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ASSISTÊNCIA AO PARTO PÉLVICO CUIDADOS GERAIS O parto pélvico apresenta dificuldades crescentes, pois o trajeto é solicitado por segmentos fetais cada vez maiores. O mecanismo é basicamente o mesmo tanto nas apresentações pélvicas completas quanto nas incompletas, e se explica pelos mesmos fatores que influenciam os movimentos da cabeça na apresentação cefálica fletida. Algumas recomendações gerais devem ser seguidas na assistência ao parto pélvico: - Solicitar a presença de anestesiologista, neonatologista e médico auxiliar; - Manter pressão delicada no fundo uterino durante o períodoexpulsivo, a fim de manter a flexão da cabeça fetal e orientar seu desprendimento; - Manter a bolsa íntegra até a dilatação total; - Realizar monitorização fetal rigorosa; - Não tracionar o feto, o que pode resultar em elevação dosbraços fetais e deflexão do polo cefálico, dificultando o seu desprendimento; - Manter o dorso fetal orientado para cima, logo após a exteriorização do polo pélvico; - Realizar alça de cordão umbilical após a saída parcial do tronco, evitando a compressão e estiramento do funículo; - Realização rotineira de episiotomia ampla. MECANISMO DO PARTO PÉLVICO O mecanismo do parto pélvico pode ser dividido em: desprendimento do polo pélvico, desprendimento das espáduas e desprendimento da cabeça derradeira. O objetivo desta seção não é a descrição do mecanismo fisiológico do parto pélvico, mas orientar a realização de manobras que auxiliem no desprendimento fetal. Mais detalhes podem ser obtidos nas apostilas do MED e MEDCURSO que abordam o parto. ASSISTÊNCIA AO PARTO PÉLVICO DESPRENDIMENTO DA CINTURA PÉLVICA: O desprendimento do polo pélvico geralmente ocorre sem maiores dificuldades, em variedades transversas (SET ou SDT). O ponto de referência fetal é o sacro e a linha de orientação o sulco interglúteo. Para aumentar a força do desprendimento do polo pélvico, pode-se realizar a manobra de Thiessen, a qual consiste em ocluir a fenda vulvar por algumas contrações com uma compressa e palma da mão, de forma que o desprendimento fetal ocorra em bloco. Como mencionado, deve-se orientar o dorso fetal para anterior e mantê-lo retificado durante a descida do tronco fetal. Os membros inferiores fetais se desprendem espontaneamente ou podem ser desprendidos com delicadeza pelo médico assistente. Alguns autores recomendam a realização de alça de cordão umbilical. DESPRENDIMENTO DA CINTURA ESCAPULAR: A liberação dos ombros e da cabeça fetal pode ser tentada em conjunto através da manobra de Bracht. O obstetra aplica os quatro últimos dedos das mãos sobre a região sacrococcígea de cada lado da coluna vertebral fetal, e os polegares mantêm as coxas aconchegadas. Quando o ângulo inferior da escápula fetal surge na fenda vulvar, seu dorso deve ser progressivamente elevado em direção ao ventre materno, resultando no desprendimento espontâneo dos braços. MANOBRA DE BRACHT. Caso o desprendimento dos braços não ocorra espontaneamente, pode-se realizar a retirada suave dos mesmos com auxílio digital (desprendimento dos braços in situ). O braço posterior é desprendido sobre a face anterior do sacro e o anterior sob a sínfise púbica. O indicador e o dedo médio do obstetra devem ser aplicados ao longo do úmero fetal e o polegar na sua axila, fazendo descer o braço pelo plano esternal. Se os braços conservam sua atitude fisiológica, se desprendem com facilidade e não importa qual se desprenderá primeiro. DESPRENDIMENTO IN SITU DOS BRAÇOS. Na ocasião do desprendimento da cabeça, o auxiliar mantém a pressão suprapúbica enquanto o operador acentua a lordose fetal. A paciente deve ser orientada a fazer força durante toda a manobra de Bracht, pois a metade do tronco deve ser expelida, de preferência, durante uma única contração uterina. Sequência das Manobras para Desprendimento dos Ombros no Parto Pélvico por via Vaginal Não há uma sequência universalmente aceita na literatura para a execução das manobras para o desprendimento dos ombros no parto pélvico por via vaginal. Mas a maioria das fontes bibliográficas recomenda que a primeira manobra a ser executada seja Bracht. DIFICULDADE NA LIBERAÇÃO DA CINTURA ESCAPULAR MANOBRA DE DEVENTER-MÜLLER. - Lövset: rotação, tração e translação do eixo escapular fetal por até 180º. Permite a transformação da espádua posterior em anterior. Após o desprendimento anterior, realiza-se movimento contrário para liberação da outra espádua. MANOBRA DE LÖVSET. - Rojas: manobra idêntica à anterior, exceto pela rotação de mais de 180º. A pelve, originalmente em posição transversa, será rodada para descrever amplo círculo no espaço, atingindo a posição diametralmente oposta e a ultrapassando, o que permitirá que entre em contato com a borda Para o desprendimento dos ombros do feto em apresentação pélvica, podemos utilizar as seguintes manobras: - Desprendimento in situ (já descrita anteriormente). - Deventer-Müller: quando os braços fetais não são acessíveis, deve- se colocar o biacromial em relação ao diâmetro anteroposterior e realizar movimentos pendulares de elevação e tração do tronco fetal. Esta manobra visa à descida das espáduas, até que sejam acessíveis e possam ser exteriorizadas. da mesa, exagerando assim a rotação do feto, chegando a torcê-lo. Manobra de maior complexidade e, obviamente, maior risco que a anterior. MANOBRA DE ROJAS. - Pajot: consiste na liberação dos braços fetais através da introdução da mão do obstetra na vagina, com o abaixamento do braço fetal. É indicada para os casos de braços rendidos (elevados ou nucais) MANOBRA DE PAJOT. DIFICULDADE NA LIBERAÇÃO DA CABEÇA DERRADEIRA Não há uma sequência universalmente aceita na literatura para a execução das manobras para o desprendimento da cabeça derradeira no parto pélvico por via vaginal. Mas a maioria das fontes bibliográficas recomenda que a primeira manobra a ser executada seja Bracht ou Liverpool. - Manobra de Bracht: é a mais usada. Caso não tenha sido bem sucedida na liberação da cintura escapular e cabeça fetal como primeira manobra na assistência ao parto pélvico e as manobras para liberação da cintura escapular tenham sido necessárias, pode ser novamente tentada neste momento, visando à liberação da cabeça derradeira. Sua execução já foi anteriormente descrita. - Manobra de Liverpool: após o insucesso na realização da manobra de Bracht, pode-se proceder a manobra de Liverpool para liberação da cabeça derradeira no parto pélvico vaginal. Ela consiste em deixar o corpo do feto pendendo da vulva, sem sustentação, por uns 20 segundos para promover a descida e flexão do polo cefálico. Quando a nuca desce o suficiente para tornar visível a raiz do couro cabeludo, o feto é levantado pelos pés, exercendo-se leve tração contínua, de tal forma que sua cabeça gire em torno da sínfise materna, desprendendo-se o queixo, a face e, finalmente, a fronte e o occipital. Deve ser associada à manobra de McRoberts (já descrita anteriormente). MANOBRA DE LIVERPOOL. - Aplicação de fórcipe: alguns livros recomendam a aplicação do fórcipe imediatamente após o insucesso da manobra de Bracht. Outros advogam a sua realização somente após o insucesso da manobra de Liverpool associada à manobra de McRoberts. O fórcipe de Piper foi desenhado especialmente para auxiliar no desprendimento da cabeça derradeira. Ele é dotado de longos pedículos que facilitam a aplicação e extração da cabeça fetal. No entanto, na sua ausência, pode-se recorrer ao fórcipe de Simpson. O auxiliar eleva os pés do concepto enquanto o operador aplica os ramos esquerdo e direito do fórcipe, passando-os por baixo do tronco fetal. A pegada deve ser simétrica, com o grande eixo das colheres coincidindo com o da cabeça do concepto. A tração é exercida para baixo até que a região suboccipitaldo feto se situe sob a sínfise materna, elevando-se gradualmente os cabos do instrumento para o desprendimento da cabeça. APLICAÇÃO DO FÓRCIPE DE PIPER NA CABEÇA DERRADEIRA. - Manobra de Mauriceau: o feto é apoiado sobre o antebraço do obstetra que introduz os dedos médio e indicador profundamente na boca do feto, pressionando a base da língua ou toda a borda alveolar inferior, flexionando a cabeça. A mão oposta é apoiada sobre o dorso fetal e os dedos indicador e médio estendidos, apreendem, em forquilha, o pescoço do feto, apoiando-se nas fossas supraespinhosas. A ação conjunta dos dedos introduzidos na boca aos da mão externa procura fletir a cabeça, trazendo o mento em direção ao manúbrio esternal, ao mesmo tempo em que roda o occipital e o dorso para diante, tracionando para baixo sobre as espáduas. A tração deve ser realizada principalmente pela mão aplicada sobre os ombros, e não pelos dedos introduzidos na boca, a qual simplesmente mantém a flexão fetal. O surgimento da região suboccipital sob a arcada púbica é a deixa para iniciar a elevação do corpo do feto, impulsionado pelo antebraço. A liberação da cabeça se fará suavemente com tração leve, com auxílio de pressão abdominal realizada por um auxiliar. MANOBRA DE MAURICEAU. - Wiegand-Martin-Wieckel: semelhante à de Mauriceau, só que com pressão na cabeça fetal através do abdome materno. Indicada na cabeça derradeira que não se insinuou. MANOBRA DE WIEGAND-MARTIN-WIECKEL. - Champetier de Ribes: indicada também na cabeça derradeira que não se insinuou. Realizada por três pessoas. O primeiro auxiliar empurra a fronte do feto através da parede abdominal, na direção do eixo do estreito superior. O segundo auxiliar eleva o corpo do feto, segurando-o pelos pés, onde exerce leve tração contínua, a princípio na direção do eixo do estreito superior. O operador aumenta a flexão agindo sobre a mandíbula e, com a mão que se apoia em fúrcula no pescoço, exerce pressão sobre sua porção mais alta, ou sobre a própria base do crânio, buscando a flexão máxima do polo cefálico. Outras manobras menos utilizadas: - Manobra de Praga: elevação do dorso do concepto, tracionando sua nuca para baixo. MANOBRA DE CHAMPETIER DE RIBES. - Manobra de Praga invertida e Mauriceau invertida: para fetos com dorso posterior. - Manobra de Zavanelli: consiste em empurrar o feto para dentro da vagina e realizar a cesariana.
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