Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Alergia e Imunologia AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO PACIENTE ALÉRGICO Avaliação Clínica: As principais manifestações clínicas indicativas de alergia/atopia são: - Crosta láctea: representa uma das primeiras manifestações clínicas de atopia no lactente; caracteriza-se por lesão eritematodescamativa difusa no couro cabeludo do lactente (dermatite seborreica do lactente), podendo haver infecção bacteriana secundária. - Angioedema: edema da derme e da hipoderme; geralmente associa-se à urticária, sendo indicativa de atopia. - Prurigo estrófulo: lesão resultante de hipersensibilidade à picada de insetos, como formigas e mosquitos; caracteriza-se por pápulas eritematosas e pruriginosas que disseminam-se por todo o corpo, não permanecendo restritas ao local da picada. - Dermografismo: lesão eritematosa que desenvolve-se em resposta a mínimos estímulos da pele; o dermografismo é um sinal indicativo de atopia, pois a maioria dos indivíduos alérgicos/atópicos apresentam algum grau de dermografismo. - Ptiríase alba: lesão hipocrômica que desenvolve-se principalmente em face e associa-se à atopia; não apresenta associação com infecção fúngica. - Urticária: lesão eritematoedematosa muito pruriginosa que associa-se fortemente à atopia/alergia; as lesões da urticária são lesões fugazes, que alteram de local em minutos a horas; as principais causas de urticária são infecções, alergias alimentares e alergias medicamentosas. - Dermatite atópica: doença alérgica que caracteriza-se por lesões eritematodescamativas e pruriginosas associadas à xerose cutânea que, ao longo do tempo, devido ao prurido crônico, evoluem formando liquenificação, com aumento das linhas de expressão da pele; no lactente, as lesões são mais comuns na face e na região anterior do tórax; na criança, no adolescente e no adulto, as lesões são mais comuns em áreas de dobras e na região perioral; as lesões da dermatite atópica podem evoluir com infecção bacteriana secundária. - Rinite alérgica: o diagnóstico de rinite é clínico (anamnese + exame físico); a história clínica baseia-se na presença de espirros, rinorreia, prurido nasal e congestão/obstrução nasal; no exame físico, deve-se avaliar a mucosa nasal (rinoscopia anterior), que apresenta-se pálida, devido à infiltração de eosinófilos, o septo nasal, investigando a presença de desvios, a presença de secreção nasal, que apresenta- se hialina, os cornetos inferiores, que podem estar hipertrofiados, a presença de prega nasal transversa e a presença de palato ogival, em pacientes respiradores orais. Os pacientes com rinite podem tornar-se respiradores orais crônicos, o que causa alterações anatômicas importantes principalmente do palato e da arcada dentária superior. O palato torna-se mais alto e mais estreito e a arcada dentária superior torna-se mais estreita, com possibilidade de protrusão anterior dos dentes. - Prega de Dennie-Morgan: caracteriza-se por dupla prega infrapalpebral; representa sinal indicativo de atopia. - Conjuntivite alérgica: geralmente manifesta-se em associação à rinite alérgica; o diagnóstico de conjuntivite é clínico (anamnese + exame físico) e caracteriza-se por hiperemia conjuntival bilateral, lacrimejamento, prurido ocular e fotofobia. - Sinal de Hertog: caracteriza-se por perda do 1/3 lateral da sobrancelha; representa sinal indicativo de atopia. Avaliação Laboratorial: A avaliação laboratorial sempre deve ser realizada de forma complementar à avaliação clínica do paciente alérgico. A avaliação clínica baseia-se em: - Anamnese: → Exposição a ácaros da poeira doméstica. → Exposição a antígenos de barata. → Exposição a epitélios de animais. → Sazonalidade. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → Exposição a agentes irritantes. → Piora dos sintomas associada a alterações climáticas. → Tabagismo ativo ou passivo. → Doenças alérgicas associadas. → Comorbidades associadas. → História familiar de doenças alérgicas. → Reações alérgicas a medicamentos. - Exame Físico. Os principais exames complementares que podem ser solicitados para a avaliação de pacientes alérgicos são: - Contagem de eosinófilos. - IgE total. - Pesquisa de eosinófilos na secreção nasal. - Pesquisa de eosinófilos no escarro. - Teste de provocação oral. - Teste de broncoprovocação. - IgE específica in vivo (teste cutâneo). - IgE específica in vitro (teste sorológico). Geralmente, a avaliação laboratorial de pacientes alérgicos na prática clínica baseia- se em contagem de eosinófilos + IgE total + IgE específica in vivo OU in vitro. Teste de Broncoprovocação: O teste de broncoprovocação é indicado para a avaliação diagnóstica de pacientes com asma (alergia respiratória) e baseia-se na realização de espirometria de base, seguida de espirometria com aspiração de alguma droga broncoconstritora, como histamina ou metacolina. O resultado positivo indica que o paciente apresenta hiper-reatividade brônquica, havendo componente alérgico associado à asma. IgE específica in vivo (Teste Cutâneo): O teste cutâneo de hipersensibilidade imediata, também denominado prick test, baseia-se na aplicação de uma gota de cada alérgeno suspeito seguida de perfuração da pele do antebraço para a absorção do alérgeno. Aguarda-se 15 minutos e observa- se o desenvolvimento de pápula eritematosa na superfície da pele. O teste cutâneo é positivo se a lesão apresentar diâmetro > 3 mm. O teste cutâneo pode desencadear reações alérgicas sistêmicas, devendo ser contraindicado para pacientes com história de reação alérgica grave ou de reação anafilática. Além disso, a acurácia do teste cutâneo depende da aplicação do alérgeno em pele saudável, visto que a presença de dermatite atópica e de dermografismo podem causar resultados falso-positivos ou falso-negativos, da ausência de uso de anti-histamínicos, que também podem causar resultados falso- negativos, e da idade do paciente, visto que lactentes (idade < 2 anos) apresentam baixa reatividade cutânea podendo apresentar resultados falso-negativos. Os pacientes com nefropatia ou neoplasias podem apresentar reações de hipersensibilidade menos intensas, causando resultados falso- negativos. Os principais fatores que influenciam o resultado do teste cutâneo (prick test) são: - O alérgeno utilizado. - O material de perfuração utilizado. - A idade do paciente. - A região do corpo utilizada para a aplicação do alérgeno. - O estado da pele do paciente. - A habilidade do profissional que realiza o exame. - A interpretação adequada do resultado. - A utilização de medicamentos, principalmente anti-histamínicos, que possam influenciar o resultado do exame. As principais precauções que devem ser tomadas durante a realização do teste cutâneo (prick test) são: - Realizar o exame sob supervisão médica. - Ter material de suporte para casos de reação alérgica sistêmica, como adrenalina/epinefrina injetável. - Realizar o exame com o paciente sem manifestações clínicas alérgicas. - Suspender o uso de anti-histamínicos no mínimo 72 horas antes do exame. - Suspender o uso de corticoides tópicos. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 As 2 principais contraindicações à realização do teste cutâneo (prick test) são dermatite atópica e gestação. IgE específica in vitro: A dosagem in vitro de anticorpos IgE específicos para determinado alérgeno baseia-se na análise quantitativa dos anticorpos IgE específicos no plasma sanguíneo de pacientes alérgicos. Os dois métodos laboratoriais mais utilizados para a detecção dos anticorpos IgE específicos in vitro são o IMUNOCAP e o RAST. O teste in vitro apresenta como vantagens a ausência de influência de doenças de pele, como dermatite atópica, e de uso de anti- histamínicos e corticoides tópicos no resultado do exame. Além disso, o teste in vitro não tem risco de causarmanifestações clínicas alérgicas no paciente. Teste in vivo Teste in vitro Maior sensibilidade Maior especificidade Resultado mais rápido Resultado mais lento Técnica mais simples Técnica mais complexa Menor custo Maior custo Doenças de pele e uso de anti-histamínicos e corticoides tópicos influenciam o resultado Doenças de pele e uso de anti-histamínicos e corticoides tópicos não influenciam o resultado Com risco de manifestações alérgicas sistêmicas e anafilaxia Sem risco de manifestações alérgicas sistêmicas e anafilaxia Teste de Provocação Oral: O teste de provocação oral é realizado para a investigação diagnóstica de alergias alimentares, especialmente para os casos de alergia alimentar em que as manifestações clínicas não são cutâneas (alergia alimentar não mediada por IgE). A alergia alimentar mediada por IgE apresenta manifestações clínicas cutâneas, como urticária e angioedema, e sistêmicas, como anafilaxia, facilitando o diagnóstico por meio de teste cutâneo (in vivo) para a detecção do alérgeno alimentar responsável pelo quadro alérgico. Entretanto, a alergia alimentar não mediada por IgE apresenta manifestações clínicas principalmente gastrointestinais, que podem aparecer horas após a exposição ao alérgeno alimentar, dificultando a identificação do alérgeno responsável pelo quadro alérgico e impossibilitando a realização de teste cutâneo (in vivo), devido à ausência de manifestações clínicas cutâneas. Nestes casos, utiliza-se o teste de provocação oral, no qual administra-se o alérgeno alimentar suspeito ao paciente e, posteriormente, realiza-se dosagem in vitro de anticorpos IgE específicos para o alérgeno alimentar a partir de amostra de sangue coletada do paciente. Um dos principais exemplos de alergia alimentar é a alergia à proteína do leite de vaca (APLV), que pode ser mediada ou não mediada por IgE. O teste de provocação oral pode ser utilizado para a investigação diagnóstica de APLV não mediada por IgE. As principais contraindicações à realização do teste de provocação oral são: - História de anafilaxia ao leite de vaca. - Níveis séricos altos de IgE específica para proteínas do leite de vaca. Doenças Alérgicas e Fatores Emocionais: A pele e as emoções estão fortemente relacionadas, visto que muitas doenças de pele, inclusive doenças alérgicas que cursam com manifestações clínicas cutâneas, às vezes, não apresentam nenhuma explicação racional para a manifestação dos sintomas, como manchas eritematosas, prurido e alterações de sensibilidade da pele, havendo, nestes casos, importante influência de fatores emocionais/psicológicos. A explicação embriológica para este fato é a de que quando o embrião/feto está se desenvolvendo, a pele e o sistema nervoso têm origem do mesmo folheto embrionário, a ectoderme, podendo explicar a relação entre as manifestações clínicas cutâneas e as emoções. As emoções podem tanto ser a causa de doenças dermatológicas simples, como a dermatite seborreica, quanto o fator desencadeante de doenças alérgicas, como a dermatite atópica. Entre as doenças alérgicas, a asma tem sido frequentemente associada à ansiedade e à depressão. A 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 relação entre asma e ansiedade deve-se à observação de que os estados de ansiedade e/ou estresse emocional agravam os sintomas da asma. Em resumo, os fatores emocionais/psicológicos podem ser responsáveis por agravar ou até mesmo desencadear as manifestações clínicas das doenças alérgicas. Em um estudo epidemiológico realizado com pacientes que têm doenças alérgicas, observou-se que aproximadamente 18% dos pacientes apresentavam o diagnóstico de algum distúrbio psiquiátrico, sendo o transtorno de ansiedade o distúrbio mais prevalente. Doenças Alérgicas Ocupacionais: As doenças alérgicas representam aproximadamente 15% de todas as doenças ocupacionais. As doenças alérgicas ocupacionais mais prevalentes são a rinite alérgica ocupacional e a asma relacionada ao trabalho. Estas doenças são mais frequentes no sexo masculino e, segundo estudos, a maioria dos indivíduos portadores da doença alérgica ocupacional continuam exercendo a mesma função laboral mesmo após o diagnóstico.
Compartilhar