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FARMACOLOGIA APLICADA A NUTRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS Letícia Hoerbe Andrighetti Lucimar Filot da Silva Brum Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A573f Andrighetti, Letícia Hoerbe. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais / Letícia Hoerbe Andrighetti, Lucimar Filot da Silva Brum. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 347 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-058-0 1. Farmacologia. 2. Nutrição. 3. Exames laboratoriais – Interpretação. I. Brum, Lucimar Filot da Silva. II. Título. CDU 615:613.2 Farmacocinética Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os princípios básicos da farmacocinética e fatores que interferem na biodisponibilidade dos fármacos. � Diferenciar os mecanismos de transporte das moléculas dos fármacos através das membranas, no processo de absorção, distribuição e excreção de fármacos. � Reconhecer como interações entre fármacos e nutrientes podem interferir em processos farmacocinéticos e interferir na farmacoterapia e no estado nutricional do paciente. Introdução Para compreender a ação terapêutica dos fármacos no organismo humano, é preciso saber que quantidade de dose administrada do medicamento consegue chegar e por quanto tempo permanece no seu local de ação. Tais informações podem ser obtidas através do conhecimento do perfil farmacocinético do fármaco, que envolve o processo de absorção, dis- tribuição, metabolismo (biotransformação) e excreção. Neste capítulo, você vai conhecer os mecanismos de transporte que atuam através das membranas celulares e estão envolvidos na absorção, distribuição e excreção dos fármacos. Além disso, você vai ver como as alterações na biodisponibilidade de um fármaco no organismo interferem no resultado terapêutico do paciente. Farmacocinética – princípios básicos Além do conhecimento sobre a ação farmacológica do fármaco em determi- nado tecido e receptor, muitos outros fatores contribuem para o sucesso do tratamento farmacológico. Quando um fármaco penetra no corpo, o organismo começa, imediatamente, a processá-lo por meios de absorção, distribuição, metabolismo (biotransformação) e excreção. Esse processo é conhecido como farmacocinética. O entendimento e a utilização dos princípios farma- cocinéticos podem ampliar a probabilidade de sucesso terapêutico e reduzir a ocorrência de efeitos adversos dos fármacos no organismo. As informações obtidas a partir do perfil farmacocinético de um fármaco permite estabelecer esquemas posológicos padrões e ajustes do regime posológico de acordo com as características fisiológicas do paciente (p. ex., idade, sexo, peso, gestação, amamentação), os hábitos do indivíduo (tabagismo, ingestão de álcool), suas condi- ções fisiopatológicas (náuseas, vômitos, insuficiência hepática ou renal) e seu estado nutricional. Mecanismos de transporte dos fármacos através das membranas A absorção, a distribuição, o metabolismo, a excreção e a ação de um fármaco dependem do seu transporte através das membranas celulares. Os mecanismos pelos quais os fármacos atravessam as membranas e as propriedades físico- -químicas das moléculas e das membranas que influenciam essa transferência são essenciais para a compreensão da disposição dos fármacos no organismo humano. As características de um fármaco que determinam seu transporte e sua disponibilidade nos locais de ação são: � peso molecular e conformação estrutural; � grau de ionização; � lipossolubilidade relativa dos seus compostos ionizados e não ionizados, que se ligam às proteínas séricas e teciduais. Na maioria dos casos, o fármaco precisa atravessar as membranas plasmá- ticas de muitas células até alcançar seu local de ação. Embora os obstáculos ao transporte do fármaco se constituam de apenas uma camada de células 25Farmacocinética (epitélio intestinal) ou de várias camadas de células e proteínas extracelulares associadas (pele), a membrana plasmática representa a barreira comum à distribuição do fármaco. Difusão passiva A maioria dos fármacos tem acesso ao organismo pelo mecanismo de difusão passiva. Fármacos lipossolúveis movem-se com facilidade através da maioria das membranas biológicas por conta da sua solubilidade na camada lipoproteica. O fator mais importante do transporte passivo de um fármaco é o gradiente de concentração através da membrana que separa os compartimentos do organismo. Isto é, as moléculas do fármaco se movem do compartimento de maior concentração para o que tem baixa concentração. A difusão passiva não envolve transportador, não é saturável e apresenta baixa especificidade estrutural. Os fármacos hidrossolúveis de baixo peso molecular atravessam as mem- branas celulares através de canais ou poros aquosos. Difusão facilitada Os fármacos podem entrar na célula por meio de proteínas transportadoras transmembrana especializadas que facilitam a passagem de grandes molé- culas. Essas proteínas transportadoras sofrem alterações conformacionais, permitindo a passagem de fármacos ou moléculas endógenas para o interior da célula, movendo-os de áreas de alta concentração para áreas de baixa concentração. A esse processo dá-se o nome de difusão facilitada. A difusão facilitada não requer energia, pode ser saturada e inibida por compostos que competem pelo transportador. Esse mecanismo é exemplifi- cado pela penetração da glicose na membrana da célula muscular, a qual é mediada pelo transportador de glicose sensível à insulina, conhecido como proteína GLUT4. Transporte ativo O mecanismo de transporte de fármacos conhecido como transporte ativo também envolve transportadores proteicos específicos que atravessam a mem- brana. O transporte ativo dependente de energia é movido pela hidrólise de trifosfato de adenosina (ATP). Ele é capaz de mover fármacos contra um gradiente de concentração – ou seja, de uma região com baixa concentração Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais26 de fármaco para uma com concentração mais elevada. Os sistemas de trans- porte ativo são seletivos e podem ser inibidos competitivamente por outras substâncias cotransportadas. Endocitose e exocitose Os mecanismos de endocitose e exocitose transportam fármacos excepcio- nalmente grandes através da membrana celular. Na endocitose, as moléculas do fármaco são engolfadas pela membrana e transportadas para o interior da célula pela compressão da vesícula cheia de fármaco. A exocitose é o inverso da endocitose. É usada pelas células para secretar várias substâncias por um processo similar ao da formação de vesículas. A vitamina B12 é transportada através da parede intestinal por endocitose, en- quanto certos neurotransmissores (p. ex., norepinefrina) são armazenados em vesículas intracelulares ligadas à membrana no terminal nervoso e liberados por exocitose. Absorção Compreende-se por absorção a transferência de um fármaco do seu local de administração para a corrente sanguínea. A velocidade e a quantidade absor- vida dependem da forma farmacêutica, das características físico-químicas do fármaco, da via de administração e das características do paciente. Há fatores que interferem na absorção e podem influenciar a biodisponibilidade, termo usado para descrever a quantidade de dose administrada do fármaco que atinge o seu local de ação. Para a via intravenosa, a biodisponibilidade é completa, ou seja, toda a dose do fármaco alcança a circulação sistêmica (100%). A administração do fármaco por outras vias pode resultar em absorção parcial e, consequentemente, em menor biodisponibilidade. 27Farmacocinética Naturezas física e química dos fármacos Os fármacos que temos disponíveis hoje consistem em íons inorgânicos, moléculas orgânicas não peptídicas, pequenos peptídios e proteínas, ácidos nucleicos, lipídios e carboidratos, sendo que a maioria deles apresenta pesosmoleculares entre 100 e 1.000. Hidrossolubilidade e lipossolubilidade Os fármacos têm como uma importante propriedade a sua solubilidade em vários componentes do corpo, como os ambientes aquosos extracelulares e intracelulares e as membranas lipídicas das células. A hidrossolubilidade, por sua vez, é uma função do grau de ionização ou polaridade da molécula. Muitos fármacos são bases fracas ou ácidos fracos. Para tais moléculas, o pH do meio determina a fração de moléculas ionizadas versus moléculas não ionizadas. Se o pKa do fármaco e o pH do meio são conhecidos, a fração de moléculas no estado ionizado pode ser prevista a partir da equação de Henderson-Hasselbalch (Equação 1): Log (forma protonada/forma não protonada) = pKa – pH Na Equação 1, “protonada” significa “associada a um próton”, ou seja, um íon de hidrogênio. Essa equação é utilizada para ácidos e bases. As bases fracas são ionizadas e, por consequência, mais polares e hidrossolúveis quando protonadas. Já os ácidos fracos são não ionizados quando protonados, por isso são menos hidrossolúveis. As seguintes equações resumem estes pontos para as bases fracas (Equação 2) e os ácidos fracos (Equação 3): Base fraca RNH3+ ↔ RNH2 + H+ (2) (Protonada) (Não protonada) Ácido fraco RCOOH ↔ RCOO– + H+ (3) (Protonada) (Não protonada) A relação de Henderson-Hasselbalch é clinicamente importante na absorção de nutrientes e fármacos a partir do lúmen gastrintestinal e na excreção dos metabólitos pelos rins. No trato gastrintestinal, os ácidos fracos podem ser absorvidos de forma passiva pelo estômago, onde o pH está na faixa 1 a 3, e esses ácidos são não ionizados (Figura 1a). Porém, as bases fracas não têm boa absorção neste ambiente porque são ionizadas neste pH. Por outro lado, Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais28 as bases fracas são absorvidas normalmente de forma passiva no intestino delgado, onde o pH está na faixa 5 a 7 (Figura 1b). Um mecanismo similar pode ser aplicado no rim para reter as bases e os ácidos na urina ao acidificá-la ou alcalinizá-la, ionizando as moléculas e reduzindo sua reabsorção. Figura 1. O efeito do pH e da ionização sobre a absorção dos ácidos fracos e das bases fracas no sistema gastrintestinal. (a) O pH no estômago permite a absorção passiva dos ácidos fracos, mas não das bases fracas. (b) Por outro lado, o pH maior no intestino delgado permite a absorção passiva das bases fracas, mas não dos ácidos fracos. Fonte: Panus et al. (2011). Biodisponibilidade A biodisponibilidade é a fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica. Por exemplo, se 100 mg de um fármaco forem admi- nistrados por via oral, e 70 mg desse fármaco forem absorvidos inalterados, a biodisponibilidade será́ 0,7 ou 70%. A via de administração do fármaco e suas propriedades físico-químicas afetam sua biodisponibilidade. Fármacos administrados por via oral sofrem efeito de primeira passagem, o que diminui sua biodisponibilidade. Medicamentos cuja administração se dá por via parenteral evitam tal efeito. 29Farmacocinética Distribuição A maioria dos fármacos deve ir do local de administração para o tecido-alvo. Esse movimento do fármaco pelo corpo é chamado de distribuição. A distri- buição é o processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona o leito vascular e entra no interstício (líquido extracelular) e, então, nas células dos tecidos. A passagem do fármaco do plasma ao interstício depende do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo regional, da permeabilidade capilar, do volume do tecido, do grau de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas e tissulares e da hidrofobicidade relativa do fármaco. O volume de distribuição e seus determinantes A distribuição dos fármacos nos tecidos varia e depende de muitos fatores, como massa do órgão, fluxo sanguíneo, solubilidade do fármaco, ligações intravasculares e extravascular e comorbidades existentes (Figura 2). O tamanho do órgão determina o gradiente de concentração entre si e o sangue. Por exemplo, o músculo esquelético pode captar uma grande quantidade de fármaco porque a concentração no tecido muscular permanece baixa, e o gradiente do sangue para o tecido é alto. Esse gradiente se mantém, mesmo que grande quantidade do fármaco tenha sido transferida, pois o músculo esquelético é um órgão muito extenso. Já no cérebro, que é pequeno, a distri- buição de uma quantidade menor de fármaco aumenta a concentração neste tecido e reduz o gradiente de concentração do sangue para o tecido a zero. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais30 Figura 2. Efeito da ligação do fármaco sobre o volume de distribuição aparente. O fármaco A não se liga a macromoléculas (linhas onduladas grossas) nos compartimentos vascular ou extravascular do organismo hipotético no diagrama. O fármaco A se difunde livremente entre os dois compartimentos. Com 20 unidades do fármaco no organismo, a distribuição do estado de equilíbrio deixa uma concentração sanguínea de 20 unidades. O fármaco B, diferente do A, liga-se fortemente a proteínas no sangue. A difusão do fármaco B é muito mais limitada. No equilíbrio, apenas duas unidades do total se difundiram para o volume extravascular, deixando 18 unidades no sangue. Em ambos os casos, a quantidade total do fármaco no corpo é a mesma (20 unidades), mas o volume de distribuição aparente é muito diferente. O fármaco C se liga fortemente a moléculas nos tecidos periféricos, de modo que é necessária uma dose total maior (200 unidades) para alcançar concentrações plasmáticas mensuráveis. Em equilíbrio, são encontradas 198 unidades nos tecidos peri- féricos e apenas duas no plasma; assim, o volume de distribuição calculado é maior que o volume físico do sistema. Fonte: Panus et al. (2011). 31Farmacocinética O volume de distribuição dos fármacos também pode ser alterado por comorbidades. Assim, o volume dos fármacos que normalmente se ligam a proteínas plasmáticas, como a albumina, pode ser elevado em razão de uma doença hepática, pois ela causa redução na síntese da albumina e doença renal por conta da perda de proteína na urina. Biotransformação ou metabolização Para garantir a eliminação de substâncias químicas que apresentam atividade farmacológica e também para neutralizar a ação de várias substâncias endó- genas, existem vias metabólicas visando a alterar sua atividade e aumentar sua suscetibilidade para a excreção. A biotransformação é um mecanismo metabólico usado para reduzir a atividade de compostos químicos exógenos e endógenos. Os produtos da biotransformação são chamados de metabólitos. Muitos fármacos são relativamente lipossolúveis, característica que é favorável à absorção pelas membranas. Essa mesma propriedade resulta em remoção muito lenta do corpo porque a molécula também é facilmente reabsorvida da urina no túbulo renal. O corpo acelera a excreção ao transformar muitos fármacos em formas menos lipossolúveis e eliminadas com facilidade. Locais de biotransformação dos fármacos O órgão mais importante envolvido na biotransformação é o fígado. Os rins também têm um papel importante no metabolismo de alguns fármacos. Poucos fármacos, como os ésteres, são metabolizados em vários tecidos. Isso é devido à ampla distribuição das esterases responsáveis pelo metabolismo das moléculas. Tipos de reações de biotransformação A biotransformação pode ser dividida em reações da fase I e fase II. As reações da fase I consistem em oxidação, redução, deaminação e hidrólise (Quadro 1). A oxidação é mediada, em parte, pelo grupo das enzimas do citocromo P450. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais32 Fonte: Panus et al., (2011, p. 27). Tipo de reação Substratos típicos Oxidações, dependentes do P450 Hidroxilação N-dealquilação O-dealquilação N-oxidação S-oxidação Deaminação Barbituratos, anfetaminas, fenilbutazona, fenitoína Morfina, cafeína, teofilinaCodeína Paracetamol, nicotina, metaqualona Tioridazina, cimetidina, clorpromazina Anfetamina, diazepam Oxidações, independentes do P450 Oxidação de aminas Desidrogenação Epinefrina Etanol, hidrato de cloral Reduções Cloranfenicol, clonazepam, dantroleno, naloxona Hidrólises Ésteres Amidas Procaína, succinilcolina, ácido acetilsalicílico, clofibrato Procainamida, lidocaína, indometacina Quadro 1. Exemplos de reações da fase I para o metabolismo dos fármacos. As reações da fase II envolvem a conjugação dos subgrupos hidrofílicos com estruturas químicas específicas (Quadro 2). Estas adições ocorrem nas funções hidroxila (–OH), amina (–NH2) e sulfidrila (–SH) na molécula-substrato. Os subgrupos adicionados consistem em glicuronato, acetato, glutationa, glicina, sulfato e grupos metila. A maioria desses subgrupos é relativamente polar, aumentando a hidrossolubilidade do metabólito em comparação com a molécula original do fármaco. 33Farmacocinética Determinantes da velocidade de biotransformação A velocidade de biotransformação de um fármaco pode sofrer grande varia- ção, conforme o indivíduo que o utiliza. As diferenças de idade do sujeito e as doenças presentes são importantes no metabolismo do fármaco. Muitas vezes, o metabolismo hepático diminui com a idade ou na presença de doença hepática. O sexo é importante apenas para algumas substâncias, como o etanol. Confira a seguir alguns exemplos de efeitos relacionados com a genética e as interações medicamentosas sobre a biotransformação. Genética Vários sistemas que metabolizam fármacos são diferentes entre famílias ou populações por causa de fatores genéticos. Tais sistemas consistem na hidrólise de ésteres, acetilação de aminas e algumas reações de oxidação. Interações medicamentosas A coadministração de determinados agentes pode alterar a distribuição de vários fármacos. Em geral, a indução enzimática resulta do aumento da síntese das enzimas dependentes do citocromo P450 que oxidam fármacos no fígado. Fonte: Panus et al., (2001, p. 28). Tipo de reação Fármacos substratos típicos Glicuronidação Paracetamol, morfina, diazepam, sulfatiazol, digoxina, digitoxina Acetilação Sulfonamidas, isoniazida, clonazepam, mescalina, dapsona Conjugação com glutationa Ácido etacrínico, metabólito reativo da fase I do paracetamol Conjugação com glicina Ácido salicílico, ácido nicotínico (niacina), ácido desoxicólico Conjugação com sulfato Paracetamol, metildopa, estrona Metilação Epinefrina, norepinefrina, dopamina, histamina Quadro 2. Exemplos de reações da fase II que metabolizam fármacos. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais34 Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka O Quadro 3 lista os indutores comuns de algumas isoenzimas e os fármacos que apresentam maior metabolismo. Fonte: Panus et al., (2011, p. 28). Família CYP induzida Indutores importantes Fármacos cujo metabolismo é induzido 1A2 Benzopireno (a partir da fumaça do tabaco), carbamazepina, fenobarbital, rifampicina, omeprazol Paracetamol, clozapina, haloperidol, teofilina, antidepressivos tricíclicos, (R)-varfarina 2C9 Barbituratos,1 especialmente fenobarbital, fenitoína, primidona, rifampicina Barbituratos,1 cloranfenicol, doxorrubicina, ibuprofeno, fenitoína, clorpromazina, esteroides, tolbutamida, (S)-varfarina 2C19 Carbamazepina, fenobarbital, fenitoína Antidepressivos tricíclicos, fenitoína, topiramato, (R)-varfarina 2E1 Etanol,1 isoniazida Paracetamol, etanol (pouco), halotano 3A4 Barbituratos, carbamazepina, corticosteroides, efavirenzo, fenitoína, rifampicina, troglitazona Antiarrítmicos, antidepressivos, antifúngicos azólicos, benzodiazepínicos, bloqueadores dos canais de cálcio, ciclosporina, delavirdina, doxorrubicina, efavirenzo, eritromicina, estrogênios, inibidores da protease do HIV, nefazodona, paclitaxel, inibidores da bomba de prótons, inibidores da HMG-CoA redutase, rifabutina, rifampicina, sildenafila, ISRS, tamoxifeno, trazodona, alcaloides da vinca anticâncer CYP, citocromo P450; ISRS, inibidores seletivos da recaptação da serotonina; HMG-CoA, 3-hidroximetilglutaril coenzima A. 1 Substratos que também agem como indutores. Quadro 3. Lista parcial de fármacos que induzem, de forma significativa, ao metabolismo dos fármacos mediado pelo P450 em seres humanos. 35Farmacocinética Eryka Os indutores mais comuns do metabolismo dos fármacos envolvidos em graves intera- ções medicamentosas são a carbamazepina, o fenobarbital, a fenitoína e a rifampicina. Há fármacos que inibem seu próprio metabolismo e o de outros agentes também. O Quadro 4 mostra a você os inibidores comuns e os fármacos que têm seu metabolismo reduzido. Os inibidores do metabolismo dos fármacos mais comuns envolvidos em graves interações medicamentosas são amioda- rona, cimetidina, furanocumarinas (presentes no suco de pomelo [grapefruit]), cetoconazol e agentes antifúngicos relacionados, além do inibidor da protease do HIV, o ritonavir. Família CYP induzida Inibidor Fármacos cujo metabolismo é inibido 1A2 Cimetidina, fluoroquinolonas, suco de pomelo (grapefruit), macrolídios, isoniazida, zileutona Paracetamol, clozapina, haloperidol, teofilina, antidepressivos tricíclicos, (R)-varfarina 2C9 Amiodarona, cloranfenicol1, cimetidina, isoniazida, metronidazol, ISRS, zafirlucaste Barbituratos, cloranfenicol, doxorrubicina, ibuprofeno, fenitoína, clorpromazina, esteroides, tolbutamida, (S)-varfarina 2C19 Omeprazol, ISRS Fenitoína, topiramato, (R)-varfarina 2D6 Amiodarona, cimetidina, quinidina, ISRS Antidepressivos, flecainida, lidocaína, mexiletina, opioides Quadro 4. Lista parcial de fármacos que inibem, de forma significativa, o metabolismo dos fármacos mediados pelo P450 em seres humanos. (Continua) Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais36 Família CYP induzida Inibidor Fármacos cujo metabolismo é inibido 3A4 Amiodarona, antifúngicos azólicos, cimetidina, claritromicina, ciclosporina1, eritromicina1, fluoroquinolonas, suco de pomelo (grapefruit), inibidores da protease do HIV1 (p. ex., ritonavir), metronidazol, quinina, ISRS, tacrolimo Antiarrítmicos, antidepressivos, antifúngicos azólicos, benzodiazepínicos, bloqueadores dos canais de cálcio, ciclosporina, delavirdina, doxorrubina, efavirenza, eritromicina, estrógenios, inibidores da protease do HIV, nefazodona, paclitaxel, inibidores da bomba de prótons, inibidores da HMG-CoA redutase, rifabutina, rifampicina, sildenafila, ISRS, tamoxifeno, trazodona, da vinca alcaloides da vinca anticâncer CYP, citocromo P450; ISRS, inibidores seletivos da recaptação da serotonina; HMG-CoA, 3-hidroximetilglutaril coenzima A. 1 Substratos que também agem como indutores. Fonte: Panus et al., (2011, p. 29). (Continuação) Quadro 4. Lista parcial de fármacos que inibem, de forma significativa, o metabolismo dos fármacos mediados pelo P450 em seres humanos. Excreção renal dos fármacos A eliminação de fármacos pelos rins na urina envolve três processos: filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. 1. Filtração glomerular – os fármacos chegam aos rins pelas artérias renais. Os fármacos livres (não ligados à albumina) difundem-se através das fendas capilares para o espaço de Bowman como parte do filtrado glomerular (Figura 3). A lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Entretanto, varia- ções na velocidade de filtração glomerular e na ligação do fármaco às proteínas plasmáticas podem afetar esse processo. 37Farmacocinética Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka Eryka 2. Secreção tubular proximal – os fármacos que não foram transferidos para o filtrado glomerular saem dos glomérulos através das arteríolas eferentes, que se dividem formando um plexo capilar ao redordo lúmen no túbulo proximal. A secreção ocorre, primeiro, nos túbulos proximais por mecanismos de transporte ativo; requerem transportador e exigem energia. Esses sistemas de transporte apresentam baixa especificidade e podem transportar inúmeros compostos, podendo ocorrer competição entre fármacos pelos transportadores em cada um dos sistemas. 3. Reabsorção tubular distal – Nos túbulos proximais e distais, as formas não ionizadas dos ácidos fracos e das bases fracas sofrem reabsorção passiva. O gradiente de concentração para a difusão retrógrada é gerado pela reabsorção da água com sódio e outros íons inorgânicos. Como as células tubulares são menos permeáveis às formas ionizadas dos eletrólitos fracos, a reabsorção passiva dessas moléculas depende do pH. Figura 3. Efeito da biotransformação de fármacos na reabsorção no túbulo distal. Fonte: Clark et al. (2013). Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais38 Eryka Eryka Quando a urina tubular está mais alcalina, os ácidos fracos estão, em grande parte, ionizados; dessa forma, são excretados com mais rapidez e em quantidades maiores. Quando a urina tubular está mais acida, a fração do fármaco ionizado é reduzida, reduzindo-se sua excreção. A alcalinização e acidificação da urina produzem efeitos contrários na excreção das bases fracas. No tratamento das intoxicações farmacológicas, a excreção de alguns fármacos pode ser acelerada através da alcalinização ou acidificação apropriada da urina. Por exemplo, um paciente apresentando dose excessiva de fenobarbital (um ácido fraco) pode receber bicarbonato, que alcaliniza a urina e mantém o fármaco ionizado, diminuindo, assim, a reabsorção. Interferências de nutrientes nos parâmetros farmacocinéticos de fármacos e efeitos sobre o estado nutricional É muito frequente observar-se pacientes fazendo uso de vários medicamentos para o tratamento das mais diversas patologias, desde resfriado, dor de cabeça, infecção até condições crônicas, como hipertensão, epilepsia, diabetes ou câncer. Os profissionais da saúde devem estar atentos quanto às possíveis interações entre medicamentos e alimentos. Essa atenção deve ser especial ao cuidar de pacientes com condições crônicas, nos quais é imprescindível o acompanhamento nutricional, pois os efeitos dos medicamentos podem ser afetados pelos alimentos/nutrientes ou pelo estado nutricional. É possível, também, que os medicamentos afetem o estado nutricional do indivíduo. A interação entre fármacos e nutrientes ou alimentos é um tema de interesse tanto para os médicos que prescrevem quanto para outros profissionais da área da saúde, incluindo farmacêuticos, enfermeiros e nutricionistas. Veja, a seguir, algumas consequências indesejáveis das interações entre medicamentos e alimentos: 39Farmacocinética Eryka � deterioração do estado nutricional; � redução ou exacerbação do efeito terapêutico; � aumento da toxicidade do fármaco. Alguns fatores de risco tornam essas interações mais previsíveis, como as enfermidades nas quais é comum a desnutrição causada pelo tratamento medicamentoso. Por exemplo, quimioterápicos usados no tratamento de no câncer costumam alterar o paladar dos pacientes e provocar náusea e vômito, o que acaba reduzindo a ingestão alimentar. Outro exemplo é o uso simultâneo de vários medicamentos no mesmo regime terapêutico, ou, ainda, quando o paciente é idoso. As interações fármacos-nutrientes são muito comuns e podem ocorrer em algumas situações, alterando os parâmetros farmacocinéticos do fármaco. Isso se dá pela interferência na absorção e no transporte por proteínas plasmáticas, durante os processos de biotransformação/metabolização e de excreção do fármaco. Absorção Considerando que a maioria dos fármacos e dos nutrientes é absorvida no trato gastrintestinal, as interações são muito comuns. A composição da dieta e o tipo de alimentação podem alterar a absorção dos medicamentos, aumentando-a, diminuindo-a ou apenas retardando-a. Se ocorre absorção diminuída ou retar- dada, o fármaco pode não atingir os níveis eficazes nas correntes sanguínea. Havendo absorção aumentada, esses níveis podem ser mais elevados do que o desejável, potencializando efeitos colaterais. Conforme o alimento ingerido, a velocidade de esvaziamento gástrico pode variar, afetando a absorção de um fármaco. Os fármacos básicos, por exemplo, são mais bem absorvidos quando o esvaziamento gástrico é retardado. Veja o caso da penicilina: sua absorção é reduzida quando a administração ocorre junto com uma refeição, porque a presença de alimento no estômago reduz o tempo de esvaziamento gástrico e permite a exposição, durante um período mais longo, ao ácido gástrico, o que degrada a penicilina. Outras vezes, os nutrientes podem formar complexos com o fármaco, impedindo sua absor- ção. Cálcio, magnésio, ferro e zinco, por exemplo, formam complexos com a tetraciclina (um antibiótico). Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais40 Eryka Distribuição Os fármacos são transportados na corrente sanguínea por meio da ligação às proteínas plasmáticas, entre as quais se destaca a albumina. Os níveis séricos de albumina podem estar diminuídos por desnutrição ou por enfermidade do fígado, o que altera sua distribuição. Assim, há um aumento da concentração do fármaco na sua forma livre, aumentando também seu efeito farmacológico. Alguns casos resultam em efeitos tóxicos no paciente. Metabolização O metabolismo dos fármacos pode ser alterado pela composição da dieta. O fator dietético mais importante é o teor de proteínas. Uma dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos aumenta a taxa de metabolização de um grande número de fármacos. Já a dieta hipoproteica e hiperglicídica diminui a metabolização. Excreção A excreção renal pode ser afetada pela dieta ou por condições nutricionais. A deficiência de sódio, por exemplo, causa reabsorção aumentada desse sal e, ao mesmo tempo, de carbonato de lítio, elevando o potencial tóxico do lítio. Esse potencial pode ser revertido pela suplementação de sódio ou por maior ingestão de líquidos. A aspirina promove o deslocamento da ligação do folato às proteínas plasmáticas. Então, haverá filtração através dos rins e excreção pela urina, causando a diminuição dos níveis séricos do nutriente. Os fármacos também podem alterar a excreção de um nutriente por interferir na sua reabsorção pelos rins. 41Farmacocinética Eryka Eryka Eryka Eryka 1. Assinale a afirmação correta relativa à absorção de fármaco com pKa 11,5 no trato gastrintestinal. a) Estômago (pH = 1,5), predominância de forma não ionizada e melhor absorção. b) Estômago (pH = 1,5), predominância de forma não ionizada e fraca absorção. c) Intestino delgado (pH = 6,0), predominância de forma não ionizada e melhor absorção. d) Intestino delgado (pH = 6,0), predominância de forma não ionizada e fraca absorção. e) Intestino delgado (pH = 6,0), predominância de forma ionizada e melhor absorção. 2. Com relação à excreção de fármacos, considere as seguintes afirmativas: I. A excreção de fármacos e metabólitos na urina envolve três processos: filtração glomerular, secreção tubular passiva e reabsorção tubular ativa. II. O rim e o fígado são os principais órgãos envolvidos na excreção de fármacos e seus metabólitos. III. Os fármacos também podem ser excretados pelo suor, pelas lágrimas e pelo leite materno. IV. Fármacos não ionizados sofrem reabsorção tubular e retornam à circulação sistêmica. V. Alguns fármacos ou seus metabólitos presentes na bile são liberados no trato gastrintestinal e podem ser excretados nas fezes. Marque a alternativa que indica as afirmativas corretas. a) I, III e IV. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) II, IV e V. e) III, IV e V. 3. Sobre as reações de biotransformação das fases I ou II, é correto afirmar, exceto: a) As reações da fase I transformam moléculas hidrossolúveisem moléculas mais lipossolúveis. b) A glicuronidação é a reação de conjugação mais comum da fase I e produz metabólito mais hidrossolúvel e farmacologicamente inativo. c) A biotransformação da fase I gera apenas metabólitos inativos farmacologicamente. d) A glicuronidação é a reação de conjugação mais comum da fase II e produz metabólito mais lipossolúvel e farmacologicamente inativo. e) Com frequência, as reações da fase I são catalisadas pelas enzimas do citocromo P450. 4. Interações medicamentosas podem interferir no perfil farmacocinético do medicamento, podendo afetar o padrão de absorção, distribuição, metabolização ou excreção. Nesse contexto, qual afirmação corresponde à interação em nível de excreção de fármacos? a) As alterações do pH urinário não interferem no grau de ionização de bases fracas e ácidos fracos, afetando a excreção renal. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais42 b) O bicarbonato de sódio é utilizado para aumentar a excreção de bases fracas, como em casos de intoxicação por barbitúricos. c) A competição de medicamentos no túbulo proximal pela secreção tubular é usada como estratégia farmacológica para prolongar o tempo de ação dos medicamentos. d) As interações em nível de excreção são precipitadas por medicamentos com capacidade de inibição ou indução do sistema enzimático. e) Interações entre contraceptivos orais e antibióticos podem resultar no aumento da absorção dos contraceptivos. 5. O volume de distribuição (Vd), também conhecido como volume aparente de distribuição, é um parâmetro utilizado para descrever a distribuição de um fármaco no organismo após a administração. Em um experimento, após a avaliação da concentração plasmática do medicamento X, verificou-se que tal substância apresenta pequeno Vd. Qual afirmação melhor explica o referido valor de Vd? a) O fármaco se liga amplamente às proteínas plasmáticas. b) O fármaco é rapidamente eliminado pelos rins. c) O fármaco é extensivamente metabolizado no tecido. d) O fármaco é inativado pela mucosa gástrica. e) O fármaco se liga pouco às proteínas plasmáticas. 43Farmacocinética CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. DAVIS, M. M.; CHASE, R. B.; AQUILANO, N. J. Fundamentos da administração da produção. Porto Alegre: Bookman, 2001. PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. cap. 3. Leituras recomendadas BRUNTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R. Manual de farmacologia e terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. COSTA, C.; RAMOS, F. lnteracções entre alimentos e medicamentos no idoso. Acta Farmacêutica Portuguesa, Porto, v. 1, n. 1, p. 5-14, 2011. Disponível em: <www.actafarma- ceuticaportuguesa.com/ index.php/afp/article/view/27/28>. Acesso em: 05 fev. 2017. HELDT, T.; LOSS, S. H. Interação fármaco-nutriente em unidade de terapia intensiva: revisão da literatura e recomendações atuais. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 162-167, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/rbti/ v25n2/v25n2a15.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2017. MAGNUS, K.; SALVI, R. M. Farmacovigilância no uso da varfarina: interações com fitoterápicos e nutrientes. Revista Saúde e Desenvolvimento, Porto Alegre, v. 9, n. 5, p. 178-190, jan./jun. 2016. Disponível em: <http://www.uninter.com/web/revistasaude/ index.php/saudeDesenvolvimento/ article/view/535/317>. Acesso em: 05 fev. 2017. TORRIANI, M. S. et al. Medicamentos de A a Z: 2016-2018: enfermagem. Porto Alegre: Artmed, 2016. Farmacologia aplicada a nutrição e interpretação de exames laboratoriais44 http://ceuticaportuguesa.com/ http://www.scielo.br/ http://www.uninter.com/web/revistasaude/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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