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1 1 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 Problema 1 M1- Tutoria III PROBLEMA 1 – “REUMATISMO BRABO!” JQP, 54 anos, vem à consulta na UBS queixando- se de um “reumatismo brabo”! Relata que há 20 anos iniciou-se um quadro de artralgia, edema, calor e hiperemia nas articulações das mãos, punhos, cotovelos e joelhos, pior pela manhã, acompanhado de rigidez matinal, tornando difícil até mesmo o ato de escovar os dentes. Na ocasião, Joana descobriu que se tratava de Artrite Reumatoide (AR), porém não teve boa adesão ao tratamento. Hoje, apresenta várias deformidades fixas como desvio ulnar dos dedos, dedos em pescoço de cisne e punhos em dorso de camelo, dificultando tarefas domésticas e higiene pessoal, além de sofrer de dores constantemente. Faz uso dos seguintes medicamentos: metotrexato, ácido fólico, deflazacorte, carbonato de cálcio associado a vitamina D e naproxeno. Dr Marcos acredita que terapias não farmacológicas poderiam contribuir no alívio das dores e melhorar a adaptação à rotina diária, melhorando a qualidade de vida. Dr Marcos encaminha Joana para o CRER, porém ela ainda aguarda uma vaga. TERMOS DESCONHECIDOS: → Reumatismo: termo genérico usado para designar um grupo de doenças que afeta articulações, músculos e esqueleto, caracterizado por dores e restrições dos movimentos. Portanto, reumatismo não se refere a nenhuma doença específica e sim a um grupo de doenças com as características acima citadas. → Artralgia: Dor ou incomodo em uma ou mais articulações. → Hiperemia nas articulações: Aumento do fluxo sanguíneo para uma parte do corpo. → Artrite reumatoide (AR): é uma doença inflamatória crônica, que pode atacar vários órgãos e tecidos do corpo, mas apresenta uma clara preferência pelas articulações, principalmente as dos membros superior e inferior. → Desvio ulnar dos dedos: ou “dedos em ventania”: resultado de múltiplos fatores (ex. deslocamento dos tendões extensores dos dedos, subluxações das metacarpofalangeanas). → Deformidade em pescoço de cisne: é uma curvatura (flexão) da base do dedo, uma retificação (extensão) da articulação central e uma curvatura (flexão) na última articulação. → Punho em dorso de camelo: tumefação da articulação do punho + hipotrofia interóssea do dorso da mão. → Metotrexano: remédio biológico, antimetabólito e uma droga antifolato usada no tratamento do câncer e doenças autoimunes. → Ácido fólico: é encarregado de reduzir o risco de deficiências no cérebro e na coluna vertebral, chamados deficiências do tubo neural. → Deflazacort: é um fármaco utilizado em medicamentos como anti-inflamatório glicocorticoide. → Carbonato de Cálcio: indicado como antiácido, para tratamento de sintomas relacionados à acidez estomacal. → Vitamina D: Responsável por metabolizar o cálcio e o fósforo no nosso organismo. Vitamina D é o nome geral dado a um grupo de compostos lipossolúveis que são essenciais para manter o equilíbrio mineral no corpo, sendo também conhecida como vitamina D antirraquítica e colecalciferol. → Naproxeno: é um medicamento indicado para o tratamento de dores causadas por inflamações. Também é utilizado para o tratamento de adultos com dor de dente, dor abdominal e pélvica, dor de cabeça, sintomas de gripe e resfriados. → Intervenção não-farmacológica: diz respeito a um conjunto de intervenções que visam maximizar o funcionamento cognitivo e o bem-estar da pessoa, bem como ajudá-la no processo de adaptação à doença. → CRER: É o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação é uma unidade de saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES/GO), 100% voltada ao Sistema Único de Saúde (SUS). DEFINIÇÃO DO PROBLEMA: O desconhecimento acerca da Artrite Reumatoide e seus impactos na qualidade de vida do paciente CHUVA DE IDEIAS: → Médicos se preocupam apenas em solucionar a doença e não com o paciente; 2 2 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 → Tratar as pessoas como você gostaria que tratassem as pessoas próximas a você; → Diagnóstico precoce; → Insegurança médica -> pedido exacerbado de exames -> muito dinheiro gasto! → Hiperemia -> vasodilatação -> compressa fria; → Compressa quente: vasodilatação; não ajudaria nesse caso; → Artrite Reumatoide: causa limitações físicas que evoluem p/ sociais; → Em processos de dores de artralgia começar com AINEs Esteroides; → A dificuldade da adesão ao tratamento por meio de terapias não farmacológicas é uma realidade cristalizada na população devida à cultura de prescrição medicamentosa dos profissionais mais antigos; → Artrite ataca também órgãos como coração, olhos; → A inflamação nas articulações pode ser decorrente de doença autoimune, trauma e infecção por bactéria ou vírus; → Um fator de risco para o surgimento da artrite pode ser histórico familiar, idade e gênero; → Mulheres têm mais chances de desenvolver artrite; → Alguns sintomas da artrite pode ser dor e inchaço nas articulações, vermelhidão da pele ao redor da articulação e aquecimento ao redor da articulação. OBJETIVOS: O1: Descrever os tipos de articulações existentes e seus constituintes (Cartilagem, membrana sinovial, cápsula articular) O2: Discutir epidemiologia e as manifestações clínicas da Artrite Reumatoide O3: Discutir mecanismos de ação e efeitos colaterais dos AINEs e dos corticoides O4: Compreender como as terapias físicas de reabilitação podem melhorar a qualidade de vida de pacientes com AR conforme o consenso (4ª referência) REFERÊNCIAS: GOLDMAN L, AUSIELLO D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CARVALHO MAP, LANNA CCD, BERTOLO MAB. Reumatologia – Diagnóstico e Tratamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. CURRENT, Diagnóstico e Tratamento/Reumatologia. 2ª ed. São Paulo, McGraw Hill, 2008 Muri, EMF, Sposito MMM, Metsavath L. Antiinflamatórios não-esteroidais e sua farmacologia local. ACTA FISIATR 2009; 16(4): 186 – 90 (O3) O reumatologista revisita: Os antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) (O3) http://www.gruponitro.com.br/atendimento-a- profissionais/%23/pdfs/artigos/antiinflamatorios/aines.pdf AINEs: Quem são? (O3) https://blog.jaleko.com.br/aines-quem- sao/#:~:text=Os%20AINEs%20possuem%20uma%20a%C 3%A7%C3%A3o,como%20febre%2C%20dor%20e%20infl ama%C3%A7%C3%A3o https://www.youtube.com/watch?v=dsegbl0lhcY (Corticoide) RESOLUÇÃO DO PROBLEMA: DO1: Descrever os tipos de articulações existentes e seus constituintes (Cartilagem, membrana sinovial, cápsula articular) PAG 37 CARVALHO As articulações são estruturas de tecido conjuntivo pelas quais os ossos se unem uns aos outros para formar o esqueleto. A principal função das articulações é o movimento, mas algumas auxiliam a estabilização entre os ossos, como na abóbada craniana e na sínfise púbica. São estruturas altamente complexas e suscetíveis às influências de mecanismos homeostáticos, como os imunes e hormonais. Variam muito em estrutura e disposição, podendo ser classificadas de acordo com seus componentes mais característicos em três tipos principais: fibrosa, cartilaginosa e sinovial. 1. Articulações fibrosas (sinartroses): formadas por ossos unidos por tecido fibroso. Pequeno ou nenhum movimento ocorre nestas articulações. São elas: ▪ Suturas (crânio); ▪ Sindesmoses (tibiofibular e timpanostapedial); e ▪ Gonfose (entre o dente e seu alvéolo). 2. Articulações cartilaginosas: formadas por ossos unidos por cartilagem hialina ou por fibrocartilagem, subdividem-se em: ▪ Articulações cartilaginosas primárias (sincondroses): os ossos são unidos por cartilagem hialina e geralmente esta união é temporária. ˃ Por exemplo: durante o desenvolvimento de um osso longo ---> quando o crescimento final é alcançado, a cartilagem é convertidaem osso e a epífise funde-se com a diáfise. Algumas são permanentes, como a cartilagem costal do primeiro arco ligado ao esterno. http://www.gruponitro.com.br/atendimento-a-profissionais/%23/pdfs/artigos/antiinflamatorios/aines.pdf http://www.gruponitro.com.br/atendimento-a-profissionais/%23/pdfs/artigos/antiinflamatorios/aines.pdf https://blog.jaleko.com.br/aines-quem-sao/#:~:text=Os%20AINEs%20possuem%20uma%20a%C3%A7%C3%A3o,como%20febre%2C%20dor%20e%20inflama%C3%A7%C3%A3o https://blog.jaleko.com.br/aines-quem-sao/#:~:text=Os%20AINEs%20possuem%20uma%20a%C3%A7%C3%A3o,como%20febre%2C%20dor%20e%20inflama%C3%A7%C3%A3o https://blog.jaleko.com.br/aines-quem-sao/#:~:text=Os%20AINEs%20possuem%20uma%20a%C3%A7%C3%A3o,como%20febre%2C%20dor%20e%20inflama%C3%A7%C3%A3o https://blog.jaleko.com.br/aines-quem-sao/#:~:text=Os%20AINEs%20possuem%20uma%20a%C3%A7%C3%A3o,como%20febre%2C%20dor%20e%20inflama%C3%A7%C3%A3o https://www.youtube.com/watch?v=dsegbl0lhcY 3 3 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ▪ Articulações cartilaginosas secundárias (sínfises): são articulações ligeiramente móveis, em que os ossos são conectados por uma combinação de cartilagem hialina e fibrocartilagem. Abrangem a sínfise do púbis e as articulações entre os corpos vertebrais. 3. Articulações sinoviais (diartroses): geralmente encontradas unindo os ossos longos e apresentam uma cápsula que liga as suas extremidades, delimitando uma cavidade fechada, a cavidade articular. ▪ São classificadas de acordo com a sua forma ou com o tipo de movimento que realizam, como mostra a Tabela 1.2. Constituintes ❖ Cápsula articular: constituída por uma camada externa fibrosa, de tecido conjuntivo denso, e por uma camada interna, a membrana sinovial. A camada externa é contínua com a camada fibrosa do periósteo dos ossos que se encontram na articulação. Como é inelástica, contribui para a estabilidade da articulação. ❖ Membrana sinovial (sinóvia): reveste toda a cavidade articular, com exceção das cartilagens articulares. → É rica em vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos e é quem produz e reabsorve o líquido sinovial, que facilita o deslizamento entre as superfícies articulares. → É constituída por células planas ou cuboides, sustentadas por um tecido conjuntivo frouxo, sem membrana basal, os sinoviócitos. → Os sinoviócitos são classificados como tipo A, semelhantes a macrófagos com Golgi desenvolvido e capacidade de endocitose, e tipo B, semelhantes a fibroblastos com proeminente aparelho secretor. → Também já foram descritas células com características intermediárias, o que pode sugerir tratar-se de apenas um tipo celular com expressão fenotípica espectral. → Na patogênese da artrite reumatoide, a sinóvia representa um papel primordial, transformando-se num tecido invasivo com capacidade de destruir os tecidos cartilaginoso e ósseo adjacentes, causando as erosões características desta doença. Este tecido, denominado pannus reumatoide, apresenta hiperplasia e hipertrofia dos sinoviócitos, infiltrado inflamatório predominantemente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos e intensa angiogênese, tornando-se densamente vascularizado. ❖ Líquido sinovial: pode ser considerado um filtrado do plasma acrescido de outros produtos, como ácido hialurônico e uma glicoproteína chamada lubricina, ambos secretados pelo sinoviócito B. → Normalmente é viscoso, amarelado e contém apenas poucas células (menos de 100 cél/mL), predominantemente mononucleares. → Possui as funções de lubrificação e proteção das superfícies sob o atrito gerado pelo movimento e também a de nutrição das cartilagens articulares, avasculares e sem pericôndrio. → As trocas entre o sangue e o líquido sinovial são facilitadas porque os capilares da sinóvia são fenestrados. → O movimento articular promove a circulação de água entre a cartilagem e o líquido sinovial, além de acelerar o fluxo sanguíneo e ativar o sistema linfático, para retirar macromoléculas, catabólitos e excesso de líquido intra-articular. → A perda do movimento resulta em deterioração da função articular, incapacitando o indivíduo para as tarefas da vida diária. → Nas articulações inflamadas, a falta de movimento facilita o aumento das coleções líquidas, o surgimento de fibrose e o encurtamento de ligamentos e da cápsula articular. ❖ As articulações estão sujeitas ao choque mecânico e o sistema músculo-cartilagem-osso está adaptado para amortecê-lo: a massa muscular, quando eutrófica, absorve a maior parte da onda de choque, a cartilagem ajuda por ser elástica e depressível, e o osso subcondral, devido à disposição especial das trabéculas, também é algo flexível e elástico. Quando se rompe a integridade dessa cadeia, por alteração em qualquer dos componentes, não haverá absorção perfeita do choque, com prejuízo para todo o conjunto, inicialmente, para a cartilagem. 4 4 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 DO2: Discutir epidemiologia e as manifestações clínicas da Artrite Reumatoide (seção V, cap 21 CARVALHO PAG 329-339) A artrite reumatoide (AR) é uma doença sistêmica do tecido conjuntivo cujas alterações predominantes ocorrem nas estruturas articulares, periarticulares e tendinosas - manifesta-se por meio dos sinais cardinais de inflamação, e o substrato anatômico mais característico desse acometimento está sediado na membrana sinovial. Como se trata de doença sistêmica, embora as manifestações articulares lhe sejam típicas, muitos órgãos podem ser envolvidos, sobretudo naqueles pacientes com doença articular mais grave. A despeito de se saber muito acerca de sua epidemiologia e seus aspectos genéticos e imunológicos, a AR continua sendo uma enfermidade de causa desconhecida, apesar da descoberta de alguns fatores que podem participar do desencadeamento e da perpetuação da doença. Uma grande variedade de manifestações é possível não somente em sua apresentação, mas também durante o curso clínico, podendo causar desconforto que dura de semanas a meses ou até mesmo anos de profunda incapacidade. Recentes avanços no entendimento do processo inflamatório da AR permitiram o desenvolvimento de um arsenal terapêutico que propicia, atualmente, maior chance de remissão clínica, com consequente melhora da qualidade de vida. Epidemiologia → A AR é uma das doenças reumáticas mais frequentes. Sua incidência e prevalência apresentam variações entre as diferentes regiões geográficas do mundo. → A maior parte das informações disponíveis vem da Europa e dos Estados Unidos, onde ocorre em cerca de 0,50% a 1% da população caucasiana, com taxas mais baixas entre os descendentes de asiáticos e africanos. ▪ A incidência média anual nessas regiões varia entre 0,02% a 0,05%, e sua ocorrência pode ser observada em todos os grupos étnicos, mas ao redor do mundo existem grupos específicos que apresentam uma incidência muito mais alta. ▪ Exemplo: etnias de índios norte-americanos c/ prevalência de até 6%. → Dados a respeito da América Latina e do Brasil são mais escassos. Com base em estudos feitos em diferentes países da região, pode-se estimar uma taxa de prevalência de 0,4% para todo o continente. ▪ Estudo multicêntrico brasileiro, em amostras populacionais das macrorregiões do país, encontrou prevalência de até 1 % da população adulta. Senna et al., em um estudo seccional com 3.038 pessoas residentes na cidade de Montes Claros, Minas Gerais, encontraram uma prevalência de 0,46% de AR. → Embora possa iniciar-se em qualquer idade, a AR é mais frequente na faixa dos 30 aos 50 anos. Na América Latina, estudos mostram que a idade média de início da doença é por volta dos 40 anos, 10 anos mais cedo do que na população caucasiana da Europa e dos Estados Unidos. → Em cerca de 2 anos, a maioria dos pacientesque desenvolviam trabalhos manuais interrompe as suas atividades. → A doença acomete ambos os sexos, mas predominantemente o feminino, na proporção de 3: 1, (Europa e EUA). América Latina: 8 mulheres acometidas para cada homem; 8:1. ❖ Estudo multicêntrico, prospectivo e observacional (GLADAR- Grupo Latino-Americano de Artrite Reumatoide): → 85% mulheres; → Principais grupos étnicos: mestiços (43%), caucasianos (31%), afro-latino-americanos (19%) e ameríndios (4%). → Classe socioeconômica baixa/ média baixa (58%) e → Menos de 12 anos de educação formal (77%). → É importante ressaltar que o baixo nível socioeconômico e cultural dificulta a correta utilização dos medicamentos prescritos, assim como a adesão ao tratamento como um todo. → Média de idade de início de sintomas: 46 anos (mulher + cedo- 45,3M versus 49,9H anos) → A prevalência da enfermidade é 2 a 10 vezes maior entre os parentes de primeiro grau de pacientes com AR. → Risco aumentado em 30 vezes para o desenvolvimento da doença entre gêmeos monozigóticos, enquanto entre dizigóticos e irmãos não gêmeos o risco foi de 6 vezes em relação a grupos controles. → AR: considerada uma doença multifatorial, resultando da interação de fatores genéticos e ambientais, como o tabagismo, que contribuem para sua ocorrência e expressão. → A AR exerce um impacto significativo sobre os pacientes e a sociedade como um todo devido a sua morbidade, mortalidade, efeitos adversos na qualidade de vida e custos econômicos, apesar dos tratamentos mais novos e efetivos. → No Brasil, assim como em outros países, os custos relacionados com a AR são elevados, sendo os custos indiretos da doença maiores ainda nos pacientes com maior incapacidade funcional. → Esse quadro (resolverem os problemas causados por doenças infecciosas, moléstias maternoinfantis, lesões decorrentes da violência), em muitos países, impede 5 5 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 que os esforços e recursos públicos para a saúde sejam direcionados para as doenças incapacitantes como a AR. → Observa-se também um aumento da mortalidade quando se comparam os pacientes com a população geral, havendo redução da expectativa de vida em 3 a 10 anos. → De fato, além de ser uma condição com potencial para destruição articular, incapacidade funcional e redução da qualidade de vida, a AR constitui um fator de risco independente para mortalidade precoce, muitas vezes associada a maior risco de morte por doenças cardiovasculares (DCV). Realmente, esse grupo de doenças pode ser considerado a principal causa de mortalidade na população com AR, totalizando aproximadamente metade das mortes observadas em coortes internacionais. Manifestações clínicas: Essencialmente, todos os pacientes apresentam alguma manifestação sistêmica, como fadiga, febre baixa, anemia e elevação dos reagentes de fase aguda (velocidade de hemossedimentação [VHS] ou proteína C-reativa [PCR]). Acredita-se que essa inflamação sistêmica seja responsável pela lesão vascular endotelial e pelo aumento acentuado do risco de doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca congestiva em pacientes com AR. No entanto, o alvo primário da AR é a membrana sinovial, que é responsável pela maior parte das manifestações clínicas. O tecido sinovial prolifera de forma descontrolada, resultando em uma produção excessiva de líquido, destruição da cartilagem, erosão do osso marginal e frouxidão e dano aos tendões e ligamentos. → A AR pode afetar qualquer articulação sinovial (diartrodial). → Mais comumente, a doença tem início nas articulações metacarpofalangianas (MCFs), interfalangianas proximais (IFPs) e metatarsofalangianas (MTFs), seguidas pelos punhos, joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e ombros, aproximadamente nessa ordem. → O tratamento precoce limita o número de articulações envolvidas. Menos frequentemente, e em geral mais tarde no curso da doença, as articulações temporomandibulares, cricoaritenoides e esternoclaviculares podem ser acometidas. → A AR pode atingir a porção superior da coluna cervical, particularmente as articulações C1-C2, mas, diferentemente das espondiloartropatias, não envolve o resto da coluna. → Pacientes com AR estão sujeitos a um maior risco de osteoporose, e esse risco deve ser considerado e abordado precocemente. 6 6 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 Mãos Principal área acometida pela AR: o dano e a disfunção das mãos contribuem com uma parcela significativa da incapacidade provocada pela AR. Classicamente, a doença começa com edema das IFPs e MCFs. As articulações interfalangianas distais (IFDs) raramente estão envolvidas; importante envolvimento das articulações IFDs deve sugerir a possibilidade de um diagnóstico diferencial (p. ex., osteoartrite ou artrite psoriática). A Figura 264-3 ilustra o clássico desvio ulnar das MCFs e as deformidades em “pescoço de cisne” (hiperextensão das IFPs), que são comumente encontradas na doença mais avançada. As deformidades em boutonnière (ou botoeira) também ocorrem e são consequentes à hiperflexão das articulações IFPs. À medida que a doença permanece ativa, a função da mão se deteriora lentamente. A perda súbita da função de um dedo isolado pode ocorrer como resultado da ruptura de um tendão, o que requer de um cirurgião de mão experiente para o reparo cirúrgico. Outras deformidades dos dedos que podem ser vistas na AR estabelecida são as seguintes: → Dedos em fuso: secundários à tumefação das articulações IFPs (Figura 21.3). → Dedos em pescoço de cisne: ocorrem pela hiperextensão das articulações IFPs e flexão das IFDs (Figura 21.5). → Dedos em botoeira: caracterizados por uma flexão das articulações IFPs e hiperextensão das IFDs (Figura 21.6). FIGURA 264-3 Artrite reumatoide avançada grave das mãos. Existe um edema pronunciado sobre a superfície dorsal de ambos os punhos, atrofia muscular grave, desvio ulnar das articulações metacarpofalangianas e deformidade dos dedos em pescoço de cisne. (De Forbes CD, Jackson WF. Color Atlas and Text of Clinical Medicine, 3rd ed. London: Mosby; 2003.) 7 7 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 → Dedos em martelo - formados pela flexão permanente das articulações IFDs. ▪ O acometimento dos polegares ocorre em uma posição em Z (Figura 21.5), secundária a flexão das articulações MCFs e hiperextensão das articulações interfalangianas; o polegar em adução pela artrite trapeziometacarpiana se deve à luxação para cima e para dentro do primeiro metacarpiano. Pés Os pés, particularmente as articulações MTFs, são acometidos precocemente na maioria dos pacientes com AR. As erosões radiográficas nos pés ocorrem nas fases iniciais da doença, podendo anteceder ou surgir na mesma época que as das mãos. A subluxação dos artelhos é comum e causa o duplo problema de ruptura da pele e úlceras nas extremidades dos dedos dos pés e mau alinhamento das cabeças das articulações MTF. Locomoção dolorosa ocorre devido à perda do coxim gorduroso que normalmente protege as cabeças das articulações MTF. Punhos As articulações do punho estão comprometidas na maioria dos pacientes com AR. O desvio radial é a regra, e os pacientes com envolvimento grave podem progredir para subluxação volar. Mesmo em uma fase inicial no curso da doença, a proliferação sinovial nos punhos e em torno deles pode comprimir o nervo mediano, causando a síndrome do túnel do carpo (Fig. 264-5). Posteriormente, essa proliferação sinovial pode invadir os tendões e levar à ruptura de tendões extensores. FIGURA 264-5 Síndrome do túnel do carpo. Distribuição da dor e/ou das parestesias (área sombreada) quando o nervo mediano é comprimido pelo edema no punho (túnel do carpo).8 8 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 Grandes Articulações O envolvimento de joelhos, tornozelos, cotovelos, quadris e ombros é comum. Caracteristicamente, a superfície articular é totalmente acometida, de forma simétrica. Consequentemente, a AR é simétrica não só em relação a um lado e outro do corpo, como também em relação à superfície de cada articulação envolvida. No caso do joelho (Fig. 264-6A), os compartimentos medial e lateral estão gravemente diminuídos na AR, em contraste com o joelho da OA (Fig. 264-6B), em que normalmente apenas um compartimento pode ser atingido. Os cistos sinoviais podem ocorrer em qualquer articulação (grande ou pequena) e, ocasionalmente, estão presentes como massas flutuantes macias, verdadeiros desafios diagnósticos. Quando o joelho produz excesso de líquido sinovial pode haver acúmulo no espaço poplíteo (cisto poplíteo ou cisto de Baker) (E-Fig. 264-2). Esses cistos podem causar problemas por pressionar o nervo, artéria ou veia poplíteos. Cistos de Baker podem dissecar e expandir-se para os tecidos da panturrilha (em geral posteriormente) ou podem romper-se com extravasamento também para a panturrilha. As dissecções podem produzir apenas sintomas mínimos, como uma sensação de plenitude ou massa poplítea. A ruptura do cisto, com extravasamento do conteúdo inflamatório, causa dor e edema significativos que podem ser confundidos com tromboflebite, a assim chamada síndrome de pseudotromboflebite. Pescoço Embora a maior parte do esqueleto axial seja poupada na AR, a coluna cervical e especialmente as articulações C1-C2 são comumente atingidas. As erosões ósseas e o dano ligamentar podem ocorrer nessa área, e causar subluxação (E-Fig. 264-1). Na maioria das vezes, a subluxação C1-C2 é pequena e assintomática; pacientes e cuidadores precisam apenas ser cautelosos e evitar forçar ativamente o pescoço na posição de flexão. Ocasionalmente, a subluxação de C1-C2 pode ser grave e causar comprometimento da medula cervical, e, em alguns casos, óbito. Outras Articulações Onde houver tecido sinovial, a AR pode causar problemas. As articulações temporomandibulares, cricoaritenoides e esternoclaviculares são exemplos de outras articulações que podem estar comprometidas na AR. A articulação cricoaritenoide é responsável pela E-FIGURA 264-2 Artrografia com um agente de radiocontraste injetado dentro do joelho. O contraste flui para dentro do espaço poplíteo e através de um canal estreito em um grande cisto sinovial (cisto de Baker) que dissecou no tecido mole da panturrilha. Fig. 264-6 A, Comprometimento grave da artrite reumatoide, com perda simétrica quase completa do espaço articular, tanto no compartimento medial como no lateral, mas com discreta esclerose subcondral ou formação de osteófitos. B, Osteoartrite típica, com grave perda quase total do espaço articular de um compartimento versus um espaço normal ou efetivamente aumentado no compartimento contralateral. Observe também a significativa esclerose subcondral, típica da osteoartrite, na área envolvida. 9 9 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 abdução e pela adução das cordas vocais. O envolvimento dessa articulação pode causar uma sensação de plenitude, volume na garganta, rouquidão e, raramente, quando as cordas estiverem essencialmente paralisadas na posição fechada, pode ocasionar obstrução respiratória aguda alta, com ou sem estridor. Nesta última situação, a traqueotomia de emergência pode ser salvadora. E-FIGURA 264-1 Subluxação da coluna cervical em pacientes com artrite reumatoide. A, Em uma radiografia lateral da coluna cervical, o corpo de C2 e os seus processos odontoides são delineados pelas linhas tracejadas e o aspecto posterior do segmento anterior de C1 é indicado por uma linha sólida. Normalmente, um espaço de apenas 2 a 3 mm separa C1 de C2. O espaço entre C1 e o odontoide de C2 está acentuadamente aumentado, indicando a subluxação de C1 e C2. B, Projeção lateral de um espécime patológico de um paciente que morreu de subluxação da C1C2. A seta horizontal mostra o processo odontoide que subluxou posteriormente, comprimindo de modo importante e quase seccionando a medula. A seta vertical mostra um enxerto ósseo que havia sido colocado no local posteriormente em uma tentativa de prevenir a subluxação. Abaixo da seta, está presente uma área de não cicatrização ao longo do enxerto ósseo, e inferior a este está presente uma sutura de fixação com fio de aço ainda no local. Manifestações Extra-articulares As manifestações sistêmicas da AR, como fadiga, perda de peso e febre baixa, ocorrem frequentemente. Tendem a ser mais comuns naqueles pacientes com fator reumatoide ou anticorpos ACPA-positivos, ou ambos (Tabela 264-1), e que respondem ao tratamento da AR. 10 10 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ❖ Pele Nódulos subcutâneos são encontrados em aproximadamente 1/5 dos pacientes com AR, quase que exclusivamente em pacientes com FR positivo. Pacientes com nódulos e FR (-): diagnóstico diferencial, como a gota tofácea crônica. Os nódulos podem ocorrer em qualquer ponto do corpo (p. ex., pulmões, coração, olhos), porém são observados mais frequentemente no tecido subcutâneo nas superfícies extensoras (particularmente no antebraço) (Fig. 264-7), sobre as articulações ou sobre pontos de pressão. Nódulos reumatoides apresentam consistência firme à palpação, em geral são indolores, com histopatologia característica. Acredita-se que sejam decorrentes da vasculite de pequenos vasos. A nodulose reumatoide, síndrome caracterizada por nodulose importante, apesar do bom controle da doença tem sido descrita com o tratamento com metotrexato (Fig. 264-8). A vasculite de pequenos vasos, manifestada como infartos digitais ou vasculite leucocitoclástica, pode ocorrer na AR (Fig. 264-9), e deve desencadear um tratamento mais agressivo com MARMD. A vasculite de pequenas e médias artérias, que é indistinguível da poliarterite nodosa, também pode ocorrer na AR e requer tratamento sistêmico agressivo. Finalmente, o pioderma gangrenoso é encontrado em maior frequência em associação com AR. Fig. 264-8 Neste paciente, vários nódulos reumatoides estão presentes sobre as articulações. Em alguns casos, os nódulos podem ser a manifestação clínica predominante. Raramente podem ser observados como um efeito colateral da terapia com metotrexato. Fig. 264-7 Grandes nódulos reumatoides são vistos na localização clássica ao longo da superfície extensora do antebraço e na bursa olecraniana. 11 11 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ❖ Síndrome de Felty A síndrome de Felty é constituída pela tríade de AR, esplenomegalia e neutropenia. Essa complicação é encontrada em pacientes com doença grave, com FR/ACPA- positivo, e pode ser acompanhada de hepatomegalia, trombocitopenia, linfadenopatia e febre. A maioria dos pacientes com a síndrome de Felty não demanda tratamento especial, além do tratamento direcionado para a AR grave característica dessa síndrome. Se houver neutropenia grave (<500 células/ μL), acompanhada de infecções bacterianas recorrentes ou úlceras crônicas nas pernas de difícil cicatrização, em raras ocasiões a esplenectomia pode ser indicada. Alguns pacientes com AR e diagnóstico presuntivo de síndrome de Felty apresentam no sangue periférico predomínio de grandes linfócitos granulares com uma ausência quase completa de neutrófilos. Essa condição é conhecida como síndrome dos grandes linfócitos granulares, e acredita-se seja uma variante de leucemia de células T. No contexto da AR, essa síndrome tem um bom prognóstico, com a neutropenia muitas vezes respondendo drasticamente ao tratamento com metotrexato. * Critérios de 1 a 4 devem ter sido continuamente presentespor 6 semanas ou mais, e os critérios de 2 a 5 devem ser observados por um médico. A classificação da artrite reumatoide requer a presença de pelo menos quatro dos sete critérios. DO3: Discutir mecanismos de ação e efeitos colaterais dos AINEs e dos corticoides (seção VIII cap 42 (662- 668), 43 (675-677) CARVALHO) ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES (AINEs) As principais características da inflamação são dor, calor, rubor e edema, e estão presentes na maior parte dos pacientes com doenças reumáticas. AINEs: grupo variado de medicamentos com ações farmacológicas semelhantes às da aspirina. O tratamento tradicional das artrites inflamatórias compreende o uso desta classe de medicamentos que agem inespecificamente sobre a inflamação, levando a um alívio dos sintomas em até poucas horas; porém, nas enfermidades crônicas, como, p. ex., na artrite reumatoide, a retirada do medicamento é geralmente acompanhada de exacerbação da inflamação. Apesar da melhora clínica durante o seu uso, os AINEs não impedem a destruição da cartilagem nas artrites crônicas, e seus múltiplos efeitos colaterais obrigam o médico, ao prescrever a medicação, 12 12 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ter um perfeito conhecimento do seu mecanismo de ação, absorção, metabolismo, distribuição, eliminação e interações medicamentosas. Os AINES apresentam propriedades antiinflamatórias, analgésicas e antipiréticas. São as drogas de primeira escolha no tratamento de doenças reumáticas e não-reumáticas como, artrite reumatóide, osteoartrite e artrite psoriática, assim como nas sequelas de traumas e contusões e, ainda, nos pós-operatórios. É o principal tratamento para a dor leve e moderada devido as suas propriedades analgésicas prolongadas e diminuem a temperatura corporal elevada sem provocar dependência química. Os AINEs possuem uma ação que promove inibição, central e/ou periférica, da enzima ciclooxigenase, comumente conhecida como COX. A partir dessa inibição, uma série de outras substâncias deixa de ser produzida e, assim, tem-se o controle de algumas situações como febre, dor e inflamação. ❖ Mecanismo de ação: A cascata do ácido araquidônico As Prostaglandinas são produtos originados do ácido araquidônico, o qual é obtido da dieta ou do ácido linoléico, encontrando-se presentes em todos os tecidos animais, exercendo várias funções. Quimicamente são parte de um grupo chamado eicosanóides, derivados do ácido araquidônico e liberado de fosfolipídeos de membrana de células lesadas, por ação catalítica da fosfolipase A2. As cicloxigenases (COX-1 e COX-2) e a hidroperoxidase catalisam as etapas seqüenciais de síntese dos prostanóides (prostaglandinas clássicas e tromboxanos) e as lipoxigenases transformam o ácido araquidônico em leucotrienos e outros compostos, formando as duas vias. O principal mecanismo de ação dos AINEs ocorre através da inibição específica da COX e conseqüente redução da conversão do ácido araquidônico ou araquidônico (AA) em prostaglandinas. Reações mediadas pelas COXs, a partir do AA produzem PGG2, que sob ação da peroxidase forma PGH2, sendo então convertidas às prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos (TXs). A via da LOX produz os leucotrienos, que possuem funções como quimiotaxia, vasoconstricção, broncoespasmo e aumento da permeabilidade vascular. Geralmente, o aumento de sua produção está relacionado a doenças inflamatórias, como, por exemplo, a asma. Os leucotrienos aumentam a permeabilidade vascular e atraem os leucócitos para o sítio da lesão. A histamina e a bradicinina aumentam a permeabilidade capilar e ativam os receptores nocigênicos. A outra via que pode usar o ácido araquidônico como substrato é a via da COX. Quando o ácido araquidônico é convertido pela COX, ele produz as prostaglandinas de diferentes tipos, como a PGI2 (prostaciclina), a PGD2, PGE2, PGF2α, entre outras. E também é produzido o tromboxano A2 (TXA2). A PGI2 é uma prostaciclina que possui algumas funções essenciais, como vasodilatação e redução da agregação plaquetária (ou seja, evita a formação de trombos). E as PGD2, PGE2, PGF2α promovem vasodilatação e edema. Mas as PGF2α possuem uma característica importante; elas agem principalmente nas células uterinas, promovendo contração uterina, atuando no processo de cólicas menstruais. Já o tromboxano A2 é um vasoconstritor e aumenta a agregação plaquetária, tendo, portanto, um caráter trombogênico. As prostaglandinas têm ação vasodilatadora. A PGD2 é liberada de mastócitos ativados por estímulos alérgicos ou outros. A PGE2 inibe a ação de linfócitos e outras células que participam das respostas alérgicas ou inflamatórias. Além de promoverem vasodilatação, sensibilizam os nociceptores (hiperalgesia) e estimulam os centros hipotalâmicos de termorregulação. A prostaglandina I2 (prostaciclina) predomina no endotélio vascular e atua causando vasodilatação e inibição da 13 13 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 adesividade plaquetária. O TX, predominante nas plaquetas, causa efeitos contrários como vasoconstrição e agregação plaquetária. Os AINEs, como já foi dito anteriormente, fazem inibição da COX, ou seja, inibem a produção das substâncias produzidas na via da COX, que não são produzidas apenas em quadros não fisiológicos, possuindo, assim, ações fisiológicas. 14 14 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 No organismo há três subtipos principais da enzima COX: COX 1, COX 2 e COX 3. As substâncias a serem produzidas variam de acordo com qual COX atua. ➢ COX 1 A COX 1 é uma enzima constitutiva, ou seja, ela é de suma importância para processos fisiológicos e homeostáticos. Pela ação dessa enzima, são produzidas prostaglandinas que atuam na mucosa gástrica, promovendo proteção da mesma, uma vez que reduzem a secreção de HCl, e aumentam a produção de muco rico em bicarbonato, para, assim, regular a acidez gástrica. A COX 1 também promove a produção de tromboxano A2, que é uma substância pró agregante. A agregação plaquetária, controlada, é de suma importância para a vida, faz parte da primeira etapa do processo de hemostasia, controlando processos hemorrágicos. Também há a produção de prostaglandinas vasodilatadoras que atuam a nível renal, aumentando a taxa de filtração glomerular (pelo aumento do fluxo sanguíneo nos rins) a níveis normais. As COX-1, ditas como constitutivas, auxiliam na manutenção da integridade da mucosa gastroduodenal, homeostase vascular, agregação plaquetária e modulação do fluxo plasmático renal. ➢ COX 2 Outro tipo de COX, é a COX 2. Ao contrário da COX 1, a maior parte da COX 2 é induzida, ou seja, não está constitutivamente presente em nosso organismo. É produzida frente a um estímulo. A COX 2 induzida está relacionada principalmente aos processos inflamatórios. Relacionada a febre, dor e inflamação. Mas há, também, a COX 2 constitutiva, que possui funções importantes. A primeira delas é que, na mácula densa, há uma expressão importante de COX 2, e essa atua fazendo controle da taxa de filtração glomerular, e excreção de sódio. E, no endotélio vascular, sua ação leva à produção de PGI2, responsável por fazer vasodilatação e pela sua função antiagregrante plaquetária, ou seja, potencial antitrombogênico. A COX-2 é uma enzima indutível, geralmente indetectável na maioria dos tecidos, sua expressão é aumentada em processos inflamatórios. Ela é expressa constitutivamente no cérebro, rim, ossos e provavelmente no sistema reprodutor feminino. Sua atividade é importante na modulação do fluxo sangüíneo glomerular e balanço hidroeletrolítico. Sua expressão é inibida pelos glicocorticóides, o que explicariaos seus efeitos antiinflamatórios ➢ COX 3 (COX 1b) Recentemente foi descoberta uma variante do gene da COX-1, descrito como COX-3. Essa parece ser expressa em altos níveis no sistema nervoso central e pode ser encontrada também no coração e na aorta. Essa Enzimas COX-2 e 1 (diferenciadas pelos aminoácidos valina e isoleucina, respectivamente). 15 15 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 enzima é seletivamente inibida por drogas analgésicas e antipiréticas, como paracetamol e dipirona, e é pontencialmente inibida por alguns AINEs. Essa inibição pode representar um mecanismo primário central pelo qual essas drogas diminuem a dor e possivelmente a febre. A relevância dessa isoforma ainda não está clara. A aspirina e os demais AINEs inibem a síntese de PG mediante a inativação da COX A aspirina acetila as isoenzimas (COX-1 e COX-2) covalentemente, inativando- as de forma irreversível e não seletiva. A maioria dos AINEs age de forma reversível e não seletiva sobre as mesmas enzimas. Convém salientar que tanto a aspirina quanto os outros AINEs não bloqueiam a via da lipoxigenase; não inibindo, desta forma, a produção de leucotrienos. Portanto, os AINEs reduzem, mas não eliminam completamente os sinais e sintomas inflamatórios. A inibição de PG é responsável por seus principais efeitos colaterais: gastrite, disfunção plaquetária, comprometimento renal e broncopespasmo. O efeito antitrombótico ocorre pelo bloqueio da COX-1, inibindo a produção do TX e ocasionando o predomínio da atividade de prostaciclina endotelial ➢ Os efeitos terapêuticos e colaterais dos AINEs resultam principalmente da inibição da enzima COX, reduzindo assim, a síntese das PG e diminuindo a intensidade do processo inflamatório. De acordo com as funções fisiológicas das isoformas da COX, postulou-se que AINEs inibidores específicos da COX-2 impediriam o processo inflamatório sem causar os efeitos colaterais gástricos resultantes da inibição da COX-1. Em geral, os AINEs inibem de forma variável as duas isoformas da COX em suas dosagens terapêuticas. Eles também antagonizam os receptores de PG, reduzem a permeabilidade capilar, diminuindo o edema e vermelhidão, e inibem a liberação de PGE o que leva a redução do estado febril. ➢ A descoberta da existência de 2 isoformas da COX modificou a classificação dos AINEs, que são atualmente divididos em: a) tradicionais, que inibem tanto a COX-1 quanto a COX2; b) preferenciais para a inibição da COX-2; e c) inibidores específicos da COX- 2. → Principais grupos químicos AINEs 16 16 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ❖ Efeitos colaterais 17 17 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 TRATO DIGESTIVO A ação local causada pelos AINEs contribui para o desenvolvimento de úlceras e gastrites, porém, os efeitos sistêmicos destes agentes parecem exercer um papel predominante no surgimento das lesões gastroduodenais. A inibição das prostaglandinas (PGE2 e PGI2) leva a uma redução da produção do muco epitelial gástrico, da secreção de bicarbonato, do fluxo sanguíneo da mucosa, alterando a resistência do trato digestivo. Com isso, fatores endógenos que agem sobre as PGs, como ácido clorídrico, pepsina e sais biliares, e/ou fatores exógenos, como os AINEs, álcool e outros agressores, podem desencadear graves lesões no tecido gastrointestinal. Atualmente, o uso dos inibidores da bomba de prótons na prevenção e tratamento de lesões gastroduodenais induzidas pelos AINEs é indicado por sua superior eficácia e tolerância. As medicações usadas para proteção do estômago, como os inibidores da bomba de prótons, não possuem ação sobre o intestino delgado. A lesão no intestino delgado se dá por uma série de fatores, que acabam levando a uma alta concentração do AINE na luz intestinal, promovendo um efeito tópico e gerando ulcerações, sangramento e até atrofia da mucosa. No fígado, os AINEs podem levar ao aumento das enzimas hepáticas, porém a maioria dos pacientes são assintomáticos. A literatura apresenta vários relatos de dano hepático e colestase relacionados com o uso de AINEs, mas raramente estas lesões levam à insuficiência hepática grave ou ao óbito. Entre os AINEs, a nimesulida se apresenta como aquele com maior poder de dano hepático, e seu uso deve ser evitado em associação com outros fármacos que podem causar hepatotoxicidade. Nestes pacientes, recomendamos a suspensão do medicamento, e se a utilização do AINE for necessária, o paciente deverá ser monitorado ou o AINE substituído por outra classe. RINS Edema e retenção de sódio são efeitos colaterais comuns causados pelos AINEs, mas geralmente são subclínicos. Resultam da inibição da produção das PGs que regulam a reabsorção de água e sódio pelo túbulo distal, do antagonismo do hormônio antidiurético e da redistribuição do fluxo sanguíneo da região cortical para a justaglomerular. A hipercalemia induzida pelos AINEs possui 2 mecanismos básicos: aumento da reabsorção de potássio no néfron distal e alteração do sistema renina-angiotensina- aldosterona. Os AINEs elevam a pressão sanguínea, tanto em normotensos como em hipertensos, independente do uso de anti-hiper- ~ tensivos. E reconhecido que a hipertensão arterial é o principal fator de risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como AVC, doença coronariana e insuficiência cardíaca, fato este que deve ser levado em consideração antes da prescrição de um medicamento AINE. 18 18 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 As bebidas alcoólicas devem ser abolidas durante o uso dos AINEs, não somente pela potencialização dos efeitos colaterais gástricos, mas também por diminuírem o fluxo sanguíneo renal, aumentando o risco de lesão deste órgão PULMÕES O desencadeamento de crises de asma e de broncoespasmo causado pelo uso de AINEs pode ser explicado, pelo menos em parte, pela inibição das PGs, que têm ação broncodilatadora, mas também pela liberação da via da lipo-oxigenase, que vai estimular a formação dos leucotrienos (um ativo broncoconstritor). Pcte. c/ broncoespasmo: princ. em relação aos oxicans e salicilatos --→ CUIDADO! EVENTOS TROMBOEMBÓLICOS E RISCO CARDIOVASCULAR Vários AINEs inibem a agregação plaquetária por inibição do tromboxano A2 (TXA2), um produto do metabolismo do ácido araquidônico e um potente vasoconstritor e estimulador da agregação plaquetária. O índice de mortes por infarto agudo do miocárdio em usuários de AINEs é alto e não está relacionado com o tempo de uso. Mesmo em pacientes com poucos dias de uso do AINE, o risco de infarto é significativo, principalmente em pacientes que já apresentaram algum evento cardíaco prévio. Entre os AINEs, o que mostrou maior risco foi o diclofenaco, risco superior ao dos inibidores de COX- 2. Por outro lado, o AINE que mostrou maior segurança cardiovascular foi o naproxeno. Discrasias sanguíneas são possíveis causas de morte em pacientes usando AINEs, porém estes efeitos são raros. Agranulocitose, anemia aplásica, aplasia de células vermelhas, trombocitopenia e anemia hemolítica têm sido associadas ao uso desses medicamentos. Particularmente, os pirazólicos, a fenilbutazona e a oxifenilbutazona estão relacionados com incidência aumentada de alterações sanguíneas fatais. PELE E MUCOSAS Reações alérgicas sobre pele e mucosas não constituem um grande problema no uso dos AINEs. Apesar disso, vários tipos de reações podem ocorrer, sendo na maioria imprevisíveis, e podem aparecer poucas horas após o uso da medicação. Entre outros, podemos destacar fotossensibilidade, onicólise, rashes, prurido, eritema multiforme, epidermólise tóxica, urticária, estomatite aftosa, síndrome de Stevens-Johnson e até graves reações anafilactoides. 30% pctes c/ urticária crônicapossuem alergia de aspirina ou outros AINEs, podendo estar relacionada com a inibição da COX-1. Caso necessário o uso crônico de AINEs, neste caso, inicia-se medicação com inibição seletiva ou específica da COX-2, associada ao uso de anti- histamínicos. OUTROS Cefaleia, desorientação, insônia, tontura e alterações na personalidade têm sido relatados principalmente com a indometacina, quando usada em doses geralmente> 100 mg/dia. Meningite asséptica foi relacionada com o uso de ibuprofeno em alguns trabalhos. Extra- Interações medicamentosas: 19 19 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 CORTICOIDES ➢ Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) Núcleos hipotalâmicos paraventriculares, por meio de seus neurônios parvocelulares, secretam uma substância neuro-humoral chamada hormônio liberador de corticotrofina (CRH) que, transportada por um sistema porta, alcança a hipófise anterior para estimular a produção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). A excreção do CRH ocorre sob ação de estímulos determinados pelos níveis plasmáticos de cortisol (hidrocortisona) e incluem citocinas inflamatórias como interleucina 1 (IL-1), IL-6, eicosanoides, prostaglandinas E2 e endotoxinas. Por sua vez, o ACTH estimula as células do córtex suprarrenal para a síntese e liberação dos esteroides adrenocorticais, sendo o cortisol o mais importante. Os níveis de ACTH plasmáticos seguem um ritmo circadiano, com pico pela manhã. Esses níveis podem variar com a administração de corticoides exógenos, uma vez que existe uma relação inversa entre o cortisol plasmático e os níveis de ACTH. Um dos efeitos da terapia de longo prazo com corticoides em doses suprafisiológicas é a supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). Esta supressão 20 20 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 pode levar a crise adrenal aguda, pela incapacidade das glândulas suprarrenais produzirem cortisol após a suspensão da terapia com corticoide. Sabe-se que o risco de supressão do HHA é relacionado com a dose e a duração do tratamento. Outros fatores de risco conhecidos são uso de preparados com maior meia-vida, doses diárias divididas ou doses únicas noturnas. A administração em dias alternados apresenta menor índice de supressão que doses diárias. Entretanto, individualmente, não é possível prever, a partir destas variáveis, o índice de inibição do eixo HHA, bem como o tempo de supressão após a retirada do corticoide, o qual pode chegar a 1 ano. ❖ Mecanismo de ação Depois de atravessarem a membrana celular, os corticoides exercem seu efeito por meio de receptores de glicocorticoides situados no citoplasma de células alvo, incluindo linfócitos, monócitos e neutrófilos. Complexos formados entre moléculas de corticoides e seus receptores são translocados para o núcleo, onde suprimem ou estimulam a transcrição de genes suscetíveis. Outras formas de interação com o DNA e mecanismos não genômicos, dose-dependentes, mediante a interação com outras proteínas plasmáticas e alteração da conformação físico-química da membrana celular, são descritos. A ação anti-inflamatória e imunossupressora dos corticoides se dá tanto em proteínas reguladoras quanto em células do sistema imune, incluindo redução do exsudato inflamatório, inibição da produção e ação de mediadores, redução do recrutamento e ativação de células inflamatórias. Em geral, os corticoides suprimem a imunidade celular em proporção maior que a imunidade humoral. Efeitos sobre os imunomoduladores incluem inibição da síntese de prostaglandinas pelo estímulo da lipocortina-1 (ou anexina-1), a qual inibe a síntese de eicosanoides e migração de leucócitos. E ainda relevante o fato de os corticoides inibirem a ciclo- oxigenase-2 (COX-2), mas não atuarem sobre a COX-1, • • constitutiva. 21 21 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 Os corticoides inibem a transcrição de várias citocinas, incluindo: fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8 e interferon-gama (IFN- γ). Além de bloquearem sua síntese, também existe efeito inibidor de sua ação. Os glicocorticoides também bloqueiam a expressão da molécula de adesão intercelular-1 (ICAM-1) e da molécula de adesão endotelial de leucócitos-! (ELAM-1) e influem na enzima conversora de angiotensina (ECA), que degrada abradicinina, resultando em redução do exsudato inflamatório. Este efeito também é favorecido pela inibição da forma indutível da enzima sintase do óxido nítrico. Ações diretas no endotélio diminuem a permeabilidade celular. Fatores ativadores do plasminogênio, plaquetas, colagenase e elastase também sofrem interferência de glicocorticoides. Efeitos não imunomoduladores também devem ser citados, pois resultam em efeitos colaterais de relevância clínica. Eles são catabolizantes, levando a quebra de proteínas e sua transformação em carboidratos, redução da utilização periférica da glicose e síntese maior de glicogênio- efeitos que aumentam a resistência à insulina e redução da tolerância à glicose. Alterações nos lipídeos do plasma podem ocorrer, favorecendo o aparecimento de aterosclerose. ➢ Ações dos glicocorticoides: 1. Promovem o metabolismo intermediário normal ▪ Favorecem a gliconeogênese ▪ Estimulam o catabolismo proteico e lipólise 2. Aumentam a resistência ao estresse ▪ Aumenta o nível de glicose plasmática ▪ Aumenta modestamente a pressão arterial 3. Alteram os níveis das células sanguíneas no plasma ▪ Diminuição dos eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos ▪ Aumento de hemoglobina, hemácias e plaquetas 4. Ação antiinflamatória 5. Atuam em outros sistemas ▪ Aumenta a produção de pepsina e ácido clorídrico ▪ Grave perda óssea → Redução da liberação de histamina (alergia) → Redução da produção de IgG → Síntese aumentada de fatores antiinflamatórios: IL-10, receptor de IL-1 e anexina 22 22 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 ❖ Efeitos colaterais Efeitos colaterais dos glicorticoides são uma das causas mais comuns de iatrogenia em pacientes com doenças reumáticas. De uma maneira geral, os efeitos adversos têm relação com a dose administrada e o tempo de exposição. Outras variáveis, como maior meia-vida e hipoalbuminemia, são associadas a maior magnitude de efeitos adversos dos corticoides. PELE Deposição característica de gordura em face, nuca, abdômen e em torno dos quadris. Acne, estrias, adelgaçamento da pele e equimoses. Incômodo estético. OLHOS Catarata- do tipo subcapsular posterior (dose acumulada). + 50% pctes.; crianças + suscetíveis. Acomete ambos os olhos -> casos avançados: correção cirúrgica. Aumento da pressão intraocular, + comum com preparados tópicos, pctes. c/ predisposição ou diagnóstico de glaucoma, o uso sistêmico em doses mais altas indica monitorização mais próxima. SISTEMA CARDIOVASCULAR Doença cardiovascular: morbidade em pacientes reumáticos em tratamento crônico com corticoide. Hipertensão e dislipidemia (+ aterosclerose acelerada e precoce). Crise hipertensiva, arritmias e mesmo morte súbita: doses + altas, como pulsoterapia. SISTEMA GATROINTESTINAL Dor abdominal, náuseas e vômitos. Estudos de metanálise: s/ risco aumentado de úlcera péptica, mas sangramento ou perfuração são + comuns em pacientes em uso de AINEs em associação a corticoide. Corticoide e pancreatite: não estabelecida. SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Osteoporose e fraturas. Relação: dose e tempo de exposição, perda de massa óssea parece ser maior nos primeiros 6 meses de uso de corticoide. Osteoporose corticoinduzida: mediada por combinação de mecanismos como diminuição da absorção intestinal de cálcio e fósforo, aumento da excreção urinária de cálcio, diminuição da [ ] de hormônios sexuais e inibição direta daformação óssea. Ossos trabeculares e a porção cortical dos ossos vertebrais: + suscetíveis que ossos longos. Miopatia conicoinduzida: até 50% pacientes em longos períodos de tratamento c/ corticoides. Manifesta- se por atrofia muscular e consequente fraqueza muscular proximal, comprometendo principalmente a cintura pélvica. 23 23 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 A fisiopatologia parece envolver modificações no metabolismo das proteínas e dos carboidratos pelo balanço nitrogenado negativo, além de alterações na homeostasia eletrolítica e na excitabilidade da membrana. Abordagem: redução do corticoide à menor dose possível e medidas de medicina física. Uso prolongado: aumento do risco de osteonecrose ou necrose avascular óssea. Acomete c/ maior frequência o fêmur proximal -> cabeça do úmero -> fêmur distal. Mecanismos propostos: aumento da viscosidade sanguínea, microêmbolos gordurosos e elevação da pressão intraóssea por depósitos de gordura. Além da dose acumulada de corticoide, trauma, alcoolismo, diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico (LES), presença de anticorpos antifosfolípides e transplante renal são fatores de risco conhecidos. Osteonecrose: dor no local acometido, de padrão mecânico. Abordagem: redução de sobrecarga na articulação acometida e analgesia. Descompressão óssea: casos precoces de necrose avascular da cabeça do fêmur, casos + avançados = artroplastia. SISTEMA NERVOSO Diferentes distúrbios neuropsiquiátricos são descritos em pacientes em uso de corticoide. Agudos: estados confusionais, convulsões, alucinações e franca psicose relacionados com altas doses ou pulsoterapia. Crônicos: euforia, irritabilidade, diminuição da libido, ansiedade e depressão. Relata-se síndrome do pseudotumor cerebral ou hipertensão intracraniana benigna. Dose reduzida: sinais de pressão intracraniana aumentada, como cefaleia e papiledema; infrequente, + comum em crianças. SISTEMA ENDÓCRINO E METABOLISMO Supressão do eixo HHA, alteração do metabolismo dos carboidratos, intolerância à glicose, franco diabetes mellitus e coma diabético (+ raro): reduz/retira a droga. Após introdução de corticoide (doses maiores): depleção de potássio -> hipocalemia e alcalose metabólica (- frequente). SISTEMA IMUNOLÓGICO Predispõe risco de infecções dose-dependentes, infecções comunitárias por bactérias e vírus comuns, infecções oportunistas. Uso em doses maiores: sinais e sintomas, devido resposta inflamatória reduzida. DO4: Compreender como as terapias físicas de reabilitação podem melhorar a qualidade de vida de pacientes com AR conforme o consenso (4ª referência) (cap 46 PAG 710 CARVALHO) → Objetivos: prevenção da disfunção, restauração e/ ou manutenção da função, diminuição da dor e da incapacidade e melhora da qualidade de vida dos pacientes reumáticos. → Meios: melhoria da amplitude de movimento (ADM), da força muscular, da capacidade aeróbica, da vida profissional e da autoimagem, além da educação do paciente. → Equipe: reumatologista, fisiatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, educador físico, ortopedista, fonoaudiólogo, nutricionista, enfermeira, psicóloga e assistente social. → Tratamento: visa-se proteção articular e conservação de energia ( disponibilidade de energia e custo energético p/ exercer suas atividades ❖ Meios de promover qualidade de vida: → Deslizar objetos em vez de levantá-los, → Intercalar períodos de descanso durante o dia → Não concentrar as atividades mais fatigantes em um mesmo dia, visando o não-esgotamento de energia. → Repouso não prologando-sistêmico ou localizado: diminui a inflamação, a dor e a contratura; intercalado c/ atividades que não piorem a dor. → Exercícios ▪ Passivos: úteis p/ ganho de ADM, mas observar o limite da dor. ▪ Ativos: ˃ Isométricos: trofismo muscular, se repouso articular- mantendo e aumentando a força; ˃ Isotônicos: movimentação articular: manter e aumentar ADM- sem carga e aumentar e manter a força muscular- c/ carga; ou ˃ Isocinéticos: manter e aumentar força muscular, melhorar potência, resistência e trabalho muscular. ▪ Exercícios localizados -> condicionamento físico c/ atividades de baixo impacto, treinamento resistido progressivo p/ melhora da força ▪ Hidroterapia: exercícios c/ baixo impacto articular, c/ melhora da força e função. → Utilização de meios físicos (ultrassom, ondas curtas, TENS, laser de baixa intensidade e infravermelho): são úteis antecedendo os exercícios por promoverem relaxamento da musculatura ou diminuição da rigidez articular, porém alguns meios físicos podem causar diminuição da dor, fazendo com que o paciente não sinta eventuais lesões causadas pelo exercício exagerado. AR: efeito efêmero. ❖ Manejo: → Órteses: úteis no manejo c/ objetivo de diminuir a dor e a mobilidade, dar estabilidade, manter a articulação ou o segmento em melhor posição e/ ou melhorar sua função. → Bengalas: proteger uma articulação do segmento inferior. 24 24 Débora Sousa | TUTORIA III | 24/02/2021 → Talas: posicionamento noturno de mãos reumatoides. → Palmilhas: melhorar os sintomas do pé reumatoide. → Independência, a produtividade e o conforto do paciente e da própria família podem melhorar com medidas como remoção de obstáculos, elevação de cadeiras, de vaso sanitário e do leito, colocação de corrimãos, adaptações de utensílios do lar e do trabalho (caso a caso). → Educação do paciente e de familiares: iniciada desde o primeiro atendimento, visando melhor comportamento frente a doença e melhor evolução. → Alerta: excesso de exercícios -> fadiga exagerada, aumento da fraqueza, diminuição da ADM ou aumento do inchaço articular. MAPA FINAL:
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