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W BA 01 60 _V 2. 0 CULTURA CORPORAL: INTERFACES COM A PSICOMOTRICIDADE 2 Leonardo Augusto D’Almeida Barros São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 CULTURA CORPORAL: INTERFACES COM A PSICOMOTRICIDADE 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Rogério de Melo Grillo Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Barros, Leonardo Augusto DÁlmeida B277c Cultura corporal: interfaces com a psicomotricidade / Leonardo Augusto DÁlmeida Barros, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 41 p. ISBN 978-65-89881-40-7 1. Cultura. 2. Comunicação. 3. Psicomotricidade. I. Título. CDD 792.8 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Crianças, corpo e vida ________________________________________ 05 As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica _____________________________________________________ 18 Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e a psicomotricidade ____________________________________________ 31 A importância do trabalho do educador na educação infantil: diálogos com as culturas corporais __________________________ 44 CULTURA CORPORAL: INTERFACES COM A PSICOMOTRICIDADE 5 Crianças, corpo e vida Autoria: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Leitura crítica: Rogério de Melo Grillo Objetivos • Apresentar as principais características da trajetória psicomotora das crianças. • Compreender o que são os estágios de desenvolvimento humano de acordo com Piaget e Gallahue. • Conhecer diferentes relações entre os estágios e a vida das crianças. 6 Introdução A partir de agora, iremos refletir sobre qual profissional estamos falando. Nas linhas abaixo, abordaremos um educador que está atento não somente aos cuidados de segurança e higiene das crianças, tão importantes na educação infantil, mas também de um profissional que está atento para educar uma criança que é sujeito em processo de desenvolvimento educativo. Tal profissional será capaz de planejar vivências que vão além de apenas uma perna que chuta uma bola, uma mão que segura um carrinho ou uma boneca, ou um aglomerado de ossos, articulações e músculos que dança. A partir de agora, você verá o que muitos não conseguem enxergar, que existem neste movimento humano, signos muito fortes, derivados de experiências advindas de sua cultura. 1. Aproximações do corpo-vida/corpo-infância O desenvolvimento da criança em suas dimensões biopsicossociais- culturais exige um processo de reflexão sobre os fundamentos fisiológicos de seu desenvolvimento, para que possamos compreender seu corpo-vida e seu corpo-infância. Imagine uma criança recém- nascida, que chega ao mundo com os movimentos reflexos, tais como o ato de respirar e sugar. Estas ações são relevantes em termos de sobrevivência, mas, também, como uma das primeiras relações com o mundo. Após ao nascimento, as interações da criança com o mundo e com o seu próprio corpo, tornam-se cada vez mais intensas. É muito interessante e importante acompanhar o desenvolvimento motor da criança. Este reconhecimento sobre o próprio corpo, como mordidas e agarradas nos pés, contemplação das mãos, entre muitos outros, será fundamental 7 para que as crianças possam construir habilidades relacionadas ao seu desenvolvimento relacionado ao domínio motor, cognitivo e emocional. Ainda referente a este processo de desenvolvimento, Carvalho (2011) pontua que: O desenvolvimento físico normal é caracterizado pela maturação gradual do controle postural pelo desaparecimento dos reflexos primitivos, em torno de 4 a 6 meses de idade, como o reflexo de Moro; o reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA); o reflexo de Galant; os reflexos plantares; os reflexos orais e pela indução das reações posturais (retificação e equilíbrio). Em uma avaliação dos reflexos primitivos torna-se relevante observar que, mesmo quando presentes na idade esperada, deve-se avaliar se a sua intensidade é adequada para aquela fase. De modo geral, estes reflexos primitivos estarão presentes durante os primeiros seis meses de vida, e serão paulatinamente inibidos, na medida em que padrões de endireitamento e de equilíbrio forem surgindo. (CARVALHO, 2011, p. 13) Perceba que todo este processo será basilar para o desenvolvimento integral da criança. Logo em seu primeiro ano de vida, o desenvolvimento das crianças (em sua maioria) é algo muito dinâmico. Este desenvolvimento, que também é cultural, implica em perceber que a criança começa a manifestar suas preferências, por exemplo: o bebê que adora determinado brinquedo começa a perceber diferentes formas de chegar até ele, em que cada tentativa procura ter maior eficiência. Você já viu isso? O bebê começa a se arrastar, porém, logo depois percebe que pode engatinhar e chegar mais rápido até o brinquedo. Neste processo contínuo, a exploração sobre o próprio corpo será cada vez mais intensa. A seguir, observe a imagem que trata do desenvolvimento da motricidade dos bebês. 8 Figura 1 – O desenvolvimento do bebê em relação à psicomotricidade Fonte: http://psicfadeup.blogspot.com.br/2011/07/desenvolvimento-motor.html. Acesso em: 22 fev. 2021. O desenvolvimento das funções cognitivas será responsável por influenciar, de forma dinâmica, a estruturação do pensamento lógico. Entretanto, preste muita atenção: o desenvolvimento motor e cognitivo da criança não depende apenas de aspectos biológicos, mas de questões socioemocionais. É dentro deste mesmo espectro que pensamos no corpo-vida e no corpo-infância de nossas crianças, em que a educação infantil é um lócus privilegiado para que a criança possa realmente exercitar o seu momento de ser criança, e isto também implica aprendizagem corporal. Para Arroyo e Silva (2012), o corpo-infância apresenta-se em constante disputa pelas diferentes instituições, ou seja, o Estado, a escola, a família, a mídia, a religião expressam “marcas e tatuagens históricas das http://psicfadeup.blogspot.com.br/2011/07/desenvolvimento-motor.html 9 subjetividades e coletivos sociais”. Lembre-se de que este é um corpo biológico e social, e o professor deve estar atento a este processo, para que possa compreender a criança como um ser integral. 2. Refletindo sobre os estágios de desenvolvimento humano Para que você compreenda o que são estágios do desenvolvimento, é necessário aprofundarmos nossa análise no processo do desenvolvimento humano, pois ele fornece importantes referenciais para os educadores da educação infantil. A atual crítica sobre este referencial teórico está relacionada à questão de não compreender a criança em seu processo de subjetivaçãoe de formação enquanto sujeito social. Conhecer os estágios do desenvolvimento é importante ao educador para que saiba quais os momentos que as crianças podem estar vivenciando. As fases do desenvolvimento não são um padrão, uma vez que os alunos possuem diferenças, até por estarem em estágios diferentes. Dentro da linha desenvolvimentista, além dos estágios do desenvolvimento, é importante ressaltar que o processo maturacional humano também está pautado nos seguintes itens: • Universalidade: todas as crianças passarão por todas as fases de desenvolvimento. • Intransitividade: considerar que o desenvolvimento pleno das aprendizagens em cada estágio é fundamental para a consolidação dos estágios subsequentes e, ainda, que as características de cada período são incorporadas de forma qualitativa nas etapas posteriores. 10 • Crescimento: aumento do tamanho e do volume da estrutura. • Desenvolvimento: aperfeiçoamento e aquisição de novas funções. Até este momento, você pôde conhecer mais sobre o processo de desenvolvimento humano a partir de uma ótica desenvolvimentista. Isso significa que existe apenas essa análise? Logicamente que não! Como apresentado no início do capítulo, é apenas uma das múltiplas “lentes” com as quais os educadores podem “enxergar” os seres humanos. 3. O papel da cultura na vida das crianças Imaginemos uma situação em que não acontece de forma generalizada, mas irá balizar nossa reflexão. Quando uma menina nasce, em alguns casos, logo é colocado um enfeite de berço que remeta ao conteúdo simbólico do que é “ser menina”, por exemplo, uma boneca, uma sapatilha de balé etc. Já com os meninos, acontece a mesma coisa, mas geralmente é colocada no berço uma chuteira, uma bola, um carrinho, algum emblema de times de futebol, entre outros. Ao pensarmos somente a partir desta vertente, na qual existe a divisão entre o que são atividades típicas ou exclusivas para meninos e outras para meninas, quando na escola, existe o risco de reproduzirmos uma Educação Física apenas vê a prática educativa que orienta e ensina os saberes corporais institucionalizados de forma mecânica e padronizada. Aqui, gostaria de realizar uma conceituação importante. A cultura corporal do movimento é representada por diversas manifestações como: danças, lutas, jogos, esportes e brincadeiras que externalizam a motricidade humana, e este seria o objeto de estudo da Educação Física. Nessa concepção, a cultura não é só um conjunto de modos de vida, mas também práticas que expressam significados que permitem aos grupos humanos regular e organizar todas as relações sociais. Nessa 11 perspectiva, toda e qualquer ação social expressa ou comunica um significado e, nesse sentido, são práticas de significação, o que indica que cada instituição ou atividade social cria e precisa de um universo próprio, distinto, de significados e práticas, isto é, sua própria cultura. (Neira, 2008, p. 6) Perceba que a cultura envolve aspectos materiais e imateriais do capital simbólico de uma sociedade. Desse modo, ações como brincar, dançar e jogar são formas de expressividade das crianças, em contextos educativos, em que o movimento exprime a cultura corporal de forma própria e singular. Este processo não é unilateral, ou seja, a criança não está apenas internalizando a cultura, mas produzindo uma cultura de infância. Assim, como deverá ser a comunicação com esta criança? A comunicação deverá, também, levar em consideração, de acordo com a BNCC (2018) questões socioemocionais, o que implica em pensar em um corpo que adquire cada vez mais consciência corporal e expressividade e cultura. Lembre-se de que este movimento é uma forma de estar e viver o mundo. Chamo sua atenção para compreender que a linguagem corporal é uma manifestação da cultura. Por isso, pensar no desenvolvimento motor com qualidade significa desenvolver não apenas habilidades motoras, mas, também, dialogar com a individualidade dos estudantes e aspectos de sua cultura, privilegiando a construção das crianças com autonomia e liberdade, no qual, o educador age como um maestro, conduzindo de 12 forma harmônica o aprendizado, levando em consideração a grande diversidade que existe entre seus alunos. 4. A cultural corporal e a cultura dentro da escola A escola não é apenas um prédio físico, mas uma instituição responsável pelo processo de socialização primária das crianças, portanto, para que realmente realize a sua missão educativa de formar seres humanos, é necessário o esforço dos gestores e educadores em compreender sua função social na formação das crianças. Daólio (2004, p. 2) afirma que “cultura é o principal conceito para a Educação Física”, uma vez que as manifestações culturais, como já apresentamos acima, são expressões das manifestações culturais. E, quando o professor que atua na educação infantil aplica isso em seu horizonte de análise, repensa formas de compreender sua prática pedagógica como complexa e relacionada às outras formas de conhecer e produzir o mundo. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 2002), em seu art. 2º, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. O professor deve saber que atuará junto a crianças com diferentes trajetórias de vida, mesmo que toda a turma tenha a mesma idade cronológica. O que nos leva a questionar qual a necessidade de valorizarmos o corpo na educação infantil. De acordo com a LDB nº 9.394/96, em seu art. 29, diz: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em 13 seus aspectos FÍSICO, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996, [s.p.], grifo nosso) Além de compreender a criança como um ser cultural e valorizar seu corpo dentro da escola, é função da educação infantil oferecer espaço rico em estímulos para que as crianças possam se desenvolver da melhor forma. A criança fora do contexto escolar anda, cai, chora, ri, bate, apanha, canta, assiste TV, acessa aplicativos, corre, aprende brincadeiras, ensina brincadeiras, passeia, brinca, descobre o mundo e o (re)significa. Quando chega o horário da entrada na escola, é impossível que todo esse conhecimento prévio fique de lado, adormecido até a hora da saída. Na verdade, esse conhecimento é o ponto de partida para grande parte das atividades a serem realizadas dentro da escola. Assim, é nosso compromisso a sua valorização. A partir disso, o que os educadores que atuam na Educação Infantil podem fazer para serem profissionais que respeitem o corpo e a cultura corporal do movimento dos alunos? Para começar a analisar as possíveis atuações, responda a pergunta: “O que uma criança vê quando está no parque da escola?” Imagino que, provavelmente, você esteja respondendo: o escorregador, o banco de areia, a gangorra, as árvores, salas de aula, mesas e cadeiras, entre tantas outras coisas. Nada disso! A primeira regra é: não seja um educador “vidente”, não tente responder pelas crianças o que elas veem! A resposta para a pergunta acima é simples: pergunte à criança! Segunda questão importante a ser tratada, segundo Freire (1993), é abolir a famosa abordagem muito adotada nas escolas: “A metodologia do traseiro”, que, segundo o autor, funciona mais ou menos assim: a única relação importante que o educador valoriza no processo de aprendizagem dos alunos é a união das “nádegas” dos alunos com a “cadeira escolar”, isto é, se o aluno está sentado e quieto: Fantástico! 14 O educador está feliz, pois controla seu corpo, seu movimento, seus sentimentos e expressões. Controlar o corpo e o movimento é uma forma de controlar as ideias, os questionamentos etc. Veja: Métodos de confinamento e engorda. Aplicáveis indiferentemente a porcos, vacas, galinhas e homens. Atesta-o a metodologiado traseiro, a mais cruel e frequente nas nossas escolas. Crianças confinadas em salas e carteiras, mais imóveis que os bichos que já mencionei. Como se, para aprender, fosse necessário o contato permanente do traseiro com a carteira. Mas, assim como os nazistas o sabiam, o sistema escolar também sabe. O corpo tem que se conformar aos métodos de controle, caso contrário, as ideias não podem ser controladas. (FREIRE, 1993, p. 114) É necessário valorizar o movimento humano em sua beleza e totalidade, utilizando-o como ferramenta de aprendizagem, por isso é importante analisá-lo além da bibliografia educacional, mas, relacionada ao próprio corpo da criança. Ela é nosso objeto de estudo e deve receber atenção total e olhar sensível. Por último, reflita que quando as crianças estão em movimento, o educador, muitas vezes não deve “colocar suas experiências de criança como a experiência correta aos alunos”. Muitos educadores fazem questão de dizer aos seus alunos o que é ser criança, dar palestras sobre do que as crianças brincam, entre outros. Porém, atribuir conceitos do que é “ser menino e ser menina”, fez com que muitos autores se debruçassem sobre este tema, como Daniela Finco e Ana Lúcia Goulart. • Valorização apenas das atividades que o educador realizava e que propõe para os seus alunos. • Transferir seus medos de criança, por exemplo, quando o professor era aluno. Como já apontamos, o corpo é uma das maiores pontes entre a criança e o mundo, então, em momentos de brincadeiras, jogos, danças e 15 fantasias, as crianças apresentam o que para elas é o importante. Esta deve ser a premissa para o nosso trabalho com elas. Observar, compreender e valorizar a criança e seus movimentos não significa dizer que exista uma “melhor forma de ser criança”, mas estimar sua comunicação com o mundo e diferentes formas de expressão dos alunos. Este processo exige um empenho do educador em despir-se de preconceitos, com o objetivo de enriquecer o processo de desenvolvimento psicomotor e cultural das crianças, oferecendo uma escola de educação infantil rica de estímulos e, acima de tudo, com significados ao aluno. Inúmeros referenciais propõem que a escola seja uma extensão do que acontece fora dela, entretanto, ainda insistimos em transformá-la em um lugar à parte do mundo. 5. Considerações finais • Os educadores devem ser conhecedores de informações importantes sobre a trajetória de vida dos alunos até sua chegada à educação infantil. • Reconhecer as crianças se relacionam com o mundo a partir de seus corpos, faz com que o educador valorize o movimento como objeto de conhecimento. • Fazer relações entre o desenvolvimento humano e as características das crianças na fase escolar. • Em muitas culturas, desde quando nascem, já são embutidos nas crianças significados da cultura corporal do movimento sobre o que é ser menino e menina, cabe ao professor discutir sobre o tema. 16 • Na escola, não existem apenas corpos em movimento, mas vivências culturas importantes impregnadas neste corpo, em que um movimento nunca é isolado a ele. • Analisar e valorizar a “visão” que a criança possui dos fatos e significados acima de qualquer pré-conceito do educador, evitando, assim, distorções no processo educativo. • Observar, compreender e valorizar as questões da cultura corporal do movimento trazidas pelos alunos não significa concordar, mas compreender como mecanismo propulsor de conhecimento. Referências ARROYO, Miguel G., SILVA, Maurício R. da (orgs). Corpo Infância: exercícios tensos de ser criança, por outras pedagogias do corpo. São Paulo: Editora Vozes, 2012. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. D.O.U., Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 4 maio 2021. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. D.O.U., Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 4 maio 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. CARVALHO, M. V. P. O desenvolvimento motor normal da criança de 0 a 1 ano: orientações para pais e seus cuidadores. Dissertação (Mestrado em Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente) – Fundação Oswaldo Aranha, Centro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda, 2011. Disponível em: https:// sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/arquivos/37.pdf. Acesso em: 4 maio 2021. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. COSTA, Anderson D. Educação física escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo, 2008. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm https://sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/arquivos/37.pdf https://sites.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/arquivos/37.pdf 17 DAÓLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 2004. FREIRE, João B. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...). In: MOREIRA, W. W. (org.) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1993. p. 109-122. GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo às avessas. Rio de Janeiro: LP&M, 1999. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, Phorte Editora, 2003. GOMES-DA-SILVA, Eliane; SANT’AGOSTINHO, Lúcia H. F.; BETTI, Mauro. Expressão corporal e linguagem na Educação Física: uma perspectiva semiótica. Revista Mackenzie da Educação Física e Esporte, São Paulo, p. 29-38, 2005. Disponível em: https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/47/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_ Fisica/REMEFE-4-4-2005/art2_edfis4n4.pdf. Acesso em: 4 maio 2021. MATTOS, Mauro G. de; NEIRA, Marcos G. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. Guarulhos: Phorte, 2002. NEIRA, M. G. A Educação Física em contextos multiculturais: concepções docentes acerca da própria prática pedagógica. Currículo sem Fronteiras, v. 8, n. 2, p. 39-54, jul./dez., 2008. Disponível em: https://www.curriculosemfronteiras.org/ vol8iss2articles/neira.htm. Acesso em: PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lisboa: Dom Quixote, 1977. Pikler, E. What Can Your Baby Do Already? Sensory Awareness Foundations’ Winter 1994 Bulletin. 1940. ROSA NETO, Francisco. Manual da Avaliação Motora. Porto Alegre: Artemed, 2002. SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 TANI, G. et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EdUSP, 1988. Weil, Pierre; Tompakow, Roland. O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal. São Paulo: Vozes, 1980. https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/47/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-4-4-2005/art2_edfis4n4.pdf https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/47/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-4-4-2005/art2_edfis4n4.pdf https://www.curriculosemfronteiras.org/vol8iss2articles/neira.htm https://www.curriculosemfronteiras.org/vol8iss2articles/neira.htm 18 As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica Autoria: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Leitura crítica: Rogério de Melo Grillo Objetivos • Compreender a importância da cultura no processo de desenvolvimento das crianças. • Trazer ferramentas para que os educadores possam identificar possíveis atividades que contemplem o trabalho de orientação espacial e temporal de cada grupo. • Valorizar a cultura corporal do movimento como ferramenta inerente ao desenvolvimento dos alunos da educação infantil 19 1. A importância das expressões na educaçãoinfantil Introdução A proposta apresentada nas linhas abaixo é que você se sensibilize para a atuação na educação infantil, modalidade muito importante para o desenvolvimento integral das crianças. Provavelmente você entende que a principal linguagem a ser tratada com as crianças é o brincar, porque, além de ser uma prática social, é fundamentalmente a prática mais significativa dentro do seu desenvolvimento. Você, educador, consciente de seu papel dentro da escola, é a mola propulsora do desenvolvimento humano, pois cria oportunidade para que as crianças progridam em todas as etapas, como uma grande corrente do aprendizado, muito importante em todo o aprendizado motor na educação infantil. Estamos privilegiando o desenvolvimento da motricidade das crianças e sua importância no contexto escolar, contudo, procuramos uma abordagem que não seja dicotomizada, pois temos a crença de que somente compreendendo o indivíduo como um corpo-infância é possível pensar em seu desenvolvimento integral. Este tema utiliza o termo “expressões” porque os jogos, as brincadeiras, as ginásticas, as lutas e as demais manifestações corporais apresentam diferentes formas de expressão corporal, enriquecendo o acervo dos pequenos alunos. É possível que o observador julgue que é preciso apenas reproduzir elementos das brincadeiras, dos jogos, das ginásticas e das lutas, quando o educador se vê na “obrigação” de cumprir com os preceitos 20 das formas de expressão do corpo, então, pode recair em situações, tais como: • Reproduzo jogos que eram significativos para mim na época escolar. • Reproduzo danças e coreografias da moda ou do meu repertório musical, ou ainda apenas são abordadas em datas comemorativas. • Apresento uma modalidade de lutas de uma pessoa que eu conheço, dessa maneira “me livro” desse item tão complexo. • As brincadeiras ficam reservadas aos momentos livres dos alunos (parque, recreio etc.). • Ginástica? Eles já fazem muita quando brincam, ou pior ainda, aplicação de exercícios que adultos fazem nas academias. As brincadeiras, jogos, lutas, ginástica são muito importantes para o desenvolvimento dos alunos, mas não devem ser abordados como um fim em si mesmos ou mera reprodutora de movimento e atividades alienadas. O objetivo do educador é que seus alunos se reconheçam, bem como reconheçam os colegas como importantes no seu dia a dia. Ao analisarmos os conteúdos específicos da dança no trabalho com as crianças, encontraremos a coreografia, a consciência corporal, o condicionamento físico, mas a criança vivencia a cultura como uma forma de expressão das relações que estabelece com o próprio corpo e com o corpo do outro, expressando em seus movimentos suas emoções e sua cultura. Ao pensar nos aspectos da psicomotricidade, a maturação fisiológica permitirá que o movimento se torne cada vez mais complexo, especialmente no que concerne ao ritmo, às posições, à autoimagem, permitindo uma melhor percepção dos objetos e do próprio espaço. 21 Isso não significa que todas as atividades devem ser direcionadas, pois o brincar livre é uma expressão da linguagem e da cultura produzida pela criança, tal qual da liberdade em relação ao seu próprio corpo. Perceba que estamos lançando mão de conceitos oriundos da chamada Psicomotricidade Relacional, a qual pode ser definida como aquela que acredita que: [...] o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de toda sensibilidade, afetividade, emoção da relação consigo e com o outro. É visto como lugar de prazer, de desejo, de frustração e de angústia. Lugar de lembranças de todas as emoções positivas e negativas vividas pela criança em relação com os outros, particularmente, com as figuras parentais. (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2004, p. 27) Os chamados recursos que você usará são fundamentais para o sucesso de suas aulas. Para ilustrar melhor, é pertinente a comparação desses recursos com o termo ferramentas de trabalho para que você possa chegar aos seus objetivos. Assim, uma ferramenta não faz nada sozinha, mas depende de alguém que saiba usá-la para cumprir a sua função. Sendo assim, educadores que conhecem sobre o que estão tratando conhecem as diferentes ferramentas para chegarem aos seus objetivos. As lutas, além de trabalharem as funções motoras acima mencionadas, permitem que as crianças tenham acesso a esta construção cultural de nossa sociedade. E, ainda, permitem reflexões sobre a diferença delas em relação a questões associadas à violência. Por último, devemos salientar que a ginástica também cumpre uma função educativa importante, à medida que atividades como pular, correr, rolar, saltar, balançar, escalar, equilibrar, rastejar, girar são fundamentais para o seu desenvolvimento. Lembre-se de que a criança constrói o seu pensamento a partir da experimentação corporal, logo, a vivência motora é essencial para a construção do sujeito em sua integralidade. 22 2. As ferramentas do desenvolvimento psicomotor das crianças Antes de seguirmos, gostaria de ressaltar que o objetivo desta discussão não é dar “receitas” prontas de como se trabalhar com as brincadeiras, jogos, ginástica e as lutas nas escolas, até porque, conforme você pode ter percebido, a didática relacionada a estas temáticas dependerá do contexto educativo no qual você esteja inserido e das próprias crianças que serão protagonistas deste processo. Utilizando a brincadeira, jogo, luta, ginástica, além das outras praticas corporais existentes, é muito importante que o ponto de partida seja a sondagem do que é significativo às crianças, por exemplo: se você atua em uma instituição onde algumas brincadeiras populares são significativas para o público, como o pular corda, qual atividade utilizará como ferramenta de ensino? Esperamos que você diga: “corda”! Isso não significa que as crianças não tenham a oportunidade de aprender e vivenciar outras atividades, pelo contrário, é nosso dever ampliar o repertório motor e cultural de nossos alunos, mas sempre atentando ao que é significativo para eles. Lembre-se que esta proposta atende às diferentes fases do desenvolvimento humano, e que existem inúmeras características que são levadas em consideração, como questões familiares, culturais, religiosas. Deste modo, alguns exemplos a seguir acabam por se dissolver na rotina de uma escola. A mesma corda (recurso ou ferramenta), para as crianças de até dois anos, pode ser uma ferramenta de exploração, algo que “os pequenos” podem pegar, puxar, pendurar-se, bater, ou seja, usar o seu próprio corpo. Pode ser uma ferramenta para conhecer os diferentes planos (alto, médio e baixo), ou reproduzir as brincadeiras populares da sua região. 23 Já as crianças acima de quatro anos, com a mesma corda, podem ser estimuladas pelo educador a criar jogos que trabalhem habilidades diversas, como ritmo, saltos, lateralidade etc. Independentemente da faixa etária e local de trabalho, é fundamental que o educador sempre proporcione aos alunos novos desafios motores e que sejam logicamente significativos. O importante nesse processo é a valorização do movimento como construtor de conhecimento e da cultura, já que, muitas vezes, a educação é construída com pouquíssimo corpo, como diz João Batista Freire (1989), ao passo que deveria ser feita de corpo inteiro! Quando tratamos de lutas, geralmente, nos deparamos com um frenesi causado no contexto escolar, como se luta fosse sinônimo de briga especialmente se ela for adotada como conteúdo da educação infantil. Ao contrário do senso comum, se executada por profissionais com a visão de ser humano e não de reprodução ou performance, o trabalho com lutas na educação infantil surte benefícios múltiplos, tais como: autoconfiança, valores de paz, concentração, entre muitos outros. Na prática da alfabetização corporal, isso quer dizer que, desde a educação infantil até o ensino médio, nossos alunos devem ser respeitados na sua motivação e no seu interessepela brincadeira, jogo, ginástica e luta. As brincadeiras de pular corda, o pega-pega, a cabra cega, bola ao cesto, por exemplo, seja na educação infantil, seja no ensino médio, são formas de jogo, obviamente cada um dentro de um grau específico de complexidade, como, regra, participação e cooperação. Tais atividades abrem as portas para o futuro, já que se configura, também, como um espaço fértil de transgressão, de ressignificação, de liberdade, de ruptura com velhas fórmulas e de construção e transformação de cultura. 24 Para isso, é importante que o professor compreenda o processo de aprendizagem como algo dialético, além disso, é importante que o profissional esteja despido de qualquer tipo de pré-julgamento ou estereótipos preconceituosos, especialmente se as atividades realizadas não sejam de sua preferência. O ponto crucial é oportunizar espaços que favoreçam a voz de nossos alunos, concomitante a isso, realizar a escuta ativa, pois, de acordo com um dos maiores educadores contemporâneos, Paulo Freire (1997), escutar o aluno não significa que você concorda com ele, mas entende estas informações como importantes. Agora, o mais importante é a qualificação do exercício de sua prática, em que é importante ressaltar que as atividades por si só não são garantia de sucesso e de desenvolvimento. 3. As principais características da orientação de tempo e espaço na vida das crianças Vamos estudar a orientação ou a estrutura de tempo e espaço, que deverá desenvolver nas crianças a sua capacidade de adquirir noções de simultaneidade, sequência, ordem, duração, tempo e ritmo. Assim, como forma de ilustrar a importância do conhecimento espacial- temporal, Mattos e Neira (2002) apresentam dados obtidos pelo DNER, que indica que a maior parte dos acidentes em ultrapassagens acontece por uma dificuldade no cálculo entre as diferenças de velocidade entre os veículos envolvidos em ação. A estrutura temporal constituída pela criança será responsável por situá- la em função de diferentes eventos, tais como: antes e depois, presente, passado e futuro, processos ciclos e sua respectiva renovação (dia e noite, dias da semana, meses do ano etc.). Note que a criança, durante 25 seu cotidiano, mobiliza a todo momento estes conhecimentos, ou seja, as crianças se deparam com situações como: ao atravessarmos uma rua, tem que calcular o espaço da rua e o tempo de chegada do veículo que transita nela, para assim iniciar a travessia. As crianças pequenas possuem inúmeros desafios para compreender as nuances do tempo. Por vezes, encontramos nossos alunos dizendo: “Ontem será o meu aniversário!”; “A Páscoa está perto!”; “Quando eu vou embora?”. As crianças, inicialmente, apenas são cientes do presente, porque é o tempo que estão vivenciando e experimentando, portanto, é necessário criar situações de aprendizagem para que possam extrapolar, captar e discernir a sequência temporal. No que tange à motricidade, vemos a mesma situação. Quem nunca jogou uma bola para uma criança e ela acabou batendo em sua cabeça, e depois da bolada, a criança fecha os braços no movimento de apreensão da bola? No cotidiano da escola, tenho que calcular o tempo que o amiguinho levará para vir com a balança e o espaço que tenho que percorrer para não ser acertado por ele, ou mesmo, calcular a velocidade de um amigo que corre em minha direção para que eu possa desviar e não bater de frente com ele. Para que estas noções possam ser construídas é necessário que a criança adquira os movimentos básicos, bem como a consciência das relações no tempo. O que será desdobrado em aprender: simultaneidade, ordem e sequência, duração dos intervalos, renovação cíclica de certos períodos e ritmo. Em outra analogia em relação ao movimento das crianças, Matos e Neira (2002) apresentam a necessidade de que ele tenha um começo, meio e fim. Por exemplo, em uma brincadeira com bola, uma queimada (ou queimado, carimba ou outro nome, dependendo da região do Brasil onde é vivenciada), é preciso calcular a distância do adversário para, assim, calcular a força empregada no lançamento e a velocidade da 26 corrida. Além disso, é necessário sincronizar os movimentos a fim de acertá-lo. Desta forma, com o auxílio dos professores, mesmo bem pequenas, as crianças elaboram cálculos muito complexos para resolver problemas motores. É fato que na diversidade de atividades na educação infantil, deve- se seguir a máxima segundo a qual as atividades devam ser sempre carregadas de estímulos variados, muita imaginação, valorização de atividades significativas e a participação ativa dos alunos, mesmo bem pequenos, valorizando-os como produtores de conhecimento. Assim, Mattos e Neira (2002) apresentam como sugestão de desenvolvimento da orientação temporal atividades que possam permitir: • Aquisição de noções de antes, durante e depois, primeiro, segundo, último. • Percepção de duração. • Apreciação de estruturas rítmicas (rápido e lento). • Velocidade e aceleração. 3.1. Estrutura espacial O ato de conhecer e explorar os diferentes espaços é fundamental para nos localizarmos. As atividades de exploração dos espaços são, geralmente, muito desejadas pelas crianças. Quem nunca ficou preocupado ao encontrar uma criança em alguns lugares que você nunca imaginou que pudessem ser explorados? Exemplos aparecem aos milhares, mas há os clássicos, como guarda- roupas, muros, telhados, entre tantos outros. O que ocorre em algumas escolas é que, infelizmente, a única possibilidade do espaço que as 27 crianças têm a oportunidade de explorar é o local de guardar a mochila e sentar-se na sala para realizar as atividades do dia. Muitos educadores evitam realizar atividades motoras com medo de as crianças se machucarem, mas, já é comprovado que a maior parte dos machucados não acontece em atividades motoras como brincadeiras, jogos e vivências corporais múltiplas. Devemos lembrar que a vivência motora livre é fundamental para o desenvolvimento, e as crianças “aprendem a cair” porque experimentam seus corpos e o movimento, e, assim, se machucam menos. Devemos salientar que a lateralidade aparece no processo de maturação neurológica da criança, mas isso, por si só, não garante a sua aquisição. Dessa forma, os alunos provavelmente desenvolverão a orientação espacial no decorrer da vida escolar na educação infantil, mas somente sua maturação não garante isso. Sendo assim, nós, como profissionais da educação, temos como dever problematizar diferentes situações para que as crianças vivenciem experiências motoras. João Batista Freire (1993) nos apresenta uma crítica a este processo em seu texto Métodos de confinamento: como fazer render mais porcos, galinhas, crianças. O problema nas escolas não é o movimento, muitas vezes é a falta deles. Queremos muito que os alunos utilizem o pequeno espaço de uma folha, com motricidade fina de pegar um objeto tão pequeno como um lápis, giz, pincel, e pedimos a eles que desenhem utilizando toda a folha ao invés de apenas um pequeno espaço. Ou, ainda, desenterramos os clássicos leve João ao outro lado da folha seguindo a linha pontilhada, mas esquecemos de uma máxima importante, do geral para o específico. Então, que tal pensarmos da seguinte maneira: estimular a exploração de grandes espaços, utilizando grandes músculos, pois apropriando de uma motricidade, geralmente mais fácil aos pequenos, traz informações 28 importantes para quando reduzimos a uma folha. Assim, a consciência espacial é a relação que a criança estabelece entre seu corpo e o meio. Nesta direção, devem ser desenvolvidos os esquemas relacionados ao sistema visual e ao tático-cinestésico. Para que isto ocorra, a criança deverá compreender os sentidos de direção, localização e distância, que forja a: orientação espacial, organização espacial, compreensão das relações espaciais. Novamente, inspirados em Mattos e Neira (2002), podemos definir estruturação espacial como a tomadade consciência de um corpo no meio ambiente, o que permite que a criança possa localizar, explorar espaços, bem como organizar objetos e movimentá-los no espaço. Sendo assim, apresentamos sugestões de estruturação espacial: • Tomar consciência do espaço em que está (isso inclui apropriar-se do espaço da escola). • Perceber o solo como ponto de apoio. • Perceber medidas e a forma dos espaços percorridos. • Ter noção de direção e localização espacial. • Conhecer dentro/fora. • Perceber a direção de um espaço percorrido. Por razões didáticas, dividimos as concepções temporais e espaciais, mas no cotidiano escolar as duas estão indissociáveis. Assim, lembre-se de que nosso foco deve ser proporcionar atividades prazerosas, que respeitem os estágios motores dos alunos, de maneira significativa, respeitando sua cultura, utilizando atividades como ferramentas para potencializar o desenvolvimento das crianças em um 29 ambiente rico em desafios e convidativo ao conhecimento. Por último, reflita que o desenvolvimento do esquema corporal ocorre pela consciência do corpo como forma de comunicação consigo mesmo e com o meio. O que exige desenvolvimento da motricidade, das percepções espaciais e temporais, e da afetividade. Ainda nesta direção, a criança deve: ser capaz de conhecer o corpo como um todo; conhecer o corpo segmentado; controlar os movimentos globais e segmentados; equilíbrio estático e dinâmico e a expressão corporal harmônica. 4. Considerações finais • O educador precisa desenvolver atividades que tenham diferentes desafios motores e estejam focadas no desenvolvimento global da criança dentro da educação infantil. • A educação infantil deve trabalhar com conteúdos amplos, proporcionando a diversidade de possibilidades e um repertório rico de oportunidades. • É fundamental que em todas as atividades propostas pelo educador, ele tenha um olhar atento ao que é realmente importante para o grupo em questão, para assim escolher a melhor abordagem do conteúdo. • O professor não deve selecionar as atividades a serem realizadas dentro dos jogos, brincadeiras, lutas, ginástica somente a partir de sua experiência ou tendências do momento, mas sim atender inicialmente o que possui maior significado ao público. • É fundamental aos educadores compreenderem a importância das concepções da orientação espacial não só em atividades corporais, mas em toda a ação pedagógica. 30 • Os conceitos da orientação temporal são de suma importância no cotidiano escolar e na vida. • A cultura corporal do movimento deve estar presente quando selecionamos práticas corporais que contemplem o estímulo das concepções espaciais e temporais. • Além de apenas proporcionar atividades que trabalhem os conceitos da orientação espacial e temporal, é fundamental que o educador, a partir do olhar da cultura corporal dos alunos, proporcione que as crianças possam apreciar, executar, criar e refletir sobre as atividades executadas. Referências FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989. FREIRE, João B. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...). In: MOREIRA, W. W. (org) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1993. p. 109-122. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo: Editora Phorte, 2008. MATTOS, Mauro G. de; NEIRA, Marcos G. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. Guarulhos: Phorte Editora, 2002. VIEIRA, J. L.; BATISTA, M. I.; LAPIERRE, A. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma prática. 2. ed. Curitiba: Filosofart/CIAR, 2004. 31 Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e a psicomotricidade Autoria: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Leitura crítica: Rogério de Melo Grillo Objetivos • Introduzir nos conteúdos escolares atividades que estimulem a consciência do corpo por parte das crianças valorizando o apreciar, executar, criar e refletir. • Compreender o aprendizado de esquema corporal e consciência do corpo como um processo complexo, utilizando diversos estímulos para seu êxito. • Conhecer as principais diferenças entre a psicomotricidade funcional da psicomotricidade relacional. • Aplicar os principais preceitos da psicomotricidade relacional no cotidiano escolar. • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e a psicomotricidade. 32 Introdução Sua trajetória até este momento da disciplina foi repleta de provocações relacionadas ao desenvolvimento humano. Inicialmente, as características do desenvolvimento humano a partir de uma visão desenvolvimentista, logo após foram apresentadas as principais características culturais das crianças, bem como, as características da psicomotricidade funcional e relacional. Assim, dando maiores subsídios às discussões sobre a importância do corpo e sua motricidade no desenvolvimento das crianças. Neste tema, você terá contato com informações com informações mais relevantes ao desenvolvimento motor das crianças, superando uma tendência mecanicista e valorizando o apreciar, executar, criar e refletir sobre seu corpo, aos colegas e ao ambiente. Também iremos discutir os principais objetivos da Psicomotricidade Relacional e como podemos utilizá-la em nossas aulas de forma eficaz. Desta forma, mais uma vez, entraremos no universo da educação infantil, na vertente do corpo, movimento e desenvolvimento. 1. Educação motora além da execução Quem nunca ouviu a seguinte música dentro das escolas de educação infantil: “Cabeça, ombro, joelho e pé”? Ou melhor, quem nunca cantou ou dançou essa canção? Esta música infantil, tão comum na maioria das escolas de educação infantil, remete ao conhecimento, mesmo que de forma superficial. Ao tratarmos de corpo e da criação de seus esquemas, a educação infantil tem como objetivo a exploração do movimento humano, além de apenas reproduzir, por exemplo, quais são as partes do corpo, mas quais são suas principais funções e formas de utilização. 33 Por isso, é importante lembrar que, para que tudo isso aconteça, todos nós, como participantes da educação das crianças, devemos proporcionar um espaço rico dentro das instituições escolares, proporcionando a exploração dos espaços, das brincadeiras, das danças, ou de qualquer outra manifestação corporal. Somado a isso, é preciso utilizar diferentes materiais, por exemplo, brinquedo e sucatas, com diversos estímulos e valorizando o aprendizado e o relacionando com os demais alunos. As práticas corporais (não exclusivamente praticadas nas aulas de Educação Física) possuem um papel primordial no aprendizado e, consequentemente, no desenvolvimento dos indivíduos. Você, educador consciente, certamente organizará atividades visando propiciar situações para que as crianças vivenciem o seu corpo. Com isso, desenvolvendo o conhecimento sobre o próprio corpo e variadas maneiras de executar movimentos guiados ou livres, interagindo com as demais, ensinando e aprendendo e a oportunidade de criar formas de agir e interagir. Para que você possa proporcionar este ambiente em suas aulas aos seus alunos, é fundamental que possamos discutir diferentes aspectos. Assim, de acordo com Negrine (1986), para que os movimentos possam ser realizados, devem ser levados em consideração: • Consciência dos diversos segmentos do corpo por meio de exercícios apropriados para a formação corporal (esquema corporal). • Exercícios para ação corporal e que possam desenvolver a flexibilidade e equilíbrio. • Exercício para a coordenação fina e grossa. • Exercício de lateralidadeara ajuste corporal e que possam desenvolver a flexibilidade e o equil. 34 • Exercícios para percepção espaço-temporal. É importante ressaltar que os conteúdos apresentados anteriormente estãodivididos por questões didáticas. No cotidiano escolar, o ser- brincante brinca de lateralidade, certamente isto também engloba a percepção espaço temporal e a motricidade grossa e fina. Sendo assim, é importante pensar nos seres humanos em todo o momento a partir de sua totalidade, principalmente quando se trata de crianças. Dessa maneira, você está pronto para perpassar pelos diversos temas, fundamentais ao desenvolvimento psicomotor, pois, a partir de estudos e análises referentes à importância do estímulo e aprendizado do esquema motor, do equilíbrio, da coordenação motora (coordenação motora fina e coordenação motora grossa), da lateralidade e do espaço- tempo, oportunizaremos condições às crianças de desenvolverem a sua motricidade, bem como, suas funções psíquicas e sua afetividade. 1.1 Esquema motor Muito além da canção infantil que inicia este tema, quando trabalhado a partir de um viés educacional, o conhecimento sobre esquema corporal ultrapassa apenas o conhecimento da nomenclatura e conhecimento do sistema muscular, mas adentra na exploração da “perfeita máquina” chamada corpo humano. No desenvolvimento psicomotor, a partir do esquema corporal, a criança tem a oportunidade de conhecer as diferentes partes do seu corpo, e ainda melhor, reconhecer e experimentar quais as diferentes possibilidades de movimentação da(s) parte(s) estudada(s). Além disso, é capaz de aumentar a noção da imagem do corpo e dos meios de ação que estabelecem, com a memória, a formação do esquema corporal, explorando, assim, seu corpo de forma lúdica estimulando assim, a sua expressividade. 35 Para que todo este aprendizado aconteça, existe melhor forma de conhecer as estruturas corporais e a apropriação de esquemas motores, do que oferecer à criança a possibilidade de vivenciar algo que melhor sabe fazer? Sem dúvida, a resposta é o brincar! Lembre-se de todo o conteúdo que você teve a oportunidade de estudar até aqui. Neste momento, leve-o para seu local de trabalho como educador (se você ainda não possui um, faça um exercício simples, imagine). Não importa se seu local de trabalho é grande ou pequeno, está ao ar livre ou é um local coberto, se possui espaço específico para atividades corporais ou não. É fundamental que você utilize os espaços de forma pedagógica, com a utilização de objetos/brinquedos disponíveis, situações-problemas, jogos, brincadeiras, rodas, danças livres ou direcionadas. É fundamental favorecer variadas experiências corporais às crianças. Em uma sala de aula, a cada dia o educador propõe uma forma diferente para as crianças entrarem na sala. Por exemplo, os alunos podem entrar como se estivesse pulando amarelinha, ou o educador poderia ficar na entrada da sala e todos os alunos poderiam dançar ou fazer um “hi-five”, ou seja, entrar na sala, utilizando o seu corpo de maneira adequada. 1.2. Equilíbrio Equilibrar-se é um desafio que acompanha as crianças desde muito cedo, além do ato de ficar sentado sem apoio, e do fortalecimento muscular, que exige muito equilíbrio. Com o decorrer do desenvolvimento das crianças, o ficar em pé, andar e mais para frente, o correr, são grandes testes de equilíbrio. Todos nós falamos de equilíbrio, mas, afinal, qual o seu conceito? Para Tolkmitt (1993, [s.p.]), “Equilíbrio é a noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade, pode ser trabalhado estática e dinamicamente”. No desenvolvimento psicomotor, o 36 equilíbrio é determinante para o sucesso da criança, seja no mundo das brincadeiras, jogos, danças, entre outros. 1.3. Coordenação motora Tão importante para a vida das crianças, a coordenação está presente desde o ato de andar, correr, saltar, até ao ato motor fino de pegar um lápis em movimento de pinça para escrever algo. É importante lembrar que, não somente na coordenação motora, mas em todos os itens que compõem o conhecimento de esquemas corporais, as características cognitivas são inerentes ao processo. Você se lembra de que “não é somente uma perna que chuta uma bola”, porém, um ser humano por completo em suas características motoras, cognitivas, afetivas e culturais. A Coordenação Motora Global, também conhecida como motricidade ampla, é considerada a possibilidade de controle e organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos, conhecimento e controle do próprio corpo e de suas partes (imagem corporal, esquema corporal e conhecimento corporal). Envolve, principalmente, o trabalho de membros inferiores, superiores e do tronco. Já a Coordenação Motora Fina é a capacidade de controlar pequenos músculos para exercícios refinados. A motricidade fina é a movimentação de pequenos músculos de forma ordenada. No trabalho psicomotor dentro das escolas de educação infantil é importante levar em consideração a seguinte máxima: “Em atividades motoras, comece do amplo e depois vá ao específico!” 37 1.4. Lateralidade Sabemos que já trabalhamos os temas lateralidade e mas faz-se necessário abordá-los novamente. Como diversas vezes ressaltamos neste curso, principalmente na educação infantil, as atividades corporais trazem fundamentos para outros aprendizados presentes no processo de escolarização. Reconhecer o seu corpo, viver o que é direita e esquerda, reconhecer o seu lado preferencial, entre outros estímulos relacionados à lateralidade, auxiliam na localização de atividades em uma folha, ou ainda, na construção da escrita, evitando, assim, o espelhamento das letras. 1.5. Espaço-tempo Você já pensou que o ponto de partida é a própria criança? Certamente que sim, pois a todo momento, durante nossa discussão, lhe foram apresentadas diversas formas enfatizando que a criança está no centro de todo aprendizado. Sendo assim, faça as seguintes perguntas aos seus alunos: “Qual o meu espaço, qual o espaço do outro, de qual espaço eu faço parte?” O ponto de partida para que possamos conhecer o espaço que ocupo é conhecendo o espaço que o meu corpo ocupa. Parece algo simples, mas podemos apostar que, mesmo você sendo uma pessoa adulta, possui dificuldade para reconhecer as reais proporções de seu corpo. Agora, a definição de organização temporal pode ser entendida como a capacidade que a criança possui de relacionar ações em determinado tempo. Os itens descritos anteriormente são fundamentais para o desenvolvimento psicomotor e a percepção do esquema corporal das crianças. Juntos, formam um grupo de habilidades que impulsionam o conhecimento corporal das crianças. 38 2. A psicomotricidade relacional A psicomotricidade relacional foi criada, na década de 1970, por André Lapierre, com base na psicanálise e diz respeito à relação primária entre mãe e filho. A psicomotricidade relacional não é uma invenção, sua origem advém de outros conhecimentos, em uma relação com as outras ciências, com o objetivo de desenvolver os seres humanos em sua totalidade. Como o próprio autor apresenta, “meu corpo é o lugar onde vivo, sinto e existo” (LAPIERRE; LAPIERRE, 2002, [s.p.]. Para iniciar a discussão, a psicomotricidade funcional está ligada à família de exercícios; já a relacional, entende o corpo como via principal da aprendizagem e utiliza o brincar como ponte de aprendizado. O professor é usado em muitos momentos como modelo que guia o desenvolvimento das crianças, além da utilização de diversos materiais para a sua prática. A psicomotricidade funcional tem objetivos preestabelecidos durante a aula, e guia a execução como modelo. Já a psicomotricidade relacional, utiliza-se do brincar, e a aprendizagem e o desenvolvimento são potenciados, assim, a criança expressa sentimentos a partir do corpo, trabalhando, entre outros temas, com a formação de sua personalidade. Na psicomotricidade relacional, a própria expressão do indivíduo é utilizada para superar suas dificuldades, em que o jogo, o brincar, a brincadeira, são a base no desenvolvimento das crianças Um paralelo com o cotidiano da criança, deveser levado em consideração, por exemplo: dentro das escolas de educação infantil, as crianças aprendem muito a partir das relações, especialmente aquelas relacionadas: • À sua história. 39 • Às relações. • A partir das diferenças. Na psicomotricidade relacional, o cotidiano também é valorizado, principalmente para a construção da personalidade da criança como um ser que se relaciona, um ser ativo capaz de mediar conflitos e que vê as diferenças como algo normal. E, claro, se pensarmos na construção da personalidade, na educação infantil o corpo está presente neste processo, é claro, pois este é um corpo que vive e experimenta múltiplos contextos que criam marcas em sua formação e desenvolvimento. É muito importante ressaltar que quando a criança brinca, não apenas se movimenta, ou gasta energia, mas sim estrutura seu aparelho psíquico e forma a sua personalidade. Como já dito, o corpo é o mediador para o desenvolvimento do psiquismo (aspecto da emoção, neuromotor neurolinguístico e neurocognitivo da criança), a partir do comportamento, do movimento. Além disso, o afeto e a emoção são fatores fundamentais para o desenvolvimento das funções psicomotrizes da criança. A psicomotricidade relacional é fundamental para um trabalho profundo no mundo da criança, principalmente abordando os seguintes temas: • Agressividade (trabalhar a agressividade positivamente). • Limites. • Autonomia. • Frustração. • Afetividade, sexualidade. 40 É fundamental que o educador saiba que não existe limite para o desenvolvimento da criança, pois o limite está nela; quanto mais longe ela possa ir, mais longe o educador caminha com ela. Sendo assim, convém, mais uma vez, ressaltar que o educador esteja despido de qualquer pré-julgamento no trato com as crianças e atue como um mediador do conhecimento e não como um juiz que define até onde a criança pode ir. O objetivo do educador é provocar, facilitar e estimular a utilização de diferentes materiais para que a criança se desenvolva. Dessa forma, onde está a maior força da psicomotricidade na formação da personalidade da criança? Está na espontaneidade do processo, pois a criança pensa que está brincando, mas os educadores, com seu olhar clínico, veem o movimento como uma ferramenta poderosa e consistente para o desenvolvimento não só motor das crianças, mas também na sua formação afetivo-social. 2.1. A psicomotricidade relacional na educação infantil Até este momento, você teve a oportunidade de conhecer uma grande vertente da psicomotricidade, denominada psicomotricidade relacional. Aqui, é importante realizar uma análise voltada ao mundo da psicomotricidade relacional e à educação infantil. Como a base da psicomotricidade relacional são brincadeiras, é de fácil aplicação dentro das escolas de educação infantil, pois, quando brincam (como sabemos, brincar para a criança é coisa séria), vê-se o quão rápido as crianças fazem amizades quando estão em uma brincadeira ou jogo. Vale ressaltar que o brincar é a linguagem que permeia todas as atividades da educação infantil, quando uma criança está brincando e se aproxima outra, muitos “protocolos” caem por terra. Não há a necessidade de saber o nome da pessoa que está ao seu lado, ou o time pelo qual ela torce, o importante é que ela entre no universo da brincadeira junto comigo. 41 Sendo assim, para brincar é preciso se “relacionar”, e durante a brincadeira, existe todo um ser complexo que está brincando, tudo o que a psicomotricidade relacional precisa para atuar na vida das crianças. Como na psicomotricidade relacional não se utiliza a palavra, o olhar, o contato, a forma de se conectar com o outro torna-se imprescindível na relação. O educador da educação infantil que trabalha com a psicomotricidade relacional, a partir das atividades, trabalha com a criança em sua estrutura psíquica, em que no decorrer do processo, certamente, irá ajudar de forma efetiva a criança a construir toda a sua personalidade e demais marcas que irão lhe acompanhar por toda a sua vida. O educador, quando trabalha com a psicomotricidade relacional, não necessariamente atua a partir de uma prática dirigida, mas a partir de jogos; não da forma costumeira, na qual as regras já estão preestabelecidas, cabendo aos participantes respeitá-las passivamente para, assim, chegarem ao objetivo central. No decorrer das atividades, o momento espontâneo é algo fundamental no processo de trabalho da psicomotricidade relacional, pois, a partir dele, as crianças apresentam seus sentimentos, seus conflitos e os conflitos com o grupo, um momento privilegiado para que os educadores possam trabalhar questões importantes ao desenvolvimento infantil, sendo que a fonte é o próprio aluno. Similar à psicomotricidade funcional, a psicomotricidade relacional dentro da educação infantil trabalha com materiais diversos (não se preocupe caso em sua instituição escolar não tenha diversidade de materiais), pois a criança se relaciona consigo e com os amigos. 42 No processo de construção da sua personalidade, a criança, dentro da escola, aprende lições importantes para o seu futuro. Dentre muitas, possuímos: • A aceitação de limites. • Ajudar a criança a se expressar. • Auxiliar a criança a ouvir os colegas. • Auxiliar as crianças que são tímidas a se expressarem. • Ajudar as crianças consideradas líderes a escutarem os demais. Enfim, apesar de a psicomotricidade relacional ser relativamente nova na educação infantil, muitos educadores desconhecem a grande ferramenta de trabalho motor, cognitivo e emocional que possuem em suas mãos, cabendo a eles acessá-las. Agora que você já teve uma introdução ao tema, se envolva nesta corrente que entende o corpo das crianças como fonte inestimável de conhecimento, e, acima de tudo, invista parte do seu tempo pedagógico na construção de diferentes formas de desenvolver os seus alunos não só na questão motora, mas também nas questões de construção da personalidade. 3. Considerações finais • É importante proporcionar conteúdos escolares que estimulem a consciência do corpo por parte das crianças valorizando o apreciar, executar, criar e refletir. • A psicomotricidade relacional advém Psicologia do Desenvolvimento de Jean Piaget e de Henry Wallon, bem como na Psicanálise de Winnicott. No mais, entende o corpo como ferramenta de construção da personalidade. 43 • A partir do conhecimento do esquema corporal, a criança começa a melhorar sua própria visão e como ela se localiza no meio ambiente. • Dentro das escolas de educação infantil, a psicomotricidade relacional possui grande força, pois a partir da brincadeira e dos movimentos espontâneos, o educador pode reconhecer as principais necessidades dos alunos e agir de forma direcionada. Referências LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3 anos. Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR, 2002. LAPIERRE, André; AUCOUTOURIER, Bemard. Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. São Paulo: Manole, 1984. NEGRINE, Airton. Educação Psicomotora: A Lateralidade E A Orientação Espacial. Porto Alegre: Pallotti, 1986. TOLKMITT, Valda M. Educação Física: uma produção cultural. Curitiba: Módulo, 1993. 44 A importância do trabalho do educador na educação infantil: diálogos com as culturas corporais. Autoria: Leonardo Augusto D’Almeida Barros Leitura crítica: Rogério de Melo Grillo Objetivos • Valorizar as atividades lúdicas como inerentes ao desenvolvimento das crianças na educação infantil. • Reconhecer as principais características das atividades lúdicas e atividades direcionadas. • Valorizar o trabalho do educador de educação infantil como promotor do desenvolvimento motor e agente de difusão da cultura corporal. • Auxiliar na construção de a educação infantil que prepara as crianças para o futuro sem esquecer-se do momento atual, favorecendo o desenvolvimento pleno das crianças. 45 1. IntroduçãoQuando conversamos com as pessoas, percebemos que cada uma possui diferentes habilidades que a destacam em meio a uma multidão. Alguns sabem cozinhar muito bem, outros produzem artesanato, por exemplo. Certamente, dentre tantas habilidades, um educador é um comunicador por excelência. Agora responda: qual a maior vocação das crianças? Ou melhor, o que elas melhor sabem fazer? Provavelmente, você está dizendo: “BRINCAR!” Diferentemente da forma com que os adultos pensam, para as crianças brincar é um assunto sério e que dominam com maestria! Dessa maneira, ao compreender a criança, com o lúdico, os educadores conseguem obter informações privilegiadas e em primeira mão sobre elas, nas quais a sua conduta, a partir disso, certamente será mais eficaz no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento. Agora, também é fundamental reconhecer e valorizar o trabalho do educador como agente catalisador de todo esse processo de desenvolvimento das crianças na fase de educação infantil. É alguém que articula de forma indissociável o cuidar como o educar. Estas são as faces de uma mesma moeda, logo, um profissional qualificado compreende este processo e o respeita na sua ação com as crianças. Por esse motivo, estamos aqui estudando esse tema acima de uma abordagem higienista, com todas as suas atribuições relacionadas aos alunos nos âmbitos da higiene, proteção, estimulando as crianças ao autoconhecimento. É importante reconhecer-se como um ser integrante de um grupo, reconhecido e valorizado em seus saberes e práticas. Engajado em desenvolver práticas relacionadas à motricidade humana e às principais características da alfabetização corporal e da valorização da cultura corporal do movimento. 46 2. O lúdico A palavra “lúdico” tem origem no latim ludus, que significa “jogos” e “brincar”. O lúdico está relacionado a uma forma de aprendizado prazerosa, na qual a criança demonstra o seu jeito de ser relacionado ao contexto sociocultural em que ela está inserida. Diversos autores valorizam o lúdico como parte importante do desenvolvimento dos seres humanos, dentre eles Piaget (1967, p. 20), que diz: “Por meio de uma atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a realidade”. O lúdico e as atividades lúdicas possuem grande força no processo de desenvolvimento humano, pois são grandes facilitadores tanto na construção de sua personalidade, como no progresso de cada uma das suas funções importantes, como as psicológicas, intelectuais e morais. Porém, qual a importância do lúdico na sua prática pedagógica? É importante, como apenas ocupação do tempo livre ou como prêmio às crianças que obedeceram? Neste momento, vale a reflexão sobre este tema rumo à valorização e à maior inclusão de atividades lúdicas no seu cotidiano educacional. Lembre-se que o papel fundamental da educação infantil é o desenvolvimento da criança pelo brincar. Assim, se as crianças brincam em todos os momentos, elas estão fazendo exatamente o que deveriam. Todos os educadores devem ser provocados pela força do lúdico, para que o valorize em ações diárias, pois a ludicidade não ajuda apenas as crianças, traz, também, inúmeras contribuições aos adultos. Dentro da escola, o educador tem grandes responsabilidades na renovação das práticas escolares. Cabe a ele trabalhar na melhoria da qualidade geral do ensino, estudando práticas já existentes ou desenvolvendo novas práticas que permitam aos alunos desenvolverem e construírem o seu próprio conhecimento. Freire (2002), em sua obra O jogo: entre o riso e o choro, nos relata que quando uma criança 47 está brincando, para ela não existe a distinção entre os dois mundos (o mundo real e o mundo da brincadeira), o autor diz que enquanto brinca, ela está “realmente” vivendo o mundo da brincadeira, totalmente envolvida como protagonista no roteiro de sua história. Dessa forma, ludicidade tem importância fundamental para a construção do conhecimento. Na educação infantil, não há como pensar em prática pedagógica sem que haja a presença do lúdico. Dessa maneira, o próximo subitem apresentará a importância do lúdico na educação infantil. 2.1. O lúdico na educação infantil Em todo momento, durante a nossa discussão, foi ressaltada a importância da valorização das principais características culturais dos alunos, e o quanto é importante utilizar essas informações como ferramentas facilitadoras ao aprendizado significativo dos alunos. Observe que os jogos de regras são muito importantes na educação infantil, entretanto, as brincadeiras são fantásticos apresentadores destas características, pois elucidam aos educadores as principais características das crianças. Muito mais do que questionários ou fichas de avaliação, a real expressão da criança pelo corpo e por suas atitudes, a partir das atividades lúdicas, apresenta conteúdos fidedignos espetaculares. Na educação, mesmo com a rejeição de muitos, a realidade segue a mesma linha. Os profissionais que estavam acostumados apenas a “passar conteúdos”, ou se você preferir os termos críticos de Perrenoud (2000, p. 23), serem meros “dadores de aulas”, hoje se veem frente às necessidades cada vez mais complexas e que exigem uma qualificação muito mais abrangente e específica do que aquela em que os professores que ensinaram as gerações anteriores. Assim, é fundamental que os profissionais da educação percebam sua profissão como algo mais amplo, complexo e 48 dinâmico. Na educação, a exigência de sair da sua “zona de conforto” é imprescindível para uma educação de corpo inteiro. Encontramos, em inúmeras escolas de educação infantil, brinquedotecas muito bem estruturadas, que servem como uma vitrine para os pais que venham conhecer a escola, mas, em seu dia a dia não são utilizadas pelas crianças. O objetivo não é defender ou não que existam brinquedotecas, e é sabida a realidade de muitas escolas. Mas, sim, defender fortemente que os momentos lúdicos tenham um espaço privilegiado no cotidiano das instituições escolares, favorecendo a todos os envolvidos neste processo: • Alunos, que podem “exercitar” sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua realidade e interagir com os colegas. • Educadores, pois a partir da análise das atividades lúdicas, possam conhecer mais seus alunos e, assim, ser mais assertivos em suas atividades. • Instituições educacionais, pois realmente cumprirão com seu objetivo de proporcionar possibilidades múltiplas de desenvolvimento dos seres humanos. Outra característica importante das atividades lúdicas dentro da escola é apresentada por Vygotsky (1984). Os elementos fundamentais da brincadeira são: a situação imaginária, a imitação e as regras. Segundo o autor, sempre que brinca, a criança cria uma situação imaginária em que assume um papel, que pode ser, inicialmente, a imitação de um adulto observado. Imagine um adulto que possui a profissão de mecânico e o filho sempre o vê trabalhando. Quando esse menino estiver brincando livremente nos momentos lúdicos, qual simbolismo relacionado ao mundo dos adultos 49 você imagina que virá à cabeça desse garoto? O que ele vê? Claro que ele também brincará de outras profissões, mas, quem está mais próximo de seu mundo é o mecânico. Essas informações são muito importantes no processo de ensino- aprendizagem! Quando pensamos em desenvolvimento psicomotor, não vemos apenas pernas chutando uma bola, ou mãos penteando o cabelo de bonecas, mas seres humanos dotados de sentimentos, cultura, desejos por trás desse ato motor. As atividades corporais, por si só, são capazes de fazer com que as pessoas mostrem quem “realmente são”. Com as crianças é tudo mais simples, pois elas ainda não assumem diferentes máscaras sociais, e se mostram como realmente são. Mas, as atividades corporais, principalmente as lúdicas, nos trazem informações mais profundas do que realmente as crianças pensam e sentem. Embasados em Teixeira e Figueiredo (1970), existem inúmeros motivos pelosquais os educadores (neste caso, na educação infantil) valorizam e utilizam as atividades lúdicas no processo de aprendizagem dos pequenos: 1. As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica. 2. O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido à sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor de motivação, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para consecução de seu objetivo. 50 Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário. 3. As atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental que mobiliza as funções e operações, a ludicidade aciona as esferas motora e cognitiva, e à medida que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva. Assim, vê-se que a atividade lúdica se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador dos vários aspectos da personalidade. Para uma melhor fundamentação em relação ao universo lúdico, é importante saber diferenciar o jogo pedagógico (jogo guiado) do jogo lúdico (livre expressão). Muitos educadores se veem na obrigação de “pedagogizar” todas as atividades na escola. Nesse “desespero educacional”, os educadores apresentam jogos nos quais não podem sair do script inicial! Imagine isso para uma criança da educação infantil, cheia de vida, imaginação e vontade de criar, sendo podada por isso. nessa fase escolar, com a grande variedade de abordagens e necessidades dos alunos, o equilíbrio é o sucesso. É importante, ainda, apresentar algumas diferenças entre o jogo pedagógico (guiado) e o jogo lúdico (livre expressão com a mínima intervenção do educador). O jogo pedagógico possui características como: grande força pedagógica; intenção de provocar aprendizagem significativa; estimular a construção de novo conhecimento; despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória à intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais e que o ajude a construir conexões. Já as atividades lúdicas, possuem as seguintes características: as atividades lúdicas na educação infantil vão além da diversão e ocupação do tempo livre das crianças; é capaz de levar o indivíduo ao puro prazer (mesmo que mergulhando nas atividades, em determinados momentos, os participantes também podem sentir tristeza); estimula a imaginação 51 com o mergulho no “mundo da imaginação”, diversão, entretenimento, a interação, e a continuidade, pois pode ser reiniciada a qualquer momento após o seu término. O jogo no processo de ensino-aprendizagem atua a partir de seu caráter desafiador, pelo interesse do aluno e pelo objetivo proposto, sempre levando em consideração a maturidade da criança para superar seu desafio, as características culturais dos alunos e seus principais significados, e nunca quando o educando revelar cansaço pela atividade ou tédio por seus resultados. Em outras palavras, “mate o jogo, antes que ele morra sozinho!”. O lúdico é uma experiência insubstituível que pode (e deve) ser usada como combustível na construção do conhecimento humano, pois sua grande força impulsiona o desenvolvimento das diferentes habilidades operatórias, elucida como a criança realmente é, trazendo informações “limpas” (sem interferências) de como a criança realmente é, quais são seus reais desejos, mesmo sendo tão pequenas. Além disso, é uma importante ferramenta de progresso pessoal. Além de todos os benefícios apresentados, é importante ressaltar que as atividades lúdicas também contribuem para a construção e desenvolvimento da personalidade das crianças. O lúdico, no processo de ensino-aprendizagem, não pode ser um privilégio, mas sim uma necessidade real, pois leva o educando a tomar consciência de si, da realidade e a esforçar-se na busca dos conhecimentos, sem perder o prazer em aprender. É garantido que os alunos que aprendem brincando são os mais dedicados, pois internalizam o processo de aprendizagem de uma maneira que poucos fazem, porque vivem o momento. Para tanto, é necessário e urgente habilitar o educador para que este elemento tão necessário à formação da aprendizagem do educando 52 possa ser inserido como aspecto indispensável na interação do relacionamento educando-aprendizagem. Por fim, vale mais uma vez ressaltar que, para que o desenvolvimento psicomotor das crianças, seja ele estimulado pelo lúdico, por brincadeiras ou jogos direcionados ou por qualquer outra abordagem, só realmente acontecerá se o ambiente escolar favorecer o desenvolvimento dos alunos. Por exemplo, inclui o aprendizado à mente das crianças (cognitivo), seus corações (questões afetivas), sua vida (questões culturais) e seus corpos (questões motoras). Dessa forma, faz-se necessário investir tempo em estudos, no cotidiano escolar e, também, em espaços importantes em seu planejamento para que este aprendizado aconteça. 3. O papel do educador como agente de desenvolvimento da cultura corporal Boa parte das discussões caminha no sentido de que os educadores, além de ensinar os conteúdos teóricos – relativamente flexíveis e perpassados pelo lúdico –, mesmo que na educação infantil, tal função leva a estimular todas as crianças sobre a possibilidade e a capacidade de se comunicar corporalmente, além de favorecer a práxis do conhecimento humano. Ao mesmo tempo que lhes são atribuídas as novas funções, os educadores da educação infantil, muitas vezes, rebatem dizendo que “não são especialistas na linguagem do corpo”. Isso é verdade, junto à “falta de muitos não receberam estímulos em sua fase escolar, tampouco em sua formação no ensino superior”, mas, mesmo assim, são responsáveis por fazerem a mediação entre os conhecimentos socialmente construídos e os alunos, aqueles que vão para a escola aprender o que fora dela não se aprende. 53 A realidade nos mostra que ensino e aprendizagem estão intimamente ligados, até porque não existe ensino se não houver aprendizado. Outra questão inerente é definir “quem aprende com quem”. Será que realmente o educador é “o detentor” do conhecimento única e exclusivamente porque possui título “superior” e experiência de vida? Na temática do corpo, do movimento, da cultura corporal do movimento e principalmente a importância do professor são os focos deste último tema. Sendo assim, a missão dos educadores é apresentar e integrar as crianças à cultura corporal, ampliando seus conhecimentos e alargando as possibilidades do se movimentar e de interagir com os amigos. A partir deste olhar, cremos que as crianças que souberem utilizar seus corpos e se comunicarem a partir dele, terão, provavelmente, mais possibilidades de inserção e interação social. Podemos supor, ainda, que as crianças e jovens analfabetos corporalmente são excluídos, marginalizados e pouco compreendem as relações do corpo em movimento com a possibilidade de viver uma vida mais ativa e saudável. O que precisa ser valorizado por nós, educadores, é um corpo como um movimento que é uma forma de expressão e aprendizado; devemos pensá-lo não apenas como um ato mecânico de reprodução das culturas, mas como uma das pontes mais importantes entre ser humano/cultura/aprendizado. Enquanto o senso comum, ao avistar crianças com seus corpos em atividade, pode imaginar que elas estejam “apenas” brincando, jogando, dançando ou lutando, nós, educadores, que conhecemos a psicomotricidade, a cultura corporal do movimento, a alfabetização corporal, vemos o espetáculo do desenvolvimento
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