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82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 5 TENDÊNCIAS EM EQUIPAMENTOS No decorrer da história, a curiosidade, a criatividade e o poder de observação dos chefs de cozinha possibilitaram transformar as técnicas de cocção, um ingrediente ou um prato em uma forma de expressão desses profissionais. Os chefs têm procurado desenvolver a investigação e o estudo do alimento, destacando suas características organolépticas, criando aromas, apresentações, texturas e sabores originais e aproveitando todas as ferramentas tecnológicas em favor da comida, o que imprime à gastronomia um caráter científico. O ato de se alimentar não traz mais apenas o significado primal e biológico de comer para satisfazer a fome. Observa‑se, cada vez mais, a busca por novos pratos e ingredientes, para que o consumidor possa vivenciar uma experiência sinestésica, ou seja, que, por meio da apreciação dos alimentos, todos os seus sentidos sejam envolvidos. O chef Heston Blumenthal é um dos principais representantes dessa nova cozinha contemporânea que alia alta tecnologia ao preparo dos alimentos. Ele desenvolveu um conceito de culinária fundamentada em pesquisa e experimentação. A imagem a seguir apresenta um dos seus pratos mais célebres, denominado sound of sea (som do mar). São ostras e frutos do mar cobertos com espumas de algas e, para completar a experiência, é servida uma concha com um iPod dentro, que apresenta os sons do mar para acompanhar a refeição. . Figura 102 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Observação As propriedades organolépticas referem‑se às características dos alimentos que podem ser percebidas pelos nossos sentidos. Essa avaliação sensorial é um importante meio para verificar as condições de higiene e conservação das mercadorias. As principais propriedades que podem ser percebidas são: brilho, cor, odor, textura e sabor. Na imagem a seguir nota‑se a aplicação dessas novas tendências. No caso, um menu comestível, acompanhado com purê de espinafre e coração de alcachofra. Figura 103 Esses exemplos comprovam como os avanços científicos e tecnológicos contribuem para evolução da gastronomia, trazendo novas formas de cozinhar, de apresentar pratos e de trabalhar os ingredientes. Independentemente de a ciência aplicada à cocção ser uma tendência da gastronomia atual, o estudo sobre o emprego da física e química aos alimentos começou a se desenvolver no final dos anos 1960, buscando novas combinações de texturas, sabores, formas e ingredientes, aparentemente incompatíveis entre si. Esses experimentos tornaram‑se frequentes nas mãos de chefs criativos, que souberam aproveitar os avanços científicos e tecnológicos para incrementar suas técnicas na cozinha. Atualmente, o uso de espessantes, multiprocessadores de última geração, produtos que substituem o açúcar, enzimas, nitrogênio líquido, desidratação e cozimento a vácuo, além de outros meios não tradicionais, são algumas das diversas ferramentas que são utilizadas pelos chefs, para criarem e despertarem emoções nos comensais com seus pratos. 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Cozinha tecnoemocional, molecular, de vanguarda, não importa a designação dada – esses estilos referem‑se a uma nova forma de cozinhar que é mais experimental e técnica, impulsionada pela criatividade e pelo desejo dos chefs de explorar novos caminhos. 5.1 A inovação nos equipamentos A evolução tecnológica dos equipamentos na cozinha trouxe aos restaurantes e empreendimentos de alimentação maior segurança alimentar na produção, otimização de tempo, melhor forma de dimensionar os espaços, menos desperdício, além de abrir caminho para práticas mais sustentáveis. Alguns desses novos equipamentos para cozinha foram concebidos por chefs espanhóis com apoio da fundação espanhola Alicia (Alimento e Ciência) e da ICC (International Cooking Concept). Saiba mais Para conhecer melhor esses locais dedicados a estudar a inovação tecnológica na cozinha, acesse os seguintes sites: <http://cookingconcepts.com/> <http://www.alicia.cat/es/> A seguir serão apresentados os principais dispositivos utilizados na cozinha profissional. 5.1.1 Fornos combinados Equipamento essencial para as grandes cozinhas, os fornos combinados são usados para cocção e restauro dos alimentos. Eles permitem realizar diversos processos de cocção como assar, fritar e grelhar diferentes tipos de alimentos de uma só vez, em um menor espaço de tempo, sem que ocorra nenhuma interferência de aromas e sabores entre preparações. Proporciona a combinação de funções como calor e vapor, regeneração dos alimentos e vaporização rápida. O investimento nesses equipamentos reduz as etapas de produção, custos e mão de obra em uma cozinha. Os fornos combinados são muito úteis para auxiliar no preparo de um grande volume de refeições, como nos restaurantes industriais, nas cozinhas de refeitórios de empresas e em eventos de maior porte. Para o Inmetro, os fornos combinados são definidos como: Forno elétrico destinado à cocção de alimento tanto por meio de contato direto com o vapor, quanto por ar aquecido recirculado por meios mecânicos no interior da câmara de cocção ou pela combinação destes dois modos. A pressão do ar no interior do forno pouco difere da pressão atmosférica (INMETRO, 2014). 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA A seguir, alguns modelos desses equipamentos. Figura 104 Figura 105 Figura 106 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.1.2 Sous‑vide Técnica de cocção que pode ser traduzida como “sob vácuo”, o termo francês Sous‑vide significa que a comida (geralmente carne ou vegetais) foi preparada em um saco de plástico hermeticamente fechado submerso em água com temperatura controlada. Os alimentos preparados desta forma são sempre cozidos uniformemente, com o interior e o exterior ficando no mesmo ponto, preservando suas propriedades e sabor. Ultimamente, muitos alimentos embalados a vácuo também são encontrados para venda em supermercados. Para serem consumidos, a forma adequada de cocção é aquecê‑los em banho‑maria. A reportagem de Bruno Fávero para o jornal Folha de São Paulo apresentou um guia básico para a cocção de alimentos na técnica de sous‑vide: 1) Água quente – para cozinhar, aqueça água em uma panela grande à temperatura desejada (para carnes, entre 50 ºC e 60 ºC). 2) Embalagem – tempere o alimento (evite ingredientes fortes como alho cru) e embale em um saco plástico apropriado; retire todo o ar. 3) Imersão – a embalagem deve estar totalmente submersa durante o cozimento. Um aparelho controla a temperatura da água. 4) O tempo de cocção irá variar de acordo com o ingrediente, a espessura e o ponto desejado (a maioria fica tenra em até 10 horas). 5) Finalizar na frigideira – ao sair da embalagem, as carnes devem ser finalizadas na frigideira para ter uma crosta dourada (FÁVERO, 2015). Veja a seguir a carne embalada sendo colocada para preparo no equipamento e, na imagem subsequente, a carne pronta após o cozimento via técnica de sous‑vide. Figura 107 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 108 Na foto a seguir é possível observar o equipamento de sous‑vide realizando a cocção de ovos à esquerda e de carne à direita. Repare a necessidade do controle absoluto da temperatura para eficácia da cocção. Figura 109 A utilização dessa técnica não é recomendada para alimentos de cozimento rápido ou que necessitamser hidratados (como massas, feijão e arroz). 5.1.3 Termocirculador Termocirculador é o aparelho utilizado para realização da técnica de sous‑vide. Sua função principal é manter o banho‑maria com um controle preciso e uniforme de temperatura. Os termocirculadores normalmente são formados por três equipamentos que devem ser integrados: o termostato, um dispositivo para aquecimento e a bomba de água. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Existem diferentes tipos de termocirculadores, desde os industriais, presentes nas cozinhas de grande porte, aos de imersão e de cuba, que são os modelos mais comuns para uso em restaurantes de pequeno e médio porte. De acordo com Freixa e Chaves (2008, p. 269), o termocirculador pode ser definido como: Espécie de banho‑maria com precisão, em que uma carne é previamente embalada a vácuo (em máquina para este fim) e depois cozida em banho‑maria no aparelho a 58 ºC, de forma que a carne fica mais tenra por dentro e tostada por fora. O ingrediente no vácuo, o longo tempo de cozimento e a baixa temperatura se unem para preservar as proteínas do alimento, como as gelatinas da carne, dando‑lhe outra consistência. 5.1.4 Roner O Roner é um termostato digital desenvolvido pelo chefespanhol Joan Roca. De acordo com a revista Nutrinews, esse equipamento: Pode ser adaptado a recipientes com capacidade máxima de 20 litros de água imerso em banho maria e possibilita temperatura de 5 ºC a 100 ºC, diferente do banho maria tradicional, que tem sempre a mesma temperatura. O Roner é ideal para cocção de produtos previamente embalados a vácuo como carnes, peixes, aves e verduras, pasteuriza alimentos cozidos com técnicas tradicionais e realiza regeneração térmica de produtos prontos e embalados a vácuo (EQUIPAMENTOS..., 2009). Sobre as técnicas de cozimento longo, à baixa temperatura, as autoras Freixa e Chaves (2008, p. 269) abordam os seguintes aspectos: Mantém e ressaltam as condições naturais da matéria‑prima. Como o “ovo perfeito” (de Hervé This), em que gema e ovo se fundem totalmente. Esta técnica é praticada, por exemplo, pelo chefAndoni Aduriz, do Mugaritz, na cidade de Gipuzkoa, na Espanha. É a técnica com tudo que um ingrediente pode dar, como ele diz. O Foie Gras com lascas do peixe (Katsuo Bush) é outro exemplo. Muito leve, o foie Gras vai à mesa parecendo mais um pudim de tão fofo e liso (sem as tradicionais veias). Para fazê‑lo, a principal técnica é congelar, fritar a 120 ºC, depois assar no forno a 48 ºC por 15 horas e, finalmente, deixar descansar por 40 minutos. Para implementação da técnica de sous‑vide, isto é, para que os equipamentos como os termocirculadores e o Roner possam ser utilizados, é necessário que a cozinha possua uma seladora a vácuo para acondicionar o alimento antes de prepará‑lo. 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA 5.1.5 Seladora a vácuo Equipamento que permite o armazenamento do alimento por um prazo maior de validade, sem prejuízo para sua qualidade. O uso das seladoras a vácuo possibilita o porcionamento mais adequado dos alimentos e é primordial para cocções com o uso da técnica de sous‑vide. Figura 110 Figura 111 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.1.6 Thermomix O Thermomix é um multiprocessador tanto de uso profissional como doméstico, apesar do alto custo. Ele realiza diversas funções que podem ser executadas simultaneamente. De acordo com o fabricante, são 12 eletrodomésticos em apenas um único equipamento. Com o Thermomix é possível emulsionar (fazer maionese e molhos), moer, pulverizar grãos, misturar massas em diferentes velocidades, amassar, cozinhar a vapor, sovar, bater, pesar o alimento, entre outras funções. Esse multiprocessador também apresenta a possibilidade de cozinhar receitas que já estão pré‑programadas: o consumidor é guiado a seguir o passo a passo para preparar os pratos em uma tela e depois apenas espera ficar pronto. Figura 112 5.1.7 Gastrovac É uma panela que cozinha em baixa temperatura e pressão, o que possibilita que durante a cocção sejam conservadas as propriedades naturais dos ingredientes. Esse equipamento pode deixar os alimentos porosos, para que absorvam outros aromas e sabores. Conforme definição de Freixa e Chaves (2008, p. 269), o Gastrovac é: Uma espécie de panela de pressão às avessas. Enquanto a panela de pressão põe atmosfera dentro dela, esta retira. Assim, dá para trabalhar de duas maneiras: primeiro, com a expansão do corpo em temperatura ambiente, 91 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA como colocar na panela uma maçã com aromas e temperos injetados. Em pouco tempo essa absorverá os aromas sem se deteriorar. A segunda utilidade é que essa panela pode cozinhar em baixa temperatura, sem pressão e com fervura, o que conserva mais as propriedades naturais do alimento. O Gastrovac tem como uma das funções transferir o sabor de um líquido para um produto sólido. Entre outras preparações, por exemplo, é possível fazer uma batida com frutas sólidas, transferindo o sabor da cachaça para a fruta, seja abacaxi, morango ou outras (EQUIPAMENTOS..., 2009). 5.1.8 Clarimax De acordo com a descrição de Atala e Dória (2008, p. 319): O Clarimax é um equipamento compacto, para clarificação de caldos. Desenvolvido conjuntamente pelo cozinheiro Ángel León (Restaurante Aponiente) e a Universidade de Cádiz, está baseado no poder clarificante de algas microscópicas. O processo se dá por meio de pressão controlada: o caldo passa por uma pastilha prensada de algas diatoméias que clarificam o caldo. Imediatamente depois, o caldo sai por um tubo. As pastilhas têm poder desengordurador e clarificante, sem alterar o sabor do produto. Podem‑se clarificar líquidos a qualquer temperatura. Com o equipamento não há mais necessidade de usar albumina para clarear o caldo. Pode ainda ser usado para líquidos frios ou quentes, pois não é necessário elevar a temperatura do alimento, já que é possível clarear a frio (EQUIPAMENTOS..., 2009). 5.1.9 Ultracongeladores Equipamento de cozinha que possibilita o congelamento rápido dos alimentos; com isso, evita‑se a formação de cristais de gelo e garante‑se um descongelamento sem perda de líquidos, otimizando o espaço e a produção na cozinha. 5.1.10 Processadores de alimentos Equipamentos de diversos modelos e tamanhos que aumentam a produtividade na cozinha, pois aprimoram tempo, espaço e possibilitam estabelecer um padrão para produção. 5.1.11 Máquinas de lavar louça As máquinas lava‑louça profissionais, utilizadas nos restaurantes e refeitórios, trazem grandes vantagens em relação à lavagem manual, tais como ganho de produtividade, maior economia de água e mão de obra, redução de custo com quebra de louças e copos, além da economia com produtos de limpeza. 92 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II As imagens demonstram lava‑louças profissionais de diversos portes e modelos. Figura 113 Figura 114 Na imagem, temos lava‑louça profissional de um cruzeiro marítimo, com ampla capacidade para atender grande volume de louças e talheres. 93 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 115 5.1.12 Sistema de exaustão Equipamento essencial em um ambiente de cozinha, para melhorar a qualidade de ar no local e, consequentemente, deixar o ambiente mais confortável para os funcionários. Esses mecanismos são os responsáveis por captar, tratar e retirar do ambiente vapores, aromas e fumaças oriundasdo cozimento. Também diminuem o calor e a propagação de gases tóxicos que possam ser prejudiciais à saúde. Figura 116 94 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.1.13 Sifão É um montador de creme de leite, ao qual é incorporado o ar por meio de cargas de gás comprimido. Esse mesmo princípio permite elaborar espumas de inúmeros sabores e texturas. Figura 117 5.1.13.1 Espumas Com a ajuda de um sifão, os alimentos como legumes, queijos ou frutas são transformados em espumas, o que faz com que os sabores e aromas permaneçam intactos e mais suaves. Conforme Freixa e Chaves (2008, p. 268): As espumas são feitas com os ingredientes da receita, misturados a CO2 (gás carbônico) e aplicadas com um sifão (garrafa em que se introduzem as substâncias sob pressão e que contém um dispositivo que faz jorrar a espuma). Nas imagens a seguir temos alguns pratos preparados com esse equipamento: prato de lagostim com espuma de chá verde e, em seguida, uma espuma de framboesa. Figura 118 95 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 119 Na figura a seguir, temos a apresentação de uma entrada elaborada com espuma de parmesão. Figura 120 5.1.14 Pacojet De acordo com Atala e Dória (2008 p. 317): O pacojet oferece a possibilidade de criar muitos sorvetes, tanto doce como salgados. Trata‑se de um processador de alimentos que os emulsiona, convertendo em purê ou creme mesmo alimentos congelados, sem necessidade de descongelá‑los. Em poucos segundos se obtém um creme para untar, um concentrado de sopa ou verdura, uma glace ou um sorvete 96 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II de frutas com seu aroma natural. É um dos principais instrumentos em que se baseiam as criações modernas. Figura 121 5.1.15 Germinador Freshlife O germinador produz uma fonte contínua de água doce e ar para criar brotos frescos de diversas variedades de plantas, livres de produtos químicos e pesticidas. É utilizado internamente, dentro do espaço da cozinha, desde que a temperatura esteja entre 18 ºC e 30 ºC. Após encher o germinador com água e colocar as sementes, liga‑se o equipamento. Este possui um sistema de irrigação automático que irá garantir a produção de produtos frescos e nutritivos. 5.1.16 Rotaval (evaporador de rotação) Esse equipamento permite transformar os aromas em um líquido e infundi‑los em um alimento. Conforme Atala e Dória (2008 p. 319): O rotaval é um instrumento que utiliza a técnica de destilação de sólidos a baixa temperatura fazendo uso de uma bomba de vácuo. Desenvolvido pela Fundação Alicia (Alimentación y Ciencia) a partir do rotavapor empregado nos laboratórios químicos, ele permite a destilação de qualquer tipo de produto, seja líquido ou sólido, desde 97 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA que esteja úmido, o que significa que permite captar os aromas mais puros e as essências de quase tudo, até o ponto de ser utilizado para impregnar produtos com matizes da areia do mar. Pode‑se utilizá‑lo para a extração do álcool das bebidas alcoólicas, obtendo uma excelente aguardente, para obter reduções sem cocção do produto e oxidação, para impregnar com líquidos alguns produtos sólidos ou para elaborar marmeladas e geleias nas quais, ao se evitar a cocção, se conservam perfeitamente os sabores originais. Conforme Freixa e Chaves (2008, p. 268), os destiladores de essência podem ser definidos como: Aparelho usado na indústria perfumista para extrair essências. Partindo da observação de que gostos são aromas líquidos, consegue‑se destilar sabores antes desconhecidos pela cozinha, como o “sabor da terra”. Exemplo: prato de ostra com gosto de terra, do chef espanhol Joan Rocca, do restaurante El Celler de Can Roca. 5.1.17 A utilização do nitrogênio líquido na cozinha A partir do uso de nitrogênio líquido, os chefs conseguem congelamentos quase instantâneos dos alimentos, evitando assim a formação de cristais de gelo e permitindo texturas surpreendentes. A velocidade é crucial para congelar os alimentos sem danificar sua consistência. Portanto, em geral, quanto mais rápido o processo de congelamento, menores os cristais de gelo, resultando em menor impacto na estrutura celular dos alimentos. Desde a década de 1970, o setor da alimentação usa o nitrogênio líquido para fazer sorvetes, entretanto, apenas mais recentemente os chefs começaram a usá‑lo para congelar alimentos mais delicados, como hambúrguer e o foie gras. Sobre o emprego do nitrogênio na cozinha, Atala e Dória (2008, p. 219) ponderam: O nitrogênio líquido precisa ser manipulado com muito cuidado, pois queima como um óleo que está acima de 200 ºC. Quando se diz que é possível “fritar” em nitrogênio líquido, é porque ele gera uma textura crocante na camada externa e preserva a maciez no interior, assim como no uso da fritura a quente, contudo, sem os inconvenientes do óleo de fritura. Disso decorrem as possibilidades do uso de nitrogênio líquido numa nova cozinha, desde a preparação de sorbets instantâneos, frituras inversas, fast frozen, até a completa desidratação de um ingrediente por meio da longa exposição ao nitrogênio líquido, trazendo‑o em seguida à temperatura ambiente. 98 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 122 Segue a imagem de um prato de beterrabas preparadas com nitrogênio líquido. Figura 123 99 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA O nitrogênio líquido também é utilizado no preparo de bebidas e coquetéis, conforme demonstra a figura a seguir. Figura 124 5.1.18 Pistola para defumação Equipamento usado para defumar alimentos. Esse aparelho produz uma defumação a frio, o que permite que ele seja usado em diferentes tipos de alimentos ou líquidos, pois possui um dispositivo portátil para infusão com uma variedade de aromas e sabores esfumaçados. 5.1.19 Desidratador Aparelho que possibilita desidratar diversos tipos de alimentos como: frutas, carnes, ervas aromáticas, vegetais e mesmo peixes. 5.2 Tendências em equipamentos para segurança alimentar A segurança alimentar foi incrementada com a evolução tecnológicas dos equipamentos de cozinha. Algumas das principais tecnologias utilizadas para produção antecipada de refeições são o cook chill (cozinhar e resfriar) e o cook freeze (cozinhar e congelar). 5.2.1 Cook chill Esse sistema consiste na cocção e no resfriamento dos alimentos com o objetivo de prolongar o seu armazenamento, garantir sua qualidade, sabor e distribuição segura. Ao resfriar os alimentos logo após sua cocção, esse equipamento evita a contaminação e proliferação de bactérias e mantêm seu valor nutritivo. Esse tipo de tecnologia permite aumentar a vida útil dos alimentos sem recorrer à adição de conservantes ou aditivos. 100 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Na imagem nota‑se o uso desse equipamento no preparo de refeições para as tropas norte‑americanas. Figura 125 De acordo Monteiro (2013, p. 186): O processo Cook Chill é apropriado e bastante rentável para a distribuição de refeições. Esse sistema é empregado da seguinte maneira: após a cocção, deve ser feito o resfriamento rápido do alimento até que ele todo fique à temperatura de 3 ºC. O parâmetro de medição é o centro do alimento. O processo deve ter início, no máximo, em até 30 minutos contados do fim da cocção e atingir a temperatura de 3 ºC em um tempo máximo de uma hora e meia.O alimento poderá fica armazenado por cinco dias em refrigeradores. O reaquecimento deve atingir no mínimo 75 ºC para o alimento ser ingerido com segurança. Verifica‑se a seguir um diagrama do fluxo de produção do sistema cook chill: Cozinha tradicional (cook serve)Comprar Recepcionar Armazenar Preparar Resfriar Regenerar Cozinhar Servir quente Servir frio Manter aquecido Cook chill Figura 126 ‑ Cozinha tradicional 101 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA 5.2.2 Cook freeze O sistema cook freeze é semelhante ao sistema cook chill. As principais diferenças são a maior durabilidade dos alimentos e a temperatura necessária para o armazenamento deles. Segundo Monteiro (2013, p. 186): Para o congelamento rápido, a temperatura dos alimentos deverá atingir ‑18 ºC em 4:30 (tempo máximo). Depois, os recipientes com os alimentos congelados são transportados e armazenados em câmaras frigoríficas de congelados que se mantêm por um período de 60 dias a temperaturas que variam entre ‑18 ºC e ‑20 ºC, devendo ser reaquecidos imediatamente antes do consumo. Nos dois sistemas apresentados para o reaquecimento dos alimentos, deverá, obrigatoriamente, ser utilizado o forno combinado. As vantagens da utilização desses sistemas são: • Os alimentos e refeições apresentam maior durabilidade. • Ocorre a preservação das características sensoriais dos alimentos. • Diminui o risco de contaminação dos alimentos. • Racionalização da produção. • Otimização do uso e compra dos equipamentos. • Maior sustentabilidade na produção, pois ocorre uma redução do consumo de energia e desperdício dos alimentos. • Economia na mão de obra. • Menor gasto com compras de mercadorias. Conforme Valvassori ([s.d.]): A gestão de todo esse processo não é simples e exige do profissional conhecimento em administração de processos, estratégias de negócios – para viabilizar toda a operação, conhecimento de reações físico‑químicas dos alimentos e aspectos legais para garantir a segurança e a qualidade que devem ser monitoradas nos quatro estágios do processo. São eles: preparo do alimento para a embalagem; cozimento por meio das técnicas de tempo e temperatura específicas; resfriamento e finalização para servir. 102 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.2.3 Alimentos pré‑processados A aplicação de todas essas tecnologias, principalmente nas cozinhas dos restaurantes industriais e grandes refeitórios, tornou mais acessível o uso de alimentos pré‑processados. Segundo Monteiro (2013, p. 183): O futuro das preparações em cozinhas profissionais está baseado na tendência mundial de uso de pré‑processados e pré‑elaborados, que necessitem apenas de finalização para torná‑los atraentes para o consumo e para paladares individualizados. O uso desses produtos proporciona os seguintes benefícios: • Racionalização nos métodos de produção dos alimentos. • Redução dos custos operacionais e de investimentos para a instalação de uma cozinha. • Melhora de controle dos alimentos produzidos. • Redução do tempo de processamento dos alimentos. • Redução das áreas de produção e consequente ampliação das áreas destinadas aos clientes. Além da conveniência da utilização dos produtos pré‑processados, as tendências para os empreendimentos de alimentação é uma maior automação dos processos. Monteiro (2013, p. 183) expõe um exemplo desse fato: A Central de Cocção Inteligente ou Self Cooking Center®, um forno combinado de última geração, fabricado pela Rational® e distribuído no Brasil pela Engeffod, permite que o operador cheque toda a operação do equipamento, como temperaturas de cocção, aberturas de portas, etc. por meio da coleta de dados diretamente do equipamento, que possui uma porta USB para conexão de pen drive e uma porta ethernet para transmissão de dados via internet para controle total do sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). 6 OS PRINCIPAIS CHEFS FRANCESES QUE INSPIRARAM A EXPANSÃO DA GASTRONOMIA Diversos chefs franceses influenciaram a evolução da alimentação criando receitas, inovando em ingredientes e apresentando novas formas de cozinhar os alimentos. Eles também catalogaram e escreveram as obras que foram fundamentais para o desenvolvimento da gastronomia. 103 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Na imagem a seguir tem‑se uma pintura do século XVI, que retrata uma cena na cozinha. Nela, o cozinheiro segura uma tigela de vinho tinto em suas mãos e, sob a mesa, encontram‑se vários alimentos consumidos nesse período, tais como aves, pato, peixe, pães, queijo, linguiças, presuntos, entre outros. Figura 127 A seguir são apresentadas algumas das personalidades mais importantes para a evolução da gastronomia. A maioria dos chefs destacados são franceses devido à importância histórica desse país e de seus personagens para o desenvolvimento da gastronomia. 6.1 Guillaume Tirel (Taillevent) (1310-1395) Este cozinheiro francês é o autor de um dos livros de receitas mais significativos para a evolução da gastronomia, o Le Viandier. Essa obra é de suma importância, primeiramente por exibir um inventário de alimentos do século XIV e, também, por ser fundamental para o desenvolvimento da tradição francesa na gastronomia, apresentando uma relação ordenada das receitas, com a respectiva explicação metodológica sobre as preparações. Guillaume Taillevent era o mais velho dos irmãos e sua primeira função na cozinha foi a serviço da rainha Jeanne d’Evreux como “criança de cozinhar”. Em 1346, tornou‑se um aprendiz de cozinha no hotel de Monseigneur le Dauphin, promovido a cozinheiro‑chefe em 1355. O esplendor de sua atividade profissional ocorreu em 1359, quando começou a trabalhar na casa do duque da Normandia, que mais 104 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II tarde reinaria com o nome de Carlos V, o Sábio. Documentos datados de 1361 indicam que era destinado no orçamento real uma soma considerável para remuneração de Taillevent. No ano de 1368, exercendo a função de primeiro chef do palácio, foi nomeado sargent d’armes, designação presente na hierarquia militar, mas que foi oferecida a ele como reconhecimento por sua autoridade na cozinha. Em 1373, Taillevent é o primeiro a ser nomeado chef das cozinhas (chef des cuisines). Após a morte de Carlos V, considerou se aposentar do trabalho, mas foi convencido do contrário pelo novo rei, Carlos VI, que, como filho e sucessor do pai, havia tido a oportunidade de apreciar as qualidades pessoais e profissionais de Taillevent. O rei concede‑lhe uma maior hierarquia e reconhecimento ao denominá‑lo Maistre des garnisons de cuisine du roi (mestre das guarnições de cozinha do rei), posição que lhe conferia maior remuneração e algumas atribuições curiosas, como o direito de escolher e levar comida diretamente ao rei sem qualquer intermediário. Ele também recebeu uma longa colher de madeira com a qual podia saborear a comida e bater nos outros cozinheiros quando julgava que precisavam de corretivo por seu trabalho ineficiente ou mau comportamento. A primeira edição conhecida do Le Viandier é datada de 1490 e foram publicadas mais onze até 1520. A influência de Taillevent se manteve até a chegada dos chefs florentinos com Catherine de Médici e a publicação da obra O Cozinheiro Francês, de La Varenne, em 1651, que introduziu um novo conceito de arte culinária. Figura 128 – Capa do livro Le Viandier As contribuições primordiais da obra de Taillevent foram: a importância dada aos molhos picantes, utilizando especiarias como açafrão, gengibre, pimenta e canela; a apresentação das receitas de sopas 105 Re visã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA e ragus que podiam ser usados para preparar carne, aves e caça, bem como peixes. Além disso, a obra introduz o uso do le verjus uma espécie de suco ácido extraído de uvas verdes, muito utilizado durante o período da Idade Média para substituir o vinagre e na preparação de molhos. Seu uso na culinária francesa está mais associado com carnes brancas como as aves, mas também pode ser utilizado com peixes e na preparação de mostardas. Os métodos principais de cozimento dos alimentos apresentados no livro são o roti e as preparações cozidas, recheadas ou à base de grandes pedaços. A cozinha de Taillevent é muitas vezes retratada como uma sucessão de pratos pesados, complicados ou muito temperados, mas as receitas mais simples do Le Viandier seriam viáveis de reproduzir atualmente sem mudar quase nada. 6.2 Joseph Berchoux (1760-1839) Joseph Berchoux nasceu em uma família nobre e se tornou juiz de paz em Paris. Era um homem culto e poeta; sua contribuição para gastronomia foi a publicação, em 1801, da obra Gastronomie ou l’homme des champs à table, (Gastronomia ou o homem dos campos à mesa), que alcançou um grande sucesso e o fez conhecido na França. Nesse livro aparece pela primeira vez na língua francesa o termo gastronomia. Figura 129 106 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 6.3 François Pierre de La Varenne (1615-1678) La Varenne foi o autor da célebre obra Le Cuisinier François (O Cozinheiro Francês), publicado em 1651. Este livro é considerado o mais influente na culinária francesa moderna. Em sua obra, La Varenne ousou afastar‑se das tradições italianas que haviam revolucionado a culinária francesa da Idade Média ao Renascimento, ou seja, durante todo período do século XVI até o início do século XVII. Figura 130 Sua obra mais tarde influenciaria chefs como Marie‑Antoine Carême e Auguste Escoffier, embora possa ser dito que ele inspirou qualquer um que tenha feito um roux ou um doce do tipo mil‑folhas. Anteriormente, os chefs usavam pão velho para engrossar sopas; La Varenne irá ensinar como transformar farinha e manteiga em um roux. Descreve também a receita do molho bechamel; ainda que talvez não tenha sido o primeiro chef a criar o molho bechamel ou holandês, foi o primeiro a documentá‑los e divulgá‑los por meio de sua obra. Algumas expressões comuns na gastronomia, como au naturel (ao natural), fonds de cuisine (fundos de cozinha) e bouquet garni, apareceram pela primeira vez em seu livro. 107 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Observação O roux é uma técnica que mistura quantidades iguais de amido e gordura, especialmente manteiga e farinha de trigo, que devem ser aquecidos juntos e mexidos lentamente, normalmente com o auxílio do fouet, até formar um creme encorpado e homogêneo; posteriormente, devem ser adicionados a molhos e sopas para torná‑las mais espessas. O livro O Cozinheiro Francês não foi apenas o primeiro livro de receitas que deu à cozinha francesa uma identidade nacional, mas também é considerado o primeiro texto europeu dedicado a instruir os cozinheiros de como fazer as preparações e cozinhar outros ingredientes. Tradicionalmente, os cozinheiros aprendiam seu ofício oralmente, por observação e experiência, porém o advento da impressão disponibilizou o conhecimento culinário a qualquer pessoa que pudesse ler. Anteriormente, na maioria dos livros sobre cozinha, o texto era focado mais na dietética e nutrição, tratando do consumo dos alimentos pelo viés da saúde. La Varenne criou uma obra que auxiliou diversos chefs amadores e profissionais, apresentando o repertório cotidiano de um chef profissional na década de 1650, contendo mais de 800 receitas divididas para os dias magros, de carne ou quaresma (período de restrições alimentares). Outro fato importante é que o livro trazia alternativas para fugir da dependência do açúcar e das especiarias caras e importadas que caracterizaram a comida medieval, como noz moscada, cardamomo, nigela (cominho preto), açafrão, canela e gengibre. Os ingredientes regionais, como salsa, sálvia, estragão, cebolas, alcaparras, tomilho, alho‑poró e chalotas (echalote) deveriam substituir essas especiarias e são a base de grande parte das receitas. La Varenne também incentiva o uso dos ingredientes nativos de acordo com a época do ano de sua produção, uma característica que será marcante no desenvolvimento da gastronomia francesa. O sabor é a principal preocupação das receitas de La Varenne, que introduziu na gastronomia o bouillon (caldos), jus (reduções de suco) e liaisons (espessantes), para intensificar o sabor. Também utilizava o suco e a casca do limão e da laranja, além de alcaparras, para criar um sabor picante. Um outro aspecto importante é que suas receitas exigiam o uso de uma grande quantidade de manteiga ao invés da gordura de porco, que era comum no passado. Os vegetais tinham que ser frescos e macios; eles tornam‑se alimentos a serem destacados nas refeições e aparecem em receitas de ragus, bolinhos, sopas e fundos. Novos vegetais, como aspargos, ervilhas e couve‑flor, são utilizados nas preparações. A obra também apresenta os cuidados necessários para o correto cozimento de carnes, a fim de manter seu máximo sabor. Segundo seus preceitos, as preparações devem respeitar a integridade gustativa e visual dos ingredientes, em vez de cobri‑los com especiarias e molhos como era comum na cozinha medieval. Foi introduzida também uma rigorosa separação entre pratos salgados e doces e a ordem de consumi‑los, com o salgado precedendo a sobremesa. 108 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A influência de La Varenne atingiu as diversas gerações de cozinheiros e determinou o desenvolvimento da culinária clássica. O pai da cozinha francesa, Auguste Escoffier, adaptou algumas de suas receitas, como os cogumelos fritos em manteiga, servidos com cebolinha e molho aromatizado com limão, receita‑base para os champignons sautés de Escoffier e realizada até hoje. Isto é, as preparações de qualidade não precisam necessariamente ser adaptadas e podem sobreviver durante séculos na cozinha mundial. Receita para os champignons sautés Ingredientes Número de pessoas: 4 30 g de manteiga 1/2 colher de sopa de azeite 1/2 colher de sopa de vinagre balsâmico 1 dente de alho amassado 500 g de cogumelos, cortados em tiras Método de preparação Derreta a manteiga com o óleo em uma frigideira grande em fogo médio. Adicione vinagre balsâmico, alho e cogumelos. Refogue até ficar macio (cerca de 20‑30 minutos). 6.4 François Vatel (1635-1671) O seu verdadeiro nome era Fritz Karl Watel, de origem suíça, e foi o primeiro grande mestre de cerimônias, um organizador de eventos suntuosos para a nobreza. François Vatel prestou serviço no castelo de Chantilly para Louis II de Bourbon, o Príncipe de Condé, sendo o responsável pela organização dos banquetes, compras, escolha e controle dos fornecedores de alimentos e tudo o que dizia respeito à cozinha do castelo. Sua profissão pode ser comparada ao maître d’hotel atualmente. Demonstra‑se na figura a seguir uma refeição preparada por Vatel para o Príncipe de Condé no castelo de Chantilly. 109 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 131 Em abril de 1671, o Príncipe de Codé confiou a Vatel a tarefa de organizar uma festa em homenagem a Luís XIV com cerca de dois mil convidados. Toda a recepção foi marcada por alguns contratempos, principalmente devido à comitiva do rei ter sido maior do que era previsto.No último dia das festividades, no banquete principal, seriam servidos peixes e lagostas. Ao amanhecer, Vatel perguntou sobre a chegada do carregamento de peixes e soube que apenas duas cestas haviam chegado. Depois dessa notícia foi para o seu quarto, apoiou sua espada na porta e, atirando‑se sobre a lâmina, cometeu suicídio. Pouco tempo depois as cestas de peixes chegaram. A seguir, observa‑se uma figura em livro do século XIX, demostrando o suicídio de Vatel. Figura 132 110 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Vatel é considerado o responsável por consagrar o uso e batizar o creme chantilly, que foi nomeado em homenagem ao castelo onde ele trabalhava. Apesar de alguns apontarem Vatel como inventor do chantilly, conforme alguns historiadores, os confeiteiros de Catarina de Médici já realizavam essa preparação. Saiba mais Para conhecer melhor sobre François Vatel, veja o filme: VATEL: um banquete para o rei. Dir. Roland Joffé. França; UK; Bélgica, 2000. 117 minutos. 6.5 Marie Antoine (Antonin) Carême (1783-1833) Figura 133 Marie Antoine (Antonin) Carême é considerado o pai da haute cuisine (alta culinária) e um dos primeiros chefs de renome internacional. Carême foi chamado de “cozinheiro dos reis e rei dos cozinheiros”, entretanto, sua carreira tem origem humilde, iniciando seu aprendizado em tabernas e estalagens mais modestas. Ele nasceu em Paris em 1784, seu pai já tinha catorze filhos e o abandonou aos oito anos de idade. Assim, o destino o levou a ser criado por uma taberneira, que lhe deu suas primeiras aulas sobre culinária. Com dezessete anos foi trabalhar como aprendiz de Silvain Bailly na famosa confeitaria Bailly. Nesse local se tornou célebre pela criação das pièces montées (peças montadas) que ficavam expostas na 111 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA vitrine. Ele criava essas obras à base de marzipã e açúcar para serem usadas como decoração e tinha livros de arquitetura como fonte de inspiração. A figura a seguir mostra ilustrações das criações artísticas‑gastronômicas de Carême. Figura 134 A seguir, Carême prestou seus serviços para monsieur de Lavalette, cuja mesa era famosa e recebia os homens mais ilustres da época. Posteriormente, permaneceu doze anos na casa do príncipe Talleyrand e, então, foi chamado como cozinheiro‑chefe do príncipe regente da Inglaterra, o rei George IV, onde ficou por dois anos. Ainda trabalhou em São Petersburgo, na Rússia, para o czar Alexandre I e para o Barão de Rothschild. De acordo com Freixa e Chaves (2008, p. 132), a importância de Carême para gastronomia é extraordinária: Os molhos de base, usados ainda hoje na culinária profissional e alguns criados pelos seus antecessores, foram reunidos e aperfeiçoados por Carême para fundamentar as bases da cozinha profissional. O chef considerou clássicos quatro molhos: o bechamel (molho branco feito com leite, sal, manteiga, farinha de trigo, noz‑moscada), o velouté (à base de manteiga, farinha de trigo e caldo de vitela), o alemão (manteiga, farinha de trigo, ovo, vinagre de vinho) e o espanhol (manteiga, farinha de trigo, caldo de carne, purê de tomates). A partir desses molhos básicos, seria possível preparar dezenas de outros molhos compostos. 112 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Observação Foi Carême que, preocupado com a higiene dos funcionários nas cozinhas, instituiu o uso de uniforme e da touca branca (toque blanche) para os chefs. Figura 135 Em 1833‑34, Carême publicou o livro L’Art de la Cuisine Française (A Arte da Cozinha Francesa), no qual apresentava ideias para o planejamento de cardápios e receitas diversas. Seu trabalho como chef e artista da confeitaria, desenhista e autor de livros o coloca em outro patamar em relação aos chefs do período. 6.6 Nicolas-François Appert (1749-1841) Figura 136 113 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Nicolas Appert foi o inventor francês da preservação hermética dos alimentos, o que o tornou conhecido como o “pai das conservas”. No período de 1784 a 1795, ele trabalhou como chef confeiteiro e chef de cozinha em Paris. Em 1795, começou a experimentar diversas maneiras de tentar preservar os alimentos, como sopas, vegetais, sucos, produtos lácteos e geleias. Ele colocava o alimento em uma jarra que era selada com uma tampa de cortiça e cera de vela e depois colocada em água fervente. O Ministério do Interior da França concedeu‑lhe um pagamento de 12 mil francos sob a condição de tornar seu processo público. Ele aceitou e publicou um livro descrevendo seu processo de conservação, The Art of Preserving Animal and Vegetable Substances (A Arte de Preservar Substâncias Animais e Vegetais). Este foi o primeiro livro de receitas que continha métodos modernos para preservação dos alimentos. Em 1810, o inventor e comerciante britânico Peter Durand patenteou seu próprio método de conservação, mas desta vez em uma lata, criando assim o processo moderno de conserva dos alimentos. 6.7 Jules Gouffé (1807-1877) Nascido em Paris, foi um renomado chef e pâtissier, que recebeu a alcunha de “apóstolo de culinária decorativa”. Seu aprendizado iniciou‑se sob a supervisão de seu pai, que possuía uma pâtisserie em Paris. Jules Gouffé tornou‑se aluno de Antonin Carême aos 16 anos e iria trabalhar com ele durante sete anos. Seu primeiro grande trabalho foi durante um baile realizado em 1823, em Paris, para homenagear o Duque de Angoulême, com a presença de 7.000 convidados. Em 1840, abriu uma loja que brevemente ganhou fama nacional. Em 1867, aceitou uma oferta de Alexandre Dumas para se tornar o chef do Jockey Club de Paris. Enquanto ele ocupava essa posição, começou a escrever os livros que lhe assegurariam renome para posteridade. A maioria de suas obras foram traduzidas para o inglês por seu irmão Alphonse Gouffé, chefe de pâtisserie da Rainha Victoria. Jules Gouffé teve um impacto profundo na evolução da gastronomia francesa. Reunindo um imenso conhecimento sobre o assunto, ele escreveu o Le Livre de Cuisine (O Livro da Cozinha) e o Le Livre de Pâtisserie (O Livro da Pâtisserie). Reverenciado por grandes nomes, como Bernard Loiseau e pesquisadores da gastronomia molecular, como Hervé This, seu legado ainda é duradouro entre os chefs atuais. Escreveu outros livros como The Royal Book of Pastry and Confectionery (O Livro da Realeza de Pâtisserie e Confeitaria) e The Book of Soups (O Livro das Sopas). 114 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 137 – Ilustração contida no O Livro da Cozinha (1867), de Jules Gouffé O livro também ensinava as técnicas de cozinha, por exemplo, como tornear os cogumelos e a desossar o frango, conforme demonstram as figuras a seguir. Figura 138 Figura 139 115 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Os primeiros livros de culinária em cores começaram a surgir depois de 1850, possibilitando que preparações de confeitaria de Jules Gouffé aparentassem ser muito mais apetitosas. Figura 140 6.8 Auguste Escoffier (1846-1935) Auguste Escoffier tornou‑se o chef mais notável e influenciador do final do século XIX. Ele foi responsável por simplificar as preparações e as decorações suntuosas de Carême, dado que sua cozinha privilegiava destacar os gostos dos alimentos sem as grandes ornamentações. Escoffier modernizou e sistematizou a haute cuisine (alta gastronomia). Escoffier debutou no ambiente da cozinha aos 13 anos com seu tio, que dirigiaum famoso restaurante em Nice. Em 1865, ele começou a trabalhar no restaurante Petit Moulin Rouge, em Paris, onde exerceu o cargo de chef garde‑manger e, posteriormente, de chef saucier. Após ter ido 116 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II para guerra, ele voltou a Paris para chefiar outros restaurantes. Em 1884, ele foi contratado por César Ritz para assumir o controle das cozinhas do Grand Hotel, em Monte Carlo. A partir desse momento, iria estabelecer uma parceria duradoura com César Ritz, tornando‑se responsável pelos restaurantes de seus hotéis de luxo. Em 1898, eles inauguraram o Ritz de Paris, considerado um dos hotéis mais luxuosos na época. A imagem a seguir apresenta Céser Ritz, Max Pfyiffer, arquiteto hoteleiro, e Auguste Escoffier. Figura 141 Escoffier também foi responsável por planejar as cozinhas dos navios pertencentes à frota da Hamburg‑Amerika Lines. Em uma dessa viagens, o kaiser Guilherme II proclamou a célebre frase sobre o talento de Escoffier: “Eu sou o Imperador da Alemanha, mas você, você é o Imperador dos cozinheiros”. Ele foi responsável por reformular os métodos da cozinha, racionalizando a divisão de tarefas na brigada e preocupando‑se com a imagem do cozinheiro, que deveria sempre ser organizado e estar limpo. Em 1903, Escoffier publicou sua primeira e principal obra, o Le Guide Culinaire (O Guia Culinário), voltado especialmente para o profissional da cozinha e àqueles mais experientes, contendo cerca de cinco mil receitas. É uma das obras mais importantes para o desenvolvimento da culinária clássica na França. Escoffier também é conhecido por ser o criador de uma receita clássica da confeitaria, os “Pessegos Melba”, elaborada para agradecer a soprano australiana Nellie Melba pelo prazer de ter ouvido sua obra. A imagem a seguir mostra Auguste Escoffier (no primeiro plano à esquerda) cumprimentando o primeiro‑ministro Edouard Herriot na celebração de um banquete realizado em sua homenagem como melhor chef da França. 117 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 142 A seguir serão destacados três personagens extremamente relevantes para o desenvolvimento da gastronomia. De acordo com Freixa e Chaves (2008, p. 128): “Os franceses Grimond de la Reynière, Brillat‑Savarin e Alexandre Dumas foram muito importantes na história contemporânea da gastronomia e podem ser considerados os precursores dos jornalistas e críticos gastronômicos”. 6.9 Jean Anthelme Brillat Savarin (1755-1826) Jean Anthelme Brillat Savarin nasceu em Belley, na França, e foi advogado, político, filósofo e gourmet. Conforme Freixa e Chaves (2008, p. 129): Graças à obra Fisiologia do Gosto, de 1825, Jean Anthelme Brillat Savarin conquistou notoriedade entre os gourmets, gastrônomos e chefs não só de sua época: seu nome continua a ser corrente quando se fala de gastronomia nos dias atuais. Isso porque, como se não bastassem seus méritos, Brillat‑Savarin tirou a gastronomia do isolamento e a integrou aos prazeres sociais. Em sua obra, Savarin faz uma análise minuciosa dos sentidos, da mecânica do gosto, do prazer à mesa e da origem da gastronomia. Discute sobre a magreza e obesidade, sobre a influência da dieta e faz observações sobre os restaurantes, os alimentos e preparações de aves, em especial o peru, animais de caça, peixes, aspargos, trufas, açúcar, café, chocolate, entre tantos outros. 118 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A definição de Gastronomia elaborada por Brillat‑Savarin na obra A Fisiologia do Gosto é bem completa e contemporânea. Conforme o autor: A gastronomia é o conhecimento fundamentado de tudo o que se refere ao homem, na medida em que ele se alimenta. Seu objetivo é zelar pela conservação dos homens, por meio da melhor alimentação possível. [...] A Gastronomia está relacionada: à história natural, pela classificação que faz das substâncias alimentares; à física, pelo exame de seus componentes e de suas qualidades; à química, pelas diversas análises e decomposições a que submete tais substâncias; à culinária, pela arte de preparar as iguarias e torná‑las agradáveis ao gosto; ao comércio, pela pesquisa dos meios de adquirir pelo menor preço possível o que consome, e de oferecer o mais vantajosamente possível o que vende. Enfim, à economia política, pelas fontes de renda que representa à tributação e pelos meios de troca que estabelece entre as nações. A gastronomia governa a vida inteira do homem; pois os choros do recém‑nascido reclamam o seio de sua ama‑de‑leite, e o moribundo recebe ainda com prazer a poção suprema que, infelizmente não pode mais digerir (BRILLAT‑SAVARIN, 1995, p. 57‑58) Observação A denominação do bolo Savarin, sobremesa típica francesa, presta homenagem a esse autor. Essa sobremesa possui forma de anel e geralmente é feita com massa de brioche e calda de rum. 6.10 Alexandre Balthazar Laurent Grimod de La Reynière (1758-1837) Figura 143 119 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Escritor e gastrônomo francês, nascido em 1758, em Paris, Grimod de La Reynière foi o responsável por escrever, em 1803, o primeiro guia gastronômico da história, o Almanach des Gourmands (Almanaque dos Gourmands) e por estabelecer padrões de etiqueta que deveriam ser seguidos à mesa com a publicação do Manual de Amphtrions (Manual dos Anfitriões), em 1808. Grimod de La Reynière começou sua carreira escrevendo críticas de peças de teatro. Contudo, a Revolução Francesa iria ser marcante para ele: os chefs de cozinha que trabalhavam para a aristocracia ficaram sem trabalho subitamente e, na busca por atrair um novo público, abriram diversos estabelecimentos em Paris. Assim surge o crítico de restaurante, profissão que ele adotaria. Entre 1803 e 1812, Grimod de La Reynière publicou várias edições, uma por ano, do Almanach des Gourmands. Os livros continham críticas dos pratos, dos chefs e dos restaurantes, além de ser um guia perfeito para destacar a nova imagem da gastronomia, que depois da Revolução Francesa havia deixado os palácios e os nobres e ficado ao alcance da burguesia. Além das críticas, o guia continha um roteiro de Paris com indicação dos restaurantes, cafés e lojas de produtos gastronômicos. Figura 144 Conforme Freixa e Chaves (2008, p. 128): La Reynière estabeleceu o padrão de comida parisiense e da cozinha francesa, divulgando inclusive os grandes chefs da época. O Almanaque era lido também em Londres e foi um dos meios que contribuiu para a fama de Paris como centro gastronômico. Como uma maneira de fazer pesquisas para a publicação, ele convidava amigos para jantares. Esses amigos provavam as comidas enviadas pelos restaurantes e as julgavam para serem publicadas 120 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II no Almanaque. As suas opiniões, muitas vezes controversas, arruinaram muitos chefs e restaurantes recém‑inaugurados, ou mesmo os mais antigos. Em 1808, ele publicou o Manual de Amphtrions (Manual dos Anfitriões), um guia que estabelecia as regras de comportamento à mesa com um conjunto de princípios claros que deveriam ser respeitados nos banquetes e refeições pelos convidados e anfitriões. 6.11 Alexandre Dumas (1802-1870) Alexandre Dumas, o célebre autor de livros como O Conde de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros, era um grande gourmet, um apaixonado pela gastronomia que adorava comer e beber bem e amigo dos maiores chefs da época. O escritor francês era neto de um dono de estalagem na estrada para Soissons, região ao norte da França, a cerca de 100 quilômetros de Paris.Nesse local lhe foi apresentada a culinária mais rústica, influenciando várias receitas suas que tinham esse apelo. Um exemplo é um assado de aves em três estágios, em que eram assados de uma só vez um ganso, seis galinhas e uma dúzia de codornas. A gordura e o suco da primeira ave temperava a segunda, que também enriquecia com esses sucos a terceira. Alexandre Dumas era muito orgulhoso de suas habilidades culinárias, mas somente em 1869, já no final de sua vida, que ele começou a escrever o Grand Dictionnaire de Cuisine (O Grande Dicionário da Cozinha). Na obra, ele apresenta receitas, memórias pessoais, anedotas e reflexões sobre os alimentos de todos os tipos. Ele terminou o manuscrito do livro em 1870, apenas alguns meses antes de sua morte, e a obra foi publicada postumamente em 1873. Saiba mais Para saber mais sobre Alexandre Dumas, leia a obra: DUMAS, A. Grande dicionário de culinária: inclui receitas e ilustrações. Organização da edição brasileira e tradução, André Telles; seleção das receitas, Sandra Secchin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 6.12 Charles Durand (1766-1854) O chef francês Charles Durand viveu principalmente em Nimes. Aos treze anos, começou sua carreira como cozinheiro do bispo de Alès e também prestou serviços na cozinha dos bispos de Nîmes e Montpellier. É autor do livro Le Cuisinier Durand, escrito em 1830, no qual desenvolve e discorre sobre o conceito de cozinha regional. Em seu livro publicou e tornou famosa a receita de brandade de bacalhau, muito difundida e consumida até hoje. 121 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Charles Durant ficou conhecido como o “Carême da cozinha provençal”, visto que foi responsável pela valorização das culinárias regionais que eram desconhecidas em outras áreas do país. 6.13 Urbain Dubois (1818-1901) Chef francês, autor de uma série de livros de receitas que se tornaram clássicos da culinária francesa. Ele nasceu em Trets, na França, em 1818. Urbain Dubois iniciou como cozinheiro trabalhando no hotel do seu tio e se desenvolveu nas cozinhas da família Rothschild. Posteriormente, trabalhou no famoso Café Anglais sob as ordens do chef Adolphe Dugléré, mas foi no exterior que sua carreira ganhou reconhecimento. Primeiramente, trabalhou na Rússia, com o príncipe Alexey Orlov, e, em seguida, na Alemanha. Em 1860, ele se tornou chefe do regente de Berlim, William I. Sua receita mais famosa é Veal Orlov (vitela Orlov), prato criado em homenagem ao príncipe russo para o qual trabalhou. Suas principais obras são: • La Cuisine Classique (A Cozinha Clássica,1856), com colaboração de Emile Bernard. • La Cuisine de Tous les Pays (A Cozinha de Todos os Países,1868). • La Cuisine Artistique (A Cozinha Artística,1870). • L’école des Cuisinières (Escola de Culinária,1876). • La Nouvelle Cuisine Bourgeoise Pour la Ville et Pour la Campagne (A Nova Cozinha Burguesa para a Cidade e para o Campo, 1878). • Le Grand Livre des Pâtissiers et des Confiseurs (O Grande Livro da Pâtisserie e Confeitaria, 1883). 6.14 Fernand Point (1897-1955) Fernand Point é considerado um dos maiores chefs franceses e precursor da nouvelle cuisine. Nasceu em Louhans, na França. Seu pai dirigia um hotel na estação ferroviária da mesma cidade, onde também trabalhavam sua mãe e sua avó, que possuíam formação no Le Cordon Bleu e eram as responsáveis pela cozinha. É nesse ambiente que Point inicia aprendizado e, posteriormente, segue para Paris para trabalhar no famoso Restaurante Foyot. Depois, atua em outros estabelecimentos e, finalmente, no hotel Royal of Evian. Em 1922, a família mudou‑se para Vienne (próximo de Lion) e abriu um restaurante, que, dois anos depois, foi passado para o filho, que o rebatiza como La Pyramid. Fernand Point direciona sua cozinha pela qualidade e frescor dos produtos, e a execução das receitas ocorre por meio de uma cuidadosa cocção e preparação meticulosa. Para ele, as coisas mais simples na aparência de um prato são muitas vezes as mais difíceis de perceber. 122 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II O restaurante La Pyramid foi considerado a meca da cozinha francesa na época. Diversas personalidades influentes vieram provar sua cozinha. Fernand Point foi considerado um dos três grandes chefs franceses do período entre as guerras, juntamente com Alexandre Dumaine e André Pic. Ele mesclou o clássico de Escoffier com uma nova cozinha que privilegiava a sazonalidade dos produtos, modificando o menu diariamente e comprando os alimentos de acordo com a época do ano. O preparo do prato deveria acontecer na hora, no dia, pois entendia que a grande cozinha não podia ficar estagnada. O chef profissional deveria ser criativo, modificando e refinando sua cozinha para sempre se aprimorar. Segundo Atala e Dória (2008, p. 178‑179): Fernand Point, por exemplo, não se tornou legendário por suas criações, mas por uma nova concepção do fazer culinário, uma redefinição da instituição “restaurante” e, sobretudo, uma nova atitude diante do saber. Seu nome é lembrado com frequência pelos que passaram por seu estabelecimento – La Pyramide, em Viena. Aprenderam com ele os principais chefs da nouvelle cuisine: Paul Bocuse, Alain Chapel e os irmãos Troisgros. Ele foi, portanto, um grande formador de chefs, um professor. Ele acreditava que uma das principais responsabilidades de um chef é ensinar o que aprendeu com os seus mestres, acrescentando a esse saber sua experiência pessoal. Ele também queria saber como tinha sido a experiência dos clientes em seu restaurante; costumeiramente, ia ao salão conversar para saber a opinião sobre os pratos e até mesmo compor com os comensais mudanças no menu de acordo com seus gostos. Conforme Atala e Dória (2008, p. 179): Point concebia a refeição como uma experiência total, na qual incidiam a atmosfera, a cozinha, os vinhos, a decoração do restaurante e, claro, a segurança que o chef conferia ao comensal como avalista dessa experiência multissensorial e afetiva. Deve‑se a ele a ruptura com o padrão anterior de restringir o chef aos estritos domínios da cozinha. Se Carême era considerado o “rei dos cozinheiros” e Escoffier uma espécie de representante do desejo do cliente junto ao fogão, com Fernand Point o chef tornou‑se uma figura também do salão – traço que seu aluno Paul Bocuse tão bem assimilou e desenvolveu. A projeção pública do chef nasceu, portanto, em meados do século XX e, com ela, a valorização moderna da gastronomia. Algumas das anotações e cardápios de Fernand Point se constituíram em um caderno gastronômico, que depois se tornou o livro Ma Gastronomie (Minha Gastronomia). A seguir, alguns dos seus principais ensinamentos, que devem ser muito bem assimilados pelos chefs atuais e futuros: 123 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA • O cozinheiro perde sua reputação quando se torna indiferente ao seu trabalho. • A grande cozinha não deve jamais esperar pelo convidado; é o convidado que deve esperar pela grande cozinha. • A desatenção não é permitida em nenhum momento na cozinha. • Quando você pensa na alta gastronomia, não pode pensar em dinheiro, esses dois são incompatíveis. A alta gastronomia pode ser extremamente cara, mas isso não significa que não possam ser preparadas boas refeições com ingredientes mais econômicos. • Toda manhã o cozinheiro deve começar tudo novamente do zero, com nada em cima do fogão. Isso é o que significa a verdadeira cozinha. • Para um chef ser respeitado, sua superioridade não pode ser posta em dúvida. Ele deve demonstrar excelência em tudo, inclusive na área de confeitaria e nas compras para os cardápios. • A melhor cozinha é aquela que leva em consideração os produtos da estação. • Sucesso éa soma de uma grande quantidade de pequenas coisas feitas corretamente. • Se o criador divino sofreu para nos dar coisas excepcionais e deliciosas para comer, o mínimo que podemos fazer é preparar bem os alimentos e servi‑los com requinte. • Todos os países, todas as regiões, têm suas especialidades locais sobre as quais é inconsequente dizer que não são bons produtos, porque a natureza atende a todos os gostos. • No que diz respeito à culinária, é preciso ler tudo, ver tudo, ouvir tudo, tentar tudo, observar tudo, a fim de manter, no final, apenas um pouco. Observação Fernand Point pregava que todas as louças, talheres e utensílios tinham que ser da melhor qualidade; a excelência de um restaurante somente era mantida quando tudo aquilo oferecido fosse extraordinário. Ele sempre procurava a perfeição. 6.15 Alexandre Dumaine (1895-1974) Alexandre Dumaine nasceu em 1895, na Borgonha. Aos doze anos se tornou aprendiz de cozinheiro no Hotel de la Poste, o que abriu caminho para que ele se tornasse um chef renomado de grandes estabelecimentos como Carlton, em Vichy, e o Café de Paris. Em 1922, juntamente com sua esposa Jeanne Dumaine, veio a trabalhar para a Companhia Geral Transatlântica, na Argélia. Em 1932, voltou à França e abriu, com a ajuda de Jeanne, a Hostellerie de la Cote d’Or, em Saulieu. 124 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Em 1935, seu restaurante foi condecorado com a prestigiada terceira estrela do Guia Michelin e as manteve por praticamente três décadas, até 1964. Os clientes que prestigiavam seu restaurante, na rota entre Paris e a Riviera Francesa, eram o Rei Alfonso XIII da Espanha, Orson Welles, Edith Piaf, Charlie Chaplin, Vivien Leigh, Gary Cooper, Salvador Dalí, entre outros célebres comensais. Alexandre Dumaine escreveu a obra Ma Cuisine (Minha Cozinha), com a colaboração de Henry Clos‑Jouve e Roger Arnoux, que era seu chef de confeitaria. Ele se aposentou em 1964, e a Hostellerie de la Cote d’Or foi assumida pelo seu subchefe, Claude Verger, que, em 1975, contratou o promissor jovem chef Bernard Loiseau. Bernard Loiseau, após sete anos de administração, adquiriu o restaurante em 1982, que foi renomeado como Relais Bernard Loiseau. Em 2003, após a morte do chef Bernard, sua esposa e Patrick Bertron (seu aluno e braço direito por 20 anos) assumiram a Hostellerie de la Cote d’Or. 6.16 André Pic (1893-1984) Cozinheiro francês nascido em Saint‑Péray, iniciou sua carreira em uma pousada familiar administrada por seus pais chamada Auberge du Pin. Sua mãe foi a responsável por transmitir seus primeiros conhecimentos culinários. Ele trabalharia em diferentes casas antes de retornar, em 1929, à cozinha da pousada, que rapidamente se tornaria uma visita gastronômica obrigatória. Lembrete O chef André Pic será considerado, ao lado de Fernand Point e Alexandre Dumaine, um dos três maiores chefs franceses no período entre as guerras (1918 a 1939). Seu restaurante é coroado com as três estrelas Michelin em 1934 e assim permanece até 1939. Em 1936, com o crescimento da indústria automobilística, André Pic mudou‑se para Valence, região provençal na França. Em 1950, depois de problemas de saúde, deixou o restaurante para seu filho Jacques Pic, que assumiu a cozinha. Atualmente, é a neta de André, Anne‑Sophie Pic, que perpetua a dinastia da família na gastronomia francesa. Observação Em 2007, aos 37 anos, a jovem chef Anne‑Sophie Pic tornou‑se a quarta mulher da história do Guia Michelin a ser agraciada com as três estrelas. Até então, somente tinham sido contempladas Eugenie Brazier, do Mère Bourgeois, de Priay, em 1933; e Marguerite Bise, em 1951, do restaurante L’Auberge du Père Bise, em Tailloires. Anne‑Sophie Pic pertence à quarta geração de uma família de cozinheiros que abriram o primeiro restaurante em 1881. 125 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA 6.17 Paul Bocuse (1926-2018) Paul Bocuse nasceu em Lyon, na França, e tornou‑se uma lenda no mundo da gastronomia. Foi um dos chefs que participou ativamente do movimento da nouvelle cuisine. Sua cozinha valorizava o sabor natural dos alimentos e a importância de ingredientes frescos e de alta qualidade. Além de ser um chef reconhecido mundialmente, foi um grande empresário. Pioneiro em misturar a arte de cozinhar com táticas comerciais de negócios para a valorização da gastronomia e de sua personalidade, foi sócio de restaurantes no parque de diversões Epcot, do grupo Disney, na Flórida, e na Disneyland de Paris, além de diversos outros lugares. Figura 145 Absorvendo as lições da mãe e outros chefs com quem trabalhou, como Fernand Point, Bocuse ajudou a transformar a cidade de Lyon em um dos destinos culinários mais conhecidos da Europa e se tornou o chef mais influente de sua geração. Ele foi a inspiração para criação do chef francês na animação Ratatouille (2007). Por sua arte e inovações na cozinha, Paul Bocuse recebeu as principais honras de sua profissão, incluindo a classificação de três estrelas Michelin, mantidas por mais de cinco décadas. O Culinary Institute of America o proclamou como chef do século. A seguir, imagem da mesa de queijos no restaurante Paul Bocuse em Lyon, na França. 126 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 146 Ele escreveu livros de receitas, apareceu em programas de TV de culinária veiculados internacionalmente, criou a Fundação Paul Bocuse, em Lyon, e o Bocuse d’Or, uma competição internacional para jovens chefs, que se tornou uma grande vitrine culinária desde 1987. Na sequência, o interior de seu restaurante em Lyon. Figura 147 Observação Ao exercer a profissão de crítico gastronômico, Grimod de La Reynière determinou as bases para o início de uma nova maneira de ver a gastronomia. O Almanach des Gourmands é o precursor dos guias gastronômicos atuais. 127 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA 6.18 Os principais chefs contemporâneos A seguir, veremos alguns dos principais chefs mundiais que têm influenciado as tendências gastronômicas na atualidade. 6.18.1 Ferran Adrià O espanhol Ferran Adrià é reverenciado como um dos maiores e mais importantes chefs da atualidade. A revista The Restaurante Magazine elegeu o seu restaurante El Bulli por cinco vezes como o melhor do mundo, que também ganhou o prêmio S. Pellegrino por quatro anos consecutivos Nascido em 14 de maio de 1962, em Santa Eulália, província de Barcelona, Espanha, Ferran Adrià foi o criador do conceito da cozinha tecnoemocional. Suas preparações sempre buscaram surpreender os clientes, aliando os princípios científicos às técnicas de cozinha. Sua carreira iniciou‑se em 1980, quando conseguiu um emprego como lavador de louças no pequeno Hotel Playafels, onde o chef do restaurante o iniciou na cozinha clássica. Entre 1981 e 1982 foi para o balneário de Ibiza e, quando retornou a Barcelona, trabalhou em vários estabelecimentos, inclusive no prestigiado restaurante Finisterre, onde ganhou experiência e no qual permaneceu até ir para o serviço militar. Em agosto de 1983, ele foi trabalhar no El Bulli e, pouco tempo depois, recebeu o cargo de chefe de partida. A partir desse momento, sua carreira ficaria vinculada ao restaurante e ao progresso desse empreendimento ao longo do tempo. Ferran Adrià instituiu e disseminou novas técnicas de cozinha, como a desconstrução dos pratos, as espumas criadas usando os sifões e o uso do nitrogênio líquido. O restaurante El Bulli tornou‑se uma das maiores referências da gastronomia mundial, enquanto o próprio Ferran Adrià foi reconhecido como um dos melhores chefs do mundo. Em 2012, o chef fechou seu restaurantepara se dedicar às pesquisas no seu instituto, o El Bulli Lab. Atualmente, em conjunto com seu irmão Albert Adrià, possui alguns restaurantes em Barcelona. Observa‑se na sequência um prato clássico do chef, a esferificação de chá. Figura 148 128 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 6.18.2 Rene Redzepi Figura 149 O chef dinamarquês Rene Redzepi começou sua carreira em 1993 no restaurante Pierre André, em Copenhague. Trabalhou no Le Jardin Des Sens, restaurante de categoria 3 estrelas Michelin, em Montpellier, na França, no renomado El Bulli, com Ferran Adrià, e também com outro grande chef, o americano Thomas Keller. Em 2003, ele abriu o restaurante Noma, que já foi premiado como melhor restaurante do mundo quatro vezes pela revista Restaurant. Rene Redzepi é considerado um dos chefs mais influentes do cenário gastronômico atual e foi responsável por revolucionar e trazer a cozinha nórdica para os holofotes. O chef pesquisou os alimentos usados na região e baseou sua cozinha em seu próprio patrimônio cultural, enfatizando o uso dos ingredientes locais, como vegetais e frutos do mar, na utilização daquilo que a própria natureza oferece de acordo com as estações do ano e nos métodos ancestrais de conservação, como a defumação. Em seu menu, procura interferir o menos possível nos ingredientes, pois acredita que os alimentos devem ser usados em seu máximo frescor. Ele e sua equipe de subchefs produzem e coletam alimentos na região do restaurante e usam o mínimo de produtos externos na concepção do cardápio; entre as poucas exceções, encontram‑se o café e o vinho. A seguir, apresentam‑se alguns dos pratos do restaurante Noma, nos quais percebe‑se essa busca pelos alimentos regionais e frescos. 129 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Figura 150 – Torta de Rabanete Figura 151 – Caranguejo‑rei (king‑crab) com gema de ovo Figura 152 – Fatia de maçã com flores de elderflower (sabugueiro) 130 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 153 – Ruibarbo com ervas e óleo extraído de algas marinhas Figura 154 – Flores de capuchinha com caracóis suecos Figura 155 – Mousse de leite de ovelha com azedinha 131 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA Saiba mais No Brasil, a azedinha e as flores de capuchinha são plantas pouco utilizadas na gastronomia, por essa razão são consideradas Panc (plantas alimentícias não convencionais). Para saber mais sobre as Pancs brasileiras, leia: LORENZI, H.; KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não convencionais – Panc no Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2014. Observação Para a identificação e uso das Pancs é importante destacar que o conceito de plantas não convencionais varia de acordo com cada local. Por exemplo, a ora‑pro‑nóbis é considerada Panc, pois, apesar de muito utilizada na cozinha mineira, em outros lugares do País não é comum seu uso nas preparações. 6.18.3 Heston Blumenthal Nascido em Londres em 1966, Heston Blumenthal é considerado, juntamente com Ferran Adrià, um dos maiores estudiosos da cozinha molecular/tecnoemocional. Ele é reconhecido como parte da vanguarda da gastronomia atual e sua cozinha multissensorial é exibida no restaurante The Fat Duck, em Bray, na Inglaterra. O chef é famoso por estimular, através das refeições servidas, todos os sentidos dos clientes. Seus estudos sobre os alimentos o levaram a trabalhar com historiadores, perfumistas e bioquímicos. As obras de Harold McGee que tratam da ciência dos alimentos influenciaram sua cozinha e proporcionaram ao chef a possibilidade de explorar o lado sensorial da comida e o impacto dos aromas e do gosto no paladar, na memória e no bem‑estar emocional. Saiba mais Para mais informações, leia a obra: MCGEE, H. Comida e cozinha: ciência e cultura da culinária. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. 132 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Blumenthal trabalhou em diversas cozinhas londrinas e fez várias viagens para a França com intuito de visitar restaurantes, vinhedos, degustar queijos, conhecer açougueiros e produtores artesanais para se aperfeiçoar. Em 1995, abriu seu primeiro restaurante, o The Fat Duck, que em nove anos ganhou três estrelas Michelin e foi nomeado, em 2005, “O Melhor Restaurante do Mundo” nos Prêmios “50 Melhores Restaurantes do Mundo” da Revista Restaurant. A seguir podem ser vistas imagens do chef e de suas obras culinárias. Figura 156 Figura 157 – Gaspacho de beterraba com sorvete de mostarda 133 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TENDÊNCIAS EM GASTRONOMIA 6.18.4 Joan Roca Esse premiado chef catalão do restaurante El Celler de Can Roca tem como sócios no empreendimento seus irmãos, Josep, que trabalha como sommelier, e Jordi, que exerce a função de pâtissier. Os irmãos Roca começaram suas carreiras culinárias em um bar de propriedade da família, onde sua mãe servia culinária catalã clássica para uma clientela fiel. Eles estudaram na Escola d’Hosteleria de Girona, e Joan Roca se aperfeiçoou realizando viagens gastronômicas e trabalhando sob a orientação de chefs renomados como Joël Robuchon. Posteriormente, abriram um restaurante anexo ao bar e começaram suas carreiras vitoriosas na gastronomia. No restaurante elaboram pratos tradicionais com técnicas de vanguarda, o que implica pesquisa e equipamentos especiais. As principais técnicas utilizadas são o sous‑vide, cozinha com perfumes e a destilação. Sobre o uso das essências e perfumes dos alimentos na gastronomia, o caderno paladar do jornal Estado de São Paulo descreveu: Os irmãos Roca também vivem às voltas com perfumes na cozinha do três‑estrelas El Celler de Can Roca, na Catalunha. As pesquisas começaram por causa da mexerica, o aroma preferido de Jordi, o pâtissier da família – Joan é o chef e Josep, o sommelier. Um dia, ao receber uma caixa da fruta, Jordi identificou no aroma uma nota do perfume Eternity, de Calvin Klein. Foi o que motivou a criação de sobremesas inspiradas em perfumes famosos. “O cliente cheira o perfume num papel e recebe um doce com a mesma composição aromática”, conta Jordi, que já fez 25 sobremesas desta série. Com um perfumista, ele acaba de participar de um processo inverso: a criação de um perfume infantil, o Nüvol, inspirado num doce de limão. Os irmãos alquimistas batizaram de “perfumecocción” o uso de aromas voláteis que se desprendem de especiarias como açafrão e pimentas durante a cocção. Parece complicado, mas o método que usam é simples: no fundo de uma caçarola, colocam as ervas e, sobre elas, uma peneira de metal com um crustáceo, por exemplo, mantendo um espaço entre os temperos e a peneira. Submetidos a altas temperaturas, vapores secos são liberados e penetram no alimento. Além deste método, eles também fazem destilação a frio. “Usamos um alambique giratório conectado a uma bomba a vácuo que nos permite separar os princípios aromáticos de um produto, obtendo uma água translúcida com todo o seu sabor e o aroma sutil e volátil”, diz Jordi. Usando esse método, já destilou camarão, rosas, limão, frango e até terra (OS CHEFS‑PERFUMISTAS..., 2010). O restaurante El Celler de Can Roca foi eleito em 2013 e 2015 o melhor restaurante do mundo pela revista Restaurant. 134 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Na imagem a seguir, pode‑se ver o chef Joan Roca trabalhando em suas preparações. Figura 158 Observa‑se a seguir o prato realizado
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