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1 1 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 Problema 2 M1- Tutoria III PROBLEMA 2 – “COLUNA EM BAMBU” Murilo, 24 anos, sexo masculino, era um estudante de Direito e vinha apresentando há mais de 3 anos quadro de lombalgia, que o incomodava e limitava muito suas atividades no dia-a-dia. Já havia feito uso paracetamol, dipirona e relaxantes musculares, sem melhora. Sua mãe lhe dizia que o problema deveria ser apenas postural e que ele era muito novo para ter dor nas costas. Entretanto, como a dor vinha se agravando nos últimos meses, Murilo decidiu procurar atendimento com um Reumatologista. Durante a anamnese, relatou queixa de dor lombar e em região glútea bilateral há 3 anos, pior pela manhã, ao acordar, e durante a noite, sendo muitas vezes despertado pela dor. A dor matinal vinha acompanhada de rigidez lombar e melhorava cerca de 1 hora após o despertar, à medida que começava a realizar suas atividades diárias. Queixava- se ainda de dor na região inferior de calcanhares ao acordar, que também aliviava ao longo do dia. Durante o exame físico, o médico observou que Murilo apresentava retificação da lordose lombar, dor à palpação de região de coluna lombar e glútea e limitação funcional da coluna lombar (Teste de Schober = 13 cm). Após a realização de exames complementares evidenciou-se HLA-B27 positivo e a presença de sindesmófitos em coluna dorsal e lombar ao Rx de coluna vertebral e sacroileíte bilateral ao Rx de sacroilíacas. O médico explicou a Murilo que a causa de sua dor lombar era uma doença chamada Espondilite Anquilosante e que, caso não tratada, a doença poderia evoluir com deformidades e limitações irreversíveis de movimento. TERMOS DESCONHECIDOS: → Lombalgia: dor que ocorre na região lombar inferior. A lombociatalgia é a dor lombar que se irradia para uma ou ambas as nádegas e/ou para as pernas na distribuição do nervo ciático. Pode ser aguda (duração menor que 3 semanas), subaguda ou crônica (duração maior que 3 meses). → Retificação da Lordose Lombar: acontece quando a suave curvatura (lordose) que normalmente existe entre o pescoço e as costas não está presente, o que pode causar sintomas como dor na coluna, rigidez e contraturas musculares. → Teste de Schober: é um teste para se referir o grau de restrição da flexão anterior da coluna lombar. É realizado em posição ortostática e em flexão máxima. Os pontos de referência são: a transição lombosacra e 15 cm acima deste ponto. → HLA-B27: HLA é o antígeno e B-27 é o gene correspondente. É um marcador que compreendem a Espondilite Anquilosante (EA), a artrite reativa (antigamente denominada síndrome de Reiter) e outros. → Sindesmófito em coluna dorsal: refere-se a uma ossificação paravertebral com orientação no eixo horizontal. → Sacroileíte bilateral: é uma das principais causas de dor no quadril e acontece devido à inflamação da articulação sacroilíaca, que fica na parte de baixo da coluna vertebral, onde se conecta com o quadril e pode afetar somente um lado do corpo ou ambos. Nesse caso, afeta os dois lados. → Espondilite Anquilosante: um tipo de inflamação que afeta os tecidos conjuntivos, caracterizando-se pela inflamação das articulações da coluna e das grandes articulações, como quadris. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA: O desconhecimento acerca dos diagnósticos diferenciais de lombalgia. CHUVA DE IDEIAS: → Fatores provocantes de lombalgia: má postura, excesso de exercício físico, sedentarismo etc → Há mais de um tipo de lombalgia? → Há 2 tipos de lombalgia: mecânica e inflamatória → Subdivisões: aguda e crônica → Alteração da dor de acordo com o clima: prof não viu na clínica → Alteração na dor devido peso e situações cotidianas (posturais, atividades físicas, etc) OBJETIVOS: O1: Diferenciar lombalgia mecânica de inflamatória, citando suas possíveis causas O2: Definir as principais características em comum do grupo das espondiloartrites e suas classificações O3: Descrever a epidemiologia e as manifestações clínicas (articulares e extra-articulares) da Espondilite Anquilosante. O4: Discutir mecanismo de ação, efeitos colaterais, precauções para prescrição e papel dos anti-TNF na Espondilite Anquilosante REFERÊNCIAS: 2 2 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 IMBODEN J., HELLMAN D., STONE J. CURRENT Diagnóstico e Tratamento/Reumatologia. 2ª ed. São Paulo, McGraw Hill, 2008 GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CARVALHO M.A.P., LANNA C.C.D., BERTOLO M.A.B. Reumatologia – Diagnóstico e Tratamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. CECIN H.A., XIMENES A.C. Tratado Brasileiro de Reumatologia. São Paulo: Atheneu, 2015. RESOLUÇÃO DO PROBLEMA: DO1: Diferenciar lombalgia mecânica de inflamatória, citando suas possíveis causas (Current- cap 10 pág 125) A lombalgia (DL) é a queixa musculoesquelética mais comum e a principal causa de incapacidade para o trabalho; estima-se que 80% da população apresentarão este problema durante a vida A lombalgia afeta a área entre a parte inferior da caixa torácica e as pregas glúteas e freqüentemente se irradia para as coxas. A maioria é benigna e autolimitada. Cerca de 90% dos pacientes com lombalgia aguda apresentam melhora espontânea em 4 semanas, embora sintomas mais leves possam persistir em algumas pessoas. Aproximadamente metade dos pacientes com lombalgia aguda experimenta um ou mais episódios de dor lombar durante os próximos anos, mas em geral também autolimitados, e menos de 1% dos pacientes apresenta verdadeira ciatalgia, definida como dor na distribuição de uma raiz nervosa lombar, freqüentemente acompanhada de déficits sensoriais e motores. Os fatores de risco que foram associados à lombalgia incluem levantamento de peso, dirigir veículos automotores, caminhada, atrofia muscular, obesidade, gravidez, fatores psicossociais e tabagismo. A lombalgia mecânica aumenta com a atividade física e a postura ereta e é aliviada pelo repouso e pelo decúbito. A lombalgia mecânica grave e aguda em uma mulher magra e idosa desperta suspeita de fratura vertebral por compressão secundária à osteoporose. A lombalgia não-mecânica, especialmente quando acompanhada de dor noturna, sugere a possibilidade de infecção subjacente ou neoplasia. Lombalgia inflamatória, como observada nas espondiloartropatias soronegativas, tipicamente piora com o repouso, melhora com a atividade e é acompanhada de rigidez matinal prolongada que dura meia hora ou mais. Ciatalgia e pseudoclaudicação sugerem acometimento neurológico. A persistência da lombalgia pode estar associada a depressão, insatisfação no trabalho e a busca de compensação pela incapacidade, inclusive através de processo judicial. A lombalgia em geral origina-se na coluna lombar ou nos músculos e ligamentos associados (Quadro 10.3). Raramente, a dor referida na região lombar é causada por doença visceral. LOMBALGIA MECÂNICA A lombalgia mecânica é causada por uma anormalidade anatômica ou funcional sem doença inflamatória ou neoplásica subjacente. A alteração degenerativa (também chamada de espondiloartrose lombar ou osteoartrite lombar) é de longe o distúrbio mais comum observado na coluna e a causa mais importante de lombalgia mecânica. As alterações degenerativas ocorrem tanto no disco intervertebral como na articulação facetária (Fig. 10.2). Mais de 95% das lombalgias são mecânicas (Quadro 10.4). 3 3 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 1. Espondiloartrose lombar (osteoartrite da coluna lombar) → É a causa mais comum de lombalgia -> mecânica. → Podem ocorrer ataques recorrentes de lombalgia aguda em alguns pacientes, enquanto em outros pode desenvolver-se lombalgia crônica. → Nos pacientes com osteoartriteda articulação facetária, a dor pode irradiar-se para a região posterior da coxa e ser exacerbada à curvatura ipsolateral da articulação envolvida (síndrome facetária). 2. Hérnia de disco → O núcleo pulposo em um disco degenerado pode sofrer prolapso e expulsar o anel fibroso enfraquecido, em geral póstero-lateralmente → Evidências de imagens da hérnia de disco (abaulamento ou protrusão) são comumente observadas, mesmo em adultos assintomáticos → Resulta em uma síndrome de compressão da raiz nervosa (Fig. 10.3), responsável por menos de 1% dos pacientes com lombalgia → Pode ser precipitada por uma ampla variedade de atividades, desde levantamento de peso até movimentos corriqueiros → Noventa e cinco por cento das hérnias de disco lombares envolvem o disco de L4-L5 ou L5-S1. 3. Espondilolistese → É o deslocamento anterior de uma vértebra sobre outra abaixo dela, em geral como resultado de alterações degenerativas no disco e nas articulações facetárias (espondilolistese degenerativa), mas também pode ser decorrente de um defeito do desenvolvimento no espaço interarticular do arco vertebral que resulta em espondilolistese ístmica (Fig. 10.4). → A maioria dos pacientes com um grau menor de espondilolistese é assintomática, embora alguns possam apresentar lombalgia mecânica 4. Estenose do canal medular → Estreitamento do canal medular, de seus recessos laterais e forames neurais, que pode resultar em compressão das raízes nervosas lombossacrais. → Pode ser assintomática; até 20% dos adultos assintomáticos com mais de 60 anos de idade apresentam evidências de estenose do canal medular nos exames de imagem. → Pode ocorrer em um ou mais níveis e o estreitamento pode ser assimétrico. Fig. 10.4 A. Espondilólise com defeitos bilaterais no espaço interarticular (setas). B. Espondilólise da vértebra L5 (seta) que resulta em espondilolistese ístmica em L5-S1. Fig. 10.2 Desenho esquemático mostrando um ângulo em corte transversal através de uma vértebra lombar normal. As articulações facetárias são formadas pela articulação entre a faceta superior da vértebra abaixo dela e a faceta anterior da vértebra acima. Fig. 10.3 Desenho esquemático mostrando hérnia de disco póstero- lateral que resulta em radiculopatia compressiva. 4 4 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 5. Hiperostose esquelética difusa idiopática → Caracteriza-se por hiperostose exuberante da coluna. → A proliferação óssea marginal leva à formação de espículas ósseas anteriores, que se fundem e conferem um aspecto de cera derretida de vela escorrendo pelos corpos vertebrais anteriores na radiografia. → Pode-se observar ossificação dos ligamentos paravertebrais como os longitudinais anterior e posterior. → A hiperostose esquelética difusa idiopática em geral é observada em pessoas de meia-idade e idosas. Apesar das anormalidades radiológicas extensas, a dor frequentemente é mínima ou ausente, com limitação apenas moderada da mobilidade vertebral. → Rigidez, que pode ser generalizada, é uma queixa comum. → Raramente pode ocorrer disfagia ou mielopatia secundária à ossificação extensa dos ligamentos longitudinais anterior ou posterior, respectivamente. → Uma associação ao DM foi registrada. 6. Lombalgia idiopática → Um diagnóstico anatomopatológico definitivo não pode ser feito em 80% dos pacientes com lombalgia, principalmente devido à fraca associação entre sintomas e resultados de imagem. Assim, termos inespecíficos como lumbago, distensão e torção entraram em uso. → A distensão e a torção nunca foram caracterizadas anatômica ou histologicamente. Portanto, lombalgia idiopática é uma designação mais precisa para os pacientes que apresentam uma síndrome de dor nas costas mais autolimitada. Neoplasia → O câncer é uma causa incomum de lombalgia. → A maioria dos casos resulta do acometimento da coluna por carcinoma metastático (especialmente próstata, pulmão, mama, tireóide ou rim) ou mieloma múltiplo. LOMBALGIA INFLAMATÓRIA As espondiloartropatias soronegativas causam lombalgia de caráter inflamatório com presença de rigidez matinal vertebral prolongada, que melhora com a atividade e piora com o repouso. DO2: Definir as principais características em comum do grupo das espondiloartrites e suas classificações (Goldman Seção XXII cap 265 pag 3008) Definição As espondiloartrites (EPA) englobam um grupo de síndromes ligadas a manifestações clínicas semelhantes e suscetibilidade genética. Os subgrupos clínicos mais reconhecidos são a Espondilite Anquilosante (EA), a Artrite Reativa (ARe), a Artrite Psoriásica (APs) e a Artrite Enteropática (AE). Os pacientes que não se enquadram nestas, mas possuem características comuns, entram na espondiloartrite indiferenciada (EPAi), podendo evoluir para um padrão clássico, como EA, ou manter um padrão indiferenciado em estudos de seguimento em longo prazo. Espondiloartrite: reforça a possibilidade da ocorrência tanto de espondilite (inflamação na coluna) quanto de artrite (inflamação das articulações periféricas). 5 5 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS, CLÍNICAS E LABORATORIAIS COMUNS: → Acometimento preferencial das articulações sacroilíacas (sacroiliite) e da coluna vertebral (espondilite), especialmente, a coluna lombar. Há de se ressaltar a possibilidade de quadro exclusivamente periférico, sem envolvimento axial. → Ocorrência de artrite periférica, com frequência assimétrica, na qual há predomínio da oligoartrite de grandes articulações, em especial dos MMII. Da mesma maneira, destaca-se a possibilidade de apenas o esqueleto axial ser acometido. → Frequente participação do processo inflamatório ao nível das ênteses (do grego enthesis: inserção), que são sítios constituídos de um tecido de transição composto por fibrocartilagem ou tecido conjuntivo fibroso onde tendões, ligamentos, cápsulas articulares e fáscias ligam-se aos ossos. ▪ Essa inflamação costuma não se limitar ao tecido conjuntivo da êntese, envolvendo também cartilagem e osso adjacentes e resultando em periostite e osteíte, por vezes erosiva e com neoformação óssea, chamada entesófito, muito frequente na inserção do tendão de Aquiles, no retrocalcâneo e na inserção da fáscia plantar na região subcalcânea. ▪ Quando acontece nas ênteses dentro de articulações diartrodiais, como as articulações coxofemorais (ao nível da união do ligamento redondo ao acetábulo), ou em articulações fibrocartilaginosas - como as sacroilíacas e a manubrioesternal -, pode haver limitação articular e mesmo anquilose óssea desproporcional ao grau de artrite erosiva, resultante do acometimento sinovial. Nas entesites dos discos intervertebrais e ligamentos da coluna, pode haver erosões nas bordas vertebrais, e as formações ósseas nesta localização são denominadas sindesmófitos. → Negatividade para a pesquisa do fator reumatoide (FR) pelos métodos convencionais e ausência de nódulos reumatoides subcutâneos. Há muitas décadas a espondilite anquilosante já foi considerada uma variante da AR -> espondilite reumatoide. Anos depois, as espondiloartrites -> espondiloartropatias soronegativas, em alusão à frequente, mas não absoluta, ausência do FR → Marcante agregação familiar, inclusive entre subtipos diferentes de EpA até 20% dos parentes de pacientes espondiloartríticos, positivos para o subtipo B27 do antígeno leucocitário humano (HLA- B27) desenvolverão uma espondiloartrite, enquanto menos de 5% dos positivos na população geral o farão. A concordância entre gêmeos idênticos é de cerca 60% contra 15% entre gêmeos dizigóticos para EA. → Tendência à sobreposição clínica entre as diversas enfermidades. Assim, eventualmenteum paciente pode, durante sua evolução, mudar a forma de EpA, como, por exemplo, iniciar um quadro sugerindo uma espondilite anquilosante idiopática ou reativa a uma infecção e, após alguns anos, desenvolver outras características específicas, como psoríase ou doença inflamatória intestinal; → Associação a HLA-B27, uma molécula do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe I. Os pacientes com EA podem, em algumas casuísticas, como em brancos do norte da Europa, apresentar 80% a 90% de positividade. Em outros grupos étnicos, como os africanos, mais da metade dos pacientes com EA é B27 negativa. As outras espondiloartrites apresentam frequência menor, embora, quando há envolvimento axial, em especial a sacroiliite, ocorra aumento significativo deste gene. ▪ Parece que, no Brasil, possivelmente pela intensa miscigenação, sua frequência em pessoas com EA é inferior à da população caucasiana de outros países e, talvez, apresentando variação nos diversos estados da Federação. Um estudo realizado por Bomtempo et al. no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), evidenciou uma positividade de 64% para o HLA- B27 em indivíduos com espondilite anquilosante e de 53,85% considerando-se todos espondiloartríticos. Resultados semelhantes foram observados por Ramalho et al. em Recife (positivo em 66,6%). Por outro lado, Sampaio Barros et al. encontraram, em Campinas-SP, uma positividade para o HLA-B27 de 78,2% entre pacientes com EA. Ressalte-se que, na população avaliada por Sampaio-Barros, havia predomínio de pacientes brancos, e na estudada por Bomtempo, não brancos. Relações esquemáticas entre os subtipos de espondiloartrites diferentes. A Espondilite Anquilosante (EA), considerada a EPA clássica, engloba as características essenciais desta família de doenças. A EA pode coincidir com Artrite Psoriásica (APs), Artrite Enteropática (AE) ou Artrite Reativa (ARe). Muitos pacientes têm características clínicas de EPA que não atendem aos critérios de diagnóstico por qualquer dos quatro subconjuntos definidos. Alguns casos são definidos como EPAs indiferenciadas (EPAi). 6 6 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 Classificações ❖ ESPONDILITE ANQUILOSANTE Doença inflamatória crônica que acomete as articulações sacroilíacas, em graus variáveis a coluna vertebral e, em menor extensão, as articulações periféricas. Mais bem caracterizada no início do século XX, ainda hoje a ela se associam os nomes dos 3 observadores iniciais da doença: von Bechterew, Strumpell e Pierre Marie. Proporção H-M: 2-4:1, c/ primeiros sintomas entre 20 e 35 anos. ❖ ARTRITE REATIVA Artrite inflamatória secundária a uma infecção, na qual não se consegue cultivar o micro-organismo causal a partir do líquido sinovial. 2 modelos epidemiológicos diferentes: um se desenvolve após infecção intestinal e o outro, após infecção do trato urogenital, de transmissão sexual. 7 7 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 No primeiro tipo de artrite têm sido incriminadas as infecções por Shigella jlexneri, Shigella sonnei, Salmonella typhimurium, Salmonella enteritidis, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis. Há estimativas de que 6% - 30% dos indivíduos com infecção intestinal desenvolvam a doença cerca de 2-4 semanas após a infecção inicial. No segundo modelo epidemiológico, as infecções por Chlamydia trachomatis têm sido a causa encontrada. Ocorrem em cerca de 1% - 3% das pessoas com uretrite não gonocócica e as manifestações clínicas articulares acontecem também após 2-4 semanas da infecção inicial. ❖ ARTRITE PSORIÁSICA Enfermidade sistêmica de natureza inflamatória que ocorre em pessoas com psoríase. A psoríase acontece em cerca de 1% - 3% da população adulta em geral, e diversas estatísticas indicam que 6% - 42% dos indivíduos com psoríase desenvolvem AP. Estes últimos números podem aumentar muito se doenças degenerativas e queixas inespecíficas de dor musculoesquelética forem consideradas. Primeiros sintomas (comumente): entre 20 e 45 anos. ❖ ARTRITE ENTEROPÁTICA Na sua conceituação mais ampla, a doença inflamatória intestinal (DII) corresponde a qualquer processo inflamatório envolvendo o trato gastrointestinal, seja ele agudo ou crônico. Associa-se à doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU), ambas de causa desconhecida. O curso clínico, cujas manifestações principais são diarreia, dor abdominal e sangramento retal, caracteriza-se por períodos de remissão e exacerbação e apresenta complicações das mais diversas. Associam-se, com certa frequência, manifestações extraintestinais, como articulares, cutâneas, oculares, hepatobiliares e vasculares, que podem preceder, ser concomitantes ou suceder a doença intestinal. 8 8 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 ❖ ESPONDILOARTRITE INDIFERENCIADA A EI engloba subgrupos heterogêneos de pacientes com manifestações e prognóstico ainda pouco esclarecidos. Ela poderia representar: → O estágio precoce de uma das doenças estabelecidas do grupo, tornando-se, posteriormente, diferenciada. → Uma forma frustra de espondiloartrite definida, que não irá desenvolver o quadro clássico da enfermidade no futuro. → Uma nova subcategoria de espondiloartrite, ainda indefinida dos pontos de vista clínico e etiológico. → Uma síndrome de sobreposição que não pode ser diferenciada em apenas uma espondiloartrite definida. DO3: Descrever a epidemiologia e as manifestações clínicas (articulares e extra-articulares) da Espondilite Anquilosante (Carvalho- cap 23 pag 371- 374) EPIDEMIOLOGIA → A EA é o distúrbio inflamatório mais comum do esqueleto axial. → A seguir, uma regra útil: a EA ocorre em 0,2% da população geral, em 2% da população B27-positiva e em 20% dos indivíduos B27-positivos com um membro da família afetado. → Embora se possa virtualmente encontrá-la, de forma indistinta, nos dois sexos, já que o HLA-B27 incide igualmente entre homens e mulheres, há predileção pelo sexo masculino na proporção de 2-4: 1, e a maioria dos pacientes desenvolve os primeiros sintomas entre os 20 e os 35 anos. → No entanto, estudos epidemiológicos recentes têm revelado um maior envolvimento do sexo feminino do que estimativas anteriores indicavam. A base para a predisposição de gênero ainda não foi esclarecida. Entretanto, sustenta-se que a EA seja sub-reconhecida em mulheres, talvez devido a uma doença axial mais branda e a um início mais tardio da doença, mas outros diagnósticos de dor pélvica e dor lombar em mulheres podem dificultar o diagnóstico dessa doença pelos médicos, em pacientes do sexo feminino. → Acomete, principalmente, indivíduos caucasianos, possivelmente pela maior incidência de HLA-B27 nessa amostragem, e é enfermidade relativamente comum, ocorrendo em cerca de O, 1% a 0,2% da população geral. → Entretanto, se forem consideradas populações em que a incidência do HLA-B27 é mais alta, como no norte da Europa, a prevalência da doença chega de 0,5% a 1% da população geral. → Observa-se também que a enfermidade é muito mais frequente entre parentes de primeiro grau HLA- B27 positivos de portadores de espondilite anquilosante e, também, portadores do antígeno HLA-B27. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Alterações clínicas articulares → + comum: dor ao nível das articulações sacroilíacas e/ou da coluna lombar. No início: paciente c/ (pode ter) fases de melhora e de piora do quadro álgico, podendo ficar s/ sintomas por dias/ meses, entretanto, com a completa instalação da doença, a dor se torna diária. ▪ Fatores de melhora: calor e a mobilização articular, e de piora: repouso- por isso o paciente geralmente 9 9 Débora Sousa| TUTORIA III | 03/03/2021 apresenta dor pela manhã e à noite. Associa-se à dor uma rigidez matinal que será tanto mais intensa e duradoura quanto maior for a atividade clínica da doença. A dor lombar pode irradiar pelos MMII, frequentemente bilateral e não há, habitualmente, sintomas de parestesias. → Exame físico: podem-se observar redução e até retificação da lordose lombar, inicialmente por espasmo muscular doloroso e, posteriormente, por anquilose fibrosa e óssea (Figura 23.3). Há graus variáveis de redução da mobilidade lombar em todos os planos: anterior, lateral e posterior. O grau de restrição da flexão anterior pode ser aferido medindo-se o desvio, em flexão, de 2 pontos: o ponto inferior ao nível da junção lombossacra e o ponto superior, 10 cm acima desse nível. Em um indivíduo normal, o desvio dessa linha é ≥ 5 cm, considerando-se alterado se for < 5 cm (teste de Schõber). → A progressão da doença na coluna vertebral ocorre de forma ascendente, e na coluna torácica poderão acontecer - além da dor - redução da expansibilidade e aumento da cifose. A redução da expansibilidade torácica pode ser observada durante uma inspiração máxima e após expiração máxima forçada. Realizada ao nível do 4º espaço intercostal, considera-se alterada essa aferição quando for ≤ 2,5 cm. → Na coluna cervical podem ocorrer dor, limitação de movimentos, retificação e até perda da lordose fisiológica normal, alterações que às vezes levam a uma projeção da cabeça para frente. → As complicações mais comuns do envolvimento vertebral consistem em subluxação atlas-áxis, deformidades vertebrais e fraturas secundárias a osteoporose. → O acometimento articular periférico - traduzido por dor, edema, calor e limitação - é mais comum nas grandes articulações, como as coxofemorais, joelhos, ombros, tornozelos e metatarsofalangianas, mas pode ocorrer, eventualmente, em qualquer articulação (Tabela 23.5). Embora, de forma prospectiva, possam ser observadas artralgias na maioria dos pacientes, registra-se a presença de artrite crônica em cerca de 30% dos casos. → As lesões enteropáticas ocorrem em aproximadamente 1/3 dos pacientes e os locais mais comuns são as inserções dos músculos costoesternais e costovertebrais, a inserção do tendão de Aquiles, o retrocalcâneo, a inserção da fáscia plantar na região subcalcânea, a sínfise púbica e as cristas ilíacas. FIGURA 23.3 Retificação da lordose lombar, aumento da cifose torácica e retificação da lordose cervical com projeção da cabeça para a frente, em portador de Espondilite Anquilosante. 10 10 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 ❖ Alterações clínicas extra-articulares → Apesar da predileção pelo acometimento articular, a EA é uma doença sistêmica. Os sintomas constitucionais ocorrem principalmente nas fases de maior atividade ou nos períodos iniciais da doença e consistem em astenia, fadiga, hiporexia, emagrecimento leve e febrícula. → Olhos: acometidos em cerca de 20% a 40% dos pacientes, havendo uma uveíte anterior aguda (iridociclite), não granulomatosa, unilateral e recidivante. Ocorrem hiperemia ocular intensa, visão borrada, dor, fotofobia e lacrimejamento, de início súbito, geralmente durando de dias a semanas. O processo inflamatório uveal pode recorrer, geralmente, após longos intervalos livres de sintomas, com envolvimento unilateral alternante (Figura 23.4). ▪ O início da uveíte, na maioria dos pacientes, ocorre antes dos 40 anos de idade, sendo a gravidade da fase aguda caracterizada pela presença de grande quantidade de fibrina e células na câmara anterior e ausência de precipitados ceráticos tipo mutton fat (gordura de carneiro). As complicações da uveíte anterior incluem a formação de sinéquias (aderências) posteriores, edema cistoide de mácula, catarata e glaucoma, acontecendo especialmente nos casos de uveíte recidivante ou cujo tratamento fora iniciado tardiamente. Embora possa preceder as manifestações clínicas articulares da doença, a uveíte aguda, em média, ocorre após cerca de 2 a 10 anos do início da EA e mais comumente nos pacientes HLAB27 positivos. → Manifestações cardiorrespiratórias: + observadas são os distúrbios de condução do ritmo cardíaco, insuficiência aórtica, pericardite, miocardite e uma fibrose pulmonar apical que, com a evolução da doença, torna-se bilateral (Figura 23.5). Assim como em outras doenças inflamatórias crônicas, como lúpus sistêmico, AR e artrite psoriásica, tem- se encontrado um maior risco cardiovascular entre os pacientes com Espondilite Anquilosante, seja por maior prevalência de outros fatores de risco, seja pelo papel da inflamação crônica no desenvolvimento precoce e/ ou acelerado de placas ateromatosas ou, ainda, pelos efeitos deletérios cardiovasculares das drogas usadas no tratamento. Quanto mais longo for o tempo de evolução da doença, maiores serão as chances de encontrar tais alterações. → Aparelho geniturinário: manifestação + comum é a prostatite, representada clinicamente por uma piúria estéril. De descrição mais recente, a nefropatia mesangial por depósitos de IgA vem sendo considerada associada à EA. Hoje, a nefropatia por IgA é reconhecida como a causa mais comum de glomerulonefrite, podendo ser primária ou secundária a outras doenças (ex.: infecção por HIV e cirrose hepática). Acontece principalmente entre 20 e 30 anos, coincidindo com a faixa etária de acometimento das espondiloartrites. ▪ Tem tradução clínica à custa de hematúria microscópica e, às vezes, macroscópica, podendo ou não ser acompanhada por proteinúria. Os fatores relacionados com pior prognóstico são hipertensão arterial sistêmica, proteinúria persistente (sobretudo> 1 g/24 horas), declínio da função renal e presença de síndrome nefrótica. ▪ A proteinúria isolada em espondilíticos, muito raramente observada no Brasil, poderia ser uma manifestação de amiloidose renal. → A síndrome da cauda equina: complicação rara, possivelmente secundária a uma aracnoidite, e se traduz por um quadro insidioso de dor nas nádegas e nas faces internas das coxas e pernas, com alterações sensoriais e motoras. → Manifestações viscerais: particularmente cardiorrespiratórias e neurológicas, embora possam preceder as manifestações clínicas articulares, geralmente ocorrem em fases evolutivas subsequentes, e o perfeito controle da doença articular não tem relação com o aparecimento e a gravidade das alterações viscerais. OBS.: Para a avaliação de sacroiliíte utilizamos a manobra de Patrick-Fabere. No Patrick Fabere solicitamos ao paciente que faça um “4” (Flexão ABdução Rotação Externa de quadril), em seguida o examinador coloca uma mão no joelho flexionado e a outra mão 11 11 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 na crista ilíaca contralateral e aplica uma força para baixo, se paciente sentir dor na região inguinal homolateral então provavelmente se trate de patologia do quadril, caso a dor seja contralateral e posterior sugere sacroileíte. DO4: Discutir mecanismo de ação, efeitos colaterais, precauções para prescrição e papel dos anti-TNF na Espondilite Anquilosante (Trat. BR- cap 33 pág 536 e cap 34 pag 546; Carvalho- cap 23 pag 382 Nos últimos anos, uma nova classe de drogas utilizadas no tratamento das doenças reumáticas inflamatórias, os agentes biológicos, tem demonstrado uma ação bastante eficaz em pacientes refratários ao tratamento convencional. Na EA, destacam-se: 1. Infliximabe → anticorpo monoclonal antifator de necrose tumoral (TNF), que é uma das principais citocinas envolvidas na gênese e manutenção do processo inflamatório da doença; → administrado por via endovenosa, em centros de infusão que tenham equipe médica com experiência no acompanhamento destescasos; → dose recomendada: de 3 a 5 mg/kg, → apresentando um esquema de ataque (doses a 0, 2 e 6 semanas) e outro de manutenção, a cada 8 semanas. 2. Etanercepte → receptor proteico com alta afinidade pelo TNF solúvel → administrado por via subcutânea, duas vezes por semana → dose utilizada: 25 mg 3. Adalimumabe → anticorpo monoclonal humano → administrado por via subcutânea, a cada duas semanas → dose utilizada: 40 mg Outros agentes biológicos anti-TNF, o golimumabe e o certolizumabe pegol ainda não disponíveis no Brasil, estão sendo estudados no tratamento da EA. Os agentes biológicos foram desenvolvidos com base em sua capacidade de neutralizar, in vitro, os efeitos do TNF, e seus mecanismos de ação nos pacientes com artrite reumatoide e com espondiloartrites continuam em fase de estudos. Aproximadamente 80% dos pacientes respondem ao tratamento com um dos agentes anti-TNF, sendo a resposta clínica alcançada geralmente nas primeiras 6 semanas. MECANISMOS DE AÇÃO Entre os mecanismos de ação relatados até o momento citam-se: → Inibição da rede de citocinas pró-inflamatórias; → Redução da infiltração celular sinovial; → Indução da apoptose de monócitos, linfócitos e macrófagos; → Desativação endotelial e inibição da angiogênese; → Redução da destruição cartilaginosa e óssea; e → Modulação de funções imunes. EFEITOS COLATERAIS Vários são os efeitos colaterais relacionados com o uso dos agentes anti-TNF. → As reações alérgicas infusionais (infliximabe) ocorrem em 2% - 3% dos pacientes, manifestando- se por cefaleia, opressão torácica, broncoespasmo, hipotensão, sudorese, edema pulmonar e anafilaxia. ▪ Estes paraefeitos podem ser minimizados ou evitados com a administração prévia de anti- histamínicos e corticoides. → Reações cutâneas, como prurido e urticária, podem acontecer secundariamente ao uso de infliximabe, adalimumabe e etanercepte, bem como reações no local da injeção, como eritema local, dor e equimoses quando é utilizada a via SC de administração (adalimumabe e etanercepte). → Outros efeitos colaterais relacionados com o uso dos agentes biológicos seriam os aumentos da incidência de infecções, como das vias aéreas e urinárias. 12 12 Débora Sousa | TUTORIA III | 03/03/2021 → O aparecimento de doenças infecciosas granulomatosas, como a tuberculose, também tem sua incidência aumentada, sobretudo nos países pobres, como o Brasil. → Outras infecções relacionadas com o uso dos agentes anti-TNF incluem: infecções por micobactérias atípicas, candidíase, aspergilose, citomegalovírus, criptococose, coccidioidomicose, histoplasmose, listeriose, nocardiose, e pneumocistose. De maneira geral, o uso de drogas anti-TNF aumenta o risco de infecções sérias, embora a magnitude deste aumento ainda não esteja bem documentada em estudos. ➢ A detecção de infecção em qualquer topografia obriga a suspensão imediata do agente anti-TNF e o tratamento adequado da mesma. Após a certeza da cura da infecção, conforme a gravidade da mesma, o tratamento poderá ser reiniciado. → O uso de agentes biológicos anti-TNF associa-se, ainda, a outros paraefeitos, como: ▪ Agravamento ou desencadeamento de doenças desmielinizantes; ▪ Aumento da incidência de neoplasias, sobretudo linfomas; ▪ Citopenias; indução de autoanticorpos (fator antinuclear [FAN] positivo, anticorpos anti-DNAn e anticorpos anti-Sm), sobretudo com infliximabe e etanercepte; ▪ Precipitação ou exacerbação de insuficiência cardíaca; hepatotoxicidade; ▪ Exacerbação de psoríase; ▪ Ocorrência de vasculites do sistema nervoso central. PRECAUÇÕES PARA PRESCRIÇÃO → É importante frisar que o uso das drogas anti-TNF deve obedecer rigorosos critérios de indicação e monitoração, visando diminuir os potenciais efeitos colaterais e racionalizar os custos de tratamento. → O Consenso Brasileiro de Espondiloartrites estabelece que a indicação dos agentes biológicos anti-TNF deve ser restrita à redução de sinais e sintomas de pacientes com EA ativa de moderada à grave intensidade em indivíduos com resposta inadequada a dois ou mais AINEs em um período mínimo de observação de três meses, e que não responderam ao uso de metotrexato ou sulfasalazina em casos de artrite periférica em atividade. → Os estudos atuais mostram ação terapêutica das drogas anti-TNF, como monoterapia, por período de até dez anos; estima-se que a não resposta nas primeiras 12 semanas de tratamento indique uma não resposta da doença a um agente biológico. Consideram-se contraindicação absoluta ao uso dos agentes anti-TNF: ▪ Infecção ativa, especialmente tuberculose; ▪ História de neoplasia há menos de 5 anos; ▪ Doença desmielinizante (p. ex.: esclerose múltipla, neurite óptica); ▪ Insuficiência cardíaca (com classe funcional 3 ou 4); ▪ Gravidez e amamentação. RESOLUÇÃO DO PROBLEMA
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