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1 Clínica Cirúrgica – Tatiana Morais ➢ Fisiopatologia: -Mecanismos antirrefluxo endógenos • Esfíncter esofágico inferior: -Musculatura intrínseca do esôfago distal (contração tônica – relaxamento para deglutição) -Fibras oblíquas da cárdia ( contribuem para zona de alta pressão do EEI) -Crura do diafragma (rodeia o esôfago quando ele passa pelo hiato) -JGE(pressão intra-abdominal aumentada, é transmitida à JGE e previne o refluxo do conteúdo gástrico) • Esvaziamento esofágico espontâneo Figura: Diagrama esquemático das camadas musculares da região esofagogástrica. Músculo intrínseco do esôfago, diafragma e fibras de tipoia contribuem para a pressão do EEI. Fibras musculares circulares do esôfago estão na mesma profundidade que as fibras de tipoia da cárdia. • Refluxo: ocorre quando a pressão intra-gástrica é superior à zona de alta pressão do esôfago distal (duas condições) 1) Pressão de repouso do esfíncter esofagiano inferior é muito baixa (EEI hipotensivo) 2) EEI relaxa a ausência de contração peristáltica do esôfago (relaxamento espontâneo do EEI) OBS:Distinção entre refluxo fisiológico e patológico depende da quantidade total de exposição esofágica ao ácido, dos sintomas do paciente e da presença de lesão da mucosa esofágica -Nem todo refluxo é patológico • Hérnias de hiato com frequência associam-se com DRGE – Anomalia anatômica compromete a função do EEI Tipo 1 : Deslizamento ( + comum) -Quando a JGE migra no sentido cefálico para o mediastino posterior devido à flacidez da membrana frenoesofágica -Quanto maior o tamanho da hernia maior a chance de RGE anormal -Hernia pequena isoladamente não constitui indicação cirúrgica -Muitos pacientes não têm sintomas e não necessitam de tratamento • Hérnias 2 – 4: Hérnias paraesofágicas Tipo 2 : quando a JGE está ancorada no abdome, e o fundo gástrico migra para o mediastino por meio do hiato esofágico Tipo 3 : presença de JGE e do fundo no mediastino (associação das duas coisas, ascensão da JGE e tem a hérnia paraesofágica do fundo gástrico migrando para o mediastino) Tipo 4 :quando qualquer estrutura visceral (cólon ,baço, pâncreas ou intestino delgado) migra no sentido cefálico do hiato esofágico e localiza-se no mediastino Figura: Os três tipos de hérnia hiatal. A, O tipo I é também chamado de hérnia por deslizamento. B, O tipo II é conhecido como uma hérnia de rolamento. C, O tipo III é referido como uma hérnia mista.GE, Gastroesofágico. ➢ Sintomas típicos da DRGE • Pirose (sensação cáustica ou de queimação epigástrica ou retroesternal) • Regurgitação (muitas vezes indica progressão da DRGE /regurgitação para boca – gosto amargo, ácido ou bilioso) ➢ Sintomas extraesofágicos da DRGE -Origem no trato respiratório, incluindo sintomas laríngeos e pulmonares -Refluxo esofágico proximal e microaspiração de conteúdo gastroduodenal causa lesão cáustica direta à laringe e trato respiratório inferior (mecanismo + comum) -Exposição acida esofágica distal desencadeia um reflexo neurológico vagal que resulta em broncoespasmo e tosse (inervação vagal comum da traqueia e do esôfago) -Sintomas extraesofágicos do refluxo não são específicos da DRGE OBS: É muito comum a doença do refluxo mimetizar outras condições 2 Clínica Cirúrgica – Tatiana Morais • Sintomas Laríngeos do refluxo: -Rouquidão ou disfonia -Pigarro -Odinofagia -Globus -Engasgo -Rinorreia posterior -Estenose traqueal e laríngea -laringospasmo -Úlceras de contato • Sintomas Pulmonares do refluxo: -Tosse -Falta de ar -Pigarro -Doença pulmonar (asma, fibrose pulmonar idiopática, bronquite crônica e outras) • Resposta variável ao tratamento clínico ( ácido não é o único agente cáustico causando lesão laríngea e pulmonar) • Inibidor de bomba de Próton – suprime a produção de ácido gástrico • Microaspiração de refluxo não ácido ( sais biliares e pepsina) pode causar lesão e sintomas progressivos • Sintomas extraesofágicos: barreira mecânica ao refluxo (fundoplicatura GE pode ser necessária para prevenir lesão traqueal, laríngea ou brônquica progressiva) ➢ Doença pulmonar , DRGE e cirurgia antirrefluxo • DRGE + ASMA: Cirurgia antirrefluxo é mais efetiva que terapia clínica no controle dos sintomas pulmonares -Cirurgia melhora 90% dos sintomas em crianças e 70 % dos adultos com asma + DRGE • Fibrose pulmonar idiopática: crônica, progressiva e resulta em morte 5 anos após o diagnóstico -Refluxo esofágico proximal ácido e não ácido implicado como possível causa de lesão alveolar na FPI -Tratamento da DRGE melhora sobrevida: cirurgia( barreira mecânica ao refluxo ácido e não ácido) ➢ Testes diagnósticos pré-operatório • Monitoramento ambulatorial do PH: -Quantifica a exposição esofágica ácida distal – padrão ouro -Número total de episódios de refluxo (PH<4) -Episódio mais longo de refluxo -Número de episódios com duração > 5 minutos -Porcentagem de tempo de refluxo nas posições ortostática e supina -Paciente pode tomar nota dos sintomas relacionados ao refluxo para confirmar causa e efeito entre o registro gráfico do exame e sintomas • Monitoramento da impedância esofágica: -Identificar episódios de refluxo não ácido -Impedância aumenta na presença de ar e diminui na presença de fluido -Exame pouco comum no dia a dia • Combinação monitoramento PH- impedância -Identifica episódios de refluxo com maior sensibilidade que PH isoladamente -Realizado sem supressão ácida →Manometria esofágica -Forma mais efetiva de avaliar a função do corpo esofágico e do EEI -Pode excluir acalasia e identificar pacientes com peristaltismo ineficaz do corpo esofágico -Exposição repetida do esôfago ao refluxo gástrico pode levar a distúrbios da motilidade esofágica -Mede a pressão de repouso do EEI e avalia o EEI para relaxamento adequado durante a deglutição -Esfíncter esofagiano inferior é a principal barreira ao RGE – EEI com defeito é comum em paciente com DRGE →Esofagogastroduodenoscopia -Busca de lesão mucosa devido a RGE (esofagite, ulcerações, estenoses, esôfago de Barret) -Estenose péptica e esofagite C e D (classificação de Los Angeles) são patognomônicos de DRGE -Avaliar válvula da JGE (presença de hernia de hiato?) →Esofagograma com Bário -Avaliação anatômica detalhada do esôfago e estômago -Presença, dimensões e características anatômicas de hernia de hiato ou hernia paraesofagica -Identificar divertículos esofágicos, tumores, estenoses pépticas, acalasia, dismotilidade e gastroparesia Figura: Estudo de material de contraste gastrointestinal superior mostra uma hérnia hiatal grande com as pregas rugosas do estômago claramente ultrapassando a sombra do hemidiafragma esquerdo. 3 Clínica Cirúrgica – Tatiana Morais ➢ Condições pré- operatórias adicionais – Disfagia -Causa mais comum na DRGE: inflamação da parede esofágica pelo refluxo -Anel de Schatzki / inflamação esofágica distal difusa / Estenose péptica -Estenose + disfagia significativa : perda ponderal e desnutrição proteico-calórica -Estenose péptica deve ser biopsiada para excluir metaplasia intestinal, displasia e doença maligna -Outras causas: tumores , divertículos, distúrbios motores -Tratamento: controle do refluxo , dilatação endoscópica, cirurgia ➢ Condições pré- operatórias adicionais – Obesidade -Fator de risco para desenvolver DRGE -Aumento da pressão intra-abdominal, redução da pressão do esfíncter esofagiano inferior, relaxamentos transitórios do esfíncter esofagiano inferior + frequentes -Fundoplicatura (cirurgia antirrefluxo ) -Associar Bypass gástrico em Y- de- Roux para controle da obesidade ➢ Fundoplicatura parcial X Completa -Fundoplicatura gastroesofágica parcial posterior (180 e 270°) -Fundoplicatura gastroesofágica parcial anterior (90 e 180°) -Fundoplicatura gastroesofágica completa (360°) -DRGE + dismotilidade= parcial ? – reduzir disfagia ? -DRGE + fundoplicatura parcial – sintomas recorrentes? -Parcial anterior tem o controle menos duradouro dos sintomas que parcial posterior e total ➢ Esôfago de Barret (Metaplasia Intestinal) -Refluxo ácido e talvez alcalino de longa duração leva a alteração histológica da mucosa esofágica distal -Epitélio escamoso normal muda para colunar -EDA: Digitações vermelho – aveludado (cor salmão) de mucosa que se estendem no sentido cefálico desde a JEG -Múltiplas biópsias – confirmar e investigar displasia -Displasia = risco aumentado de adenocarcinoma (40x superior) -Regressão ainda não conclusiva – terapia clínica e cirurgia antirrefluxo ( o paciente fica vigiando e eventualmente biopsiando para ter certeza de que não desenvolveu câncer) ➢ Tratamento DRGE – Clínico -Sintomas típicos = 8 semanas de IBP -Excluir neoplasia( disfagia rapidamente progressiva, regurgitação de alimentos digeridos, anemia, sintomas extra – esofágicos e perda ponderal) -Sintomas melhoraram = ensaio diagnostico e terapêutico -Modificações no estilo de vida / dieta adequada -Efeitos adversos IBP : cefaleia , flatulência, dor abdominal, obstipação/diarreia, hipergastrinemia (hiperplasia da células enterocromafins e tumor carcinóide) ➢ Tratamento DRGE – Cirúrgico ➢ -Exposição ácida no esôfago distal ➢ -Sintomas típicos de DRGE persistente apesar de terapia médica máxima ➢ -Laparoscopia – reduz morbidade e tempo de internamento ➢ -Cirurgia é custo – efetiva quando comparada com terapia clínica a longo prazo ➢ -Pacientes que não tem qualquer melhora ou com sintomas extra esofágicos – considerar outro diagnóstico antes da cirurgia ( os melhores pacientes para cirurgia, são aqueles que respondem bem a tratamento clínico - sintomas persistentes) ➢ ➢ ➢ Figura: Abordagem pelo pilar esquerdo mostra a mobilização precoce do fundo do estômago. O baço é visto durante a dissecção, o que ajuda a prevenir a lesão. Figura: Após o fundo ser mobilizado, a reflexão peritoneal no hiato e a membrana frenoesofágica são incisadas anteriormente ao pilar esquerdo para evitar lesão do esôfago e vago posterior. Figura: Semelhante dissecção do pilar direito vai completar a exposição posterior e lateral do hiato. Contanto que a dissecção seja realizada ao longo dos pilares, a probabilidade de lesão às estruturas adjacentes é mínima. 4 Clínica Cirúrgica – Tatiana Morais Figura: Fechamento crural posterior é realizado com sutura permanente. Observe como o peritônio e, assim, a membrana frenoesofágica são incorporados ao fechamento. A exposição é facilitada pelo deslocamento do esôfago para a esquerda e anteriormente. • Fundoplicatura total – Nissen • Fundoplicatura parcial : -Toupet : 180-270° no plano posterior do esôfago (pensando em diminuir a chance de o paciente evoluir com disfagia ) -Thal e Dor – parcial anterior -Recuperação com dieta progressiva : líquidos – pastosos – sólidos Figura: Três tipos de fundoplicatura. A, Válvula de 360 graus.B, Fundoplicatura parcial anterior. C, Fundoplicatura parcial posterior ➢ Resultados clínicos da cirurgia antirrefluxo - Alívio dos sintomas/ melhora da exposição ácida esofágica/ complicações -Cirurgia: segura e fornece melhoria duradoura dos sintomas típicos da DRGE refratários ao tratamento clínico →Lundell et al: pacientes com esofagite erosiva – clínico x cirurgia -7 anos: menos insucesso na cirurgia do que com omeprazol -Mesmo com escalonamento para doses maiores do omeprazol – cirurgia superior -12 anos: menos falhas de tratamento com cirurgia do que com medicamentos ➢ Complicações operatórias • Pneumotórax < 2% dos pacientes • Lesões gástricas e esofágicas (1% dos pacientes) • Lesão esplênica e hepática ou hemorragia -Lesão parenquimatosa esplênica que resulta em hemorragia – 2,3% dos pacientes -Lesão parenquimatosa hepática -Infarto esplênico ➢ Efeitos adversos • Distensão: -Menos relaxamento transitórios do esfíncter esofagiano inferior e redução da eructação -Distensão abdominal por deglutição de ar • Disfagia: -Disfagia leve temporária durante 2-4 semanas (edema ou hematoma pós-operatório- mantém ingesta liquida ou pastosa) -Não tolera líquidos: serie gastrointestinal alta contrastada para documentar presença ou não de alteração anatômica (hérnia de hiato) -Se anatomia estiver ok pensar em esofagogastroduodenoscopia para dilatação ➢ Falha da cirurgia antirrefluxo -Sintomas recorrentes, persistentes ou novos = manometria esofágica e PH -Sintomas mais comuns de falha são sintomas típicos (pirose , regurgitação, boca amarga) e disfagia -Sempre revisar indicação e técnica operatória -Se PH exposição ácida elevada = esofagograma e EDA -Se confirmar DRGE persistente ou recorrente = IBP (maior parte resolve os sintomas) -Se sintomas não resolverem = nova cirurgia para criar válvula efetiva →Problemas anatômicos : -Hérnia de hiato recorrente ou persistente -Deslizamento da fundoplicatura -Fundoplicatura incorretamente construída 5 Clínica Cirúrgica – Tatiana Morais • Disfagia sugere obstrução esofágica • Disfagia resulta de hérnia de hiato recorrente ou fundoplicatura deslizada • Confirmar com esofagograma e EDA • Realizar PHmetria e manometria • Reoperação quase sempre necessária (sempre mais difícil) ➢ Novas terapias para DRGE • Dispositivo de sutura endoscópica (EsophyX) -Completar sutura endoscópica transoral sem incisões -Melhora a qualidade de vida relacionada com a DRGE (satisfação do paciente com controle sintomático e redução do uso de IBP) • Dispositivo magnético implantável de aumento do esfíncter (Linx) -Fios de contas magnéticas posicionado em torno do esôfago distal para aumentar a pressão de repouso do esfíncter esofagiano inferior a fim de reduzir o RGE -A propagação do bolo alimentar separa as contas abrindo a JEG, após a passagem do bolo alimentar para o estomago as contas fecham ➢ Hérnias paraesofágica • Fisiopatologia -Alargamento da crura diafragmática no hiato esofágico -Estiramento da membrana frenoesofágica -Episódios repetidos de entrada das vísceras no saco herniário, desenvolvem- se aderências entre a parede do saco e as estruturas torácicas adjacentes, impedindo assim, que o conteúdo herniado volte à sua posição normal na cavidade peritoneal -Estrutura + herniada = fundo do estômago -Outros órgãos : estômago, baço, cólon, pâncreas , intestino delgado e omento • Clínica -Sintomas gastroesofágicos obstrutivos ( disfagia, odinofagia e saciedade precoce) -Dor epigástrica e torácica intermitente ( torção e distensão visceral) -Redução da hérnia = alívio dos sintomas -Hemorragia gastrointestinal (isquemia ou ulceração mecânica da mucosa) -Sintomas respiratórios (falta de ar) – efeito de massa da hérnia no tórax -Pirose e regugitação • Avaliação Pré-operatória - Esofagograma com bário (anatomia gastroesofágica) -EDA (avaliar mucosa gástrica e esofágica – Barret e erosões) -Manometria (determinar a função motora do corpo esofágico) -Monitoramento ambulatorial do PH ( documentar presença de exposição ácida esofágica anormal) • Cirurgia -Acesso torácico à esquerda -Acesso abdominal -Laparoscopia ou aberta → 4 passos – chave: 1)Redução do conteúdo da hérnia para a cavidade abdominal 2)Excisão completa do saco herniário do mediastino posterios 3)Mobilização do esôfago distal para atingir um mínimo de 3 cm de comprimento esofágico intra-abdominal 4)Operação antirrefluxo ➢ Volvo gástrico agudo e estrangulamento -Início súbito de dor epigástrica ou torácica associada com náuseas sem produção de vômitos -Febre, taquicardia e leucocitose sugere estrangulamento e perfuração iminente -Mais comum é volvo subagudo/crônico recorrente – sintomasgastroesofágicos obstrutivos -SNG para descompressão - se não for possível - esofagoscopia -EDA – avaliação da mucosa; se houver isquemia – operação de emergência -Cirurgia- mesmos princípios da correção da hérnia paraesofágica
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