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PRÁTICA SOCIETÁRIA, TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA Fernanda Rocha de Aguiar Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a criação e a evolução do FGTS ao longo do tempo. Reconhecer a finalidade do FGTS e as possibilidades de saque. Determinar como são feitos os depósitos e os cálculos de atualização do FGTS. Introdução O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi instituído pela le- gislação brasileira como uma forma de proteção ao trabalhador demitido sem justa causa, já que o empregado pode sacar o seu fundo acumulado nesse caso. Como cada contrato de trabalho resulta na abertura de uma conta vinculada do FGTS, o mesmo trabalhador poderá possuir saldos em diversas contas. Criado em 13 de setembro de 1966, o FGTS deve oferecer ao traba- lhador uma poupança compulsória, formada por depósitos dos empre- gadores ao longo da vida de trabalho do empregado, facilitando a sua relação com os financiamentos de moradia, ressalvadas as exigências em relação ao uso de FGTS apenas para a aquisição do primeiro imóvel. Neste capítulo, você vai ler sobre como o FGTS foi criado, como evoluiu e como ele pode ser sacado pelo trabalhador em relação à previsão legal. Criação e evolução do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço O FGTS foi instituído pela Lei nº. 5.107, de 13 de setembro de 1966, de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as suas regras previstas sobre a estabilidade do emprego e a proteção do trabalhador (ROMAR, 2014). Desde a Constituição Federal de 1988, o regime do FGTS tornou-se obrigatório para todos os empregados urbanos e rurais, o que pode ser verifi cado no art. 7º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Tal situação tornou a regra do FGTS universal a todos os empregados registrados em contratos de trabalho que tivessem a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada. O FGTS pode ser definido como patrimônio do trabalhador e da sociedade. Instituído em 13 de setembro de 1966, foi criado com o objetivo de oferecer ao trabalhador uma poupança compulsória, formada por depósitos dos emprega- dores ao longo da vida laboral dos empregados, como alternativa ao regime de estabilidade, existente à época (BREVE..., 2001). Desde a sua criação e até o ano de 1988, o empregado podia optar pelo regime de contribuição do FGTS ou pela estabilidade decenal, existente na época. A partir da Consti- tuição Federal de 1988, o regime do FGTS tornou-se obrigatório. Assim, os empregados urbanos e rurais contratados a partir de 1988 automaticamente foram inseridos no sistema do FGTS. A partir da criação do FGTS em 1966, não havia ocorrido menção sobre a sua obrigatoriedade até a Constituição Federal de 1988, em que pese a significativa alteração aos trabalhadores domésticos, que passaram a ser reconhecidos quanto ao direito ao FGTS, e posteriormente as indicações da Lei nº. 8.036, de 11 de maio de 1990, que novamente alterou a lei sobre o FGTS (ROMAR, 2014). A regulamentação do FGTS foi feita pela Lei nº. 8.036/1990, com a consolidação das suas normas por meio do Decreto nº. 99.684, de 8 de novembro de 1990. O FGTS consiste em recolhimentos pecuniários mensais feitos pelo empregador em uma conta específica aberta em nome do empregado (conta vinculada) junto à Caixa Econômica Federal, que é o agente operador do Fundo (art. 4º da Lei nº. 8.036/1990) (BRASIL, 1990). Dessa forma, os empregadores ficam obrigados a depositar na conta vinculada do FGTS de cada empregado, até o dia 7 de cada mês, a importância correspondente a 8% da remuneração paga ou devida no mês anterior. Quanto ao registro da estabilidade, o sistema do FGTS apresentava um impeditivo de dispensa quando foi criado, não sendo mais assim atualmente. Hoje, só há a reparação econômica em casos de demissão sem justa causa, nos quais há o pagamento de um valor pecuniário indenizatório ao trabalhador Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)2 despedido. A indenização traz uma mudança significativa para as relações de trabalho: impõem barreiras à dispensa, trazendo o pagamento de uma importância ao pagador, com o objetivo de evitar a rotação de mão de obra (RAYMUNDO, 2013). Em 2016, o FGTS completou 50 anos, consolidando-se como um dos principais agentes de desenvolvimento do País. Segundo o Ministério do Trabalho, durante esse período, mais de R$ 426 bilhões foram aplicados em obras de moradias populares, rodovias, portos, hidrovias, aeroportos, ferrovias, energia renovável e saneamento básico (FGTS, 2016). Marcos importantes O FGTS incide sobre a remuneração do empregado, com vistas à subsistência do trabalhador no período de desemprego (RESENDE, 2015). Além disso, os valores que formam o fundo possibilitam o investimento em programas sociais de habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana. Para saber mais sobre os 50 anos do FGTS, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/AcDL2 Reis (2015) sinaliza os dados da pesquisa realizada pelo Ministério do Trabalho em 1966, que indicava que apenas 15% dos trabalhadores contratados pelo regime da CLT alcançaram a estabilidade no emprego, prevista para quem ultrapassasse os 10 anos de serviço, atingindo, assim, a estabilidade decenal. Naquela ocasião, se fossem consideradas as empresas mais novas, com até 15 anos de existência, o percentual de estáveis cairia para cerca de 1%. Esse foi um dos argumentos usados pelo Ministro do Trabalho à época — Peracchi Barcelos — para defender as alterações trazidas pela Lei nº. 8.036/1990, que regulamentou o FGTS, cuja lei entrou em vigor. O ministro explicou que a estabilidade, em vez de proteger o empregado, prejudicava-o, pois as empresas preferiam demiti-lo, justamente para evitar mantê-lo obrigatoriamente até a aposentadoria. De 1966 a 1988, o FGTS foi facultativo, tornando-se obrigatório com a Constituição Federal de 1988. 3Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Antes da sua vinculação à Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Habitação (BNH) era o banco que operava a gestão dos depósitos fundiários, tendo sido extinto em 1986. O BNH robusteceu o FGTS com um complexo conjunto de programas habitacionais e de saneamento, voltados ao atendimento do déficit habitacional e de saneamento no País. Logo, a partir de novembro de 1986, passou a ser administrado pela Caixa, ocasião em que apresentava patrimônio da ordem de US$ 15,2 bilhões (BREVE..., 2001). Em 1989, foi criada a concessão de financiamento diretamente à pessoa física pelo Programa Carta de Crédito Individual — FGTS, destinado à aqui- sição de imóvel residencial urbano, concluído novo ou usado para moradia própria. Coube então à Caixa um novo conjunto de responsabilidades, que teve de se preparar e se adaptar a esse novo desafio. Já na gestão da Caixa, veio a criação do conselho curador do FGTS em 1989 e a centralização dos recolhimentos no início de 1990. Em maio de 1990, foi promulgada a Lei nº. 8.036/1990 (BRASIL, 1990), constituindo o FGTS pelos saldos das contas vinculadas, conforme versa no seu art. 2º, que menciona que os recursos devem ser aplicados com atualiza- ção monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações. Nesse caso, todas as contas de todos os trabalhadores brasileiros deveriam ser transferidas para a Caixa . A partir de então, os 76 bancos do País (instituições financeiras), credenciados pelo extinto BNH, teriam 2 anos para organizar os dados dos trabalhadores e transferi-los para a Caixa. Em 2001, foram criadas alternativas de consultas do saldo FGTS pela internet, especialmente com a inclusão do Certificado de Regularidade do FGTS (CRF). Essa consulta demonstra a situação do empregador com suas obrigações legais diante do recolhimento das parcelas do fundo. Em 2008, foi criado o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), mediante a Lei nº. 11.491,de 20 de junho de 2007, com o objetivo de proporcionar a valorização das cotas por meio da aplicação de seus recursos na construção, reforma, ampliação ou implantação de empreendimentos de infraestrutura em rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, aeroportos, energia e saneamento. O FI-FGTS é administrado, gerido e repre- sentado judicial e extrajudicialmente pela Caixa (AMARAL FILHO, 2016). Em 2013/2014, o conselho curador do FGTS aprovou a política socioam- biental do FGTS, cuja criação permitiu estabelecer princípios e diretrizes para prevenir e gerenciar os impactos sociais e ambientais na aplicação dos recursos do FGTS. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)4 O conselho curador do FGTS é a instância máxima de deliberação e é composto por 24 representantes, que incluem membros do Governo Federal, de entidades dos trabalhadores e de empregadores. O Ministro do Trabalho ocupa a presidência do conselho curador. A Caixa, como é o agente operador dos recursos do FGTS, emite CRFs, que atestam se os empregadores e tomadores de recurso estão em dia com suas obrigações. Além disso, o conselho curador define procedimentos operacionais, que serão necessários à execução dos programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura (AMARAL FILHO, 2016). Outro marco importante para a evolução do FGTS foi a sua previsão para os empregados domésticos. É considerado empregado doméstico aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial, conforme estabelecido pela Lei n.º 5.859, de 11 de dezembro de 1972. São exemplos de ocupações dos empregados domésticos: mordomo; motorista; governanta; babá; jardineiro; copeiro; arrumador; cuidador de idoso; cuidador em saúde. A Emenda Constitucional nº 72, de 2 de abril de 2013, ampliou os direitos dos trabalhadores domésticos e tornou o FGTS um direito desses empregados. Ao longo da sua existência, conforme contabilização até 2016, o FGTS in- vestiu cerca de R$ 360 bilhões para o financiamento de 10 milhões de moradias, beneficiando diretamente 58 milhões de brasileiros, gerando ou mantendo mais de 18 milhões de empregos (AMRAL FILHO, 2016). Desde a sua criação, o FGTS foi responsável por uma parcela considerável dos imóveis construídos no Brasil. Entre 1968 e 2016, o FGTS financiou a aquisição de mais de 8,3 milhões de moradias novas no País, o que equivale a aproximadamente 17% das habitações construídas no País desde o surgimento do FGTS (AMARAL FILHO, 2016, documento on-line). 5Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Finalidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e possibilidades de saque O FGTS pode ser defi nido como um pecúlio do trabalhador em prol da socie- dade, cuja inserção na vida brasileira, há mais de 50 anos, tem contribuído também para o progresso da sociedade e para o desenvolvimento nacional. Enquanto o trabalhador não tem direito ao saque desses recursos, os re- cursos são utilizados na implementação das políticas públicas de habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana. Com o advento do FI-FGTS em 2008, o FGTS também passou a investir em portos, geração de energia, ro- dovias, ferrovias e outras operações de mercado (AMARAL FILHO, 2016). A Caixa assumiu o papel de agente operador do FGTS com a publicação da Lei nº. 8.036/1990. Nos 30 anos de cumprimento desse papel, realizou sonhos e assumiu compromissos com o trabalhador. Leia as dúvidas mais frequentes sobre o FGTS no link a seguir. https://qrgo.page.link/j4kN6 O FGTS é um dos mais importantes instrumentos de apoio ao desenvolvi- mento social do País. A firmeza na gestão do FGTS pelo seu conselho curador possibilita o desempenho pleno de seu papel estratégico de instrumento público de poupança compulsória e financiamento de políticas públicas em programas de saneamento básico, infraestrutura urbana e habitação popular, em cum- primento às finalidades para as quais foi instituído pela Lei nº. 5.107/1966 (AMARAL FILHO, 2016, documento on-line). O Supremo Tribunal Federal (STF), por diversas vezes, afastou a possível natureza tributária do FGTS. Trata-se, portanto, de direito trabalhista, sendo mensal e devido à proporção de 8% da remuneração mensal do empregado, conforme Lei nº. 8.036/1990. Essa alíquota mensal incide sobre todas as parcelas remuneratórias pagas ao empregado, independentemente da habitualidade do pagamento (RESENDE, 2015). No entanto, o legislador instituiu uma outra finalidade para o FGTS: a finalidade social, prevendo que a totalidade dos seus recursos deverá ser aplicada em habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana. O pro- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)6 grama de aplicações deverá destinar, no mínimo, 60% para investimentos em habitação popular, e os projetos de saneamento básico e infraestrutura urbana financiados com os recursos do FGTS deverão ser complementares aos programas habitacionais. O empregador que não realizar os depósitos do FGTS no prazo responderá pela taxa referencial (TR) sobre a importância correspondente, por dia de atraso, incidindo ainda juros de mora de 0,5% ao mês e multa de 5% se o depósito for efetuado no mesmo mês de vencimento da obrigação ou de 10% se o depósito for efetuado a partir do mês seguinte ao do vencimento da obrigação (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, [2019]). Apesar de o FGTS ser uma obrigação legal do empregador, por meio do depósito mensal de 8% sobre a remuneração do empregado, não há consenso jurídico de que a ausência de depósitos possa gerar uma rescisão de contrato de trabalho por justa causa indireta (MONJARDIM, 2015). A rescisão indireta de contrato de trabalho ocorre quando o empregador não cumpre as obrigações principais do contrato de trabalho. Nesses casos, o empregado pode denunciar o contratante e deixar de trabalhar, alegando estar rescindindo o contrato por justa causa patronal (TRAMONTIN, 2018). Portanto, o fato de o empregador não efetuar os depósitos de FGTS devi- dos durante o período empregatício não constitui uma falta grave que possa determinar necessariamente uma rescisão de contrato de trabalho por justa causa indireta (TRAMONTIN, 2018). Essa questão é controversa e poderá ser discutida na justiça. Os depósitos do FGTS são devidos nos casos de interrupção do contrato de trabalho. Ocorrendo rescisão do contrato de trabalho por parte do empregador, este ficará obrigado a depositar na conta do FGTS do trabalhador os valores relativos ao mês da rescisão e ao mês imediatamente anterior que não tenha sido depositado. Incide FGTS sobre o valor correspondente ao aviso prévio, trabalhado ou indenizado. Os depósitos mensais do FGTS são corrigidos monetariamente, além de capitalizarem juros de 3% ao ano. Para as contas vinculadas dos trabalhadores optantes do FGTS existentes à data de 22 de setembro de 1971, a capitalização dos juros é feita na seguinte proporção (conforme previsto na Lei nº. 8.036/1990, em seu art. 13, § 3º) (BRASIL, 1990): 3% durante os dois primeiros anos de permanência na mesma empresa; 4% do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma empresa; 5% do sexto ao décimo ano de permanência na mesma empresa; 6% a partir do décimo primeiro ano de permanência na mesma empresa. 7Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Ou seja, para as contas vinculadas de FGTS até 22 de setembro de 1971, a capitalização dos juros continuará sendo progressiva, de acordo com o descrito na Lei nº. 8.036/1990 (art. 13, § 3º), exceto para os casos de mudança de empresa, em que a capitalização passou a ser de 3% ao ano. Para contratos de trabalho firmados após 1971, a Lei nº. 5.705, de 21 de setembro de 1971, extinguiu a progressividade dos juros sobre o FGTS, estabelecendo a taxa de juros de 3% ao ano para todos os depósitos de FGTS (BRASIL, 1990). Hipóteses de saque A conta do FGTS aberta em nome do empregado junto à Caixa é vinculada, ou seja, suamovimentação é restrita às hipóteses previstas na Lei nº. 8.036/1990 e somente pode ser movimentada nos termos fi xados na referida lei. O empregado não pode se utilizar livremente dos depósitos feitos em seu nome no FGTS. As hipóteses de movimentação da conta do FGTS, expressamente previstas no art. 20 da Lei nº. 8.036/1990, podem ser divididas em dois grupos (ROMAR, 2014), detalhados a seguir. Hipóteses de movimentação em caso de extinção do contrato de trabalho No caso de extinção do contrato de trabalho, poderão ocorrer a dispensa sem justa causa, dispensa indireta e extinção do contrato de trabalho por culpa recíproca ou força maior (inciso I) — no caso de o empregado ser demitido sem justa causa, poderá movimentar sua conta do FGTS com os valores depositados relativos ao último contrato de trabalho. No entanto, ele não pode fazer uso se ocorrer a dispensa por justa causa ou se ele pedir demissão. Nessas situações, a conta permanece em titularidade do trabalhador, mas se transforma em conta inativa, ou seja, apesar de ter as devidas correções, não recebe mais depósitos. Os valores existentes nas contas inativas podem ser sacados quando o trabalhador permanecer 3 anos ininterruptos fora do regime do FGTS, por exemplo, porque passou a trabalhar como autônomo ou servidor público esta- tutário ou em caso de aposentadoria ou falecimento do trabalhador. Assim, o fato de o trabalhador ter sido dispensado por justa causa não o impede de sacar os valores de sua conta do FGTS caso se aposente ou para comprar ou quitar parcelas da casa própria, nem impede o levantamento dos referidos valores por seus dependentes ou herdeiros em caso do seu falecimento. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)8 Também pode haver falecimento do empregador individual. Desde que não haja continuidade do contrato de trabalho com a cessação da atividade da empresa por morte do empregador individual, os contratos de trabalho são extintos, podendo os empregados sacar os valores do FGTS depositados em seu nome durante a vigência do contrato. No caso de extinção total da empresa, fechamento de quaisquer dos seus estabelecimentos, filiais ou agências ou supressão de parte das suas atividades, há a previsão de saque dos valores depositados em sua conta do FGTS, em relação ao último contrato de trabalho. Hipóteses de movimentação durante a vigência do contrato de trabalho O art. 20 da Lei nº. 8.036/1990 também prevê algumas situações em que o saque do FGTS pode se dar mesmo durante o regular desenvolvimento do contrato de trabalho. O FGTS pode ser pago para abater prestações decorrentes de financiamento habitacional concedido no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), desde que conte com o mínimo de 3 anos de trabalho sob o regime do FGTS, na mesma empresa ou em empresas distintas; além de o valor bloqueado ser utilizado, no mínimo, durante o prazo de 12 meses. Para esses casos, o valor do abatimento deve atingir, no máximo, 80% do montante da prestação. Também há a previsão de uso do FGTS no caso de liquidação ou amortização extraordinária do saldo devedor de financiamento imobiliário, observada a previsão de interstício de 2 anos para cada movimentação. O FGTS pode ser usado ainda para pagamento total ou parcial do preço da aquisição de moradia própria ou lote urbanizado de interesse social não construído, desde que haja o mínimo de 3 anos de trabalho sob o regime do FGTS, na mesma empresa ou empresas diferentes, e que a operação seja financiável nas condições vigentes para o SFH. Outra possibilidade de saque do FGTS é o caso de o trabalhador ou qual- quer de seus dependentes ser acometido de neoplasia maligna (câncer), ou ser portador do vírus da imunodeficiência humana (HIV), ou, ainda, estiver em estágio terminal em razão de doença grave. Além disso, admite-se o saque para o trabalhador que tiver idade igual ou superior a 70 anos. O saque durante a vigência de trabalho também é previsto em caso de necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorram de desastre natural. 9Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Sobre a sonegação do FGTS por parte das empresas, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/m5C4S O empresário cuja empresa está em crescimento vai ter que pensar, cedo ou tarde, em contratar funcionários para lidar com o aumento da demanda de trabalho que surge. No entanto, antes de contratar, o empresário deve estar atento às diversas obrigações que terá com o novo funcionário e aos custos, que vão muito além do valor bruto do salário. Para saber mais sobre as obrigações e os custos do empresário para um funcionário contratado, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/ibjG2 Para saber por que o FGTS foi criado, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/zLkPd Depósitos e cálculos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço Sob o ponto de vista do trabalhador, o FGTS constitui-se em um direito, correspondente a parcelas pecuniárias mensais que vão sendo depositadas pelo empregador ao longo da vigência do contrato de trabalho em uma conta vinculada ao FGTS, em nome do empregado. Essa conta de movimentação é restrita exatamente para que o valor depositado possa formar um fundo a ser utilizado por ele em hipóteses autorizadas pelo legislador (hipóteses previstas no art. 20 da Lei nº. 8.036/1990). O principal ativo do FGTS são as operações de crédito, algo esperado, pois o FGTS foi criado para ajudar o trabalhador em certas situações, mas também para oferecer crédito em condições favoráveis a setores considerados importantes. O risco de crédito das operações é de responsabilidade da Caixa, à exceção do saldo existente até 1º de junho de 2001, que é da União. Como já se passaram muitos anos, é bem possível que esse saldo seja pouco expressivo atualmente (AMARAL FILHO, 2016). Cada contrato de trabalho firmado formalmente resulta na abertura de uma conta vinculada do FGTS, em que o mesmo trabalhador poderá possuir saldos em diversas contas. O FGTS é um fundo formado por depósitos men- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)10 sais, efetuados pelos empregadores em uma conta vinculada ao nome de seus empregados, no valor equivalente ao percentual de 8% das remunerações (proventos) que lhes são pagas ou devidas (BORGES, 2015). O FGTS pode rescindir sobre os seguintes proventos do trabalhador: salários; abonos, adicionais, gorjetas, entre outros (com exceção do abono de férias); aviso prévio indenizado e trabalhado; comissões; décimo terceiro salário. São beneficiários os empregados urbanos e rurais, incluindo os que tra- balham apenas na época das colheitas, atletas profissionais, trabalhadores avulsos e temporários, além dos empregados domésticos. A partir da Lei Complementar nº. 150, de 1º de junho de 2015, passou a ser obrigatória a in- clusão do trabalhador doméstico no FGTS, conforme previsto no art. 21, cuja regulamentação iniciou no prazo de 120 dias a contar da sua promulgação: Art. 21 É devida a inclusão do empregado doméstico no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), na forma do regulamento a ser editado pelo Conselho Curador e pelo agente operador do FGTS, no âmbito de suas competências, conforme disposto nos arts. 5º e 7º da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, inclusive no que tange aos aspectos técnicos de depósitos, saques, devolução de valores e emissão de extratos, entre outros determinados na forma da lei. Parágrafo único. O empregador doméstico somente passará a ter obrigação de promover a inscrição e de efetuar os recolhimentos referentes a seu empregado após a entrada em vigor do regulamento referido no caput (BRASIL, 2015, documento on-line). Supondo que um funcionário receba R$ 937,00 de salário, mais R$ 150,00 de comissão, o valor total recebido é de R$ 1.087,00. Em cima desse valor, são aplicados 8% de FGTS. Assim, R$ 1.087,00 × 8% = R$ 86,96. Portanto, o valor de contribuição do FGTS é de R$ 86,96 para esse trabalhador.O FGTS é retido pela empresa antes mesmo de realizar o pagamento do salário ao funcionário. Dessa forma, cabe a ela realizar o pagamento ao governo dos valores referentes ao FGTS de seus funcionários até o dia 7 do mês subsequente. 11Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) A conta vinculada de FGTS recebe correção monetária, que tem como base a atualização dos saldos de depósitos da poupança e a capitalização de juros remuneratórios de 3% ao ano. Essa remuneração é creditada na conta vinculada no dia 10 de cada mês (art. 13 da Lei nº. 8.036/1990) (BRASIL, 1990). O menor aprendiz deve receber o salário-mínimo por hora e não poderá ter contrato excedente de 6 horas diárias, salvo se já tiver o 2º grau completo com a parte teórica do curso incluída. Na rescisão de contrato de trabalho, não cabem às indenizações dos arts. 479 e 480 da CLT, respectivamente, aquela que é paga pela empresa ou descontada do empregado pela metade do tempo que falta para o final do contrato. Os contratos dos menores aprendizes (de 14 a 18 anos) serão sempre de prazo determinado. Poderão também ser contratados pela entidade de formação, e a empresa é a tomadora de seus serviços. O FGTS é de 2% para os menores aprendizes (SCHREIBER, 2014). AMARAL FILHO, A. (org.). Biografia FGTS: uma história contada por aqueles que fizeram do Brasil um lugar melhor para milhões de pessoas. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2016. E-book. l. 1. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/Downloads/fgts-informacoes- -diversas/livro-digital_bio-fgts-parte_I.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. BORGES, L. L. M. Direito do Processual do Trabalho: material 03. Goiânia: PUC Goiás, 2015. Material didático da disciplina. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.br/ SiteDocente/admin/arquivosUpload/17629/material/DIREITO%20PROCESSUAL%20 DO%20TRABALHO%20-%20MATERIAL%2003%20(2015-1).pdf. Acesso em: 21 out. 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti- tuicao.htm. Acesso em: 21 out. 2019. BRASIL. Lei Complementar nº. 150, de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico; altera as Leis nº. 8.212, de 24 de julho de 1991, nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, e nº. 11.196, de 21 de novembro de 2005; revoga o inciso I do art. 3º da Lei nº. 8.009, de 29 de março de 1990, o art. 36 da Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, a Lei nº. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei nº. 9.250, de 26 de dezembro 1995; e dá outras providências. Diário Oficial da União, 6 jun. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp150.htm. Acesso em: 21 out. 2019. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)12 BRASIL. Lei nº. 8.036, de 11 de maio de 1990. Institui o Vale-transporte e dá outras provi- dências. Diário Oficial da União, 12 maio 1990. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/ legin/fed/lei/1990/lei-8036-11-maio-1990-365155-norma-pl.html. Acesso em: 21 out. 2019. BREVE histórico do FGTS. [S. l.: s. n.], 2001. 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