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Conteúdo: BIOQUÍMICA GERAL Rodrigo Binkowski de Andrade Mecanismos de regulação da atividade de enzimas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a importância dos mecanismos de regulação da atividade enzimática. � Correlacionar a regulação de enzimas alostéricas e seus moduladores. � Diferenciar a regulação mediada por zimogênios da modificação por fosforilação. Introdução Os mecanismos de regulação da atividade enzimática são fundamentais para o controle dos níveis de ATP, a regulação das vias metabólicas ana- bólicas e catabólicas e o bom funcionamento das reações bioquímicas. Neste texto, você vai estudar os principais mecanismos de regulação enzimática. Além disso, vai conhecer as enzimas responsáveis pela regu- lação de rotas bioquímicas e ver exemplos de regulações enzimáticas importantes para o organismo humano. Os mecanismos de regulação da atividade enzimática Os mecanismos de regulação da atividade enzimática são variados, como veremos a seguir. A regulação da atividade enzimática pode ser administrada por diferentes estruturas da célula, de modo a garantir a homeostase do corpo humano. Algumas enzimas estão localizadas em organelas específicas dentro da célula, como as hidrolases no lisossomo, de modo a isolar o substrato sobre o qual agem, visando a fornecer um ambiente favorável à reação ou mesmo segregar de forma organizada as variedades enzimáticas existentes na célula. Uma das formas mais básicas de regulação das atividades enzimáti- cas é por meio do controle da velocidade das reações das enzimas, que permite ajustar os processos metabólicos às necessidades do organismo. A velocidade das reações enzimáticas geralmente está relacionada à dis- ponibilidade de substrato, a substância sobre a qual atua a enzima. À medida que aumenta a concentração de substrato, a velocidade da reação enzimática também aumenta. As enzimas também podem ser reguladas por modificação covalente; neste caso, o fosfato proveniente do ATP é adicionado às células pelas proteínas- -cinases e retirado pelas fosfoproteínas-fosfatases. Essa adição ou remoção pode, dependendo da enzima, aumentar ou diminuir a atividade catalítica. Há também a regulação enzimática por indução e repressão da síntese de enzimas, um processo regulatório relacionado apenas a enzimas que não são continuamente utilizadas, já que pode demorar horas ou até mesmo dias para que sua ação provoque efeito. Outra forma de regular enzimas, utilizada em muitos fármacos, é a inibição enzimática. Os inibidores reversíveis se unem ao catalisador por meio de ligações não covalentes, que são mais fáceis de serem rompidas, possibilitando que a diluição do complexo enzima-inibidor restaure a atividade da enzima após a interação. Já os inibidores irreversíveis, se unem à enzima por meio de ligações covalentes, que são mais estáveis, e a enzima inibida não recupera sua função após conectar-se com o inibidor. A inibição reversível pode ser classificada como não competitiva ou com- petitiva (Figura 1). Na inibição não competitiva, o inibidor e o substrato unem-se em sítios diferentes: enquanto o inibidor se conecta ao complexo enzima-substrato, ou diretamente à enzima livre, o substrato acopla-se no centro ativo da enzima. A velocidade máxima não pode ser atingida por meio do aumento da concentração do substrato, já que a presença do inibidor diminui a taxa de formação de produtos (não ocorre elevação do Km). Na inibição competitiva, por outro lado, o inibidor ocupa o sítio ativo e diminui a velocidade máxima momentaneamente. O efeito do inibidor com- petitivo pode ser revertido com o aumento da concentração do substrato, já que apenas o valor do Km aparente aumenta. Mecanismos de regulação da atividade de enzimas2 Figura 1. Os tipos mais comuns de inibição reversível: não competitiva e competitiva. Fonte: Adfert (2012). Enzimas alostéricas e seus efetores positivos e negativos As enzimas alostéricas são muito importantes para a regulação das rotas bioquímicas no nosso organismo. A enzima alostérica é um oligômero, composto de protômeros (locais onde o substrato se liga ao sítio ativo) e do sítio alostérico, ao qual se ligam de modo não covalente os efetores positivos e negativos. Esses efetores causam alteração da atividade enzimática, seja por meio da mudança conformacional e a consequente variação da enzima pelo substrato, seja por transformação na atividade catalítica máxima (ver o box Fique atento). Esses catalisadores biológicos normalmente atuam apenas no primeiro passo da rota metabólica (Figura 2). Os efetores positivos aumentam a afini- dade da enzima pelo substrato, já que ela adquire a forma relaxada, passível 3Mecanismos de regulação da atividade de enzimas de ligação (maior atividade enzimática). Por outro lado, os efetores negativos diminuem essa afinidade, e todos os protômeros da enzima tornam-se tensos (menor atividade enzimática). Figura 2. Efetores alostéricos negativos e positivos. Os efetores modulam a atividade da enzima: os negativos diminuem sua atividade e os positivos a aumentam. Fonte: Boundless.com ([20-?]) Inibição alostérica Ati vação alostérica Enzima 1 Enzima 2 Ati vador Síti o ati vo Síti o ati vo Síti o alostérico Inibidor Substrato Substrato Síti o ati vo alterado Síti o ati vo alterado Os efetores também podem ser classificados como homotrópicos ou heterotrópicos. Nos homotrópicos, o próprio substrato atua como efetor e normalmente causa efeito positivo, pois a sua ligação à enzima aumenta a afinidade dos outros sítios de ligação. Este é o chamado efeito da coopera- tividade. Já nos heterotrópicos, o efetor é diferente do substrato. Estes são geralmente utilizados pelos sistemas de controle de alça fechada de feedback negativo: quando determinado produto, no fim de uma rota metabólica, está muito concentrado, a enzima diminui a taxa de sua síntese. Mecanismos de regulação da atividade de enzimas4 A enzima isocitrato desidrogenase é uma enzima do ciclo de Krebs que é ativada pelo ADP (efetor ou modulador positivo). A ligação ocorre no centro alostérico da enzima. Nos sistemas enzimáticos, em que um grupo de enzimas trabalha em conjunto formando vias metabólicas, o produto da primeira reação é o substrato da reação seguinte e assim sucessivamente. Em cada sistema enzimático, há pelo menos uma enzima que determina a velocidade de toda a rota metabólica. Esse controle pode ocorrer por retroalimentação. Por exemplo, a L-treonina desidrase é inibida alostericamente pela L-isoleucina, produto final da rota metabólica. A regulação mediada por zimogênios e por modificação covalente As enzimas secretadas na forma inativa, chamadas zimogênios, sofrem a clivagem de um fragmento de sua estrutura, o que resulta no aparecimento do centro ativo. Com isso, a enzima passa da forma inativa para a forma ativa. No trato gastrointestinal esse tipo de regulação é muito comum, por exemplo, na conversão do pepsinogênio (inativo) à pepsina (ativa) pelo ácido clorídrico, no pH ácido do estômago. Essa regulação mediada por zimogênio é fundamental, pois permite que a pepsina atue sobre as proteínas obtidas da alimentação e não cause dano na mucosa estomacal. Já na modificação covalente, a regulação ocorre por adição ou remoção de radicais, normalmente fosfatos, de resíduos de serina, treonina ou tirosina da enzima. Este é o chamado mecanismo de fosforilação e desfosforilação, cata- lisado por proteínas quinases que fosforilam, ou por fosfoproteínas-fosfatases, que removem o radical fosfato (ver o box Exemplo). Um exemplo de mecanismo de fosforilação e desfosforilação são as enzimas da síntese e degradação do glicogênio. A glicogênio fosforilase é ativa quando fosforilada, e promove a degradação do glicogênio. A glicogênio sintase diminui sua atividade quando fosforilada. A entrada ou saída do fosfato na molécula da proteína enzimáticamodifica a conformação da proteína, tornando-a mais ou menos ativa. 5Mecanismos de regulação da atividade de enzimas O controle da atividade enzimática em nível gênico é baseado na quantidade de enzimas presentes e pode ser regulado por indução (aumento da síntese da enzima) ou repressão (diminuição da síntese). O gene estrutural responsável pela síntese de certas enzimas é controlado por um segundo gene localizado ao lado do gene estrutural, denominado operador. Quando livre, o operador permite a formação do m-RNA do gene estrutural e, consequentemente, da enzima. O gene operador pode ser inibido por um repressor e, neste caso, não há síntese da enzima. O repressor é sintetizado por um terceiro gene, localizado em local afastado do gene estrutural, denominado gene regulador (ver o box Saiba Mais). Certas bactérias são incapazes de hidrolisar a lactose por terem um gene operador, que controla a síntese da β-galactosidase, inibido por um repressor. Estas bactérias, quando expostas por certo tempo à lactose, passam a hidrolisar o diolosídio, por adquirirem a capacidade de sintetizar a β-galactosidase. Nesse caso, o repressor liga-se à lactose presente, formando um repressor inativo. Com o repressor inativo e o operador livre, o gene estrutural passa a exercer a sua função, e a enzima é sintetizada. Em algumas células, o gene regulador forma um apo-repressor incapaz de inibir o gene operador. Produtos finais de vias metabólicas podem inibir a sua própria síntese impedindo a formação de uma determinada enzima por funcionarem como correpressores. O correpressor liga-se ao apo-repressor formando um holo-repressor, que é ativo. Esse tipo de controle pode ocorrer durante a síntese do HEME da hemoglobina. DNA CAP Transcrição Tradução Promotor Operador RNA polimerase Repressor Lac CAP Ribossomo Lactose Glicose Glicose GalactosecAMP Α β-galactosidase cliva a lactose. A bactéria queima glicose e galactose. mRNA lac Z lac Y lac A Fonte: BioWeb Home (2002). Mecanismos de regulação da atividade de enzimas6 Confira no link a seguir uma animação sobre o funcionamento das enzimas (MCKINLEY; O’LOUGHLI, 2017). https://goo.gl/3qZM34 BIOWEB HOME. Madison, 2002. Disponível em: <http://bioweb.uwlax.edu/GenWeb/ Molecular/Theory/Transcription/Slide2.JPG>. Acesso em: 1 set. 2017. BOUNDLESS.COM. Cells regulate their biochemical processes by inhibiting or activating enzymes. [20-?]. Disponível em: < https://www.boundless.com/biology/textbooks/ boundless-biology-textbook/metabolism-6/enzymes-72/control-of-metabolism- -through-enzyme-regulation-351-11577/>. Acesso em: 05 set. 2017.ADFERT. Uber- lândia, 2012. Inibição não competitiva e inibição competitiva. Disponível em: <HTTP://www.adfert. com.br/midia/2012/01/ADFERT__produto__uremax-img02.jpg>. Acesso em: 1 set. 2017. MCKINLEY, M.; O’LOUGHLI, V. D. Human Anatomy: how enzymes work. Columbus: McGraw-Hill Education, 2017. Disponível em: <HTTP://highered.mheducation.com/ sites/0072495855/student_view0/chapter2/animation__how_enzymes_work.html>. Acesso em: 1 set. 2017. Leituras recomendadas MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper (Lange). 29. ed. Porto Alegre: Ma- cGraw Hill, 2013. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014. 7Mecanismos de regulação da atividade de enzimas https://goo.gl/3qZM34 http://bioweb.uwlax.edu/GenWeb/ https://www.boundless.com/biology/textbooks/ http://www.adfert/ http://highered.mheducation.com/ Conteúdo:
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