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Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Nefropatia diabética Vale apenas lembrar os critérios do diabetes mellitus: glicemia acima de 126, teste de tolerância oral a glicose maior do que 200, ou uma hemoglobina glicada acima de 6%. Ou se o paciente tem sintomas clássicos de hiperglicemia associada a medida isolada de glicose acima de 200. A hiperglicemia é o principal fator responsável pela sinalização inflamatória que vai levar a lesão glomerular, acúmulo de matriz extracelular, espessamento de membrana basal e esclerose glomerular. Essa hiperglicemia vai agir de diversas maneiras: por glicosilação não enzimática, vias de poliol e da fosfoquinase C. Existe ainda uma via hemodinâmica, que hoje já se sabe que a hiperglicemia também é responsável por essa via. Acaba levando a ativação do sistema renina angiotensina, com vasoconstrição de arteríola eferente e vasodilatação da arteríola aferente, que também vai aumentar essas sinalizações inflamatórias levando ao mesmo processo de doença renal do diabetes. O Diabetes no Brasil é a segunda causa de doença renal crônica terminal em hemodiálise ela já vem caminhando para se tornar a primeira causa No resto do mundo o Diabetes já é a primeira causa de doença renal terminal Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A nefropatia diabética, principalmente no diabetes do tipo 1, tem uma evolução muito bem conhecida. Tem a fase onde o paciente tem o diagnóstico do diabetes e vai começar a ter o hiperfluxo renal, entendendo a ter uma taxa de filtração glomerular maior. Esse hiperfluxo leva a sinalização daquelas vias de lesão de fibrose e esclerose glomerular. Nessa fase inicial ele também não tem proteinúria e após 5 a 10 anos começa a ter uma queda de taxa de filtração glomerular, voltando aos níveis basais, que a gente chamava de nefropatia diabética incipiente, e uma albuminúria entre 30 e 300 que é uma albuminúria A2. - A partir de 15 anos, temos uma nefropatia diabética bem estabelecida onde temos o aumento da albuminúria, com queda da taxa de filtração glomerular e evolução para uma doença renal crônica. Tudo isso é Reflexo da lesão glomerular com expansão de matriz mesangial com esclerose glomerular e fibrose túbulo-intersticial. No primeiro caso, temos um glomérulo normal. Do lado, tem uma expansão da matriz mesangial essa expansão vai se tornando nodular, muito comum em nefropatia diabética. E no final um glomérulo já quase todo esclerosado. O que chamamos de nefropatia diabética hoje em dia é basicamente os pacientes com diabetes do tipo 1 que desenvolvem albuminúria associado com retinopatia diabética e tem ainda os sintomas clássicos de glomerulopatia associados ao diabetes que seria essa albuminuria progressiva, que pode evoluir com síndrome nefrótica Boa parte dos pacientes com diabetes não tem evolução, principalmente os diabetes tipo 2. Temos um percentual bem grande em alguns estudos de pacientes que evoluem com disfunção renal, mas não apresentam nem retinopatia nem albuminúria. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A tendência não é mais chamada de nefropatia diabética, restringindo o caso o quadro clássico associado ao diabetes tipo 1. Estamos a chamar de doença renal do diabetes que envolve dois tipos de pacientes. Para dar o diagnóstico da doença renal do diabetes vamos ter pacientes de diabetes tipo 1 ou tipo 2 que pode ou não ter albuminúria e ou queda na taxa de filtração glomerular. Não necessariamente ele terá albuminúria mas se ele tiver um clearence menor do que 60 + diabetes tipo 1 ou tipo 2 ele já pode ser chamada de doente renal do diabetes A evolução da doença renal do diabetes é comum com a doença renal crônica. Vamos ter um paciente de risco, no caso estamos falando do paciente com diagnóstico de diabetes mellitus, onde teremos sempre que fazer o rastreio para doença renal crônica e tentar usar medidas para reduzir o risco de progressão para uma lesão bem estabelecida. Conhecendo os pacientes de risco podemos fazer o rastreio para dar o diagnóstico no tempo correto tratar as comorbidades e reduzir a progressão da doença. Com a evolução da queda da taxa de filtração glomerular ou falência renal, vamos tratar complicações da doença renal crônica preparando esse paciente para terapia renal substitutiva e em caso de falência renal, fazer diálise e o transplante. Esse rastreio deve ser anual. Diabetes do tipo 1 podemos começar esse rastreio depois de 5 anos o diagnóstico pois ele não faz lesão renal evidente nos primeiros anos. Ele vai ter um aumento de hiperfluxo, mas não vai ter albuminúria nem queda da taxa de filtração glomerular. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A doença renal do diabetes já pode estar diagnosticada juntamente com um diagnóstico do diabetes do tipo 2 pois ele pode já ter essa doença desde a época de que ele era pré- diabético. Geralmente têm associação com retinopatia diabética, mas essa associação só não é tão forte no diabetes do tipo 1. Cilindros hemáticos e a hematúria dismórficas NÃO são comuns na doença renal do diabetes procurar etiologia as alternativas. Não precisa de biópsia para dizer que o paciente com diabetes tem doença renal do diabetes. A biópsia vai ser indicada se alguma coisa estiver fora do curso. As indicações estão descritas no slide. Essas biópsias são para excluir outras glomerulopatias. Ainda assim 50% dos casos são nefropatia diabéticas mesmo não seguindo exatamente o curso. Temos dois fatores principais para marcar prognóstico. Um deles é albuminúria já que quanto maior albuminúria, maior a mortalidade total e mortalidade cardiovascular desses doentes. Quando se associa a albuminúria com a taxa de filtração glomerular temos um panorama bem assustador da evolução da doença renal associada ao diabetes. Quando pior a taxa de filtração glomerular e quanto pior albuminúria, maior risco de mortalidade que pode chegar a 7 vezes do paciente sem nenhuma dessas características. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 O tratamento vai ser baseado nas duas premissas: Uma vai ser tentar reduzir o risco de progredir para doença renal crônica e o outro reduzir o risco cardiovascular que a principal causa de mortalidade do paciente diabético. Algumas coisas serão feitas para todos os pacientes como tratamento da Hipertensão, o controle glicêmico e a dieta..... Os alvos para esse controle de pressão são bem controversos e, dependendo de onde lermos, teremos alvos diferentes para pacientes diabéticos. Pacientes com controle pressórico mais restritos tinham menor mortalidade e menor progressão de renal. Nos pacientes com diabetes e com albuminúria A2 ou A3 ( acima de 30 mg), fazem uso de IECA ou BRA. Quando a gente fala de controle glicêmico na doença renal crônica, ele deve ser individualizado pois não tem um valor certo para essa HB glicada, mas os conceitos mais recentes falam que deveríamos não ter um controle tão restrito o que ficaria entre 6,5 e 8%de hemoglobina glicada. Essas escolhas vão se basear em uma série de critérios, onde quanto mais o paciente for se beneficiar desse controle muito restrito ele vai ser candidato a ele, então em pacientes com doença renal crônica em estágios mais precoces, onde o controle glicêmico mais restrito vai impedir que ele evolua de forma insatisfatória, isso vai ser bom pra ele a longo prazo. Agora, se já é um paciente que já tem muitas comorbidades relacionadas ao diabetes esse controle tão restrito não parece ser tão benéficoe ele acaba tendo muito mais complicações de hipoglicemia e vamos ter mais dificuldade de tratar essa hipoglicemia do que os benefícios de um tratamento mais restrito. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Dieta para todo renal crônico e todo paciente com doença renal do diabetes. Fazemos uma restrição proteica. Fazemos 0,8 g/ kg de peso por dia especialmente com paciente com taxa de filtração glomerular menor do que 30 e dieta hipossódica. Bloqueio do sistema renina angiotensina. É recomendado pelos principais consensos que todo paciente com diabetes mellitus, hipertensão e com algum grau de albuminúria seja tratado preferencialmente por IECA ou BRA. Sabemos que esse bloqueio de sistema renina angiotensina tanto com IECA ou com BRA faz com que o paciente tem uma evolução melhor ao longo do tempo. Isso reduz bastante a progressão da doença renal ao longo do tempo relacionado a creatinina (no gráfico). Aqui outro artigo importante, porque ele é um dos artigos que mostram que a há um o efeito de classe, e não só um controle pressórico. Temos um benefício ao longo do tempo com o uso do IECA ou BRA. Temos vários estudos que mostram esse benefício que achamos de desfechos substitutivos. Você tem o benefício do controle pressórico mas tem o benefício do uso da classe, pois ele faz vasodilatação de arteríola eferente e temos uma diminuição da pressão intraglomerular com um melhor desfecho renal ao longo prazo. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Por conta disso os dois consensos principais trazem que mesmo em um paciente sem hipertensão, se ele tiver algum grau de albuminúria e for diabético tipo 2 deveríamos reconsiderar o uso de IECA ou BRA para reduzir progressão de doença renal a longo prazo O que a gente não pode fazer de jeito nenhum é associar as duas classes. Quando começaram a fazer os estudos para provar que o bloqueio duplo em mais de uma via era benéfico, começou a ver que o bloqueio reduzia albuminúria ao longo prazo, mas eles traziam desfecho pior para o paciente. A maioria dos estudos foi interrompida antes da hora ou mostrou um quadro de hipercalemia grave, hipotensão grave e lesão renal aguda com progressão rápida para hemodiálise. Com diabetes mellitus, hipertensão ou algum grau de albuminúria acima de 30 mg/g: usar ou IECA ou BRA são drogas de primeira linha. Se vai começar algum anti-hipertensivo para esses pacientes, deveriam escolher com primeira linha uma das duas drogas. Elas também podem ser utilizadas em pacientes com diabetes mellitus normotensos com algum grau de albuminúria. Nunca utilizar o duplo bloqueio. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Outra droga em alta são os inibidores da sódio- glicose transportador do tipo 2. Essa SGLT2 geralmente está no túbulo proximal, e ela faz a reabsorção da glicose filtrada no glomérulo. Essa reabsorção é feita junto com o sódio e esse sódio acaba vindo pela alça de henle e tem um efeito na mácula densa. Quanto menos sódio na mácula densa mais teremos ativação do sistema renina-angiotensina que vão levar a vasoconstricção de arteríola eferente e a vasodilatação da arteríola aferente. Isso faz com que aumente muita pressão intraglomerular levando a lesão e ativação de fibrose no glomérulo e é isso que acontece na doença renal do diabetes. Hiperglicêmico que vai ter o maior aporte de glicose nos túbulos tendo uma maior atividade da SGLT2, com isso vamos reabsorver muito sódio na tentativa de reabsorver a glicose filtrada e com isso vamos ter menos sódio chegando na mácula densa, levando aos efeitos que comentamos, como a redução da adenosina, com vasodilatação da aferente e ativação de sistema renina angiotensina com vasoconstrição da arteríola eferente lesando o glomérulo. Quando você bloqueia esse transportador, você acaba bloqueando a reabsorção de glicose no túbulo e vamos ter mais glicose e mais sódio nos túbulos e mais sódio chegando na mácula densa e vamos ter a reversão desse processo. Com mais sódio temos a sinalização para reduzir a atividade do sistema renina-angiotensina e aumentar a sinalização de adenosina tendo uma vasoconstrição da arteríola aferente e uma vasodilatação da arteríola eferente levando à redução da pressão intraglomerular e protegendo glomérulo ao longo do tempo No slide, todos os benefícios possíveis dos inibidores do transportador SGLT2. Temos o controle da hiperglicemia, onde vamos ter perda de glicose da urina e vamos ter um controle glicêmico mais adequado, além da redução da ativação do sistema renina-angiotensina e a perda de sódio ajudam na hipertensão, ainda teremos alteração do feedback tubuloglomerular que comentamos lá da mácula densa. Quando foi associado os inibidores da SGLT2 em paciente com diabetes ou não diabetes e doença renal crônica (DRC), já em uso máximo de IECA ou BRA tivemos um benefício impressionante que mudou a nefrologia, por isso é a droga do momento. Inicialmente a alteração hemodinâmica de pressão intraglomerular ela leva uma queda de taxa de filtração glomerular então todos os estudos, assim como do estudo de IECA ou BRA geram essa redução no início. A primeira curva no gráfico é um placebo onde você vai tendo essa redução de taxa de filtração glomerular ao longo do tempo, e quando você usa o inibidor da SGLT2 ele tem uma queda abrupta da filtração glomerular, mas que ao longo do tempo e se torna protetor, e a velocidade de progressão da doença renal dele ao longo do tempo é menor. 30% de desfecho ao longo de 5 a 10 anos, sem aqueles eventos que vimos no duplo bloqueio de IECA ou BRA Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Atualmente todo paciente com diabetes mellitus, independente do controle glicêmico, se ele tem doença renal crônica, ele vai ser candidato aos usos de inibidores de SGLT2. Geralmente não indicamos com paciente com taxa de filtração glomerular menor do que 25. Mas se ele tiver uma TGF acima de 25 e uma albuminúria maior do que 200 mg, ele é candidato ao uso desse medicamento. Geralmente usamos eles após de já ter usado uma dose otimizada de IECA ou BRA
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