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Autor: Prof. Rodrigo Stolf Colaboradores: Prof. Rodrigo Stolf Prof. Welliton Donizeti Popolim Tendências em Gastronomia Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Professor conteudista: Rodrigo Stolf Possui graduação em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialização em Administração do Turismo e Hotelaria pela FGV-SP (2001) e mestrado em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (2004). Desde 2006 é coordenador geral dos cursos Tecnológico de Gastronomia e Hotelaria da UNIP e, a partir de 2016, tornou-se coordenador do curso Tecnológico de Gastronomia na modalidade EaD. Também é professor de diversas disciplinas ligadas às áreas de Hospitalidade, Eventos, Hotelaria e Gastronomia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S875t Stolf, Rodrigo Tendências em Gastronomia / Rodrigo Stof. – São Paulo: Editora Sol, 2018. 228 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-048/18, ISSN 1517-9230. 1. Equipamentos. 2. Consumo. 3. Alimentação. I. Título. CDU 641 U502.52 – 19 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fabrícia Carpinelli Carla Moro Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Sumário Tendências em Gastronomia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 AS TENDÊNCIAS GASTRONÔMICAS ......................................................................................................... 13 2 TENDÊNCIAS E MODISMOS NA GASTRONOMIA ................................................................................. 19 2.1 Tendências .............................................................................................................................................. 19 2.2 Modismos ............................................................................................................................................... 21 3 TENDÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO GASTRONÔMICO .................................... 24 3.1 Referências do turismo gastronômico no Brasil ..................................................................... 24 3.2 Principais tendências globais do turismo gastronômico ..................................................... 37 4 ESTILOS DE COZINHA..................................................................................................................................... 46 4.1 Cozinha étnica ....................................................................................................................................... 46 4.2 Raw food.................................................................................................................................................. 48 4.3 Fusion cuisine/fusion food ............................................................................................................... 50 4.4 Comfort food ......................................................................................................................................... 52 4.5 Slow food................................................................................................................................................. 53 4.6 Cozinha mediterrânea ........................................................................................................................ 55 4.7 Cozinha tradicional.............................................................................................................................. 57 4.8 Fast food .................................................................................................................................................. 58 4.9 Street food .............................................................................................................................................. 64 4.10 Haute cuisine (alta gastronomia) ................................................................................................ 69 4.11 Cozinha clássica ................................................................................................................................. 70 4.12 Nouvelle cuisine ................................................................................................................................. 71 4.13 Cozinha de vanguarda/contemporânea ................................................................................... 71 4.13.1 Minimalismo ........................................................................................................................................... 72 4.13.2 Adaptação ............................................................................................................................................... 72 4.13.3 Desconstrução ....................................................................................................................................... 73 4.14 Cozinha molecular .......................................................................................................................... 73 4.14.1 Esferificação ........................................................................................................................................... 74 4.14.2 Outros ingredientes utilizados ........................................................................................................ 76 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade II 5 TENDÊNCIAS EM EQUIPAMENTOS ............................................................................................................ 82 5.1 A inovação nos equipamentos ........................................................................................................ 84 5.1.1 Fornos combinados ................................................................................................................................ 84 5.1.2 Sous-vide ................................................................................................................................................... 86 5.1.3 Termocirculador ....................................................................................................................................... 87 5.1.4 Roner ........................................................................................................................................................... 88 5.1.5 Seladora a vácuo .....................................................................................................................................89 5.1.6 Thermomix ................................................................................................................................................. 90 5.1.7 Gastrovac .................................................................................................................................................. 90 5.1.8 Clarimax ...................................................................................................................................................... 91 5.1.9 Ultracongeladores ................................................................................................................................. 91 5.1.10 Processadores de alimentos ............................................................................................................. 91 5.1.11 Máquinas de lavar louça .................................................................................................................... 91 5.1.12 Sistema de exaustão ........................................................................................................................... 93 5.1.13 Sifão ........................................................................................................................................................... 94 5.1.14 Pacojet ...................................................................................................................................................... 95 5.1.15 Germinador Freshlife .......................................................................................................................... 96 5.1.16 Rotaval (evaporador de rotação) ................................................................................................... 96 5.1.17 A utilização do nitrogênio líquido na cozinha ......................................................................... 97 5.1.18 Pistola para defumação ..................................................................................................................... 99 5.1.19 Desidratador ........................................................................................................................................... 99 5.2 Tendências em equipamentos para segurança alimentar ................................................... 99 5.2.1 Cook chill .................................................................................................................................................... 99 5.2.2 Cook freeze ..............................................................................................................................................101 5.2.3 Alimentos pré-processados ..............................................................................................................102 6 OS PRINCIPAIS CHEFS FRANCESES QUE INSPIRARAM A EXPANSÃO DA GASTRONOMIA ........ 102 6.1 Guillaume Tirel (Taillevent) (1310-1395) ..................................................................................103 6.2 Joseph Berchoux (1760-1839) ......................................................................................................105 6.3 François Pierre de La Varenne (1615-1678) .............................................................................106 6.4 François Vatel (1635-1671) ............................................................................................................108 6.5 Marie Antoine (Antonin) Carême (1783-1833) .....................................................................110 6.6 Nicolas-François Appert (1749-1841)........................................................................................112 6.7 Jules Gouffé (1807-1877) ..............................................................................................................113 6.8 Auguste Escoffier (1846-1935) ....................................................................................................115 6.9 Jean Anthelme Brillat Savarin (1755-1826) ............................................................................117 6.10 Alexandre Balthazar Laurent Grimod de La Reynière (1758-1837) ............................118 6.11 Alexandre Dumas (1802-1870) ...................................................................................................120 6.12 Charles Durand (1766-1854) ......................................................................................................120 6.13 Urbain Dubois (1818-1901) .........................................................................................................121 6.14 Fernand Point (1897-1955) .........................................................................................................121 6.15 Alexandre Dumaine (1895-1974) .............................................................................................123 6.16 André Pic (1893-1984) ..................................................................................................................124 6.17 Paul Bocuse (1926-2018) .............................................................................................................125 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 6.18 Os principais chefs contemporâneos .......................................................................................127 6.18.1 Ferran Adrià ........................................................................................................................................ 127 6.18.2 Rene Redzepi ...................................................................................................................................... 128 6.18.3 Heston Blumenthal ..........................................................................................................................131 6.18.4 Joan Roca ............................................................................................................................................ 133 6.18.5 Massimo Bottura .............................................................................................................................. 134 6.18.6 Joël Robuchon ................................................................................................................................... 136 6.18.7 Alain Passard ...................................................................................................................................... 137 6.19 A presença feminina no cenário gastronômico brasileiro atual ...................................138 7 AS NOVAS TENDÊNCIAS DE CONSUMO ...............................................................................................139 7.1 Tendências do mercado de food service ...................................................................................141 7.2 Tendências dos canais operadores ..............................................................................................143 7.2.1 Tendências para os restaurantes de autosserviço .................................................................. 145 7.2.2 Tendências para os restaurantes à la carte .............................................................................. 145 7.2.3 Tendências para o mercado de panificação e confeitaria ................................................... 146 7.2.4 Tendências para o mercado de fast-food ................................................................................. 150 7.2.5 Tendências para o mercado dos meios de hospedagem .......................................................151 7.2.6 Tendências para o mercado de bares e bebidas ...................................................................... 154 7.2.7 Tendências para o mercado de rotisserias ................................................................................. 160 7.2.8 Tendências para o mercado de refeições coletivas ................................................................ 162 8 MACROTENDÊNCIAS GLOBAIS NA ALIMENTAÇÃO ..........................................................................1638.1 Tendência da sensorialidade e prazer ........................................................................................163 8.2 Tendência da saudabilidade e bem-estar .................................................................................170 8.3 Tendência de conveniência e praticidade ................................................................................172 8.4 Tendência de confiabilidade e qualidade .................................................................................175 8.5 Tendência de sustentabilidade e ética .......................................................................................177 8.6 Tendências em embalagens............................................................................................................182 8.7 Tendências em processos ................................................................................................................185 8.8 Tendências em ingredientes ...........................................................................................................186 8.9 Tendências futuras .............................................................................................................................188 8.10 Tendências de consumo dos biomas brasileiros ..................................................................191 9 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 APRESENTAÇÃO “Em todas as profissões, sem dúvida nenhuma, mas certamente na cozinha você será um estudante durante toda a sua vida”, Fernand Point. Inicia-se o livro-texto da disciplina de Tendências em Gastronomia com a frase do chef Fernand Point para a necessidade de que você, aluno, se desafie a sempre permanecer estudando sobre as principais áreas que envolvem o universo da gastronomia. As tendências gastronômicas se inspiram nas fontes tanto do passado como do presente, reunindo novas perspectivas de olhar para os ingredientes, os sabores e as técnicas de cozinha e gerando produtos que orientem as futuras criações gastronômicas. Os modos de se alimentar e seus ingredientes pertencem à cultura dos povos; portanto, sem deixar de lado seu legado histórico, o mercado gastronômico necessita se renovar constantemente para atender ao público consumidor – muitos estabelecimentos buscam apresentar as novidades em tendências como um diferencial para a fidelização dos clientes. O livro-texto objetiva auxiliar os estudantes a compreender a dimensão desta disciplina, apresentando algumas das principais vertentes da alimentação na atualidade e para os próximos anos. Entretanto, é importante enfatizar a necessidade de manter-se constantemente atualizado para perceber como essas principais tendências influenciarão os modos de se alimentar e, consequentemente, os negócios do setor gastronômico nas próximas décadas. INTRODUÇÃO A evolução da gastronomia é pautada no relacionamento que o ser humano estabelece com os alimentos. Seu saber é interdisciplinar, visto que atinge diferentes campos e perspectivas de estudo: na saúde, com a escolha dos alimentos para uma melhor qualidade de vida; na história, a partir da análise da evolução das formas de alimentação nas diferentes culturas; na antropologia, que faz a observação dos aspectos culturais da alimentação; na economia, com uma maior arrecadação de impostos proveniente dos empreendimentos gastronômicos que estão crescendo em números e na diversidade e com a produção e fornecimento de alimentos; na física e química, por meio do estudo da composição dos alimentos e na indústria da hospitalidade como um serviço básico necessário para o turista, mas também como um produto turístico único e diferenciado, que envolve, por exemplo, a criação das rotas de turismo gastronômico. Com a evolução do setor também surgiram diversos termos, conceitos e teorias não só em relação à classificação de alimentos (aqueles derivados de produtos lácteos, sem glúten, light, diet), como aos tipos de cozinha (mediterrânea, comfort food, oriental, clássica, tecnoemocional) e nas formas de cozinhar (em baixa temperatura, assar, ferver, fritar, grelhar, saltear). O desenvolvimento da gastronomia, portanto, está conectado às transformações sociais, tecnológicas, políticas, econômicas e culturais da sociedade. 10 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Para melhor compreender os modos de alimentação de uma população, é essencial sua salvaguarda e estudo, observando desde os livros de receitas das mães e avós, que apresentam uma análise dos ingredientes e tendências das cozinhas naquele momento do tempo, até os chefs contemporâneos que elaboram receitas extraordinárias, estabelecendo novas técnicas e uso de ingredientes que contribuem para evolução da gastronomia. Os chefs de cozinha transformaram, por meio da criatividade e estudo, os pratos em uma arte, oferecendo algo muito além do simples ato de se alimentar; eles proporcionam uma experiência sensorial e estética aos consumidores. Figura 1 Com a finalidade de procurar descrever as principais tendências gastronômicas, foram selecionados os seguintes temas para serem abordados no decorrer do livro-texto. Primeiramente, serão apresentados os significados das tendências na gastronomia e a diferenciação entre tendências e os modismos gastronômicos. A seguir, serão abordadas as tendências no desenvolvimento do turismo gastronômico. Sendo este considerado um patrimônio intangível da humanidade, é primordial destacar sua importância para a cultura do nosso país e conceder-lhe o devido reconhecimento para que sirva de inspiração aos chefs e empreendedores em criarem novos pratos e negócios para atrair mais pessoas para as localidades. Posteriormente, serão introduzidos os diversos estilos de cozinha adotados pelos chefs nos segmentos do mercado gastronômico. Em seguida, tem-se uma descrição dos principais equipamentos que fazem parte das tendências atuais das cozinhas de vanguarda, que são utilizados frequentemente para provocar novas experiências sensoriais no consumidor durante a refeição. Na sequência, se discorrerá sobre os principais chefs que modificaram e influenciaram o desenvolvimento da gastronomia desde suas origens até o momento atual. Por fim, serão abordadas as principais tendências para o mercado e canais operadores do food service no Brasil, baseadas na publicação Brasil Food Trends 2020. Também serão demonstradas 11 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 algumas das previsões sobre as tendências gastronômicas futuras para que sejam identificadas pelos estudantes as novas possibilidades de abordagens para a área de alimentação. Com a elaboração deste livro-texto almejou-se lançar um olhar sobre as tendências gastronômicas e ressaltar a importância de seu estudo para o desenvolvimento do setor da hospitalidade, em especial nos setores da gastronomia, eventos, turismo e hotelaria. Também se pretende criar nos estudantes o anseio de buscar novas pesquisas relacionadas ao tema, dado o seu dinamismo. 13 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Unidade I 1 AS TENDÊNCIAS GASTRONÔMICAS As tendências gastronômicas são representações importantes de um momento da história da alimentação, visto que, desde as refeições cotidianas aos chefs de cozinha, que frequentemente se reinventam e criam novos pratos e conceitos gastronômicos, há uma contínua batalha entre preservar a culinária tradicional e trazer ao público as principais novidades gastronômicas. As tendências na alimentação dizem respeito ao gosto ou à atração em direção a um determinado tipo de alimento, a um segmento do mercado e aos rituais gastronômicos envolvidos no preparo e consumo das refeições. A preservação da memória da história gastronômica de um país gera uma identidade cultural da população comos alimentos, uma vez que os pratos criados, muitas vezes, são resultados de ideias coletivas e trazem para a sociedade uma representação dos ingredientes, técnicas e rituais em torno da mesa, que compõem o cenário gastronômico desse local. As diferentes vertentes gastronômicas buscam originar uma mudança ou evolução da forma de se alimentar da sociedade. Os estudos sobre essas transformações podem mostrar um caminho para entender melhor o consumo dos alimentos tanto em relação ao grande público como também no aspecto individualizado, no qual o consumidor impõe seu próprio estilo no momento de se alimentar. Conforme estudo elaborado pelo Sebrae e a Abip (Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria), examinar as tendências de mercado representa: Abrir os olhos para determinados segmentos de mercado, pois eles projetam o caminho a ser seguido pelo “inconsciente da coletividade”. Estas análises mostram o que o mercado é, e o que anseia. O futuro do consumidor não surge do nada, mas da confluência de fatores psicológicos, sociológicos, demográficos e econômicos, onde diferentes especialistas juntam as peças do quebra-cabeças que está por vir. Antecipar. Transformar as mudanças que estão por vir em hábitos cotidianos é uma identificação de tendências (SEBRAE; ABIP, 2009). As tendências na gastronomia não devem ser apenas seguidas e adaptadas para sobreviver à concorrência do mercado; elas precisam proporcionar maiores oportunidades para uma melhor qualidade de vida da comunidade. A valorização da gastronomia regional brasileira, dos seus ingredientes e de suas origens, como a preservação e enaltecimento dos modos de alimentação dos indígenas, são fatores que podem proporcionar essa melhora. 14 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A imagem a seguir demonstra um prato de origem indígena, com ingredientes típicos do Brasil: o peixe assado na folha de bananeira acompanhado de mandioca. Figura 2 Cada vez mais devem ser incentivados projetos que incentivem a preservação da alimentação das populações indígenas e quilombolas e o estímulo na produção de alimentos pela comunidade. Sua utilização em programas sociais, como o fornecimento para entidades públicas ou na merenda escolar, são passos importantes para destacar e preservar culturas importantes formadoras da gastronomia regional brasileira. Em janeiro de 2018, os chefs Alex Atala e Felipe Ribenboim organizaram o seminário “Fruto – Diálogos do Alimento” para discutir as opções futuras de como oferecer alimento de qualidade para uma população mundial, a qual, de acordo com a ONU, poderá atingir o número de 8,6 bilhões de pessoas em 2030. Os temas foram classificados em três segmentos: culturais, biológicos e sociais. O evento contou com diversas personalidades da área da sustentabilidade, gastronomia, ciência, educação, ONGs e indústria para debaterem o assunto. Foi criado um documento que traz as dez “sementes” (postulados) desse “Fruto” que precisam ser semeadas e divulgadas entre todos. Ressalta-se a “semente” que trata da importância das populações tradicionais para alimentação: As populações tradicionais serão cada vez mais importantes. Indígenas, quilombolas e outras populações de agricultores que detêm conhecimento tradicional têm papel-chave na alimentação do século XXI. Como guardiões da diversidade de cultivares e da “dispensa viva” que são os ecossistemas naturais, esses povos são a principal barreira contra a erosão genética causada pela agricultura comercial, que reduz tanto a variedade de alimentos que chega à nossa mesa quanto a resiliência do próprio sistema agrícola, dominado por poucas plantas. Eles precisam ter a integridade de seus territórios garantida e seus produtos integrados a sistemas modernos de comercialização, para que possam chegar da floresta à mesa (ANGELO, 2018). 15 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA A seguir, destaca-se o amalá, ou caruru, um prato nacional que demonstra o sincretismo das culturas africanas e indígenas. Figura 3 O conhecimento sobre os efeitos da alimentação no ser humano é um dos campos mais amplos a ser desenvolvido. Compreender as tendências contemporâneas alimentares aliadas à aplicação dos conceitos de sustentabilidade será um desafio para as futuras gerações, a exemplo da proteção e preservação da gastronomia regional brasileira, os seus sabores e aromas e a tradição dessas cozinhas. Atualmente, uma das direções dos chefs na gastronomia é incorporar cada vez mais o uso das frutas e ingredientes regionais brasileiros nos cardápios. O desenvolvimento das tendências do mercado gastronômico também ocorre por meio dos chefs de cozinha que, procurando imprimir seu próprio estilo, são os artistas criadores e participantes dessa evolução. Eles trabalham no desenvolvimento de novas técnicas de preparações dos pratos, na inovação e combinação dos sabores e dos ingredientes aliados ao desenvolvimento dos equipamentos. A criatividade desses chefs busca romper com padrões estabelecidos e modelos estéticos tradicionais. Figura 4 16 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Na atualidade, o objetivo de vários chefs é dignificar a cozinha como patrimônio e estimular nos gostos dos comensais um espaço entre o tradicional e o inovador. A transformação da sociedade industrial para a nova sociedade da informação impactou de forma significativa os serviços gastronômicos, com explosão de interesse pela gastronomia. A partir das tradições culturais de alimentação de um local aliado ao talento dos chefs, foram desenvolvidos tipos de cozinha e pratos mais autorais, que representam uma linha de trabalho desses profissionais. Essas refeições buscam envolver os comensais em uma experiência sinestésica, trabalhando um espectro de texturas, sabores, cores e aromas que despertem todos os sentidos. Figura 5 Figura 6 Para que as tendências gastronômicas sejam introduzidas no mercado, deve haver, ainda, os responsáveis por implementá-las e divulgá-las para o público. São pessoas e empreendedores que possuem um pensamento mais aberto às novidades. Eles consideram que as mudanças são bem-vindas e tendem a aplicá-las com frequência em seus próprios negócios. Ao procurar combinar a retrospectiva do que ocorreu entre o surgimento das tendências e o conhecimento sobre como foi o processo de implementação delas, é possível realizar uma previsão das necessidades futuras do mercado gastronômico. 17 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA A incorporação das novas tendências gastronômicas busca trazer novas sensações aos comensais proporcionadas pelos alimentos. A evolução das técnicas na cozinha, a implementação de novos processos e equipamentos e o uso de ingredientes frescos e regionais são formas de despertar esses sentidos. A seguir, temos um exemplo desse caso com um prato preparado com peixes frescos típicos de Rondônia. Figura 7 O mercado gastronômico analisa e utiliza as tendências da alimentação para promover uma sensação de novidade constante, de eterna surpresa para os consumidores. Essa mudança contínua é essencial para alguns tipos de negócios e ocorre por meio da experimentação de novos ingredientes, tipos de culinária e restaurantes, pelos consumidores. O uso da carne de cordeiro, conforme imagem a seguir, e da carne de animais exóticos, como jacaré, javali, avestruz, devido ao menor índice de gordura em relação à carne de gado, é uma dessa tendências de novos produtos sendo incorporados aos cardápios. Figura 8 18 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Também acompanhando as tendências de evolução do mercado de carnes, há o desenvolvimento do segmentopremium, para o qual são criadas raças de gados que produzem carne de ótima qualidade, com característica de serem marmorizadas e macias. São animais de raças como angus e, principalmente, wagyu. O gado da raça waygu tem como característica marcante da espécie a produção de uma carne extremamente marmorizada, que apresenta os veios de gordura bem distribuídos entre as fibras, assemelhando-se a uma pedra de mármore. Esse marmoreio é responsável por proporcionar maciez e sabor à carne. A carne de wagyu, conhecida no Japão como kobe beef, utilizada por chefs do mundo inteiro nos restaurantes mais destacados, é considerada a mais saborosa e cara do mundo. A imagem seguinte corresponde ao gado wagyu: Figura 9 Hoje, existem animais dessa raça sendo criados no Brasil. Contudo, nas boutiques de carne, o quilo da picanha de wagyu (produção nacional) custa cerca de cinco vezes mais que a tradicional. A imagem a seguir demonstra o corte da carne wagyu: Figura 10 19 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Atualmente, com o desenvolvimento do mercado de carnes premium, os consumidores se tornaram cada vez mais criteriosos em relação à qualidade e o valor que estão dispostos a pagar por esse produto. No mercado americano, por exemplo, de 2009 a 2014, houve um considerável crescimento na procura dos consumidores pela carne de qualidade premium, Certified Angus Beef (CAB). Esse mercado expandiu-se em 112 pontos percentuais (MATO GROSSO DO SUL, 2016). A forma de se alimentar apresenta, na atualidade, tanto características globais – alimentos e restaurantes que são integrantes do processo de globalização, quanto peculiaridades individuais, pois cada pessoa tem seu próprio gosto, sua referência cultural e uma determinada disponibilidade de recursos destinados a alimentação. Um fator importante a ser considerado é que, principalmente nas duas últimas décadas, por ação da mídia (televisão, revistas e, mais recentemente, a internet), tudo aquilo que está relacionado à gastronomia tem causado um maior interesse do público. A importância dada ao setor gastronômico propiciou o aparecimento de diversas modas e tendências gastronômicas que se espalharam globalmente. 2 TENDÊNCIAS E MODISMOS NA GASTRONOMIA É preciso procurar entender qual a razão de uma inclinação em direção a um certo tipo de culinária, negócio gastronômico ou ingrediente, pois, a partir dessas descobertas, novos negócios podem ser empreendidos. 2.1 Tendências Podemos definir uma tendência gastronômica como a propensão, preferência por um tipo de produto, serviço ou conduta na forma de se alimentar. As tendências são premonitórias porque primeiro inspiram, encantam e, então, ganham impulso. Elas devem refletir os hábitos futuros do consumidor. A tendência tem um caminho a ser seguido, uma finalidade. Tanto o tipo de produto como os meios de comunicação desempenham um papel importante no estabelecimento das novas tendências gastronômicas. Outra característica é o compartilhamento de seu propósito por um grupo de pessoas que pensa e tem interesses em comum. As tendências determinam certas formas de ser e agir, pois incentivam as pessoas a tornarem seus hábitos integrantes das práticas cotidianas. Por exemplo, a opção pelas dietas vegetarianas e outras similares. A seguir destaca-se um prato da culinária vegana, que segue essa linha de apelo à saudabilidade, valorizando ingredientes naturais. 20 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Figura 11 A imagem a seguir apresenta uma refeição vegetariana típica da Índia, conhecida como thali. É servida na maioria das regiões do país e geralmente apresenta na composição do prato o roti/ chapati (pão indiano achatado), arroz, dal (sopa de lentilhas), curry de vegetais, coalhada, picles e uma sobremesa. Figura 12 As tendências em alimentação buscam acompanhar o direcionamento do mercado e tornam- se muito mais duradouras do que o modismo. Apontam um rumo a ser seguido pelos negócios; assim, por meio de sua observação, surgem novas oportunidades para os empreendedores do setor de alimentos e bebidas. Citando uma das principais vertentes da gastronomia atual, há um maior investimento no mercado de alimentação saudável e natural, que, além das linhas de produtos diet e light, vem trazendo também aos consumidores alimentos sem lactose, sem glúten, com alto nível proteico e baixo carboidrato (low carb). 21 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA A seguir, observa-se a imagem do cará roxo, alimento que, em locais como no estado do Amazonas, pode ser utilizado para preparar uma farinha sem glúten. A produção desse alimento incentiva a agricultura familiar e torna-se uma alternativa de renda para produtores locais. Figura 13 Para compreender e procurar prever as tendências, os chefs, empreendedores e demais interessados, deverão manter-se constantemente informados sobre o mercado local e global da gastronomia e fazer visitas a eventos, feiras e congressos que tratem de temas ligados à área. Também devem ser observados nos mercados municipais e lojas especializadas os ingredientes que estão em voga. Além disso, é importante se inteirar das políticas governamentais e dos estudos de marketing que tratam dos hábitos alimentares da população. Os chefs de cozinha também são responsáveis por criar e direcionar o caminho dessas tendências. Eles se tornaram as personalidades mais influentes do segmento e são, em muitos casos, embaixadores da culinária que praticam. A evolução da alimentação gera transformações em aspectos como cultura, economia e tecnologia. As análises dessas tendências podem criar novos produtos e mercados ou torná-los obsoletos em um breve espaço de tempo, como são os casos dos modismos gastronômicos. 2.2 Modismos A moda gastronômica, embora seguida por um grande grupo de pessoas, revela-se temporária, aplicável apenas em um certo tempo e espaço, não deixando uma marca, um significado ou uma transformação, como ocorre com as tendências. As centenas de lojas de cupcake, brigadeirias, frozen yogurt e paletas mexicanas que proliferaram pelo Brasil são exemplos dos modismos gastronômicos. Com a alta concorrência, em muitos casos, acabaram sendo lucrativos apenas por pouco tempo, e a maioria das lojas voltadas exclusivamente para esses alimentos tiveram que se reposicionar ou fechar. Portanto, um modismo gastronômico pode ser caracterizado por ser imprevisível e ter um breve sucesso. 22 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A seguir, verifica-se a imagem de uma loja de frozen yogurt. Muitos desses locais tiveram de se readaptar e ampliar a linha de produtos para sobreviver no mercado. Figura 14 Essas lojas e seus produtos não deixaram de existir, nem de cativar o público, porém, devido ao excesso de oferta, tiveram que se reposicionar no mercado e buscar novos canais de venda para o consumidor. O cupcake, agora, não é encontrado tão facilmente em lojas próprias, porém continua a ser vendido em doceiras ou encomendado para celebrações e eventos, inclusive podendo ser personalizados para festas e empresas. Figura 15 Os bons resultados obtidos durante um modismo podem durar apenas um breve tempo, devendo essa característica ser observada antes da abertura de um empreendimento gastronômico que opte por esse caminho. Os modismos gastronômicos também podem ocorrer durante o período de um grande evento, como nas Olimpíadas e na Copa do Mundo, ou surgir a partir de um programa de televisão, de uma série, um 23 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA filme, uma novela ou mesmo de uma estação do ano. São produtos sazonais que dependem de um senso de oportunidadepara acontecer e ter êxito. Para abrir um empreendimento gastronômico com um produto que seja da moda, deve-se tomar alguns cuidados, como fazer uma análise adequada do potencial do mercado, examinar a concorrência e oferecer algo diferenciado dos demais. A tática para entrar no mercado não pode ser meramente reproduzir o que já é oferecido, pois, assim, provavelmente, o empreendimento não terá êxito. Outro fator a ser estudado é qual a oportunidade que existe para a entrada no mercado. Caso perceba-se que ocorre uma saturação do produto, é mais aconselhável empreender em uma região, cidade ou estado diferente, onde pode haver mais condições para o desenvolvimento do negócio. Saiba mais As franquias de lojas de alimentação são um segmento em que os produtos de uma moda gastronômica são facilmente perceptíveis. A partir do sucesso de um negócio, em pouco tempo diversas lojas e marcas semelhantes surgem. Antes de abrir uma franquia pesquise e busque informações na Associação Brasileira de Franchising (ABF): <https://www.abf.com.br> No campo da gastronomia, as mídias virtuais são um dos principais meios que criam, apoiam e difundem os modismos e tendências por meio de blogs, sites e vídeos de chefs e de amadores apaixonados pela cozinha. Adicionalmente, as empresas relacionadas à indústria gastronômica investem recursos para criar e divulgar as novas tendências de mercado, que também são disseminadas por meio das revistas voltadas ao segmento e pelos programas e documentários que tratam das práticas culinárias em diversos lugares do mundo. Em virtude da grande concorrência no mercado gastronômico, muitos dos conceitos propostos nos restaurantes e demais empreendimentos gastronômicos são extremamente fugazes e muitas vezes fecham sem sequer se consolidarem no gosto dos consumidores. É importante perceber que, em diversos casos, uma novidade que irá mudar os gostos e preferências do público necessita de um tempo para ser assimilada. Lembrete O modismo gastronômico faz parte da constante busca por novidades do mercado. Dirige gostos e preferências por um certo período de tempo e pode até mesmo ser cíclico, se repetindo depois de alguns anos, mas apresenta como característica ser momentâneo, diferentemente da tendência, que é duradoura. 24 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I 3 TENDÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO GASTRONÔMICO As novas tendências de alimentação também estão presentes nos roteiros gastronômicos oferecidos ao público. Atualmente, a gastronomia é reconhecida como parte intrínseca do patrimônio cultural de uma localidade, o que acarretou no aumento de interesse pelos turistas e moradores, que podem apreciar pratos e ingredientes típicos. Os adeptos do turismo gastronômico procuram experiências baseadas na cultura e na identidade locais. Os destinos turísticos, para manter a competitividade e conservar parte do seu mercado, investiram, nos últimos anos, na gastronomia, que se tornou um elemento indispensável para conhecer os costumes alimentares de uma localidade. A evolução da gastronomia não depende somente da imaginação, criatividade e habilidades artísticas do chef, visto que, ao mesmo tempo, expressa a tradição da região ou o grupo do qual essa cozinha pertence, permitindo a sua difusão e apreciação. A importância que a gastronomia passou a ter na seleção de um destino materializou-se no crescimento de uma oferta gastronômica fundamentada em produtos regionais de qualidade e na consolidação de um mercado próprio para o turismo gastronômico. Ela representa uma oportunidade para revitalizar e diversificar o turismo em um destino, incorporar novos negócios e impulsionar o desenvolvimento da economia local, com o apoio dos diversos setores, como os órgãos públicos, produtores de alimentos, fornecedores, chefs, empreendimentos gastronômicos e consumidores. 3.1 Referências do turismo gastronômico no Brasil A alimentação é parte da rotina diária das pessoas e sua prática decorre de inúmeros fatores, como a origem cultural, o espaço geográfico e os recursos disponíveis de alimentos e a renda. Além de ser uma necessidade vital, as formas de se alimentar são parte integrante do patrimônio cultural de natureza imaterial e um importante atrativo turístico e cultural que possibilita gerar recursos para economia das localidades. Para que a gastronomia seja uma das manifestações culturais mais expressivas do Brasil, é importante sua aplicação como diferencial turístico do País, além da divulgação, valorização e preservação das receitas tradicionais da gastronomia regional brasileira e do enaltecimento do momento da refeição como uma ocasião ímpar para socialização com a família e com os amigos. O oferecimento do café colonial na região sul é um exemplo dessas tradições gastronômicas. 25 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 16 Como patrimônio, a gastronomia é um reflexo dos hábitos culturais da sociedade, e os ingredientes e receitas estão repletos de significados para os diferentes povos e regiões do país, sendo, por exemplo, parte importante das festas religiosas e típicas das diferentes localidades. No turismo gastronômico podem conviver o público que busca as novidades gastronômicas e os consumidores mais conservadores, que preferem degustar os pratos e ingredientes que remetam ao passado, pois esses transmitem uma sensação de familiaridade. Os pratos tradicionais da culinária de cada país são uma forma de preservar o patrimônio gastronômico e devem ser difundidos para os turistas. A seguir, serão apresentados alguns dos pratos típicos do Brasil que são expressões da nossa culinária e devem ser preservados e divulgados. A torta capixaba, tradicionalmente feita na panela de barro, é considerada um dos pratos mais clássicos da gastronomia do Espírito Santo. Figura 17 26 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A moqueca, também realizada nas panelas de barro, é outro símbolo da culinária nacional, principalmente nos estados da Bahia e do Espírito Santo, porém é um prato preparado de diferentes maneiras e com ingredientes distintos ao longo de nosso território. Figura 18 O arroz com pequi é um prato simbólico da região centro-oeste do País. Figura 19 Observação Fruto nativo da região do cerrado, o pequi é muito usado na culinária das regiões centro-oeste e nordeste, em pratos como o arroz ou frango com pequi e na produção de bebidas, como licores. Vários estados também apresentam aos consumidores diversos pratos à base dos peixes mais tradicionais de cada região, como a piraputanga, peixe típico do Mato Grosso. 27 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 20 O filé de peixe com crosta de castanha de caju é representante da culinária indígena e caiçara. Figura 21 O caldo de piranha está presente na culinária pantaneira e de outras regiões do País. Figura 22 28 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A região norte, principalmente a cozinha de Belém, no Pará, obteve reconhecimento mundial com seus ingredientes típicos e uma grande diversidade de pratos com influência indígena. Observam-se a seguir os mercados da cidade de Belém com seus peixes típicos. Figura 23 Figura 24 29 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Na imagem a seguir apresenta-se o pato no tucupi, um dos pratos mais conhecidos da culinária paraense. Figura 25 Um dos pratos mais tradicionais de diversas regiões do Brasil é a paçoca de carne seca no pilão. Essa receita está presente em diferentes estados do País por obra da influência dos vaqueiros nordestinos e tropeiros, que precisavamde preparações que durassem vários dias para se alimentar enquanto faziam suas viagens pelo Brasil. Figura 26 30 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I No nordeste brasileiro destaca-se a cozinha litorânea, com pratos à base de frutos do mar e caranguejo nos estados do Ceará, Sergipe e Alagoas. Figura 27 – Lagosta à Belle Meuniere Figura 28 Figura 29 31 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA O bolo de rolo e a cartola são doces típicos de Pernambuco e reconhecidos nacionalmente. A seguir, demonstra-se esses pratos típicos pernambucanos, os quais são muito importantes também para divulgação da cultura gastronômica desse estado. Figura 30 Figura 31 – Bolo de rolo com brigadeiro de palma Observação A sobremesa cartola é uma da mais tradicionais de Pernambuco e foi classificada como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado pela Lei nº 13.751, de abril de 2009. Proveniente das casas-grandes dos engenhos, sua receita é composta de camadas de banana prata madura, queijo do sertão, chamado também de queijo manteiga, pois é produzido a partir da manteiga de garrafa, açúcar e canela. 32 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I No sul do Brasil, o barreado é um prato típico da culinária paranaense, sendo muito explorado turisticamente na localidade de Morretes (PR). Figura 32 Figura 33 33 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Logicamente que a feijoada, ícone da cozinha brasileira, notabiliza-se nas tradições culinárias de diversas regiões do País. Figura 34 Figura 35 34 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Nas imagens a seguir, a maior feijoada do Brasil, realizada em Prudentópolis, no Paraná, durante a Festa Nacional do Feijão Preto (Fenafep). Figura 36 Figura 37 O churrasco, as churrascarias e os rodízios de carne também são referências da imagem mundial acerca da cozinha brasileira. A seguir, em sequência, costela e cabritos assados no fogo de chão, técnica tradicional de fazer churrasco. 35 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 38 Figura 39 É preciso mencionar as comidas de rua, modo rápido de matar a fome e que são servidas em barracas, food trucks ou outros negócios. Um dos grandes sucessos nacionais desse tipo de alimento são os pastéis, normalmente encontrados em feiras livres e até mesmo em lojas especializadas. 36 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Figura 40 Os pratos típicos da cozinha alemã no sul do Brasil são muito importantes para o desenvolvimento do turismo gastronômico nas localidades. Figura 41 A herança gastronômica de um país é preservada também por meio do desenvolvimento de uma consciência do valor histórico dos ingredientes e pratos que estão presentes na alimentação desses povos. Logo, os chefs de cozinha e demais interessados pela gastronomia devem ajustar-se à contemporaneidade ao combinar a tradição e os sabores do passado com as novas abordagens gastronômicas do presente. O ato de cozinhar a partir de sua herança cultural traz uma representatividade histórica para os pratos. As memórias são criadas e reavivadas a partir de uma refeição, de uma receita, de um ingrediente, de um sabor. Remetendo ao passado ou não, a gastronomia sempre deverá procurar estar atualizada, introduzindo novas formas de atender aos anseios tanto do público mais conservador quanto daqueles mais contemporâneos. 37 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Empreendimentos como a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, inaugurada em 1893, tombada pelo Patrimônio Histórico e ainda em pleno funcionamento, são exemplos dessa tradição gastronômica aliada à modernidade. Figura 42 Lembrete Deve-se entender que, na gastronomia, as mudanças são contínuas e não necessariamente drásticas ou de grande impacto, mas os modismos podem ser efêmeros, fugazes e que, ao adotá-los, essas ações são temporárias e devem ser renovadas e substituídas por novas ideias constantemente. 3.2 Principais tendências globais do turismo gastronômico São apresentadas a seguir as principais tendências globais que podem ser observadas no desenvolvimento do turismo gastronômico mundial. a) Mercado em expansão. O desenvolvimento e crescimento das opções de turismo gastronômico em todo o mundo é um fator evidente. Notabiliza-se por ser um dos segmentos de maior dinamismo dentro do mercado turístico, possibilitando que a observação das tendências gastronômicas colabore para abertura de novos negócios. b) Crescimento do número de interessados em praticar o turismo gastronômico. O turista que é apaixonado pelo tema da gastronomia e faz disso uma das motivações das viagens apresenta certas características: 38 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I • A busca pela autenticidade por meio da gastronomia. Os turistas querem experimentar os principais produtos e pratos tradicionais dos locais. • Preocupa-se com a cadeia de produção e a origem dos produtos. • Reconhece o valor da gastronomia como meio de socialização e de troca de experiências com a comunidade. • Gasta acima da média, porém exige qualidade a preço justo. • Rejeita a uniformidade e os produtos gastronômicos de massa e sem personalidade. Diversos festivais gastronômicos são organizados no Brasil para promover o turismo, principalmente durante o período da baixa estação. Por exemplo, temos os festivais de ostras e da tainha, que são demonstrados nas imagens a seguir e que ocorrem em mais de um estado brasileiro. Figura 43 Figura 44 39 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Outro evento do turismo gastronômico muito interessante praticado no nordeste são os festivais das comidas gigantes realizados há mais de 25 anos em Caruaru (PE). As imagens a seguir ilustram a preparação do maior cuscuz do mundo, uma das mais tradicionais comidas gigantes do festival. Figura 45 Figura 46 Atualmente, percebendo ser um importante atrativo turístico, outras regiões oferecem as comidas gigantes. Entre as preparações destacam-se como as “maiores do mundo”: o cozido de milho servido com manteiga, o caldinho, o quentão, o bolo de milho, a dobradinha, o pé de moleque, a pipoca, a polenta, a tapioca gigante, o bolo de rolo, o arroz doce, o bolo de macaxeira e o xérem de galinha. c) Valorização da importância do terroir para produção dos alimentos. O conceito de terroir refere-se às terras de uma região, consideradas do ponto de vista de suas aptidões agrícolas e do fornecimento de produtos característicos, por exemplo, um vinho, um queijo ou outro tipo de alimento. 40 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I O terroir deve ser a espinha dorsal da oferta gastronômica e ser tratado como um elemento de diferenciação da identidade local, que abrange os valores ambientais, históricos, culturais e as tradições da produção de alimentos e bebidas dos lugares. Os queijos artesanais brasileiros, devido à variedade dos tipos produzidos e originados de terroir das diferentes regiões do País, fizeram com que esse produto venha sendo cada vez mais reconhecido e utilizado pelos chefs de cozinha. Destacam-se os três tipos de queijos Canastra, que são fabricados nas fazendas das cidades de Roque de Minas e Medeiros, no estado de Minas Gerais. Já no Paraná, temos o queijo Porungo, que é produzido na cidade de Palmeira. No estadode São Paulo, temos a fabricação do queijo Cuesta, fabricado em Pardinho. A arte da maturação desse queijo determina que ele deve ficar por um período de oito meses em caves subterrâneas, apoiado em prateleiras de madeira. Observação O conceito de terroir inclui fatores como o solo, geografia, topografia e clima, e está muito associado às regiões produtoras dos vinhos. Entretanto, na atualidade, pode ser aplicado a diversos tipos de alimento, por exemplo queijos, carnes, cachaça entre outros tipos de alimentos. O produto gastronômico de um terroir deve ser feito pela comunidade local e preservado por mecanismos eficazes de proteção e comercialização dos alimentos. Os sabores característicos conferidos a um queijo ou um vinho origina-se do terroir, ou seja, do ambiente no qual é produzido. É muito importante buscar converter o terroir de uma região em um elemento característico da gastronomia oferecida aos turistas e moradores em uma paisagem culinária dos destinos turísticos. Para alcançar esse objetivo, os empreendimentos de hospitalidade, como hotéis e restaurantes, os órgãos de turismo e os mercados locais devem trabalhar juntos para proteger e divulgar os produtos específicos do seu terroir. d) O produto deve ser a base do turismo gastronômico. É importante definir quais serão os recursos patrimoniais e naturais que irão ser transformados e explorados como produtos gastronômicos turísticos. A oferta de um produto gastronômico para o público em geral deve ser realizada com o objetivo de preservar a autenticidade e os valores como identidade cultural, sustentabilidade, qualidade dos produtos e serviços turísticos. Deve haver o respeito dos chefs e empreendedores pela cultura e a tradição gastronômica das comunidades. A cuca é um dos pratos mais tradicionais da culinária alemã, que em seus recheios estimula o uso dos alimentos de cada estação. 41 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 47 e) Valorização da gastronomia como patrimônio cultural. O patrimônio cultural gastronômico está ligado ao conjunto de comportamentos, conhecimentos e costumes que modelam a forma de se alimentar de uma comunidade. O projeto de qualquer proposta de turismo gastronômico será inviável se as características culturais não forem consideradas. O pão de queijo, típico de Minas Gerais, é um produto encontrado em todo Brasil, que conserva esse elemento cultural. Figura 48 42 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Experimentar a gastronomia de uma região permite aos turistas conhecer o patrimônio cultural e histórico dos destinos turísticos de forma participativa, e não apenas contemplativa. Sobre um desses patrimônios gastronômicos, o acarajé, observa-se: O acarajé é elemento central da cultura afro-brasileira. Mais do que uma comida rápida de rua, o acarajé é indissociável da cultura do candomblé e da história dos africanos no Brasil. O ofício das baianas do acarajé foi declarado patrimônio cultural do Brasil em 2012, reconhecendo uma profissão feminina historicamente presente no País: as baianas de tabuleiro. Nas ruas de Salvador (BA), de outras cidades do estado da Bahia e, mais recentemente, em outras regiões do Brasil, as baianas tradicionais encontram-se sempre acompanhadas por seus tabuleiros, que contêm não só o acarajé e seus possíveis complementos, como o vatapá e o camarão seco, mas também outras “comidas de santo”: abará, lelê, queijada, passarinha, bolo de estudante, cocada branca e preta (BRASIL, 2014). Figura 49 Também deve-se observar o surgimento de novos produtos e ingredientes que podem aumentar a riqueza e diversidade cultural gastronômica de uma localidade f) Tradição e inovação aplicadas ao mercado gastronômico. Na gastronomia, tradição e inovação coexistem com naturalidade. A tradição na gastronomia está em um processo de evolução permanente, e o desafio dos profissionais é incorporar as novas tendências para alimentação, buscando renovar e adaptar a oferta para as necessidades do público. No processo atual, a gastronomia e a experimentação de um prato são tratadas como uma forma de arte, como uma indulgência, não sendo o ato de comer apenas para saciar a fome, mas para vivenciar uma experiência que proporcione na degustação do alimento o envolvimento dos sentidos 43 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA e do prazer e a satisfação pessoal. A junção desses fatores busca oferecer experiências gastronômicas inesquecíveis aos turistas. Figura 50 g) A valorização da sustentabilidade na cadeia produtiva. O turismo gastronômico permite a integração de preocupações culturais e ambientais na formatação da oferta do destino turístico. Não se trata de criar uma pressão indiscriminada sobre o patrimônio gastronômico, mas poder explorá-lo de maneira racional, com base na sustentabilidade. É nítido o crescimento dos turistas que optam por uma vida e alimentação mais saudável, assim, consequentemente, devem ser oferecidas mais opções no mercado para atender a esse público. Na figura a seguir, nota-se a produção de morangos orgânicos. Existe uma tendência de crescimento do consumo dos alimentos orgânicos pelo público que valoriza a sustentabilidade e os ingredientes mais naturais. Figura 51 44 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A valorização da sustentabilidade na gastronomia convida os visitantes a participarem da realidade cultural do destino por meio da degustação dos alimentos que compõem sua culinária. O consumo dos produtos de comunidades indígenas e quilombolas são modos de prestar esse reconhecimento. As figuras a seguir apresentam o peixe com tapioca e o arroz de hauçá, pratos com raízes afro-indígenas. Figura 52 Figura 53 45 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA h) Cooperação mútua entre os envolvidos na cadeia turística. É necessária a cooperação entre todos os agentes que participam da concepção e gestão da oferta do turismo gastronômico em uma localidade, como os produtores e consumidores, fazendeiros, pescadores, chefs, restaurantes, administrações públicas, hoteleiros, entre outros. i) Desenvolvimento da qualidade turística. Os destinos que querem impulsionar o turismo gastronômico devem trabalhar em vários níveis para atingir um patamar de qualidade satisfatório, com ações, como: a proteção e o reconhecimento dos produtos nativos; o desenvolvimento de uma oferta competitiva; a busca pela qualidade nos serviços e o profissionalismo dos recursos humanos nos empreendimentos. Para atingir esse objetivo é necessário treinamento e constante reciclagem dos colaboradores e a dedicação na recepção e proteção do consumidor com o intuito de aumentar a satisfação dos visitantes. j) Comunicação. Os destinos devem construir uma história autêntica para oferta de turismo gastronômico. A experiência de viagem mudou e não se limita apenas aos dias da visita. A preparação começa muito antes, com o turista pesquisando, buscando informações e comparando os atrativos turístico-gastronômicos. Ao final da viagem, ele irá avaliar e compartilhar suas experiências através das redes sociais. Para o processo de transformação e divulgação de um destino gastronômico, são fundamentais as seguintes atitudes: • Incorporar os chefs como divulgadores dos produtos gastronômicos e dos destinos turísticos; eles são responsáveis por promover as mudanças que revigoram o turismo gastronômico constantemente. • Executar ações de divulgação nos diferentes formatos de mídia. • Elaborar instrumentos promocionais – como guias e mapas gastronômicos, que atestem a qualidade e credibilidade das localidades. • Criar sites, vídeos, blogs gastronômicos sobre o destinoe suas atrações e ter uma participação ativa nas redes sociais. • Organizar diversos eventos com apelos gastronômicos, como feiras, celebrações, festivais e concursos. Todas essas tendências devem ser profundamente avaliadas para adequada construção de um destino turístico gastronômico. 46 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I 4 ESTILOS DE COZINHA A gastronomia desfruta de grande popularidade hoje em dia e, como visto, abrange um amplo aspecto de tópicos para serem estudados, pois seus conhecimentos estão em constante movimento e renovação. Esse dinamismo motivou a inovação constante de processos e técnicas de cozinha e a invenção de equipamentos e utensílios que facilitaram os processos de cocção do alimento. As técnicas de cozinha se renovam para estimular o paladar e demonstrar que diversos ingredientes podem ganhar novas formas de apresentação e cocção, destacando elementos como a textura, a cor e o sabor dos alimentos. Todos profissionais do segmento da alimentação devem estar atentos às tendências que se multiplicam no mundo da gastronomia. O estilo da cozinha de um chef pode ser impactado pela região geográfica e pelos aspectos culturais. Na sequência, serão descritos os diferentes estilos e linhas de alimentação que influenciaram o segmento gastronômico. 4.1 Cozinha étnica Este tipo de cozinha normalmente está relacionado a um país que apresenta uma culinária mais exótica, menos conhecida pelo público e pouco usual nos restaurantes. As receitas trazem em suas técnicas de preparação e ingredientes as referências das tradições culturais de cada país. A imagem demonstra um desses pratos da cozinha do Oriente Médio, que em muitos casos são feitos para serem partilhados. Note que as mãos e os pães são usados como talheres. Figura 54 Na elaboração de seus pratos, os restaurantes étnicos celebram a autenticidade, os conhecimentos da história e dos ingredientes da gastronomia de um povo. No Brasil, podem ser encontrados exemplos desse tipo de cozinha em estabelecimentos dedicados à culinária tailandesa, africana, coreana e indiana. Seguem exemplos dessa cozinha étnica no País. 47 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Refeição típica coreana. Figura 55 Kimchi, tradicional conserva fermentada coreana. Figura 56 Também podem-se considerar cozinha étnica os pratos típicos que estão presentes nos rituais de alimentação das diferentes religiões, como na cozinha judaica e budista. 48 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I A foto apresenta um típico pão da cozinha kosher (judaica). Figura 57 4.2 Raw food Esse estilo gastronômico literalmente significa o preparo e consumo de comida crua. A palavra raw, em inglês, significa cru. Também é chamada de alimentação viva ou crudivorismo. Em essência, os alimentos devem ser comidos crus ou pouco cozidos. O alimento cru é considerado aquele que não foi refinado, enlatado ou processado. Os principais alimentos consumidos são frutas, sementes, nozes, frutas secas, verduras, grãos germinados, hortaliças e legumes. Dependendo da filosofia que se segue ao adotar esse tipo de alimentação, podem ser ingeridos também outros produtos crus como peixes, frutos do mar, carne e derivados lácteos. Nesse tipo de culinária utiliza-se muito um equipamento conhecido como desidratador de alimentos, que tem a função de desidratar frutas, especiarias, hortaliças e outros ingredientes. De acordo com essa linha de alimentação, é permitido cozinhar os alimentos a uma temperatura máxima que pode variar de 42 ºC a 48 ºC. O pensamento raw food defende que a origem e a qualidade do ingrediente, bem como sua textura e paladar natural, devem ser mantidos para preservar o sabor e as qualidades nutricionais dos alimentos. 49 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Prato de salada mista. Figura 58 Valorização de hortaliças com controle de origem. Figura 59 Espaguete, feito de abobrinha, seguindo os preceitos do movimento raw food. Figura 60 50 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I 4.3 Fusion cuisine/fusion food Mais conhecida pela sua terminologia internacional, a cozinha de fusão possui como característica a combinação de ingredientes, conceitos e técnicas de diferentes tradições culinárias, especialmente da cozinha oriental. A cozinha do estilo fusion food pode desenvolver a criatividade dos chefs na elaboração de novos pratos e contribui para valorizar os ingredientes, técnicas e utensílios regionais. No Brasil, é comum os chefs dos restaurantes especializados nessa culinária mesclarem os elementos da nossa cozinha regional com a de diferentes países asiáticos, como o Japão. Muitos rodízios de comida japonesa criam pratos que são exemplos de fusion food como elemento de inovação e para se adaptarem ao gosto dos clientes, a exemplo de sushis que utilizam diferentes alimentos como geleias de frutas, goiabada, cream cheese, maionese e morango. Figura 61 Os chefs também podem elaborar pratos mais sofisticados que mesclam as técnicas tradicionais de duas cozinhas, como é o caso do guioza de confit de pato, sashimi de atum com foie gras, entre outros. Observação O atum vermelho utilizado para sashimi é um dos peixes mais caros do mundo e apresenta preços inimagináveis em leilões realizados nos mercados de peixes do Japão. Para se ter uma ideia, o primeiro atum vermelho da temporada de 2017, com 212 kg, foi vendido por mais de R$ 2 milhões. 51 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 62 Nos Estados Unidos, um exemplo muito comum de fusion food é a culinária tex-mex, que combina a cozinha do estado do Texas e norte-americana em geral com a culinária mexicana. A seguir, temos um sanduíche que é uma demonstração dessa cozinha, com a combinação da pimenta mexicana jalapeño com o queijo americano monterey. Figura 63 Aqueles pratos fundamentados na gastronomia de um país, mas preparados com técnicas e ingredientes pertencentes a outra cultura gastronômica, também podem ser considerados fusion food. Nesse caso, muitos empreendedores usam a criatividade das misturas para chamar a atenção de certos pratos, como o strogomaki, um temaki recheado de estrogonofe de salmão com batata palha; a pizza taco com ingredientes como feijão, queijo cheddar, pimenta jalapeño; pizzas com ingredientes surpreendentes, como hambúrguer, cachorro quente, chocolate com morango, entre outros sabores. A criação desses pratos com misturas inusitadas é uma forma de fazer com que os empreendimentos gastronômicos fiquem conhecidos, principalmente com divulgação via redes sociais. 52 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I 4.4 Comfort food O termo refere-se aos alimentos e às preparações que são reconfortantes. Esse tipo de cozinha possui um grande apelo emocional; os ingredientes e pratos buscam o lúdico, as memórias das comidas da infância, as sensações de prazer e de acolhimento alcançadas por meio da degustação dos alimentos. As comidas do estilo comfort food normalmente estão ligadas às cozinhas típicas/regionais, às receitas familiares, à cozinha das avós, entre tantas. As preparações dessa culinária não precisam ser refinadas nem luxuosas e, na maioria dos casos, pelo contrário, evocam simplicidade. Exemplos dessas comidas são: mingau, doce de leite, pipoca, pão na chapa, tortas de liquidificador, purê de batata, macarrão, picadinho de carne, frango assado, sopas, estrogonofe, canja de galinha, carne moída com batatas, bolinho de chuva, bolo de laranja, torta de maçã, bolo de fubá, pão de queijo, pudim de leite,arroz doce, quindim e brigadeiros, entre outros. Figura 64 Como exemplos regionais, temos o chuvisco (figura a seguir), um tipo de doce tradicional português a base de gema de ovos e considerado patrimônio da cidade de Campos (RJ). Figura 65 53 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA As sopas e os caldos, característicos de várias regiões Brasil, também são exemplos de comfort food. Figura 66 As comidas dessa forma de culinária possuem um grande apelo emocional e um vínculo com o passado (memória afetiva). Remetem à nostalgia do indivíduo, com os alimentos, bebidas e receitas pertencentes aos momentos importantes da vida, como a refeição em família, encontros com amigos e festividades. Esse estilo de alimentação pode ser adotado como um diferencial na recepção dos clientes nos empreendimentos de hospitalidade, como bares, restaurantes, pousadas, hotéis, entre outros. Saiba mais Os filmes a seguir tratam do tema comfort food: TOAST: a história de uma criança com fome. Dir. S.J. Clarkson. Reino Unido, 2010. 96 minutos. RATATOUILLE. Dir. Brad Nird. EUA: Pixar, 2007. 111 minutos. O TEMPERO da vida. Dir. Tassos Boulmetis. Grécia, 2003. 108 minutos. 4.5 Slow food Movimento criado na Itália em 1986 por Carlo Petrini, o slow food foi estabelecido primeiramente como uma associação enogastronômica que tratava de alimentos e dos vinhos. Atualmente, prega o retorno da sociabilidade, do convívio ao redor da mesa, de fazer as refeições sem pressa, valorizando as receitas tradicionais, os ingredientes regionais e os produtores locais. 54 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Conforme Carlo Petrini: O slow food vê o alimento em um sentido amplo, que leva em conta toda a cadeia de produção. Da terra à mesa, os ingredientes trilham um longo percurso. Por isso, o slow food entende que o prazer gastronômico está atrelado à produção do ingrediente cultivado em respeito ao ambiente e ao agricultor. E acredita na importância de preservar a biodiversidade e a cultura artesanal de cada povo, de cada país, em resposta à homogeneização do gosto e a perda dos saberes tradicionais (PETRINI, 2010). Saiba mais O símbolo desse movimento é um caracol, que se alimenta e se move calmamente. Para conhecer mais sobre esse movimento, acesse o site: MINAS GERAIS. Secretaria de Desenvolvimento Agrário. Minas Gerais faz parceria para fortalecer alimentos regionais, 8 out. 2015. Disponível em: <http://agrario.mg.gov.br/minas-gerais-faz-parceria-para-fortalecer- alimentos-regionais/>. Acesso em: 5 abr. 2018. O movimento slow food também criou a Arca do Gosto, que objetiva catalogar, preservar e divulgar os alimentos ameaçados de extinção. A Arca do Gosto é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais. O objetivo é documentar produtos gastronômicos especiais, que estão em risco de desaparecer. Desde o início da iniciativa em 1996, mais de 1.000 produtos de dezenas de países foram integrados à Arca. Esse catálogo constitui um recurso para todos os interessados em recuperar raças autóctones e aprender a verdadeira riqueza de alimentos que a terra oferece (ARCA..., 2007). A batata Cren foi um dos produtos indicados para fazer parte da Arca do Gosto no Rio Grande do Sul. Figura 67 55 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA A figura a seguir mostra as feiras que são promovidas pelo movimento slow food em diferentes países do mundo para apresentar e incentivar o consumo do público pelos ingredientes regionais e produtores locais. Figura 68 4.6 Cozinha mediterrânea As receitas e ingredientes da cozinha mediterrânea ficaram mais conhecidos e divulgados após a publicação da obra Mediterranean Food, em 1950, pela escritora inglesa Elizabeth David. Essa gastronomia reúne as cozinhas dos países banhados pelo Mar Mediterrâneo, como: Itália, Espanha, França, Egito, Turquia, Marrocos, Grécia e outros. O azeite é um dos principais produtos utilizados nessa culinária, tanto para cocção dos alimentos quanto para o uso nas preparações. Outros alimentos consumidos são peixes, crustáceos, iogurtes, vinhos, pão, queijos, frutos do mar, legumes, frutas e vegetais frescos, como lentilhas, berinjela, grão-de-bico, tomate e abobrinha. A carne de ovinos também é apreciada em receitas de cordeiro, carneiro e cabrito, aparecendo em diversas regiões desses países. Também são característicos as bebidas e licores a base de anis como o arak, no Oriente Médio; o ouzo, na Grécia; pastis, na França; e sambuca, na Itália. A imagem a seguir apresenta alguns dos alimentos típicos gregos e um brinde tradicional com o ouzo Figura 69 56 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Essa culinária valoriza a sazonalidade dos produtos, incentivando o uso dos alimentos de acordo com as estações do ano e o ciclo de produção. Os ingredientes que compõem a culinária mediterrânea são considerados benéficos para a saúde. Figura 70 Figura 71 57 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Nas imagens a seguir verifica-se a secagem do polvo ao sol, forma tradicional de preparação dessa iguaria em algumas ilhas gregas. Figura 72 Figura 73 4.7 Cozinha tradicional Cozinha fundamentada nas receitas típicas de cada país e região, na qual são valorizadas as preparações com produtos regionais. Esse estilo de cozinha pode estar presente em estabelecimentos de diferentes portes, pois possui grande identificação com o público local e os próprios turistas. Nas figuras a seguir são apresentados pratos da cozinha tradicional da Alemanha e da Itália que são oferecidos aos turistas e residentes na região Sul do Brasil. 58 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 Unidade I Figura 74 – Prato tradicional alemão com batatas, chucrute e salsichões Figura 75 4.8 Fast food Cozinha caracterizada pela produção em larga escala de alimentos, padronização das refeições e por oferecer aos clientes um serviço rápido, porém muitas vezes impessoal. As lojas de fast food estão presentes no país inteiro em diversas redes que oferecem esse tipo de refeição. A comercialização de comida pronta para o consumo rápido está presente desde a Antiguidade. Há registros de barracas que vendiam noodles (espécie de macarrão cozido em caldo) durante toda a noite 59 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 9/ 04 /2 01 8 TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA na China no período da Dinastia Han, de 25-205 d.C. Na Roma Antiga, parte da população das cidades vivia nas insulae, construções que eram edifícios verticais com vários andares, divididos em blocos de apartamentos que não possuíam cozinha. Geralmente, esses locais abrigavam em condições precárias várias famílias, que, por não terem onde cozinhar, compravam seus alimentos – como o pão embebido em vinho e os caldos de vegetais cozidos – nas popinas, uma forma bem simples de restaurante romano. Nas maiores cidades da Idade Média havia vendedores de rua que comercializavam produtos como tortas, pastéis, waffles, bolachas, panquecas e carnes cozidas. Esses alimentos eram vendidos geralmente para aqueles que não podiam cozinhar sua própria refeição, como os viajantes e mercadores. Aqueles lugares localizados mais perto da costa e que estavam envolvidos na pesca desenvolveram pratos de comida rápida que incluíam peixes, ostras e frutos do mar. O peixe com batata frita, um dos mais tracionais pratos britânicos, surgiu no século XIX com o desenvolvimento da pesca de traineiras, sendo que a primeira loja de fish
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