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Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Abdome agudo perfurativo Abdome agudo perfurativo é um dos cinco tipos de abdome agudo e representa uma perfuração de víscera oca no trato gastrointestinal. Lembre-se que trauma não é abdome agudo. Abdome agudo perfurativo consiste em uma perfuração da espessura total da parede de uma víscera oca do trato gastrointestinal, que consequentemente leva a um extravasamento do seu conteúdo para a cavidade peritoneal ou retroperitoneal. Dessa forma, pode ocorrer desde o esôfago até o reto. Causas do abdome agudo perfurativo Úlcera péptica Divertículo perfurado Neoplasia Corpo estranho Isquemia com perfuração Síndrome de Crohn; Apendicites; Volvo de sigmoide Salmonelose; Citomegalovírus; Tuberculose Intestinal; Iatrogenias em procedimentos médicos. Úlcera péptica perfurada: É a causa mais comum de abdome agudo perfurado, sendo mais frequente em homens. Geralmente, as úlceras que perfuram acometem a parede anterior do bulbo renal, seguidas das úlceras pré-pilóricas. Seus principais fatores de risco incluem infecção de H. pylori, uso de anti-inflamatórios não esteróides ou do ácido acetil salicílico, tabagismo e ingestão de etanol. Atualmente, a teoria mais aceita é a de que a partir de uma lesão ulcerativa ou inflamatória de uma víscera oca, forma-se um pneumoperitônio (gás dentro da cavidade abdominal), que é um dos primeiros sinais apresentados pelo paciente. Por sua vez, a partir da perfuração, inicia-se uma peritonite regional que posteriormente evolui para um quadro generalizado, que concomitantemente, pode ou não ter uma peritonite química (por extravasamento de secreção gástrica) e/ou infecciosa (por multiplicação bacteriana). Sinais e sintomas do abdome agudo perfurativo Dor súbita, intensa, aguda, difusa e persistente, geralmente no epigastro e irradidiando para o abdome todo, o que faz o paciente chegar rapidamente no pronto-socorro. Dor piora com o movimento. Por isso, geralmente o paciente fica imóvel, em posição fetal. Peritonite (decorrente da liberação de ácido clorídrico, bile ou fezes na cavidade abdominal). Sinal de Jobert: perda da macicez hepática durante a percussão do hipocôndrio direito (o som fica timpânico ao invés de maciço), que indica a presença de perfuração de víscera oca em peritônio livre, como na úlcera péptica. Durante a palpação do abdome, há rigidez involuntária com descompressão brusca positiva em todo o abdome (“abdome em tábua”). Palidez e sudorese. Pode evoluir para o choque séptico. Além de poder apresentar náuseas, vômitos, taquicardia, taquipneia e hipotensão arterial. Ao exame físico, é possível perceber um abdome tenso, com contração muscular involuntária, descompressão brusca localizada ou difusa, ruídos hidroaéreos diminuídos e possível Sinal de Jobert. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia As perfurações podem ocorrer em peritoneo livre com extravasamento de liquido e difusão por toda a cavidade abdominal ou, se apresentar de forma bloqueada, com dor e sinais peritoneais localizados, correspondente a topografia da viscera comprometida. Alguns fatores devem ser levados em consideração para o diagnostico: Peritonite química ou bacteriana Nivel de perfuração Tempo de evolução da perfuração Manifestações sistêmicas ou abdominais exclusivas Perfuração bloqueada ou em peritoneo livre Etiologia da perfuração Diagnóstico Em primeiro lugar, sempre: uma anamnese bem feita e uma boa pesquisa da história e dos sintomas do paciente é o fator primordial para a condução desse paciente. Em seguida, deve-se realizar o exame físico, no qual encontraremos: Abdome em tábua – defesa abdominal generalizada, clássica da peritonite Dor à descompressão brusca Hipersensibilidade cutânea (mesmo à palpação superficial) Sinal de Jobert Positivo – timpanismo da região de loja hepática (Pressupõe pneumoperitônio) Íleo adinâmico Exames de imagem Radiografia simples de tórax e abdome: Raio- x de tórax póstero-anterior em posição ortostática; Raio-x de abdome anteroposterior em decúbito dorsal; e o Raio-x de abdome anteroposterior em posição ortostática. Este exame possui uma boa acurácia para captar sinais precoces de perfuração, confirmar a presença de pneumoperitônio e/ou pneumomediastino e permitir uma indicação precisa de laparotomia. Tomografia de abdome com contraste: possui ampla disponibilidade, uma menor necessidade de um examinador experiente e permite uma boa visualização de estruturas ocas e adjacências e também uma maior precisão da localização da perfuração. Deve ser realizada se a radiografia não evidenciar o diagnóstico. USG não tem utilidade em abdome agudo perfurativo Pneumoperitônio (achado característico no raio X): Indica a presença de ar entre o diafragma e o fígado (mais comum) ou entre o diafragma e estômago. Exames complementares Nos exames complementares, pode apresentar leucocitose e aumento da amilase nos laboratoriais Já os de imagem, devem ser pedidas radiografias de tórax póstero-anterior em pé e de abdome ântero-posterior em pé e deitado, no qual é possível observar o sinal de Rigler em casos de pneumoperitônio. Porém, mesmo na ausência de pneumoperitônio, não exclua a possibilidade de o diagnóstico ser de abdome agudo perfurativo. Nesses casos, a tomografia computadorizada é o melhor exame para seu diagnóstico, pois é possível observar menores quantidades de ar e, além do pneumoperitônio, ajuda a indicar retropneumoperitônio. Exames laboratoriais Serão os mesmos exames que norteiam a busca de qualquer tipo de abdome agudo: Hemograma Coagulograma Dosagem de eletrólitos séricos Funções renal e hepática Dosagens de lactato, amilase e lipase (para avaliar quadro inflamatório ou infeccioso) Tratamento Seu tratamento é essencialmente cirúrgico e de emergência, pois é comum que os pacientes estejam com instabilidade hemodinâmica e choque séptico. Assim, deve ser realizada reanimação volêmica, com uso de cristaloides, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia, antibióticos de largo espectro, e, se necessário, drogas vasoativas Cirúrgico: Laparotomia exploradora ou videolaparoscopia, se o paciente estiver hemodinamicamente estável. Em casos de úlceras, ulcerorrafia com Patch de epíplon. A manobra do Borracheiro confirma se ainda há perfuração. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Além disso, mantém-se o inibidor de bomba de prótons por 60 dias e erradica-se o Helicobacter pylori caso seja positivo. Dependendo da altura da perfuração, pode ser condizente realizar uma drenagem, uma gastrostomia e uma jejunostomia para alimentação. Para os pacientes que possuem uma suspeita de perfuração gastrointestinal em nível mais alto, é apropriada a administração intravenosa de fármacos inibidores da bomba de prótons, tais como Omeprazol ou Pantoprazol. Em virtude das perfurações causarem uma significativa depleção de volume, deve-se tomar cuidado com alterações eletrolíticas muito severas. Portanto, a cirurgia deve ser realizada o quanto antes, para que tais perturbações sejam minimizadas. Paciente instável, com perfuração a mais de 24 horas, peritonite difusa e alto risco cirúrgico: ulcerorrafia e epiploplastia, com patch de omento ou de Graham, com lavagem da cavidade; ressecção ou ao menos biópsia das bordas da úlcera; tratamento para H. pylori, se positivo. Paciente estável, com perfuração a menos de 24 horas, sem peritonite difusa e baixo riscocirúrgico – úlceras duodenais: fechamento com patch de omento e irrigação da cavidade com soro fisiológico; vagotomia, se necessária. o A vagotomia é recomendada para pacientes que não aderiram ao tratamento médico ou apresentam histórico documentado de úlcera duodenal crônica significativa. Além da rafia ou ressecção da úlcera, pode ser realizada associada ou não à antrectomia para reduzir a secreção gástrica. Existem três opções cirúrgicas para a vagotomia. São elas: troncular, seletiva ou superseletiva, sendo a mais utilizada a troncular, que secciona os nervos vago direito e esquerdo, acima dos ramos hepático e celíaco, com necessidade de drenagem gástrica (geralmente a técnica mais usada é a piloroplastia a Heineke-Mikulicz, que faz uma aumenta o diâmetro do piloro). Paciente estável, com perfuração a menos de 24 horas, sem peritonite difusa e baixo risco cirúrgico – úlceras gástricas: ressecção da úlcera pelo risco de neoplasia, podendo ser realizada de forma local, por gastrectomia distal ou total, dependendo do seu diâmetro e localização. Para entender o tratamento definitivo da úlcera gástrica, utiliza-se a classificação de Johnson, que se baseia na localização anatômica e potencial secretor de ácido da úlcera. Nos casos de úlceras provocadas por AINE, sem calo ulceroso, é recomendado apenas a realização de rafia e patch de omento. Outras causas de abdome agudo perfurativo: Como dito anteriormente, as úlceras pépticas gástricas podem ocorrer em qualquer segmento do trato gastrointestinal. Assim, apesar das úlceras gástricas serem as causas mais comuns, devemos entender um pouco das outras. Suas manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento são semelhantes ao de úlcera. Entenda cada tipo a seguir: Iatrogenia: são as causadas por instrumentação ou cirurgia, como nos casos de endoscopia digestiva alta, sigmoidoscopia, colonoscopia, colocação de stent, entre outros. Pós-CPRE: a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica pode levar a algumas complicações, dentre elas a perfuração duodenal, elas podem ser tratadas clinicamente ou cirurgicamente, dependendo do caso. Corpo estranho: objetos pontiagudos, alimentos com superfícies pontiagudas podem causar as perfurações. Atente-se aos pacientes psiquiátricos! Obstrução: ocorrem principalmente em alça fechada; pode levar à isquemia, necrose e consequentemente à perfuração. Abdome agudo inflamatório: processos inflamatórios como apendicite ou diverticulite aguda, podem levar a perfuração ou formação de abcessos bloqueados os peritonite difusa. Abdome agudo vascular: isquemia intestinal pode levar a perfuração se não for tratado. Doença infecciosa: pode causar perfuração do intestino delgado (exemplos: febre tifoide, tuberculose, esquistossomose e citomegalovírus). Outras causas de Pneumoperitônio: O pneumoperitônio pode ser pós-cirúrgico, não cirúrgico ou idiopático. O pneumoperitônio pós-cirúrgico é esperado após uma cirurgia abdominal, como nas laparoscopias ou laparotomia. Já no caso do não cirúrgico, ele é geralmente causado por perfuração de vísceras ocas, com exceção de 10% dos casos, em que uma simples ventilação mecânica pode aumentar a pressão expiratória Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia final positiva, causando um pneumoperitônio, entre outros procedimentos. Por fim, o pneumoperitônio idiopático é aquele sem causa específica e constitui um diagnóstico de exceção. Atenção: independentemente da etiologia do pneumoperitônio, é recomendado tratamento cirúrgico, para evitar maiores riscos ao paciente, visto que os riscos de uma laparotomia exploradora são menores que os deixados por um possível pneumoperitônio não tratado.
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