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TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia é a abertura cirúrgica da traqueia gerando um estoma para ventilação. Fisiologicamente, ela gera benefícios, como: menor espaço morto, maior conforto em relação às sondas orotraqueais e, com isso, menor necessidade de sedativos durante o suporte ventilatório. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS: · A laringe é formada por três grandes cartilagens: epiglote, glândula tireóidea e cricoide, situando-se as aritenoides na borda posterossuperior da cartilagem cricoide. · A traqueia é formada por anéis cartilaginosos semicirculares em sua porção anterior e lateral. · A hiperextensão cervical, principalmente em pessoas jovem e não obesas, deixa cerca de 50% da extensão total da traqueia acessível na região anterior do pescoço, enquanto, em pessoas idosas, obesas e cifóticas, a cartilagem cricoide encontra-se no nível da fúrcula esternal, tornando o acesso à traqueia mais difícil. · Os nervos laríngeos recorrentes e as veias tireóideas inferiores passam pelo sulco formado entre a traqueia e o esôfago, necessitando de atenção. · O tronco braquiocefálico cruza a traqueia da esquerda para a direita anteriormente na altura da abertura torácica superior, posteriormente ao esterno. · A glândula tireóidea situa-se anteriormente à traqueia, com um lobo de cada lado e seu istmo, bem vascularizado, cruzando na altura do segundo e do terceiro anel traqueal, com variações anatômicas. INDICAÇÕES: · Obstruções respiratórias altas, laríngeas ou acima (tumor, exsudato, corpo estranho, processo inflamatório agudo, infecção e trauma) · Crianças com menos de 12 anos nas quais a cartilagem cricoide representa o único suporte circunferencial para a porção superior da traqueia · Tempo prévio ou complementar a outras cirurgias · Insuficiência respiratória prolongada (intubação orotraqueal prolongada > 14 dias), pois facilita a limpeza endotraqueal. · Acesso à via aérea · Incapacidade de controlar secreções CONTRAINDICAÇÕES: · Coagulopatia significativa pode ser considerada uma contraindicação relativa, tendo em vista que os sangramentos na via aérea podem ser catastróficos PREPARAÇÃO: · Urgência: nos casos de obstrução, o preparo pode não ser possível e a realização do procedimento se dá com anestesia local. Considerar a possibilidade de uma cricotireoidotomia, que posteriormente deverá ser convertida em traqueostomia · Eletivo: correção hematimétrica e das alterações na coagulação (esses pacientes têm, em sua maioria, distúrbios hidroeletrolíticos, estão com queda de hemoglobina e normalmente se encontram anticoagulados). Estão normalmente em intubação orotraqueal sob ventilação mecânica e sedados, para manter a via aérea durante o procedimento. Exames subsidiários de imagem podem ser solicitados, para avaliar a região laringotraqueal. MATERIAL: · Cânula traqueal (metálica, plástica): · O diâmetro da cânula deve ser 75% do diâmetro aproximado da traqueia · Seringa · Material de antissepsia [clorexidina ou iodopovidona (PVP-I), gazes estéreis, cheron, cúpula] · Gazes estéreis · Bisturi lâmina no 15 · Bisturi elétrico · Pinças anatômicas e com dente · Pinça Kelly curva (2-3) · Afastador de Farabeuf · Tesoura de Metzenbaum · Fio náilon 3-0 agulhado · Cordão de fixação da cânula · Porta-agulhas. TÉCNICA CIRÚRGICA: O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal horizontal, com a região cervical estendida, utilizando um coxim. Depois, deve-se fazer a identificação dos pontos anatômicos de referência: cartilagem tireóidea, cricoide e fúrcula esternal. Um passo a passo da técnica cirúrgica está descrito a seguir: 1. Realizar antissepsia 2. Fazer infiltração com anestésico local 3. Fazer incisão transversal de 2 a 3 cm na altura do 2o e 3o espaço traqueal (linha do meio entre a cartilagem tireóidea e a fúrcula esternal) – aproximadamente dois dedos acima da incisura esternal · No caso de traqueostomia de urgência, a incisão é no sentido vertical, na linha média, com comprimento suficiente para assegurar o acesso rápido à traqueia 4. Abertura longitudinal por planos envolvendo platisma e, após isso, sempre na linha mediana (evitar área da veia jugular anterior e do istmo da glândula tireóidea) 5. Identificar a membrana traqueal e de sua abertura 6. Abertura transversa entre o 2o e o 3o arco traqueal 7. Introduzir a cânula traqueal, lubrificada, sob visão direta, logo após a retirada da cânula de intubação orotraqueal pelo anestesista, caso o paciente esteja sob anestesia geral 8. Ponto de reparo entre o flap traqueal e o tecido subcutâneo pode facilitar o pronto acesso à traqueia no caso de decanulação acidental 9. Insuflar o cuff conforme a pressão indicada pelo fabricante 10. Conectar no ventilador 11. Testar a expansão pulmonar 12. Fixar a cânula com cordão 13. Fazer a revisão da hemostasia 14. Fechar a pele com fio de náilon 3-0 com pontos simples separados para aproximação. CUIDADOS APÓS O PROCEDIMENTO: · Monitoramento em unidade de tratamento intensivo (UTI) ou semi-intensivo · Radiografia torácica para avaliar pneumotórax e pneumomediastino · Antibiótico profilaxia · Aspiração traqueal por causa da secreção produzida, com nebulização e uso de agentes mucolíticos · Após 24 h, o cuff pode ser desinsuflado e, em 48h, a cânula de plástico deve ser trocada pela metálica · Alta hospitalar somente com cânula metálica ou de silicone sem cuff. A traqueostomia pode ser utilizada por um período indefinido de tempo e sua retirada depende principalmente da causa de base que levou à sua realização. A retirada ou a redução do número da cânula deve ser feita tão logo o paciente tenha a função respiratória recuperada ou melhorada. O prognóstico dos pacientes submetidos à traqueostomia, quando relacionada exclusivamente ao procedimento cirúrgico, é bom, principalmente em pacientes pediátricos. As causas de morte pós-operatórias geralmente são mais pela doença de base do que pela cirurgia propriamente dita. COMPLICAÇÕES APÓS O PROCEDIMENTO: CRICOTIREOIDOSTOMIA Prefere-se a cricotireoidostomia por agulha à cirúrgica em recém-nascidos e crianças pequenas, por causa da fragilidade das estruturas da laringe. É uma técnica temporária que permite oxigenação, mas retém CO2, enquanto se instala uma via respiratória adequada; no caso, a traqueostomia. ANATOMIA: · A laringe é um órgão tubular, situado mediana e anteriormente no pescoço. Além da função respiratória, também participa da fonação. Localiza-se anteriormente à faringe e é continuada diretamente pela traqueia. · Apresenta um esqueleto cartilaginoso, no qual a maior das cartilagens é a tireóidea, constituída de duas lâminas que se unem anteriormente em V. A cartilagem cricóidea é ímpar e tem formato de anel de sinete, situando-se inferiormente à tireóidea. · Topograficamente, a membrana cricotireóidea é facilmente reconhecida palpando-se a proeminência laríngea (pomo-de-adão) na cartilagem tireóidea e deslizando suavemente o dedo para a borda inferior, em direção à cartilagem cricóidea. Palpa-se uma depressão elástica, seguida de uma elevação de consistência mais firme (cartilagem cricóidea). Nessa depressão, entre a membrana cricóidea e a pele, há pouco tecido subcutâneo e o músculo platisma. INDICAÇÕES: · Atendimento inicial do politraumatizado, quando manobras básicas (elevação do mento, tração da mandíbula, aspiração e cânula de Guedel) e avançadas (ventilação pré-intubação, intubação endotraqueal) para desobstrução das vias respiratórias superiores falharam em mantê-las permeáveis · Lesão bucomaxilar grave, associada à lesão de coluna cervical com paciente em apneia · Ruptura de laringe, obstrução supralaríngea causada por tumor, anafilaxia, corpo estranho, trauma ou lesão por queimaduras · Obstrução da glote · Sangramentos e corpos estranhos na região. · Traumatismo grave de face, cabeça ou pescoço CONTRAINDICAÇÃO: Cricotireoidostomia cirúrgica é contraindicada a crianças menores de 12 anos, pois a cartilagem cricóidea representa um dos poucos suportes anatômicos da porção alta da traqueia. MATERIAL: Principal: · Cricotireoidostomia percutânea:· Cateter sobre agulha de calibre 12 a 14 – tipo intravascular periférico · Estojo de cricotireoidostomia percutânea (agulha, fio-guia, dilatadores, cânula cricotireóidea) · Cricotireoidostomia cirúrgica: · Bisturi com lâmina no 11 · Pinça hemostática curva · Cânula endotraqueal ou de traqueostomia (4 a 7 mm de diâmetro interno) · Conexões para agulha ou cânula · Detector de CO2 · Oxímetro de pulso · Monitor cardíaco · Carrinho de reanimação Assepsia: · Luvas · Avental · Mascara · Gorro · Protetor ocular · Campos estéreis Anestesia: · Seringas e agulhas para infiltrações estéreis · Medicação para anestesia local (lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000) Curativo/fixação: · Esparadrapo · Gaze estéril · Fita para fixação da cânula AVALIAÇÃO E PREPARO DO PACIENTE: · O procedimento é realizado em urgência, frequentemente em pacientes inconscientes; portanto, não haverá tempo para explicar o procedimento · Testar o balão da cânula · Posição: cabeça em extensão, podendo-se colocar um coxim sob os ombros (se não houver lesão da coluna cervical). TÉCNICA: Cricotireoidostomia percutânea: · Garantir o acesso venoso, se houver tempo · Aplicar oxigênio, monitoramento cardíaco e oxímetro de pulso · Realizar assepsia e antissepsia e colocar campos estéreis · Localizar a membrana cricotireóidea e infiltrar anestésico local, palpando o espaço, no pescoço, entre as cartilagens cricóidea e tireóidea · Acoplar a seringa estéril ao cateter sobre agulha · Fixar as cartilagens tireóidea e cricóidea com aplicação de uma discreta pressão do 2o e do 3o dedo · Inserir o cateter sobre agulha na membrana cricotireóidea, dirigido caudalmente em um ângulo de 45° · Fazer sucção com a seringa enquanto o cateter sobre agulha avança, até que a seringa se encha de ar da traqueia · Desconectar a seringa do cateter sobre agulha · Progredir o cateter sobre agulha dentro da traqueia e remover a agulha · Conectar o oxigênio e fixar o cateter na pele · Insuflar oxigênio: · Com bolsa autoinsuflavel: 1. Remover o êmbolo de seringa de 3 mℓ 2. Remover o adaptador de plástico de 15 mm da extremidade proximal de uma cânula endotraqueal de 7 ou 7,5 mm 3. Introduzir a extremidade distal do adaptador plástico de 15 mm na seringa de 3 mℓ, ajustando-a bem 4. Acoplar a seringa de 3 mℓ ao cateter traqueal 5. Acoplar o adaptador de plástico de 15 mm ao sistema de bolsa autoinsuflável de reanimação conectado à fonte de oxigênio 6. Insuflar oxigênio por compressão da bolsa 7. Esperar exalação 8. Preparar o paciente para traqueostomia formal o mais rápido possível, pois a ventilação por cricotireoidostomia percutânea só é tolerada por curtos períodos · Ventilar jato de oxigênio através do cateter traqueal: · Ventilação por jato pode ser realizada com sistema transtraqueal conectado à fonte de oxigênio de alta pressão (30 a 60 psi). Pressão e duração são ajustadas para obter trocas gasosas adequadas, dando tempo para exalação · Se não houver sistema pré-manufaturado, é possível conectar o cateter traqueal à tubulação de oxigênio por meio do fluxômetro a 15 ℓ/min. Utilizar uma conexão de três vias para acoplar a tubulação com o cateter traqueal, um adaptador em Y ou fazer um orifício no lado da tubulação de oxigênio. Insuflar gás, cobrindo a via aberta da conexão de três vias, o conector em Y ou o orifício no tubo com o polegar. Ajustar a taxa de fluxo do gás e a duração da insuflação para efetuar ventilação adequada. Aguardar o tempo suficiente para exalação · O kit para cricotireoidostomia percutânea com fio-guia possibilita a inserção de dilatador sobre fio-guia (semelhante a um cateter venoso central). Cricotireoidostomia cirúrgica: · Garantir acesso intravenoso · Aplicar oxigênio, monitoramento cardíaco e oxímetro de pulso · Realizar técnica asséptica e antissepsia local e colocar campos estéreis · Localizar a membrana cricotireóidea e infiltrar anestésico local · Fixar as cartilagens tireoide e cricoide com aplicação de uma discreta pressão do 2o e do 3o dedo · Fazer incisão transversal em pele e tecido subcutâneo, na altura da membrana cricotireóidea · Dissecar, com instrumental rombo, a camada do músculo platisma até atingir a membrana cricotireóidea · Estender a incisão através da membrana cricotireóidea · Afastar as margens da membrana cricotireóidea com o cabo do bisturi · Inserir cânula endotraqueal ou de traqueostomia de 4 a 7 mm de diâmetro interno · Insuflar o balão · Testar a localização correta da cânula · Fixar a cânula, oxigenar e ventilar o paciente com ventilador mecânico ou sistema de bolsa autoinsuflável · Preparar o paciente para traqueostomia quando a situação estiver estabilizada. CUIDADOS APÓS O PROCEDIMENTO: · Manter a cânula fixa · Fazer curativo diário na ferida operatória · Converter para traqueostomia em 48 h. COMPLICAÇÕES: · Enfisema mediastinal e subcutâneo · Falso pertuito através da fáscia traqueal · Laceração ou perfuração da parede traqueal posterior e do esôfago · Hemorragia · Hematoma · Rouquidão ou paralisia da corda vocal · Hipoxemia · Aspiração de vômito, secreção ou sangue · Ventilação inadequada · Estenose subglótica · Traqueomalacia
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