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1 Bibliografia: aula da fofinha Solange Síndrome nefrótica vs. síndrome nefrítica • Síndrome nefrótica: proteinúria, edema, hipoproteinemia, hiperlipidemia. A principal etiologia é a Síndrome Nefrótica por Lesões Histológicas Mínimas (SNLHM). • Síndrome nefrítica: edema, hematúria, HAS. A principal etiologia é a glomerulonefrite difusa aguda (GNDA). Se tiver lesões histológicas mínimas, fique tranquilo, pois o paciente vai ter boa evolução. Diante de síndrome nefrítica, se conseguirmos encaixar o paciente em GNDA pós infecciosa, também é tranquilo, pois evolui bem. O difícil é quando tem características de ambas as síndromes ou quando o paciente não evolui conforme o esperado. Então, estamos diante de outra glomerulopatia, em que só é possível ter diagnóstico com biópsia renal. Geralmente vão para glomerulonefrite crônica e doença renal crônica. Glomerulopatias primárias vs. secundárias • Primárias: afetam o glomérulo primariamente. o Síndrome nefrótica por lesão histológica mínima. o Glomerulonefrite membranosa, glomerulosclerose segmentar focal (GESF), glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP; características de nefrite e nefrose). • Secundárias: ocorre por uma doença sistêmica, que leva a uma lesão glomerular. o Nefropatia diabética o Nefropatia lúpica o Câncer (pulmão, cólon, estômago, mama) A síndrome nefrótica pode funcionar como uma síndrome paraneoplásica. Portanto, quando presente em adultos, temos a obrigação de buscar câncer. o Toxicidade por drogas o Infecciosas e parasitárias (endocardite bacteriana, hepatite C, hepatite B, HIV, esquistossomose, sífilis, malária). Síndrome nefrótica por lesões histológicas mínimas • 90% das crianças com síndrome nefrótica tem como causa a por lesão histológica mínima. Atinge mais crianças pequenas, a partir de 7 anos até adolescentes. Não é comum abaixo de 2 anos de idade. Procurou-se muito a causa dessa síndrome por lesão mínima. Na verdade, ainda hoje é pesquisada, mas não se encontra uma causa específica. Viu-se que era mais comum após um evento, como picada de inseto ou em atópicos. No final das contas, não tem causa específica, alguns acham que é distúrbio do sistema imunológico. Percebe-se que em todas essas glomerulopatias, iremos falar sempre sobre o sistema imunológico. Etiopatogenia 1. Mecanismo da proteinúria: aumento da permeabilidade da membrana basal glomerular. A membrana basal glomerular tem podócitos e fenestrações. Elas servem como barreira, principalmente barreira de tamanho, pois só passam determinadas moléculas dependendo do tamanho. Também funciona como barreira eletrostática – vai depender da carga para passar. Na síndrome nefrótica, vai haver um desarranjo estrutural. Os complexos antígeno-anticorpo se depositam na membrana basal glomerular, fazendo desarranjo mecânico. Abrem-se poros e altera a carga da 2 membrana, então passa o que normalmente não passa, como as proteínas e, em especial, a albumina. A partir disso, começa todo o problema. 2. Mecanismo da hipoalbuminemia • Perdas proteicas urinárias • Perdas proteicas digestivas • Diminuição relativa da síntese hepática • Deficiente ingestão proteica • Aumento do catabolismo a nível tubular. O paciente perde proteínas na urina, então vai ter uma baixa de proteína no sangue, em especial, uma hipoalbuminemia. Isso realmente baixa a albumina no sangue. No entanto, alguns autores perceberam que os pacientes tinham uma albumina muito baixa, que não correspondia à albuminúria. Assim, foi visto que também há perda proteica digestiva, além da urinária. O fígado tenta aumentar as proteínas, mas não consegue, embora ele faça subir as lipoproteínas. Viu-se que as crianças, geralmente, já tinham deficiência da ingestão proteica. Isso também contribui. Depois, foram ver que também havia um aumento muito grande do catabolismo das proteínas a nível tubular. Elas vão sendo degradadas, contribuindo para a hipoalbuminemia. 3. Mecanismo do edema É um mecanismo simples, da hipovolemia. Foi visto que há um aumento da permeabilidade da membrana basal glomerular (MBG), causando albuminúria e hipoalbuminemia. Esta última tem outros fatores que interferem, além da albuminúria. A albumina é responsável pela pressão oncótica do plasma, então vai haver uma redução dessa pressão, com saída de líquido do plasma para o interstício. Apenas isso já leva ao edema. Ademais, o paciente com síndrome nefrótica também é hipovolêmico. Isso estimula SRAA, levando à retenção de sódio e água e aumentando ainda mais o edema. 4. Mecanismo da hiperlipidemia e lipoidúria • Aumento da síntese hepática das lipoproteínas • Inibição da utilização periférica • Variação com a hipoalbumineamia • Lipoidúria (aumento da permeabilidade da MBG) O fígado, na tentativa de aumentar a albumina, também vai aumentar a síntese hepática das lipoproteínas, principalmente colesterol. Além disso, há uma inibição das lipoproteínas a nível periférico. Correlaciona-se com a hipoalbuminemia. Quanto mais baixa a albumina, mais alto o colesterol. A lipoidúria (aumento dos lipídios), vai na mesma causa da proteinúria, com aumento da permeabilidade da MBG. Quadro clínico • Atitude: o paciente fica muito quieto, ele está muito edemaciado. A condição de anasarca vai fazer com que ele fique com medo do que está ocorrendo com o seu corpo. • Urina espumosa: parece que botou sabão em pó no banheiro e fez xixi. É por conta da proteinúria. • Edema: começa devagar. Primeiramente na face. Ele amanhece o dia com a face edemaciada e, no 3 decorrer do dia, chega em MMII. Rapidamente chega em anasarca. O edema renal é completamente diferente, pois ele forma rapidamente, então o sinal de cacifo é muito positivo – vai lá embaixo e demora a voltar ao normal. É um edema mole, frouxo. Do edema de face para anasarca, há uma evolução de cerca de uma semana. • Derrame pleural: o edema invade muitas serosas, causando derrame pleural, podendo confundir com pneumonia. • Líquido em bolsas escrotais ou vulva: o edema de região genital assusta muito – aumento da bolsa escrotal e do pênis. Na menina, há um edema de genitais, de púbis, de pequenos e grandes lábios. • Aumento do volume do pênis • Pele seca e cabelos quebradiços: por conta de hipoproteinemia. • Pressão arterial: pode estar baixinha ou normal, por causa da ativação do SRAA. Se a pressão estiver alta em paciente com síndrome nefrótica por lesão mínima, pode não ser essa etiologia, porque não é normal subir a pressão. • Desnutrição: são pacientes desnutridos, por causa da perda de proteína. • Aspecto cushingoide: pode ter ou não. Lembrar que o tratamento é com corticoide. • Tendência para infecções (sinusopatias, broncopneumonias, celulites, peritonites e septicemias). É um paciente que tem tendência muito grande para infecções. Ele faz septicemia muito rápido, portanto, em uma simples gripe, tem que entrar com antibiótico. → O antibiótico precoce deve ser utilizado em paciente com síndrome nefrótica, a fim de evitar septicemia. Quadro laboratorial • Sumário de urina: proteinúria, lipoidúria, cilindros hialinos, aspecto espumoso, coloração mais amarelada do que o normal, hematúria discreta / microscópica. • Proteinúria de 24 horas: mensura a quantidade de proteínas. Para confirmar que é síndrome nefrótica por lesão mínima, tem que ter mais que 3,5 gramas de proteína nas 24 horas. • Eletroforese de proteínas o Diminuição da albumina o Aumento da alfa 2: aumento relativo, porque ela não passa, por conta do aumento da molécula o Diminuição da IgG o Aumento da IgM: mesmo mecanismo da alfa 2. • Colesterol: aumentado (400, 500 ou até 1000), independe de dieta e não é genético; quando trata, o colesterol volta ao normal. • Complementosérico: fica normal. • Ureia e creatinina: discretamente elevadas nos primeiros dias, quando o paciente está muito edemaciado e está urinando menos. Tratamento 1. Medidas gerais • Relacionamento familiar: bom relacionamento, dá a única cadeira do consultório para a criança sentar toda fofinha, igual à prof. Falar que o tratamento é longo e que nem sempre vai melhorar rapidamente. • Repouso: é autolimitado, no começo, a criança fica quietinha mesmo. Quando ela começa a melhorar, sai da cama, corre, ela já fica melhor. Pode deixar. • Dieta: não tem dieta extraordinária, faz apenas dieta hipossódica e o mais normal possível. Não adianta dar mais proteína, porque ela vai saindo. Então, é normoproteica. Antigamente, fazia dieta assódica – arroz doce com doce. Isso já não existe mais. 2. Tratamento medicamentoso • Antibióticos: em toda suspeita de infecção ou na presença de qualquer fator que predispõe infecção. O que mata não é a síndrome, são as infecções. Ex.: penicilina, cefalosporina etc. • Corticoide: pode fazer prednisona ou prednisolona. Normalmente, usa prednisona 1 a 2 mg por kg/dia. Por exemplo, criança pesando 20 kg, usa dois comprimidos de 20 mg (2 mg/kg/dia). Dá de uma vez só, geralmente pela manhã. Na dose máxima, passa por 30 dias. Então consegue, daí em diante, ir diminuindo. o Remissão: usa a proteinúria como parâmetro. São três dias consecutivos sem proteinúria no sumário de urina. o Recidiva: Três dias consecutivos com proteinúria no sumário de urina o Recidiva frequente: duas ou mais recidivas em 6 meses. 4 o Corticoresistência: não responde ao corticoide em um prazo de 30 dias. o Corticosensibilidade: responde ao corticoide em um prazo de 30 dias. • Pulsoterapia (metilprednisolona ou ciclofosfamida): faz se demorar muito para responder nesses 30 dias. Faz com metilprednisolona (1-1,5g, independente do peso), por 3 a 5 dias. Nesse tempo, suspende corticoide oral, depois volta a fazer. • Citostáticos (ciclofosfamida – 2,5 mg/kg / Clorambucil – 0,2 – 0,3 mg/kg / Ciclosporina A) o Nas outras que não respondem, pode fazer pulso com ciclofosfamida, uma vez no mês. Depois de 30 dias, diminui corticoide. Não vai passar muito tempo com dose máxima. Tem que ter paciência. Quem não tiver paciência, não se meta, encaminha para especialista. Se está em 40 mg, diminui para 30 mg. O tempo de uma redução para outra dose pode ser: 5-5, 7-7 ou 10- 10 dias. A professora diminui de 10 em 10. Se o paciente é corticoresistente ou tem recidiva frequente, pode não ser síndrome nefrótica por lesão mínima, pode ter clones dessa síndrome, como glomeruloesclerose segmentar focal. Não evolui como o esperado, é corticoresistente. Pode ter recidiva se o paciente tiver infecção. Se a recidiva for frequente, já fica de olho, não é comum isso ocorrer. • Diuréticos: lembrar que o paciente é hipovolêmico, então não pode dar muito diurético de uma vez. o Hidroclorotiazida (2 a 4 mg/kg/dia) o Furosemida (2 a 4 mg/kg/dia): pode usar só ela ou associada com espironolactona. o Espironolactona (5 mg/kg/dia) • Albumina humana: pode fazer junto com o diurético, se tiver muito edemaciado. É difícil de achar, porque é caro. • Plasma: tem muita albumina, então pode fazer. 10 ml por kg. Depois que faz albumina, pode usar diurético em dose alta enquanto estiver com o efeito dela. Com 8 horas faz de novo. Faz uns 3 dias de albumina, ele desincha que é uma beleza e nem morreu. Se resolver fazer furosemida sozinho em dose alta, ele morre em choque hipovolêmico. 3. Coisas novas • Inibidores da ECA: pode fazer, mesmo que a pressão esteja baixa, porque faz em dose baixa. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) atuam sobre a hemodinâmica renal, reduzindo a resistência pós-renal, antagonizando as ações intra-renais da angiotensina II e reduzindo a proteinúria. • Antilipêmicos: usa quando o colesterol está muito elevado. Indicações para biópsia renal Existe uma restrição inicial, porque é um procedimento com riscos, o paciente pode complicar. Portanto, está indicada nos seguintes contextos: • Pacientes corticoresistentes • Pacientes com recidiva frequente • Complemento baixo Alguns serviços biopsiam paciente com síndrome nefrótica com lesão mínima só para confirmar. Prognóstico • Critério de cura: após 5 anos de acompanhamento. Avalia de 6 em 6 meses, Processo de desmame de corticoide ✓ Reduz para 40 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 30 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 25 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 20 mg. Nesse caso, dá um tempo maior, de 30 dias. Começa a reduzir, agora, de forma mais lenta. ✓ Reduz para 17,5 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 15 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 12,5 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 10 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 7,5 mg por 10 dias; ✓ Reduz para 5 mg* ✓ Reduz para 2,5 mg e suspende. Obs.: Quando chega em 15 mg, há uma alternativa, que é fazer dose dobrada dia sim dia não (30 mg e 15 mg). Acha-se que, com esse tratamento em dias alternados, o paciente tem menos efeitos colaterais. Segue assim com as doses que vierem em diante. *Quando chega em 5 mg, que seria 10 mg alternados, dia sim dia não, aí passa mais tempo. Na ausência de recidiva e corticoresistência, faz por 6 meses, reduz para 2,5 mg e suspende. Caso contrário, faz tratamento em dose baixa por 1 ano. 5 depois de ano em ano. Com 5 anos de suspensão de corticoide, dá alta. • Risco de infecções: é o que mata. • SNLHM não evolui para DRC (doença renal crônica). Nefropatia diabética Patologia muito importante porque o rim também sofre com o DM, pois é sistêmica. É uma nefropatia de pequenos vasos, porque é o que tem no glomérulo. Geralmente, ocorre junto com retinopatia, que também é de pequenos vasos. • DM tipo 1: 35% (principal causa de morte neste grupo); infanto-juvenil. • DM tipo 2: prevalência varia de 10 a 40% (principal causa é a doença cardiovascular). A ND é a principal causa de ingresso de terapia renal substitutiva (diálise) nos países desenvolvidos: 40% EUA e 25% Brasil. Estágios da ND Usa as características que o paciente está apresentando, o tempo de DM e as alterações estruturais nos glomérulos. A hiperfiltração renal se refere ao aumento da taxa de filtração glomerular (TFG), então o paciente passa a urinar mais. É um paciente com poliúria, mictúria (urina muito à noite, mais do que de dia). A doença em estágio II é silenciosa, só descobre com microalbuminúria. Esta última é feita em urina de 24h, percebendo que o rim já está eliminando proteína e não aparece no sumário de urina. Somente após exercícios. Já o estágio III independe de exercícios. O estágio IV já é a nefropatia clínica, pois já tem macroalbuminúria, que aparece no sumário de urina. Ou seja, os glomérulos já estão parando de funcionar. O estágio V, por sua vez, é terminal (para os rins, não para o paciente). Dessa forma, instala-se uma doença renal crônica. O paciente já vai para a diálise. Fatores de risco para nefropatia diabética • Fatores genéticos: apenas uma proporção dos pacientes é afetada, relaciona muito com HAS dos pais do paciente. • Não genéticos: hiperglicemia e HAS. São fatores de risco estabelecidos. Se não controlar, faz diálise. • Outros (fatores de risco menos estabelecidos): hiperfiltração glomerular, fumo, dislipidemia, retinopatia diabética, excreção urinária de albumina, ingestão proteica. A correção desses fatores de risco não genéticos pode diminuir a incidência de casos novos, bem como retardar a evolução da doença em pacientes com nefropatia estabelecida, interferindo na progressão da ND. Se chegar só com proteinúria, sem disfunção renal, pode ir melhorando com a retirada dos fatores de risco. É importante monitorar a glicemia por meio do exame da hemoglobinaglicada. Estudos prospectivos confirmam que a HAS é um fator de risco importante para o desenvolvimento da ND e também o fator promotor de progressão mais relevante. Apesar de ser de difícil controle, os benefícios obtidos são grandes. Para a preservação da função renal e aumento de sobrevida dos pacientes, a meta é que a pressão arterial se encontre em 120 x 70 mmHg. As drogas nefroprotetoras específicas que podem ser usadas para esse controle são: inibidores da ECA e antagonistas da angiotensina II. Intervenções recomendadas para retardar a progressão da ND • Controle glicêmico rigoroso, através de dieta, medicação oral ou insulina. • Tirar carne vermelha, pois a dieta tem que ser hipoproteica. • Suspender fumo. Prognóstico Em fases iniciais da nefropatia, o controle glicêmico efetivo e da HAS retardam ou até evitam a progressão da doença. O tratamento da nefropatia, após instalada a proteinúria, ainda é muito restrito, com resultados ruins e progressão inevitável para a DRC. Em fases avançadas, o prognóstico é muito ruim, com mortalidade muito elevada.
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