimentos funcionais que podem ser incluídos no cardápio das UAN, sendo importante levar em conta aspectos relacionados à biodisponibilidade do composto ativo, bem como a criatividade na elaboração das preparações (LUIZETTO et al., 2015). São compostos bioativos presentes em alimentos: terpenoides, fenólicos, ácidos graxos, oligossacarídeos, polissacarídeos, prebióticos e probióticos. O Quadro 7 apresenta os compostos bioativos, benefícios para o organismo e exemplos de alimentos fonte destas substâncias. QUADRO 7 – COMPOSTO ATIVO, EFEITO FISIOLÓGICOS E PRINCIPAIS FONTES DE ALIMENTOS FUNCIONAIS Composto ativoEfeito Alimento fonte Terpenoides Carotenoides Atividade antioxidante e anticancerígena (útero, próstata, seio, cólon, reto e pulmão) Frutas (melancia, mamão, melão, damasco, pêssego), verduras (cenoura, espinafre, abóbora, brócolis, tomate, inhame, nabo) Inserir no cardápio preparações contendo ingredientes como frutas, verduras, legumes, ervas e especiarias são uma boa forma de agregar sabor, e torná-las mais saudáveis. ATENCAO TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 37 Fitoesteróis Redução dos níveis de colesterol total e LDL-colesterol Óleos vegetais, sementes, nozes, algumas frutas e vegetais Glucosinolatos Detoxificação do fígado, atividade anticancerígena e antimutagênica Brócolis, couve-flor, repolho, rabanete, palmito e alcaparra Fenólicos Ácido fenólico Atividade antioxidante Frutas (uva, morango, frutas cítricas), vegetais (brócolis, repolho, cenoura, berinjela, salsa, pimenta, tomate, agrião), chá Flavonoides Atividades antioxidante, redução do risco de câncer e de doença cardiovascular Frutas cítricas, brócolis, couve, tomate, berinjela, soja, abóbora, salsa, nozes, cereja Isoflavonas Inibição do acúmulo de estrogênio, redução das enzimas carcinogênicas Leguminosas (principalmente soja), legumes Catequinas Atividade antioxidante, redução do risco de doença cardiovascular Uva, vinho tinto, morango, chá verde, chá preto, cacau Antocianinas Atividade antioxidante, proteção contra mutagênese Frutas (uva, amora, framboesa) Ácidos graxos w-3 e w6 Redução do risco de câncer e de doenças cardiovasculares, redução da pressão arterial Peixes de água fria, óleo de canola, linhaça e nozes Oligossacarídeos e Polissacarídeos Redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol Frutas, verduras, leguminosas, cereais, integrais Prebióticos Regulação do trânsito intestinal e da pressão arterial, redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol total e triglicerídeos, redução da intolerância à lactose Raiz de chicória, cebola, alho, tomate, aspargo, alcachofra, banana, cevada, cerveja, centeio, aveia, trigo, mel Probióticos Regulação do trânsito intestinal, redução do risco de câncer e dos níveis de colesterol total e triglicerídeos, estímulo ao sistema imunológico Iogurte, leite fermentado FONTE: Adaptado de Fagundes e Costa (2003) 38 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN Para fim de planejamento, os cardápios podem ser semanais, quinzenais ou mensais, sendo que a última opção costuma ser a mais indicada. Estes ainda podem ser cíclicos, ou seja, utilizados por um determinado período de tempo (um mês, dois meses, ou mais), e ao final de cada período, o cardápio pode ser utilizado novamente. Apresenta como vantagens poupar tempo e melhor eficiência da mão de obra, e como desvantagens, o fato de, quando utilizados por clientelas cativas, o período deve ser longo para não entediar o cliente (KINTON; CESERANI; FOSKETT, 1998). Para que o nutricionista tenha maior clareza e melhor visualização das preparações previstas no cardápio, sugere-se a adoção do planejamento horizontal. Conforme a Tabela 1, este consiste no planejamento conjunto dos alimentos a serem ofertados durante toda a semana, o que evita repetições e promove harmonia dos alimentos. Poderão ser incluídas mais linhas ou colunas, de acordo com a realidade de cada UAN. No cardápio mensal, deve-se repetir a mesma tabela de acordo com o número de semanas do mês. Neste sentido, visando à elaboração de um cardápio variado, sugere-se o seguinte passo a passo: • iniciar pela escolha das carnes (tipo de carne) e opção (quando presente na estrutura do cardápio); • definir o tipo de corte e técnica de preparo; • definir a guarnição que combine com o prato principal; • programar as preparações dos pratos base, variando sempre que possível; • escolha as saladas, com atenção à repetição de ingredientes e grau de elaboração; • escolha a sobremesa e bebida. QUADRO 8 – ESTRUTURA DO CARDÁPIO PARA PLANEJAMENTO HORIZONTAL Semana 1 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Entrada/Salada Pratos base Prato principal Opção Guarnição Sobremesa Bebidas Complementos FONTE: A autora A Tabela 1 apresenta um exemplo de cardápio semanal de uma UAN, considerando os conceitos apresentados. TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 39 TABELA 1 – EXEMPLO DE CARDÁPIO SEMANAL DE UMA UAN Preparações Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Entrada/Salada Escarola com pepino Beterraba cozida Alface lisa com rabanete Repolho verde e roxo ralado Alface crespa e roxa Grão de bico ao vinagrete Chicória com azeitonas Chuchu cozido Agrião com milho verde Tomate com cebola Pratos base ArrozFeijão preto Arroz à grega Feijão carioca Arroz Lentilha Arroz colorido Tutu de feijão Arroz Feijão vermelho Prato principal Almôndegas bovinas ao molho vermelho Moqueca de peixe tradicional Bisteca suína grelhada ao molho barbecue Frango assado com cebola e pimentões Bife à milanesa Opção Ovos fritos Frango grelhado Carne moída à jardineira Omelete de ervas Frango ao molho pardo Guarnição Purê de batatas Seleta de legumes Mandioca sauté Quibebe Couve à mineira Sobremesa Mamão em cubos com gergelim Gelatina de uva Maçã Laranja com canela Mousse de maracujá Bebidas Suco de maracujá Suco de laranja Limonada Suco de abacaxi com hortelã Suco de uva Complementos Azeite de oliva Sal Limão/ Vinagre Farinha de mandioca Azeite de oliva Sal Limão/ Vinagre Farinha de banana Azeite de oliva Sal Molho rosê Farinha de mandioca Azeite de oliva Sal Limão/ Vinagre Farofa de cenoura Azeite de oliva Sal Molho vinagrete Farinha de mandioca FONTE: A autora Para garantir a variedade do cardápio, é importante ter em mãos uma vasta lista de preparações, principalmente, para os pratos principais, opções, guarnições e sobremesas. O Receituário Padrão, comumente conhecido como “Manual de Receitas”, consiste no conjunto de todas as fichas técnicas das preparações da UAN. A partir dele, os cozinheiros poderão fazer consultas quando não se lembrarem de todas as etapas para elaboração de uma preparação, ou em um momento em que o nutricionista não estiver na unidade, ou ainda para sua consulta no momento de confeccionar o pedido de compras. É importante mantê-lo atualizado com todas as fichas técnicas e em local de fácil acesso a todos os funcionários (FONSECA; SANTANA, 2012). 40 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN FIGURA 5 – EXEMPLO DE FICHA TÉCNICA DE PREPARO PARA COMPOR O RECEITUÁRIO PADRÃO DE UMA UAN FONTE: Fonseca e Santana (2012, p. 17) Com as fichas técnicas em mãos, cabe ao nutricionista variar as formas de preparo dos alimentos do cardápio. Um mesmo alimento pode ser preparado e apresentado de diferentes formas, um legume como a cenoura, por exemplo, pode ser inserido no cardápio como uma salada na sua forma crua (ralada) ou cozida (em rodelas ou em palitos), como uma guarnição (cenoura sauté), como ingrediente de uma guarnição (ex.: farofa de cenoura, seleta de legumes, macarrão yakissoba etc), ou ainda como ingrediente dos pratos base (arroz colorido com cenoura ralada, feijoada vegana com legumes). Isso também vale para guarnições como macarrão, que geralmente apresentam boa aceitação pelos comensais, mas é interessante variar suas formas de preparo, por exemplo: macarrão alho e óleo, à bolonhesa, ao molho sugo, molho pesto, molho branco, ao molho quatro queijos, macarronese, macarrão à pizzaiolo, entre outros. Ademais, as preparações proteicas (prato principal) que irão compor o cardápio também devem apresentar-se de forma variada. As carnes bovinas, por exemplo, podem ser ofertadas de diferentes cortes (coxão duro, coxão mole, patinho, lagarto etc.), com diferentes formas de apresentação (em cubos, iscas, bife, moída), e inúmeras formas de preparo (frita, assada, ensopada, grelhada, entre outras). TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 41 No grupo das aves, destaca-seo frango, podendo ser ofertado seus diferentes tipos (convencional, caipira, galeto), cortes (inteiro, filé de peito, coxa, sobrecoxa desossada, miúdos), com diferentes formas de apresentação (em cubos, iscas, desfiado), e diversas formas de preparo (grelhado, ensopado, frito, assado, recheado, com molho, entre outras). No que tange às formas de preparo, vale usar a criatividade! Dependendo da disponibilidade de ingredientes (custo), mão de obra e equipamentos, é possível inserir diferentes preparações em seu cardápio. Alguns cortes de carne, por serem mais magras (pobres em gorduras), como o peito de frango ou lombo suíno, dependendo como for seu preparo, pode apresentar-se ao final da cocção em consistência mais ressecada. Uma boa alternativa é adicionar molhos para conferência de sabor e umidade à preparação, são exemplos: molho caseiro com tomate e pimentões, molho oriental com shoyo e gengibre, molho de iogurte, molho agridoce de laranja com mostarda e mel, molho de maracujá, entre outros. Mas atenção! Ao planejar as preparações que irão compor o cardápio, é importante considerar as preferências e condições de saúde da clientela, além de fazer testes de aceitabilidade para evitar o desperdício de alimentos. Cabe ao nutricionista escolher as melhores formas de preparo dos alimentos, considerando todos os aspectos apresentados. ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DE CARDÁPIOS EM UM RESTAURANTE INSTITUCIONAL Refletindo sobre as necessidades dos usuários, estrutura física, adequação nutricional e saúde, os autores anteriormente citados fizeram uma análise do cardápio de um Restaurante Institucional em Minas Gerais, para posteriormente adequá-lo às necessidades de seus usuários, utilizando-se o método qualitativo AQPC, adaptado para a realidade desta UAN. O processo de compras é realizado por licitação anual, havendo, por este motivo, a necessidade de padronizar todas as preparações servidas para estimar a quantidade de todas as matérias primas utilizadas durante todo o ano. Para tal, adotam-se quatro mapas. Cada mapa representa o cardápio de uma semana, ou seja, em um mês, todos são utilizados e se repetem durante dez meses do ano. Anteriormente ao processo de licitação, foram elaborados quatro mapas. Durante a confecção destes cardápios, as recomendações propostas por Phillipi et al., (1999) com relação ao consumo de hortaliças e frutas, foram observadas juntamente com os critérios para o planejamento de cardápios, apontados por Ornellas (2006). Após conclusão destas IMPORTANT E 42 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN atividades, aplicou-se o método qualitativo global adaptado AQPC no cardápio institucional mensal do restaurante. Considerou-se a presença de frutas, hortaliças, doces, frituras e carnes. Algumas adequações foram feitas após a utilização deste método. A unidade atende em média 600 usuários. São oferecidas diariamente duas grandes refeições, sendo que o maior número de usuários se concentra no almoço. O cardápio é composto por sete preparações diferentes, conforme pode ser exemplificado pelos dados do Quadro 1. O cardápio é do tipo básico, e precisa ser planejado com o custo máximo de R$ 1,70 (valor de venda), ou seja, o cardápio precisa ser ajustado aos limites financeiros da instituição. A aquisição de gêneros é feita por licitação, e o menor preço é o critério de escolha dos gêneros. Analisando estas questões, concluiu-se que esta parte do cardápio precisava de modificações. Oku et al., (2007) encontrou também em seu estudo, inadequações para estes dois grupos de alimentos. Assim, as adequações foram realizadas, no sentido de aumentar a oferta destes alimentos (Tabela 1). Como as frutas servidas in natura substituíram a maior parte das sobremesas compostas por açúcares simples – doces –, a troca representou grande vantagem, em decorrência da maior quantidade de micronutrientes. Da mesma forma, parte das hortaliças servidas como guarnição, substituíram as preparações à base de massas, cremes e farinhas. Com relação à incidência dos diversos tipos de carnes, parte da carne suína oferecida (até então muito presente no cardápio), foi substituída por carnes de aves (Tabela 2). Em todas as preparações que continham carne moída como ingrediente, houve a substituição de 34% desta carne por proteína texturizada de soja. TÓPICO 2 — ELABORAÇÃO DE CARDÁPIOS 43 O número de frituras foi reduzido de 11 incidências mensais para 9, servidas em dias diferentes das sobremesas doces. O número de preparações à base de leite, servidas concomitantemente com alimentos fontes de ferro heme foram diminuídas. Foi realizada uma análise sensorial, especificamente para o suco de uva, a fim de inseri-lo no cardápio, caso tivesse considerável aceitação, pois, de todos os sabores servidos, é o que apresenta as melhores características nutricionais. Após a análise, percebeu-se que, 99,5% dos participantes (n = 409) aprovaram o suco de uva, sendo, então, constantemente utilizado no cardápio. Após a aplicação do método AQPC, conclui-se que o cardápio confeccionado apresentou muitas melhorias, frente às necessidades dos seus usuários após a análise e adequações realizadas. Vale ressaltar ainda que, durante o planejamento dos cardápios os critérios qualitativos devem ser observados, pois consegue-se, assim, garantir uma maior oferta de nutrientes essenciais à saúde de todos. FONTE: FONSECA, K. Z.; SANTANA, G. R. Guia prático para gerenciamento de unidades de alimentação e nutrição. Bahia: Editora UFRB, 2012. p. 27- 30. 44 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O Guia Alimentar para a População Brasileira e Leis da Alimentação devem ser consideradas para a elaboração e planejamento de cardápios. • O cardápio consiste em uma lista de preparações culinárias servidas que compõem as refeições. • A partir do cardápio é possível adequar a ingestão de nutrientes, e identificar os recursos necessários para sua execução. • O objetivo final do cardápio deve ser o de proporcionar saúde ao seu consumidor, de modo a prevenir o aparecimento de doenças, melhorando, mantendo ou recuperando a saúde. • A composição básica de preparações que compõe o cardápio é: entrada, pratos base, prato principal, opção, guarnição, sobremesa, bebidas e complementos. • O cardápio, de maneira geral, deve apresentar variedade nos alimentos selecionados, nas combinações e nas preparações, temperos, cores, formas, cortes, técnicas de preparo e modo de apresentação e/ou decoração. 45 1 O cardápio é uma ferramenta utilizada pelo nutricionista que atua em UAN, sendo sua elaboração responsabilidade deste profissional. Após a leitura deste tópico, explique o que é um cardápio e quais as suas principais funções. 2 A construção de um cardápio deve considerar alguns aspectos que visam garantir sua qualidade e adequada execução. Em relação ao planejamento das refeições em uma UAN, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as alternativas falsas. ( ) O cardápio ou menu é importante ferramenta de comunicação direta com o cliente e determina a organização e a funcionalidade da área de produção de refeições. ( ) A combinação das preparações de acordo com o número e o tipo de equipamentos disponíveis evita atrasos ou alterações do cardápio. ( ) Não se faz necessário considerar a sazonalidade de frutas, verduras e legumes durante o planejamento do cardápio. ( ) A combinação de sabor, cor, textura e forma de apresentação caracteriza os aspectos sensoriais a serem considerados no planejamento de cardápios. Assinale a sequência CORRETA. a) ( ) F, F, V, F. b) ( ) V, V, F, F. c) ( ) F, F, V, V. d) ( ) V, V, F, V. 3 Visite um restaurante tipo bufê próximo a sua casa ou ao polo onde você estuda, e anote todas as preparações ofertadas no cardápio do dia. Analise a composição do cardápio, a variedade, as cores e formas de preparo dos alimentos, e aponte os principais pontos positivos e negativos do cardápio.4 Elabore um cardápio semanal para o almoço, conforme tabela a seguir, para coletividade sadia, trabalhadores intelectuais, com faixa etária de 18 a 60 anos, publico misto (homens e mulheres), considerando a sazonalidade de hortifrutis para o mês de outubro, contendo: salada de folhas, salada de legumes, prato principal, opção de prato principal, guarnição, pratos base, sobremesa e bebida. AUTOATIVIDADE 46 Preparações Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Entrada/Salada Pratos base Prato principal Opção Guarnição Sobremesa Bebidas Complementos FONTE: A autora 5 O prato principal é a preparação proteica da refeição, o item de maior contribuição para a adequação de proteínas ofertadas. Muitas pessoas não consomem determinadas carnes (como carne suína ou pescados) ou ainda preparações específicas (como frituras ou ensopados), assim, é importante disponibilizar uma opção alternativa. Considerando as orientações para elaboração de um cardápio equilibrado, balanceado, e adequado do ponto de vista sensorial, assinale a alternativa que apresenta um prato principal e uma opção adequadamente planejados. ( ) Prato principal: Bife ao molho madeira e Opção: Bisteca ao molho shoyo. ( ) Prato principal: Peixe à milanesa e Opção: Ovos fritos. ( ) Prato principal: Frango xadrez e Opção: Sobrecoxa de frango assada. ( ) Prato principal: Estrogonofe de carne e Opção: Peito de frango grelhado. ( ) Prato principal: Lombo suíno ao molho de laranja e Opção: Linguiça assada. 47 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Como estão os estudos? Estamos nos direcionando para o terceiro e último tópico desta unidade. Agora que você aprendeu a elaborar cardápios, veremos como avaliá-los e analisá-los. Nós, seres humanos, nos alimentamos para atender as nossas necessidades fisiológicas de nutrientes, mas comer vai muito além disso. Envolve questões biológicas, sociais, culturais, tornando o ato de comer uma arte. Um cardápio bem elaborado, com preparações bem planejadas, é capaz de causar emoções, despertar os sentidos e causar sensações àquele que o consome, proporcionando prazer em consumir determinado alimento ou combinações de alimentos. Assim, para elaborar um cardápio não basta apenas calcular o valor calórico e de nutrientes que irão compor a refeição, é necessário pensar além da composição química dos alimentos. Um cardápio saudável e adequado do ponto de vista nutricional e sensorial necessita de tempo, empenho e criatividade, e isso reafirma a importância da presença do profissional nutricionista para a atuação nesta área, como um gestor de saúde, que promove a prática de hábitos alimentares saudáveis. Alimentos e/ou preparações ricas em açúcares e gorduras, por exemplo, filé à parmegiana, espaguete à carbonara, banana à milanesa, feijoada, maionese de batata, pudim de leite, entre outras, podem ter boa aceitação e agradar comensais que apreciam pratos saborosos, mas desconhecem os perigos associados ao consumo frequente destes tipos de alimentos. Cabe ao profissional nutricionista criar alternativas e estratégias para ofertar alimentos saborosos, mas que agreguem valor nutricional e não prejudiquem a saúde, e que pelo contrário, contribuam para manutenção e recuperação da saúde. Para auxiliar o profissional nutricionista, um método amplamente utilizado para avaliar cardápios de UAN, é o método de Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio, ou também conhecido como método AQPC. Instrumento criado por nutricionistas, que permite avaliar o cardápio de forma global e qualitativa, possibilitando oferecer aos comensais um cardápio saudável, variado e atrativo do ponto de vista qualitativo. Vamos conhecer os princípios deste método e aprender a aplicá-lo? 48 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN 2 MÉTODO DE AVALIAÇÃO QUALITATIVA DAS PREPARAÇÕES DO CARDÁPIO (AQPC) O método de Análise Qualitativa das Preparações do Cardápio (AQPC), proposto por Veiros e Proença (2003), é o mais utilizado por nutricionistas que atuam em UAN e em trabalhos científicos que visam à avaliação de cardápios. Este método visa auxiliar o nutricionista na elaboração de um cardápio mais adequado tanto do ponto de vista nutricional quanto em alguns aspectos sensoriais. Este método foi uma das análises desenvolvidas na dissertação de mestrado do autor, que procurou analisar a influência das condições de trabalho do nutricionista na sua atuação como promotor de saúde em uma Unidade de Alimentação e Nutrição em Santa Catarina (VEIROS, 2002). O método AQPC permite que o nutricionista realize uma análise qualitativa, considerando critérios para uma avaliação detalhada do cardápio, analisando a qualidade nutricional e sensorial por preparações. Essa avaliação qualitativa visa auxiliar o profissional nutricionista – o responsável técnico pela UAN na construção de um cardápio mais adequado do ponto de vista nutricional e sensorial, ainda na etapa teórica de idealização do cardápio (PROENÇA, SOUZA, VEIROS, HERING, 2005). A avaliação por este método auxilia na percepção de equilíbrio do cardápio, podendo analisar variáveis como tipo e características dos alimentos, a composição das preparações, suas cores, as técnicas de preparo, as repetições no cardápio, as combinações, os tipos e os percentuais de ofertas (frutas, folhosos, tipos de carnes, alimentos flatulentos, entre outros), permitindo identificar quantitativamente e qualitativamente estes itens do cardápio, para que possa atrair da melhor maneira o comensal (VEIROS, 2003). O método APQC é indicado para UAN tipo institucional, que mantém um cardápio com menor número de opções (guarnições) e controle do número de porções ofertadas, além de restaurantes com serviço de bufê, independente da modalidade, mas que apresentam uma variedade de opções e liberdade de escolha dos alimentos. São critérios estabelecidos para avaliação da AQPC: • Técnicas de cocção: alertando a monotonia e a repetição de técnicas de preparo. o Frituras: aparecimento desta técnica de preparo de maneira isolada e associada a dias com ofertas de alimentos ricos em açúcares (doces), elevando o consumo excessivo de carboidratos simples e lipídeos. o Carne gordurosa: presença de cortes de carnes gordurosas nos dias em que não há emprego da fritura como técnica de preparo (tais como: fraldinha, costela, paleta, contrafilé, ponta de agulha e vísceras, além de presença de gordura aparente, pele ou capa de gordura). TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 49 o Cor: analisa o aspecto visual da composição das cores das preparações e dos alimentos empregados no cardápio, desde a combinação de cores à visualização da composição do prato, visando evitar a repetição de cores. o Alimentos ricos em enxofre: indica a presença destes alimentos, devendo sua oferta ser limitada na mesma refeição. A oferta de duas ou mais preparações, excluindo o feijão, dos seguintes alimentos sulfurados: abacate, acelga, aipo, alho, amendoim, batata doce, brócolis, castanha, cebola, couve-flor, ervilha, gengibre, goiaba, lentilha, maçã, melancia, melão, milho, mostarda, nabo, nozes, ovos, rabanete, repolho e uva. o Frutas, verduras e legumes: indica a presença destes importantes itens do cardápio, componentes de uma alimentação nutricionalmente adequada que são fontes de fibras, vitaminas e sais minerais. o Contraste dos itens saudáveis: analisa as combinações ofertadas no cardápio do dia, ex: cuidar com preparações gordurosas e sobremesas elaboradas com excesso de açúcares e gorduras no mesmo dia. A aplicação do método AQPC desenvolvido por Veiros (2002) e Proença et al. (2008), consiste na análise de cardápios, seguindo as seguintes etapas: • Etapa 1: avaliar os cardápios diários, posteriormente de períodos de tempo pré-determinados, como avaliações semanais, quinzenais ou mensais. • Etapa 2: avaliar as preparações sob os seguintes critérios: o técnicas de cocção; o cordas saladas e combinação de cores de todas as preparações do cardápio diário; o número de preparações com alimentos ricos em enxofre; o aparecimento de folhosos e conservas nas saladas e de frutas nas sobremesas; o presença de doces, ou seja, preparações elaboradas como sobremesa; o classificação do cardápio diário em pouca ou muita quantidade de gordura, sendo investigado pelo teor de gordura dos alimentos das preparações (principalmente as carnes) ou pela própria técnica de preparo (fritura). • Etapa 3: as avaliações semanais resultam da compilação das avaliações diárias, sendo os resultados agrupados reunindo informações quanto ao número de dias que há ou não: o aparecimento de frituras no cardápio; o repetições de preparações (aparecimento da mesma preparação ou dos mesmos alimentos na mesma semana); o presença de fruta como sobremesa; o presença de doces industrializados ou preparados como sobremesa como, por exemplo, pudim, gelatina e sagu; o presença de doces (sobremesa) e fritura no mesmo dia; o presença de carne gordurosa (linguiça, salsicha, chuleta, hambúrguer, feijoada) desconsiderando o dia em que a carne é preparada com a técnica fritar; 50 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN o as cores do cardápio, se demonstram-se atrativas, representando ou não monotonia de cores entre as preparações (acima de duas preparações da mesma cor ou a repetição de apenas duas cores no cardápio do dia); o presença de duas ou mais preparações ricas em enxofre, desconsiderando- se o feijão oferecido diariamente; o presença de folhosos entre as opções de saladas; o presença de salada em conserva; o repetição de técnicas de preparo da segunda opção de carne com as técnicas de preparo da carne do dia. • Etapa 4: a avaliação mensal agrupando os dados semanais e, posteriormente, a tabulação os resultados em percentuais em relação ao número total de dias dos cardápios investigados. • Etapa 5: os dados são apresentados em formato de tabela para melhor visualização dos resultados conforme exemplo a seguir (Tabela 2). TABELA 2 – EXEMPLO DE TABELA PARA DISTRIBUIÇÃO EM NÚMERO E PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA DE ALIMENTOS E PREPARAÇÕES DO CARDÁPIO SEGUNDO O MÉTODO AQPC Período (semana/mês) Dias de cardápio Avaliado Frutas/ Suco¹ (dias) Doce⁴ (dias) Fritura⁴ (dias) Doce + Fritura⁴ (dias) Carne gordurosa⁴ (dias) Folhosos¹ (dias) Cores iguais² (dias) Ricos em enxofre³ (dias) Total (dias) % de ocorrência Legenda: 1Aspectos positivos à saúde; 2Impacto visual (monotonia de cores); 3Sensação física imediata dos alimentos ingeridos; 4Aspectos que devem ser cuidadosamente monitorados, podendo trazer consequências prejudiciais à saúde. FONTE: A autora A Tabela 3 apresenta um exemplo de aplicação do método AQPC para demonstrar o preenchimento da tabela. TABELA 3 – EXEMPLO DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIO DE UMA UAN SEGUNDO O MÉTODO AQPC FONTE: Mello e Morimoto (2018, p. 88) TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 51 Os resultados da aplicação deste método oferecem parâmetros para avaliação global do cardápio, auxiliando o profissional nutricionista na elaboração de um cardápio que contemple as exigências nutricionais, agrade a clientela, permaneça dentro do custo estimado e possa ser utilizado para modificação dos hábitos alimentares e promoção da saúde (VEIROS; PROENÇA, 2003). Esta avaliação quantitativa (em número e percentuais elevados ou baixos) das características qualitativas do cardápio (combinação, tipo de alimentos e técnicas de processamento, cores, sabores, texturas) permite a realização de análise minuciosa da composição do mesmo, auxiliando o profissional nutricionista na avaliação desta importante ferramenta de trabalho nas UAN. 3 MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRICIONAL E SENSORIAL (AQNS) Além do método AQPC, amplamente conhecido e aplicado, existe também o método de Avaliação da Qualidade Nutricional e Sensorial (AQNS) do cardápio, desenvolvido por Riekes (2004), que consiste em um modelo de acompanhamento do processo produtivo para monitoramento da qualidade nutricional e sensorial de preparações alimentares em associação ao sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) para UAN coletivas e comerciais. Este modelo de avaliação dá enfoque aos perigos nutricionais e sensoriais envolvidos no processo de produção, e que podem interferir na qualidade final das preparações. Apresenta benefícios não somente para UAN, como também ao comensal, pois avalia o cardápio do ponto de vista nutricional, sensorial e higiênico-sanitário. No entanto, existem poucos estudos que utilizam esta ferramenta de avaliação para mensurar a qualidade nutricional e sensorial, sendo algo muito recente na literatura e nos estudos que utilizam este como proposta para avaliação de preparações. Acadêmico! Leia na íntegra o artigo das nutricionistas que elaboraram o método AQPC Marcela Boro Veiros e Rossana Pacheco da Costa Proença. Acesse pelo link: https://nuppre.paginas.ufsc.br/files/2014/04/2003-VEIROS-e-PROEN%C3%87A.pdf. DICAS Conheça esta proposta metodológica que considera aspectos nutricionais e sensoriais para avaliação de cardápios, desenvolvido pela nutricionista Bethania Hering Riekes em sua dissertação de mestrado no link: http://www.tede.ufsc.br/teses/PNTR0008.pdf. DICAS 52 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN AVALIAÇÃO QUALITATIVA DAS PREPARAÇÕES DO CARDÁPIO DE UMA ESCOLA PRIVADA EM UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DE MINAS GERAIS Nair Tavares Milhem Ygnatios Natasha Nascimento Lima Georgia das Gracas Pena INTRODUÇÃO Os principais distúrbios nutricionais podem ocorrer devido a carência ou ao excesso de nutrientes. Dessa forma, a qualidade nutricional da alimentação de crianças e um dos responsáveis por promover o crescimento e desenvolvimento adequados, além de ser importante na prevenção de diversas doenças. A escola tem influência direta na formação dos hábitos saudáveis de alimentação durante os primeiros anos da infância que poderão perdurar em fases posteriores da vida. Assim, o cardápio da merenda escolar deve incluir alimentos e preparações que satisfaçam adequadamente as necessidades nutricionais nessa fase da vida, além de assegurar adequadas condições higiênico-sanitárias. Estudos demonstram que as crianças brasileiras de diferentes regiões apresentam um consumo alimentar inadequado. Entre pré-escolares de Pelotas, Rio Grande do Sul, o consumo de vegetais esteve abaixo do recomendado, enquanto grupos dos óleos e gorduras, açúcares, doces, chocolates e salgadinhos foram consumidos em excesso. Resultados semelhantes foram observados na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS-2006), entre crianças de 6 a 59 meses de idade, reforçando a necessidade de promoção de um hábito alimentar saudável. Ao elaborar um cardápio, o nutricionista deve levar em consideração as recomendações do Guia Alimentar da População Brasileira, do Ministério da Saúde. Assim, o cardápio deve contemplar alimentos marcadores de alimentação saudável, especialmente frutas e hortaliças, evitando-se também alimentos ricos em açucares, sódio, gorduras totais e saturadas. O cardápio deve estimular ao máximo as características sensoriais dos alimentos, buscando promover prazer e satisfação no momento da refeição. Ainda, o planejamento do cardápio segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) deve preconizar a oferta de alimentação saudável respeitando características socioculturais da população, garantindo o desenvolvimento e crescimento da criança, bem como satisfatório rendimento escolar. O método de Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio (AQPC), desenvolvido por Veiros e Veiros e Proenca, permite avaliar qualitativamente os aspectos nutricionais e sensoriais que compõem um cardápio, auxiliando o profissional nutricionista na elaboração do mesmo e na percepção da adequação LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 53 de aspectossensoriais em relação aos tipos de alimentos e cores. O objetivo do presente estudo foi avaliar qualitativamente as preparações de um cardápio mensal de almoço oferecido aos alunos da educação infantil, ensino fundamental e médio, de uma escola privada em um município do interior de Minas Gerais. MÉTODOS Trata-se de um estudo de caso documental, cujo instrumento de pesquisa foi o cardápio mensal do almoço oferecido aos alunos matriculados na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), em horário integral, de uma escola privada em um município do interior de Minas Gerais. O cardápio mensal, apresentado na Tabela 1, abrange quatro semanas, totalizando 20 dias; as preparações foram oferecidas durante os meses de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro do segundo semestre do ano letivo de 2015. 54 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN [...] DISCUSSÃO Em 100% dos dias a escola ofertou folhosos, entre eles: acelga, alface americana, alface lisa, alface roxa, agrião, brócolis, repolho roxo, repolho verde e rúcula, item classificado como “ótimo”. Apesar de não ser analisado pelo método AQPC, o cardápio incluía também a oferta diária de legumes como, cenoura, batata baroa, beterraba, brócolis, chuchu, couve-flor, inhame, moranga, pepino, quiabo, rabanete, tomate, entre outros. Nesta escola estava sendo implantada uma horta sem o uso de agrotóxico, o que pode ter facilitado essa oferta. Além disso, diariamente foram oferecidas cinco opções de salada crua, entre elas hortaliças folhosas e legumes, além de hortaliças cozidas como uma das guarnições. No entanto, na presente pesquisa não foi observada em nenhum dia do cardápio a oferta de frutas. Cabe ressaltar que, como não foi avaliado o cardápio de lanches (lanche da manhã e lanche da tarde), pode ser que as frutas tenham sido oferecidas em outros momentos e não estejam incluídas no cardápio do almoço. A oferta de hortaliças verificada na presente pesquisa foi similar à do estudo realizado por Boaventura et al., que encontrou 100% de oferta de hortaliças e frutas em escolas municipais das cidades de Barueri, São Bernardo do Campo e São Paulo. Já na cidade de Guarulhos, foram servidas hortaliças e frutas em 63 e 79% dos dias do cardápio, respectivamente. No estudo de Christmann, realizado em um colégio- internato de Guarapuava, Paraná, em 100% dos dias eram oferecidos folhosos, e as frutas em apenas 4% dos dias, a semelhança do que ocorreu no presente estudo. Menegazzo et al., ao avaliar o cardápio de um Centro de Educação Infantil no município de Florianópolis, encontraram baixa oferta de folhosos (16%) e de frutas (4%). A baixa oferta de frutas, conforme observado neste estudo, por Christmann e por Menegazzo et al. mostra-se preocupante. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) também demonstrou que o consumo de frutas e hortaliças pela população brasileira muito aquém das recomendações. O consumo destes alimentos e essencial para o desenvolvimento infantil, por serem fontes de micronutrientes e de fibras alimentares. A inadequação no consumo de micronutrientes pode ser uma condição associada as deficiências orgânicas desses nutrientes com repercussões negativas no crescimento linear e compatível com infecções respiratórias em crianças. As fibras alimentares, por sua vez, apresentam impacto positivo no controle da TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 55 glicemia, nas concentrações de lipídeos e na prevenção da constipação intestinal. Além disso, desempenham papel importante na prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), cada vez mais presentes na população infantil. Estudos realizados em diferentes estados brasileiros demonstraram prevalência de sobrepeso, que varia de 18,5%, entre escolares de uma instituição municipal de ensino fundamental de Itajaí, Santa Catarina, a 20,8 %, entre crianças de 0 a 5 anos de Colombo, Curitiba. As elevadas prevalências de excesso de peso infantil são decorrentes também da baixa qualidade da dieta das crianças brasileiras, que apresenta deficiência no aporte de micronutrientes e alta densidade energética, de acordo com estudo prévio de revisão de literatura. Um dos fatores que contribuem para o aumento da obesidade e o consumo de alimentos ultraprocessados, que apresenta relação positiva com a ingestão de gorduras, colesterol e sódio. A nova edição do Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda evitar o consumo de alimentos ultraprocessados por apresentarem uma composição nutricional desbalanceada afetando de modo desfavorável à saúde humana. A escola por sua vez, considerada um ambiente de formação de hábitos alimentares, deveria ofertar no cardápio alimentos in natura, como hortaliças e frutas, diariamente, além de incentivar seu consumo pelas crianças e adolescentes por meio de ações de Educação Alimentar e Nutricional inserida no contexto escolar. Atrelado a isso, autores sugerem que as frutas e hortaliças sejam incluídas no cardápio para se evitar a monotonia de cores, pois estes alimentos apresentam grande variedade de cores, favorecendo o aspecto sensorial, uma vez que as refeições monocromáticas podem se tornar desinteressantes para as crianças, interferindo na aceitabilidade do cardápio. A monotonia de cores associada a baixa oferta de micronutrientes e compostos fenólicos, estes últimos responsáveis pela qualidade sensorial dos alimentos, afetando cor, sabor e adstringência, além de conter propriedades funcionais na promoção a saúde. A monotonia de cores também associada a alta oferta de açucares e ácidos graxos trans. No presente estudo, as cores das preparações apresentaram monotonia em 8 dias analisados (40%), sendo este item classificado como “regular”. Menegazzo et al. observaram 12% de preparações com semelhança de cores nas refeições do almoço e jantar, percentual inferior ao observado no presente estudo. A baixa variedade de cores observada no cardápio do presente estudo não atende as recomendações nutricionais do Guia Alimentar para a População Brasileira. Quanto a oferta de alimentos ricos em enxofre, em 95% dos dias foram ofertados mais de dois alimentos sulfurados, desconsiderando-se o feijão. Diferentemente, em Florianópolis, somente em um dia do mês (4,0%) foram ofertados alimentos sulfurados em excesso19. Já em um colégio de regime internato do Paraná, os alimentos ricos em enxofre foram ofertados em 52% dos dias. 56 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN O enxofre em excesso pode causar desconforto gastrointestinal devido a produção de gases pela fermentação bacteriana no cólon. Ressalte-se que o feijão, fonte proteica, rico em carboidratos e compostos ativos, apesar de não ser contabilizado neste item, também contribui para o desconforto gástrico, devido a presença de oligossacarídeos não digeríveis. Entretanto, o remolho dos grãos e a cocção são utilizados para eliminar os fatores antinutricionais e de flatulência, ressaltando-se, assim, a importância do nutricionista na orientação de técnicas de preparo adequadas para a garantia da qualidade nutricional das preparações. A baixa frequência (15%) de pratos proteicos com carnes gordurosas apresenta resultado positivo na promoção a saúde, classificados na categoria “bom”, uma vez que, de forma preocupante, dados mais recentes do VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) mostraram que 29,4% dos participantes declararam ter o habito de consumir carne com excesso de gordura, sendo esse habito maior entre homens (38,4%). No tocante a ingestão de lipídeos pelos adolescentes, dados da POF (2008-2009) demonstraram que aproximadamente 28% da energia da dieta foi proveniente do consumo de lipídeos e maiores medias de consumo de colesterol. O consumo excessivo de gorduras e carnes está associado ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. As carnes processadas são ricas emcloreto de sódio, sendo que a ingestão na dieta tem sido associada a hipertensão arterial e, por conseguinte, as doenças cardiovasculares. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Agencia Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), também reconhece que o consumo de embutidos aumento o risco de câncer. No cardápio do presente estudo não houve oferta de peixes, possivelmente ao elevado custo e a dificuldade de aquisição de peixe fresco na cidade. Os peixes são opções proteicas essenciais ao crescimento por serem ricos em ácidos graxos essenciais e vitamina B12. Mas, no cardápio, foram oferecidos cortes de carne magra, como file-mignon, patinho, alcatra, musculo, bem como bife de peito de frango. Considerando o modo de pré-preparo e preparo contido nas fichas técnicas, retiram-se toda a gordura visível das carnes e a pele do frango antes da cocção, as carnes são grelhadas, assadas, cozidas ou ensopadas, utilizando pequena quantidade de óleo. Apesar disto, comumente as empresas oferecem carnes gordurosas nos cardápios, por terem um preço mais acessível, cabendo ao nutricionista evitar no mesmo dia combinações com alimentos considerados não saudáveis, como os doces, e atentar ao modo de preparo reduzindo as frituras. Em relação a presença de frituras, houve oferta somente em 2 dias do cardápio, o pode ser explicado pelo fato de que a escola possui fornos industriais permitindo a variação das técnicas de preparo. Por outro lado, um estudo realizado com adolescentes no município de Florianópolis, Santa Catarina, encontrou uma prevalência de 8% no consumo diário de frituras, indicando a necessidade de serem desenvolvidas estratégias de educação nutricional voltadas a este público. TÓPICO 3 — MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE CARDÁPIOS 57 A baixa prevalência deste item no presente estudo (10%) e um ponto positivo, se levado em consideração que o consumo de alimentos preparados por essa técnica relacionado a maiores chances de desenvolvimento de DCNT. Além disso, as temperaturas elevadas observadas durante o processo de fritura levam a oxidação do óleo, fazendo com que o mesmo agregue compostos tóxicos e prejudiciais à saúde. Ainda, no presente estudo não foram oferecidas frituras associadas aos doces, visto que não foram ofertados doces em nenhum dia do cardápio, sendo esse resultado considerado “ótimo” em ambos os itens. Os doces são alimentos ricos em açúcar, que, tal como o sal e o óleo, pode ser utilizado em preparações culinárias, desde que em pequenas quantidades, contribuindo para torna-las mais saborosas. A dieta pode exercer fator protetor sobre o câncer bucal, ao mesmo tempo em que as deficiências nutricionais podem estar associadas ao risco de doenças bucais. Especificamente sobre o consumo de açúcar, o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos de Idade, no oitavo passo, recomenda evitar açúcar nos primeiros anos de vida. A literatura afirma efeitos cariogênicos do açúcar, tanto na frequência do consumo quanto na quantidade, na etiologia da carie dentaria, da mesma forma a OMS confirma essa evidência. A ausência de doces no cardápio da presente pesquisa e a baixa oferta de frituras podem ser explicadas pela existência de leis que regulamentam a comercialização dos alimentos nas escolas. Em Minas Gerais, a lei estadual 15.072/200444, que teve dispositivos acrescidos pela Lei 18.372/200945, dispõe sobre a promoção da educação alimentar e nutricional nas escolas públicas e privadas do sistema estadual de ensino, regulamentando a comercialização de alimentos nas escolas, decretando que são vedados o fornecimento de produtos e preparações com altos teores de calorias, gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal, ou com poucos nutrientes45. A resolução número 1.511, de 2010, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais orienta que a comercialização de frituras e doces e proibida nas escolas do estado. Por fim, dos 8 itens avaliados no cardápio, a classificação como “ótimo” ou “bom” ocorreu em 5 deles (presença de hortaliças folhosas; doces; frituras; frituras mais doces e carnes gordurosas), correspondendo a 62,5% de resultado satisfatório, e, apesar de serem importantes os pontos positivos, há muito que melhorar nos itens “presença de frutas, monotonia de cores e alimentos ricos em enxofre”. Além disso, o presente estudo apresenta algumas limitações como, por exemplo: a oferta de alimentos foi avaliada em cardápio de 20 dias, e o mesmo pode variar sazonalmente de acordo com a disponibilidade de alimentos; a falta de informações detalhadas quanto a possibilidade de oferta de frutas em outros 58 UNIDADE 1 — PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UAN horários; ampla variedade de alimentos considerados ricos em enxofre, o que amplia a categoria “péssimo”, sendo que a variação da quantidade de sulfurado entre as fontes não foi considerada. Sabe-se também que, na execução do cardápio, podem ocorrer imprevistos levando a eventuais substituições, não avaliadas. As comparações dos resultados dos estudos aqui discutidos também são limitadas, em parte, por se tratar de escolas de natureza diferente, privada e pública. Destaque-se que a alimentação escolar dos alunos matriculados em escolas públicas e financiada pelo Programa Nacional de Alimentação do Escolar (PNAE) e assim o cardápio oferecido deve atender os objetivos específicos propostos pelo programa. Por fim, a presente análise foi realizada em uma escola privada, supondo-se que há subsídios para um melhor planejamento do cardápio, o que pode explicar a presença de vários itens satisfatórios; no entanto, 3 itens do cardápio: oferta de frutas, presença de alimentos ricos em enxofre e monotomia de cores, ainda precisam de mudanças. [...] FONTE: YGNATIOS, N. T. M.; LIMA, N. N.; PENA, G. das G. Avaliação qualitativa das preparações do cardápio de uma escola privada em um município do interior de Minas Gerais. RASBRAN – Revista da Associação Brasileira de Nutrição. São Paulo, ano 8, n. 1, p. 82-89, jan./jun. 2017. Disponível em: https://www.rasbran.com.br/rasbran/article/download/580/163/. Acesso em: 25 fev. 2021. 59 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O método de Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio (AQPC) é uma ferramenta amplamente utilizada, para auxiliar o profissional nutricionista na avaliação de cardápios. • Permite que o nutricionista realize uma análise qualitativa, considerando critérios para uma avaliação detalhada do cardápio, analisando a qualidade nutricional e sensorial por preparações. • Avalia diferentes critérios como: técnicas de cocção, composição de lipídeos e carboidratos simples nos alimentos/preparações, coloração do cardápio, quantidade de alimentos ricos em enxofre, presença de frutas, verduras e legumes. • Os resultados são apresentados em número e percentual, geralmente dispostos em tabela, para facilitar a visualização e análise. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 60 1 O método de Análise Qualitativa das Preparações do Cardápio (AQPC) é muito utilizado em trabalhos científicos que visam à avaliação de cardápios, e também por nutricionistas que atuam em UAN. Qual é o principal objetivo deste método? 2 O AQPC (Avaliação Qualitativa de Cardápios) é um método que pode ser empregado nas UAN para avaliação dos cardápios. Dentre os critérios que englobam a avaliação de cardápios por este método, estão previstos exceto: a) ( ) Presença de frutas, sucos e vegetais folhosos. b) ( ) Presença de alimentos gordurosos. c) ( ) Presença de alimentos funcionais e fontes de antioxidantes. d) ( ) Presença de alimentos ricos em enxofre. e) ( ) Presença de alimentos de coloração igual. 3 Um critério avaliado pelo método AQPC para avaliação de cardápios é a oferta de vegetais folhosos e frutas. Segundo dadosda Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), o consumo de frutas e hortaliças pela população brasileira está muito abaixo das recomendações para uma alimentação saudável. Explique a importância do consumo diário destes alimentos. 4 O consumo de alimentos ricos em enxofre é benéfico à saúde, porém quando em excesso em uma mesma refeição, pode ocasionar sintomas desconfortáveis como formação excessiva de gases e distensão abdominal. Faça uma lista dos alimentos ricos em enxofre. 5 O consumo excessivo de lipídeos na dieta, em especial de gorduras saturadas e trans, pode contribuir para o acometimento por doenças cardiovasculares, como as dislipidemias e aterosclerose. Ao avaliar um cardápio é de extrema importância conhecer a composição nutricional dos alimentos. Assinale a alternativa que apresenta as três opções de cortes de carnes magros. a) ( ) Linguiça suína, cupim bovino e sassami de frango. b) ( ) Lombo suíno, coração de frango e alcatra bovina. c) ( ) Patinho bovino moído, sobrecoxa de frango desossada e costela suína. d) ( ) Lagarto bovino, peito de frango e bisteca suína. e) ( ) Fígado bovino, ponta de agulha bovina, coxa e sobrecoxa de frango com osso. AUTOATIVIDADE 61 REFERÊNCIAS ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 2. ed. São Paulo: Metha, 2007. ALMEIDA, D. T. Apostila de técnica dietética: planejamento de cardápios. Salvador, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021 BRASIL. Ministério da Fazenda. Portaria Interministerial nº 66, de 25 de agosto de 2006. Altera os parâmetros nutricionais do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2006. Disponível em: https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/108109-programa-de- alimentacao-do-trabalhador-pat-alteracao. Acesso em: 25 fev. 2021. BRASIL. Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991. Regulamenta a profissão de Nutricionista e determina outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/1989_1994/l8234.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. BRASIL. Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976. Dispõe sobre a dedução, do lucro tributável para fins de imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, do dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/1989_1994/l8234.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. CFN – CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2018. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp- content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. CFN – CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 576, de 19 de novembro de 2016. Dispõe sobre procedimentos para solicitação, análise, concessão e anotação de Responsabilidade Técnica do Nutricionista e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2016. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp- content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. FAGUNDES, R. L. M.; COSTA, Y. R. Uso dos alimentos funcionais na alimentação. Revista Higiene Alimentar, v. 17, n. 108, maio, 2003. 62 FONSECA, K. Z.; SANTANA, G. R. Guia prático para gerenciamento de unidades de alimentação e nutrição. Bahia: Editora UFRB, 2012. Disponível em: https://docplayer.com. br/637002-Guia-pratico-para-de-alimentacao-e-nutricao-gerenciamento-de-unidades- karina-zanoti-fonseca-e-gizane-ribeiro-de-santana.html. Acesso em: 25 fev. 2021. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: https:// biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021. KINTON, R.; CESERANI, V.; FOSKETT, D. Enciclopédia de serviços de alimentação. São Paulo: Varela, 1998. KISNER, G. B. Sistema de auxílio a restaurantes para elaboração de cardápios. 2003. 61 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências da Computação) – Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2003. Disponível em: http://dsc.inf.furb.br/arquivos/tccs/monografias/2003-1gilvanibrunokisnervf. pdf. Acesso em: 25 fev. 2021. LUIZETTO, E. M. et al. Alimentos funcionais em alimentação coletiva: reflexões acerca da promoção da saúde fora do domicílio. Nutrire, v. 40, n. 2, p. 188-99, 2015. MELLO, A. V. MORIMOTO, J. M. Avaliação qualitativa das preparações do cardápio de almoço dos funcionários de uma associação para deficientes em São Paulo. Revista UNIVAP, v. 24, n. 46, 2018. NOVELLETTO, D. L; PROENÇA, R. P. C. O Planejamento do cardápio pode interferir nas condições de trabalho em uma unidade de alimentação e nutrição? Revista Nutrição em Pauta, mar., p. 36-40, 2004. PROENÇA, R. P. C.; SOUSA, A. A.; VEIROS, M. B.; HERING, B. Qualidade nutricional e sensorial na produção de refeições. Florianópolis: editora UFSC, 2008. Disponível em: https://nuppre.paginas.ufsc.br/files/2014/04/Proen%C3%A7a- souza-2005-Qualidade-nutricional-e-sensorial-na-produ%C3%A7%C3%A3o-de- refei%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021. PROENÇA, R. P. C.; SOUZA, A. A.; VIEIROS, M. B.; HERING, B. Qualidade nutricional e sensorial na produção de refeições. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, p. 221, 2005. PROENÇA, R. P. C. Inovação tecnológica na produção de alimentação coletiva. Florianópolis: Insular, 1997. Disponível em: https://nuppre.paginas.ufsc.br/ files/2014/04/Proen%C3%A7a-Higiene-Alimentar-1999.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021. RIEKES, B. H. Qualidade em unidades de alimentação e nutrição: uma proposta metodológica considerando aspectos nutricionais e sensoriais, 2004. Dissertação (Mestrado em Nutrição) – Programa de Pós-Graduação em Nutrição, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004. 63 TEIXEIRA, S. M. F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Atheneu, 2006. TEIXEIRA, S. M. F.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. Administração Aplicada às Unidades de Alimentação e Nutrição. São Paulo: Atheneu, 1997. TEIXEIRA, S. M. F.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. B. Administração aplicada às unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Ateneu, 1990. VEIROS, M. B. Análise das condições de trabalho do nutricionista na atuação como promotor de saúde em uma Unidade de Alimentação e Nutrição: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Florianópolis, 2002. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/83961/185539. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 fev. 2021. VEIROS, M. B.; PROENÇA, R. P. C. Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio de uma Unidade de Alimentação e nutrição – método AQPC. Revista Nutrição em Pauta, v. 30, p. 36-42, set./out. 2003. Disponível em: https://nuppre. paginas.ufsc.br/files/2014/04/2003-VEIROS-e-PROEN%C3%87A.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021. 64 65 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar quais são as características físicas e ambientais de cada área da UAN; • perceber a importânciado nutricionista em todas as etapas do planejamento das UAN; • saber quais são as legislações vigentes que determinam a caracterização e dimensionamento das áreas das UAN; • conhecer o dimensionamento área a área da UAN, bem como os equipamentos necessários; • reconhecer todos os aspectos ligados à sustentabilidade dentro dos processos da UAN e como refletem no meio ambiente. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS TÓPICO 2 – DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS TÓPICO 3 – SUSTENTABILIDADE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 66 67 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Você sabia que o profissional Nutricionista tem sua atuação no planejamento físico-funcional das UAN regulamentada através da Lei nº 8.234/91, que dispõe sobre suas atribuições? E que sendo este um campo extremamente abrangente, tendo fundamental importância para o sucesso da UAN, trataremos dos detalhes desse planejamento em cada tópico. Abordaremos as legislações envolvidas no processo de planejamento, pois diversas resoluções e portarias definem os critérios relacionados à edificação, instalações e montagem das UAN, garantindo um efetivo controle de qualidade para fornecimento de alimentos seguros. Acadêmico, você acha que as cozinhas industriais têm as mesmas características das cozinhas domésticas? Não têm, por isso descobriremos quais são as características físicas e ambientais de cada área da UAN, entendendo que o cuidado com o layout também garante que o produto final seja de qualidade, que garante alta produtividade, redução de custos e satisfação dos clientes. Ter conhecimento de quais são essas características, quais legislações buscar e como aplicar é fundamental para sua trajetória acadêmica, assim, você aperfeiçoará seu conhecimento técnico, e ainda as competências, habilidades e atitudes necessárias a um excelente profissional! 2 A LEGISLAÇÃO Prezado acadêmico, você sabe que existem diversas legislações que precisam ser observadas no planejamento das UAN? E ainda que cada Estado e Município podem determinar suas próprias legislações, desde que cumprindo com as nacionais? O planejamento físico das UAN é fundamental para a adequação das instalações aos objetivos, garantindo uma operação com qualidade, tanto do ponto de vista técnico, quanto higiênico. Também contribui para a otimização do trabalho, garantindo conforto para clientes e funcionários. TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 68 Para tanto é necessária uma equipe multiprofissional, que traga os olhares e experiências características de cada área, engenharia, arquitetura, nutrição, gastronomia, pois é um trabalho muito abrangente. Um requisito fundamental para realizar esse planejamento é o conhecimento prévio das legislações vigentes, pois são elas que determinam os padrões e critérios relacionados à montagem, edificação e instalações. Alguns aspectos do planejamento impactam diretamente na qualidade higiênico-sanitária dos produtos, como escolhas adequadas de piso e paredes, localização adequada dos ralos e escoamento da água, facilitando a operação de limpeza e reduzindo os acidentes de trabalho (TEIXEIRA et al., 2007). O bom planejamento traz vantagens como: • Produzir refeições dentro dos critérios estabelecidos pelas legislações, em conformidade com a qualidade higiênico-sanitária, com características sensoriais e nutricionais esperadas. • Permitir maior variabilidade no cardápio, favorecendo a diversificação, de acordo com as expectativas dos clientes. • Implementar, de modo adequado, as Boas Práticas de Fabricação/ Manipulação. • Otimizar o uso dos recursos humanos, incluindo a redução de acidentes. • Garantir o conforto e satisfação dos clientes e funcionários. Caso o planejamento tenha sido mal executado, podem ser percebidas diversas ocorrências indesejadas, como: limitações do cardápio; cruzamento nos fluxos de trabalho, ocasionando interrupções; contaminação cruzada; utilização inadequada de equipamentos, com equipamentos ociosos ou mal localizados; filas e atrasos na distribuição; fatores de ambiência inadequados (alta temperatura e muito ruído por exemplo); redução da produtividade e aumento de custos. Então, caro acadêmico, sendo o estudo detalhado da legislação uma etapa obrigatória antes de iniciar o planejamento físico e funcional de uma UAN, algumas legislações a se observar são: • Portaria SVS/MS 326/1997. • Resolução RDC 275/2002. • Resolução RDC 216/2004. A seguir falaremos mais de cada uma delas. Acadêmico, existem legislações específicas de acordo com o tipo de estabelecimento e devem ser seguidas segundo a ordem: legislação Federal, Estadual e Municipal (se houver). Essas legislações se encontram para consulta através dos sites da Anvisa – em nível nacional, da Secretaria de Saúde Estadual e Secretaria Municipal de Saúde de cada Estado/ Município. IMPORTANT E TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 69 2.1 PORTARIA Nº 326, DE 30 DE JULHO DE 1997 A Portaria dispõe sobre: regulamento técnico sobre as condições higiênico- sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos produtores/ industrializadores de alimentos. E o objetivo da legislação é estabelecer os requisitos gerais (essenciais) de higiene e de boas práticas de fabricação para alimentos produzidos /fabricados para o consumo humano. O item 5 dessa resolução trata das condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e tem como objetivo, estabelecer os requisitos gerais/essenciais e de boas práticas de fabricação a que deve ajustar-se todo o estabelecimento com a finalidade de obter alimentos aptos para o consumo humano. Essa portaria traz os aspectos gerais das edificações e instalações, da localização e vias de acesso e ainda dos equipamentos e utensílios. 2.2 RESOLUÇÃO – RDC Nº 275, DE 21 DE OUTUBRO DE 2002 A Resolução dispõe sobre regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/ industrializadores de alimentos e tem como objetivo, estabelecer Procedimentos Operacionais Padronizados que contribuam para a garantia das condições higiênico-sanitárias necessárias ao processamento/industrialização de alimentos, complementando as Boas Práticas de Fabricação. Os Procedimentos Operacionais Padronizados – POP são os procedimentos escritos de forma objetiva, que estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos. Estes Procedimentos podem apresentar outras nomenclaturas. Se relacionam à: • Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios. • Controle da potabilidade da água. • Higiene e saúde dos manipuladores. • Manejo dos resíduos. • Manutenção preventiva e calibração de equipamentos. • Controle integrado de vetores e pragas urbanas. • Seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens. • Programa de recolhimento de alimentos. Essa Resolução também traz a Lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de alimentos. UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 70 2.3 RESOLUÇÃO N° 216, DE 15 DE SETEMBRO DE 2004 Essa Resolução dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação e tem como objetivo, estabelecer procedimentos de Boas Práticas para serviços de alimentação a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. No seu item 4, fala de cada característica a ser observada na edificação, nas instalações, nos equipamentos, nos móveis e nos utensílios.3 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS INSTALAÇÕES Acadêmico, você sabe quais são as caraterísticas que devem ser observadas nas UAN? Neste tópico, nós veremos detalhadamente cada característica física e ambiental das UAN, seguindo os critérios das legislações vigentes. A ambiência é o conjunto de elementos que condicionam as atividades administrativas e operacionais e determinam a qualidade e quantidade de trabalho produzido. Os principais fatores interferentes na produção são: iluminação, ventilação, temperatura, umidade, cor, sonorização. E entre os fatores que favorecem a ambiência estão: localização; configuração geométrica; revestimentos das paredes, pisos e esquadrias; outras instalações (TEIXEIRA et al., 2007). 3.1 ILUMINAÇÃO A iluminação tem influência sobre as pessoas, e sua utilização adequada evita doenças visuais, aumenta a eficiência do trabalho e reduz acidentes. Ela deve ser uniforme por todo o ambiente, evitando sombras, reflexos fortes e contrastes excessivos. As janelas ou outras aberturas não devem permitir incidência direta do sol sob as bancadas/ equipamentos. As lâmpadas devem permitir limpeza e estarem protegidas contra quedas e explosões acidentais (ABERC, 2013; TEIXEIRA et al., 2007). Acadêmico, vamos falar de todas essas características ao longo da unidade, mas você também pode consultar a legislação completa em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0216_15_09_2004.html. DICAS TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 71 FIGURA 1 – LUMINÁRIA ANTIEXPLOSÃO FONTE: <https://bit.ly/31E3izi>. Acesso em: 5 dez. 2020. De acordo com Teixeira et al. (2007), o tipo de iluminação mais recomendado para UAN é o natural por ser acelerador de trocas orgânicas, bactericida (raios UV) e age como um tônico estimulando às funções do organismo, propiciando sensações de alegria e disposição, relacionando-se com o nível trabalho produzido. A iluminação natural apresenta vantagens econômicas, climáticas e de saúde, além de ser mais confortável ao olho humano e não ter custo de manutenção, também produz menos calor que a luz artificial. Janelas são suficientes quando correspondem em 10 a 15% da área do setor (SANT’ANA, 2012). FIGURA 2 – ILUMINAÇÃO UAN FONTE: Silva et al. (2018, p. 111) A boa iluminação garante a higiene adequada dos ambientes, equipamentos e utensílios; uma boa inspeção da matéria-prima; não distorce as cores dos alimentos e ainda aumenta o conforto visual. UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 72 3.2 VENTILAÇÃO, TEMPERATURA E UMIDADE É importante que sejam vistos em conjunto, uma vez que um interfere no outro. A ventilação adequada proporciona boa renovação do ar, removendo o ar viciado, assegurando conforto térmico, e mantendo o ambiente livre de fungos, gases, fumaça, gordura e condensação de vapores. O fluxo de ar deve ser sempre das áreas limpas para as sujas, não podendo ser usados ventiladores, climatizadores com aspersão de neblina, nem aparelhos de ar-condicionado nas áreas de manipulação (TEIXEIRA et al., 2007; BRASIL, 1997; BRASIL, 2004). O conforto térmico também pode ser garantido por aberturas (janelas), que permitam a circulação natural do ar, com área equivalente a 1/10 da área do piso. Porém, caso não seja possível através de meios naturais, pode-se fazer uso de meios artificiais, como sistemas de insuflação de ar, controlado por filtros, ou sistemas de exaustão. Para operações das UAN, considera-se compatível uma temperatura de 22 °C a 26 °C com umidade relativa de 50 a 60% (ABERC, 2013; ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). QUADRO 1 – LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO MÁXIMA AO CALOR Regime de trabalho Atividade leve (ºC) Atividade moderada (ºC) Trabalho contínuo Até 30 Até 26,7 45 min trabalho/15 min descanso 30,1 a 30,6 26,8 a 28,0 30 min trabalho/30 min descanso 30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 15 min trabalho/45 min descanso 31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 Não é permitido o trabalho sem adoção de medidas de controle Acima de 32,2 Acima de 31,1 FONTE: Segurança e Medicina do Trabalho (1996 apud SANT’ANA, 2013, p. 62) A ausência deste conforto pode causar fatores negativos como prostração, dor de cabeça, mal-estar, tontura, náuseas, vômitos etc. Também pode ajudar no conforto térmico, a escolha adequada dos uniformes, com tecidos que evitem sudorese excessiva. Os exaustores são equipamentos comumente utilizados em UAN para promover a renovação constante do ar interno, no entanto, assim como as aberturas para iluminação e ventilação natural, devem possuir telas milimétricas para impedir o acesso de vetores e pragas urbanas (BRASIL, 1993; BRASIL, 2004). TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 73 FIGURA 3 – SISTEMA DE EXAUSTÃO E INSUFLAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3dtV6ac>. Acesso em: 5 dez. 2020. 3.3 COR A opção por qual cor utilizar, deve ser pautada no seu índice de reflexão (quanto de luz volta ao ambiente após incidir numa superfície), pois elas absorvem a luz, em maior ou menor intensidade. Seu uso adequado melhora o conforto, reduz a fadiga visual, melhora a produtividade e contribui para a segurança dos funcionários. As cores mais indicadas para UAN são as claras, pois têm maior índice de reflexão, o que possibilita tornar o ambiente mais claro, visto que alguns equipamentos, em sua maioria, em aço inoxidável possuem cor com menor índice de reflexão (TEIXEIRA et al., 2007). As cores nas UAN devem estar divididas da seguinte forma: QUADRO 2 – DIVISÃO CORES PELO ÍNDICE REFLEXÃO LOCAL IR (TEIXEIRA et al, 2007) IR (MEZOMO et al, 2014) CORES Teto e alto das paredes (acima da altura dos olhos) Acima de 80 80 a 95% Branco Paredes (abaixo da altura dos olhos) 50 a 75% 50 a 60% Creme, amarelo, azul claro, rosa Pisos 15 a 30% 30 a 45% Verde, cinza, azul escuro FONTE: A autora A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2015) determina as cores que precisam ser utilizadas para prevenir acidentes, em cada local de trabalho, conforme: UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 74 • o VERMELHO é usado para distinguir e identificar perigo, por exemplo em equipamentos e aparelhos de proteção e combate a incêndio, sendo muito usado nos alarmes, hidrantes, extintores e portas de saída de emergência; • o AMARELO é utilizado para indicar cuidado e atenção, sendo comum em parapeitos, corrimões, portas baixas de escadas etc.; • o VERDE indica segurança, sendo usado materiais e caixas de emergência, quadro de avisos e exposição de cartazes; • o PRETO é utilizado para indicar coletores de resíduos; • o BRANCOBRANCO é empregado em áreas de bebedouros, áreas de armazenagem e zonas de segurança. De acordo com Sant’Ana (2012, p. 60), “nas UAN as cores recomendadas para canalizações incluem: branco para vapor, verde-folha para água fria, laranja para água quente e alumínico para gás”. QUADRO 3 – ÍNDICES DE REFLEXÃO DAS CORES E INDICAÇÃO DE USO Cores Índice de reflexão (%) Indicação Branco leitoso 100 Teto (cor mais indicada) Branco cal 85 Teto (a cor pode ser utilizada Pérola 84 Cor não indicada Alumínio 83 Cor não indicada Branco gelo 79 Cor não indicada Amarelo 70 Cor não indicada Amarelo superclaro 60 Parede Rosa superclaro 60 Parede Areia 60 Parede Azul superclaro 50 Parede Cinza superclaro 50 Parede Verde-claro 40 Piso Cinza médio 35 Piso Verde-oliva 25 Cor não indicada Vermelho 17 Cor não indicada Carmim-marrom 10 Cor não indicada Roxo 05 Cor não indicada Preto 00 Cor não indicada FONTE: Sant’Ana (2012, p. 61) TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 75 3.4 SONORIZAÇÂO Nas UAN há uma grande produção de ruídos, em função da variedade e quantidade de equipamentos, pelos sistemas de exaustão funcionando, processos de higienização e manipulação de utensílios, e ressonância das superfícies metálicas (SANT’ANA, 2012). Um ambiente que tenha sons irritantes e conflitantes, leva a reações negativas que interferem na execução das tarefas. O ruído é considerado umadas causas de doenças psicológicas, ocasionando uma série de consequências, como perda da capacidade auditiva por exemplo (TEIXEIRA et al., 2007). A capacidade auditiva do homem vai de 0 a 120 decibéis, porém em torno de 70-80 dB já prejudica a saúde, passando dos 80 dB já prejudica o aparelho auditivo. Em uma UAN, sempre que possível, o ruído deve ser mantido entre 45- 55 dB, não ultrapassando 70 dB. A Norma Regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho indica que um indivíduo não pode ficar exposto por mais de 8 horas em um ambiente com um ruído contínuo de 85 decibéis. Níveis de ruído acima de 115 decibéis exige proteção auricular (BRASIL, 2011). O isolamento acústico é um processo que auxilia na redução dos ruídos nos recintos mais barulhentos. Dessa maneira é importante a escolha de elementos que auxiliem a diminuir os sons, com especial atenção nos setores de higienização e no salão das refeições (SANT’ANA, 2012). QUADRO 4 – LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDOS Nível de ruídos (dB) Máxima exposição diária permitida 85 8h 87 6h 90 4h 92 3h 95 2h 100 1h Infelizmente muitas pessoas e muitos locais ainda desconhecem as recomendações e as legislações e acreditam que uma cozinha industrial deve possuir as mesmas características de uma cozinha doméstica. Imagine como é difícil para o nutricionista orientar corretamente os clientes leigos que querem usar, por exemplo, porcelanato no piso da cozinha, ou bancadas de mármore escuras, ou as cores ‘da moda’ nas paredes. IMPORTANT E UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 76 105 30min 110 15min 115 7min FONTE: Sant’Ana (2012, p. 61) Para o controle dos ruídos, algumas estratégias podem ser adotadas (ABERC, 2013): • Construções de setores de higienização com paredes integrais e portas que se mantenham fechadas. • Sistemas de exaustão com controle de ruídos. • Carros com rodízios de borracha. • Empregar materiais acústicos e isolantes para o teto e as paredes. • Os equipamentos não devem ser instalados nos cantos ou junto às paredes. • As paredes não podem estar a mais de 25 metros umas das outras. • Não usar formatos circulares ou côncavos na configuração da cozinha. Se o pé direito for superior a 3,5 metros, recomenda-se instalação de um forro falso para o isolamento acústico (MEZOMO, 2014). 3.5 LOCALIZAÇÃO A escolha adequada da localização tem importância fundamental para o adequado funcionamento da UAN, bem como cumprir com seu objetivo. A melhor localização é voltada para o nascente (para maior conforto térmico), em bloco isolado (facilita ampliações e melhorias), quando não for possível, inserir na esquina do prédio (TEIXEIRA et al., 2007). Se houver pavimento superior deve ter elevador ou monta-carga específico (MEZOMO, 2014). Deve, sempre que possível, localizar-se em pavimento térreo, de forma a proporcionar fácil acesso externo para abastecimento, iluminação natural e ótimas condições de ventilação. Na impossibilidade da localização no andar térreo, sugere-se a instalação de elevadores e/ou monta cargas específicos. Seu projeto, suas instalações e suas áreas circundantes devem facilitar as operações de manutenção e limpeza, evitar as contaminações ambientais e impedir a entrada e/ou proliferação de animais, pássaros, insetos, roedores e demais pragas (ABERC, 2013, p. 45). TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 77 FIGURA 4 – LAYOUT COZINHA INDUSTRIAL TÉRREA FONTE: <https://bit.ly/3rF2OUc>. Acesso em: 25 nov. 2020. 3.6 CONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA Deve garantir melhor circulação e disposição dos equipamentos, evitando caminhadas desnecessárias, otimização do fluxo de produção, inibindo contaminação cruzada por fluxos sobrepostos (marcha avante) e facilitando a supervisão. A forma mais indicada é a retangular desde que o comprimento não seja maior de 1,5 a 2 vezes a largura (TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 5 – CONFIGURAÇÃO RETANGULAR FONTE: <https://marcelosbarra.com/wp-content/uploads/2019/04/COZINHA-1024x667.jpg>. Acesso em: 25 nov. 2020. UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 78 3.7 REVESTIMENTOS A escolha de revestimentos adequados, assim como sua correta aplicação, deve ser observada com a devida importância e vão variar de acordo com a finalidade do local (TEIXEIRA et al., 2007). 3.7.1 Pisos Os pisos devem ser de material liso, resistentes, impermeáveis, que permitam se manter em bom estado, que sejam resistentes a substâncias corrosivas, assim como deve ser de fácil limpeza (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). A característica antiderrapante também deve ser observada, a fim de minimizar a ocorrência de acidentes. No que diz respeito à cor, o seu índice de reflexão deve estar situado entre 15 e 30%. Além disso, o piso deve ter um único nível, evitando os acidentes de trabalho e favorecendo o deslocamento, também deve ser inclinado em direção aos ralos (TEIXEIRA et al., 2007). 3.7.2 Paredes As paredes devem ter acabamento liso, lavável e impermeável, devem ser de cores claras, se azulejadas, devem ter altura mínima de dois metros, e os ângulos do contato do piso com a parede devem ser arredondados (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). Quanto à colocação de azulejos deve-se ter um cuidado especial, principalmente nas áreas em que o calor e a umidade são maiores, principalmente no material dos rejuntes. Quanto à cor, o índice de reflexão deve ser na faixa de 50 a 75% (TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 6 – EXEMPLO DE REVESTIMENTOS DO PISO E PAREDES FONTE: <https://www.aecweb.com.br/prod/cls/anuncios/pes_37003/Piso%202%20-%20med>. jpg. Acesso em: 25 nov. 2020. TÓPICO 1 — CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E AMBIENTAIS DAS ÁREAS 79 3.7.3 Portas e janelas As portas devem ser de cores claras, de superfície lisa, fácil limpeza, bem ajustadas, de material não poroso e que possuam fechamento automático (por mola ou outro) e protetor de rodapé. Portas principais e de câmaras frias devem ter proteção contra pragas (insetos e roedores), podendo ser cortinas de ar ou similares (ABERC, 2013; ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). Já as janelas precisam ter telas milimétricas (2 mm), superfícies lisas e laváveis, ausência de falhas de revestimento e ajustes perfeitos aos batentes, devem ser fixas e usadas preferencialmente para iluminação. As telas também precisam ser laváveis (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019; TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 7 – EXEMPLO DE JANELAS E PORTAS FONTE: <https://bit.ly/39zCAvV>. Acesso em: 25 nov. 2020. 3.8 INSTALAÇÕES “Como instalações são consideradas todas as redes (elétrica, hidráulica, de vapor, de emergência etc.) que proporcionam uma infraestrutura à UAN. Como tal devem ser dimensionadas corretamente” (TEIXEIRA et al., 2007, p. 89). • Instalações hidráulicas: O abastecimento de água potável deve estar ligado à rede pública, ou outra fonte com potabilidade atestada. O reservatório de água deve ser provido de superfície lisa, impermeável, feita de material atóxico, inodoro e resistente aos produtos e processos de higienização. “O vapor, quando utilizado em contato com produtos ou superfícies que entram em contato com alimentos, não pode representar riscos de contaminação” (ABERC, 2013, p. 49). • Outras: todas as tubulações devem obedecer às regras das legislações, também quanto à cor para identificação de cada rede em específico. As redes de comunicação, emergência, exaustão, devem ser estruturadas cuidadosamente, para que sejam produzidas refeições dentro dos padrões técnicos (TEIXEIRA et al., 2007). 80 Neste tópico, você aprendeu que: • O planejamento físico-funcional das UAN deve ser realizado com muito cuidado e atenção, garantindo que os alimentos sejam produzidos com qualidade e segurança. • Existem legislações que devem ser seguidas para realizar o planejamento das UAN. • As características físicas e ambientais devem favorecer a produtividade da UAN. • As cozinhas devem ser bem iluminadas, preferencialmente por fonte natural, garantindo conforto visual, evitando reflexos. • Temperatura, ventilação e umidade estãointerligadas, pois um interfere no outro. A garantia do conforto térmico é essencial, e pode ser conseguida através de janelas (forma natural) ou ainda por sistemas mecânicos (exaustores por exemplo). • As cores mais adequadas para os serviços de alimentação são as claras, com índice de reflexão correto para cada área. • A sonorização, que trata dos ruídos do ambiente, deve assegurar que o nível de dB não ultrapasse o máximo permitido para cada área, e também observado por período de tempo trabalhado. • A localização, configuração geométrica, revestimentos e instalações devem ser realizadas de forma a garantir que a ambiência adequada seja conseguida. RESUMO DO TÓPICO 1 81 1 No planejamento de uma UAN, a escolha das cores para os revestimentos deve obedecer a algumas regras, como o padrão de índice de reflexão com o objetivo de evitar fadiga visual e modificações nas cores dos alimentos. Para os revestimentos as cores cinza médio, amarela e branco cal possuem índice reflexão de, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) 35%, 70% e 85%. b) ( ) 50%, 35% e 80%. c) ( ) 80%, 70% e 35%. d) ( ) 35%, 80% e 85%. 2 A configuração geométrica deve garantir melhor circulação e disposição dos equipamentos, evitando caminhadas desnecessárias, otimização do fluxo de produção, inibindo contaminação cruzada por fluxos sobrepostos (marcha avante) e facilitando a supervisão (TEIXEIRA et al., 2007). Dentre as configurações mais adequadas para uma UAN, a mais indicada é: a) ( ) Retangular. b) ( ) Quadrada. c) ( ) Circular. d) ( ) Côncava. 3 Os ruídos, quando em excesso em uma UAN, podem ocasionar problemas auditivos aos colaboradores. Para evitar que isso ocorra, é preciso tomar alguns cuidados no momento do planejamento da área física. I - As paredes não podem estar a mais de 25 metros de distância entre si. II - Os equipamentos não podem estar juntos às paredes. III - As formas côncavas devem ser evitadas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 4 Sabendo que as legislações são fundamentais desde o estabelecimento da UAN, quanto às suas qualidades físicas/estruturais, até os equipamentos e móveis mais adequados, bem como a proteção dos trabalhadores desses locais, algumas se destacam por serem mais completas e servirem de guia nesse planejamento. Pensando nisso, quais são as diferenças entre a Portaria 326 e a RDC 216? AUTOATIVIDADE 82 5 Ao planejar uma UAN, é preciso dimensionar a área física e determinar os equipamentos necessários para o funcionamento da unidade, bem como observar todas as características que as legislações trazem, a fim de estar dentro dos padrões exigidos, garantindo a segurança alimentar. Baseado no que já foi esplanado neste tópico, disserte sobre as principais características estruturais que uma UAN deve ter. 83 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, você sabia que são necessárias áreas diferentes para cada tipo de preparo dentro de uma UAN? Sabia que o dimensionamento das áreas e equipamentos de uma UAN é fundamental, para garantir a segurança do ponto de vista higiênico-sanitário, evitando que ocorra a contaminação cruzada? Pois bem, as áreas das UAN deverão ser planejadas seguindo um fluxo coerente, sem cruzamentos desnecessários entre as atividades, garantindo assim a segurança e a qualidade dos alimentos ali produzidos, contribuindo para a boa execução dos cardápios. No Tópico 2, nós abordaremos cada uma das áreas que compõe uma UAN, bem como as características delas. Também falaremos dos equipamentos mais utilizados, a quantidade necessária para fornecer refeições adequadas, otimizando a mão de obra e evitando desperdícios. 2 ÁREAS DE UMA UAN “O dimensionamento dos setores de uma UAN, inclui o cálculo da área necessária para cada setor e a definição das dimensões dos diferentes setores”. É um processo que exige engajamento de toda equipe, para que não haja sub ou superestimação de nenhum espaço. As áreas adequadas garantem o conforto aos clientes e funcionários, contribuindo para que a produtividade aumente (SANT’ANA, 2013, p. 85). Setores com área maior do que a necessária pode exigir deslocamentos desnecessários dos funcionários e levar à necessidade de manter espaços ociosos organizados e limpos, além de onerar desnecessariamente a construção e a montagem de uma UAN. Por outro lado, setores com áreas subdimensionadas podem aumentar o risco de acidentes, dificultar a execução de cardápios equilibrados e variados e levar à falta de espaços para instalação dos equipamentos, superfícies de trabalho e móveis na variedade e quantidade necessária (SANT’ANA, 2013, p. 85). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 84 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 2.1 PARÂMETROS DO DIMENSIONAMENTO Existem alguns parâmetros que podem influenciar no dimensionamento de uma UAN como: características específicas do tipo de estabelecimento; número total de refeições; capacidade máxima de atendimento (CMA); padrão de cardápios; sistema e modalidade de distribuição; tipos de refeições a serem elaboradas; tipos de alimentos pré-elaborados utilizados; condições de espaço disponíveis; disponibilidade financeira; outros fatores. O tipo de estabelecimento vai influenciar no dimensionamento da UAN, bem como na definição de quais setores serão necessários. Em unidades do tipo comercial, por exemplo, pode ser necessário um espaço maior destinado aos clientes (SANT’ANA, 2013). O número total de refeições influencia diretamente no dimensionamento, pois é possível saber se existe necessidade de maior ou menor setorização, ou seja, mais áreas destinadas para diferentes finalidades. Quanto maior o número de refeições, maior volume de alimentos e maior necessidade de separar as áreas, de modo que o risco de contaminação seja reduzido. Os sistemas de distribuição podem influenciar no dimensionamento, pois as necessidades de espaços são diferentes. São, segundo SENAC (2007, p. 47): • Distribuição centralizada – “na UAN, a refeição preparada é colocada em recipiente de inox e levada até o balcão de distribuição localizada no mesmo andar”. • Distribuição descentralizada – “[...] ocorre quando há transporte da refeição fazendo com que a distribuição seja em local diferente da área de preparo”. • Distribuição mista – “mescla os dois tipos de distribuição [...] geralmente neste sistema nas refeições maiores como almoço e jantar é utilizada a distribuição centralizada, enquanto as refeições menores como o desjejum, colação e lanche são distribuídas descentralizados”. Já modalidades de distribuição podem ser: “cafeteria, à francesa, à americana, serviço à mesa” (TEIXEIRA et al., 2007, p. 96). Quanto ao padrão dos cardápios, eles podem ser: popular, médio e de luxo. Popular é aquele com baixo custo, com preparações mais simples, portanto, que exige menos da mão de obra. O padrão médio é aquele que possui preparações mais elaboradas, mas ainda sem requinte; enquanto no de luxo, os alimentos são de preço mais elevado, com representantes de cada grupo básico componente do cardápio (TEIXEIRA et al., 2007). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 85 2.2 ÁREA PARA RECEBIMENTO DE MERCADORIAS Deverá ser situada, de preferência, em áreas externas ao prédio, e próximo à estocagem (seco e frio), de fácil acesso aos fornecedores (caminhões e carros de entrega) e preferencialmente ter plataforma de descarga, rampa e marquise para proteção dos produtos na hora da entrega. Não deve existir cruzamento de matérias-primas com o lixo. Recomenda-se que esta área tenha pia para pré- higienização dos vegetais e outros produtos. São necessários balanças, palet, caixas vazadas, termômetro, monoblocos e carro hidráulico. Se for em andar diferente da área de armazenamento, deverá contar com elevador do tipomonta- carga (ABERC, 2013; SENAC, 2007). A conferência e registros relativos à data de entrega, quantidade e padrão de qualidade das mercadorias são realizados no setor de recebimento (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). FIGURA 8 – ÁREA DE RECEPÇÃO FONTE: <https://gestaodesands.files.wordpress.com/2017/01/area-de-recebimento-das-mercadorias.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2020. FIGURA 9 – ÁREA PESAGEM E PRÉ-HIGIENIZAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3fxBzIB>. Acesso em: 10 dez. 2020. 86 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 2.3 ÁREAS PARA ESTOCAGEM Este é um local para fins de armazenamento dos alimentos, deve estar próxima à área de recepção e acessível à área de produção, evitando que se transporte até muito longe, assim como circulações excessivas. Deve ser constituída por um local de armazenamento a seco (estoque/ almoxarifado) e locais refrigerados, que podem ser refrigeradores/ freezers ou mesmo câmaras frias (TEIXEIRA et al., 2007). Os gêneros para estocagem se classificam em: • Perecíveis – os gêneros que estragam facilmente, tem prazo de validade menor, geralmente são produtos com bastante água em sua composição, devem ser armazenados em locais de temperatura controlada, como refrigeradores/ câmaras frias. Alguns exemplos são leites e derivados, produtos cárneos, frutas e vegetais. • Não perecíveis – são aqueles que tem prazo de validade maior, menos água em sua composição, devem ser armazenados no estoque/almoxarifado, não precisam de temperaturas tão baixas, nem estragam tão rapidamente. Exemplos: macarrão, café, óleo, açúcar, feijão, enlatados. • Semiperecíveis – são os intermediários, expostos a vários métodos de conservação. São exemplos as conservas e também os alimentos com casca, como batatas, cenoura, beterraba e cebola, que ajuda na conservação. 2.3.1 Almoxarifado/estoque Área de armazenamento dos produtos não perecíveis, à temperatura ambiente; deve ser um local claro, com boa ventilação e mantido limpo. As prateleiras devem estar a 25 cm do piso e ter profundidade não superior a 45 cm, assim como devem existir estrados (palets) com altura de 25 a 40 cm do chão, balança, carros para transporte e mesa (SENAC, 2007). Segundo Teixeira et al. (2007, p. 92), o estoque deve ter as seguintes características: • Porta única, larga e alta, simples ou em seções; • Borracha de vedação na parte inferior da porta; • Piso em material lavável e resistente; • Não apresentar ralos para escoamento de água; • Boa iluminação, ventilação cruzada ou mecânica, que permita ampla circulação de ar entre as mercadorias; • Janelas e aberturas teladas; • Temperatura nunca superior a 27 ºC; • Inexistência de tubulações aparentes de água e vapor, salvo se muito bem isoladas; [...] • Extintor de incêndio; • Lavatório. TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 87 Nesta área, deve-se ter especial atenção quanto aos materiais de limpeza (produtos químicos), que devem ser armazenados de forma separada dos alimentos, em outro local. Quando não for possível, os produtos devem ser armazenados na última prateleira, mais próximos do piso, para que não aconteça a contaminação química dos alimentos (SENAC, 2007). FIGURA 10 – ESTOQUE FONTE: <https://bit.ly/3wjaizH>. Acesso em: 10 dez. 2020. 2.3.2 Estoque frio O Senac (2007) diz que essa área se destina à estocagem de gêneros perecíveis ou para aqueles que são rapidamente deterioráveis em temperatura ambiente. Os critérios de temperatura devem seguir as recomendações da Legislação. Em virtude de os alimentos utilizados serem muito diversos, e com diferentes recomendações de temperaturas, recomenda-se a instalação de três câmaras frigoríficas: • câmara para produtos cárneos (com temperatura entre 0 e 4 °C); • câmara para laticínios e sobremesas (temperatura entre 4 e 6 °C); • câmara de hortifrutigranjeiros (temperatura entre 8 e 10 °C). As câmaras, se possuírem azulejos, não devem ser na parede inteira (piso ao teto); o restante pode ser revestido de tinta do tipo PVA ou epóxi; devem ser no mesmo nível do piso da área externa, sem ralos; precisam ter termômetros do tipo mostrador, permitindo a leitura pelo lado externo, bem como interruptor de segurança; prateleiras em inox, bandejas de alumínio ou plásticas; e suas portas devem ser de inox, com dispositivos de abertura por dentro, para segurança (TEIXEIRA et al., 2007). “É importante que as câmaras frias apresentem antecâmara com objetivo da proteção térmica das demais câmaras. A necessidade da câmara de congelamento (temperatura -18 °C a -20 °C) deve ser analisada em função das facilidades de abastecimento e utilização imediata dos produtos” (SENAC, 2007, p. 40). 88 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN As câmaras podem ser substituídas por refrigeradores do tipo horizontal ou vertical e freezers. FIGURA 11 – CÂMARA FRIA PARTE EXTERNA FONTE: <https://bit.ly/3cDllvH>. Acesso em: 10 dez. 2020. FIGURA 12 – CÂMARA FRIA PARTE INTERNA FONTE: <https://bit.ly/31AQKZq>. Acesso em: 10 dez. 2020. 2.4 ÁREAS PARA PRODUÇÃO/ PROCESSAMENTO Essa área é subdividida em unidades de pré-preparo, cocção, expedição das preparações, higienização dos utensílios de cozinha. Nos hospitais ainda tem a cozinha dietética, que deve preferencialmente ser separada. Com exceção da área de higienização, as demais não precisam ser separadas necessariamente por paredes, mas podem ter balcões que façam a divisão, pois as paredes acabariam por dificultar os processos e a supervisão (TEIXEIRA et al., 2008). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 89 2.4.1 Área de pré-preparo A área de pré-preparo é aquela onde irão acontecer as atividades e procedimentos de manipulação de alimentos, anteriores a etapa de cocção (BRASIL, 2007). É uma área que pode ser subdividida em pré-preparo de cereais, carnes, vegetais, sobremesa, sucos etc. As áreas de pré-preparo devem dispor de bancadas de trabalho com cubas (pias) para higienização, com altura entre 85 cm e 90 cm, este setor pode ser utilizado para diversos tipos de pré-preparos, mas, normalmente ocorrendo em horários diferentes (TEIXEIRA et al., 2007; BRASIL, 2007). Segundo SENAC (2007, p. 41), as especificações de cada uma dessas áreas são: • Pré-preparo de carnes – Esta área é necessária às unidades (quaisquer unidades), independentemente do número de refeições que receba carnes em peças para corte; deve ser provido de mesas com tampos de polipropileno removíveis que, para evitar contaminação, a cada manipulação de produto deverá ser realizada desinfecção. [...] Esta área, de preferência, deve ser localizada próxima às câmaras frias para facilidade do transporte e armazenamento; a legislação sugere também a climatização do ambiente possibilitando maior tempo de manipulação das carnes com menor variação da temperatura. • Pré-preparo de hortaliças – Esta área é destinada ao preparo de saladas, frutas e corte de hortaliças para a cocção. O fluxo deve garantir uma manipulação correta onde não ocorra contaminação cruzada. [...] Deve contar com balcões com tampo de inox dotados de cubas profundas, com torneiras e chuveiros para lavagem de vegetais, mesas de aço inox ou mesas com tampo em polipropileno. [...] Ainda é necessário contar com refrigerador para o armazenamento dos produtos processados [...]. • Pré-preparo de sobremesas – Área destinada ao preparo de sobremesas e toda linha de salgados e doces para coffee-breaks, cocktails, breakfast, etc. São necessárias mesas de trabalho, com obrigatoriedade de pelo menos um tampo de pedra (clara) para o trabalho de massas. Na utilização para o manuseio de cremes, o controle de temperatura e sua localização são fundamentais. FIGURA 13 – ÁREAS DE PRÉ-PREPARO FONTE: <https://bit.ly/3maceFS>. Acesso em: 10 dez. 2020. 90 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 2.4.2 Área de cocção Esta área deve estar entre a área de pré-preparo e a distribuição e a organização estar relacionada ao fluxo dos alimentos e de acordo com a localização dosequipamentos necessários, de forma a ter um fluxo racional e linear, que evita o desperdício de tempo e contaminação cruzada. Esta área é responsável pela finalização das refeições envolvendo a confecção de assados, cozidos, grelhados e frituras (SENAC, 2007; TEIXEIRA et al., 2007). É um setor que se diferencia de acordo com o tipo de cocção empregada e da escolha dos equipamentos, é preciso que os locais de instalação sejam detalhados, a fim de minimizar as consequências do uso deles, como calor excessivo, e cuidado com o tipo de combustível usado. Assim, eles devem ser alocados em locais próximos as paredes, facilitando o deslocamento, evitando acidentes. Panelões e/ou caldeirões devem estar próximos às janelas, e fogão localizados em ilhas, para que possa ser acessado por todos os lados. Essa área ainda precisa contar com um sistema de higienização de mãos, com pias exclusivas com sistema de acionamento não manual, sabonete bactericida e papel toalha (SANT’ANA, 2012). Nesta área, quando possível, deve ser evitado que tenha refrigeradores ou congeladores, pois o calor em excesso pode comprometer o seu funcionamento e por consequência a garantia de manutenção da temperatura adequada (ABERC, 2013). FIGURA 14 – ÁREA DE COCÇÃO FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/9f/5c/ba/9f5cba640a078cf70356d289800e484d.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2020. TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 91 Depois de prontas, as preparações quando não seguirem direto para distribuição e consumo final, precisam ficar armazenadas ou serem transportadas para depois serem servidas. Esse armazenamento e transporte devem seguir normas de controle de tempo e temperatura, conforme as legislações. ATENCAO 2.4.3 Área de expedição das preparações Em locais onde o refeitório for contínuo à cozinha, as refeições podem sair da área de cocção diretamente para a área de distribuição, através de carros de transporte ou de ‘pass-throught’ para o abastecimento do balcão de distribuição. Caso não, é necessária a existência de uma área específica para expedir as preparações, antes que elas atinjam sua etapa final de distribuição ou transporte. Em hospitais, se o serviço for centralizado, essa área deverá ser maior, com balcão ou esteira rolante, onde as bandejas serão porcionadas para encaminhar aos pacientes (ABERC, 2013; TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 15 – ÁREA DE EXPEDIÇÃO DE PREPARAÇÕES FONTE: <https://bit.ly/3ulAgAM>. Acesso em: 10 dez. 2020. 2.4.4 Higienização dos utensílios de cozinha Este setor deve ficar próximo da área de produção, isolado por paredes, porém sem prejudicar a ventilação e iluminação. É o responsável pela higienização de todos os utensílios utilizados no preparo e distribuição das refeições, não se aconselha que seja a mesma área de higienização dos utensílios de mesa, devido ao excesso de ruído, diferenças nos materiais, e quantidade de gordura. Este local exige um sistema de drenagem bem planejado, visto ser um local que está permanentemente molhado (ABERC, 2013; TEIXEIRA et al., 2007). 92 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN Devem pertencer a esta área: “pias com cubas grandes, estrados no chão removíveis (palet), paneleiro e prateleiras vazadas para guarda dos utensílios limpos, torneira automática com instalação de água quente e fria, recipientes para coleta de resíduos, suporte para os materiais de limpeza como escovas, esponjas e frascos de detergente” (SENAC, 2007, p. 46). FIGURA 16 – ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO UTENSÍLIOS COZINHA FONTE: <https://bit.ly/3fIvJUN>. Acesso em: 10 dez. 2020. 2.4.5 Área de cozinha dietética Local destinado ao preparo das dietas especiais. A cozinha dietética quando puder ser separada da cozinha geral, deve ter a mesma estrutura, equipamentos e utensílios da área de cocção, e devem ser separados para facilitar a produção. “Normalmente, o número de dietas normais é maior do que as dietas restritas e pode-se adequar o número e tamanho dos materiais e equipamentos para a produção de menor volume” (SENAC, 2007, p. 43). FIGURA 17 – ÁREA DE COZINHA DIETÉTICA FONTE: <https://bit.ly/2PSjL05>. Acesso em: 10 dez. 2020. TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 93 2.5 ÁREA DE DISTRIBUIÇÃO É a área onde acontece a entrega das refeições; se delimita a partir da modalidade ou tipo de distribuição oferecida, bem como com o padrão de atendimento. Dependendo das dimensões e de quantas pessoas são atendidas, podem-se usar múltiplas linhas de distribuição, dessa maneira, “o cliente tem livre trânsito entre os balcões para escolher em que seção deseja ir primeiro (setor multiponto de distribuição). Neste sistema, os balcões podem ser alinhados, semelhante ao sistema cafeteria ou em caso de um número de refeições maior, aconselha-se a utilização de ‘ilhas’” (SENAC, 2007, p. 46. Os balcões ainda podem alinhar-se de forma retilínea, em curva, em “L”, em “U” ou com outros arranjos, tais como; usando apenas de um lado ou também dos dois lados). Quando se adota o sistema autosserviço ou de serviço à mesa, a distribuição fica inserida no próprio salão de refeições, cujo planejamento deve ser feito enfatizando este aspecto. Neste caso, há uma necessidade de uma copa de apoio para o salão de refeições (TEIXEIRA et al., 2007, p. 98). O salão de refeições deve ser bem ambientado e o mais agradável possível. A necessidade de diversificação vai depender do tipo de clientela ou clima de trabalho, que deve ser analisado criteriosamente, respeitando a política da empresa. O tipo de mobiliário também merece atenção durante o planejamento, pois o número de lugares, tipo de assento, são itens que vão interferir. O refeitório deve ter as características estruturais das áreas de processamento, inclusive deve possuir lavatórios para as mãos (BRASIL, 2007; TEIXEIRA et al., 2007; ABERC, 2013). Os ornamentos e plantas não devem propiciar contaminação dos alimentos. As plantas não devem ser adubadas com adubo orgânico e não devem estar entre o fluxo de ar e os alimentos, nem próximo a eles (sobre balcão de distribuição e/ou mesas dos usuários). Permite-se a existência de ventiladores no refeitório desde que o fluxo de ar não incida diretamente sobre os ornamentos, plantas e alimentos (ABERC, 2013, p. 95). A linha de distribuição deve estar localizada próxima à cozinha, facilitando o reabastecimento, e também de forma a garantir conforto do usuário, como uma melhor disposição dos alimentos em relação ao fluxo de clientes (SENAC, 2007). FIGURA 18 – ÁREA DE EXPEDIÇÃO DAS PREPARAÇÕES FONTE: <https://bit.ly/3us7pdV>. Acesso em: 10 dez. 2020. 94 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 2.6 ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO DE BANDEJAS E UTENSÍLIOS DE MESA A área de higienização destinada aos utensílios, também conhecida como área de devolução de bandejas, é o setor onde ocorre a lavagem e higienização dos utensílios (pratos, bandejas e talheres) utilizados pelos clientes para consumir a refeição. Recomenda-se que seja adjacente ao salão, comunicando-se através de um guichê para recepção dos materiais usados. Deve possuir local para guarda dos utensílios após a higienização, de modo que não haja cruzamento dos limpos com os sujos, nem com alimentos (ABERC, 2013; TEIXEIRA et al., 2007; SENAC, 2007). “Por ser uma área de transmissão de alto grau de ruído deverá ser instalada em sala fechada, se possível com tratamento acústico, além dos funcionários utilizarem os EPIs adequados” (SENAC, 2007, p. 46). FIGURA 19 – ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3ut1JRd>. Acesso em: 11 dez. 2020. 2.7 ÁREA DA SALA DA ADMINISTRAÇÃO Esta área deve ficar em um local que facilite a visão para toda a produção. Por exemplo, mais elevado o piso (mais alta que o restante da produção), com um visor em toda a extensão, é o ideal, ou seja, envidraçada. Nos locais onde houver nutricionista de produção, clínica e chefia, a primeira deve ter seu local de trabalho na área de produção, a segunda próximo aos locais de internação e a terceiradeve ficar junto às outras chefias, neste caso faz-se necessário um bom esquema de comunicação (TEIXEIRA et al., 2007). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 95 FIGURA 20 – SALA DA ADMINISTRAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/2PT38kW>. Acesso em: 11 dez. 2020. 2.8 ÁREA DA INSTALAÇÕES SANITÁRIAS E VESTIÁRIOS “Devido à importância da higiene corporal na preservação do grau de higiene dos alimentos, recomenda-se que as instalações sanitárias e vestiários, sejam exclusivos à equipe que trabalha na UAN” (ABERC, 2013, p. 56). De acordo com ABERC (2013, p. 56, grifo do original) essas áreas devem ser adequadas, em bom estado de conservação, separadas por sexo, com vasos sanitários com tampas, nas seguintes proporções: • 1 (uma) bacia sanitária com tampa e descarga em bom estado de conservação e funcionamento, 1 (um) mictório, 1 (um) lavatório e 1 (um) chuveiro para cada 20 empregados do sexo masculino; • 1 (uma) bacia sanitária com tampa e descarga em bom estado de conservação e funcionamento, 1 (um) lavatório e 1 (um) chuveiro para cada 20 empregados do sexo feminino. Essas instalações não podem ter comunicação direta com a produção dos alimentos, devem ser providas de água corrente, e possuírem conexão com a rede de esgoto. Pisos e revestimentos devem seguir os padrões do restante da UAN; as portas devem ser dotadas de sistema de fechamento automático e possuir barreiras contra as pragas (insetos e roedores), em bom estado de conservação. Também devem ter sempre abastecidos produtos de higiene das mãos, adequados; papel higiênico sempre disponível; com recipientes com pedal, para o descarte do papel usado (SENAC, 2007). Os vestiários devem ter 1 (um) armário para cada funcionário, devendo estar organizados de forma a prevenir a contaminação dos uniformes e dispostos de modo a permitir a higienização do local. Os calçados, também devem ser dispostos em local limpo e organizado, prevenindo a contaminação de uniformes, roupas de uso pessoal e demais objetos (ABERC, 2013, p. 56). 96 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN As legislações preveem que as instalações dos vestiários e sanitários deverão ser permanentemente higienizadas, mantidas limpas e sem odores. Devem possuir boa iluminação e ventilação, e as aberturas devem ser teladas (ABERC, 2013; SENAC, 2007). A ABERC (2013, p. 56) também traz “o piso deve ser de material liso, resistente, impermeável e de cor clara. As paredes devem ser revestidas com material liso, impermeável, de cor clara”: • até a altura mínima de 1,5 metros, para os vestiários, • e até 2 metros para os sanitários. FIGURA 21 – VESTIÁRIOS E SANITÁRIOS FONTE:< http://uftm.edu.br/ultimas-noticias/887-hc-uftm-inaugurou-novos-vestiarios-dos-colaboradores>. Acesso em: 11 dez. 2020. 2.9 ÁREA DESCARTE DE RESÍDUOS/LIXO É a área destinada ao armazenamento do lixo e deverá ficar em um local fora da área de produção, sem comunicação direta. É importante que o local disponha de torneira com mangueira de pressão, com água fria e quente, para higienização de todos os recipientes e coletores. Deve ficar em um local que facilite a remoção, ser toda de material lavável. Quando possível deve ser refrigerado, evitando a proliferação de bactérias (TEIXEIRA et al., 2007). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 97 FIGURA 22 – ÁREA DE DESCARTE DE LIXO FONTE: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2015-06/legislacao-e-rss.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2020. 2.10 ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO DE MATERIAL DE LIMPEZA É o local destinado à higienização dos objetos usados na higienização da UAN, como vassouras, rodos, panos de chão, baldes etc. Deve ficar em área de fácil acesso aos colaboradores e dispor de local para limpeza dos materiais, e ser exclusiva para esse fim (TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 23 – ÁREA DE HIGIENIZAÇÃO MATERIAIS LIMPEZA FONTE: <https://bit.ly/2PVmNRo>. Acesso em: 11 dez. 2020. 2.11 ÁREA DE GUARDA DE BOTIJÕES DE GÁS De acordo com as diretrizes da ABNT (2015), esta área, incluindo os botijões de GLP e seus acessórios, deve ser protegida garantindo exclusividade à área e guarda dos elementos da instalação. A área ainda deve ter grades ou cercas vazadas, ou ainda algum outro sistema de barreira, que além de evitar o acesso de pessoas estranhas, garantam a ventilação da área. 98 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN FIGURA 24 – ÁREA DE GUARDA DE BOTIJÕES FONTE: <http://www.tggas.com.br/wp-content/uploads/2015/05/Instalacoes-6.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2020. FIGURA 25 – PLANTA BAIXA DE UMA UAN FONTE: Programa Alimento Seguro – PAS (2003 apud SENAC, 2007, p. 47) 3 EQUIPAMENTOS Prezado acadêmico, a disposição e escolha dos equipamentos na UAN irão determinar o fluxo de trabalho; também deve ser avaliado o nível de ruído emitido, a fim de reduzir o nível de poluição sonora; devem possuir dispositivos de segurança para evitar acidentes. Também influencia no planejamento dos equipamentos o número de refeições, tipo de cardápio, tempo disponível para preparo, sistema e modalidades de distribuição, também se a refeição será servida no local ou não. TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 99 Todo equipamento é um facilitador do trabalho e depende das instalações elétricas, hidráulicas, gás, ou ainda, a bateria. Os equipamentos dividem-se em (ABREU, SPINELI, PINTO, 2019; TEIXEIRA, 2007): • Básicos: aqueles necessários ao funcionamento da UAN, são eles: fogão, forno, batedeira, panelões, amaciador de bife, descascador de verduras, máquinas de lavar louças e bandejas, liquidificador, fritadeiras, unidades refrigeradas, cafeteira, coifas, bebedouros, filtros de parede. • Apoio: balcões, equipamentos sobre rodízios e demais. É importante verificar com cuidado os materiais empregados na fabricação dos equipamentos e utensílios, os quais devem ser dotados de superfícies lisas, resistentes, não absorventes, de fácil limpeza e desinfecção e de cor clara; livres de bordas, rebarbas e reentrâncias que dificultem a limpeza; 'sem gotejamento de gordura; livres de porcas, parafusos ou partes móveis que possam cair acidentalmente no alimento; isento de acúmulo de gelo e com manutenção programada e periódica. Quando pintados, a tinta deve ser de boa aderência e não entrar em contato direto com o alimento (ABERC, 2013, p. 57). Para que o processo de trabalho aconteça de modo eficaz, é importante realizar a programação de manutenção preventiva, este tipo de manutenção evita a quebra do equipamento, que poderia colocar em risco a programação do cardápio ou até o atendimento. A periodicidade dessa manutenção é variável em decorrência de: tempo de uso ou fabricação do equipamento, recursos financeiros, frequência de utilização e possibilidade de substituição (SENAC, 2007). 3.1 CALDEIRÕES Esses equipamentos são grandes panelas a vapor, que possuem capacidade de cocção de grandes volumes de alimentos, que podem variar entre 100L chegando a 500L. O número necessário será estimado considerando tempo de cocção das preparações e viabilidade de sua reutilização no mesmo turno de preparação. Para ter esse número são necessários os dados: Per capita da preparação (bruto – cru); fator de cocção da preparação (índice de cocção) e número de refeições a servir (TEIXEIRA et al., 2007). A fórmula para determinar a capacidade do caldeirão é a seguinte: Per capita x IC x número de refeições. Exemplo: Qual deve ser a capacidade de um caldeirão para o preparo de arroz para servir 1.000 refeições, sendo o Per capita de 80g e o fator de cocção de 3? Para resolver essa questão, basta aplicar a fórmula: 100 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 80 × 3 × 1000 = 240.000g = 240 Litros Como a panela é a vapor, deve-se somar 10% devido à formação da camada de ar, então: 240 + 10% = 264 litros. O caldeirão deverá suportar então 264L, pode-se fazer a compra de um de 200L e mais um de 100L, por exemplo. Agora para calcular a quantidade de alimentos que poderá ser preparadaem um caldeirão, considera-se o valor nominal do equipamento, a câmara de ar (sempre 10%), fator de cocção e tempo da preparação. Exemplo: Quantos quilos de feijão serão possíveis preparar em um caldeirão de 500L? Un = 500L Câmara de ar = 50L Fator de cocção = 4 Fórmula – Volume da caldeira - 10% câmara de ar = 500 - 50 = 112,5kg Índice de cocção 4 No caldeirão de 500L pode-se fazer 112,5kg de feijão. Nas UAN, os caldeirões são utilizados especialmente para o preparo de arroz e feijão, mas também podem ser utilizados para outros preparos que demandam grandes recipientes, como refogados, polentas, molhos etc. DICAS TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 101 FIGURA 26 – CALDEIRÕES NA UAN FONTE: <https://bit.ly/31LHyBJ>. Acesso em: 11 dez. 2020. 3.2 BALCÕES DE DISTRIBUIÇÃO Para a definição do número de balcões necessários em uma UAN é preciso saber o tempo médio em que as refeições serão distribuídas e o horário em que serão servidas (TEIXEIRA et al., 2007). Tomando-se como parâmetro o tempo de 1 minuto para servir 10 refeições e considerando o tempo disponível para sua distribuição de 2 horas, para servir 2.400 refeições, quantos balcões seriam necessários? 1 minuto - 10 refeições x= 120 x 10 = 1.200 refeições 120 minutos (2horas) - x refeições 1 balcão - 1.200 refeições x= 2.400 ÷ 1200 = 2 balcões x balcões - 2.400 refeições Serão necessários então 2 balcões para servir 2.400 refeições. 102 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN FIGURA 27 – BALCÕES DE DISTRIBUIÇÃO FONTE: <http://www.villenox.com.br/produtos/refrigeracao-e-distribuicao/>. Acesso em: 11 dez. 2020. 3.3 RECIPIENTES PARA BALCÕES O número de recipientes para os balcões de distribuição será calculado de acordo com o tipo de preparação a ser oferecida, peso de cada preparação e capacidade do recipiente. Esses recipientes são também chamados de ‘GN’ (TEIXEIRA et al., 2007). Exemplo: Se serão servidos 120kg de arroz cozido e a capacidade do recipiente é de 30L, serão necessários 4 recipientes. Deve-se fazer o mesmo procedimento para todas as preparações. FIGURA 28 – CUBAS GASTRONÔMICAS FONTE: <http://www.ibet.ind.br/theme/img/produtos/01g1.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2020. 3.4 FORNOS Para dimensionar os fornos também são necessários tempo de cocção da preparação (a de maior Per capita) e estima-se a quantidade da preparação que vai ser assada em cada câmara (TEIXEIRA et al., 2007). TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 103 Exemplo: considerando que uma câmara de forno prepara aproximadamente 14.500g de frango em 25 minutos, quantas câmaras serão necessárias para assar 300kg em 3 horas? 14.500g – 25 minutos 14.500x180 = 2610.000 x – 180 minutos (3 horas) 2610.000 ÷ 25 = 104.400g Pode-se concluir que 104,4kg podem ser preparados em 1 câmara em 3 horas. Para saber quantas câmaras serão necessárias para assar os 300kg: 104,4kg – 1 câmara 300 ÷ 104,4 = 3 câmaras 300kg – x Neste caso o forno precisará ter 3 câmaras para assar os 300kg de frango em 3 horas. FIGURA 29 – EXEMPLO DE FORNO INDUSTRIAL – TIPO COMBINADO FONTE: <https://www.localservice.com.br/imagens/informacoes/forno-combinado-industrial-05. jpg>. Acesso em 11 dez. 2020. Os demais equipamentos, como fogão, moedor, descascador, fritadeiras etc., deverão ser dimensionados considerando os fatores de peso do alimento a ser processado e o tempo disponível para esse processamento; para relacionar com a capacidade do equipamento e depois realizar a regra de três (TEIXEIRA et al., 2007). 3.5 AQUISIÇÃO O processo de aquisição de equipamentos deverá ser feito pelo nutricionista, por escrito, especificando o tipo desejado, devendo ter clara a especificação do material a ser adquirido como: nome do equipamento, a capacidade nominal, material, fonte de alimentação, se possui acessórios, bem como faz-se necessária a cotação com mais de um fornecedor (MEZOMO, 2014). 104 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN 3.6 MANUTENÇÃO Pode acontecer de duas formas: preventiva ou corretiva. Sendo a preventiva aquela que acontece periodicamente, a fim de evitar problemas com os equipamentos, decorrentes do uso, geralmente aumenta a vida útil e proporciona maior segurança no manuseio. Já a corretiva é aquela feita quando o equipamento estraga, e pode causar transtornos à operação da UAN (TEIXEIRA et al., 2007). A depreciação dos equipamentos deve fazer parte dos controles de custos das UAN. FIGURA 30 – LISTA DE EXEMPLOS DE EQUIPAMENTOS POR ÁREA UAN FONTE: Sant’Ana (2012, p. 262) TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 105 FIGURA 31 – EXEMPLOS DE EQUIPAMENTOS FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/83/85/e3/8385e3e82d92ebf6166d6311c22d655c.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2020. 3.7 EQUIPAMENTOS PRINCIPAIS Os principais equipamentos utilizados em UAN dividem-se em (TEIXEIRA et al., 2007): 106 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN • Unidade Modular – caracterizada por ter os equipamentos acoplados entre si, com dimensões de 1000 x 1000 mm. São utilizados especialmente em pequenos espaços, como cozinhas de fast food ou restaurantes localizados em shoppings. • Unidade Convencional – são os equipamentos tradicionais de dimensões variadas, normalmente utilizados em áreas físicas maiores. • Linha gastronorm – é o padrão mais utilizado no Brasil. Com planejamento da estocagem à distribuição, realizado em função de um recipiente padrão com 53 cm x 35,5 cm, mais conhecido como cuba de aço inox, ou apenas “GN”. Mesas, carrinhos de transporte, estufas, geladeiras, fornos, entre outros, são projetados em função da dimensão da cuba. FIGURA 32 – UNIDADE MODULAR FONTE: <http://www.gastroubm.com.br/template/images/ilha-de-coccao-l-900.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2020. FIGURA 33 – UNIDADE CONVENCIONAL (CADA EQUIPAMENTO COM SUA DIMENSÃO) FONTE: <https://bit.ly/3cOF1Nc>. Acesso em: 11 dez. 2020. TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTOS DAS ÁREAS E EQUIPAMENTOS 107 FIGURA 34 – UNIDADE GASTRONORM FONTE: <http://www.localservice.com.br/cozinha-industrial-equipamentos>. Acesso em: 11 dez. 2020. 108 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A adequação do planejamento das UAN está diretamente ligada a alcançar os objetivos dela. • O planejamento físico funcional deve distribuir racionalmente as diversas áreas de trabalho, obedecendo a todas as legislações vigentes, específicas para cada ambiente. • A escolha adequada dos equipamentos também reflete na redução dos esforços de trabalho, aumentando a eficiência e eficácia dos resultados. • Se o planejamento for feito de modo adequado gerará maior satisfação de funcionários e clientes, reduzirá custos operacionais, minimizará a ocorrência de acidentes e tornará o ambiente da UAN mais agradável. 109 1 Um aspecto relevante para a gestão de serviços de alimentação diz respeito ao dimensionamento dos equipamentos. No caso dos caldeirões, as informações imprescindíveis para sua correta aquisição são, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Per capita bruto, fator de cocção, número de refeições, previsão de 10% de câmara de ar. b) ( ) Per capita bruto, fator de correção, número de refeições, previsão de 15% de câmara de ar. c) ( ) Per capita líquido, índice de sobras, número de refeições, previsão de 10% de câmara de ar. d) ( ) Per capita bruto, fator de cocção, número de refeições, previsão de 20% de câmara de ar. 2 Uma cozinha industrial pode ser dividida em recepção e armazenamento, pré-preparo, preparo, higienização, distribuição, vestiários e sanitários, lixo, material de limpeza, gás e administração/sala do nutricionista. Sobre as áreas de uma UAN analise as assertivas a seguir. I- A área de recepção é o local destinado ao recebimento de todas as mercadorias que chegam à UAN, deve ser limpa, conter plataforma de descarga e não necessita de proteção, pois as mercadorias ficam pouco tempo neste setor, sendo rapidamente direcionada ao armazenamento. II- A área de pré-preparo é destinadaa comportar atividades e procedimentos de manipulação de alimentos que antecedem a etapa de cocção. III- A área de guarda do lixo deve ser localizada em ponto que facilite a remoção, ser toda revestida de material lavável e dotada de esguicho de pressão com água fria e quente para limpeza dos latões. Quando possível, o local deve ser refrigerado para retardar a proliferação de bactérias. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Segundo Teixeira et al. (2007), considerando que uma câmara de forno elétrico prepara 20 kg de pernil em 30 minutos, o tempo em horas, necessário para assar 240 kg de pernil em 3 câmaras será, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) 30 minutos. b) ( ) 60 minutos. c) ( ) 120 minutos. d) ( ) 180 minutos. AUTOATIVIDADE 110 4 O planejamento físico de uma UAN é fundamental para a adequação das instalações aos objetivos propostos. Através de um bom planejamento pode-se garantir uma operacionalização das refeições conforme os padrões qualitativos desejados, do ponto de vista técnico e higiênico. Disserte sobre quais as características do planejamento interferem mais na qualidade dos alimentos preparados e oferecidos. 5 Os processos de recepção e armazenamento das mercadorias são fundamentais para manter a qualidades dos insumos utilizados pela UAN. Neste contexto, disserte sobre quais as características desses dois locais são fundamentais no planejamento. 111 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, você sabe o que significa sustentabilidade? E sabe que o nutricionista como administrador das UAN tem responsabilidades relacionadas a ela? Sabe de que forma tornar as UAN mais sustentáveis e ecologicamente corretas? Todos esses pontos serão esclarecidos ao longo deste tópico. Devemos pensar de modo global, por exemplo, se não houver mais recursos para cultivar verduras e legumes? Se não houver mais espaços para criação do gado ou solo fértil para plantar os cereais? Ou ainda se a água acabasse ou se não houvesse luz para a noite? Tudo isso impacta diretamente o dia a dia das UAN. Pensemos ainda que as UAN contribuem com boa parcela no impacto ambiental, produzindo resíduos, com gasto de água e gasto de energia, precisamos então fazer planejamentos para reduzir esses impactos. Atitudes sustentáveis são dever de todos! Assim, prezado acadêmico, no Tópico 3, abordaremos as formas de contribuição para a sustentabilidade que as UAN podem adotar. 2 PRINCÍPIOS DA SUSTENTABILIDADE APLICADOS A UAN A sustentabilidade busca a garantia que os recursos naturais estejam disponíveis para as próximas gerações. Em todo o trajeto do alimento, desde o plantio até a refeição existem diversos aspectos relacionados à sustentabilidade. “A alimentação envolve mais que o ato de comer, pois há uma cadeia de produção que passa por várias etapas, começando do plantio e colheita” (SPINELLI et al., 2019, p. 25). Souza (2008, p. 22), destaca que “dentre as funções inerentes ao nutricionista em UAN estão: responsabilizar-se sobre planejamento, organização, supervisão, controle de produção, minimização de desperdícios e melhoria da qualidade dos alimentos”. Com base nisso, entende-se então que faz parte das atribuições do nutricionista como administrador das UAN propor estratégias que visem minimizar o impacto ambiental das operações, aumentando também a produtividade. TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 112 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN A sustentabilidade tem sido assunto cada vez mais discutido, e de suma importância, dentro das UAN, em virtude de todo cenário mundial em que estamos. Percebe-se que a consciência dos profissionais envolvidos nos processos de produção sobre seu papel na contribuição para o meio ambiente está cada vez maior (SPINELLI, 2009). Nas UAN quando o desperdício acontece, geralmente é por conta da má qualidade dos serviços, por isso o bom planejamento se faz tão importante, para que não aconteça a produção excessiva e por consequência as sobras (ABREU; SPINELLI; PINTO, 2019). Além de garantir uma alimentação saudável e adequada, a UAN também precisa estar preocupada com a sustentabilidade, que é possível e deve ser trabalhada. Porém essas questões vão desde o planejamento da estrutura física até a produção, e a posterior distribuição das refeições e precisam ser consideradas (DIAS; OLIVEIRA, 2016). Para que a sustentabilidade seja executada em UAN, é necessário pessoal qualificado, que possa garantir uma produção segura e equilibrada, com estrutura e recursos físicos adequados, além das instalações, utensílios, equipamentos e matéria prima que inspirem confiabilidade (DIAS; OLIVEIRA, 2016). A análise das atividades deve ser realizada em todas as etapas da produção, desde o planejamento do cardápio, da compra de insumos e matéria prima, até o armazenamento, pré-preparo, preparo e distribuição das refeições prontas (MARTINS, 2015). 3 SUSTENTABILIDADE X ECONOMIA A sustentabilidade está diretamente ligada à diminuição dos custos, sendo mais uma das suas vantagens. Isso acontece porque essas medidas economizam vários recursos e ainda, resultam em melhoria da produtividade dos funcionários. Exemplos dessas ações são: desligar luzes, fazer reuso da água e a instalação de equipamentos que façam aquecimento e resfriamento geotérmico, diminuindo assim o consumo de energia elétrica, da água e de outros recursos, gerando assim a economia também. Falaremos um pouco mais de cada etapa onde pode ocorrer a aplicação dos princípios da sustentabilidade em uma UAN. 3.1 CARDÁPIO Um cardápio mais sustentável está ligado à escolha de receitas típicas da região e os mais comuns da época (sazonais), usando insumos locais. Dessa forma são respeitados os ciclos da natureza, além de ter mais nutrientes por um preço menor. TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 113 O planejamento desse cardápio vai considerar vários fatores, como condições climáticas, o número de comensais, quantidade de alimentos necessária para o preparo, parcerias com fornecedores de confiança, tudo com o intuito de evitar desperdícios. Também utilizar, sempre que possível, insumos locais, orgânicos, e aumentar o uso de frutas e grãos em sua forma integral (DIAS; OLIVEIRA, 2016). 3.2 AQUISIÇÃO ALIMENTOS É de extrema importância a escolha de alimentos produzidos localmente, de agricultura orgânica ou de agroecologia, que além de contribuir com a rentabilidade dos agricultores, irá também reduzir a emissão de gases poluentes dos transportes, reduzir embalagens e proporcionar menos contaminação do solo (MARTINS, 2015). Também pode ser muito interessante a criação de uma horta com ervas, como salsinha, manjericão e alecrim, por exemplo. Pode ser um grande diferencial para UAN, além de ser um estímulo para adotarem novas posturas e revisitar valores que almejam a sustentabilidade, pois a equipe sente-se engajada em cultivar e ter seus próprios temperos. 3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS/ ORGÂNICOS A produção de resíduos sólidos tem crescido consideravelmente e um grande desafio é a redução desse lixo, através da reciclagem, uso de materiais biodegradáveis, substituição dos materiais descartáveis por outros, realizando a coleta seletiva para transformação em novos produtos e matéria prima (DIAS; OLIVEIRA, 2016). A quantidade de resíduos orgânicos gerados é imensa, indicando que as etapas de retorno das bandejas, pré-preparo e sobras devem ser muito bem avaliadas, para a minimização da geração de resíduos. A modificação de cardápios, trocando de alimentos que produzem grande quantidade de resíduos por aqueles que geram menos, utilizando integralmente os produtos e insumos pré-processados auxiliam. 3.4 ÁGUA Fazer a instalação de torneiras com fechamento automático, nas áreas de higienização de mãos dos funcionários e clientes, traz grande economia de água.Pode-se fazer utilização de hortaliças cozidas que não exijam a desinfecção completa, já que esta exige maior número de etapas de utilização de água, neste caso as hortaliças sofrem apenas a higienização básica antes de serem enviadas para a cocção. 114 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN Quando a higienização de hortifrutis é feita da maneira correta, pode economizar em torno de 28% de água. Também pode-se instituir programa de manutenção preventiva nas redes de abastecimento de água (canos, torneiras e pias), para evitar desgastes e vazamentos. Usar de modo adequado as máquinas de lavar louças também acarreta boa economia de água (em torno de 60% de economia em relação ao processo manual). Uma alternativa sustentável em relação a água, é a coleta de água da chuva para utilizar em processos de higienização do ambiente. FIGURA 35 – RECIPIENTE DE COLETA E ARMAZENAMENTO ÁGUA DA CHUVA FONTE: <https://bit.ly/3cWUuuH>. Acesso em: 11 dez. 2020. 3.5 ÓLEO O óleo utilizado em UAN também pode representar risco para o meio ambiente. A incidência de muitas preparações fritas no cardápio acarreta maior uso de óleo, e por consequência maior descarte, sendo ideal que tenham ocorrência mínima. O descarte correto também deve ser observado, em recipientes adequados, prevenindo vazamentos acidentais, nunca descartando diretamente na rede de esgoto. Podem ser contratadas empresas especializadas nessa coleta, que fazem reciclagem do óleo usado em cozinhas, transformando-o em sabão, por exemplo. 3.6 ENERGIA ELÉTRICA O uso de energia elétrica nas UAN pode ser otimizado com um bom planejamento dos equipamentos, dando preferência para aqueles mais econômicos, por exemplo. Também com menor uso de iluminação artificial, sempre que possível, usar a natural. Outra boa prática para economia de energia é a troca das lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED ou fluorescentes. TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 115 Através de conscientização dos colaboradores e clientes, para o uso da energia, também temos boa economia, por exemplo apagando as luzes e desligando aparelhos de ar-condicionado sempre que saírem dos ambientes, desligar os computadores após o turno do trabalho, usando os equipamentos conforme orientações dos fabricantes. Em relação aos aparelhos de conservação à frio (geladeiras e congeladores), fazendo armazenamento correto dos alimentos de modo a não sobrecarregar o equipamento, reduz o consumo; bem como não os colocar próximos a fontes de calor; mantê-los com a manutenção em dia também garante que o consumo de energia esteja adequado. Sempre que possível trocar os equipamentos muito antigos, por outros mais modernos, que consumam menos energia. 4 DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS O desperdício de alimentos em UAN é um fator preocupante, e pode ser minimizado com algumas ações: com uso eficiente da matéria-prima; avaliando a disponibilidade dos recursos (matéria-prima, mão de obra); análise dos indicadores de sobra limpa (excesso de produção que não foi servido ao consumidor), resto ingesta (as sobras do buffet e dos pratos dos clientes/ funcionários), controles do estoque (alimentos vencidos); análise da satisfação/ aceitação dos clientes; ainda determinar o processo de produção escalonada (conforme necessidade). Mas não basta apenas preferir os alimentos da época, se as cascas e talos são jogados fora. O alimento por inteiro pode ser aproveitado, integralmente, em preparações diferentes. A utilização total da matéria prima também é uma ação sustentável, onde se aproveitam as cascas, folhas e talos, em molhos, tortas, caldos e outras preparações, por exemplo um arroz colorido, com cascas de cenoura e talos de brócolis. Fazer também sucos da casca de frutas, como o abacaxi, ou ainda bolos com as cascas de banana e da maçã. 116 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN FIGURA 36 – DESPERDÍCIO ALIMENTOS FONTE: <https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2019/06/1_Sustentabilidade_em_UAN_.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2020. Os restos e sobras também podem ser destinados para o processo de compostagem, realizado no próprio estabelecimento, ou para uma empresa terceirizada que também realize este processo. Prezado acadêmico, o Sesc tem um programa chamado Mesa Brasil, a nível nacional, que atua de forma a combater o desperdício de alimentos e melhorar a qualidade nutricional das refeições da população atendida. Com esse intuito eles publicaram um livro de receitas com aproveitamento integral dos alimentos, você pode acessar em: https:// www.sesc-rs.com.br/mesabrasil/livros/. DICAS TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 117 SUSTENTABILIDADE NAS UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO: DESAFIOS PARA O NUTRICIONISTA NO SÉCULO XXI Natalia Araújo Dias Ana Lívia de Oliveira O modo de vida na sociedade contemporânea tem se caracterizado pela falta de tempo para o preparo das refeições, devido às exaustivas jornadas de trabalho dos cidadãos, com isso, observa-se um grande aumento das refeições fora dos domicílios (BARTHICHOTO, 2013; GORGULHO; LIPI; MARCHIONI, 2011). Decorrente dessa demanda, muitos estabelecimentos produtores de refeições coletivas, como as Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs), têm surgido atualmente e, segundo a Folha de São Paulo (2013), esse mercado tem indicador positivo para os próximos anos, contribuindo consideravelmente para o setor econômico além de gerar muitas oportunidades de emprego. Se por um lado tem-se o crescimento de um mercado gerando lucros e empregos, por outro há também o crescimento de um mercado que, se não for bem gerenciado, pode não se enquadrar nos conceitos de sustentabilidade comprometendo as gerações futuras. [...] Além da preocupação com a qualidade do alimento ofertado, hoje em dia têm-se abordado muito sobre os conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade, e como essas empresas podem causar grande impacto ambiental, é importante que também se situem nesse contexto. O termo responsabilidade social caracteriza-se fundamentalmente por uma proposta de retomada das questões éticas, tanto no âmbito interno das organizações, como no seu relacionamento com o público externo, qual seja, consumidores, clientes, fornecedores, Governo e acionistas. Basicamente trata- se de uma postura dita socialmente responsável, que adota ações sociais, dentre as quais podem-se citar proteção ao meio ambiente, programas de voluntariado empresarial, além da instituição de códigos de ética que regulamentam a conduta empresarial (SOARES, 2004). O termo sustentabilidade tem ganhado destaque nos dias de hoje. O desenvolvimento sustentável implica em atender às necessidades presentes sem comprometer as necessidades futuras. Está diretamente relacionado com a justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento. Atualmente o meio ambiente é uma preocupação evidente, por se tratar de um problema que desperta o interesse de todos os países (BARTHICHOTO, 2013). LEITURA COMPLEMENTAR 118 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN [...] O desperdício de alimentos é um problema amplamente discutido atualmente no mundo, por abordar aspectos econômicos, políticos, culturais e tecnológicos. Segundo o Serviço Social do Comércio, no Brasil, o desperdício de alimentos atinge cerca de doze bilhões de reais por ano. No que diz respeito à quantidade calcula-se que diariamente são descartados 39 milhões de toneladas de alimentos, quantidade suficiente para alimentar com café da manhã, almoço e jantar, 78% das cinquenta milhões de pessoas que ainda passam fome no país (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014). Os níveis de desperdício podem variar entre as UANs e são decorrentes de vários fatores, logo ele deve ser evitado em todas as etapas do processo de produção seguindo as boas práticas. Ele envolve desde alimentos que ainda não foram utilizados, até as preparações prontas que sobram nos pratos e ainda aquelas que nem chegaram a ser servidas (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014).A questão de desperdício está muito presente nas UANs e é sinônimo de falta de qualidade no serviço. Por isso um planejamento adequado é de fundamental importância para que não existam produções excessivas e consequentes sobras (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014). [...] Alguns fatores podem contribuir para a redução do desperdício nas Unidades de Alimentação e Nutrição, como o armazenamento correto das mercadorias e o processo de pré-preparo, que deve ser monitorado otimizando assim as técnicas envolvidas. É também importante que o planejamento do cardápio seja feito de forma adequada levando em consideração vários quesitos, inclusive as condições climáticas do local, a análise do número de comensais, a quantidade de alimentos que deve ser preparado, parceria com fornecedores para adquirir alimentos de qualidade, enfim vários são os recursos que podem ser utilizados com o intuito de evitar o desperdício (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014). No século atual, um dos grandes desafios é trabalhar na redução das milhões de toneladas de lixo que nossa sociedade produz diariamente. Nos últimos anos a produção dos resíduos sólidos urbanos tem crescido consideravelmente devido ao crescimento da população como um todo, à concentração dessa população nos centros urbanos, ao aumento do consumo de supérfluos, entre outros. Além disso, a situação se agrava devido à disposição inadequada em lixões a céu aberto e aterros (RIBEIRO; BESEN, 2007). Os chamados resíduos sólidos urbanos, ou lixo, tem sido um grande problema enfrentado hoje pela sociedade, pois, se não coletados e tratados adequadamente, podem produzir efeitos diretos e indiretos na saúde da população, além de causar grande impacto ambiental (LOCATELLI; SANCHEZ; ALMEIDA, 2008). TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 119 Uma UAN que produz grande quantidade de refeições, produz também elevada quantidade de lixo, e este deve ter seu destino adequado para evitar complicações futuras. É importante que o descarte dos resíduos seja feito de maneira consciente, privilegiando os processos de reciclagem, preparando os detritos para a coleta seletiva, para transformar matérias aparentemente inúteis em novos produtos e também em matéria-prima. Essa prática se faz importante por poupar energia e recursos naturais, o que se torna uma atitude sustentável (LOCATELLI; SANCHEZ; ALMEIDA, 2008). Cabe às autoridades públicas municipais, a responsabilidade de gerenciar os resíduos sólidos, desde sua coleta até a disposição final e esta deve ser ambientalmente segura, no entanto cabe a cada um, individualmente, colaborar para que o processo ocorra de maneira satisfatória. Do mesmo modo, também cabe ao gestor da UAN colaborar, não só para a diminuição na geração dos resíduos sólidos, como também ajudar no processo de coleta e aproveitamento (JACOBI; BESEN; 2011). Ribeiro e Bessen (2007) afirmam que a produção excessiva do lixo causa impactos ambientais e na saúde da população, além de afetar a sustentabilidade e há um consenso de que a redução do lixo depende das mudanças no padrão de produção e principalmente, no consumo da sociedade, portanto é necessário considerar que o hábito de coleta seletiva deve ser empregado nas UANs. [...] Desperdício de água em UAN Outra preocupação que também assola o mundo atualmente é a questão da água, principalmente quando o assunto é a possível falta dela. Sabe-se que a água é indispensável para a manutenção da vida, no entanto, ainda há muito desperdício, seja dentro dos domicílios, nos estabelecimentos em geral, nas empresas e também nas UANs. A utilização da água em uma UAN se faz muito importante para seu funcionamento, tanto no processo de produção, que envolve a cocção dos alimentos, como na higienização deles, dos utensílios e também do ambiente. Todavia, o uso dessa água deve ser feito de maneira consciente para evitar excessos desnecessários (VALLE; MARQUES, 2006). O controle do desperdício de água dentro de uma UAN também se envolve com atitudes chamadas de sustentáveis e, segundo Valle e Marques (2006), algumas estratégias podem ser utilizadas para evitar ou diminuir esse desperdício. Dentre elas podem-se citar: evitar as torneiras abertas em horários em que sua utilização não é necessária, fazer a manutenção dessas torneiras para identificar vazamentos, utilizar de maneira adequada a máquina de lavar louças e, caso não haja o equipamento, é aconselhável encher as pias com água quente e mergulhar os utensílios para retirar as sujidades e gordura. Além disso, os autores destacam 120 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN que uma ferramenta fundamental para o auxílio na diminuição do desperdício de água é o treinamento adequado dos funcionários, orientando-os para a tomada de consciência de preservação dela. A discussão sobre sustentabilidade também está presente quando o assunto é energia. É importante conscientizar os consumidores que a boa gestão dos recursos naturais que geram a energia é fundamental para assegurar o futuro energético, portanto, economizar e não sobrecarregar esses recursos é atitude fundamental para proporcionar a durabilidade desses recursos no futuro (PIOLI, 2014). [...] Diante do discutido anteriormente, verifica-se ser possível manter o funcionamento de uma UAN de forma sustentável, atendendo às necessidades presentes sem comprometer as futuras. Veiros e Proença (2010) listaram uma série de estratégias que podem ser utilizadas para se trabalhar de forma sustentável em uma Unidade de Alimentação e Nutrição. Dentre essas podem-se citar: a educação e a conscientização, tanto dos colaboradores como dos comensais; a elaboração de cardápios sustentáveis, o que inclui a escolha de alimentos próprios da região e os mais comuns da época; escolha de fornecedores adequados; eficiência e eficácia na conservação de água e também de energia; descarte apropriado do lixo evitando poluição e contaminação; fazer uso de produtos reciclados e também praticar a reciclagem; utilizar produtos químicos e de limpeza não tóxicos; o emprego de técnicas adequadas de preparo, cuidando sempre para se manter a qualidade nutricional e o aspecto sensorial das refeições. Outro cuidado é quanto à distribuição das preparações, que deve ser feita de maneira consciente evitando desperdícios. A sustentabilidade pode também ser empregada dentro da UAN por meio do aproveitamento integral dos alimentos, sempre que for possível. Consiste na utilização de partes do alimento que normalmente são desprezadas pela população, como cascas e talos de vegetais, os quais podem ser utilizados como uma alternativa para evitar ou diminuir o desperdício. Diminuindo o desperdício, evitam-se graves impactos ao meio ambiente e também se eleva o rendimento dos pratos, já que muitos resíduos que iriam para o lixo serão inseridos na receita e consumidos. Trata-se ainda de um recurso para reduzir custos dentro da UAN, além de proporcionar novas descobertas culinárias (DOMENE, 2011; PIOLI, 2014). Nos últimos anos tem surgido um grande incentivo para o consumo dessas partes do alimento, denominadas de não convencionais, tendo em vista que esses resíduos podem conter substâncias benéficas para o organismo, proporcionando uma alimentação de melhor qualidade nutricional (PIOLI, 2014). No entanto, vale ressaltar que o consumo dessas partes – não convencionais – deve ser orientado, TÓPICO 3 — SUSTENTABILIDADE 121 investigando se a composição nutricional é adequada, se apresenta fatores antinutricionais, se há um controle microbiológico adequado, enfim, fatores relevantes a saúde do consumidor (DOMENE, 2011). O cuidado na elaboração do cardápio também pode ser uma estratégia sustentável dentro de uma UAN. Pioli (2014) destaca as vantagens da escolha dos alimentos de acordo com a sazonalidade das safras. Escolher ou dar benefício aos produtos da safra pode ser grande vantagem para a unidade e também para os consumidores já que os preços dos produtos caem e há também a possibilidadede serem fornecidos produtos de melhor qualidade. [...] A educação nutricional também pode ser uma das ferramentas que contribui para a redução do desperdício, conscientizando os comensais para evitar a prática do desperdício. Além disso, outra ressalva importante é de que o treinamento pessoal para os colaboradores das unidades faz-se muito importante para que, no processo de manipulação, as perdas sejam as menores possíveis (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014). De um modo geral, as medidas corretivas para minimização do desperdício devem ser feitas de maneira constante, envolvendo os comensais e também todos os colaboradores, para que se comprometam de forma consciente a evitar tanto o desperdício, como possíveis prejuízos para o estabelecimento (SILVÉRIO; OLTRAMARI, 2014). Por fim, outra estratégia importante já verificada, diz respeito à questão da energia elétrica e à preservação dos recursos naturais que promovem essa energia. Vale ressaltar que cabe ao nutricionista a atuação coerente com a sua formação de profissional da saúde para que faça valer todas as estratégias anteriormente citadas, cuidando não apenas do processo produtivo da UAN, mas também se atentando para que tudo seja pautado dentro do conceito de sustentabilidade (VIEIROS; PROENÇA, 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS O assunto sustentabilidade está muito presente nos dias atuais. É importante conscientizar a população do compromisso que cada um deve ter para ajudar a manter, futuramente, todos os recursos que são utilizados hoje. Para isso, pequenas atitudes devem ser tomadas, pequenas mudanças de hábitos devem acontecer dentro de casa e também em maior escala nas grandes empresas, para ser possível manter esses recursos energéticos, hídricos e ambientais por mais tempo sem comprometer as gerações futuras. Observa-se ser possível trabalhar de maneira sustentável dentro de uma UAN, mas para isso algumas questões são relevantes e devem ser consideradas. Questões essas que envolvem desde o planejamento da própria estrutura física até a produção e distribuição das refeições preparadas. Atuando, o nutricionista, de forma coerente com seu papel e consciente do conceito de responsabilidade social, 122 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO FÍSICO DE UAN juntamente com a colaboração de toda uma equipe, é possível trabalhar levando em consideração todas as estratégias supracitadas para manter o funcionamento de uma UAN de forma sustentável. FONTE: DIAS, N. A.; OLIVEIRA, A. L. de. Sustentabilidade nas unidades de alimentação e nutrição: desafios para o nutricionista no século XXI. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 30, n. 254-255, p. 1-11, mar./abr., 2016. Disponível em: https://azslide.com/sustentabilidade-nas-unidades-de-alimentaao- e-nutriao-desafios-para-o-nutricioni_59efed041723dd8483aef942.html. Acesso em: 11 dez. 2020. 123 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A sustentabilidade é um tema muito atual e importante no contexto das UAN, tem reflexo direto na qualidade e na segurança alimentar. • As UAN são grandes produtoras de resíduos quando não são bem administradas. • O nutricionista tem papel fundamental no controle da produção dos resíduos e adequação dos processos de modo sustentável. • A sustentabilidade traz muita economia para a UAN quando aplicada de forma correta. • Podemos economizar todos os recursos instalando processos corretos, fáceis e que contribuem de forma positiva para o meio ambiente. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 124 1 A sustentabilidade na produção de refeições envolve um conjunto de questões que deve ser considerado durante todo o processo produtivo, desde o planejamento do cardápio e escolha dos gêneros alimentícios, com a escolha dos fornecedores dos alimentos, até a reciclagem e correto gerenciamento dos resíduos alimentares da unidade, e ainda o uso de produtos não agressivos ao meio ambiente. Em relação à produção de refeições e sustentabilidade, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) O resto-ingesta consiste na relação entre o resto devolvido nas bandejas pelo comensal e a quantidade de alimentos e preparações alimentares oferecidas, sendo expresso em percentual. b) ( ) O aproveitamento integral dos alimentos não contribui significativamente para uma refeição mais nutritiva. c) ( ) As partes comumente desprezadas de alguns alimentos (casca, folhas e talos) podem ser consumidas em preparações diversas, sendo boas fontes de vitaminas e minerais. d) ( ) O desperdício de alimentos em serviços de alimentação pode promover um impacto negativo no meio ambiente. 2 Dentre os procedimentos que podem ser adotados para um desenvolvimento sustentável em UAN, sem comprometer a segurança do alimento e do comensal, analise as sentenças a seguir: I- Aumentar o uso de descartáveis. II- Comprar gêneros oriundos de um processo produtivo ambientalmente responsável. III- Realizar a higienização do ambiente apenas ao final do dia, visando à economia de água. IV- Reaproveitar todos os tipos de sobras de alimentos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 No preparo de refeições por UAN é gerada uma quantidade significativa de resíduos sólidos, de diferentes tipos, em todas as etapas de produção: como resíduos recicláveis (plásticos, papelão, vidros, latas, papel), resíduos orgânicos não recicláveis e sobras de alimentos. O descarte correto desses resíduos é um dos fatores primordiais que se relacionam as causas ambientais. Sobre a gestão de resíduos sólidos e sustentabilidade em uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. AUTOATIVIDADE 125 ( ) As UAN, devido à natureza de sua atividade, ainda não representam uma importante fonte de produção de lixo em toda a sua cadeia de produção. ( ) Geralmente, o lixo predominante em uma UAN é inorgânico e corresponde a 60% do resíduo total. ( ) Os resíduos sólidos gerados em uma UAN dependem de vários fatores, como diversidade e sofisticação das preparações, tipo de serviço e número de comensais/clientes. ( ) A gestão ambiental deve estar sempre focada no seu objetivo primário, a geração de menor quantidade possível de resíduos, sejam eles orgânicos ou inorgânicos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – F – V – V. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – F. 4 A conscientização dos responsáveis técnicos de UAN é fundamental para que os estabelecimentos possam se adequar aos princípios de sustentabilidade, tão necessários e discutidos atualmente. A noção de sustentabilidade baseia-se no desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias de mandas. Disserte sobre de que formas o profissional nutricionista, gerente de UAN, pode garantir que os princípios de sustentabilidade sejam seguidos na sua unidade. 5 A sustentabilidade é uma questão central do tripé ambiente, sociedade e economia. As UAN causam impactos decorrentes de suas atividades nos três aspectos citados. No quadro a seguir, são apresentados exemplos de indicadores de sustentabilidade no preparo e consumo dos alimentos. FONTE: <https://bit.ly/3fNOQNt>. Acesso em: 25 fev. 2021. Neste contexto, disserte sobre quais são as premissas para se estruturar um cardápio de forma sustentável. 126 REFERÊNCIAS ABERC – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS. Manual ABERC de práticas de elaboração e serviço de refeições para coletividade. 10. ed. São Paulo: ABERC, 2013. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15635. Serviços dealimentação – requisitos de boas práticas higiênico-sanitárias e controles operacionais essenciais. Norma Brasileira. São Paulo: ABNT, 2015. ABREU, E. S. de; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição – um modo de fazer. São Paulo: Editora Metha. 7. ed. 2019. BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15. Atividade e operações insalubres. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2011 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Portaria nº 368, de 4 de setembro de 1997. Diário Oficial da União. Brasil. Ministério da Saúde. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1428, de 26 de novembro de 1993. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 275, de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2002. DIAS, N. A.; OLIVEIRA, A. L. Sustentabilidade nas unidades de alimentação e nutrição: desafios para o nutricionista no século XXI. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 30, n. 254/255, p. 26-3, 2016. MARTINS, A. M. Sustentabilidade ambiental em unidades de alimentação e nutrição coletivas de Santa Catarina. 2015. Dissertação (Mestrado em Nutrição) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. MEZOMO, I. F. B. Os serviços de alimentação: planejamento e administração da produção. 6 ed. São Paulo: Manole, 2014. 127 SANT’ANA, H. M. P. Planejamento físico-funcional de unidades de alimentação e nutrição. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. SENAC. Administração na alimentação coletiva. São Paulo: SENAC/SP; 2007. 129 p. SILVA, A. R. et al. A Importância do nutricionista na qualidade da produção de refeições em unidades de alimentação e nutrição. In: MOSTRA DE TRABALHOS DO CURSO DE NUTRIÇÃO DO UNIVAG, 3., 2018, Várzea Grande. Anais [...]. Várzea Grande: Univag, 2018. P. 104-115. Disponível em: https://www.periodicos.univag.com.br/index.php/mostranutri/article/ view/1004/1182. Acesso em: 25 fev. 2021. SOUZA, F. M. Controle de produção de resíduos em UAN de um hotel de grande porte: a importância da atuação do nutricionista no processo. Monografia. (Especialização em Gastronomia e Saúde) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2008. SPINELLI, M. G. N. et al. Sustentabilidade em uma unidade de alimentação e nutrição. Saber Científico, Porto Velho, v. 9, n. 1, p. 25 – 35, jan./jun. 2020. TEIXEIRA, S. et al. Administração aplicada a unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Atheneu, 2007. 128 129 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer a importância da Gestão de Pessoas dentro da UAN, tendo conhecimento de todo processo de contratação de novos colaboradores, realizar treinamentos, bem como avaliar o desempenho da equipe; • fazer cálculos de dimensionamento das equipes de UAN e UND; • perceber a importância dos aspectos de segurança e saúde ocupacionais, quais os riscos, como evitá-los, bem como as normativas que se aplicam aos serviços de alimentação; • conhecer quais são as ferramentas da gestão da qualidade, como aplicá- las e quais os resultados obtidos através delas na gestão da UAN como um todo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RECURSOS HUMANOS TÓPICO 2 – SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL TÓPICO 3 – GESTÃO DA QUALIDADE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 130 131 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, após estudarmos a caracterização do setor de alimentação coletiva, sobre a gestão de cardápios, entendendo a elaboração e os métodos de avaliação destes; assim como a parte de planejamento físico-funcional, entendendo a importância de cada área e suas características, bem como a sustentabilidade das UAN; iremos abordar agora a parte de gerenciamento de pessoas. A gestão de pessoas é definida como um conjunto equilibrado entre as normas e procedimentos, para que as empresas contem com a mão de obra adequada, indispensável para realizar suas atividades. Os colaboradores deixaram de ser vistos apenas como executores de tarefas e passaram a ter papel importante dentro das instituições. Todo processo que envolve os funcionários é complexo e se relaciona à qualidade dos serviços prestados (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019). Neste tópico, nós falaremos de como devem acontecer os processos de contratação, os procedimentos e diferentes métodos. Ainda será abordado o dimensionamento e cálculo da produtividade dos colaboradores, finalizando com as funções e atribuições de cada cargo. Tendo em mãos o planejamento físico, os horários de funcionamento e a jornada de trabalho, pode-se fazer a alocação dos funcionários, nas funções necessárias para as atividades a serem desenvolvidas. Além disso, se faz necessário levar em consideração uma série de fatores que podem interferir, como rotatividade e absenteísmo, falta de motivação, entre outros. Vejamos então, o passo a passo da gestão de pessoas. O nutricionista tem papel fundamental na gestão de pessoas nas UAN, e deve: desenvolver postura de líder, fazendo uso das ferramentas de gestão, a fim de atrair/ manter bons colaboradores; deve realizar os processos de contratação; descrever os cargos e funções; promover treinamentos constantes para a equipe, aperfeiçoando sua mão de obra; além de desenvolver e aplicar as normas de segurança do trabalho. TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 132 2 PROCESSOS PARA CONTRATAÇÃO Os processos de contratação correspondem a uma série de etapas, sendo elas o recrutamento, seleção e admissão. Todo esse processo envolvendo a gestão de pessoas é de extrema importância para as UAN, pois tem relação direta com a qualidade dos serviços prestados por ela. Para que estas demandas sejam cumpridas com êxito, se faz necessário o conhecimento do funcionamento da UAN, bem como do objetivo bem claro (através da caracterização do tipo de serviço oferecido), ainda que seja um ambiente que proporcione motivação aos colaboradores. Vejamos, caro acadêmico, cada uma das etapas. 2.1 RECRUTAMENTO O recrutamento visa atrair um número satisfatório de candidatos a cada vaga, uma boa estratégia traz as pessoas certas para as vagas disponíveis. Porém alguns fatores podem afetá-lo, tanto qualitativa como quantitativamente. São eles, segundo Teixeira et al. (2007): • Fatores extrínsecos – a relação entre oferta e procura, maior e menor disponibilidade de mão de obra no mercado e as políticas de RH das empresas, que podem ser mais competitivas ou não. • Fatores intrínsecos (da própria empresa) – fazem parte os resultados das avaliações dos colaboradores; expansões e modernização do restaurante; ainda o tipo de atividade executada na UAN. O primeiro passo para um bom processo de recrutamento é a correta descrição do cargo e as funções, que devem ser feitas pelo setor especializado. Falaremos mais adiante, em detalhes, sobre as funções e atribuições dos cargos. Segundo o SENAC (2007), o recrutamento pode ser dividido em dois tipos: • Interno – quando acontece dentro da própria empresa, através de promoção por exemplo, de um auxiliar de cozinha em cozinheiro. Prezado acadêmico, lembre-se de acessar suatrilha interativa, pois lá estão muitos materiais complementares ao seu estudo, como os Objetos de Aprendizagem, materiais de apoio, vídeos, e os fóruns. Aproveite, estude e acrescente ainda mais conhecimento! ATENCAO TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 133 • Externo – quando se busca por profissionais no mercado, podendo estar empregadas ou não, que tenham sido atraídas para a vaga oferecida. Fontes: anúncios, sites, cartazes etc. A escolha por um método ou outro vai depender de uma série de fatores, como urgência em ocupar a vaga, política de RH da empresa, nível de desenvolvimento dos possíveis candidatos, entre outros. Ambos possuem vantagens e desvantagens: QUADRO 1 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS MÉTODOS DE RECRUTAMENTO TIPO VANTAGENS DESVANTAGENS INTERNO Mudança de setor – deslocamentos horizontais. Promoções internas – deslocamentos verticais. Gera motivação da equipe e mantém o padrão do serviço oferecido. Valorização recíproca entre empregados e empresa. Mais rápida e menos custosa. Exige treinamento e avaliação. Nem sempre há oportunidades múltiplas de promoção. EXTERNO Agrega novas experiências e conhecimentos para a empresa. Aumenta o custo operacional. FONTE: Adaptado de TEIXEIRA et al. (2007); ABREU; SPINELI; PINTO (2019) De acordo com Teixeira et al. (2007) as fases do recrutamento são: • Identificação da necessidade de pessoal – geralmente acontece por redução no quadro de pessoal, que pode ser decorrente de demissão, licença, aposentadoria, entre outros. Essa verificação se faz pelo gerente, normalmente o nutricionista, quando verifica a necessidade e a encaminha ao setor responsável. • Análise do pedido de necessidade de pessoal – feita pelo responsável pelo recrutamento, a fim de verificar qual é melhor método a ser aplicado para o pedido. A partir dessa análise, faz-se a divulgação da vaga, interna ou externamente, para captar candidatos para o preenchimento desta. • Inscrição do candidato – após demonstrado o interesse pela vaga, os candidatos geralmente comparecem ao local pré-estabelecido para realizar entrevista. A etapa de inscrição dos candidatos é a última do processo de recrutamento, depois inicia-se a etapa de seleção. UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 134 2.2 SELEÇÃO É a parte do processo em que cabe a escolha do melhor candidato para ocupar a vaga oferecida. FIGURA 1 – META DA SELEÇÃO FONTE: SENAC (2007, p. 17) De acordo com Teixeira et al. (2007) é uma etapa complexa, que exige uma boa análise das variáveis relacionadas à escolha, por exemplo, aspectos sociais, econômicos, técnicos, intelectuais, entre outras. Após essa primeira análise, os candidatos são encaminhados a realizarem as outras etapas, que podem incluir testes, entrevistas, dinâmicas ou outras avaliações. Mezomo (2014, p. 158) diz que: alguns fatores devem ser observados na seleção da equipe do serviço de alimentação: • hostilidade do ambiente de trabalho; • conotação social do setor de cozinha; • responsabilidade das operações processadas na área; • nível socioeconômico-educacional de seus participantes; • condições físicas e de saúde da equipe. 2.2.1 Entrevistas Parte fundamental da etapa de seleção é necessário que o profissional responsável esteja capacitado e saiba conduzir com técnica para identificar os padrões de respostas. É a oportunidade que se tem de conhecer mais profundamente algumas características dos candidatos (SENAC, 2007). Alguns cuidados devem ser observados na condução de uma entrevista, tais como: escolha adequada de local (mais reservado, tranquilo, sem muito ruído; procurar deixar o candidato à vontade; observar as atitudes, lembrando o nervosismo que a pessoa pode apresentar no momento; ter atitude amigável; fazer uma análise prévia do currículo; realizar todas as perguntas que julgar pertinente e se necessário, repetir (TEIXEIRA et al., 2007; SENAC, 2007). TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 135 QUADRO 2 – DADOS IMPORTANTES NA ENTREVISTA APARÊNCIA GERAL SOCIALIZAÇÃO VIDA COMUNITÁRIA EXPERIÊNCIAS ANTERIORES CONHECIMENTOS TÉCNICOS Postura, vestuário, dentição, asseio, boa visão etc. Atitudes cortês, expansividade ou agressividade, equilíbrio emocional, comunicação clara, vida familiar, expectativas (restrições ao cargo, nível de realização, metas de crescimento). Participação em sindicatos, associações, clubes, atividades de lazer. Quais atividades executava, e de quais gostava mais, e de quais não gostaria de realizar. Técnicas e conhecimentos diretamente relacionados ao cargo. FONTE: Adaptado de TEIXEIRA et al. (2007, p. 134) Para a realização das entrevistas pode-se fazer uso de formulários já estruturados, com perguntas já elaboradas para todos os candidatos, porém esse tipo não leva em conta a individualidade de cada pessoa. Enquanto nas não estruturadas, o diálogo pode acontecer de modo mais livre, mas exige mais preparo do entrevistador (TEIXEIRA et al., 2007). FIGURA 2 – MODELO DE ENTREVISTA ESTRUTURADA Perguntas para a admissão de funcionário 1. Por que o interesse em trabalhar neste estabelecimento? 2. Quais as suas experiências em relação a restaurantes ou em estabelecimentos produtores de refeições? 3. Qual a forma adequada de estocagem de alimentos perecíveis? E de alimentos não perecíveis? 4. Ao receber um tipo de produto, o que se deve dar mais atenção? 5. Para uma ideal Segurança alimentar, o que o manipulador de alimentos deve agir em relação à higiene pessoal, a higiene de utensílios e equipamentos e a higiene do ambiente? 6. Como se deve prevenir uma contaminação alimentar? Mas, primeiramente, o que se entende de contaminação? Dê exemplos. 7. Você sabe o que é contaminação cruzada? Se sim, diga um exemplo. 8. Você acha correto ter um controle de temperatura nos alimentos tanto os crus como os cozidos? Se sim, por quê? 9. Como você se vê trabalhando neste estabelecimento e a sua relação com ou demais funcionários? 10. Cite alguns pontos positivos e pontos negativos que você tem e como eles seriam favoráveis e/ou desfavoráveis no seu trabalho? 11. Você está de acordo em trabalhar em um estabelecimento que segue condutas de boas práticas de fabricação, visando a segurança e a qualidade dos alimentos? FONTE: <https://www.docsity.com/pt/entrevista-com-funcionarios-de-uan/4700519/>. Acesso em: 7 jan. 2021. UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 136 Outro método que pode ser utilizado pode ser a situação-problema, que pode ser bem útil para a seleção de cargos de chefia. Nessa avaliação podem ser atribuídos pontos e verifica-se o desempenho de cada candidato frente ao problema apresentado. Seja qual for o método escolhido, o entrevistador tem que estar muito atento e ser treinado para realizar, para que assim sejam minimizados quaisquer erros que possam acontecer. Bem como é de suma importância que tão logo termine a etapa aplicada, o candidato seja avaliado, evitando esquecimentos (TEIXEIRA et al., 2007). 2.2.2 Testes Muito utilizados dentro dos processos de seleção para avaliar se os candidatos estão dentro dos atributos do cargo e podem acontecer de forma teórica ou prática, possibilitando uma análise mais objetiva (TEIXEIRA et al., 2007). Podem ser dos tipos: • Capacidade, habilidades e conhecimentos: buscam verificar se o candidato tem bom desempenho nas funções do cargo pretendido. De forma teórica pode ser aplicado por escrito ou oralmente. Para teste prático pode-se selecionar uma tarefa pertinente ao cargo e solicitar ao candidato para fazê-la. Quando a seleção for para um auxiliar de cozinha, por exemplo, fazer o pré-preparo de algum legume, observando o tempo gasto na tarefa, destreza na atividade, desperdício de alimentos, higiene, técnica empregada, entre outros. Caso não existam padrões para executar a atividade, ou ainda pouco tempo para realizar a contratação, a etapa dos testes pode acabar sendo inviável. E ainda podem ser de nível geral, com conhecimentos pertinentes a todos os cargos,como saber ler, ter boa relação com a equipe/ colegas, noções de higiene etc. Ou específicos, quando a atividade for exclusiva de uma função, como saber preparar pratos para o cozinheiro e ter boa organização para um estoquista, são exemplos (TEIXEIRA et al., 2007). • Psicotécnicos: são aplicados e analisados, geralmente, por psicólogos ou profissionais da área, vão analisar as informações pertinentes à personalidade, relações pessoais, capacidade de resolução de problemas, traços de agressividade, equilíbrio emocional, dentre outras características pessoais. Tendo a descrição completa do cargo, sabe-se qual melhor teste a ser aplicado. 2.2.3 Dinâmicas São usadas como ferramentas para conhecer algumas características mais pessoais dos candidatos. Geralmente mais utilizadas para seleção de cargos de liderança e de trabalho em equipe. “É um recurso que permite a observação de várias características simultaneamente, tais como: estilo de liderança; resistência à pressão; comunicabilidade; empatia/simpatia; trabalho em equipe; poder de argumentação” (SENAC, 2007, p. 18). TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 137 FIGURA 3 – DINÂMICA DE RH FONTE: <https://etalent.com.br/artigos/dinamicas-de-grupo-para-recrutamento-e-selecao/>. Acesso em: 7 jan. 2021. 2.2.4 Outros Podem ser aplicadas outras ferramentas na etapa de seleção, como avaliação das experiências anteriores, verificando se há experiência no cargo pretendido por exemplo; também pode-se pedir exames de saúde, principalmente para colaboradores da área de alimentação. A ordem que vão ser aplicadas as técnicas na seleção deverá ser definida de acordo com o momento da UAN, urgência em preencher a vaga, políticas de RH da empresa etc. Sendo de fundamental importância a participação do nutricionista gestor nessa decisão (TEIXEIRA et al., 2007). 2.3 ADMISSÃO A decisão do processo seletivo culmina na admissão do candidato que o gestor ache mais pertinente para ocupar a vaga, considerando os resultados do processo de seleção. Com a decisão tomada sobre o processo seletivo, o candidato deverá realizar o processo de admissão, que se dá pela assinatura do contrato de trabalho entre o colaborador e a empresa. Os critérios para efetivar essa admissão são estabelecidos pelas políticas de RH da instituição (TEIXEIRA et al., 2007; SENAC, 2007). 2.4 EDUCAÇÃO EM SERVIÇO E TREINAMENTO/ DESENVOLVIMENTO A educação em serviço se faz de imensa importância, visto que se trabalha diretamente com pessoas, tanto no setor hospitalar, quanto na oferta de refeições coletivas. Os treinamentos também são fundamentais, pois levam o grupo a executar suas tarefas de modo mais eficiente e eficaz, com menor custo e esforço, garantindo ainda maior segurança (MEZOMO, 2014). UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 138 Os novos colaboradores precisam ser colocados a par de seus direitos e deveres, aprendendo a organização em que trabalham, também para melhor se preparar para o cargo que irão ocupar. A mão de obra da UAN necessita de treinamento e desenvolvimento constantes, relembrando técnicas específicas de execução de cada função, a fim de tornar o trabalho mais eficiente. O acompanhamento da execução das tarefas é um eficiente modo de saber-se da necessidade de novo treinamento (TEIXEIRA et al., 2007). O objetivo dos treinamentos é “[...] de atualizar e informar os colaboradores de modo que executem com habilidade as tarefas do cargo, procurando desenvolver em cada um deles o espírito de participação e a cooperatividade, conscientizando- os de suas importâncias no Serviço de Alimentação” (SENAC, 2007, p. 19). Um programa de capacitação deve ser planejado antes de ser desenvolvido e ter como objetivo educar e dar capacidade de discernimento ao empregado, além de ser contínuo e sistemático. Deve ser ministrado de forma agradável e dinâmica, para evitar o desinteresse e o cansaço durante a atividade, porém, fazendo com que o empregado entenda o motivo de trabalhar de forma correta (ABREU; SPINELI; PINTO, 2019, p. 1127). De acordo com Chiavenato (2009, p. 388), o desenvolvimento profissional “visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar o homem para o seu crescimento profissional em determinada carreira na empresa ou para que se torne mais eficiente e produtivo no seu cargo”. 2.4.1 Tipos de treinamento Os treinamentos podem ser divididos, de acordo com SENAC (2007) em: • Admissionais – aqueles que acontecem logo após a contratação do colaborador, também pode acontecer como forma de integração à empresa. • Periódicos – que ocorrem em períodos programados, ou quando necessário, podendo ocorrer de forma interna ou externa, com contratação de profissionais externos à empresa ou não. 2.4.2 Fases do treinamento Assim como os outros processos da gestão de pessoas, os treinamentos também são divididos em fases. TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 139 QUADRO 3 – FASES DO TREINAMENTO DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ELABORAÇÃO DO TREINAMENTO IMPLEMENTAÇÃO DO TREINAMENTO AVALIAÇÃO Levantamento das prioridades e necessidades, verificando algumas variáveis como: rotatividade da equipe, baixa produtividade, baixa qualidade nos itens produzidos, muitos conflitos e reclamações, muita perda de alimentos, custo de produção de alimentos alto etc. Etapa onde se explica os objetivos do treinamento, quais recursos e procedimentos necessários e ações. Fase em que o treinamento acontece, de acordo com a programação previamente feita. Durante e após a execução do treinamento, a fim de garantir que saia conforme o planejado. Quando finalizado também são avaliadas a eficácia e se foi efetivo, cumprindo o objetivo. FONTE: Adaptado de Teixeira et al. (2007, p. 140-141) 2.5 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO A avaliação de desempenho deve ser baseada na capacitação, algo de extrema importância para que os colaboradores se desenvolvam. Ela deve acontecer periodicamente, servindo de material para verificação da eficiência no cumprimento das funções, para o nutricionista gestor. Essas informações servirão de base para posteriores promoções, aumento de salários, troca de unidade de trabalho ou setor, bem como para demissões (ABREU; SPINELLI; SOUZA, 2019). Segundo Mezomo (2014, p. 189), os principais objetivos da avaliação de desempenho são: • melhorar o desempenho; • desenvolver as pessoas; • possibilitar o diagnóstico (causa) do fraco desempenho e o estabelecimento das condições de sua melhora; Caro acadêmico, com o intuito de garantir a qualidade e o aproveitamento integral dos alimentos, o SESC e o SENAC, em parceria com o PAS (Programa Alimentos Seguros), desenvolveram uma série de cartilhas sobre manipulação de alimentos. Elas podem ser utilizadas como material de apoio nos treinamentos das UAN. Acesse: http:// portaldev.sesc.com.br/mesabrasil/cartilhas.html. DICAS UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 140 • identificar os funcionários cujas capacidades ultrapassam ou não se coordenam com suas atribuições; • avaliar o desempenho de um funcionário em contrato de experiência; • melhorar as relações humanas do trabalho; • fornecer as bases para a política salarial; • fornecer critérios para o recrutamento, seleção, treinamento, promoção, transferência e demissão de empregados; • estimar o potencial de cada indivíduo; • identificar os funcionários que precisam de treinamento em determinadas áreas. A avaliação também tem como objetivo distinguir a competência dos funcionários, dando-lhes ouvido e fazendo sempre o feedback sobre seu progresso, pois essa é uma ferramenta excelente para a motivação dos colaboradores, para aqueles que se esforçam e conseguem melhorar seus resultados e até mesmo almejar a promoção (SENAC, 2007). 2.6 AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS Além da avaliação de desempenho, existem outros indicadores que têm a finalidade de verificar como está a gestão de pessoas. Indicadores feitos através de padrões permitem avaliar a qualidade dos produtos a fim de otimizar a mão de obra (ABREU; SPINELLI;SOUZA, 2019). Esses indicadores podem ser, ainda de acordo com os autores citados anteriormente: • Taxa de absenteísmo – mede o quanto a equipe está comprometida e motivada, reflete as ausências não programadas, que acabam refletindo na qualidade dos serviços. Se as faltas forem constantes, pode acarretar desgaste da equipe, com sobrecarga de trabalho, pode aumentar os acidentes de trabalho. Nem sempre essa taxa alta é devido aos baixos salários, mas sim normalmente por má gestão. A taxa é calculada pela relação percentual entre a média de faltas diárias no período e o número total de colaboradores neste período. Essa média é obtida pelo número total de faltas no período escolhido dividido pelo número de dias úteis desse período. TA = ________________________________________________ x 100 nº de empregados no período nº médio de empregados ausentes no período Exemplo: Se uma UAN tem 50 funcionários, e teve uma média de 1,5 faltas por dia no período, teve como resultado 3% de Taxa de Absenteísmo. TA = _________ x 100 = 3% 50 1,5 Considera-se ideal que essa taxa seja 0, mas cada unidade deve estabelecer o valor aceitável para sua realidade, sempre implementando ações quando esse número for muito alto (ABREU; SPINELLI; SOUZA, 2019). TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 141 • Rotatividade de pessoal – Turnover – A rotatividade de pessoal é obtida por meio de uma relação percentual entre os desligamentos (D), em relação ao número médio de colaboradores da empresa em certo período. Geralmente é expressa em índices mensais ou anuais para comparações, a fim de se ter o cenário para tomada de ações (CHIAVENATO, 2009). RP = _____________________________________ x 100 nº médio de empregados no período D Exemplo: uma UAN que manteve 50 colaboradores e teve 6 desligamentos em 3 meses, tem como RP 12%. RP = ________ x 100 = 12% 50 6 Esse indicador não deve ser zero, pois pode caracterizar uma estagnação da unidade, nem alto demais, deve-se ter um equilíbrio dentro da realidade da UAN. O turnover muito alto traz problemas de gestão, visto que são sempre necessários treinamentos, além dos custos dos desligamentos serem elevados (ABREU; SPINELLI; SOUZA, 2019). 3 DIMENSIONAMENTO E CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE Os serviços de alimentação precisam ter um quadro de colaboradores adequado, tanto quantitativa quanto qualitativamente. Para saber o valor quantitativo, ou seja, dimensionar, existem indicadores de pessoal. No caso da UAN, esse indicador foi definido por Gandra et al. em 1987 e é usado até hoje, ele deve levar em consideração a tecnologia usada, o tipo de cardápio e de serviço e o processo de produção. Para as Unidades de Nutrição e Dietética (UND), nos hospitais, usa-se a relação com o número de leitos e o quadro de pessoal, bem como o número de refeições produzidas (SENAC, 2007). Diversos fatores devem ser levados em consideração ao se definir o dimensionamento do pessoal em UAN e UND, que segundo Teixeira et al. (2007) são esses: • Política de RH da organização: os colaboradores contratados pela empresa têm suas necessidades e expectativas levadas em consideração, ou importam apenas pelos serviços que desempenham? Seja qual for o tipo de política de RH que a organização siga, ela tem reflexo direto no recrutamento, seleção e treinamento, tendo consequência na quantidade e qualidade dos funcionários. UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 142 • Padrão de atendimento da UAN: tem relação direta com o tipo de sistema de atendimento. O padrão luxo aumenta a demanda por pessoal, bem como qualificação profissional, representando cerca de 40 a 50% do custo, enquanto sistemas de autosserviço tem um custo de 5 a 10%, pois precisam de menos pessoas e com menor qualificação. • Recursos físicos: a área física onde está a UAN, como está distribuída e os seus setores, se tem um layout racional, pois influencia na quantidade de colaboradores e se as atividades podem ser feitas com maior agilidade, pois áreas muito grandes por exemplo, exigem mais deslocamentos, atrasando os serviços e tendo maior necessidade de pessoas. Fluxos inadequados exigem mais funcionários para executar as tarefas. • Padrão do cardápio: o número de colaboradores também varia de acordo com o tipo do cardápio, quanto mais elaborado (de luxo) ou com mais opções, precisa de maior número de pessoas para a execução, se for do tipo popular ou médio, tem execução mais fácil, não sendo necessário grande número de pessoas para fazer. • Tipos de refeições: algumas UAN servem todas as refeições do dia (cerca de 5 a 6), precisando de um número maior de colaboradores do que uma unidade que sirva apenas uma, o almoço por exemplo. A maioria das UND servem todas as refeições. • Sistema de distribuição: no sistema centralizado é preciso maior número de pessoas concentradas na UAN, enquanto nos sistemas descentralizados, são necessários colaboradores em outros locais, como em copas por exemplo, sendo necessário maior número de colaboradores. • Modalidade do serviço: unidades com atendimento à mesa precisam de maior número de colaboradores, quando comparadas ao serviço de cafeteria ou self service. • Horário de refeições: em unidade com horários de distribuição muito longos, em muitos refeitórios diferentes, ou ainda em unidades de internação e refeitório, precisa-se mais funcionários. • Sistema de higienização: o tempo é maior no sistema descentralizado quando comparado ao sistema centralizado. Se forem sistemas mistos, as operações demandam tempo maior ainda. • Nível de tecnologia: equipamentos mais modernos e com maior capacidade reduzem a quantidade de colaboradores necessários. • Jornada de trabalho: as jornadas de 36 a 40 horas demandam mais pessoal que a de 44 horas/ semanais. Ainda é preciso levar em consideração as folgas e férias, para contratar substitutos. 3.1 JORNADA DE TRABALHO Existem diversas escalas de trabalho que podem ser adotadas nas UAN, de acordo com a necessidade, sendo a jornada de trabalho adotada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 44 horas semanais, conforme mostra Teixeira et al. (2007): TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 143 • 8 horas por dia, de 2ª a 6ª feira e 4 horas aos sábados, com folgas aos domingos, sem precisar de substituto de folga; • 8 horas por dia, de 2ª a 6ª feira e 4 horas aos sábados, com folgas aos domingos, requerendo substituto de folgas; • 12/36, ou seja, trabalha por 12 horas e folga por 36 horas (mais usada em hospitais), geralmente existe um grupo de trabalho em cada dia; • Carga horária semanal distribuída por igual pelos dias da semana; sendo essa a mais comum. Para todos os tipos de escala também é resguardado o direito a férias, que necessitam de um substituto. 3.2 DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL EM UND Para realizarmos o cálculo do dimensionamento de pessoal em UND, podemos usar cálculos baseados no quadro de colaboradores, no número de leitos do hospital ou ainda no número de refeições servidas. 3.2.1 Cálculo pelo número de leitos Segundo Mezomo (2014), em relação ao número de leitos, a proporção será de um colaborador para cada oito leitos (1:8). Exemplificando, em um hospital com 800 leitos ficaria assim: 1 colaborador 8 leitos X colaboradores 800 leitos X = _________ x 100 colaboradores 8 800 Esse hospital precisa de 100 colaboradores, que já inclui férias e folgas programadas. Em caso de faltas não programadas e licenças, é preciso acrescentar mais 20% sobre o total, então seria 100 + 20 = 120 colaboradores. 3.2.2 Cálculo em relação ao quadro de pessoal do hospital Em relação ao quadro de pessoal varia muito em função da necessidade e do tipo de serviço, existem diversos valores apresentados, entre 6, 8, 10 e 12%, chegando alguns a 15%, entretanto se admite 8% como percentual mais usual (MEZOMO, 2014). UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 144 Exemplo, em um hospital com 150 colaboradores: 150 colaboradores 100% X colaboradores 8% X = 150 * 8 = 1200 ÷ 100 = 12 colaboradores Nestecaso é necessário calcular o substituto de folga. Se considerarmos uma jornada de 8 horas/dia, com uma hora de intervalo, um dia de folga por semana e 30 dias por ano de férias, seria necessário para cada 6 colaboradores, acrescentar 1 como folguista, pois as folgas são semanais. Para esse cálculo, também deve ser feita a regra de três. 6 colaboradores 1 substituto 12 colaboradores X X = _____ = 2 substitutos 6 12 No total então serão 12 colaboradores + 2 substitutos = 14 colaboradores. Cada colaborador ainda tem direito a 30 dias de férias por ano. Levando em conta os feriados e as próprias férias, temos em torno de 330 horas trabalhadas por colaborador em um ano. É necessário multiplicar esse valor pelo número total de funcionários, para saber o total de horas de férias que a unidade terá que cobrir. Neste exemplo são 14 colaboradores x 30 dias de férias = 420 horas de férias. Sendo 330 as horas trabalhadas por ano, então 420 ÷ 330 = 1,27 = 1 colaborador para substituir férias. 3.2.3 Pelo número de refeições (Indicador de Pessoal Fixo) Esse indicador mostra o número de colaboradores através do número de refeições produzidas, sendo 15 minutos considerado o tempo médio de preparo para produzir e distribuir uma refeição, com produção centralizada, distribuição e higienização descentralizada, incluindo o serviço de copa. Não deve ser utilizado para escalas de 12 x 36 horas (TEIXEIRA et al., 2007). IPF =_________________________________ Jornada de trabalho em minutos Nº refeições servidas x 15 minutos Como exemplo, uma jornada de 8 horas diárias, em minutos são 480. Considerando-se servir 1200 refeições no dia (café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia), serão necessários 38 colaboradores, como segue: TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 145 IPF = _________ = _______ = 37,5 = 38 colaboradores 480 480 1200 x 15 18000 3.3 DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL EM UAN Gandra et al. (1987) apud Mezomo (2014) propôs, para cálculo de dimensionamento de pessoal nas UAN, alguns indicadores. O indicador de pessoal fixo pode ser utilizado para UND também, conforme vimos anteriormente, não é o mais usual no âmbito hospitalar, mas continua sendo muito usado nas UAN. 3.3.1 Indicador de Pessoal Fixo (IPF) Ainda segundo Gandra et al. (1987 apud Mezomo, 2014), o número de colaboradores para o dimensionamento em UAN (coletividades sadias) deve levar em conta a produtividade, com base no número de refeições produzidas por minuto, sendo a fórmula a ser aplicada: IPF =_________________________________ Jornada de trabalho em minutos Nº refeições servidas x n minutos Na qual, de acordo com Teixeira et al. (2007): • Número de refeições – é a soma de todas as grandes refeições servidas na unidade, almoço, jantar e ceia. • Jornada de trabalho – número de horas diárias normais, calculadas vezes 60 minutos. • N minutos – tempo médio gasto, em minutos, para preparar a refeição, que varia conforme a quantidade de refeições servidas, de acordo com o Quadro 4. QUADRO 4 – TEMPO PREPARO REFEIÇÕES Número de refeições "n" minutos 300 - 500 15 - 14 500 - 700 14 - 13 700 - 1000 13 - 14 1000 - 1300 10 - 09 1300 - 1500 9 - 8 1800 - 2200 8 - 7 2200 e mais 7 FONTE: SENAC (2007, p. 29) UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 146 Ainda, de acordo com SENAC (2007, p. 30): [...] o aumento ou a diminuição do “n” minutos está condicionado a: • número de refeições servidas/dia e seus diferentes horários; • número de dias de trabalho na semana; • diferenciação de cardápio; • número concomitante de pontos de distribuição; • modalidade de serviço: autosserviço/serviço de mesa; • horário de cada turno; • qualidade do pessoal técnico e subalterno; • qualidade e quantidade das instalações e equipamentos; • características regionais; • utilização de alimentos pré-elaborados; • fatores intrínsecos da própria empresa. Como exemplo, uma UAN com 850 refeições servidas em um dia, e jornada de trabalho de 8 horas, precisa de: 3.3.2 Indicador de Período de Descanso (IPD) Este indicador serve para analisar o número máximo de períodos de descanso (folgas, férias e domingos) que um substituto pode cobrir por ano. IPF = _________ = _______ = 23 colaboradores 480 480 850 x 13 11050 • Em unidades que trabalham de 2ª feira a 6ª feira ou de 2ª feira a sábado, os dias de descanso serão 30, pois não são considerados os domingos e feriados. IPF =________________________________________________________________ Período de descanso (férias + feriados + domingos) Dias do ano – período de descanso (férias + feriados + domingos) • Em unidades que trabalham de 2ª feira a domingo, para saber os dias de descanso é necessário somar os 30 dias de férias com as 48 folgas anuais (contando os domingos) e aos 12 feriados anuais – em média (necessário verificar no Estado/ Município da UAN), sendo o total então de 90 dias. Para o ano considera-se 365 dias. IPF = ________ = 11 dias 30 365 - 30 IPF = ________ = 3 dias 90 365 - 90 Esses são exemplos de cálculos por jornada, para cálculo do período de descanso, mas é necessário observar se existem dias de folgas anuais diferentes para cada UAN. TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 147 3.3.3 Indicador de Pessoal Substituto de Dias de Descanso (IPS) De acordo com SENAC (2007) é o que mostra o número de colaboradores necessários para substituições nos dias de folga. O cálculo é feito pela divisão do número de funcionários fixos (IPF) dividido pelo indicador do período de descanso (IPD). IPS = ______ IPD IPF Nos exemplos temos: IPS = 23 ÷ 11 = 2 colaboradores e IPS = 23 ÷ 3 = 8 colaboradores 3.3.4 Indicador de Pessoal Total (IPT) É o cálculo do número total de funcionários necessários, se obtém pela soma dos indicadores IPF e IPS (SENAC, 2007). IPT = IPF + IPS Nos exemplos, que variam por conta do tipo de jornada de trabalho, temos: IPT = 23 + 2 = 25 colaboradores e IPT = 23 + 8 = 31 colaboradores Observação importante, realizada pelo SENAC (2007, p. 31): • MO destinada exclusivamente a serviço de café, desjejum, merenda e lanches noturnos, terá de ser dimensionada à parte. • MO destinada à substituição de ausência/falta, terá de ser dimensionada a partir da taxa de absenteísmo, o que raramente ocorre nas empresas. Prezado acadêmico, observe que mesmo conhecendo e aplicando os cálculos apresentados para o dimensionamento de pessoal, sempre devem ser levados em conta todos os fatores listados anteriormente, bem como as características individuais de cada unidade. IMPORTANT E UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 148 3.4 CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE Produtividade e qualidade são diferentes, mas a qualidade congrega a produtividade, e esta é alcançada por meio de controles dos processos de produção. São dois os indicadores de produtividade: 3.4.1 Indicador de Rendimento de mão de obra (IRd) Resulta no rendimento da mão de obra em relação ao tempo previsto para o preparo e distribuição de uma refeição, em minutos, também proposto por Gandra et al. (1986) apud Abreu, Spinelli, Souza (2019). Exemplo: UAN com 25 colaboradores que tem jornada de 8 horas diárias, produz 1200 refeições: IRd =_____________________________________________________________ Nº refeições servidas por dia Nº de colaboradores x horas totais trabalhadas no dia x 60 minutos Existem parâmetros a serem seguidos, para se saber se o valor encontrado está de acordo com o esperado ou não. QUADRO 5 – PARÂMETRO PARA IRd Número de refeições Número de minutos 300 | - 500 15 | - 14 500 | - 700 14 | - 13 700 | - 1.000 13 | - 10 1.000 | - 1.300 10 | - 9 1.300 | - 2.500 9 | - 8 2.500 e mais 7 FONTE: Gandra et al. (1986) apud Abreu; Spinelli; Souza (2019, p. 125) A amplitude existente entre o número de refeições e os minutos se dá, pois, a realidade de cada UAN é diferente, devido ao tipo de serviço, tipo de cardápio, da tecnologia, da capacitação dos colaboradores, e isso implica diretamente produtividade, que pode ser maior ou menor. Os parâmetrosservem como um guia, não como um número definitivo (ABREU; SPINELLI; SOUZA, 2019). IRd = ___________ = _______ = 10 minutos por refeição 1200 1200 25 x 8 x 60 12000 TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 149 3.4.2 Índice de Produtividade Individual – IPI É o índice que mostra o rendimento da mão de obra em função do número de refeições produzidas e servidas. Exemplo: a UAN com 25 colaboradores e 1200 refeições. IPI = ______________________________ Nº colaboradores da UAN Nº de refeições servidas por dia Abreu, Spinelli e Souza (2019) trouxeram parâmetros para o IPI, os quais são bem atualizados, para determinar o quadro de pessoas de uma UAN, sendo um cálculo muito simples de executar. QUADRO 6 – PARÂMETRO PARA IPI Número de refeições IPI Até 100 1/30 100 - 300 1/35 300 - 500 1/40 500 - 1.000 1/50 1.000 - 1.500 1/55 1.500 - 3.000 1/60 Acima de 3.000 1/66 FONTE: Abreu; Spinelli; Souza (2019, p. 126-127) Esse cálculo também deve levar em consideração a realidade de cada UAN, e verificar todas as particularidades. Neste número estão incluídos colaboradores operacionais e administrativos. IPI = ______ = 48 refeições por colaborador 25 1200 A produtividade nas UAN é um assunto muito interessante, você pode aprofundar seus conhecimentos desse tema, caro acadêmico, lendo o artigo: SANTANA, A. M. C. A produtividade em unidades de alimentação e nutrição: aplicabilidade de um sistema de medida e melhoria da produtividade integrando a ergonomia. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de pós-graduação em Engenharia de Produção – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, p. 16-24. UNI UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 150 4 FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS Depois de sabermos, do ponto de vista quantitativo, o quadro de colaboradores, é necessário fazer a distribuição de pessoal por setores na UAN, através da porcentagem indicada para isso. O SENAC (2007) tem um quadro indicativo, com os percentuais tanto para as UND como para as UAN, e sugere essa distribuição, lembrando que existem particularidades de cada unidade: QUADRO 7 – DISTRIBUIÇÃO DE PESSOAL UND E UAN Setores UND UAN Administração 15% 5% Cafeteria 7% - Cocção 20% 20 - 15% Lanches e desjejum 5% - Distribuição - 20 - 15% Copas de distribuição 20% - Higienização de utensílios 8% 8% Higienização do ambiente 9% 9 - 12% Pré-preparo de gêneros 11% 30% Recebimento e estocagem 8% 8% Serviço noturno 6% - FONTE: SENAC (2007 p. 32) Já para definir quantos nutricionistas são necessários para fazer a gestão da unidade, deve-se observar o proposto pelo CFN (Conselho Federal de Nutricionistas), em um primeiro momento através da Resolução nº 380/ 2005, posteriormente revogada pela Resolução nº 600/2018, conforme: TABELA 1 – NÚMERO DE NUTRICIONISTAS Serviços de alimentação coletiva (autogestão e concessão) em: empresas e instituições, hotéis, hotelaria marítima, comissarias, unidades prisionais e similares. Nº de grandes refeições/dia Tipo de refeição Tipo de refeição Uma grande refeição/dia Duas grandes refeições/diaou mais Nº de nutricionistas Carga horária técnica semanal Nº de nutricionistas Carga horária técnica semanal Até 100 1 12h 1 15h 101 a 300 1 15h 1 20h 301 a 500 1 20h 2 20h TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 151 501 a 1.000 2 30h 3 30h 1.001 a 1.500 3 30h 4 30h 1.501 de 2.500 4 30h 5 30h Acima de 2.500 4 + 1 a cada 1.000 refeições/ dia 30h 5 + 1 cada 1.000 refeições/dia 30h FONTE: <https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm>. Acesso em: 26 fev. 2021. TABELA 2 – NÚMERO DE NUTRICIONISTAS Serviços de Alimentação Coletiva (autogestão e concessão) em: hospitais, clínicas em geral, hospital-dia, Unidades de Pronto Atendimento (UPA), spa clínicos, serviços de terapia renal subs- titutiva, Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e similares. Nº de grandes refeições/dia Nº de nutricionistas Carga horária técnica semanal Até 100 1 20h 101 a 300 1 30h 301 a 500 2 30h 501 a 2.000 3 30h 2.001 a 3.000 4 30h Acima de 3.000 4 + 1 a cada 1.000 refeições/dia 30h FONTE: <https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_600_2018.htm>. Acesso em: 26 fev. 2021. A resolução também traz observações importantes, ainda no Anexo III, sobre o número de nutricionistas: 1 – Para fins de cálculo do número de grandes refeições, considerar que dez pequenas refeições equivalem a uma grande refeição. 2 – Nas Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN), manter nutricionista na supervisão das rotinas de produção e distribuição de refeições, inclusive as que funcionam 24 horas/dia. 3 – Os parâmetros descritos na Tabela 1 se aplicam para os serviços centralizados, descentralizados e mistos. 4* UAN – Em caso de serviço descentralizado, ter também nutricionista responsável pela supervisão da distribuição das refeições na unidade/ cliente, conforme os parâmetros numéricos de referência estabelecidos em norma própria do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN). 4* UND – O número total de nutricionistas ou da carga horária técnica semanal da instituição será composto do somatório da Tabela 2 da área de Nutrição em Alimentação Coletiva e da Tabela 1 da área de Nutrição Clínica – Hospital e Clínicas em geral, conforme os níveis de complexidade existentes. 5 – A carga horária técnica semanal refere-se à atuação de cada nutricionista para atendimento às atribuições, considerando a complexidade do serviço. 6 – Os casos não previstos na tabela ficarão a critério da análise do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN). UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 152 Alguns exemplos de cargos existentes em UAN/UND, segundo SENAC (2007, p. 33): • açougueiro; • auxiliar administrativo; • confeiteiro / auxiliar de confeiteiro / ajudante de confeiteiro; • auxiliar de cozinha / ajudante de cozinha; • auxiliar de cozinheiro / ajudante de cozinheiro / meio oficial; • auxiliar de serviços gerais / ajudante de serviços gerais; • chefia da seção ou setor; • chefia geral / gerente da unidade / supervisor; • copeiro; • chefe de cozinha / cozinheiro líder / cozinheiro; • estoquista / despenseiro / controlador de estoque; • garçom / garçonete; • nutricionista / técnico em nutrição. A descrição de cargos é fundamental, pois define: o papel da função na unidade; posição na hierarquia; atribuições; relações; qualificações específicas; atividades pertencentes à função; equipamentos a se manejar; requisitos para o cargo; conhecimento sobre a função e ainda possibilidade de promoção. Além disso, deixa claro para o colaborador recém contratado, quais são as funções esperadas dentro do cargo, qual seu nível de subordinação, qual nível de autonomia, sem gerar constrangimentos e enganos por falta dessas informações (MEZOMO, 2014). Para uma descrição coerente, é necessária uma coleta de dados, que pode ser feita através de um formulário, como o exemplo no Quadro 8: QUADRO 8 – FICHA PARA DESCRIÇÃO DE CARGOS Cargo ou função Setor Sumário do cargo ou função Atividade principais (requisitos): a) educação b) experiência Responsabilidades: a) por materiais b) por subordinados c) por decisões Esforço: a) físico b) mental: atenção - iniciativa Condições de trabalho: a) riscos b) ambiente TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 153 Posição hierárquica: a) chefe imediato b) subordinados Outros dados: a) padrão ou nível salarial b) requisitos físicos c) habilidades especiais d) conhecimentos especiais e) regime de trabalho f) traços de personalidade FONTE: Mezomo (2014, p. 162) A descrição de cargos e funções é imprescindível para que o setor de gestão de pessoas funcione adequadamente, inclusive na formação de um bom quadro de colaboradores. Não se tem bons resultados com seleção, treinamentos ou avaliação, sem estarem bem definidos os cargos e funções. É parte fundamental de uma boa administração (MEZOMO, 2014). QUADRO 9 – PRINCIPAIS CARGOS, DESCRIÇÃO E FORMAÇÃO NECESSÁRIA Principais cargos Descrição sumária Formação e experiência Técnico em NutriçãoOs técnicos em nutrição e dietética trabalham sob supervisão de nutricionista, atuando, prioritariamente, em Unidades de Alimentação e Nutrição Requer curso técnico em Nutrição (nível médio) oferecido por instituições de formação profissional e escolas técnicas, além do registro profissional no Conselho Regional de Nutricionistas. O exercício pleno das atividades é obtido durante o primeiro ano de experiência, após estágio Chefe de cozinha Criam e elaboram pratos e cardápios, atuando direta e indiretamente na preparação dos alimentos. Gerenciam a brigada de cozinha e planejam as rotinas de trabalho. Podem gerenciar, ainda, Os estoques e atuar na capacitação de funcionários Requer ensino médio completo. O pleno desempenho das atividades ocorre entre três ou quatro anos de exercício profissional, para o chefe de cozinha UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 154 Cozinheiro Organizam e supervisionam serviços de cozinha em hotéis, restaurantes, hospitais, residências e outros locais de refeições, elaborando o pré-preparo, o preparo e a finalização de alimentos, observando métodos de cocção e padrões de qualidade dos alimentos Requer ensino fundamental seguido de cursos básicos de profissionalização, que variam de 200 a 400 horas, ou experiência equivalente. O pleno desempenho das atividades ocorre em três ou quatro anos de exercício profissional Padeiro, confeiteiro e afins Planejam a produção e preparam massas de pão, macarrão e similares. Fazem pães, bolachas e biscoitos e fabricam macarrão. Elaboram caldas de sorvete e produzem compotas. Confeitam doces, preparam recheios e confeccionam salgados. Redigem documentos, como requisição de materiais, registros de saída de materiais e relatórios de produção Requer ensino fundamental concluído e curso básico de qualificação profissional de 200 a 400 horas aula. O pleno desempenho das atividades ocorre entre um e dois anos de experiência profissional Auxiliar nos serviços de alimentação (ajudante de confeiteiro, ajudante de padeiro, ajudante de cozinha, saladeiro) Os trabalhadores auxiliares nos serviços de alimentação auxiliam outros profissionais da área no pré-preparo, preparo e processamento de alimentos, na montagem de pratos. Verificam a qualidade dos gêneros alimentícios, minimizando riscos de contaminação Requer em geral ensino fundamental seguido de cursos básicos de profissionalização que variam de 200 a 400 horas-aula, ou experiência equivalente Estoquista Recepcionam, conferem e armazenam produtos e materiais em almoxarifados, armazéns, silos e depósitos. Requer formação equivalente ao nível médio completo e curso básico de qualificação de até 200 horas-aula. O pleno desempenho das TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 155 Fazem os lançamentos da movimentação de entradas e saídas e controlam os estoques. Distribuem produtos e materiais a serem expedidos. Organizam o almoxarifado para facilitar a movimentação dos itens armazenados e a armazenar atividades ocorre após um a dois anos de experiência profissional Garçons, barmen, copeiros e sommeliers Atendem os clientes, recepcionando os e servindo refeições e bebidas em restaurantes, bares, clubes, cantinas, hotéis, eventos e hospitais; montam e desmontam praças, carrinhos, mesas, balcões e bares; organizam, conferem e controlam materiais de trabalho, bebidas e alimentos, listas de espera, limpeza e higiene e segurança do local de trabalho; preparam alimentos e bebidas, realizando também serviços de vinhos Requer, no mínimo, o ensino fundamental incompleto e até um ano de experiência. A formação profissional ocorre com a prática no local de trabalho ou em cursos profissionalizantes. O sommelier, para o qual é requerido o ensino médio, necessita de especialização e experiência de um a dois anos Auxiliar de limpeza Limpam, higienizam e organizam os utensílios e ambientes internos e externos do restaurante Requer ensino fundamental completo ou prática profissional no posto de trabalho FONTE: Aguiar, Kraemer e Menezes (2013, p. 30-31) Ainda de acordo com Mezomo (2014), seguem exemplos de descrição de cargos: • Cargo: Nutricionista chefe UND o Resumo da descrição do cargo: trabalho que consiste em dirigir e estabelecer normas técnicas e administrativas, bem como planejar programas de trabalho e controlar a sua execução. UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 156 o Trabalhos executados: - programar e estabelecer normas e diretrizes técnico-administrativas para o serviço de acordo com as normas vigentes do hospital; - planejar e determinar medidas para a padronização e atualização dos métodos de trabalho; - determinar o quadro pessoal do serviço; - elaborar relatórios mensais e extraordinários sobre as atividades do serviço; - convocar reuniões com seus subordinados; - solicitar a elaboração e aplicação de programas de ensino e treinamento para o pessoal dos diversos setores do serviço; - motivar a participação dos demais profissionais nutricionistas em congressos, cursos e outros eventos; - cooperar com as instituições de ensino nos estágios práticos; - incrementar atividades de pesquisa em nutrição e dietética; - participar da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH); - solicitar ao nutricionista de produção o controle bacteriológico de refeições; - elaborar escala de serviços e folgas; - distribuir os funcionários de diversos setores necessários ao setor de dietoterapia; - analisar e aprovar a padronização de dietas e cardápios elaborados; - aprovar a previsão periódica de compras dos gêneros alimentícios e materiais quando estes forem requisitados para a provisão do SA; - desempenhar tarefas afins. o Equipamentos usados: - arquivo; - mesa; - cadeira; - calculadora; - materiais de escritório de forma geral. o Relacionamento com ocupantes de outros cargos: - administrador; - corpo clínico; - enfermagem; - serviço social; - chefe do serviço de nutrição; - demais nutricionistas. o Combinação de trabalho: - as tarefas desta função podem ser combinadas com: ▪ as demais nutricionistas; ▪ corpo clínico; ▪ enfermagem. TÓPICO 1 — RECURSOS HUMANOS 157 o Qualificações especiais: - superior completo (Nutrição); - curso de especialização em Administração Hospitalar; - experiência profissional na área hospitalar de 3 anos, no mínimo, e registro no CRN. o Especificação do cargo – função: - título: nutricionista chefe; - sexo: independe; - carga horária: 44 horas semanais; - folga: 2 folgas semanais; - férias: 30 dias/ano. o Qualificações gerais: - abstração; - concentração; - astúcia; - perspicácia; - raciocínio rápido; - temperamento estável. o Exigências pessoais: - boa aparência; - liderança; - sociabilidade; - dinamismo; - bom-senso; - agilidade; - livre de doenças. o Contatos: - administração; - demais nutricionistas e chefias. o Principais funções: - Planeja, dirige e coordena as atividades desenvolvidas pelo serviço. - Supervisor direto: administrador. - Limites de idade: 25 a 55 anos. - Estado civil: independe. - Salário: de acordo com o plano de cargos, salários e benefícios adotado no hospital em questão. - Educação: superior completo (Nutrição), curso de especialização em administração hospitalar. - Capacidade física: normal. - Condições de trabalho: normais, sujeitos a pequenos riscos de contaminação. - Promoção: desde que se qualifique para tanto, poderá fazer parte da administração geral do hospital. 158 Neste tópico, você aprendeu que: • Os recursos humanos são parte extremamente importante no contexto da administração das UAN e UND. • As fases de cada etapa no processo de contratação de novos colaboradores. • O recrutamento é a primeira fase e compreende a etapa de divulgação da vaga, a fim de captar as pessoas mais qualificadas para a inscriçãona seleção. • A fase de seleção é quando o melhor candidato será escolhido para ocupar a posição divulgada, a pessoa certa no lugar certo, através de diversas etapas (entrevista, testes, entre outros). • A admissão acontece mediante escolha do candidato e apresentação de documentação solicitada, bem como da assinatura do contrato de trabalho. • As capacitações e treinamentos devem ser constantes nas UAN/UND, para qualificar sempre os colaboradores. • Da parte quantitativa da gestão de pessoas em UAN/UND contamos com o dimensionamento de pessoal, a fim de determinarmos a quantidade ideal de colaboradores para a unidade, através de cálculos de diversos indicadores. • É fundamental para a gestão de pessoas que os cargos e funções estejam bem claros, evitando constrangimentos e enganos quanto as tarefas dentro da unidade, responsabilidades, bem como respeito à hierarquia. RESUMO DO TÓPICO 1 159 1 Uma Unidade de Nutrição e Dietética será inaugurada em um hospital na cidade e abrirá atendimento para 200 leitos. Segundo Mezomo (2014), quantos colaboradores serão necessários para essa UND? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) 25 colaboradores. b) ( ) 35 colaboradores. c) ( ) 15 colaboradores. d) ( ) 19 colaboradores. 2 Os serviços de alimentação precisam ter um quadro de colaboradores adequado, tanto quantitativa, quanto qualitativamente. Para saber o valor quantitativo, ou seja, dimensionar, existem indicadores de pessoal. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: I- Padrão de atendimento da UAN: tem relação direta com o tipo de sistema de atendimento. O padrão luxo aumenta a demanda por pessoal, bem como qualificação profissional, representando cerca de 40 a 50% do custo, enquanto sistemas de autosserviço tem um custo de 5 a 10%, pois precisam de menos pessoas e com menor qualificação. II- Padrão do cardápio: algumas UAN servem todas as refeições do dia (cerca de 5 a 6), precisando de um número maior de colaboradores do que uma unidade que sirva apenas uma, o almoço por exemplo. A maioria das UND servem todas as refeições. III- Sistema de higienização: o tempo é maior no sistema descentralizado quando comparado ao sistema centralizado. Se forem sistemas mistos, as operações demandam tempo maior ainda. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 O recrutamento é uma das etapas em que se divide o processo de contratação de recursos humanos em uma UAN. A etapa final do recrutamento de pessoal é a: Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Identificação da necessidade de pessoal. b) ( ) Aplicação de testes práticos. c) ( ) Descrição do cargo. d) ( ) Inscrição. AUTOATIVIDADE 160 4 Entendendo que o dimensionamento de pessoas é de extrema importância dentro da UAN, determine o número de funcionários necessários a uma UAN, pelo IPT, que fornece 1000 refeições/dia com jornada de trabalho de 8 horas/ dia e regime de trabalho de 44 horas/semana. Seu funcionamento ocorre de segunda a domingo, tendo 12 dias de feriado. 5 A descrição de cargos e funções tem papel fundamental dentro das UAN e UND, pois traz diversas vantagens. Neste contexto, disserte sobre quais vantagens e porque é importante que se tenha claro os cargos e funções. 161 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, iniciaremos, neste tópico, os estudos da segurança e a saúde ocupacional, mas você sabe o que isso significa? Segurança e saúde do trabalho é um conjunto de medidas que trata da prevenção de doenças e acidentes ocupacionais, garantindo a integridade física e mental do trabalhador, evitando os fatores de risco, tanto no exercício das funções, quanto no ambiente de trabalho (BARRETO, 2016). Podemos definir como um conjunto de medidas educativas, técnicas e psicológicas para prevenir os acidentes, através da instrução dos profissionais das UAN. Também são as atividades preventivas, para garantir a saúde e o conforto dos colaboradores, impedindo a instalação ou o agravamento de doenças, além dos afastamentos, por consequência. No Brasil não há cultura de segurança, e, infelizmente, o país está entre os primeiros lugares das estatísticas de altos índices de acidente de trabalho, sendo a falta de educação para a prevenção um dos principais motivos (BARRETO, 2016). Para entendermos os riscos e as doenças ocupacionais aos quais os trabalhadores da área de alimentação estão sujeitos, falaremos mais detalhadamente de cada uma a seguir, bem como das normas regulamentadoras dentro das UAN. 2 RISCOS OCUPACIONAIS De acordo com Lei nº 8.213/1991, artigo 19 (Redação pela Lei complementar n° 150, de 2015): Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho [...], provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 162 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN Souza (2009) define que acidentes de trabalho geralmente ocorrem por conta de condições inseguras de trabalho ou atos inseguros, e devem ser tratados antes que ocorram, com medidas educativas e de conscientização: • Atos inseguros – são as ações dos próprios colaboradores, em geral conscientes do que estão fazendo, e que estão fora das normas de segurança, podendo desencadear um acidente. Por exemplo: não uso dos EPIs (Equipamento de Proteção Individual), trabalhar com pressa excessiva, usar equipamentos ou utensílios com defeito/quebrados, realizar brincadeiras no ambiente de trabalho, ligar equipamentos na rede de energia com as mãos molhadas etc. • Condições inseguras – as condições inadequadas do ambiente de trabalho, que podem oferecer risco ou perigo para os trabalhadores, se relacionam às atitudes do empregador. Por exemplo: fiações expostas, pisos quebrados, falta de iluminação, não entrega dos EPIs, falta de manutenção nos equipamentos etc. Existem diversos riscos aos quais os trabalhadores das UAN podem ser expostos no exercício de suas funções, por exemplo os relacionadas ao ambiente, excesso de ruídos; falta de controle da temperatura; iluminação irregular; vapor, poeira e gases não controlados; ainda substâncias químicas (AGUIAR; KRAEMER; MENEZES, 2013). Os trabalhadores nas UAN estão expostos a riscos químicos, físicos, ergonômicos, biológicos e mecânicos. Os químicos são aqueles relacionados a: produtos de limpeza, através da inalação por serem voláteis ou por contato com a pele, ainda por ingestão acidental. Os riscos físicos são aqueles ligados à: temperatura, umidade, ruídos e calor. Os riscos ergonômicos podem se referir tanto a um dimensionamento incorreto da estrutura, como máquinas e equipamentos planejados de forma inadequada, causando desconforto, cansaço e possíveis lesões. Os riscos biológicos incluem os causados por microrganismos. E por fim os riscos mecânicos são aqueles referentes a problemas com equipamentos sem proteção por exemplo, risco alto para incêndio ou explosão, arranjo físico inadequado, entre outros (TOSTES, 2003; NEPOMUCENO, 2004). Acadêmico, você pode consultar a legislação completa, sobre Planos de Benefícios da Previdência Social e outras providências em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l8213cons.htm. DICAS TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 163 O nutricionista tem papel fundamental no cuidado da saúde dos colaboradores na UAN, e contribui para a manutenção de um ambiente saudável, propondo dimensionamentos adequados de equipamentos, corrigindo os ambientes quando possível, seguindo as recomendações do PPRA e do PCMSO, monitorando periodicamente a situação (AGUIAR; KRAEMER; MENEZES, 2013). 2.1 RISCOS FÍSICOS Tostes (2003, p. 23) descreve que os “riscos físicos são as diversas formas de energia aque possam estar expostos os trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, bem como o infrassom e ultrassom”. 2.1.1 Ruído No trabalho rotineiro de uma UAN existe a produção de muito ruído, principalmente nas áreas de higienização, gerado pelos equipamentos e ainda pela batida dos utensílios durante o preparo das refeições. Os ruídos em excesso podem prejudicar a saúde dos trabalhadores, e ainda segundo Buchhmann (2018, p. 13): a consequência dessa exposição pode resultar em irritação, incômodo, dor de cabeça, cansaço e perda auditiva, portanto recomenda-se a utilização de EPIs adequados e treinamentos sobre a correta maneira de utilizá- los, realização de manutenção periódica dos equipamentos, rodízio de funcionários, realização e acompanhamento de exames adequados. Nas UAN é grande a dificuldade em manter os ruídos em níveis adequados, devido ao tipo de operação e de equipamentos empregados. A recomendação é que se façam estudos para determinar quanto ruído está sendo produzido em cada local e tomar ações para sua redução (TOSTES, 2003). 2.1.2 Temperatura O desconforto causado pela temperatura pode ser ocasionado tanto pelas altas temperaturas, através dos equipamentos de cocção, vapores (gerando também aumento de umidade), como pelas temperaturas muito baixas, no interior de câmaras frias, por exemplo. Além disso, nas unidades é comum existirem problemas de ventilação insuficiente. Tostes (2003) também relata que o tipo de uniformes utilizados, a posição e localização geográficas da UAN, o tipo de construção (dimensão, material, cobertura etc.) e o esforço necessário para realizar as atividades, influenciam diretamente no conforto térmico. Ainda de acordo com Tostes (2003, p. 26-27): 164 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN o calor pode ocasionar prostração térmica, cujos sintomas são dor de cabeça, tonturas, mal-estar e fraqueza, cãibras de calor ocasionadas pela perda excessiva de sais pelos músculos, devido a sudorese intensa, desidratação entre outros. O frio pode causar doenças das vias respiratórias, rachaduras e/ou necrose da pele, problemas cardiovasculares, gangrena e erupção na pele. O calor está presente em praticamente todas as atividades de uma UAN, desde a higienização, pelo uso de água quente ou pelo uso da máquina de lavar louça, até o manejo de utensílios e equipamentos que exalam calor nas etapas de pré-preparo, preparo e distribuição das refeições. Como medidas de proteção à essa exposição, são necessárias a exaustão, ventilação e climatização adequadas; que sejam passadas instruções para uso do exaustor durante as atividades; se possível fazer a regulagem da temperatura da água quente, evitando abrir demais as torneiras para não ter a pressão maior; manter exaustores em bom estado de funcionamento; realizando manutenções periódicas dos equipamentos de climatização e das tubulações da água quente; utilização de uniformes com tecidos mais leves; entre outros (BUCHHMANN, 2018). Ainda citado Buchhmann (2018), a exposição ao frio também está presente em muitas atividades de uma UAN, geralmente quando se realiza a higienização das câmaras de congelamento e resfriamento; no momento do armazenamento de insumos nessas câmaras, ou ainda no manuseio de produtos no interior delas. As câmaras de congelamento, em sua maioria, permanecem com temperatura inferior a -18 °C, e são utilizadas para armazenar alimentos congelados, como produtos cárneos, hortifrúti higienizado e congelado ou quaisquer outros produtos manipulados que precisem maior tempo de validade. Já as câmaras de resfriamento, podem manter a temperatura entre 0 ºC e 10 ºC, sendo utilizadas para armazenar os mais diversos produtos perecíveis, por exemplo, os produtos cárneos refrigerados, produtos lácteos, as massas frescas e alguns alimentos manipulados que precisem de refrigeração, a fim de manter suas propriedades, bem como hortifrúti. Recomenda-se a utilização de EPIs adequados sempre que for realizado o acesso à câmara, assim como realizar o desligamento do equipamento para realizar a higienização e, quando em funcionamento, observar qual o limite de tempo de exposição, por temperatura, no interior das câmaras. Colaboradores de UAN também estão constantemente expostos à umidade, principalmente pelas atividades de higienização, que utilizam muita água, bem como do vapor proveniente das atividades comuns à cozinha. O trabalhador que se expõe à umidade pode vir a desenvolver doenças respiratórias, infecções/doenças de pele, ou mesmo resfriados e dores musculares. Evita-se tendo um ambiente bem ventilado, com exaustão e climatização que funcionem adequadamente, bem como com o uso de EPIs, além disso, é importante retirar o excesso de umidade dos pisos e paredes sempre que necessário (BUCHHMANN, 2018). TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 165 2.2 RISCOS QUÍMICOS Os riscos químicos são aqueles causados por contato com produtos que possam penetrar na pele, ou através das vias respiratórias (através da poeira, fumaça, gases ou vapores) ou ainda por ingestão. Nas UAN, os colaboradores trabalham com produtos químicos durante a realização de diversas tarefas, como nas etapas de limpeza e desinfecção dos ambientes, na higienização do hortifrúti e nas etapas de higienização, de equipamentos, de instalações, de móveis e utensílios, além da higiene pessoal. Produtos como água sanitária, detergentes, desincrustantes, desengordurantes, desinfetantes que, quando aplicados, podem liberam vapores e gases, precisam atenção especial ao serem manipulados, porque podem desencadear tonturas e dores de cabeça, diversas alergias, irritação dos olhos, dermatose, irritação nas vias respiratórias, queimadura química e intoxicação (TOSTES, 2003; NEPOMUCENO, 2004; BUCHHMANN, 2018). Para evitar esses riscos, algumas medidas precisam ser implementadas como: sempre observar as recomendações dos fabricantes descritas nos rótulos dos produtos, principalmente quanto à diluição; uso de EPIs necessários e adequados ao manejo do produto; ainda sempre que possível, manter janelas e portas abertas durante o processo de higienização, favorecendo a eliminação dos vapores e resíduos dos produtos (TOSTES, 2003). Segundo Buchhmann (2018, p. 13), algumas recomendações são necessárias em relação aos produtos químicos: [...] Diálogo Diário de Segurança (DDS), treinamentos (integração, utilização de EPIs, produtos químicos, FISPQ (Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos), procedimento de higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios), utilizar produtos químicos diluídos, realizar diluição com água em temperatura ambiente, utilização de EPIs conforme recomendação da FISPQ, ter a FISPQ a disposição para consulta, utilização de dosador e manter o mesmo em adequado funcionamento, orientação para realizar as tarefas com atenção, utilização de recipientes próprios e identificados para produtos de limpeza e treinamentos do procedimento de higienização do hortifrúti. 2.3 RISCOS BIOLÓGICOS Os riscos biológicos são aqueles ligados à capacidade que alguns organismos vivos têm de causarem doenças nos seres humanos, por exemplo as bactérias, os fungos, os helmintos, os protozoários e os vírus, entre outros seres patogênicos. As principais vias de contaminação são: respiratória, cutânea, parenteral e digestiva. 166 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN A exposição a microrganismos patogênicos em uma UAN é em consequência da limpeza/ desinfecção das áreas de armazenamento de resíduos, bem como do manuseio desses resíduos, da higienização das instalações dos vestiários/ sanitários, e ainda por contato com outros trabalhadores (BUCHHMANN, 2018). Para evitar esses riscos, como ações de controle a serem implementadas em uma UAN deve-se: realizar a higienização constante dos todos os ambientes de trabalho, impedindo a formação de qualquer microrganismo, como bactérias e fungos; realizar oadequado armazenamento dos gêneros alimentícios; fazer a correta lavagem das mãos, sempre antes e após manipular alimentos; fazer o adequado descarte dos restos de alimentos, de maneira que eles permaneçam o menor tempo possível próximos do ambiente de trabalho (se possível em área isolada e climatizada, para evitar proliferação de microrganismos); utilizar EPIs para o manuseio dos resíduos (por exemplo luvas e botas de borracha) (TOSTES, 2003). 2.4 RISCOS MECÂNICOS Os riscos mecânicos são decorrentes de atividades realizadas com equipamentos, desencadeiam lesões nos colaboradores quando acontecem os acidentes de trabalho. Os exemplos mais comuns são: ferramentas com defeito, ferramentas improvisadas/inadequadas, equipamentos e máquinas sem proteção etc. (TOSTES, 2003). Em uma UAN, esses riscos são aqueles que podem gerar acidentes envolvendo cortes nos membros superiores através de objetos cortantes (moedores de carne, facas, espetos etc.), risco elevado de incêndio por mau uso de equipamentos (sobrecarga), por choque elétrico (fios mal encapados), por uso de equipamentos estragados ou com defeito, e acidentes em consequência da falta do uso de EPI (NEPOMUCENO, 2004). De acordo com Tostes (2003), as medidas de prevenção devem ser: a orientação para uso correto dos EPIs e que sejam adequados a cada função, como uso da luva de malha de aço para pré-preparo de carnes; e a elaboração de programa de manutenção preventiva de equipamentos. 2.5 RISCOS ERGONÔMICOS Buchhmann (2018) cita que são aqueles relacionados à repetitiva e má postura, ao esforço físico intenso e ao levantamento e transporte inadequado de peso. As posturas repetitivas e inadequadas estão relacionadas a várias atividades dentro da UAN: nos processos administrativos, nas atividades de higienização, na recepção, guarda dos alimentos, pré-preparo, elaboração e distribuição das refeições. Pode ter como consequência os distúrbios por esforços repetitivos, dores (de cabeça, musculares, nas costas etc.) e fadiga. TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 167 As medidas para prevenir esses riscos mais indicadas são: treinamento e orientações sobre como evitar lesões, mostrando postura e movimentos corretos; fazendo uso correto dos móveis e utensílios, como por exemplo usar o carrinho de transporte para cargas; ajuste da tela do computador; diversificação e rodízio das atividades; fazer pausas entre as atividades; e, durante a manipulação de alimentos, usar se possível cubas e torneiras com a altura adequada (BUCHMANN, 2018). 2.6 MEDIÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS As medições dos riscos ambientais são realizadas através do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). 2.6.1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) O PPRA foi criado, a partir da NR-09 como um programa que garantisse a integridade e preservação da saúde dos trabalhadores, em decorrência dos riscos ocupacionais do ambiente de trabalho. Porém, no ano de 2020, sofreu uma atualização e passou a se chamar Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos, que tem como objetivo ser mais dinâmico e abrangente que o antigo programa. Deve ser realizada uma análise prévia da exposição a esses agentes, para a posterior elaboração das medidas de prevenção. 2.6.2 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO tem o objetivo de promover e preservar a saúde dos seus trabalhadores, é estabelecido pela NR-07. Ele tem caráter prevencionista para rastreamento e diagnóstico precoces dos problemas relativos ao trabalhador, no que tange à saúde, inclusive de observar se existem ocorrências de casos de doenças ocupacionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. A responsabilidade pela implementação é do empregador, que deve custear as despesas geradas por ele e ainda garantir sua eficácia, além de ser necessário indicar o Médico do Trabalho responsável por coordenar e executar o programa (TOSTES, 2003). Ainda de acordo com Tostes (2003), cabe ao médico do trabalho realizar os exames médicos, ou encarregar o médico que irá fazê-los, que deve ter conhecimento das doenças ocupacionais e suas causas, também ter conhecimento do ambiente onde será realizado o trabalho, e a quais condições de trabalho e riscos que o colaborador a ser examinado será submetido, para isso ele deve acesso ao PPRA do local. 168 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 2.7 MEDIDAS DE PREVENÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS A fim de reduzir a ocorrência de acidentes em função dos riscos ambientes, o uso correto de EPC (Equipamentos de Proteção Coletivos) e de EPI (Equipamentos de Proteção Individual) são fundamentais. Além de realizar treinamentos constantes, tanto coletivos quanto individuais, pois disseminam informações e aumentam a conscientização dos colaboradores (NEPOMUCENO, 2004). 2.7.1 Equipamentos de proteção coletivos São aqueles com o objetivo de proteção coletiva, podem ser equipamentos simples, como um corrimão, aos mais complexos, como um detector de gases. Esses equipamentos colaboram com a unidade, pois aumentam a produtividade, minimizam o risco de ocorrer acidentes e não prejudicam a eficiência do trabalho, quando bem instalados. Devem ser de material resistente à corrosão, de fácil limpeza, manutenção e lubrificação, não podem obstruir passagens (TOSTES, 2003). 2.7.2 Equipamentos de proteção individual São considerados todos os equipamentos destinados a fornecer segurança adicional ao trabalhador, protegendo sua saúde e garantindo integridade física, porém eles não evitam acidentes, mas sim evitam lesões ou atenuam a gravidade, pois protegem o corpo. Devem existir medidas de proteção coletiva, e no caso em que não puderem eliminar ou minimizar o risco, adotar os EPIs (TOSTES, 2003). Conforme especificado na CLT, cabe ao colaborador zelar e fazer uso adequado dos equipamentos individuais, sendo as empresas responsáveis por fornecer materiais de boa qualidade e confiabilidade, fazendo substituições sempre que necessário (NEPOMUCENO, 2004). São exemplos de EPIs: botas de borracha, óculos de proteção, protetor auditivo, luvas dos mais diversos tipos, jaquetas térmicas, aventais térmicos, entre outros. TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 169 QUADRO 10 – TIPOS DE EPIs TIPO FOTO ESPECIFICAÇÃO Botas de borracha ou Calçados de segurança Evitar queda, proteção contra impactos de objetos cortantes, líquidos quentes e produtos químicos. Óculos de proteção Evitar a queda de partículas estranhas ou produtos químicos durante os processos de higienização. Tem que oferecer uma visão clara, sem distorção ou sem ser opaco. Protetor auditivo Recomendado nas áreas de muito ruído, a fim de proteger os ouvidos. Jaqueta térmica Fornece proteção térmica para entrar nas câmaras frias, em função das baixas temperaturas. Avental térmico Destinados à proteção contra umidade, e contra o calor excessivo dos equipamentos, por exemplo do fogão. Luvas Existem para diversas funções, térmicas, de corte, de pvc, para proteger as mãos das ações do calor, produtos químicos e contra acidentes com materiais cortantes. FONTE: A autora (2020). Fotos: <https://www.episonline.com.br/>. Acesso em: 20 dez. 2020. 2.8 CIPA (COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES) A CIPA tem como objetivo verificar as condições para ocorrência de riscos de acidentes de trabalho, e pode solicitar medidas que possam reduzir ou até eliminar a ocorrência de acidentes. 170 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN QUADRO 11 – SETORES DA UAN E RISCOS DE ACIDENTES Setor Risco Recepção/Inspeção • Postura: levantamento e transporte de cargas/mercadorias Estocagem Seca • Postura: levantamento de cargas/mercadorias Estocagem Fria/ Câmara Fria • Postura: levantamento de cargas/mercadorias • Mudança de temperatura Pré-preparo • Postura: levantamento de cargas/mercadorias• Umidade • Cortes e perfurações: facas e equipamentos • Ruídos elevados Cocção • Queimadura • Cortes/perfurações • Postura: levantamento de cargas/mercadorias, bandeja gastronorm. • Queda: piso com gordura/molhado • Ruídos elevados • Temperatura elevada Distribuição • Queimadura • Cortes/perfurações • Postura: levantamento de bandeja gastronorm, bandejas, pratos • Queda: pressa/correria • Temperatura elevada • Movimento repetitivo Salão de Refeições • Queda: pressa/correria • Queda: piso molhado • Ruídos elevados Higienização de Utensílios • Queda: piso molhado • Queimadura: água quente/máquina de lavar . • Cortes/perfurações: facas, bandeja gastronorm, pratos etc. • Postura: levantamento de cargas • Ruídos elevados • Temperatura elevada Umidade Expedição de Lixo • Queda: piso molhado • Cortes/perfurações: latas abertas, louças quebradas etc. Postura: levantamento de cargas Todos os setores • Produtos químicos: utilizados na higienização de setores FONTE: Barreto (2016, p. 48) TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 171 De acordo com a NR-5 (2010), faz parte das atribuições da CIPA a elaboração dos Mapas de Risco, os quais são uma representação gráfica de um conjunto de fatores presentes no local de trabalho que podem acarretar prejuízo aos colaboradores. Segundo o NR-9 (2012), o mapa de risco deve ser elaborado em cima da planta da empresa, recomenda-se a utilização de círculos quando os riscos estiverem dispersos pelo ambiente, indicando a gravidade e os tipos de riscos. FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS RISCOS DE ACORDO COM SUA NATUREZA E PADRONIZAÇÃO DAS CORES FONTE: <https://bit.ly/3dMIXgG>. Acesso em: 10 jan. 2021. FIGURA 5 – EXEMPLO MAPA DE RISCO FONTE: <https://bit.ly/2Q3rcSn>. Acesso em: 10 jan. 2021. 172 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 3 DOENÇAS OCUPACIONAIS Doença ocupacional é uma alteração funcional, lesão corporal ou comorbidade psicológica que acontece no exercício do trabalho ou para exercício do trabalho. Uma doença adquirida ou desencadeada por qualquer condição em que o trabalho é realizado ou que esteja relacionada com ele diretamente. De acordo com Tostes (2003, p. 32), “As afecções musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho, que no Brasil tornaram-se conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), hoje denominadas de Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), representam o principal grupo de agravos à saúde, entre as doenças ocupacionais”. Essas lesões podem levar à perda da capacidade de fazer movimentos, que pode ser parcial, e se o colaborador não for afastado da atividade repetitiva, pode ser total. Seu quadro clínico é bem variado, e pode aparecer em forma de sintomas variados, que incluem formigamentos, choque, dormência, entre outros (TOSTES, 2003). A prevenção primária de LER/DORT deve reduzir os fatores de risco laborais ao se melhorar as condições gerais de trabalho. É recomendado utilizar-se a análise do trabalho. A ergonomia sistemática e rigorosamente utilizada, permite transformar as situações de trabalho, adaptando-se às possibilidades e capacidades do trabalhador. [...] A prevenção de LER/DORT se faz através de programas de supervisão dos ambientes de trabalho visando conceber e gerar soluções em busca de melhorias (TOSTES, 2003, p. 39-40). A prevenção das doenças do trabalho se faz através de: treinamento constante da equipe; adoção de medidas preventivas; avaliação dos cargos e funções, bem como o local em que será realizado; e ainda uma análise ergonômica do trabalho (AET); e conscientização de todos. 4 NORMAS REGULAMENTADORAS No Brasil, a Portaria nº 3.214/78 estabelece as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. Sendo as principais para estabelecimentos de alimentação: NR–05; NR06; NR–07; NR–09; NR–15 e NR–17. 4.1 NR-05 – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA A CIPA é uma comissão regulamentada por lei – MTE, que tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 173 A CIPA é constituída conforme o dimensionamento (grau de risco e nº de colaboradores) descrito na legislação vigente. Nas unidades em que não existe a obrigatoriedade da constituição da CIPA, a legislação estabelece a necessidade de um colaborador treinado nas atribuições de prevenção de Acidentes de Trabalho. FIGURA 6 – CIPA FONTE: <https://i1.wp.com/www.saudeevida.com.br/wp-content/uploads/2013/11/cipa.jpg?ssl=1>. Acesso em: 10 jan. 2021. 4.2 NR–06 – DISPÕE SOBRE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora – NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual – EPI todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional ou estrangeira, destinado a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador. A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento. Todo EPI só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (CA). FIGURA 7 – EPIs FONTE: <https://bit.ly/3mA7dXt>. Acesso em: 10 jan. 2021. 174 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN 4.3 NR–07 – PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO E DE SAÚDE OCUPACIONAL (PCMSO) Essa NR foi atualizada pela Portaria SEPRT nº 6.734, de 10 de março de 2020. Esta Norma Regulamentadora – NR estabelece diretrizes e requisitos para o desenvolvimento do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO nas organizações, com o objetivo de proteger e preservar a saúde de seus empregados em relação aos riscos ocupacionais, conforme avaliação de riscos do Programa de Gerenciamento de Risco – PGR da organização. Atualmente está estabelecido no Quadro I da NR 7 (BRASIL, 2013), indicadores biológicos para 41 agentes químicos. 4.4 NR–09 – PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS Esta Norma Regulamentadora – NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Porém, esta norma foi atualizada pela Portaria SEPRT nº 6.735, de 10 de março de 2020, e tem aplicação a partir de abril de 2021, passando a se chamar NR-09 – AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS EXPOSIÇÕES OCUPACIONAIS A AGENTES FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS. Que agora passa a estabelecer os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos quando identificados no Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR, previsto na NR-1, e subsidiá-lo quanto às medidas de prevenção para os riscos ocupacionais. Então o antigo programa PPRA deixará de existir, a nova NR-09 fará o suporte do novo PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos, bem detalhado pela NR-01. 4.5 NR–15 – ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES Norma essencial para todos os trabalhadores, que se relaciona diretamente com a segurança do trabalho. É a NR 15 que irá definir quais são os ambientes insalubres propícios para trabalho, tal como seu nível aceitável e as horas de trabalho naquele ambiente em específico. TÓPICO 2 — SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL 175 Para a avaliação do ruído utiliza-se o decibelímetro – equipamento medidor do nível de pressão sonora. Os limites para exposição ao ruído são definidos pela NR-15. QUADRO 12 – PARÂMETROS PARA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horase 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos FONTE: <https://www.revistaespacios.com/a14v35n10/14351016.html>. Acesso em: 10 jan. 202. De acordo com a NR-15, a exposição ao calor deve ser avaliada através do "Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo" – IBUTG. E os Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço são retratados no Quadro 13: 176 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN QUADRO 13 – LIMITES TOLERÂNCIA AO CALOR REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE COM DESCANSO NO PRÓPRIO LOCAL DE TRABALHO (por hora) LEVE MODERADA PESADA Trabalho contínuo até 30,0 até 26,7 até 25,0 45 minutos trabalhados 15 minutos de descanso 30,1 a 30,5 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9 30 minutos trabalhados 30 minutos de descanso 30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9 15 minutos trabalhados 45 minutos de descanso 31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0 Não é permitido o trabalho, sem a adoção de medidas de controle acima de 32,2 acima de 31,1 acima de 30,0 FONTE: <http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr15_anexoIII.htm>. Acesso em: 10 jan. 2021. 4.6 NR–17 – ERGONOMIA Essa norma foi Alterada pela Portaria MTb 876/2018 – DOU 26/10/2018, visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo ela abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora. 177 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A segurança e saúde do trabalho são as áreas de prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais. • Os trabalhadores das UAN estão expostos a diversos riscos, sendo eles: químicos, físicos, mecânicos, biológicos e ergonômicos. • Existem os programas de medidas dos riscos ocupacionais nas UAN. • Medidas de prevenção dos riscos ocupacionais são adotados a fim de reduzir ou mesmo evitar os acidentes de trabalho. • Existem doenças ocupacionais que se relacionam com as atividades laborativas em UAN. • Uma série de Normas Regulamentadoras devem ser observadas e cumpridas, para o correto funcionamento da UAN. 178 1 Para manter a segurança dos colaboradores das UAN, a norma regulamentadora NR 6 trata dos equipamentos de proteção individual. Assim, é CORRETO afirmar que: a) ( ) O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser colocado à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação (CA). b) ( ) A empresa é obrigada a fornecer aos empregados EPIs adequados aos riscos, em perfeito estado de conservação e funcionamento, cobrando uma taxa máxima de 2,0% sobre o salário. c) ( ) Cabe ao empregado fazer pesquisas e ir atrás de informação quanto ao uso correto do EPI, visto que por parte do empregador, repassar esse tipo de informação não é obrigação. d) ( ) Para fins de venda dos EPIs, o Certificado de Aprovação (CA) do EPI, terá validade máxima de um ano. 2 Sobre segurança e saúde no trabalho em uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), analise as sentenças a seguir (UFMT): I - A higiene do trabalho atua no campo da saúde ocupacional, com aplicação de recursos da engenharia e da medicina no controle das doenças do trabalho ou doenças profissionais. II - As Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego estabelecem padrões de segurança e saúde ocupacional. III - O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da NR-9, obriga a empresa a fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em estado adequado ao risco e em perfeito estado de conservação. IV - Para a redução de acidentes de trabalho e prevenção de doenças profissionais, é recomendado o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) fornecidos gratuitamente pela empresa aos colaboradores. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) I, II e IV, apenas. b) ( ) I, II, III e IV. c) ( ) III e IV, apenas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Os riscos ou perigos para a saúde decorrentes do trabalho são tradicionalmente classificados em cinco grandes grupos. Assinale a alternativa que apresenta a alternativa CORRETA: a) ( ) Físicos, laboratoriais, biológicos, acidentais e organizacionais/ gestão de trabalho. b) ( ) Químicos, físicos, mecânicos, biológicos e ergonômicos. AUTOATIVIDADE 179 c) ( ) Hereditários, químicos, biológicos, mecânicos e organizacionais/ gestão de trabalho. d) ( ) Hereditários, químicos, biológicos, mecânicos e organizacionais/ gestão de trabalho. 4 Os agentes que causam riscos à saúde dos trabalhadores e que costumam estar presentes nos locais de trabalho são agrupados em cinco tipos: agentes físicos; agentes químicos; agentes biológicos; agentes ergonômicos; e agentes mecânicos. Cite três exemplos de cada tipo. 5 Existem diversos riscos aos quais os trabalhadores das UAN podem ser expostos no exercício de suas funções, por exemplo os relacionadas ao ambiente. Também estão expostos a riscos químicos, físicos, ergonômicos, biológicos e mecânicos. Defina Risco Ergonômico e quais medidas devem ser adotadas para garantir a ergonomia em uma UAN. 180 181 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O termo qualidade é muito abrangente, temos diversos, segundo cada autor: • Juran – “A qualidade consiste nas características do produto que vão de encontro às necessidades dos clientes e dessa forma proporcionam a satisfação em relação ao produto”. • Garvin – “As cinco dimensões da qualidade: aspecto transcendental, adição de bons componentes, satisfação do cliente, conformidade às especificações e valor”. • Deming – “Qualidade é resultado final da interação harmoniosa entre metas, sistemas e seres humanos”. • Feigenbaum – “A qualidade é enfocada como um valor medido através do nível de organização da empresa”. • Crosby – “Qualidade é conformidade às especificações”. • Ishikawa – “Sistema eficaz de integrar os reforços de desenvolvimento, manutenção e aprimoramento da qualidade para levar a produção em níveis melhores”. A Gestão de Qualidade em UAN é de suma importância e se baseia em atividades que tem por objetivo entregar para os comensais, refeições seguras, do ponto de vista higiênico-sanitário e qualitativo, obtendo assim o sucesso da empresa. No entanto, para que os processos aconteçam de forma eficiente e eficaz, a utilização dessas ferramentas de gestão é fundamental e irá impactar de modo positivo. Portanto, acadêmico, no Tópico 3, abordaremos quais são as ferramentas para realizar a gestão da qualidade nos serviços de alimentação. 2 FERRAMENTAS PARA QUALIDADE EM UAN As ferramentas de Gestão de Qualidade são instrumentos usados para medir, analisar, definir e propor soluções para as intercorrências que se relacionam ao bom desempenho das etapas de trabalho, permitindo um controle maior dos processos e auxiliando na tomada de decisões. Facilitam também enxergar e entender os problemas; sintetizando o conhecimento e as conclusões; permitindo o saber sobre o processo, entre outros propósitos. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 182 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN A implementação de algumas ferramentas para qualidade é de aplicação voluntária, porém quando a UAN já trabalha nos moldes exigidos pela Anvisa, é necessário apenas evoluircom algumas técnicas aplicadas para chegar no nível de muitas delas (SENAC, 2007). FIGURA 8 – SISTEMA DE GESTÃO FONTE: SENAC (2007, p. 108) Algumas ferramentas de gestão da qualidade auxiliam na identificação de problemas que podem acontecer futuramente, em algum projeto ou produto, dessa maneira ações preventivas podem ser tomadas para que não ocorram. Ainda podem servir para analisar se houve ineficácia/ ineficiência em algum projeto. Existe uma série de ferramentas usadas em empresas de serviços e podem ser tranquilamente usadas em serviços de alimentação 2.1 CICLO PDCA É um método que tem por objetivo o controle da qualidade no processo de trabalho, aplicando um ciclo de análise repetitivo, a partir dos resultados observados. As etapas são: planejamento, execução, verificação e ação, e estão relacionadas e integradas diretamente entre si. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 183 FIGURA 9 – PDCA FONTE: <https://www.voitto.com.br/blog/artigo/o-que-e-o-ciclo-pdca>. Acesso em: 10 jan. 2021. Ao ser usada essa ferramenta, cada processo analisado dá origem a um novo processo, até que o produto chegue ao cliente, então o ciclo está sempre se renovando, pois em cada etapa acontece a análise, melhorando as atividades envolvidas, solucionando problemas que possam atingir essas atividades. O método tem o seguinte significado (SENAC, 2007, p. 110): “planejar através de metas e propostas para seu cumprimento; executar tarefas como planejado inicialmente; verificar resultados obtidos com os planejados; atuar corretivamente para que o problema não se repita”. 2.2 FLUXOGRAMA Lins (1993, p. 153-154) define que “O fluxograma descreve a sequência do trabalho envolvido no processo, passo a passo, e os pontos em que as decisões são tomadas. É uma ferramenta de análise e de apresentação gráfica do método ou procedimento envolvido no processo”. Ele é estruturado por símbolos geométricos, que sinalizam quais os materiais ou serviços envolvidos no processo e em qual direção deve seguir para que o resultado seja atingido. 184 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN FIGURA 10 – SÍMBOLOS GRÁFICOS DO FLUXOGRAMA FONTE:< https://www.voitto.com.br/assets/ckeditor2/plugins/imageuploader/uploads/ 566c577ea.png>. Acesso em: 10 jan. 2021. FIGURA 11 – FLUXOGRAMA UAN FONTE: Moeckel e Muzy (2016, p. 42) 2.3 FOLHA DE VERIFICAÇÃO – CHECKLIST A folha de verificação é considerada a ferramenta mais simples da gestão da qualidade, ela tem como objetivo padronizar e organizar a coleta de dados, e pode ser feita através de tabelas, planilhas ou quadros. Lins (1993, p. 154) a define como: “[...] um quadro para o lançamento do número de ocorrências de um certo evento. A sua aplicação típica está relacionada com a observação de fenômenos. Observa-se o número de ocorrências de um problema ou de um evento e anota-se na folha, de forma simplificada, a sua frequência”. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 185 QUADRO 14 – CHECKLIST UAN FONTE: <https://pt.scribd.com/doc/258665038/Check-List-UAN>. Acesso em: 10 jan. 2021. 2.4 HISTOGRAMA Nada mais é do que um gráfico de barras, que mostra determinada distribuição de dados (em uma distribuição de frequência). Coloca as informações de maneira que possa ser vista a distribuição dos dados em torno do valor central. 186 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN GRÁFICO 1 – HISTOGRAMA FONTE: <https://www.elirodrigues.com/wp-content/uploads/2016/07/Histograma-de- produtividade.png>. Acesso em: 10 jan. 2021. 2.5 BRAINSTORMING “O brainstorming caracteriza-se como uma reunião de grupo em que novas ideias são buscadas e, portanto, a livre expressão dos participantes deve ser assegurada. O objetivo é o de maximizar o fluxo de ideias, a criatividade e a capacidade analítica do grupo” (LINS, 1993, p. 157). Também pode ser caracterizado por uma ‘tempestade de ideias’, quando as pessoas têm liberdade para explorar a capacidade criativa, sem sofrer repressões, pode ser usada para qualquer contexto de resolução de problemas. FIGURA 12 – EXEMPLO BRAINSTORMING FONTE: <https://neilpatel.com/wp-content/uploads/2018/01/brainstorming-como-fazer-1.jpeg>. Acesso em: 10 jan. 2021. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 187 2.6 DIAGRAMA DE ISHIKAWA O diagrama de causa e efeito é conhecido também como diagrama de Ishikawa, em relação ao nome do seu criador, o japonês Kaoru Ishikawa. Mas também pode ser conhecido como diagrama “espinha de peixe”, por conta do formato gráfico. É utilizado para identificação das causas dos problemas. Esse diagrama permite, por conta de seus grupos básicos de causas possíveis, fazer desdobramentos até a resolução do problema. Esses grupos podem ser definidos de acordo com o problema estudado. Para problemas de origem operacional, usam-se os grupos: • máquinas; • materiais; • mão de obra; • metodologias/métodos; • meio ambiente. FIGURA 13 – DIAGRAMA DE ISHIKAWA FONTE: <https://bit.ly/3fQBgJ7>. Acesso em: 9 jan. 2021. 2.7 DIAGRAMA DE PARETO Segundo Lins (1993, p. 155): O gráfico de Pareto tem o aspecto de um gráfico de barras. Cada causa é quantificada em termos da sua contribuição para o problema e colocada em ordem decrescente de influência ou de ocorrência. As causas significativas são, por sua vez, desdobradas em níveis crescentes de detalhe, até se chegar às causas primárias, que possam ser efetivamente atacadas. Esta técnica de se quantificar a importância das causas de um problema, de ordená-las e de desdobrá-las sucessivamente é denominada estratificação. 188 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN GRÁFICO 2 – GRÁFICO DE PARETO FONTE: <https://www.nortegubisian.com.br/wp-content/uploads/2018/10/pareto-768x514.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2021. 2.8 PROGRAMA 5S SENAC (2007, p. 110) nos traz que “a técnica 5S tem como objetivo a melhoria da qualidade com base na eliminação do desperdício. A grande contribuição do programa 5S é permitir o envolvimento de todos no processo e evidência: ‘todos podem contribuir para melhorar o ambiente’”. • SEI – RI Seleção: Tenha só o necessário, na quantidade certa. “O que é necessário no setor?” Quanto e quando? Cada pessoa faz a diferenciação do que é útil do que é inútil, evitando objetos desnecessários na área de trabalho. • SEI – TON Organização: “Um lugar para cada coisa. Cada coisa em seu lugar”. Cada objetivo tem seu lugar exclusivo e deve estar disponível no local adequado. • SEI – SO Limpeza: “Ambiente limpo não é aquele que mais se varre, mas é o que suja menos”. A limpeza é parte do processo de automanutenção preventiva. A ideia da limpeza é ampla, vai além da limpeza física, refere-se à mente também. • SEI – KE – TSU Higiene: “Erradicação de qualquer possibilidade de comprometimento do sucesso”. Busca tornar compreensível toda rotina através de sinalizações. • SHIT – SU – KE Compromisso: É cumprir o que foi estabelecido na prática, relaciona-se com as reciclagens e treinamentos, comprometimento. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 189 FIGURA 14 – APLICAÇÃO 5S FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/3028807/>. Acesso em: 10 jan. 2021. 2.9 MANUAL DE BOAS PRÁTICAS E POPs São vários os instrumentos que utilizados para a garantir a qualidade dos alimentos, dentre os mais usados atualmente na área de alimentação são: a adoção de boas práticas na fabricação dos alimentos; e o conhecimento e adoção dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) (ABREU; SPINELLI; SOUZA, 2019). Ainda segundo Abreu, Spinelli e Souza (2019), para a elaboração do Manual de Boas Práticas é preciso conhecer a legislação relacionada ao controle higiênico- sanitário dos alimentos, em todo o processo. Podemos citar: a Portaria nº 1.428/ 93, a Resolução nº RDC 216/ 2004, a Portaria nº 326/ 97, a Portaria CVS-5/ 2013. Já os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) são definidos como a descrição de métodos a serem seguidos, como rotina, a fim de melhorar as operações. No Brasil, a partir da Resolução RDC no 275, de 21 de outubro de 2002, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de ProcedimentosOperacionais Padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/ industrializadores de alimentos, recomenda-se a utilização do termo POP – Procedimento Operacional Padronizado (ABREU, SPINELLI, SOUZA, 2019). 2.10 APPCC O sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) originou-se na indústria química da Grã-Bretanha, em torno dos anos 1950, e tornou-se conhecido internacionalmente pela denominação Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP). Inicialmente era usado de forma mais extensiva projetos de plantas de energia nuclear (MANUAL, 2001). 190 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN O sistema é indicado no controle do processo produtivo dos alimentos, mas não do ambiente onde o processo ocorre. O seu sucesso depende das bases das Boas Práticas de Fabricação/ Serviços (BPF/S) e dos POP. Desde 1991, o comitê do Codex Alimentarius recomenda o uso do sistema APPCC por todos os países- membros da ONU. No Brasil, seguindo essas recomendações foi feita a Portaria nº 1.428/ 93 (ABREU, SPINELLI, SOUZA, 2019). Ainda de acordo com Abreu, Spinelli e Souza (2019), os critérios mais utilizados no sistema APPCC são temperatura, tempo, umidade, pH e aqueles que possam oferecer resultados em curto tempo. Também deve incluir registros, e ser realizada uma análise crítica dos registros, ação corretiva e a definição de quais procedimentos apropriados para tratar possíveis desvios. 3 CERTIFICAÇÕES “ISO, na verdade, não é uma sigla e sim deriva da mesma raiz grega das palavras isobárica, isométrica ou isóscele. Elas significam igual pressão, igual medida ou triângulo de lados iguais. O nome ISO foi dado à organização, pois quem a fundou acreditava que o desenvolvimento e o uso de padrões fariam produtos iguais” (SENAC, 2007, p. 110). Todas as certificações têm como objetivo: oferecer melhoria contínua e com isso vantagem competitiva, correção dos erros, redução dos processos ineficientes, e por consequência, dos custos. 3.1 NBR ISO 9000:2000 – SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE – FUNDAMENTOS E VOCABULÁRIO As normas da família NBR ISO 9000 foram desenvolvidas para apoiar organização de todos tipos e tamanhos, na implementação de sistemas de gestão da qualidade eficazes. • A NBR ISO 9000 descreve os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e estabelece a terminologia para estes sistemas. • A NBR ISO 9001 especifica os requisitos do sistema de gestão da qualidade. • A NBR ISO 9004 trata das diretrizes da eficácia e eficiência do sistema de gestão da qualidade. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 191 3.2 NBR ISO 14000 A ABNT NBR ISO 14000 especifica os requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e permite a uma organização desenvolver uma estrutura para a proteção do meio ambiente e rápida resposta às mudanças das condições ambientais. A norma leva em conta aspectos ambientais influenciados pela organização e outros passíveis de serem controlados por ela. A ISO 14001:2015 são as normas referentes à implementação do SGA. 3.3 NBR ISO 22000:2019 A ISO 22000 é uma norma destinada a sistemas de gestão da segurança alimentar. Tem suas diretrizes voltadas para o âmbito alimentar, mas também propõe a adoção delas para tratar questões éticas e promover a conscientização de consumidores. A norma tem o objetivo principal de estabelecer regras para criar uma gestão de controle de perigos nos alimentos, sejam esses perigos biológicos, químicos ou físicos, e fazer com que a empresa estabeleça programas de monitoramento e melhorias na questão da segurança alimentar. 192 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN GESTÃO DE PESSOAS EM RESTAURANTES: UM ENFOQUE NA MOTIVAÇÃO E LIDERANÇA Ana Maria Campo Alves da Cunha Luiz César de Miranda Nilma Morcef de Paula Contextualização da Gestão de Pessoas – Aspectos Históricos Fazer uma abordagem histórica sobre a gestão de pessoas de maneira mais profunda, certamente seria necessário um estudo que começasse desde o momento em que o ser humano começou a viver em sociedade. No entanto, esta não é a intenção neste instante. O importante aqui é dar uma visão generalizada sobre o assunto, compreendendo certos aspectos da relação de trabalho e a sua evolução com o foco na transformação do modelo autocrático para o modelo flexibilizado da gestão. Os estudiosos do assunto buscam em Taylor, por meio da análise de tempos e movimentos e a padronização de processos e operações um aspecto onde o que interessava era o resultado e a produção. Henry Ford também dava esse enfoque na produção, transformando-a em série e repetitiva. Aliás, durante a revolução industrial as pessoas trabalhavam catorze ou dezesseis horas por dia, fazendo os mesmos serviços repetitivos e o lado humano da relação de trabalho não existia. Hoje, essa situação já não existe, pelo menos os gestores já começaram a perceber que o trabalhador com situação familiar, social e particular equilibradas tem produtividade maior que aquela cuja satisfação pessoal não existe. Na segunda metade do século XX, portanto logo após o fim da guerra, o governo brasileiro, mais visível no período do governo de Juscelino Kubitschek, começa a atrair o capital internacional. Foi o momento em que houve o aparecimento da indústria, com o surgimento da indústria automotiva nacional, por exemplo. Percebe-se que ainda não se fala do setor de serviços como gerador de rendas para a nação. O trabalhador tinha a carreira como a coisa mais importante para a vida. Essa sensação supervalorizada do trabalho faz com que as pessoas tivessem como objetivo o emprego vitalício, independendo da sua satisfação em realizá-lo. [...] LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 193 Novas relações de trabalho Nada mais natural que toda essa movimentação na forma de administrar os empreendimentos também influenciasse as relações de trabalho. Aquela visão cujo emprego era uma garantia de estabilidade cai por terra e dá espaço ao trabalho como lugar de atuação e afirmação do indivíduo. O trabalhador que não for em busca de aperfeiçoamento, se desqualificou para o mercado atual, e na procura de um profissional adequado às empresas começam a incentivar o seu colaborador. Nesse momento surge a figura do trabalhador sem vínculo trabalhista. O profissional autônomo que é contratado temporariamente para a realização de uma determinada tarefa. Essa pessoa é vista pelo empresário como alguém já especializada e que não há necessidade de investimento para a realização do trabalho. Existem vantagens com relação a esse tipo de vínculo, porém, pelo fato de não estar comprometido com a empresa, os pontos negativos também devem ser considerados. Novas competências e habilidades são valorizadas no momento da contratação. Elas já começam a serem solicitadas não pela experiência do candidato ou a sua habilidade no processo de trabalho, mas em função da capacidade de interagir em grupo e da habilidade de comunicação. Aspectos relativos ao relacionamento interpessoal e ao interesse ao aprendizado contínuo passam a fazer parte do conceito de empregabilidade tornando-se um desafio para a gestão da pessoa. A administração moderna enfrenta um desafio difícil porque lida com pessoas e seus sentimentos perante tudo que lhe foi colocado em anos de história administrativa. O processo de transição de um modelo autocrático de gestão para uma gestão flexibilizada e participativa. Modelo flexibilizado-participativo da Gestão de Pessoas Neste modelo, paradigmas são quebrados e até a aceitação pelos colaboradores é difícil. São décadas de um sistema em que o chefe mandava e os subordinados obedeciam e, como que subitamente, passa a ter uma sensação de desordem e falta de liderança. Neste modelo flexibilizado-participativo, os funcionários podem influenciar nas decisões e possuem poder compartilhado; o desafio é emocionar as pessoas para haver cooperação com ênfase na atuação da equipe e a operacionalização é descentralizada. Essa mudança pode ser difícil e demorada, mas tambémé rentável. Uma pesquisa sobre transição dos modelos de gestão de pessoas, Rensis Likert, no ano de 1961, faz uma pesquisa que mostra que na gestão autocrática a produtividade é alcançada num período mais rápido, no entanto, não consegue se manter por muito tempo. Já no modelo flexibilizado, o alcance da produtividade desejada é mais lento, porém é contínuo e ascendente (COUTINHO et al., 2005). Isso se justifica pelo fato da gestão flexibilizada estar envolvendo a autoestima e o comprometimento dos funcionários. No modelo autocrático, os funcionários fazem pelo motivo de estar executando uma ordem e não se comprometem da mesma maneira. 194 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN [...] Motivação Motivar alguém para o trabalho não é tarefa tão simples como se parece. Por muitos anos acreditou-se que a motivação estaria ligada ao valor numérico que o trabalhador recebe no seu contracheque no final do mês. Porém, não percebiam que era apenas um estímulo que funciona para um determinado período e logo passa a não mais motivar. Motivação está muito mais além da questão monetária ou material. Ela tem a ver com cada indivíduo dentro da sua necessidade mais íntima, daí a razão de ser uma questão complexa para a gestão de pessoas. Teorias sobre motivação são muitas e servem como base para o entendimento sobre as necessidades humanas. Maslow com a sua pirâmide hierárquica das necessidades conseguiu dividi-las de maneira que se tornou um marco para o estudo sobre o assunto. A base da pirâmide estão as necessidades básicas ou fisiológicas, seguindo a necessidade de segurança, de afeição, de estima e autorrealização. Ele conseguiu sintetizar os níveis de necessidades que o ser humano passa no decorrer da vida e que a satisfação de cada uma delas irá trazer a motivação o ser humano conseguir seguindo a sua vida. [...] Outro ponto importante é saber diferenciar a motivação da movimentação. O movimento é um comportamento que foi sendo aprendido, se estruturou ao longo dos anos pelas recompensas que mereceu (BERGAMINI, 1986). Estímulos exteriores determinam o comportamento das pessoas. Condições físicas, premiações, aumento salariais não podem ser chamados de motivadores, mas de reforçadores que irão influenciar nas atitudes das pessoas de maneira a movimentá-las. Uma vez dada tais reforçadores, eles deverão ser mantidos, mas substituídos por outro de igual valor, para que não haja queda na produtividade. Não é o estimulo ou a resposta que motivam o comportamento, mas a necessidade em si mesmo. BERGAMINI (1986) divide o comportamento das pessoas em quatro tipos: o de participação, de ação, de manutenção e o de conciliação. Ela acredita que cada pessoa tem os quatro tipos de comportamento, dependendo da situação, mas que um deles é mais predominante. O tipo que predominar na pessoa é que será possível determinar as condições propícias ou restritivas ao ato motivacional. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 195 As condições propícias ao ato motivacional para o participativo estão relacionadas às pessoas envolvidas. Importância da contribuição de cada um para o desenvolvimento dos demais, seus talentos e a convivência com o outro. Dar melhor de si para merecer a confiança. Como condições restritivas, considera-se a impessoalidade imperando, a falta de reconhecimento e valorização das boas intenções e irresponsabilidade e falta de princípios. Os de características de ação têm como condições propícias a facilidade em comprovar eficiência pessoal na resolução de problemas inéditos, ser direto no que diz e conviver com pessoas ágeis e sempre prontas. As condições restritivas dizem respeito às situações e problemas rotineiros e repetitivos, desenvolvimento pessoal bloqueado, demora na resolução dos problemas e falta de clareza nos objetivos a serem alcançados. Aqueles que buscam a manutenção têm como condições propícias o trabalho e atividades dentro de uma sistemática ordenada, o novo está relacionado às experiências passadas e estabilidade sem mudanças repentinas de normas – homogeneidade no tratamento afetivo entre todos. As condições restritivas é trabalhar com dados confusos e incompletos, respostas incertas aos problemas, convivência com pessoas efusivas, sem veracidade e o desrespeito a individualidade. Por fim, os de características de conciliação as condições propícias têm a ver com a oportunidade de conviver e interagir com pessoas, habilidades sociais, estar entre pessoas amigas que valorizem suas habilidades e ambiente de leve alegria no convívio entre si. As condições restritivas passam a ser o fato de ter que desenvolver atitudes sem orientação grupal ou social, ser chamado a atenção publicamente. Sentir-se ridículos perante o grupo (BERGAMINI,1986). Diante desta perspectiva, chega-se à conclusão que existe uma dificuldade muito grande na tentativa de definir a motivação. Cada pessoa tem uma situação que o motiva mais que o outro e devemos respeitar essas diferenças. Tudo vai depender da necessidade que o outro tem. Uma vez satisfeita, a motivação estará sendo alcançada. O importante é não confundir motivação com reforçadores da motivação e que estes reforçadores podem não estar motivando, mas a sua falta será sentida no processo produtivo. Liderança: Conceituação, Teorias e História A alta velocidade e a abrangência com que ocorrem mudanças tornam quase inexistentes os locais imunes ã transformação. Uma dessas principais mudanças está na própria percepção do homem a respeito de si mesmo, dos outros homens e do mundo que o rodeia (PATRÃO, 1994). Podemos definir liderança como a realização de uma meta por meio da direção de colaboradores (MAXIMIANO apud PRINCE, 2000). Ou ainda “liderança é o uso da influência não coercitiva para dirigir as atividades dos membros de um grupo e levá-los à realização de seus próprios objetivos” (MAXIMIANO, 2004). 196 UNIDADE 3 — GESTÃO DE UAN A definição de liderança dada por Hersey e Blanchard diz “Liderança é o processo de exercer influência sobre um indivíduo ou um grupo, nos esforços a realização de um objetivo, em determinada situação”. Um elemento importante na liderança é a habilidade de influenciar os outros no trabalho. Se o líder não pode influenciar as ações de seus subordinados, ele será incapaz de cumprir o seu papel e perderá a confiança deles (KWASNICKA,1995). Fazer “a coisa certa” envolve um fundamento de valores éticos coerentes e sustentados por critérios universais que satisfazem tanto as necessidades individuais quanto as coletivas (CARVALHAL e FERREIRA, 2001). [...] Unidades de Alimentação e a Motivação e Liderança O mercado da alimentação é dividido em alimentação comercial e alimentação coletiva, sendo que os estabelecimentos que trabalham com produção e distribuição de alimentos e bebidas para coletividades, atualmente recebem o nome de Unidades de Alimentação e Nutrição. Segundo PAULA: A Indústria de Serviços de Alimentação (ISA), também chamada Indústria de Restaurantes (IR), engloba todos os serviços que atuam no preparo e fornecimento de qualquer tipo de alimentação e bebidas para serem consumidas pelo cliente no próprio local em que foram preparadas, ou transportadas para consumo em outro lugar (PAULA, 2004, p. 149). O gestor da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) acumula a função de administrador de recursos humanos, sendo responsável, pela seleção e aperfeiçoamento da mão de obra. A estrutura da UAN deverá estar nas mãos de um gerente eficaz, de perfil realizador, com liderança e capaz de responder às imposições de um mercado competitivo. Um bom líder obtém resultados através de pessoas, motivando- as, gerando confiança e satisfação no trabalho e não perdendo de vista a busca da qualidade. A preocupação com a qualidade garante o crescimento e a profissionalização do setor. Todo esse processo que envolve recursos humanos é de extrema importância para a UAN e, está diretamente relacionado à qualidade do serviço prestado (ABREU;SPINELLI; ZANARDI, 2003). Um bom líder é o que ajuda os demais a encontrar uma definição de sucesso que seja comum a todos; as melhores equipes nascem da união respeitosa entre um líder capaz e uma equipe brilhante (BENNIS, 2005). Na prática a administração do tempo e a organização são fundamentais nas unidades de alimentação, a sim como a contratação de pessoas rápidas, imperativas, com atenção voltada aos detalhes. TÓPICO 3 — GESTÃO DA QUALIDADE 197 Nos restaurantes todos têm que trabalhar juntos em perfeita sincronia. O líder tem que administrar e motivar seu pessoal sob enorme pressão. A equipe é composta de pessoas de diferentes culturas, de baixa escolaridade e alta rotatividade, devido ao esquema rígido de trabalho, e por isso mesmo, requerem treinamento constante. O regime de trabalho muitas vezes excede o número de horas permitido pela legislação trabalhista. Os chefes de cozinha, na sua maioria são os líderes das equipes que trabalham nos restaurantes. Entretanto, a gestão de recursos humanos, exercida por eles é em geral do tipo rude, física e mentalmente. Atormentam as pessoas, gritam, xingam e às vezes até ameaçam. Como os pratos têm que ser servidos sempre de forma absolutamente iguais, pois não a tempo de tentar novos caminhos, para servir um bom produto, a liderança é ditatorial, autocrática, pois pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, entre clientes felizes e clientes decepcionados. A hierarquia é firme e necessária para que as coisas saiam direito. Ensinar, treinar e acompanhar o desenvolvimento da equipe é parte do trabalho do líder. Como o ambiente é voltado para resultados de curto prazo, as pessoas tendem a tomar a crítica como merecida ou como construtiva ou ainda como algo sem sentido, resultado da pressão. A busca da perfeição é uma constante, por isso os valores pessoais e as ações de um líder se espalham por todos os processos de trabalho. Talvez os reforçadores motivacionais possam ser bem-vindos para a equipe, mas é sabido que não são motivadores. O ideal é buscar o prazer na realização da tarefa para se pensar na motivação. Tentar mudar o esquema de trabalho para que lhes dê oportunidade de crescimento pessoal. Buscar na família dos colaboradores um meio de motivação. Entretanto, existem outros fatores que contribuem na manutenção dessa situação, os quais estão diretamente ligados à conveniência e ao comodismo dos empreendedores com a desculpa dos custos altos. Infelizmente, não se pensa nos benefícios que uma equipe bem motivada possa trazer aos resultados de uma empresa. Este ponto é pouco discutido nos restaurantes com a desculpa de aumento dos custos operacionais. Falta, na verdade, um planejamento adequado para cada situação e assim tentar buscar uma solução para o problema da gestão de pessoas nos empreendimentos voltados para o serviço da alimentação. FONTE: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/75670446484369422594899979882936814417.pdf. Acesso em: 10 jan. 2021. 198 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem diversas ferramentas de qualidade que auxiliam na gestão da UAN. • Já fazem parte das ferramentas de implementação obrigatória as Boas Práticas de Fabricação, POPs e o programa APPCC, pela legislação da Anvisa. • Existem algumas ferramentas de implementação voluntária, que podem auxiliar muito no processo de gestão da qualidade da UAN. • Algumas certificações ISO são importantes para a gestão da qualidade nos serviços de alimentação. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 199 1 É um método gerencial de gestão de tomada de decisões e garante o cumprimento das metas da organização. Pode ser utilizado na realização de qualquer atividade da empresa, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Diagrama de Ishikawa. b) ( ) PDCA. c) ( ) 5W2H. d) ( ) Fluxograma. 2 A Gestão de Qualidade em UAN é de suma importância, sendo as ferramentas de Gestão de Qualidade os instrumentos usados para medir, analisar, definir e propor soluções para as intercorrências que se relacionam ao bom desempenho das etapas de trabalho, permitindo um controle maior dos processos e auxiliando na tomada de decisões. Neste contexto, fazem parte das ferramentas de implementação voluntária na parte da gestão da qualidade: I – Diagrama de Ishikawa. II – PDCA. III – Fluxogramas. IV – Diagrama de Pareto. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os itens I, II e III estão corretos. b) ( ) Os itens I, III e IV estão corretos. c) ( ) Os itens II, III e IV estão corretos. d) ( ) Todos os itens estão corretos. 3 Existem diferentes tipos de certificações ISO, cada uma com um objetivo para as organizações. Porém todas têm como meta propor reformar para ajustar o que não está certo, incentivando as empresas a implementar as modernizações de gestão. A proposta da certificação ISSO, para realizar a gestão da qualidade é, assinale a alternativa que apresenta a alternativa CORRETA: a) ( ) Oferecer vantagem competitiva e melhoria momentânea, corrigindo erros, reduzindo custos e processos ineficientes. b) ( ) Oferecer melhoria contínua, reduzindo erros, reduzindo custos e processos ineficientes. c) ( ) Oferecer vantagem competitiva e melhoria contínua, corrigindo erros, eliminando os custos com processos ineficientes. d) ( ) Oferecer vantagem competitiva e melhoria contínua, corrigindo erros, reduzindo custos e processos ineficientes. AUTOATIVIDADE 200 4 O Programa 5S normalmente é usado como parte do plano estratégico, a fim de que alguns aspectos fundamentais da empresa comecem a apresentar melhorias rumo à qualidade total. A junção no número “5” com a letra “S” vem de cinco palavras japonesas que começam com S. Descreva dois sensos do programa 5S. 5 O PDCA é um método que tem por objetivo o controle da qualidade no processo de trabalho, aplicando um ciclo de análise repetitivo, a partir dos resultados observados. As etapas são: planejamento, execução, verificação e ação, e estão relacionadas e integradas diretamente entre si. Pensando em um local que serve refeições e teve como principal problema encontrado após aplicação de checklist, a falta de POPs, elabore um PDCA para resolução desse problema. 201 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9000/2000 – Sistema de Gestão da Qualidade: Fundamentos e Vocabulário. Rio de Janeiro, ABNT, 2004. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14000/1996 – Sistema de Gestão Ambiental. Rio de Janeiro, ABNT, 1996. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 22000/2019 - Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. Rio de Janeiro, ABNT, 2019. ABREU, E. S. de; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição – um modo de fazer. São Paulo: Editora Metha. 7. ed. 2019. AGUIAR, O. B. de; KRAEMER, F. B.; MENEZES, M. F. G. Gestão de pessoas em unidades de alimentação e nutrição. Rio de Janeiro: Editora Rubio. 2013. 96 p. BARRETO, C. Segurança do trabalho em unidades de alimentação e nutrição. Rio de Janeiro: Rubio, 2016. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17 – Ergonomia. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2018. Disponível em: http://www. guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2015. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr6.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2014a. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr9.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Ministério doTrabalho e Emprego. NR 15 – Atividades e Operações Insalubres. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2014b. Disponível em: http:// www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr15.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2013. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr7.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. 202 BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2011. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr5.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 1993. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr24.htm. Acesso em: 9 jan. 2021. BRASIL. Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 1991. Disponível em: http://www3dataprev.gov.br/SISLEX/ paginas/42/1991/8213.htm. Acesso em: 8 jan. 2021. BUCHHMANN, N. Perigos e riscos em uma cozinha industrial. 2018. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2018. CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009. 498 p. CFN – CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2018. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/ Res_600_2018.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. LINS, B. F. E. Ferramentas básicas da qualidade. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 22, n. 2, p. 153-161, maio/ago. 1993. Disponível em: revista.ibict.br/ciinf/ article/view/502. Acesso em: 9 jan. 2021. MANUAL de elementos de apoio para o Sistema APPCC. Rio de Janeiro: SENAC/DN, 2001. 282 p. (Série Qualidade e Segurança Alimentar). MEZOMO, I. F. B. Os serviços de alimentação: planejamento e administração da produção. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2014. MOECKEL, M.; MUZY, T. Administração de serviços de alimentação – ASA II. Rio de Janeiro: Nutmed, 2016.Disponível em: https://nutmed.com.br/storage/ resources/5/2389/Apostila%20ASA%20II.pdf. Acesso em: 26 fev. 2021. NEPOMUCENO, M. M. Riscos Oferecidos à Saúde dos Trabalhadores de uma Unidade de Alimentação e Nutrição. 2004. Monografia (Graduação em Turismo) – Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2004. 203 SENAC. Administração na alimentação coletiva. São Paulo: SENAC/SP; 2007. 129 p. SOUZA, T. C. Segurança no trabalho em unidades de alimentação e nutrição: prevenção de acidentes e uso de equipamentos de proteção. 43p. Monografia de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição). Centro Universitário La Salle, Canoas, RS, 2009. TEIXEIRA, S. et al. Administração aplicada a unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Atheneu. 2007. TOSTES, M. G. V. Segurança no trabalho em unidades de alimentação e nutrição: treinamentos e dinâmicas. 2003. Monografia (Especialização em Qualidade de Alimentos) – Universidade de Brasília, Brasília, 2003.