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1 Disciplina: Análise Criminal I Autores: Esp. Raíssa Quintino de Paula Xavier Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Raíssa Quintino de Paula Xavier Análise Criminal I 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA XAVIER, Raíssa Quintino de Paula. Análise Criminal I / Raíssa Quintino de Paula Xavier. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 68 p. ISBN: 978-85-5475-361-0 1.Análise criminal. 2. Segurança Pública. 3. Estatística. Material didático da disciplina de Análise Criminal I – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ................................................................................................................. 06 Aula 1 – Introdução à análise criminal ................................................................... 07 Apresentação da Aula 1 ........................................................................................ 07 1.1 Introdução ................................................................................................ 07 1.2 Definições e conceituações ...................................................................... 10 1.3 Análise criminal passo a passo ................................................................. 12 1.4 As dificuldades da análise criminal no Brasil ............................................. 13 1.5 O papel do analista criminal ...................................................................... 14 1.6 Análise criminal e seu campo de aplicação ............................................... 16 Resumo da Aula 1 ................................................................................................. 18 Aula 2 – A importância da análise criminal ............................................................. 19 Apresentação da Aula 2 ........................................................................................ 19 2.1 Análise criminal e a nova perspectiva de policiamento ............................. 20 2.2 Dever do Estado de prestar segurança pública ........................................ 20 2.3 A importância da polícia ........................................................................... 22 2.4 Nova perspectiva de policiamento e a análise criminal ............................. 23 2.5 Focalização das ações e o trabalho do analista criminal ........................... 24 2.6 A dinâmica do trabalho do analista criminal .............................................. 25 2.7 Focalização das ações ............................................................................. 25 2.7.1 Valorização de uma perspectiva local de ação ...................................... 26 2.7.2 Focalização de tipos criminais específicos para intervenção ................. 26 2.8 Análise criminal x alocação de recursos ................................................... 28 Resumo da Aula 2 ................................................................................................. 30 Aula 3 – Estatística................................................................................................. 32 Apresentação da Aula 3 ........................................................................................ 32 3.1 Princípios básicos da estatística ............................................................... 32 3.1.1 Conceitos .............................................................................................. 32 3.2 Fases do método estatístico ..................................................................... 34 3.3 Método probabilístico ............................................................................... 35 3.3.1 Amostragem casual ou aleatória simples .............................................. 36 3.3.2 Amostragem proporcional estratificada ................................................. 37 3.3.3 Amostragem sistemática ....................................................................... 38 3.3.4 Amostragem por conglomerados ou agrupamento ................................ 38 3.4 Métodos não probabilísticos ..................................................................... 39 6 3.4.1 Amostragem acidental .............................................................................. 39 3.4.2 Amostragem intencional ........................................................................... 39 3.4.3 Amostragem por quotas ........................................................................... 39 3.5 Vertentes básicas ........................................................................................ 40 3.5.1 Vertentes da produção de conhecimento de segurança pública ............... 40 3.5.2 Análise criminal estratégica ...................................................................... 40 3.5.3 Análise criminal tática ............................................................................... 41 3.5.4 Análise criminal administrativa ................................................................. 41 3.5.5 Coleta de informações .............................................................................. 42 3.6 Tipos de coleta de dados ............................................................................. 42 Resumo da Aula 3 ................................................................................................. 43 Aula 4 – Instrumentos para realização da análise criminal .................................... 45 Apresentação da Aula 4 ........................................................................................ 45 4.1 Métodos de abordagem ..............................................................................45 4.2 Análise de conteúdo ................................................................................... 46 4.3 Estudo de caso ........................................................................................... 46 4.4 Avaliação de impacto ................................................................................. 46 4.5 Realização de survey ................................................................................. 48 4.6 Análise de dados secundários .................................................................... 48 4.7 Construção de questionário ........................................................................ 48 4.8 O contexto social da aplicação do questionário .......................................... 49 4.9 Estrutura lógica do questionário ................................................................. 49 4.10 Formulação das perguntas do questionário .............................................. 51 4.11 Fontes de dados e informações de segurança pública ............................. 53 4.12 Pesquisa de vitimização ........................................................................... 55 4.13 Fontes de informações de dados socioeconômicos e urbanos ................. 57 Resumo da Aula 4 ................................................................................................. 59 Resumo da disciplina ............................................................................................ 61 Índice Remissivo ................................................................................................... 63 Referências ........................................................................................................... 66 7 Prefácio Esta disciplina tem como objetivo introduzir a temática da análise criminal, abordando os seus conceitos, campo de aplicação e também os princípios básicos da estatística – matéria correlacionada à análise criminal. Desse modo, será discutido acerca do papel do analista criminal; da influência do trabalho por ele realizado na alocação de recursos e quais são os métodos de abordagem necessários para a coleta de informações. Também serão exploradas as fontes de dados de segurança pública e a construção de questionários. Ressalta-se que os temas trazidos neste material podem ser considerados a base para entender a análise criminal e todas as suas utilidades e meios de realização, conhecimentos necessários para todo analista criminal. 8 Aula 1 – Introdução à análise criminal Apresentação da aula 1 O objetivo desta primeira aula é propor a reflexão acerca do que é a análise criminal, trazendo o seu conceito, definição e o seu campo de aplicação. Também será abordado acerca do trabalho do profissional analista criminal, suas funções e métodos de trabalho. Tais conceitos e definições são importantes para delinear a importância da análise criminal e da sua utilização, visto que é por meio dela que se torna possível alocar recursos de maneira assertiva, permitindo fazer "mais com menos", otimizando, assim, os recursos oriundos do Estado. 1.1 Introdução Na contemporaneidade, em que o acesso à informação é cada vez maior e mais rápido, é visível que a criminalidade também se modernizou. Os criminosos hoje conseguem cometer crimes sem nem mesmo saírem de casa, pois possuem acesso a diversos aplicativos online que facilitam a prática de crimes. É por essa e outras razões, como modernidade, praticidade e agilidade, que os órgãos de segurança pública e justiça criminal buscam a modernização, procurando mecanismos que facilitem a realização eficiente do trabalho, mesmo com os escassos recursos provenientes do Estado. Embora no Brasil esse seja um campo ainda pouco explorado, a análise criminal em si não é nada recente. Seu surgimento se deu devido aos registros de ocorrências, os quais mostravam incidência de crimes em lugares específicos. Foi então que, por meio da análise, concluiu-se que o policiamento poderia ser utilizado nessas áreas, com o intuito de conter novas práticas delituosas. A análise criminal teve seus primeiros traços rudimentares delineados graças ao trabalho de Henry Fielding (1707 – 1754), um magistrado inglês que incentivava que a população denunciasse os crimes e descrevesse os autores, 9 fossem elas vítimas ou testemunhas, para posteriormente sistematizar tais dados e utilizá-los para consultas e análises. Pesquise O manual Análise Criminal – Nível Multiplicadores, publicado pelo SENASP, apresenta conhecimentos relativos à identificação de parâmetros temporais e geográficos do crime, a fim de auxiliar a detectar a atividade da delinquência. Seguindo uma proposta de metodologia inovadora, o material objetiva a formação de agentes multiplicadores dos conhecimentos adquiridos. Disponível em: https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/bitstream/12345678 9/351/31/Manual%20- %20Curso%20Multiplicador%20de%20An%C3%A1lise%20 Criminal%20-%20SENASP.pdf Com o avanço das ciências e o surgimento de novas tecnologias, as políticas de segurança pública só tiveram a ganhar, visto que foi possível examinar de maneira mais apurada as cenas de crimes, podendo vincular o suspeito ao local. Ademais, as novas teorias da psicologia puderam esclarecer muito sobre os hábitos humanos, facilitando, assim, a definição do modus operandi dos indivíduos quando do cometimento de crimes. Vocabula rio A locução latina modus operandi é utilizada para definir a maneira por meio da qual uma pessoa ou uma associação, empresa, organização ou sociedade, trabalha ou realiza suas ações. Foi assim que a análise criminal começou a ter emprego fundamental nas operações policiais de diversos países, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, cujo objetivo era mapear os locais de maior e menor incidência de determinados crimes no âmbito das cidades. Em meados dos anos 1960, a análise criminal passou a se consolidar nos Estados Unidos, sendo implantadas unidades de análise criminal em alguns departamentos de polícia cujo trabalho era identificar o modus operandi de 10 alguns casos e determinar eventual vinculação de criminosos conhecidos com crimes cometidos em determinada área. Desde então, a análise criminal foi se popularizando, encontrando respaldo até mesmo na própria população, que passou a criar o Policiamento Comunitário, e foi também alvo de diversos artigos e manuais. Análise Criminal Fonte: https://crimetechweekly.com/wp-content/uploads/2016/05/crime-analysis.jpg Com a escassez de recursos públicos e a necessidade de melhor aproveitamento, a análise criminal faz-se mister para auxiliar na alocação eficiente de recursos. É por meio dela que se trará uma nova visão de segurança pública, na qual o objetivo principal não é o atendimento imediato à vítima, mas sim a prevenção de delitos, bem como um exame detalhado dos problemas para identificar suas causas, podendo, assim, encontrar a solução com base na relação de custo-benefício. Conforme mencionado anteriormente, a situação da análise criminal no Brasil é tímida, encontrando diversas limitações, ficando restrita a policiais especializados em gestão policial e algumas instituições de ensino. Essa escassez pode estar relacionada a dois fatores: A ausência de cultura técnica que favoreça a utilização da análise criminal, pois não existem grandes bancos de dados para gestão pública da segurança; 11 A ausência de cultura técnica no tocante à existência de uma base de dados que a sustente. Entretanto, nos últimos anos, o Governo Federal vem se esforçando para a criação de uma base de dados, estimulando os estados da federação para que contribuampara a construção de grandes bases agregadas de dados, interessantes para a segurança pública e justiça criminal. Nesse sentido, algumas políticas foram instituídas a fim de que fosse criado um banco de dados sólido para a implementação da análise criminal, sendo uma delas a decisão de muitas instituições em adotar a segurança pública como pauta de estudo, criando, assim, mecanismos de auxílio. É visível que o Brasil tem muito ainda a aprender e implementar em matéria de análise criminal, mas nota-se que há incentivo para que sejam realizadas pesquisas, estudos acerca de gestão pública de segurança, objetivando, assim, uma modernização no planejamento de ações policiais e nas políticas de segurança, que não devem consistir meramente em supressão, mas também em prevenção. 1.2 Definições e conceituações Após breve introdução, é preciso então conceituar e definir o que é análise criminal e qual é o seu papel frente às políticas de segurança pública e prevenção de crimes. A definição de análise criminal pode ser expressa como: um conjunto de processos sistemáticos, com o intuito de gerar informações acerca das inúmeras ramificações do crime, incluindo tempo e lugar. Contudo, não se trata aqui de um mero conjunto de informações em forma de gráficos, tabelas e estatísticas, mas também no uso destas informações para o planejamento de determinada ação de política de segurança pública. Ou seja, é a partir da análise criminal que é possível obter conclusões acerca de determinado fenômeno de segurança pública. Portanto, a análise criminal vai muito além do que unicamente coletar dados, pois também é por meio dela que tais dados são interpretados, 12 possibilitando um melhor planejamento no tocante à segurança pública, pois faz parte da Inteligência. Desse modo, seu objetivo é apoiar as decisões estratégicas dos órgãos de polícia na área operacional e tática, possibilitando melhor aproveitamento de recursos humanos e financeiros, com a finalidade de prevenir e reduzir a criminalidade. Logo, trata-se aqui de um trabalho realizado tanto de maneira preventiva quanto de maneira repressiva, elaborado com base em dados concretos de estatística. É preciso lembrar que apenas a análise criminal por si só não é suficiente para resolver as questões de segurança pública, sendo ela um instrumento auxiliar de elevada importância. É por meio da análise criminal que a polícia consegue determinar os denominados hotspot (em tradução literal, “pontos quentes”), locais onde há maior acúmulo de determinados crimes. A partir do momento em que se consegue determinar tais locais, é possível então desprender recursos humanos e materiais para essas áreas, assim como facilitar a correta identificação dos indivíduos envolvidos em atividades criminosas. Para chegar a essa conclusão, utilizam-se também os fatores denominados condicionantes, que afetam a intensidade e os tipos de crime que ocorrem em determinada região, dentre eles, a densidade populacional, o grau de urbanização do local, o tamanho da comunidade e das áreas circunvizinhas. Utilizando a análise criminal é possível, com base em seus dados, detectar padrões criminais; estabelecer o perfil de possíveis autores ou alvos de crimes; e, também, estabelecer relação de autoria e causalidade do crime. Pode-se então concluir que a análise criminal vai muito além de um compilado de informações, abrangendo também a análise, a interpretação e a conclusão acerca dos dados coletados, possuindo, assim, um papel importante para as questões de segurança pública e criminalidade e sendo um instrumento decisivo para a tomada de decisão acerca de ações e políticas públicas de segurança. 13 1.3 Análise criminal passo a passo Uma das funções da análise criminal é coletar informações acerca da situação da criminalidade, buscando formar um banco de dados acerca da ocorrência de crimes em determinados locais. Para a construção desse banco de dados, é preciso seguir alguns passos, objetivando a solidez e concretude do estudo. Primeiramente, é necessário realizar o registro dos fatos, utilizando o boletim de ocorrência realizado pela vítima ou terceiros, presente no sistema de informação. Registrado o fato, passa-se, então, à reunião dos dados, de modo que todos os dados e informações obtidos devem ser analisados e categorizados de acordo com sua relevância para a elucidação do crime ocorrido. Após, esses registros serão categorizados em relação à natureza distinta que possuírem. Só então é que os dados serão transformados em informações por meio da criação de tabelas comparativas, isto é, mapeados para identificar áreas mais vulneráveis, horário de maior incidência etc. Com o desdobramento em tabelas, passe-se à análise dos dados obtidos, confrontando as informações para, então, traçar objetivos e planejar eventuais ações de segurança pública que se fizerem necessárias. Depois de realizada a análise, será então possível, com base nas informações obtidas, definir e implantar estratégias de prevenção e repressão ao crime, visando à obtenção de resultados efetivos. Porém, como é cediço, o crime, quando repreendido em uma região, tende a migrar para outra. Logo, é necessário também realizar um trabalho de acompanhamento dos resultados, analisando a ação ou política realizada e seus efeitos, bem como suas consequências, tendo sempre como objetivo a segurança e a ordem pública. Vocabula rio O termo cediço é utilizado para designar algo ou um fato que é de conhecimento geral. 14 1.4 As dificuldades da análise criminal no Brasil Conforme citado nesta aula, a análise criminal é explorada de maneira tímida no Brasil, além de encontrar diversos problemas para sua aplicação, tendo em vista alguns pontos cruciais para a sua realização. Um dos problemas enfrentados é o da confiabilidade dos dados, pois a principal fonte são os boletins de ocorrência, que, por diversas vezes, podem estar incompletos, apresentar erros de digitação, falhas na coleta de dados, ou algum outro tipo de falha que prejudique as informações obtidas, visto que as influenciam. Entretanto, esse problema poderia ser corrigido se houvesse um incentivo para a compreensão da importância do boletim de ocorrência, bem como projetos de qualificação do profissional oficial de polícia. Outro problema, que será abordado também nas aulas seguintes, é a chamada cifra negra. Isto é, crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades policiais, seja por medo das vítimas em denunciar, seja pela falta de confiança nos órgãos públicos, razão pela qual a análise criminal deve utilizar outras fontes de dados além das oficiais. A falta de qualificação dos quadros de funcionários, assim como a incapacidade desses profissionais de realizar, por falta de meios e/ou recursos, assistência adequada às vítimas também podem vir a influenciar na elaboração fidedigna da análise criminal. Todos esses problemas inviabilizam a realização da análise criminal, pois possuem influência, seja direta ou indireta, nas informações que serão coletadas e, posteriormente, transformadas em estatísticas e tabelas. Existem, claro, soluções para esses problemas, mas demandam recursos financeiros do Estado, os quais são limitados e, por vezes, escassos, mas que se utilizados de maneira sábia, podem ser otimizados para alcançar bons resultados com pouco investimento. 15 Para Refletir A análise criminal enfrenta alguns problemas de aplicação em razão da falta de investimento para melhoria das áreas citadas acima. Porém, é interessante que esses recursos sejam alocados para realizar essas melhorias, gastando mais agora para minimizar gastos no futuro, ou seria melhor gastar nas ações já existentes de combate ao crime (ex: compra de armamento, contratação de efetivo, treinamentos etc)?1.5 O papel do analista criminal O analista criminal é o indivíduo responsável por toda a análise criminal, tendo como função utilizar os aplicativos de computação, realizar amostragens aleatórias, elaborar estudos probabilísticos, de correlação e regressão, bem como análises. Normalmente seu trabalho é aquele que ocorre nos bastidores, embora isso não signifique que seja um trabalho pouco importante, pelo contrário. Analista criminal Fonte: http://images.centerdigitaled.com/images/03_Camden+013s.jpg Todos os processos por ele realizados têm como objeto coletar e oferecer informações sobre padrões de crimes e suas correlações de tendências e os resultados por ele obtidos servirão de base para a elaboração do planejamento e distribuição de recursos públicos em razão da necessidade para a prevenção 16 e supressão de eventos criminosos. Cabe, então, ao analista criminal, o árduo papel de interpretar um universo de informações, não estando restrito, assim, apenas à coleta destas. Via de regra, o trabalho do analista criminal hoje se limita à tabulação de registros sobre crimes. Porém, em alguns casos se verifica a estatística acerca de dados sobre vitimização e elementos urbanos e populacionais vinculados a ocorrências criminais. Em determinados casos, sua função pode ir além das normais em matéria de análise criminal, sendo ele solicitado para participar de reuniões, elaborar pareceres, realizar funções de assessoria, auxiliar na criação ou monitoramento de políticas públicas etc. Portanto, o analista criminal pode ser desde o policial atuante em delegacia, como o funcionário em nível de planejamento estratégico. Entretanto, por se tratar de um instrumento inovador, a demanda por especialização na área ainda é pequena, não havendo, desse modo, muitos profissionais capacitados à realização correta do trabalho. Assim, cumpre frisar que o analista criminal possui uma importância muito grande no tocante ao sucesso das operações realizadas pelos órgãos de segurança pública, visto que influencia de maneira direta no processo da tomada de decisão acerca da melhor maneira de solucionar o problema. Ou seja, o analista é o profissional que possui maior conhecimento acerca tanto dos dados quanto de possíveis fontes de dados, sendo então imprescindível para o aperfeiçoamento das análises. Importante É preciso ter em mente que não é o analista criminal que irá resolver os problemas da criminalidade, pois ele não possui poder de decisão. O seu trabalho é fornecer alternativas de combate ao crime, apresentar os dados estatísticos acerca da dinâmica de ocorrência dos crimes, realizando mapeamento criminal das áreas que conclui necessitarem de maior atenção policial. É, portanto, o responsável pelas estatísticas fáticas, possuindo o dever de comunicar seus superiores com maior brevidade possível, apresentando soluções viáveis frente aos recursos disponíveis. 17 Porém, mesmo que não tenha o poder de decisão direto, seu parecer e as estatísticas por ele realizadas possuem grande influência na tomada de decisão, se tornando, assim, um profissional importantíssimo para os órgãos policiais. As informações sistematizadas pelo analista criminal é que irão contribuir para que os órgãos de polícia possam realizar o trabalho de maneira mais eficiente, seja no tocante à garantia da ordem pública, seja na resposta à prática criminal. É óbvio que não é um trabalho fácil, pois envolve diversos processos, tendo sempre como objetivo encontrar padrões de crimes e suas correlações de tendências. Para isso, não basta apenas conhecimento técnico acerca de estatísticas e programas computacionais, mas também uma visão apurada para vislumbrar as particularidades das fontes que tem à disposição e trabalhar com os dados obtidos. Afinal, o trabalho realizado pelo analista criminal não se limita só ao planejamento de ações futuras pelos órgãos de segurança pública, mas também diz respeito às ações de patrulhamento diário, melhores meios de realizar uma investigação, melhoria nas operações especiais e unidades táticas. Embora possa ser considerado um trabalho de bastidor, o trabalho do analista criminal é de extrema importância, pelo fato de possuir caráter norteador, segundo o qual irá guiar a tomada de decisão, influenciando, assim, que os órgãos públicos possam decidir pela melhor opção quando optarem por realizar algum tipo de ação ou política de segurança. Portanto, o trabalho do analista deve ser realizado com seriedade; atenção aos detalhes e eventuais atualizações referentes aos dados consultados; comprometimento; pesquisa; conhecimento acerca das melhores fontes a serem utilizadas, bem como dedicação. Afinal, é o trabalho que irá determinar qual a melhor opção para solucionar um problema e como os recursos públicos podem ser melhor aplicados. 1.6 Análise criminal e seu campo de aplicação A análise criminal é de extrema importância na área de Inteligência Policial, sendo exigida cada vez mais, em situações complexas, a produção analítica em investigações. Isso porque, uma informação isolada não possui 18 quase nenhuma valia se não puder ser corroborada, comparada ou relacionada à outra, visando assim encontrar seu verdadeiro significado, que é o mais importante em matéria de análise criminal. Pode-se dizer que a análise criminal é um instrumento auxiliar de previsão, pois é um conjunto de premissas que, quando feitas corretamente, permitirão uma previsão mais próxima da realidade. Afinal, se as premissas forem incorretas, o resultado também o será, não importando quantos dados ou fatos foram considerados para a realização da pesquisa. O campo de aplicação da análise criminal, pode-se dizer que está descrito em duas dimensões principais: a) Fornecer informações, tanto para o governo quanto para a população, acerca de questões de segurança pública, possibilitando melhor planejamento das ações; b) Realocar recursos de maneira mais assertiva, pois serve de base para o planejamento de ações de segurança pública. O crime, como se sabe, é um fenômeno social, cujo conceito se resume em uma conduta humana típica, antijurídica e culpável. Porém, este fenômeno vai muito além de um breve conceito. A criminalidade não é estática, mas pode ser mensurável por meio de padrões, que são um dos objetos de estudo da análise criminal, podendo possuir diversas variáveis. Adicionalmente, podem ser incluídos também os motivos, podendo ser os mais variáveis possíveis, o modus operandi, o perfil do criminoso, incluindo sua situação econômica e social, faixa etária, gênero, etnia, classe social, bem como escolaridade. Importante O objetivo da análise criminal pode ser descrito, então, como o de apoiar as decisões estratégicas policiais nas áreas operacionais e táticas, aprimorando a utilização de recursos materiais e humanos, além de auxiliar na prevenção e redução da criminalidade. 19 Existem divisões de análise especializadas, de modo que algumas são responsáveis pelo exame sistemático dos boletins de ocorrência referentes à determinados tipos penais, podendo, assim, vislumbrar a hora, local, semelhanças entre as ocorrências e demais elementos que possam contribuir para a delimitação do modus operandi e, consequentemente, promover a identificação dos autores dos delitos. É com base nesses dados que a análise criminal auxilia as políticas de segurança pública e justiça criminal, objetivando sempre otimizar os recursos utilizados para fins de prevenção de crimes e punição dos autores, fazendo com que as verbas destinadas à segurança pública sejam utilizadas de maneira assertiva. Ademais, quando se utiliza a análise criminal, as atividades realizadas pelos órgãos de segurança pública passam a não ser só de repressão do crime, mas também de prevenção, visto que é possíveldetectar áreas de maior incidência criminal, permitindo, assim, o deslocamento de esforços para essas áreas. Portanto, o campo de aplicação da análise criminal é amplo, melhorando o funcionamento dos órgãos de segurança pública e justiça criminal, criando mecanismos mais efetivos de prevenção e repressão do crime, rompendo, assim, com a tradicional ação da polícia, porque possibilita a integração de ações policiais com ações sociais. Após a explanação realizada, é possível concluir que a análise criminal possui papel determinante para órgãos de segurança pública e justiça criminal, sendo que o seu campo de aplicação visa ao fornecimento de informações para os referidos órgãos, bem como fornece alternativas para a otimização dos recursos destinados à segurança pública. Do mesmo modo, é visível que a importância do analista criminal dentro dos órgãos policiais é sedimentada, visto que seu trabalho influencia de maneira direta a tomada de decisão. Resumo da aula 1 Nesta aula foi abordada a importância da análise criminal, sendo ela um fator influenciador da tomada de decisão por parte dos órgãos de segurança pública, pois seus resultados apresentam soluções para que sejam realizadas 20 ações e políticas públicas de maneira mais assertiva, que atendam a demanda do local no qual irão incidir. É dessa forma que a análise criminal, além de contribuir para parte da solução do grande problema que é a criminalidade, também contribui para que os trabalhos de prevenção e repressão possam ser realizados de maneira mais efetiva, maximizando os resultados, mesmo com poucos recursos disponíveis. Nesse sentido, o papel do analista criminal se faz importantíssimo, pois é por meio do trabalho por ele realizado que as informações serão sistematizadas de modo a alcançarem uma conclusão o mais perto possível da realidade. Embora não seja de responsabilidade do analista criminal, diretamente, a tomada de decisão, o resultado de seu trabalho, suas conclusões e pareceres é que irão influenciar de maneira incisiva a tomada de decisão, fazendo com que alcance maior efetividade em matéria de segurança pública. Portanto, é visível que a análise criminal é um instrumento necessário para a prevenção e repressão da criminalidade, buscando sempre atender as demandas sociais de maneira assertiva, alocando maiores recursos em áreas de maior demanda, garantindo, assim, a ordem pública e a boa utilização dos recursos públicos. Atividade de Aprendizagem Elabore um texto discorrendo acerca da importância da análise criminal para as ações de políticas de segurança pública, mencionando também acerca do papel desenvolvido pelo analista criminal. Aula 2 – A importância da análise criminal Apresentação da aula 2 Esta aula tem por objetivo avaliar a análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento, demonstrando como a maneira de fazer segurança pública vem mudando ao longo dos anos. 21 Desse modo, serão apresentados também os benefícios da realização focalizada das ações, buscando encontrar a verdadeira causa de um problema e a melhor solução para ele. No tocante às soluções para os problemas de segurança pública, será abordado o tema de alocação de recursos, que está diretamente ligado à análise criminal, visto que ela possibilita melhor alocação de recursos, permitindo que as ações ou políticas de segurança pública sejam realizadas de maneira a melhor utilizar as verbas públicas disponíveis. 2.1 Análise criminal e a nova perspectiva de policiamento Este tópico tem como objetivo demonstrar a importância da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento. Para isso, primeiramente, é necessário que se compreenda o que é segurança pública, qual a importância da polícia para a segurança pública, para então discorrer acerca da necessidade da utilização da análise criminal. 2.2 Dever do Estado de prestar segurança pública A segurança pública pode ser compreendida como um conjunto de medidas destinadas à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio por meio do aparelho policial, assim como de garantir os direitos individuais e coletivos previstos na Constituição Federal. Pode-se dizer que é condição indispensável para a manutenção da paz e da harmonia social. Tendo em vista as discussões a respeito do contrato social, da criação do Estado, é possível vislumbrar que a segurança pública é um dos pressupostos de origem do Estado. Isso porque é uma das razões pelas quais o povo entrega o poder na mão dos representantes. Ou seja, a partir do momento em que um Estado é instituído, ele passa a ser responsável pela segurança pública de seus governados, que nele depositaram o poder e a confiança, almejando que o Estado garantisse a convivência harmônica e pacífica entre os membros do povo. 22 Além disso, em termos nacionais, a Constituição Federal de 1988 prevê em seu texto a segurança pública como sendo dever do Estado. Observe: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO V DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS CAPÍTULO III DA SEGURANÇA PÚBLICA Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares A Constituição Federal, em seu artigo 5°, também prevê a segurança pública, não só como dever do Estado, mas direito fundamental dos cidadãos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país. De mesmo modo, no artigo 6° do mesmo Diploma Legal, estipula-se a segurança pública também como um direito social. Essas previsões legais demonstram que o Constituinte teve visível preocupação com a questão da segurança, objetivando, assim, garantir o princípio universal e fundamental da dignidade da pessoa humana, também previsto na Constituição Federal, em seu artigo 1°, inciso III. Resta então demonstrado aqui que garantir a segurança pública é um dever do Estado, visto que ela é um pressuposto de origem do Estado. Logo, 23 cabe ao Estado implantar mecanismos e investir em soluções que resolvam os problemas de segurança pública, sejam elas de prevenção ou de repressão. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Recomenda-se a leitura de O Contrato Social, escrito por Jean-Jacques Rousseau, em 1762. Nesta obra, o autor defende o policiamento e a manutenção da ordem como elementos pelos quais é possível unir o povo, criando, assim, o Estado. 2.3 A importância da polícia Tendo em vista a concepção do Estado para propiciar o bem comum, a paz e a segurança na vida das pessoas em sociedade, a figura da polícia acabou sendo uma consequência inseparável. Isso porque sua figura é, por extensão e essencialmente, símbolo de representação da segurança pública. Nas palavras de Bismael Moraes (1992), "a Polícia pode ser definida como a organização destinada a prevenir e reprimir delitos, garantindo assim a ordem pública, a liberdade e a segurança individual". Ademais, o mesmo autor também a define como "a prática de todos os meios de ordem de segurança e de tranquilidade pública. A polícia é um meio de conservação para a sociedade.". A polícia é a mais visível manifestação da presença do Estado entre os populares, devendo realizar seu trabalho de modo a estar sempre presente em todos os lugares, sendo comedida nas ações, zelando pelo progresso da sociedade e pela tranquilidade geral da nação. Com base nessas definições apresentadasacima, vislumbra-se que a polícia é um mecanismo imprescindível e necessário no tocante à segurança pública, pois será por meio dela que se desenvolverão as ações e políticas de repressão e prevenção ao crime. 24 2.4 Nova perspectiva de policiamento e a análise criminal A nova perspectiva de policiamento requer um exame detalhado de cada um dos problemas a serem abordados, tendo suas causas identificadas e levando em consideração a ampla possibilidade de fatores que possam intervir sobre as causas e, por fim, que a escolha da ação ou política a ser realizada seja baseada em uma relação de custo-benefício, objetivando sempre o alcance de resultados. Isso porque, o modelo atual de alocação eficiente de recursos públicos exige que seja reformulada a maneira com que se faz segurança pública. Afinal, cabe aos agentes de segurança pública analisarem o resultado que se espera de seu trabalho e o modo como podem cumprir suas obrigações profissionais, para poderem alcançar as expectativas. Há, portanto, uma mudança na lógica de gestão, tendo em vista que o objetivo principal não é mais apenas elucidar crimes já ocorridos, mas sim manter um ambiente harmônico, em que não ocorram crimes, transmitindo segurança à população como um todo. Essa mudança é percebida quando se observa que o objetivo principal passa a ser a prevenção de crimes e não apenas a repressão dos crimes e o pronto atendimento da vítima, desvinculando-se, assim, da crença de que mais segurança pública só podia ocorrer se fossem gastos mais recursos para a compra de armamento e contratação de efetivo. Um exemplo atual acerca da nova perspectiva de policiamento são as chamadas polícias comunitárias, que consistem basicamente na divisão da responsabilidade entre a polícia e o cidadão, cujo objetivo é delinear meios mais eficientes para o controle criminal, visando à prevenção, implantando, assim, políticas públicas de segurança. Cabe ressaltar que a polícia comunitária não se trata de assistencialismo policial e muito menos visa transformar a população em espiões informais da polícia. O que se procura com esse modelo é a aproximação com a população, bem como a participação social de forma a fazer com que esta obtenha um papel mais ativo no que tange à segurança pública. De acordo com o explanado, é visível aqui que o posicionamento e a maneira com que se busca segurança pública vem mudando ao longo dos anos. 25 Afinal, a lógica do policiamento tradicional era de que o trabalho policial era realizado apenas com fins de repressão, agindo apenas quando o crime já havia ocorrido, dando assistência à vítima, investigando para encontrar o autor e encaminhá-lo ao judiciário para punição. Todavia, o papel da polícia vem se modificando, tomando outras formas, agindo também de maneira preventiva, buscando garantir a segurança pública de outros modos além do tradicional. É nesse sentido que a análise criminal se faz importante e necessária, pois possibilita aos agentes de polícia e órgãos de segurança pública planejarem suas ações de maneira mais efetiva, visto que estarão de posse de dados que transmitem a real situação. A análise criminal permite que sejam encontrados os locais onde, estatisticamente, há maior incidência de crimes, quais as regiões que necessitam de maior atuação policial, quais são os tipos de crimes que ocorrem com maior frequência nestas regiões etc. Em posse dessas informações, os órgãos de segurança pública e justiça criminal podem planejar melhor o deslocamento de pessoal, as patrulhas a serem feitas, bem como encontrar soluções preventivas por meio de ações e/ou políticas de segurança pública. Também é por meio dos dados obtidos por intermédio da análise criminal que os órgãos de segurança pública e justiça criminal podem adequar o orçamento disponível, alocando recursos nos locais que mais necessitam, ao passo que podem optar por soluções mais efetivas, que maximizem os recursos públicos. Sendo assim, a análise criminal é um instrumento-chave para esta nova perspectiva de policiamento, tendo em vista que possui meios para coletar informações importantes, não só em matéria de repressão, mas também de prevenção e de melhor utilização de recursos. É por meio da análise criminal que as políticas e ações públicas poderão atingir maior eficiência, mesmo com a quantidade limitada de recursos públicos disponíveis. 2.5 Focalização das ações e o trabalho do analista criminal Neste tópico será abordada a importância da focalização das ações, ou seja, da pesquisa realizada de maneira direcionada para um problema 26 específico. Para isso, é necessário primeiramente explanar acerca da dinâmica do trabalho do analista criminal. 2.6 A dinâmica do trabalho do analista criminal Para fins de facilitar a compreensão, a dinâmica do trabalho do analista criminal pode ser dividida em quatro partes, são elas: a) Sistematizar e analisar os bancos de dados de segurança pública, visando sempre encontrar padrões de incidência; b) Encontrar padrões, submetê-los a uma análise mais aprofundada, tentando identificar suas causas; c) Identificar a melhor solução para intervenção nas causas, fazendo, assim, cessarem as ocorrências; d) Avaliar os impactos das intervenções. Caso não haja, reiniciar o processo. Desse modo, todas essas etapas devem ser cumpridas quando o analista recebe os dados coletados ou analisa dados provenientes de banco de dados de segurança pública. Conforme dito anteriormente, um bom analista é aquele que procura diversas fontes para realizar seu trabalho, não esquecendo de incluir nele também as fontes provenientes de instituições privadas realizadoras de pesquisa acerca da temática segurança pública e justiça criminal. 2.7 Focalização das ações É necessário entender que as quatro etapas acima comentadas só trarão resultados eficientes se realizadas em cima de um problema focalizado. Ou seja, devem ser direcionadas para um problema específico, não sendo então feitas em largo espectro. E, nesse sentido, dois pontos que serão abordados nos próximos tópicos merecem destaque. 27 2.7.1 Valorização de uma perspectiva local de ação Focalizar uma perspectiva local de ação faz com que a instituição da qual o analista faz parte seja bem informada, eficiente e capaz de utilizar seus recursos de modo a reduzir a criminalidade. Para que esta perspectiva seja colocada em prática, o analista deve conversar com os policiais para saber mais como eles desenvolvem seu trabalho, participar de maneira direta nas atividades realizadas pelos órgãos de segurança pública, manter relacionamento com empresas de segurança pública para trocarem informações, trabalhar em rede com analistas criminais de regiões vizinhas, realizar a coleta de informações diretamente com o agressor e a vítima, bem como contribuir para a criação de novos meios para aprimorar a coleta de informações. Ou seja, é importante que o analista criminal desempenhe seu trabalho de maneira dinâmica, sempre buscando pelo aprimoramento dos meios de coleta e processamento de dados, assim como não deixe de considerar outras fontes além das oficiais. Isso porque são fontes complementares, que auxiliam para que os resultados alcançados sejam mais próximos da realidade. 2.7.2 Focalização de tipos criminais específicos para intervenção Ao focalizar em tipos criminais específicos, o analista consegue especificar suas causas, os autores, a dinâmica de cada tipo penal, permitindo, assim, uma análise mais profunda do fenômeno da criminalidade. Quando a focalização não é realizada, ao analisar um tipo penal de categoria ampla, pode haver grande dificuldade de identificar suas causas. Por exemplo, o tipo penal do roubo, que pode ter diversas ramificações: roubos residenciais, comerciais,de carga, em instituições bancárias, em transporte coletivo. Cada uma dessas situações possui especificações e motivações diversas, não podendo ser reunidas em um único bloco de análise. De mesmo modo, pode ser citado o crime de homicídio, que também possui diversas especificações e motivações, assim como modus operandi, ficando difícil a análise quando não se leva em consideração tais características, separando-as em blocos diferentes para uma análise mais focada. 28 Portanto, partindo do princípio de que cada tipo penal possui causas particulares, é imprescindível que o analista as avalie separadamente, permitindo, assim, a melhor compreensão do fenômeno criminal estudado. Um exemplo que elucida a importância da focalização dos tipos criminais específicos são os crimes cometidos contra as mulheres. Fonte: http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR-2 018.pdf Com base no gráfico apresentado, foi possível verificar quais são os crimes mais praticados contra as mulheres, dividindo-os em grupos distintos como: lesão corporal dolosa, ameaça, estupro e crimes violentos letais intencionais. O objetivo dessa divisão é compreender o fenômeno de maneira mais completa, não estudando um grande grupo de crimes contra a mulher, mas sim cada um separadamente, compreendendo suas causas de maneira individualizada. A partir dessas informações, torna-se possível a elaboração de maneira mais assertiva de uma ação/repressão/política visando atingir maiores e melhores resultados. Também por meio dos dados apresentados é que podem ser encontradas as causas desses crimes, o perfil dos autores, das vítimas, permitindo a melhor compreensão do fenômeno da criminalidade. Pode-se, então, concluir que o trabalho do analista criminal deve ser sempre dinâmico e detalhado, buscando dividir as variáveis ao máximo, para que os resultados sejam específicos, não utilizando de generalidades. Afinal, 29 este método permitirá que o objeto de estudo seja focado, concentrado, e os resultados provenientes sejam condizentes com o que se busca. 2.8 Análise criminal x alocação de recursos Para Refletir Quais são as vantagens de realizar a análise criminal? Essa pergunta pode ser facilmente respondida quando analisamos pela perspectiva dos recursos financeiros e humanos disponíveis, visto que são finitos, devendo ser aproveitados da melhor maneira possível. Apresenta-se, aqui, um gráfico dos gastos públicos com segurança no Brasil entre os anos de 1996 a 2015. Custos econômicos da criminalidade no Brasil Fonte: Brasil, 2019. 30 Ao analisar o gráfico, é visível que os estados são os que mais despendem recursos para segurança pública. Também é possível verificar que os gastos vêm aumentando a cada ano, desde 2012, tendo o seu ápice no ano de 2015. Antes disso, os gastos oscilavam, ora aumentavam, ora diminuíam. Entretanto, o aumento dos gastos não refletiu na diminuição da criminalidade. Em razão da escassez de recursos e de suas limitações, é preciso repensar a maneira com que se planeja e executa projetos concernentes a políticas de segurança pública. Ou seja, não significa que apenas investir mais dinheiro/recursos em segurança pública irá reduzir as taxas de criminalidade, pois é necessário, primeiramente, investir com inteligência. É aí que o trabalho do analista criminal transmite sua importância. Isso porque, em virtude dos dados coletados e das análises realizadas, que o analista criminal irá transmitir seu parecer, apresentando às autoridades policiais qual poderia ser a melhor solução para determinado problema e a relação custo- benefício. A análise criminal, então, tem muito a contribuir para o melhor aproveitamento dos recursos, utilizando-os da melhor maneira possível, fazendo "mais com menos", pois coleta e sistematiza dados que traduzem a realidade acerca da criminalidade, podendo, assim, alocar recursos onde mais se fazem necessários. Conclui-se, com base em todo o explanado nesta aula, que o trabalho do analista criminal contribui muito para a segurança pública, não só porque busca soluções para os problemas enfrentados, como também apresenta opções de acordo com o melhor custo-benefício, utilizando melhor o dinheiro investido nesta área. Ademais, quando o analista desempenha seu papel com seriedade, buscando focar nas ações, separando ao máximo as variáveis, consegue resultados mais próximos possíveis da realidade, encontrando a raiz do problema e podendo vislumbrar assim uma solução para ele. Portanto, o profissional que se dedica a este estudo, embora não possua autoridade direta para tomar decisões, possui conhecimento específico para identificar quais as melhores medidas a serem tomadas, seus possíveis resultados, podendo apontar qual será a mais vantajosa. 31 É importante lembrar que nem sempre a solução que requeira menos recursos públicos é a melhor, pois não basta apenas economizar, mas sim usar de maneira inteligente o dinheiro público. Logo, quando há uma medida cujo gasto apresente perspectiva de maior eficiência, deve-se analisar se esta medida não deveria ser tomada, pensando não só na economia, mas também na otimização. Resumo da aula 2 Nesta aula foi tratada a importância da análise criminal como um todo. Primeiramente, discorreu-se sobre a relação da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento, em que foi necessário, primeiro, apresentar alguns conceitos. Foi realizada uma breve conceituação do que é segurança pública, porque ela é um dever do Estado e um direito, fundamental e social, de todos e qual a base legal para este entendimento. Também foi abordada a importância da polícia em matéria de segurança pública, sendo ela o instrumento que possibilita ao cidadão ver a presença atuante do Estado. Por fim, foi analisada a relação da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento, na qual se concluiu que a análise criminal desempenha papel-chave, sendo necessária para a execução desse novo modelo de policiamento, que foge do padrão tradicional, adicionando a prevenção de crimes como um de seus objetivos. Posteriormente, tratou-se da focalização das ações e da dinâmica do trabalho do analista criminal, pontuando as etapas necessárias para que o trabalho seja desempenhado de maneira correta, são elas: sistematizar e analisar os bancos de dados de segurança pública, visando sempre encontrar padrões de incidência; encontrar padrões, submetê-los à análise mais aprofundada, tentando identificar suas causas; identificar a melhor solução para intervenção nas causas, fazendo assim cessarem as ocorrências; avaliar os impactos das intervenções. 32 No tocante à focalização das ações, dois pontos foram destacados: valorização de uma perspectiva local de ação e focalização dos tipos criminais específicos para intervenção. Quanto à valorização de uma perspectiva local de ação, demonstrou-se que quanto mais o analista criminal se mantém atualizado sobre os dados em uma perspectiva local, mais informada estará sua instituição. Para que ele se mantenha atualizado, foi exposta a necessidade de dialogar com policiais, participar ativamente de atividades realizadas por órgãos de segurança pública e justiça criminal, manter diálogo com empresas de segurança pública para troca de informações, trabalhar em rede com analistas criminais de outras regiões, realizar a coleta de informações diretamente com o agressor e com a vítima, quando possível, e contribuir para a criação de novos meios que aprimorem o processo de coleta de informações. Já no que tange à focalização dos tipos criminais específicos, explanou- se a necessidade de o analista criminal analisar o fenômeno da criminalidade dividindo-o em grupos. Ou seja, não apenas o tipo penal em si, mas suasespecificidades, como no caso dos crimes cometidos contra as mulheres utilizado como exemplo. Por fim, foi comentado acerca da relação da análise criminal com a alocação de recursos, em que foi demonstrada a importância da análise criminal para melhor aproveitamento dos recursos públicos disponíveis, frisando que os dados coletados pelo analista auxiliam na elaboração do planejamento orçamentário e de recursos humanos. Atividade de Aprendizagem Discorra acerca da relação da análise criminal com o melhor aproveitamento dos recursos governamentais e como esta contribui para a otimização dos gastos públicos. 33 Aula 3 – Estatística Apresentação da aula 3 Esta aula apresenta um perfil mais técnico, segundo o qual serão abordados os princípios básicos da estatística, desde os conceitos utilizados na matéria até os diversos métodos, probabilísticos ou não probabilísticos, utilizados para a composição de uma amostra. Do mesmo modo, serão trabalhadas as vertentes básicas utilizadas para categorizar a análise criminal, dando ênfase à vertente de produção de conhecimento de segurança pública. Por fim, será dado início ao tópico de coleta de informações, discorrendo sobre a importância e quais são os meios pelos quais a coleta pode ser realizada. 3.1 Princípios básicos da estatística No presente tópico serão apresentados alguns conceitos importantes para trabalhar com estatística, pois aparecem bastante ao longo da realização do trabalho do analista criminal, sendo importante, então, a sua memorização. 3.1.1 Conceitos Em um primeiro momento, é preciso se familiarizar com alguns termos que serão utilizados no decorrer da discussão. População: conjunto de indivíduos ou objetos que apresentam ao menos uma característica em comum; Censo: coletânea de dados referentes a todos os elementos de uma população; Amostra: conjunto de dados relativos a apenas uma parte da população a qual representa, utilizado comumente para baratear os custos da pesquisa, em razão da impossibilidade de coletar 34 dados acerca de todos os indivíduos que compõem uma população, a depender do tamanho; Variável: conjunto de resultados possíveis de um fenômeno. Podem ser qualitativas ou quantitativas. As variáveis qualitativas são aquelas nas quais os valores são expressos por atributos, como: etnia, sexo etc. Já as variáveis quantitativas são aquelas cujo conjunto dos resultados possui uma estrutura numérica, podendo ser divididas em variáveis discretas ou contínuas. As variáveis discretas têm seus valores expressos por meio de números inteiros não negativos, ao passo que os valores das variáveis contínuas são resultados de uma mensuração, podendo assumir qualquer valor dentro do conjunto dos números reais; Estatística descritiva: são as técnicas utilizadas para resumir uma pesquisa e apresentar seus dados, de maneira descritiva; Estatística indutiva: é a estatística que, partindo de uma amostra, estabelece hipóteses, tira conclusões e formula previsões com base na teoria da probabilidade; Fenômeno estatístico: qualquer fenômeno que se pretenda realizar, de maneira que em seu estudo seja possível a aplicação do método estatístico. Se divide em três grupos: 1. Fenômenos de massa ou coletivos: aqueles que não podem ser definidos com uma simples observação. Por exemplo: taxa de natalidade do Estado do Paraná, o aumento do preço do feijão nos últimos quatro anos etc; 2. Fenômenos individuais: são os fenômenos que irão compor o fenômeno de massa. Por exemplo: cada nascimento ocorrido no Estado do Paraná, cada preço que o feijão foi vendido; 3. Fenômenos de multidão: são aqueles em que as características observadas para a massa não se verificam para o particular. 35 Dado estatístico: é um dado numérico considerado matéria-prima sobre a qual se aplicará o método estatístico. Todos esses conceitos e elementos são importantes, tanto para a realização de uma pesquisa estatística como para a interpretação dos dados por ela auferidos, podendo ser considerado o vocabulário-base necessário para se trabalhar com estatísticas. 3.2 Fases do método estatístico Para que se obtenha um resultado utilizando o método da análise estatística, é necessário que sejam seguidas algumas fases, sendo elas: Fonte: elaborado pelo autor, adaptado pelo DI (2019). Os dados primários são aqueles obtidos direto da fonte originária, cuja coleta deve ser executada de maneira estatisticamente correta, evitando, assim, que sejam coletados dados tendenciosos que possam afetar a pesquisa. Nesse caso, as principais formas de levantamento de dados são: entrevista pessoal, telefone ou questionários. As entrevistas pessoais possuem um alto custo de execução se comparadas à utilização do telefone. Porém, a pesquisa realizada por telefone 1ª fase • Definição do problema: ou seja, saber exatamente qual será o objeto da pesquisa; 2ª fase • Planejamento: definir quais fontes serão utilizadas e como será realizado o levantamento das informações (se censitário ou por amostragem), quais dados serão obtidos, qual será o cronograma e os custos para a realização da pesquisa; 3ª fase • Coleta de dados: é a fase operacional, na qual os registros serão sistematizados. Os dados coletados podem ser de dois tipos: primários ou secundários. 36 possui maior facilidade de recusa por parte do entrevistado, o que faz com que a pesquisa demore a ser concluída. Já os questionários podem ser muito demorados e ter sua média de participação muito baixa, mas é vantajoso, pois não há a influência do entrevistador no momento das respostas. Os dados secundários, por sua vez, são aqueles obtidos por meio de algo já disposto, e provém da coleta direta de dados. Fonte: elaborado pelo autor, adaptado pelo DI (2019). 3.3 Método probabilístico O método probabilístico é aquele que garante cientificamente a aplicação das técnicas de estatística de inferência, ou seja, aquela cujo objetivo é fazer afirmações a partir de um conjunto de valores representativos de um universo. Para sua utilização, exige-se que cada elemento da população possua determinada chance de ser selecionado. Por exemplo: sendo N uma população, cada membro terá 1/N chances de ser selecionado. 4ª fase •Apuração dos dados: é o momento em que os dados serão resumidos por meio de contagem e agrupamento, sendo condensados e tabulados. 5ª fase •Apresentação dos dados: existem duas formas de apresentação de dados: a forma tabular, que consiste em uma apresentação numérica dos dados em linhas e colunas ordenadas, segundo as normas do Conselho Nacional de Estatística; e a forma gráfica, que consiste em uma apresentação geométrica dos números, permitindo a visualização mais clara e rápida dos resultados. É importante esclarecer que estas formas de apresentação não se excluem mutuamente. 6ª fase •Análise e interpretação de dados: a última e mais importante fase, na qual haverá a realização de cálculos de medidas e coeficientes, cuja principal finalidade é descrever o fenômeno pesquisado (na estatística descritiva). Quando se tratar de estatística indutiva, a interpretação dos dados será feita com base na teoria da probabilidade. 37 Nos itens a seguir, serão apresentados os métodos probabilísticos utilizados para realizar a seleção dentro de uma amostragem, obtendo, assim, a amostra que será utilizada na pesquisa. 3.3.1 Amostragem casual ou aleatória simples É o processo que equivale a um sorteio lotérico e é o mais comumente utilizado. Uma das maneiras como se pode realizar esse tipo de amostragem é numerando a população de 1 a n, sorteando, então, por meio de dispositivo aleatório, x números dessa sequência. Estes números serão os elementospertencentes à amostra. Por exemplo: em um presídio existem 90 presos. Para obter uma amostra representativa, no valor de 10%, da altura dos presos, o cálculo deverá ser realizado da seguinte forma: a) Numerar os presos de 1 a 90; b) Escrever os números em papéis iguais e colocá-los em uma caixa. Após misturar o conteúdo, retirar, um a um, os 9 números que formarão a amostra. No exemplo, o número de elementos da amostra é pequeno, facilitando que se utilize o sistema da urna. Porém, se houver uma amostra muito grande, que torne inviável utilizar as urnas, deve-se, então, utilizar a Tabela de Números Aleatórios, que é um método constituído por uma tabela em que os números de 1 a 9 são distribuídos ao acaso em colunas e linhas. Segue aqui um modelo de Tabela de Números Aleatórios meramente para fins expositivos: 38 Tabela de Números Aleatórios Fonte: http://www.xn--concurseiroestatstico-87b.com/2016/11/tabela-de-numeros-aleatorios_21.html 3.3.2 Amostragem proporcional estratificada Há casos nos quais a população se divide em estratos, ou subpopulações, gerando, assim, a necessidade de que o sorteio dos elementos da amostra leve em consideração estes estratos. Quando se leva em consideração os estratos, os elementos obtidos da amostra serão proporcionais ao número dos elementos dos estratos. Por exemplo: em uma sala existem 90 pessoas, e 36 dessas pessoas são homens e 54 dessas pessoas são mulheres. Neste raciocínio, a tabela formada seria: Tabela 1 – exemplo SEXO POPULAÇÃO 10% AMOSTRA Feminino 54 5,4 5 Masculino 36 3,6 4 Total 90 9,0 9 Fonte: elaborado pelo autor (2019). Ao numerar as pessoas de 1 a 90, o resultado seria: 1 a 54 são mulheres e 55 a 90 são homens. O método de sorteio pode ser realizado tanto por meio do sistema de urna assim como por meio da Tabela de Números Aleatórios. http://www.concurseiroestatístico.com/2016/11/tabela-de-numeros-aleatorios_21.html 39 3.3.3 Amostragem sistemática Nas situações em que os elementos da população já se encontram ordenados, não há necessidade de construir o sistema de referência. Portanto, é possível realizar a seleção dos elementos da amostra por qualquer sistema à escolha do pesquisador. São os casos, por exemplo, das listas de chamada escolares, dos prédios de uma rua, da lista telefônica etc. Para melhor visualização, apresenta-se aqui um exemplo: suponhamos que haja uma lista telefônica com 600 nomes, dos quais deseja-se obter uma amostra de 30 nomes para uma pesquisa de opinião. Primeiramente, realiza-se o seguinte cálculo: 600/30= 20. Após, será feita a escolha de um número de 1 a 20, o qual irá determinar qual será o primeiro elemento sorteado para compor a amostra, sendo os demais periodicamente considerados de 20 em 20. Suponha-se que o número escolhido foi o número 5, então, a amostra seria: 5° nome, 25° nome, 45° nome e assim por diante, até alcançar o número final de nomes para a pesquisa, ou seja, 30 nomes. 3.3.4 Amostragem por conglomerados ou agrupamento Existem determinados casos em que ou população não permite que sejam identificados todos os seus elementos ou esta identificação é extremamente difícil de ser feita. Porém, é possível que sejam identificados alguns dos subgrupos da população. Nestes casos, pode ser colhida uma amostra aleatória simples destes subgrupos, e então uma contagem completa deve ser feita para os conglomerados sorteados. Alguns exemplos de conglomerados típicos: famílias, quarteirões, agências, edifícios etc. Para exemplificar: para realizar o levantamento populacional em determinado bairro, utilizando o mapa, é possível observar cada quarteirão do bairro, mas não há relação atualizada dos moradores. Nesse caso, é possível colher a amostra dos quarteirões e fazer uma contagem completa de todos aqueles que residem nos quarteirões selecionados. 40 3.4 Métodos não probabilísticos Ao contrário dos métodos probabilísticos, os métodos não probabilísticos não garantem a representatividade da população, visto que não há a possibilidade de generalizar os resultados. Isso porque são amostragens em que há uma escolha deliberada dos elementos da amostra. 3.4.1 Amostragem acidental São amostras formadas por elementos que vão aparecendo ao longo da pesquisa, podendo ser obtidos até que seja completado o número da amostra. Este tipo de amostragem é comumente utilizada nas pesquisas de opinião, em que os entrevistados são escolhidos acidentalmente, como é o caso de pesquisas realizadas nas ruas, praças, portas de shopping ou lojas etc. 3.4.2 Amostragem intencional São as amostragens em que são escolhidos intencionalmente os elementos que irão compor a amostra, com base em determinado critério. O pesquisador irá entrevistar diretamente os elementos dos quais ele deseja saber a opinião. Por exemplo: uma pesquisa que almeja saber a preferência por determinada marca de farinha. Nesse caso, o pesquisador irá até as maiores panificadoras da localidade para perguntar a opinião dos padeiros. 3.4.3 Amostragem por quotas Este é um dos métodos mais utilizados na realização de pesquisas de mercado e em pesquisas eleitorais e deve ser realizado em três fases: 1. Classificar a população em relação a propriedades que são, ou se presume que são, importantes para a característica do objeto do estudo; 2. Então, será determinada a proporção da população para cada característica, baseando-se na constituição presumida, conhecida ou estimada da população; 41 3. Por fim, fixar quotas para cada entrevistador que irá selecionar os entrevistados, de tal modo que a amostra contenha a proporção determinada na fase anterior. Por exemplo: uma pesquisa tem como objetivo determinar a aceitação de determinado produto cosmético de uso exclusivo feminino. Há interesse em considerar também a faixa etária, a renda, a atividade profissional etc. Antes de tudo, é necessário descobrir a porcentagem das características na população. Suponhamos então uma população composta por 44% de homens e 56% de mulheres, em que uma amostra de 50 pessoas irá conter 22 homens e 28 mulheres. Nesse caso, o entrevistador irá receber uma quota para entrevistar 28 mulheres. A consideração de várias categorias exigirá uma amostra que atenda ao nº determinado e às proporções populacionais estipuladas. 3.5 Vertentes básicas Neste tópico serão trabalhadas as vertentes básicas utilizadas para categorizar a análise criminal. Estas vertentes são focadas na produção de conhecimento de segurança pública, razão pela qual este tópico será tratado em separado. 3.5.1 Vertentes da produção de conhecimento de segurança pública São três as grandes vertentes básicas de produção de conhecimento voltadas à segurança pública, as quais serão apresentadas separadamente para melhor compreensão e visualização. 3.5.2 Análise criminal estratégica É a analise criminal de produção de conhecimento voltada para estudos acerca dos fenômenos criminais e suas influências a longo prazo, tendo como principal objetivo identificar tendências da criminalidade. 42 É focada em formular políticas públicas, produzir conhecimento com intuito de reduzir a criminalidade, realizar o planejamento e desenvolvimento de soluções para a criminalidade, realizar interação com outras secretarias para o trabalho de construção de políticas de segurança pública, direcionar investimentos de maneira assertiva, formulando também o plano orçamentário, controlar e acompanhar as ações e projetos, assim como formular relatório de desempenho. 3.5.3 Análise criminal tática Produz conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos criminais e suas influências a médio prazo. Seu objetivo principal é trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais,fornecendo subsídios para os operadores de segurança que realizam seu trabalho diretamente "nas ruas". Portanto, o conhecimento por ela produzido é utilizado pelas polícias ostensiva e investigativa, de modo que o conhecimento serve para orientar as atividades do policiamento ostensivo, tanto repressivas quanto preventivas, como também conferir subsídios para a polícia investigativa, objetivando identificar autoria e materialidade dos crimes ocorridos. 3.5.4 Análise criminal administrativa É a atividade de produção de conhecimento voltada para o público-alvo, isto é, tem o objetivo de selecionar e divulgar informações sobre a temática da criminalidade, trabalhando com as estatísticas criminais de maneira descritiva. O foco deste tipo de análise é fornecer informações para diversos públicos, sejam eles a população, gestores públicos, organizações não governamentais, organismos internacionais. Do mesmo modo, elabora estatísticas descritivas e informações gerais sobre tendências criminais, assim como compara os resultados com dados dos anos anteriores e com outras cidades similares. 43 3.5.5 Coleta de informações O trabalho de coleta de informações é muito importante, pois é a base do trabalho do analista criminal, trazendo até ele as informações necessárias para que seja possível alcançar uma conclusão acerca de determinado assunto. Em razão da importância da coleta de dados para o trabalho do analista criminal, é necessário sempre verificar se as fontes são confiáveis, se a pesquisa foi realizada de maneira correta e adequada. Na próxima aula serão comentados sobre os métodos de abordagem que podem ser utilizados para a melhor coleta de informações. 3.6 Tipos de coleta de dados A coleta de dados é a fase operacional em que há o registro sistemático dos dados e pode ser realizada de diversas maneiras. a) Coleta direta: quando as informações são obtidas diretamente da fonte. Por exemplo: uma empresa deseja saber a preferência dos consumidores por seus produtos; b) Coleta contínua: as informações nunca deixam de ser coletadas, ou seja, os bancos de dados são sempre abastecidos. Por exemplo: registros de nascimento, óbito, casamento; c) Coleta periódica: é aquela cujas informações são coletadas de maneira periódica, de tempos em tempos, como é o caso do recenseamento demográfico; d) Coleta ocasional: é realizada em situações específicas; e) Coleta indireta: é feita por meio de deduções com base nas informações obtidas na coleta direta, seja por analogia, avaliação, indícios ou proporção. Os dados obtidos na coleta de informações podem ser primários ou secundários, sendo que os dados primários são aqueles obtidos pela própria pessoa ou organização que os recolheu, ao passo que os dados secundários são aqueles publicados por outra organização. Com base no exposto nesta aula, é possível concluir que a estatística é a base da análise criminal, pois é por meio dela que o analista criminal pode 44 sistematizar os dados coletados e transformá-los em informações úteis para os órgãos de segurança pública. Para que a análise estatística seja realizada de maneira correta, primeiramente os dados nela utilizados devem ser coletados de maneira que não sejam manipulados, distorcidos ou influenciados. Assim como os métodos para definição da amostra se mostram importantíssimos, pois eles irão determinar se aquela amostra pode ou não representar a população como um todo, ou seja, se podem ser generalizados. Isso porque a escolha do método, se probabilístico ou não, tem influência direta, visto que um se trata de probabilidade e o outro de dedução. Quanto à categorização da análise criminal, não há dúvidas de que cada vertente possui diferente função e importância, tendo em vista que uma obtém resultados a longo, outra a médio e a outra a curto prazo, possibilitando, assim, que a pesquisa seja feita de forma geral, abrangendo tanto necessidades imediatas como futuras. Logo, o objetivo da presente aula foi demonstrar que a análise criminal está intimamente ligada à matemática e à estatística, sendo estes os instrumentos-base para sua realização e que, por essa razão, devem ser entendidos, estudados e aprimorados sempre que possível. Resumo da aula 3 Nesta aula foram apresentados os princípios básicos da estatística, desenvolvendo alguns conceitos básicos necessários para trabalhar nesta área, dentre eles: população, amostra, censo, variável, estatística descritiva, estatística indutiva, fenômeno estatístico, em suas variações e dado estatístico. Da mesma forma, foram apresentadas as fases do método estatístico, que consistem em: definição do problema, ou seja, saber exatamente qual será o objeto da pesquisa; planejamento, visando definir quais fontes serão utilizadas, como será realizado o levantamento das informações (se censitário ou por amostragem), quais dados serão obtidos, qual será o cronograma e os custos para a realização da pesquisa; coleta de dados, a fase operacional, na qual os registros serão sistematizados; apuração dos dados, momento em que os dados serão resumidos por meio de contagem e agrupamento, sendo condensados e 45 tabulados; apresentação dos dados, seja de forma tabular, que consiste em uma apresentação numérica dos dados em linhas e colunas ordenadas, ou de forma gráfica, que consiste em uma apresentação geométrica dos números; análise e interpretação de dados: realização de cálculos de medidas e coeficientes, cuja principal finalidade é descrever o fenômeno pesquisado. Posteriormente, foi explicado acerca dos métodos probabilísticos, os quais garantem cientificamente a aplicação das técnicas estatísticas, cujo objetivo é fazer afirmações tendo como base um conjunto de valores representativos de um universo. Para que possam ser utilizados, é exigido que cada elemento tenha uma chance de ser selecionado. No mesmo tópico, foram explicados e exemplificados os seguintes métodos probabilísticos: amostragem aleatória simples, amostragem casual, amostragem sistemática e amostragem por agrupamentos. Posteriormente, foi ampliado o estudo acerca dos métodos não probabilísticos, no qual as escolhas dos elementos da amostra são feitas de maneira deliberada. Os métodos que podem ser utilizados, que foram exemplificados em tópicos separados, são: amostragem acidental, amostragem intencional e amostragem por quotas. Trabalhou-se, então, com as vertentes básicas, com foco nas vertentes de produção de conhecimento de segurança pública, descrevendo as categorias de análise criminal estratégica, tática e administrativa, apresentando seus objetivos e meios de utilização. Ao final, iniciou-se o tópico de coleta de informações, discorrendo sobre a importância da coleta de dados para análise criminal, visto que é o principal instrumento para o analista realizar seu trabalho, bem como os tipos de coleta que podem ser realizadas (direta, indireta, contínua, periódica e ocasional). Este último tópico levará à próxima aula, na qual serão abordados os métodos de abordagem, a construção de um bom questionário e suas características, assim como será desenvolvido o tópico de fontes de dados de informações de segurança pública. 46 Atividade de Aprendizagem Com base no conteúdo apresentado, diferencie as vertentes de produção de conhecimento de segurança pública, explicando a utilidade de cada uma, fornecendo exemplos. Aula 4 – Instrumentos para realização da análise criminal Apresentação da aula 4 A presente aula tem como objetivo apresentar os métodos de abordagem para coleta de informações, bem como transmitir a melhor maneira para construir um bom questionário. Será abordado também acerca das fontes de dados de informação de segurança pública, referenciando onde podem ser encontradas, quais são