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AGENTES SEDATIVOS HIPNÓTICOS Para ser efetivo, um fármaco sedativo (ansiolítico) deve reduzir a ansiedade e exercer um efeito calmante. O grau de depressão do sistema nervoso central (SNC) produzido por um sedativo deve ser o mínimo compatível com sua eficácia terapêutica. Um fármaco hipnótico deve produzir sonolência e estimular o início e a manutenção de um estado de sono. Os efeitos hipnóticos envolvem uma depressão mais pronunciada do SNC do que a sedação, o que pode ser obtido com muitos fármacos pertencentes a essa classe, simplesmente pelo aumento da dose. A depressão da função do SNC, graduada e dependente da dose, constitui uma característica da maioria dos fármacos sedativos- hipnóticos. Entretanto, cada fármaco difere na relação entre a dose e o grau de depressão do SNC. A inclinação linear para o fármaco A é típica de muitos dos agentes sedativos-hipnóticos mais antigos, incluindo os barbitúricos e os álcoois. No caso dessas substâncias, um aumento da dose acima do necessário para produzir hipnose pode levar a um estado de anestesia geral. Em doses ainda mais altas, esses sedativos-hipnóticos podem deprimir os centros respiratório e vasomotor no bulbo, levando ao coma e à morte. Os desvios de uma relação de dose-resposta linear, conforme ilustrado para o fármaco B, exigem incrementos proporcionalmente maiores da dose para obter uma depressão do SNC mais profunda do que a hipnose. Esse parece ser o caso dos benzodiazepínicos e de alguns hipnóticos mais recentes que apresentam um mecanismo de ação semelhante. Farmacocinética: A lipossolubilidade desempenha uma importante função na determinação da taxa de penetração de determinado sedativo-hipnótico no SNC. Essa propriedade é responsável pelo rápido início dos efeitos do triazolam, do tiopental e dos hipnóticos mais recentes. Todos os sedativos-hipnóticos atravessam a barreira placentária durante a gravidez. Se forem administrados durante o período pré-parto, podem contribuir para a depressão das funções vitais do recém-nascido. Os agentes sedativos-hipnóticos também são detectáveis no leite materno e podem exercer efeitos depressores no lactente amamentado pela mãe. Biotransformação: a transformação metabólica em metabólitos mais hidrossolúveis é necessária para a depuração dos sedativos-hipnóticos do corpo, os sistemas enzimáticos hepáticos são de suma importância para este processo. 1. Benzodiazepínicos – O metabolismo hepático é responsável pela depuração de todos os benzodiazepínicos. A maioria dos benzodiazepínicos sofre oxidação microssômica (reações de fase I), incluindo N-desalquilação e hidroxilação alifática catalisada por isozimas do citocromo P450, especialmente a CYP3A4. Subsequentemente, os metabólitos são conjugados (reações de fase II) para formar glicuronídeos, que são excretados na urina. Todavia, muitos metabólitos de fase I dos benzodiazepínicos são farmacologicamente ativos, alguns com meias-vidas longas. Por exemplo, o desmetildiazepam, cuja meia-vida de eliminação é de mais de 40 horas, é um metabólito ativo do clordiazepóxido, do diazepam, do prazepam e do clorazepato. 2. Barbitúricos – Com exceção do fenobarbital, apenas uma quantidade insignificante dos barbitúricos é excretada em sua forma inalterada. As principais vias metabólicas envolvem a oxidação por enzimas hepáticas, formando álcoois, ácidos e cetonas, que aparecem na urina sob a forma de conjugados glicuronídeos. 3. Hipnóticos mais recentes – Após a administração oral da formulação padrão, o zolpidem alcança níveis plasmáticos máximos em 1 a 3 horas. Dispõe-se também de formulações do zolpidem em aerossolsublingual e oral. O zolpidem é rapidamente metabolizado a metabólitos inativos por meio de oxidação e hidroxilação pela CYP3A4 hepática. A meia-vida de eliminação do fármaco é maior nas mulheres e aumenta significativamente no idoso. Excreção: Os metabólitos hidrossolúveis dos sedativos-hipnóticos, que são formados, em sua maior parte, pela conjugação de metabólitos de fase II, são excretados principalmente pelo rim. Na maioria dos casos, as alterações da função renal não exercem efeito pronunciado sobre a eliminação dos fármacos originais. O fenobarbital é excretado até certo grau de modo inalterado na urina, e a sua taxa de eliminação pode ser significativamente aumentada pela alcalinização da urina. Isso se deve, em parte, a um aumento da ionização em pH alcalino, visto que o fenobarbital é um ácido fraco, com pKa de 7,4. Fatores que afetam a biodisposição: Em pacientes muito idosos e naqueles com doença hepática grave, a meia-vida de eliminação desses fármacos com frequência está aumentada de modo significativo. Nesses casos, a administração de múltiplas doses normais desses sedativos-hipnóticos pode resultar em efeitos excessivos sobre o SNC. A atividade das enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos pode estar aumentada em pacientes expostos por longo período a certos sedativos-hipnóticos mais antigos. Os barbitúricos (particularmente o fenobarbital) e o meprobamato têm mais tendência a causar esse efeito, podendo resultar em aumento de seu próprio metabolismo hepático, bem como no de outros fármacos. Por outro lado, os benzodiazepínicos e os hipnóticos mais recentes não alteram a atividade das enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos com uso contínuo Farmacodinâmica dos benzodiazepínicos, barbitúricos e hipnóticos mais recentes Os benzodiazepínicos, os barbitúricos, o zolpidem, a zaleplona, a eszopiclona e muitos outros fármacos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAa presente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. O receptor GABAa possui uma estrutura pentamérica organizada a partir de cinco subunidades (apresentando, cada uma delas, quatro domínios que atravessam a membrana) selecionadas a partir de múltiplas classes polipeptídicas (a, b, g(gama), d(delta), e, p, r, etc). Uma isoforma importante do receptor GABAa, que é encontrada em muitas regiões do cérebro, consiste em duas subunidades a1, duas subunidades b2 e uma subunidade g2. Nessa isoforma, os dois sítios de ligação do GABA estão localizados entre as subunidades a1 e b2 adjacentes, e a bolsa de ligação para os benzodiazepínicos (o sítio de BZ do receptor de GABAA) situa-se entre uma subunidade a1 e a subunidade g2. Todavia, os receptores GABAa em diferentes áreas do SNC consistem em várias combinações das subunidades essenciais, e os benzodiazepínicos ligam-se a muitos desses receptores, incluindo isoformas que contêm subunidades a2, a3 e a5. Os barbitúricos ligam-se também a múltiplas isoformas do receptor de GABAA, porém em sítios diferentes daqueles com os quais os benzodiazepínicos interagem. Ao contrário dos benzodiazepínicos, o zolpidem, a zaleplona e a eszopiclona ligam-se mais seletivamente, visto que esses fármacos só interagem com isoformas do receptor de GABAa que contêm subunidades a1. A heterogeneidade dos receptores de GABAa pode constituir a base molecular para as ações farmacológicas variadas dos benzodiazepínicos e de fármacos relacionados. Neurofarmacologia: O GABA (ácido g-aminobutírico) é um importante neurotransmissor inibitório do SNC. Os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica em todos os níveis do neuroeixo, incluindo a medula espinal, o hipotálamo, o hipocampo, a substância negra, o córtex cerebelar e o córtex cerebral. Os benzodiazepínicos parecem aumentar a eficiência da inibição sináptica GABAérgica. Eles não substituem o GABA, mas parecem potencializar seus efeitos de modo alostérico, sem ativar diretamente os receptores de GABAa ou abrir os canais de cloreto associados. O aumento da condutância dos íons cloreto, induzido pela interação dos benzodiazepínicos com o GABA, assume a forma de um aumento da frequência de eventosde abertura dos canais. Os barbitúricos também facilitam as ações do GABA em múltiplos locais do SNC; todavia, diferentemente dos benzodiazepínicos, parecem aumentar a duração de abertura dos canais de cloreto regulados pelo GABA. Em altas concentrações, os barbitúricos também podem ser GABAmiméticos, ativando diretamente os canais de cloreto. Os barbitúricos são menos seletivos do que os benzodiazepínicos nas suas ações, visto que também deprimem as ações do neurotransmissor excitatório, o ácido glutâmico, por meio de sua ligação ao receptor de AMPA. Os barbitúricos também exercem efeitos sobre as membranas não sinápticas, paralelamente a seus efeitos sobre a neurotransmissão do GABA e do glutamato. Essa multiplicidade de locais de ação dos barbitúricos pode constituir a base de sua capacidade de induzir anestesia cirúrgica completa e de seus efeitos depressores centrais mais pronunciados (que resultam em sua baixa margem de segurança), em comparação com os benzodiazepínicos e os hipnóticos mais recentes. C. Ligantes dos sítios de ligação dos benzodiazepínicos Foram relatados três tipos de interações ligante-receptor de benzodiazepínicos. (1) Os agonistas facilitam as ações do GABA, e isso ocorre em múltiplos sítios de ligação de BZ no caso dos benzodiazepínicos. Conforme assinalado anteriormente, os não benzodiazepínicos zolpidem, zaleplona e eszopiclona são agonistas seletivos nos sítios de BZ que contêm uma subunidade a1. (2) Os antagonistas são exemplificados pelo derivado benzodiazepínico sintético, o flumazenil, que bloqueia as ações dos benzodiazepínicos, da eszopiclona, da zaleplona e do zolpidem, mas não antagoniza as ações dos barbitúricos, do meprobamato ou do etanol. (3) Os agonistas inversos atuam como moduladores alostéricos negativos da função do receptor de GABA. Sua interação com sítios de BZ no receptor GABAa pode produzir ansiedade e convulsões, uma ação que foi demonstrada para vários compostos, particularmente as b-carbolinas, como a n-butil-b-carbolina-3-carboxilato (b- CCB). Além de suas ações diretas, essas moléculas podem bloquear os efeitos dos benzodiazepínicos. EFEITOS ORGÂNICOS 1) Sedação: Os benzodiazepínicos, os barbitúricos e a maioria dos fármacos sedativos-hipnóticos mais antigos exercem efeitos calmantes, com redução concomitante da ansiedade em doses relativamente baixas. Todavia, na maioria dos casos, as ações ansiolíticas dos sedativos-hipnóticos são acompanhadas de alguns efeitos depressores sobre as funções psicomotoras e cognitivas. A desinibição de comportamento previamente suprimido pode estar mais relacionada com os efeitos de desinibição comportamental dos sedativos-hipnóticos, incluindo euforia, comprometimento do discernimento e perda do autocontrole, que podem ocorrer com doses na faixa daquelas usadas para o tratamento da ansiedade. Os benzodiazepínicos também exercem efeitos amnésicos anterógrados dependentes da dose (incapacidade de lembrar eventos que ocorrem durante a duração da ação do fármaco). 2) Hipnose: Os efeitos gerais dos benzodiazepínicos e dos sedativos-hipnóticos mais antigos sobre os padrões do sono normal são os seguintes: (1) a latência até o início do sono é reduzida (tempo até adormecer); (2) a duração do estágio 2 do sono NREM (movimento ocular não rápido) aumenta; (3) a duração do sono REM (movimento ocular rápido) diminui; e (4) a duração do sono de ondas lentas NREM do estágio 4 é reduzida. Todos os hipnóticos mais recentes diminuem a latência até o sono persistente. O zolpidem diminui o sono REM, porém exerce efeito mínimo sobre o sono de ondas lentas. A zaleplona diminui a latência até o início do sono, com pouco efeito sobre a duração total do sono, o sono NREM ou o sono REM. A eszopiclona aumenta o tempo total de sono, principalmente por meio de aumento do estágio 2 do sono NREM, e, em doses baixas, tem pouco efeito sobre os padrões do sono. Pode-se detectar um padrão semelhante de “rebote do sono REM” após a interrupção abrupta do tratamento com sedativos-hipnóticos mais antigos, particularmente quando fármacos com curta duração de ação (p. ex., triazolam) são usados em altas doses. Ocorre insônia de rebote com o zolpidem e a zaleplona se esses fármacos forem administrados em doses mais altas. 3) Anestesia: Entre os barbitúricos, o tiopental e o metoexital são muito lipossolúveis, penetrando rapidamente no tecido cerebral após administração intravenosa, uma característica que favorece seu uso para indução da anestesia. A rápida redistribuição tecidual (mas não a rápida eliminação) responde pela curta duração de ação desses fármacos, o que constitui uma característica útil na recuperação da anestesia. Os benzodiazepínicos – incluindo o diazepam, o lorazepam e o midazolam – são usados por via intravenosa na anestesia, frequentemente em associação com outros agentes. Os benzodiazepínicos, quando administrados em altas doses como adjuvantes de anestésicos gerais, podem contribuir para uma depressão respiratória pós-anestésica persistente. É provável que isso se deva as suas meias-vidas relativamente longas e com a formação de metabólitos ativos. Entretanto, essas ações depressoras dos benzodiazepínicos são geralmente reversíveis com flumazenil. 4) Efeitos anticonvulsivantes: Os sedativos-hipnóticos são, em sua maioria, capazes de inibir o desenvolvimento e a propagação da atividade elétrica epileptiforme no SNC. Existe alguma seletividade, visto que alguns membros do grupo podem exercer efeitos anticonvulsivantes, sem causar acentuada depressão do SNC. Vários benzodiazepínicos – incluindo o clonazepam, o nitrazepam, o lorazepam e o diazepam – são seletivos o suficiente para serem clinicamente úteis no tratamento das convulsões. Entre os barbitúricos, o fenobarbital e o metarbital (convertido em fenobarbital no corpo) mostram-se efetivos no tratamento das crises tônico-clônicas generalizadas, embora não sejam os fármacos de primeira escolha. O clonazepam e o fenobarbital são anticonvulsivantes sem causar sedação severa. 5) Relaxamento muscular: Alguns sedativos-hipnóticos, em particular membros dos grupos dos carbamatos (p. ex., meprobamato) e dos benzodiazepínicos, exercem efeitos inibitórios sobre os reflexos polissinápticos e sobre a transmissão internuncial e, em altas doses, também podem deprimir a transmissão na junção neuromuscular esquelética. 6) Efeitos sobre a respiração e a função cardiovascular: mesmo em doses terapêuticas, os sedativos- hipnóticos podem produzir depressão respiratória significativa em pacientes com doença pulmonar. Os efeitos sobre a respiração estão relacionados com a dose, e a depressão do centro respiratório medular constitui a causa habitual de morte por superdosagem de sedativos-hipnóticos. Em doses que produzem hipnose, não se observa qualquer efeito significativo sobre o sistema cardiovascular de pacientes saudáveis. Entretanto, nos estados de hipovolemia, na insuficiência cardíaca e em outras doenças que comprometem a função cardiovascular, os agentes sedativos-hipnóticos, quando administrados em doses normais, podem causar depressão cardiovascular, provavelmente em consequência de suas ações sobre os centros vasomotores medulares. Em doses tóxicas, tanto a contratilidade do miocárdio como o tônus vascular podem ser deprimidos por efeitos centrais e periféricos, possivelmente por meio de facilitação das ações da adenosina, resultando em colapso circulatório. Tolerância: dependência psicológica e fisiológica A tolerância – isto é, a diminuição da responsividade a determinado fármaco após exposição repetida – constitui uma característica comum do uso dos sedativos-hipnóticos. Pode levar à necessidade de aumentar a dose necessária para manter uma melhora sintomática ou para promover o sono. RAMELTEONA A ramelteona, um novo agente hipnótico especificamente prescrito para pacientes que têm dificuldade de dormir,é um agonista dos receptores de melatonina MT1 e MT2, localizados nos núcleos supraquiasmáticos do cérebro. A tasimelteona é semelhante e foi aprovada para o distúrbio de sono-vigília sem padrão de 24 horas. Esses fármacos não têm nenhum efeito direto sobre a neurotransmissão GABAérgica no SNC. O fármaco não deve ser administrado em associação com inibidores da CYP1A2 (p. ex., ciprofloxacino, fluvoxamina, tacrina, zileutona) ou da CYP2C9 (p. ex., fluconazol). O uso concomitante com o antidepressivo fluvoxamina aumenta a concentração plasmática máxima da ramelteona em mais de 50 vezes. A ramelteona deve ser usada com cautela em pacientes com disfunção hepática. Os efeitos adversos da ramelteona consistem em tontura, sonolência, fadiga e alterações endócrinas. BUSPIRONA A buspirona alivia a ansiedade sem causar efeitos sedativos, hipnóticos ou eufóricos pronunciados . Ao contrário dos benzodiazepínicos, o fármaco não tem propriedades anticonvulsivantes ou miorrelaxantes. A buspirona não interage diretamente com os sistemas GABAérgicos. O fármaco pode exercer seus efeitos ansiolíticos ao atuar como agonista parcial nos receptores 5-HT1a (serotonina) cerebrais; todavia, possui também afinidade pelos receptores dopamínicos D2 cerebrais. Os pacientes tratados com buspirona não apresentam ansiedade de rebote, nem sinais de abstinência com a interrupção abrupta do fármaco. A buspirona não é efetiva no bloqueio da síndrome de abstinência aguda resultante da suspensão abrupta do uso de benzodiazepínicos ou de outros agentes sedativos-hipnóticos. O fármaco tem tendência mínima ao abuso. Em acentuado contraste com os benzodiazepínicos, os efeitos ansiolíticos da buspirona podem levar 3 a 4 semanas para se estabelecerem (assim, NÃO são indicados como anestésicos pré-cirúrgicos) tornando o fármaco inapropriado para o tratamento dos estados de ansiedade aguda. O fármaco é usado nos estados de ansiedade generalizada, porém é menos efetivo nos transtornos de pânico. A meia-vida de eliminação da buspirona é de 2 a 4 horas, e a presença de disfunção hepática pode diminuir a sua depuração. A rifampicina, um indutor do citocromo P450, diminui a meia-vida da buspirona, ao passo que os inibidores da CYP3A4 (p. ex., eritromicina, cetoconazol, suco de pomelo [toranja ou grapefruit], nefazodona) podem aumentar acentuadamente os níveis plasmáticos do fármaco. A buspirona provoca menos comprometimento psicomotor do que os benzodiazepínicos e não afeta a capacidade de dirigir veículos. O fármaco não potencializa os efeitos dos agentes sedativos-hipnóticos convencionais, do etanol ou dos antidepressivos tricíclicos, e os pacientes idosos não parecem ser mais sensíveis às suas ações. Podem ocorrer dor torácica inespecífica, taquicardia, palpitações, tontura, nervosismo, zumbido, desconforto gastrintestinal e parestesias, bem como constrição pupilar dependente da dose. A pressão arterial pode ser significativamente elevada em pacientes recebendo inibidores da monoaminoxidase (MAO). ANTAGONISTAS DOS BENZODIAZEPÍNICOS: FLUMAZENIL O flumazenil é um dos vários derivados 1,4-benzodiazepínicos com alta afinidade pelo sítio de ligação de benzodiazepínicos do receptor de GABAa, que atuam como antagonista competitivos. O flumazenil bloqueia muitas das ações dos benzodiazepínicos, do zolpidem, da zaleplona e da eszopiclona, porém não antagoniza os efeitos de outros sedativos-hipnóticos, do etanol, dos opioides ou dos anestésicos gerais sobre o SNC. O flumazenil é usado para reversão dos efeitos depressores da superdosagem de benzodiazepínicos sobre o SNC, bem como para acelerar a recuperação após o uso desses fármacos em procedimentos anestésicos e diagnósticos. Quando administrado por via intravenosa, o flumazenil atua rapidamente, porém apresenta meia-vida curta (0,7 a 1,3 hora), devido à sua rápida depuração hepática. Como todos os benzodiazepínicos têm uma duração de ação mais longa que a do flumazenil, é comum haver recidiva da sedação, exigindo a administração repetida do antagonista. Os efeitos colaterais do flumazenil incluem agitação, confusão, tontura e náuseas. O flumazenil pode causar síndrome de abstinência grave precipitada em pacientes que desenvolveram dependência fisiológica de benzodiazepínicos. Em pacientes que tomaram benzodiazepínicos com antidepressivos tricíclicos, podem ocorrer convulsões e arritmias cardíacas após a administração de flumazenil. Antagonistas do receptor de orexina: fármacos que propiciam o sono A orexina A e B são peptídeos encontrados nos neurônios hipotalâmicos que estão envolvidos no estado de vigília; seus níveis aumentam durante o dia e diminuem à noite. A perda dos neurônios de orexina está associada à narcolepsia, um distúrbio caracterizado por sonolência diurna e cataplexia. Estudos em animais mostram que os antagonistas dos receptores de orexina possuem efeitos que propiciam o sono. Isso levou ao desenvolvimento de uma nova classe de fármacos hipnóticos, os antagonistas da orexina, que incluem os fármacos almorexanto e suvorexanto, sendo este último aprovado recentemente pela FDA. USOS CLÍNICOS 1) Ansiedade situacional: uso de sedativos-hipnóticos em curto prazo pode ser apropriado para o tratamento dessa forma de ansiedade e de alguns estados de ansiedade associados a doenças. De modo semelhante, o uso de um sedativo-hipnótico como pré-medicação antes de uma cirurgia ou de algum procedimento médico desagradável é apropriado. 2) Os benzodiazepínicos continuam sendo usados no tratamento dos estados de ansiedade aguda e para o rápido controle dos ataques de pânico. São também utilizados, embora menos comumente, no tratamento de longo prazo do transtorno de ansiedade generalizada e dos transtornos de pânico. 3) O alprazolam tem sido usado no tratamento da síndrome do pânico e da agorafobia e parece ser mais seletivo nessas afecções do que outros benzodiazepínicos. A escolha dos benzodiazepínicos para o tratamento da ansiedade baseia-se em vários princípios farmacológicos bem definidos: (1) rápido início de ação; (2) índice terapêutico relativamente alto, além da disponibilidade do flumazenil para o tratamento da superdosagem; (3) baixo risco de interações medicamentosas com base na indução das enzimas hepáticas; e (4) efeitos mínimos sobre as funções cardiovasculares ou autônomas. As desvantagens dos benzodiazepínicos incluem o risco de dependência, depressão das funções do SNC e efeitos amnésicos. Além disso, os benzodiazepínicos exercem depressão aditiva do SNC quando administrados com outras substâncias, incluindo o etanol. O paciente deve ser avisado sobre essa possibilidade, a fim de evitar o comprometimento no desempenho de qualquer tarefa que exija atividade mental e coordenação motora. No tratamento do transtorno de ansiedade generalizado e de certas fobias, os antidepressivos mais recentes, incluindo os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN), atualmente são considerados fármacos de primeira escolha. Entretanto, esses agentes apresentam início de ação lento e, portanto, eficácia limitada nos estados de ansiedade aguda. Os sedativos-hipnóticos devem ser usados com cautela, de modo a minimizar os efeitos colaterais. Deve-se prescrever uma dose que não comprometa a atividade mental ou as funções motoras durante as horas de vigília. As prescrições devem ser feitas por curtos períodos, visto que existe pouca justificativa para um tratamento de longo prazo (2 meses ou mais). TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DO SONO Os benzodiazepínicos podem causar uma diminuição dependente da dose do sono REM e do sono de ondas lentas, embora em menor grau do que os barbitúricos. Os hipnóticos mais recentes, zolpidem, zaleplona e eszopiclona, têm menos tendência do que os benzodiazepínicos a modificar os padrões do sono. O fármaco selecionado deveproporcionar um sono de início bastante rápido (diminuição da latência até o sono) e de duração suficiente, com efeitos de “ressaca” mínimos, como sonolência, disforia e depressão mental ou motora no dia seguinte. A sedação diurna é mais comum com os benzodiazepínicos que apresentam taxas lentas de eliminação (p. ex., lorazepam) e com aqueles que sofrem biotransformação em metabólitos ativos (p. ex., flurazepam, quazepam). Se os benzodiazepínicos forem usados à noite, pode ocorrer tolerância, podendo levar a aumentos da dose pelo paciente para produzir o efeito desejado. Ocorre certo grau de amnésia anterógrada com todos os benzodiazepínicos usados como hipnóticos. A eszopiclona, a zaleplona e o zolpidem possuem eficácia semelhante à dos benzodiazepínicos hipnóticos no tratamento dos distúrbios do sono. As características clínicas favoráveis do zolpidem e dos outros hipnóticos mais recentes incluem rápido início da atividade e depressão psicomotora modesta no dia seguinte, com poucos efeitos amnésicos. Nas doses recomendadas, a zaleplona e a eszopiclona (apesar de sua meia-vida relativamente longa) parecem causar menos amnésia ou sonolência no dia seguinte do que o zolpidem ou os benzodiazepínicos. OUTROS USOS CLÍNICOS Para obter efeitos sedativos e possíveis efeitos amnésicos durante procedimentos clínicos ou cirúrgicos, como endoscopia e broncoscopia – bem como para pré-medicação antes da anestesia –, preferem-se as formulações orais de fármacos de ação mais curta. Os fármacos de ação longa, como o clordiazepóxido, o diazepam e, em menor grau, o fenobarbital, são administrados em doses progressivamente decrescentes a pacientes durante a abstinência da dependência fisiológica de etanol ou de outros sedativos-hipnóticos. O lorazepam por via parenteral é usado para suprimir os sintomas do delirium tremens. O meprobamato e os benzodiazepínicos vêm sendo usados com frequência como relaxantes musculares centrais. O diazepam exerce efeitos relaxantes úteis na espasticidade do músculo esquelético de origem central. EFEITOS TÓXICOS DOS SEDATIVOS-HIPNÓTICOS Muitos dos efeitos adversos comuns dos sedativos-hipnóticos resultam da depressão do SNC relacionada com a dose. A administração de doses relativamente baixas pode produzir sonolência, comprometimento do discernimento (desinibição do comportamento) e diminuição das habilidades motoras, algumas vezes com impacto significativo sobre a capacidade de dirigir veículos, o desempenho no trabalho e as relações pessoal. Os benzodiazepínicos podem causar amnésia anterógrada significativa relacionada com a dose, podendo também comprometer de modo significativo a capacidade de aprender novas informações, particularmente as que envolvem processos cognitivos que exigem esforço, ao mesmo tempo que preservam a lembrança da informação previamente aprendida. Esse efeito é usado para procedimentos clínicos desconfortáveis, como a endoscopia, visto que o paciente é capaz de cooperar durante o procedimento, porém com amnésia quanto ao evento posteriormente. O uso criminoso de benzodiazepínicos em casos de estupro baseia-se nos seus efeitos amnésicos dependentes da dose. A causa reversível mais comum de estados confusionais nos indivíduos idosos consiste no uso excessivo de sedativos-hipnóticos. Os idosos são mais sensíveis aos efeitos sedativos-hipnóticos, por isso a dose deve ser reduzida. O aumento da sensibilidade também é comum em pacientes com doença cardiovascular, doença respiratória ou comprometimento hepático, bem como em pacientes idosos. Os benzodiazepínicos são considerados fármacos mais seguros em casos de superdosagem, visto que apresentam curvas de dose-resposta menos inclinada, ou seja, precisam de maior dose para atingir efeito comatoso. O alprazolam é significativamente mais tóxico em superdosagem do que outros benzodiazepínicos. Por aumentarem a síntese de porfirinas, os barbitúricos estão absolutamente contraindicados para pacientes com história de porfiria intermitente aguda, porfiria variegada, coproporfiria hereditária ou porfiria sintomática. ALTERAÇÕES NA RESPOSTA FARMACOLÓGICA: Com o uso crônico de sedativos-hipnóticos, particularmente se as doses forem aumentadas, pode surgir um estado de dependência fisiológica. A abstinência de um sedativo-hipnótico pode ter manifestações graves e potencialmente fatais. Os sintomas de abstinência variam desde inquietação, ansiedade, fraqueza e hipotensão ortostática até reflexos hiperativos e convulsões generalizadas. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: As mais comuns que envolvem os sedativos-hipnóticos consistem em interações com outros agentes depressores do SNC, resultando em efeitos aditivos. É possível prever os efeitos aditivos com o uso concomitante de bebidas alcoólicas, analgésicos opioides, anticonvulsivantes e fenotiazinas. Menos evidente, porém igualmente importante, é o aumento da depressão do SNC observado com o uso de uma variedade de anti-histamínicos, agentes anti- hipertensivos e fármacos antidepressivos da classe dos tricíclicos.
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