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Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini DERMATITE ATÓPICA DEFINIÇÃO Durante muitos anos foi chamada de ‘Eczema Atópico’ e ‘Asma Cutânea’ A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória da pele, de caráter crônico e recidivante, caracterizada por prurido intenso e lesões eczematosas que se inicia em 85% das vezes na primeira infância O paciente passa por períodos de melhora e piora – faz parte da característica da doença; o paciente passa meses sem nenhuma manifestação da doença e do nada ele piora É a ÚNICA doença alérgica no mundo descrita com duas fases Th – Th2 e Th1 e isso mexe com a fisiopatologia da doença Sua associação com outras manifestações atópicas, como a asma e a rinite alérgica, é frequente Juntamente com a Asma, a Rinite Alérgica e a Alergia Alimentar, participa da MARCHA ATÓPICA – o A história natural das manifestações alérgicas, caracterizada por uma sequência típica de progressão dos sinais clínicos da doença atópica o De um modo geral, a dermatite atópica precede o desenvolvimento da rinite alérgica e da asma, sugerindo que as manifestações cutâneas sejam a PORTA DE ENTRADA para o desenvolvimento subsequente das doenças alérgicas A DA raramente leva a óbito e quando isso ocorre está relacionado principalmente às complicações advindas do tratamento inadequado Tratamento inadequado – As doenças alérgicas são doenças crônicas inflamatórias, então utiliza-se anti-inflamatórios no tratamento, principalmente os corticoides. Na DA, falamos de uma doença que acomete o maior órgão do corpo humano, a pele, então o corticoide tópico na DA é SISTÊMICO. Então, as mortes relatadas no mundo ocorrem secundárias a uma corticoterapia em que o paciente acha que está fazendo tópico, mas por passar no corpo todo, é sistêmico e isso leva a imunossupressão e consequente infecções. Isso pode ocorrer pela falha do médico ao orientar o tempo do tratamento certo (iatrogenia) ou por uso incorreto do paciente. Porém, caracteriza-se como uma doença de ALTA MORBIDADE, pelo desconforto que traz aos pacientes É uma doença característica da infância – o 85% começam nos 5 primeiros anos de vida o 2% começam acima dos 45 anos de idade Na DA moderada ou grave, 77% a 91% dos pacientes mantém os sintomas ao longo da vida adulta – por isso o objetivo de controlar na infância, para que a DA assuma uma forma mais leve OBS – Além da sua importância clínica, é considerada um FATOR DE RISCO para a Asma e a Rinite Alérgica; ou seja, prevenir a DA é prevenir toda a Marcha Atópica do paciente FISIOPATOLOGIA Alteração neurológica – alteração da inervação periférica; faz uma hiper-reatividade cutânea pela diminuição do limiar do prurido Alteração da barreira cutânea Alteração imunológica ALTERAÇÕES DA BARREIRA CUTÂNEA Uma das principais funções da barreira cutânea é o controle da permeabilidade Quando há perda desta função, a pele passa a sofrer as consequências de agressões físicas, químicas e biológicas A xerose ou pele seca na DA está relacionada a alterações da diferenciação epidérmica, do metabolismo lipídico da epiderme e ao aumento da perda de água transepidérmica Ou seja, o paciente com DA tem uma diminuição dos ácidos graxos cutâneos – então a pele fica seca, causa prurido, e deixa mais seca ainda = ciclo vicioso Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini A composição alterada dos lipídeos do extrato córneo é o defeito básico da DA levando a aumento da permeabilidade a alérgenos e irritantes O prurido intenso e a escarificação em combinação com a hiper-reatividade cutânea e a redução do limiar ao prurido, são a base do círculo vicioso na DA ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS A DA é uma doença inflamatória cutânea BIFÁSICA caracterizada por – o Uma fase inicial aguda onde há predomínio de citocinas Th2 o Uma fase posterior crônica com predominância Th1 TH2 X TH1 No perfil Th2, a IL-4 estimulará os LB a produzirem IgE, enquanto a IL-5 induzirá a síntese e a maturação dos eosinófilos A IgE ligada aos mastócitos provoca a sua desgranulação com liberação dos seus mediadores, causando prurido e eritema que são observados na fase aguda da DA Além disso, as CL ativadas passam a liberar citocinas, bem como os macrófagos também liberam citocinas, que serão responsáveis pelo recrutamento de outras células pró- inflamatórias O sistema imunológico começa a ativar Célula de Langerhans e os macrófagos que recrutam outras células pró-inflamatórias – Entre estas células há células dendríticas epidérmicas inflamatórias (CDEI) – mudam o perfil de citocina produzida pelo paciente Uma vez ativadas, passam a sintetizar e a liberar IL-12, que promove a mudança no padrão de Th2 para Th1, caracterizando a fase crônica da DA o Nesta fase, há produção de IL-12 e INF-gama O INF-gama leva a polarização para mais Th1 – então tem a IL-12 e o INF-gama polarizando para Th1, logo, o paciente entra na fase crônica = MUDANÇA DE PERFIL Na Asma e em outras doenças alérgicas, não ativa-se a população celular CDEI, então NÃO tem a mudança de perfil celular FATORES DESENCADEANTES Dentre os alérgenos ambientais, o ácaro da poeira doméstica recebe maior destaque na exacerbação da dermatite atópica Agentes infecciosos – o O Staphylococcus aureus coloniza mais de 90% das lesões dos pacientes com DA, podendo exacerbá-las ou mantê-las o Os fungos também merecem destaque entre os fatores desencadeantes da DA, principalmente os do gênero Malassezia TODO paciente com DA que não responde bem ao tratamento anti- alérgico, entra-se com Cefalexina (antibiótico), pensando no Staphylococcus da DA. Se não melhorar com a Cefalexina, deve-se tratar para fungos A associação entre DA e a Alergia Alimentar (AA) tem sido observada a décadas, mas até hoje seu real papel ainda permanece motivo de discussão o Estudos mostram que o alimento pode estar envolvido em até 30% dos casos de DA moderada e grave na infância QUADRO CLÍNICO O quadro clinico da DA pode variar desde as formas mais leves e localizadas, até formas mais graves e disseminadas A lesão clássica da DA é o ECZEMA, que pode ser definido como uma dermatite, com achados clínicos típicos – prurido, eritema, pápula, escamas, crostas e liquenificação Isso tem MUITA relação com a fase da doença As características clinicas variam de acordo com a faixa etária do paciente FASE INFANTIL Inicia-se a partir do terceiro mês de vida Caracteriza-se principalmente por lesões na face que geralmente poupam o maciço central Outros locais como face extensora dos membros e tronco podem ser acometidos As lesões são constituídas por eritema, pápulas, às vezes confluentes, muito pruriginosas O problema é que estamos diante de um paciente que não consegue coçar (pois esse estímulo começa apenas no final do 2º semestre da vida) Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini Logo, o lactente começa a manifestar o prurido por ficar inquieto, irritadiço, com choro frequente e fica em posição ‘relógio’ (mudando de posição, roda 360 graus) como tentativa do lactente de coçar o corpo É uma lesão úmida e exsudativa, avermelhada com pápulas e pruriginosa FASE PRÉ-PUBERAL Nesta fase, as lesões localizam-se principalmente nas dobras dos joelhos e dos cotovelos, pescoço, pulsos e tornozelos As pápulas são substituídas gradualmente por liquenificação – espessamento, escurecimento e acentuação dos sulcos da pele 60% dos pacientes apresentam melhora efetiva ou desaparecimento total das lesões nesta faseQuando não controla o paciente nessa fase, ele entra na fase adulta e tem a persistência da doença por muitos anos FASE ADULTA Na fase adulta, a liquenificação é o achado mais importante, localizada principalmente nas regiões flexurais dos braços e pernas, pescoço e nas mãos Geralmente os indivíduos que na infância apresentaram formas graves da doença são candidatos naturais à manutenção da doença na idade adulta Estes pacientes que permanecem com DA na vida adulta são na maioria aqueles que apresentam na infância quadros de alterações psicológicas importantes o Este aspecto é importante pois chama à atenção para a necessidade de maior controle do quadro emocional das doenças atópicas o O quadro emocional está relacionado pois é um fator de piora RESUMO DIAGNÓSTICO O diagnóstico da DA é essencialmente clínico Hanifin e Rajka estabeleceram critérios em 1980 para o diagnóstico da DA o 3 critérios maiores e 3 critérios menores para fechar diagnóstico Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini FATORES DE PIORA História familiar de atopia Sexo feminino Gravidade das lesões Associação com outras manifestações atópicas OBS – Quando temos os 4 fatores, provavelmente será uma mulher adulta com a dermatite atópica LABORATÓRIO IgE sérica TOTAL aumentada IgE ESPECÍFICA positiva – cutânea ou sanguínea o No paciente com DA NÃO fazemos na pele, e sim o sanguíneo Eosinofilia TRATAMENTO O tratamento da DA requer educar os pacientes em seus três aspectos – o Hidratação da pele o Evitar os desencadeantes alergênicos o Uso correto de medicações anti-inflamatórias HIDRATAÇÃO A hidratação da pele pode ser preservada e a integridade da barreira cutânea restaurada com a aplicação de hidratantes São a PRIMEIRA LINHA DE TRATAMENTO, recomendados para todas as formas da doença Ao prescrever hidratante para os pacientes com DA, deve- se evitar produtos com fragrância, conservantes e substâncias sensibilizantes Considerar a preferência de cada paciente quanto à textura em loção, creme ou pomada o Além do custo do hidratante, que será de uso diário, e em alguns pacientes várias vezes ao dia, e ao longo dos anos O uso de hidratantes de forma adequada diminui o número de crises agudas e melhora o ressecamento e também o prurido Para que a pele fique hidratada são necessárias ao mínimo DUAS APLICAÇÕES DIÁRIAS do hidratante Quando usados adequadamente, permitem diminuir o uso de corticoesteróides tópicos Recomendam-se – banhos rápidos de 5 a 10 minutos e com água morna, uso de sabonetes com pH 5,0 e 6,0 em pouca quantidade, secar com toalha macia, sem fricção e usar roupas de algodão A aplicação do hidratante deve ser realizada nos primeiros minutos após o banho, com a pele ainda úmida e deve ser aplicado na pele COM e SEM lesão Sua aplicação deve ser realizada em quantidades suficientes, em toda a pele, TODOS OS DIAS Nos períodos de crise deve ser associado ao tratamento anti-inflamatório tópico, seja de corticoesteroides ou imunomoduladores, nas áreas COM LESÃO apenas CONTROLE DA INFLAMAÇÃO O controle das crises de DA é essencial no tratamento da doença Atualmente, os medicamentos mais utilizados são os corticoesteroides e os inibidores de calcineurina, ambos de uso tópico Os corticoesteroides apresentam custos mais baixos, mas estão associados a maior numero de eventos adversos quando comparados com os inibidores de calcineurina, principalmente quando utilizados durante longos períodos CORTICOESTEROIDES TÓPICOS São agentes anti-inflamatórios, pois atuam nas células dendríticas, monócitos, macrófagos e linfócitos T e impedem a síntese de IL Os corticoesteroides controlam os principais sintomas da DA como o prurido e as lesões eczematosas Mas podem apresentas efeitos colaterais, especialmente locais quando utilizados de forma prolongada ou mesmo quando utilizados corticoides de alta potência em regiões de pele mais fina Os corticoides estão indicados assim que a lesão inicia, ou seja, de FORMA REATIVA nas crises Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini O tempo de uso recomendado nas crises é até que ocorra melhora significativa da lesão e redução da sua espessura – para isso, podem ser necessários dias a semanas Podem surgir os seguintes efeitos colaterais – o Atrofia cutânea, estrias, alterações da pigmentação, fragilidade vascular resultando em telangectasias e erupção acneiforme o Efeitos sistêmicos como supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, são raramente descritos IMUNOMODULADORES TÓPICOS – INIBIDORES DA CALCINEURINA Os inibidores da calcineurina são uma classe de medicamentos utilizados nos surtos para o controle da inflamação na DA Porém, NÃO são a primeira escolha São agentes anti-inflamatórios, pois atuam nas células dendríticas, monócitos, macrófagos e linfócitos T e impedem a síntese de IL Estão disponíveis par ao uso tópico 2 inibidores de calcineurina – o Pimecrolimo e o Tacrolimo Os efeitos colaterais locais são ardor e prurido, que reduzem após os primeiros dias da aplicação CONTROLE DO PRURIDO Prurido crônico é definido como a persistência deste sintoma por mais de seis semanas, sendo considerado comum nos pacientes com DA O sintoma do prurido é associado à redução da qualidade de vida Foi demonstrado que o prurido crônico é mais debilitante que a dor, levando à alteração do sono e humor Na DA, o prurido é considerado critério diagnóstico MAIOR nos guias de abordagem da doença É com certeza o sintoma mas referido pelos pacientes e que mais interfere com as atividades diárias A coçadura induzida pelo prurido exacerba as lesões da pele A primeira linha de tratamento do prurido nos pacientes com DA consiste na hidratação cutânea; uso de corticoides tópicos e imunomoduladores para o controle da inflamação; e anti-histamínicos orais o Embora frequentemente utilizados, os anti- histamínicos orais têm pouca atividade direta sobre o prurido do paciente com DA o A sua prescrição principal é pela indução da sonolência, por isso os de primeira geração são os preferidos Como terapias de segunda linha são indicadas a ciclosporina, ciclos curtos de corticoesteroides orais e fototerapia CONTROLE DE AGENTES IRRITANTES O vestuário deve ser leve e as roupas macias e de algodão por seu efeito mecânico de menor irritação Devem ser evitados tecidos ásperos, de lã e materiais sintéticos em contato com a pele Roupas quentes e oclusivas também podem suscitar surtos pela sudorese excessiva Usar detergentes ou sabões líquidos com pH neutro para lavar as roupas Roupas novas DEVEM ser lavadas antes do uso a fim de reduzir a concentração de substâncias potencialmente irritantes O controle adequado da temperatura interna do ambiente é importante para minimizar sudorese e prurido – preferir ar condicionado em relação ao ventilador Cobrir travesseiros e colchão com capas para minimizar os ácaros da poeira doméstica Evitar o uso de produtos cosméticos com fragrância e preferir os sabonetes líquidos suaves e com pH neutro CONTROLE DE AGENTES INFECCIOSOS INFECÇÃO BACTERIANA Em 72% dos pacientes com DA a infecção secundária é causada por S. aureus, em 16% por S. pyogenes e 14% apresentam culturas mistas A infecção bacteriana secundária se manifesta por eritema com exsudato e crostas melicéricas, mas pode haver pústulas sobre as placas de dermatite Na presença de infecção bacteriana secundária na DA, a melhora clínica dependerá do CONTROLE DA INFECÇÃO Antibióticostópicos, como mupirocina e ácido fusífico estão indicados nas infecções localizadas O tratamento sistêmico com cefalexina está indicado para os pacientes com lesões disseminadas por 7 a 10 dias de 6-6 horas Imunologia Clínica e Alergologia Prof.ª Dr.ª Samia Mascarenhas Aula 04 – 13.11.2020 Marina Cavalcante Chini CONTROLE DOS AEROALÉRGENOS A diminuição da população de ácaros pode contribuir para a redução de exacerbações das lesões cutâneas em pacientes com DA sensibilizados aos ácaros Os ácaros da poeira, devido à sua atividade enzimática, são capazes de penetrar através da barreira cutânea alterada dos pacientes com DA CONTROLE DOS ALÉRGENOS ALIMENTARES Pacientes que apresentam clínica sugestiva de alergia alimentar, confirmado por teste de provocação oral e/ou dietas de eliminação, devem ser orientados a retirar os alimentos alergênicos da dieta Entretanto, esta retirada passa por um processo de educação onde o paciente e familiares/cuidadores devem ser orientados sobre a remoção do alérgeno nas suas mais diversas apresentações DEFINIÇÃO fisiopatologia ALTERAÇÕES DA BARREIRA CUTÂNEA ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS th2 x th1 fatores desencadeantes QUADRO CLÍNICO fase infantil fase pré-puberal fase adultA resumo diagnóstico FATORES DE PIORA laboratório tratamento hidratação controle da inflamação corticoesteroides tópicos imunomoduladores tópicos – inibidores da calcineurina controle do prurido controle de agentes irritantes controle de agentes infecciosos infecção bacteriana controle dos aeroalérgenos controle dos alérgenos alimentares
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