Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- -1 CONCEPÇÃO E FORMAÇÃO DO SER A FORMAÇÃO INICIAL DO EMBRIÃO Symara Rodrigues Antunes - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui informações sobre o processo de clivagemA formação inicial do embrião do zigoto, a gastrulação, a indução neural e a neurulação. Você irá entender como ocorrem os processos após a etapa de fecundação e durante todo o seu trajeto pelas tubas uterinas, até que o concepto se instale no útero. Vai entender de que forma esse embrião se instala na parede uterina, inicia a formação de todas as estruturas necessárias para a sua manutenção naquele órgão e como ocorre sua formação. Irá entender também como se formam os folhetos embrionários que dão origem a todas as estruturas do nosso corpo, bem como o nosso sistema nervoso é formado primordialmente. Bons estudos! - -3 1 O processo de clivagem A origem da vida de um ser humano provém da união de duas células: óvulo e espermatozoide, que chamamos de o início então de um processo preciso e bastante engenhoso. É extremamente fascinantefecundação, imaginar que após a formação de uma única célula há uma explosão de divisões celulares e processos bioquímicos e genéticos que resultam, cerca de 38 semanas depois (considerando somente as semanas de desenvolvimento embrionário), em um indivíduo com bilhões de células. Os processos, entretanto, precisam ser bem coordenados e ocorrerem em sua sequência exata para que não ocorram intercorrências que possam gerar anomalias no indivíduo resultante, que podem inclusive não serem compatíveis com a vida. Apesar da maioria dos estudantes acreditar que o processo de fecundação somente tem importância devido à união dos núcleos dos dois gametas e consequente formação do zigoto, é por meio desse fenômeno da fecundação que há a ativação do metabolismo do óvulo que, de outra maneira, permaneceria adormecido . Ao se transformar em zigoto (com a união dos pronúcleos feminino e masculino, ee não se dividiria consequente finalização do processo de fecundação) há a continuidade desse processo de ativação metabólica e início do . Mas o que é esse processo?processo de clivagem CLIVAGEM Processo que consiste em sucessivas divisões celulares, rápidas e coordenadas, gerando um maior número de células, sem que com isso se aumente o volume de massa geral do concepto. - -4 Figura 1 - Processo de clivagem após a fecundação Fonte: Lukiyanova Natalia frenta, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem apresenta a representação de seis células, desde a formação do zigoto até a fase de oito células antes do processo de compactação. Na figura “ Processo de clivagem após a fecundação" , na primeira imagem, de cima para baixo e da esquerda para a direita, temos o zigoto formado. A partir da segunda imagem, observamos os processos de divisão celular, formando os blastômeros, que diminuem de tamanho. Na última imagem do processo mostrado, constam oito células previamente ao processo de compactação que ocorrerá posteriormente. A consequente diminuição do volume celular individual das células formadas, chamadas de (blastômeros Figura "Estágio de duas células no processo de clivagem evidenciando a formação dos blastômeros" ), tem a finalidade de normalizar tamanhos de células somáticas, uma vez que o zigoto é uma célula muito grande . Isso é devido, quase que exclusivamente, ao acúmulo de vitelo por parte do óvulo antes da fecundação. Por conta disso, há uma necessidade de se normalizar o tamanho das células para equivalentes ao tamanho das células somáticas. - -5 Figura 2 - Estágio de duas células no processo de clivagem evidenciando a formação dos blastômeros Fonte: Betty Ray, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer A imagem representa como ocorre a formação dos blastômeros, com o estágio de duas células no: processo de clivagem. Esse processo de clivagem que passa a ocorrer é , com formação de novas células emextremamente rápido tempo recorde para uma divisão de células eucarióticas. A rapidez nas sucessivas divisões celulares é explicada por uma diminuição do ciclo celular. Numa célula somática, o ciclo celular ( Figura "Representação do ciclo celular" ) é constituído pelas fases: G1 Fase de que ocorre entre o final de uma divisão celular e o início da síntese celular.gap S Na qual ocorre a síntese de DNA, duplicando os cromossomos. G2 Nova fase de , entre a síntese de DNA e a fase de divisão propriamente dita.gap M Período de divisão celular propriamente dita. - -6 Nos blastômeros, as fases G1 e G2 são suprimidas e as fases M e S são aceleradas. Quando observamos as fases G1 e G2 em uma célula somática, notamos que nessas fases elas as utilizam para um aumento de tamanho e, consequente, acúmulo de nutrientes para os processos seguintes a cada uma das fases. Essas condições não são necessárias para os blastômeros, cujo objetivo é diminuir o seu tamanho para normalizar a um tamanho adequado de células somática. Eles já possuem um acúmulo de nutrientes que suportam todo esse primeiro momento do processo embriológico. Assim que esse tamanho é alcançado, a velocidade da divisão celular volta a níveis considerados normais. Figura 3 - Representação do ciclo celular Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem representa o ciclo celular de uma célula somática, com as fases G1, S, G2 e M, e com a fase G0 representada para aquelas células que perdem a capacidade de se reproduzirem. O processo de clivagem forma novos blastômeros em crescimento exponencial: 2-4-8-16. Aproximadamente, após a terceira clivagem, as células passam a se compactar, estabelecendo uma intensa associação entre elas, sendo formada uma espécie de bola compacta de células. Os blastômeros externos passam - -7 a ter junções comunicantes, o que torna a comunicação de substâncias entre elas mais eficiente, diferenciando-as das células internas. As células externas serão as responsáveis por formar o , que mais tarde formarátrofoblasto a , e a massa interna formará o propriamente dito.placenta embrião Com três dias após a fecundação, a estrutura formada é chamada de (mórula Figura "Representação de uma mórula" ), com as células internas continuamente se dividindo e formando um agregado celular de aproximadamente 16 células. Figura 4 - Representação de uma mórula Fonte: nobeastsofierce, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem exibe a representação de uma mórula. Nela existe a presença da zona pelúcida (que nessa imagem está translucida) ainda presente, limitando o crescimento em volume de massa da estrutura. Ressaltam-se duas coisas nessa etapa: , o quea presença da zona pelúcida ainda envolvendo essa formação faz com que ainda não tenha ocorrido aumento de massa dessa estrutura formada; e que todo o processo está (ocorrendo no trajeto até o útero, poucos dias após a fecundação Figura "Representação das estruturas embriológicas formadas até o momento de chegada" ). Do ponto de vista clínico, a mulher ainda não percebeu absolutamente nada de diferente em seu corpo, não tendo nem percebido atraso menstrual ou qualquer outra manifestação corpórea que indique que ela esteja grávida. - -8 Figura 5 - Representação das estruturas embriológicas formadas até o momento de chegada no útero Fonte: Alila Medical Media, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem apresenta a representação de um útero e das formas embriológicas formadas até a implantação no útero. Aproximadamente, no início do dia quatro após a fecundação, a zona pelúcida enfraquece e passa a permitir que um líquido penetre entre os espaços intercelulares e chegue até a massa celular interna. Esses espaços intercelulares passam a convergir e formam um único espaço, a chamada . Essa estrutura é entãoblastocele chamada de (blastocisto inicial Figura "Fases da formação de um embrião humano, da formação do zigoto até a fase de blastocisto inicial" ) Essa formação coincide também coma chegada no útero (. Figura "Representação das estruturas embriológicas formadasaté o momento de chegada" ). - -9 Figura 6 - Fases da formação de um embrião humano, da formação do zigoto até a fase de blastocisto inicial Fonte: Double Brain, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem apresenta a representação das seis fases iniciais do desenvolvimento embrionário humano. O blastocisto é formado por uma massa celular interna em um polo, o ; uma cavidade repleta deembrioblasto líquido, a e uma camada de células externa, o (blastocele trofoblasto Figura "Em A: Fotomicrografia de um blastocisto humano isolado, com magnificação de 20x. Em B: representação das estruturas de um blastocisto" ). Esse último forma uma parede similar a um epitélio. A zona pelúcida desaparece por completo nessa etapa e - -10 . o blastocisto, rolando pela parede uterina, pode se implantar no epitélio uterino O embrioblasto se posiciona após rolar na parede uterina, voltado para o endométrio. Os trofoblastos sobre o polo do embrioblasto serão os responsáveis por essa implantação, chamada de nidação. Figura 7 - Em A: Fotomicrografia de um blastocisto humano isolado, com magnificação de 20x. Em B: representação das estruturas de um blastocisto Fonte: Vladimir Staykov e Designua, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: Há duas imagens, sendo A uma micrografia de um blastocisto humano isolado com magnificação de 20x, e B uma representação gráfica das estruturas de um blastocisto. As células trofoblásticas, sobre o polo do embrioblasto iniciam o processo de penetração do epitélio endometrial por volta do sexto dia após a fecundação. Esse processo envolve primeiramente a fixação das células do blastocisto, com interação de integrinas das células trofoblásticas com moléculas da matriz extracelular do epitélio uterino ( Figura "Início do processo de implantação do blastocisto no epitélio uterino" ). Podemos dizer que as células trofoblásticas escavam o endométrio para que ocorra a penetração do embrioblasto na parede uterina. - -11 Figura 8 - Início do processo de implantação do blastocisto (em azul) no epitélio uterino (em rosa) Fonte: Sakurra, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem representa o início da implantação do blastocisto no epitélio uterino e a interação entre moléculas da superfície das células trofoblásticas e das moléculas da matriz extracelular do epitélio uterino, permitindo a sua fixação. Seguindo a contagem de semanas de desenvolvimento embrionário, a partir do processo de fecundação, esses eventos indicam o Deve-se ter cuidado, pois a contagem de semanas de gestação se fim da primeira semana. inicia na data da última menstruação da mulher e, portanto, tendo uma defasagem de cerca de duas semanas para a contagem das semanas de desenvolvimento embrionário. Nesta unidade utilizaremos a contagem iniciando-se a partir da fecundação. - -12 2 A gastrulação Finalizada o embrião estará no processo de a primeira semana de desenvolvimento embrionário, implantação no epitélio uterino. A mulher, nessa ocasião, ainda não tem ciência de seu estado gravídico. Talvez, muito provavelmente, estará experimentando sinais e sintomas similares àqueles que ela apresentava no período que antecede o período menstrual. Algumas mulheres relatam observar um pequeno sangramento nesse período, especialmente no que corresponde à segunda semana de desenvolvimento embrionário. Esse fenômeno pode muitas vezes ser confundido como uma menstruação e isso leva a muitas a descobrirem mais tardiamente a gravidez. O início da segunda semana de desenvolvimento embrionário é marcado pela continuação do processo de instalação do blastocisto no epitélio uterino. Os escapes de sangue podem ocorrer devido ao rompimento de pequenos vasos sanguíneos do epitélio. As células do trofoblasto, imediatamente sobre o embrioblasto, sofrem modificação assim que iniciam o processo de implantação, dividindo-se em duas camadas: o , mais interna e mononucleada; e o mais externa, multinucleada e semcitotrofoblasto sinciciotrofoblasto, limites definidos. A função do sinciciotrofoblasto é realizar essa “invasão” do epitélio endometrial, com erosão através de enzimas metaloproteinases ( Figura "Penetração do blastocisto no epitélio uterino durante a nidação" ), permitindo com que se abra espaço o suficiente no epitélio endometrial para que toda a estrutura do blastocisto se instale dentro da camada epitelial. O sinciciotrofoblasto necessita se expandir mais e mais, contudo é o citotrofoblasto Dessa forma, as células dessa camada que se dividem e migram para oque possui capacidade mitótica. sinciciotrofoblasto, fusionando-se e perdendo as características de mononucleada e de limites bem definidos, permitindo a expansão pelo endométrio. Fique de olho Você sabe o que são células-tronco embrionárias? São células que possuem a capacidade de se transformarem em quaisquer tipos celulares que formam o nosso corpo. A principal fonte de células tronco embrionárias que temos são as que formam o embrioblasto. No TED Talk de Crystal Ruff, uma neurocientista britânica, temos uma explicação bem didática sobre o que são as células-tronco e como elas podem mudar a forma como tratamos inúmeras doenças. Verifique o de acesso desse vídeo no item referências, no final da unidade.link - -13 Figura 9 - Penetração do blastocisto no epitélio uterino durante a nidação Fonte: Sakurra, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer A imagem representa o blastocisto se implantando no útero, com as células do: sinciociotrofoblasto realizando a “invasão” do tecido do endométrio uterino. As células do próprio embrioblasto também sofrem modificações, diferenciando-se em duas camadas: C A M A D A HIPOBLÁSTICA Possui células cuboides, pequenas e adjacentes à camada blastocística. C A M A D A EPIBLÁSTICA É constituída de células colunares altas e adjacentes à cavidade amniótica, recém- formada. As duas camadas formam um disco bilaminar achatado A cavidade amniótica surge ao mesmo tempo que há. a formação dessa bicamada no embrioblasto, iniciando-se como uma pequena cavidade no epiblasto. Com a formação do disco bilaminar, há a designação do eixo dorsal-ventral do embrião, sendo o epiblasto dorsal e o hipoblasto ventral. Quando se alcança o nono dia de desenvolvimento embriológico, o blastocisto já se encontra profundamente implantado no epitélio uterino O orifício de implantação formado pela entrada do. blastocisto no endométrio é revestido por um tampão de fibrina. O sinciciotrofoblasto continua em franca expansão, com formação de vacúolos que, quando se juntam, formam lacunas configurando o chamado estágio - -14 lacunar. Essas lacunas são preenchidas por sangue e posteriormente irão se organizar para formar a extensa rede de vasos sanguíneos da placenta. Não há, sob nenhuma condição fisiológica, a mistura de sangue materno com o sangue do embrião. Ao examinarmos o polo embrionário, observamos a formação da vesícula vitelínica primitiva, formada a partir de células do hipoblasto alinhadas às células do citotrofoblasto. Apesar de ser formada no embrião humano, tem pouca função no quesito de armazenar substância para nutrição do embrião, uma vez que ele implantado no útero rapidamente se forma uma rede de suplementação nutricional para o mesmo. Ao , o embrião encontra-se como um disco bilaminar, com o epiblasto e o hipoblasto; e final da segunda semana o trofoblasto divide-se em duas porções, o e o , e formará as estruturascitotrofoblasto sinciciotrofoblasto acessórias para a manutenção do embrião. É o responsável ainda pela produção do hormônio da gonadotrofina coriônica (HCG). Esse hormônio também é responsável por enviar sinalização para os ovários, para que haja a manutenção do corpo lúteo funcional, para que possa continuar secretando progesterona e assim haja a manutenção da gestação no primeiro trimestre. Nos trimestres seguintes, a manutenção dos níveis de progesterona será mantida pela placenta que já estará funcional. Externamente, o embrião está completamente implantado na paredeuterina, fenômeno esse também conhecido como . Do ponto de vista clínico, algumas mulheres já podem suspeitar de que as alteraçõesnidação corporais podem não ser condizentes com a chegada de uma menstruação, mas como ainda não ocorreu de fato o atraso menstrual, a realização de testes laboratoriais de dosagens de β-HCG podem apresentar resultados falso negativos. Isso é devido ao sincíciotrofoblasto ainda não estar em tamanho considerável para produzir e secretar o hormônio em nível detectável pelas técnicas laboratoriais. No início da semana seguinte, a terceira semana de desenvolvimento embrionário, temos a maior chance de resultados laboratoriais confirmatórios da gestação, e percepção do atraso menstrual, com detecção de níveis confiáveis de β-HCG na maioria dos casos. Também nessa semana o embrião passa por uma importante transformação: há a transformação do disco Esse fenômeno é chamado de , com a formação dos três folhetosbilaminar em disco trilaminar. gastrulação embrionários que darão origem a todos os tecidos de todo o corpo. As três camadas germinativas ou folhetos embrionários são: e . Emectoderma, mesoderma endoderma humanos, a gastrulação se inicia com a formação da linha primitiva, um aglomerado de células na linha média da superfície do epiblasto. Inicia-se bem sutil, mas, em torno do 15º dia, é possível delimitar um sulco, com bordas proeminentes, chamado de Com a formação destas estruturas, conseguimos então estabelecersulco primitivo. mais dois eixos no embrião: a extremidade cranial do sulco primitivo formará o que contém anó primitivo, chamada continua caudalmente com o sulco primitivo. Ao se olhar o epiblasto em uma visãofosseta primitiva, - -15 para baixo, em direção à cavidade amniótica, tem se a delimitação dos eixos craniocaudal (ou cefalocaudal) e o eixo mediolateral pela linha primitiva. No processo de gastrulação, células da linha primitiva invaginam-se para dentro do sulco primitivo deslocando o hipoblasto e formando o embrionário; outras se posicionam entre o endoderma recém-criado e oendoderma epiblasto gerando o . As células que permanecem no epiblasto, formam o .mesoderma ectoderma São esses folhetos embrionários que darão origem a todos os tecidos do nosso corpo. Na Figura " Tecidos originados de cada um dos folhetos embrionários gerados pela gastrulação" há um resumo dos principais tecidos originados a partir de cada um dos folhetos, em que podemos destacar que: ECTODERMA Responsável pela origem da epiderme, sistema nervoso central e periférico e a várias outras estruturas. MESODERMA Responsável pelas camadas musculares lisas, tecidos conjuntivos, e é fonte de células do sangue e da medula óssea, esqueleto, músculos estriados e dos órgãos reprodutores e excretor. ENDODERMA Origina os revestimentos epiteliais do trato respiratório e trato gastrointestinal, incluindo glândulas associadas. - -16 Figura 10 - Tecidos originados de cada um dos folhetos embrionários gerados pela gastrulação Fonte: VectorMine, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: A imagem apresenta um fluxograma com três etapas mostrando os tecidos originados de cada folheto embrionários. A linha primitiva continua avançando cranialmente até o 18º dia, passando a regredir após esse período, sendo ainda visualizados vestígios dela até a quarta semana. O mesoderma, durante esse tempo de permanência da Com a regressão da linha primitiva, há a organização e formação dolinha primitiva, continua a ser formado. chamado mesoderme paraxial, que dará origem aos somitos e, posteriormente, dará também origem a estruturas axiais das regiões do tronco e caudais do corpo. - -17 3 Indução embrionária Os eventos das semanas iniciais de formação embriológica são cruciais para todo o restante da gestação. Todas as estruturas do corpo têm ali, nessas semanas, os seus pontapés iniciais de formação. Uma mudança em uma única célula pode resultar em uma região inteira – podendo ser até um órgão – com defeitos que podem levar até mesmo à incompatibilidade com a vida. Dentre os sistemas que são iniciados a sua formação nessas semanas iniciais, temos a formação do sistema nervoso. Um dos fenômenos observados primeiramente ainda nos anos de 1900, a , foi estudada emindução neural anfíbios, mas estudos posteriores mostraram que o conhecimento pode ser extrapolado para todos os vertebrados. Ela consiste na indução de células do ectoderma através de secreção de substâncias. Neuralizadoras são induzidas a migrarem para a região cranial e para se tomarem o seu destino de formação de tecido nervoso, posteriormente. Após a formação da linha primitiva há a formação do processo notocordal, que dará origem à . Essa énotocorda uma espécie de haste celular, posicionada no eixo longitudinal do embrião, numa posição ventral ao sistema nervoso central. Então, a sinalização das substâncias neuralizadoras, citadas anteriormente, levam a estimulação para conversão de células do ectoderma da superfície que o recobre em células neurais. Por volta do 16º dia, na parede caudal do saco vitelino, há a formação do O alantoide persistira comoalantoide. uma linha que irá da bexiga urinária até a região umbilical. Em adultos, a percepção do alantoide é dada pelo ligamento umbilical. A ação dessas substâncias secretadas sobre células do ectoderma e sua transformação em células neurais foi comprovada por alguns laboratórios de pesquisa. Descobriu-se também que há substâncias que induzem formação de células neurais com certo posicionamento anatômico, isso é, há indutores que induzem a formação de células para estruturas mais anteriores, outras mais posteriores do sistema nervoso, e assim sucessivamente. - -18 4 A neurulação A formação das estruturas bases para a geração do sistema nervoso pode constituir como sendo um momento Curiosamente, esse processo se inicia quando a mulher malmente tomoucrucial na formação de um embrião. conhecimento de seu estado gravídico ou ainda não tem esse conhecimento. A suplementação alimentar com vitaminas normalmente não iniciou ainda e ela ainda pode estar exposta a fatores ambientais prejudiciais à saúde da formação dessa nova vida. Após o processo de gastrulação, o segundo grande processo que ocorre no período embrionário é a . Esse é um processo que consiste na formação do tubo neural a partir daneurulação placa neural. Em resumo, há formação da estrutura do sistema nervoso central a partir do dobramento da placa neural. O processo de neurulação pode ser dividido em fases: formação da placa neural, dobramento da placa neural e consequente formação do sulco neural e a formação do tubo neural. A notocorda constitui o início necessário para a neurulação e formação de suas estruturas, e é formada, por sua vez, na continuação da linha primitiva. O crescimento da notocorda ocorre de maneira concomitante a regressão da linha primitiva. Pode ser considerada uma estrutura transitória, com aspecto cartilaginoso e, portanto, flexível. No início da quarta semana de desenvolvimentoEla se estende da região caudal até a região cranial. humano, acima da notocorda, há a formação da placa neural, na porção dorsal do ectoderma, ao longo de todo o eixo central. A porção rostral da notocorda dará origem à região craniofacial do embrião. Em torno do 18º dia, há uma invaginação da placa neural ao longo do eixo central, que formará o sulco neural mediano, com pregas neurais ladeando-o. A notocorda é importante na indução de muitas estruturas axiais, tais como o sistema nervoso e somitos. A formação da cabeça é coordenada pelo endoderme visceral anterior (hipoblasto) e pela placa precordal. Os blastômeros inIcialmente formados são considerados , isso é, tem a capacidade de setotipotentes transformar em qualquer tipo celular do embrião ou dos anexos embrionários. À medida que o embrião passa por estágios de formação, as células passam por pontos de restrição e passam a limitar sua diferenciação. Diferenciação celular é uma forma de especializaçãocelular: quanto mais diferenciada for uma célula, mas especializada ela será. - -19 Figura 11 - Formação do processo notocordal Fonte: SCHOENWOLF, et al., 2016. #PraCegoVer: A imagem demonstra como ocorre a formação do processo notocordal e da notocorda. Em A, C, temos os estágios do processo notocordal oco crescendo cranialmente a partir do nó primitivo (dissecado no plano mediossagital). Observe as mudanças no comprimento relativo do processo notocordal e da linha primitiva durante o crescimento do embrião. Observe também a fusão entre ectoderma e endoderma nas membranas orofaríngea e cloacal. Em B, há o corte transversal do disco embrionário no local indicado pelas linhas pontilhadas. A indução neural discutida anteriormente, designa as células o ectoderma que irão formar o chamado neuroectoderma e darão origem ao sistema nervoso do embrião. Essa camada de células se torna espessa, com células pseudoestratificadas, cilíndricas. A sua primeira formação é na porção mais cefálica, depois havendo formação em direção à caudal. Essa placa neural sofre um dobramento, levando a formação do chamado tubo neural, que dará origem ao sistema nervoso central. As células de sua extremidade formam as células da crista neural, responsáveis por formar inúmeras estruturas tais como esqueleto craniofacial, neurônios dos gânglios craniais, células da glia, melanócitos e outros tios celulares. Fique de olho O uso de suplementação de ácido fólico durante a gestação é tema bastante recorrente no meio - -20 Cefalicamente, a placa neural é mais larga e vai se afilando na direção da cauda ( Figura " Demonstração do crescimento da placa neural durante os dias 18 a 20 do desenvolvimento humano" ). Essa porção cranial dará origem ao cérebro, sendo dividido, apesar de que ainda de forma rudimentar, em e prosencéfalo, mesencéfalo rombencéfalo. PROSENCÉFALO Dará origem ao telencéfalo e ao diencéfalo. MESENCÉFALO Originará o mesencéfalo mesmo. ROMBENCÉFALO Dará origem ao metencéfalo e ao mielencéfalo. A porção mais estreita na direção caudal dará origem à medula espinal, componente do sistema nervoso central. Os somitos irão surgir ladeando estas estruturas. Figura 12 - Demonstração do crescimento da placa neural durante os dias 18 a 20 do desenvolvimento humano O uso de suplementação de ácido fólico durante a gestação é tema bastante recorrente no meio acadêmico sobre sua necessidade ou não, especialmente durante o primeiro trimestre de gestação. Entretanto, existem inúmeros trabalhos na literatura que abordam os efeitos da falta desse nutriente na formação de indivíduos e suas consequências para a formação do embrião. Para saber mais, leia o artigo “Diagnóstico pré-natal de defeitos do tubo neural” indicado nas referências desta unidade, em que pesquisadores de Portugal realizaram uma revisão da literatura abordando os principais defeitos de formação embrionária relacionados à carência de ácido fólico. - -21 Figura 12 - Demonstração do crescimento da placa neural durante os dias 18 a 20 do desenvolvimento humano Fonte: SCHOENWOLF, et al., 2016. #PraCegoVer: A figura demonstra o desenvolvimento da placa neura no embrião entre o 18º e 20º dia. Os somitos sempre se apresentam em pares e darão origem à diversas estruturas de modelagem do corpo do embrião. Serão responsáveis por formar o esqueleto axial, estruturas de ossos e músculos do crânio, entre outras. Dessa forma, de desenvolvimento humano, teremos um embrião com um sistemaao final da quarta semana nervoso primitivo, que ainda sofrerá inúmeras transformações para formar estruturas mais complexas. Ainda de desenvolvimento embrionário, há o dobramento do disco embrionário trilaminar. Ocorrena quarta semana que nesse período é de um rápido crescimento do embrião, em especial do encéfalo e medula espinal, formados (a estrutura primitiva) de desenvolvimento embrionário. O dobramento no eixo cefálicana terceira semana caudal e latero-lateral ocorrem simultaneamente, transformando o embrião de praticamente reto no início desta semana, para curvado ao final desta. De fato é a semana que possui maior alteração do período embrionário. À medida que o embrião cresce, há a formação de uma espécie de cauda que se projeta sobre a membrana cloacal. Na superfície ventral, o pedúnculo do embrião (primórdio do cordão umbilical) se prende nessa superfície. Durante de desenvolvimento embrionário: não há eventos de alteração morfológica a quinta semana significativa. Já na sexta semana é possível visualizar, por meio de exames ultrassonográficos, movimentos espontâneos dos embriões, com contrações do tronco e membros. Entretanto, ressaltamos que essas movimentações não são percebidas pela mãe, pois o peso e tamanho do embrião ainda são bastante reduzidos. A formação dos membros superiores começa na , com o desenvolvimento dos brotos dos braços esexta semana posteriormente formação dos raios digitais para formação dos dedos das mãos. Os membros inferiores vão ser formados dias após. Na de desenvolvimento, a grande transformação morfológica diz respeito asétima semana uma intensa modificação dos membros, tanto superiores quanto inferiores. A é marcada pela presença dos membros superiores eoitava e última semana do período embrionário inferiores bem desenvolvidos, com separação dos dedos (mas que permanecem conectados por uma membrana) e aparecimento do plexo do couro cabeludo. é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender que após a ocorrência da fecundação, o zigoto formado passa por um intenso processo de • - -22 • entender que após a ocorrência da fecundação, o zigoto formado passa por um intenso processo de divisão celular antes mesmo de chegar no útero, chamado de clivagem; • compreender que a chegada e instalação no útero é associada a intensas transformações no concepto, que tem a divisão de seus folhetos embrionários e células das camadas mais externas assumem suas funções de manutenção do embrião; • entender que ainda não temos profundo conhecimento acerca da indução neural em humanos, mas que os estudos com anfíbios podem ser extrapolados para os vertebrados, e nos indica que há substâncias que direcionam a diferenciação das células do ectoderma em neuroepitélio; • aprender que a gastrulação e a neurulação são dois conjuntos de processos importantes para a formação do embrião e ocorrem antes mesmo da mulher ter consciência de seu estado gravídico; • conhecer exemplos de células e tecidos formados a partir dos folhetos embrionários e de outras estruturas formadas nestas semanas iniciais de formação. Referências CARLSON, B. M. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.Embriologia humana e biologia do desenvolvimento. SADLER, T. W. . 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.Langman embriologia médica MATA, R. et al. Diagnóstico pré-natal de defeitos do tubo neural. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf /aogp/v12n2/v12n2a07.pdf MOORE, K. L. et al. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.Embriologia clínica. MOORE, K. L. et al. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.Embriologia básica. • • • • •
Compartilhar