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FUNDAMENTOS DE FINANÇAS Ricardo da Silva e Silva O gestor financeiro Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar as decisões de investimento e de financiamento dentro de uma empresa. Avaliar os aspectos considerados na tomada de decisão pelo gestor financeiro. Identificar os principais relatórios de apoio à tomada de decisão. Introdução O papel do gestor financeiro nas organizações é realizar uma série de análises e acompanhamentos que visam a compreender a situação das finanças de uma organização. Cabe, então, ao gestor subsidiar os em- presários no processo de tomada de decisão em relação às estratégias organizacionais, sobre a tomada de capital ou a possibilidade de inves- timentos empresariais. Neste capítulo, você vai conhecer os principais demonstrativos que apoiam a tomada de decisão do gestor financeiro, compreendendo os critérios de avaliação de tais demonstrativos, que permitem decidir sobre as decisões de investimento e financiamento em uma empresa, e também será possível avaliar os principais aspectos que levam o gestor financeiro a estruturar o seu processo decisório. 1 Decisões empresariais de investimento e financiamento No contexto empresarial, o gestor fi nanceiro tem papel de grande importância nas organizações. Ele tem uma série de responsabilidades de mapeamento da situação fi nanceira de uma organização, do controle dos processos que envolvem o setor fi nanceiro de uma empresa e, nesse sentido, da tomada de decisões. Assaf Neto (2006) elenca as responsabilidades do gestor fi nanceiro, sendo: o planejamento e o controle fi nanceiro, a tomada de decisão, tanto de investimento quanto de fi nanciamento, a defi nição de objetivos e, ainda, o compromisso de agir de forma ética. As empresas têm uma série de setores, áreas, departamentos e, apesar de cada um desses setores operar de forma sistêmica, em relação aos objetivos organizacionais, cada área da empresa tem atividades específicas, sendo que não há uma área mais importante que a outra. Cada uma delas faz com que seja possível alcançar as metas definidas no planejamento estratégico, tático e operacional, entretanto, o gestor financeiro e, por sua vez, o departamento financeiro, devido à relevância da saúde financeira de uma organização, têm grande importância no processo decisório. Empresas saudáveis financeira- mente têm maior capacidade de investimento em atividades e melhorias em qualquer uma das demais áreas da organização. Conforme Pina (2008, p. 1): [...] praticamente tudo o que se pensa dentro de uma corporação tem um impacto financeiro no orçamento, sendo necessária uma avaliação profunda no que diz respeito ao conhecimento, à orientação e ao uso dessa ferramenta de auxílio no que se refere à tomada de decisão. Abordadas as principais funções dos gestores financeiros nas organizações e a importância do setor financeiro no contexto empresarial, cabe destacar, então, a importância desse profissional nas estratégias de investimento, finan- ciamento e responsabilidade que competem a esse profissional. Decisões de investimento O objetivo de maior parte das empresas é a maximização dos lucros. Para que seja possível a obtenção de resultados positivos em relação aos aspectos fi nanceiros, é necessário observar indicadores que apontam os resultados das operações das empresas, como a demonstração dos resultados e o fl uxo de caixa. Estes demonstrativos apontam a estabilidade fi nanceira da organização, amparando o gestor na tomada de decisão em relação a possíveis investimentos. Nas organizações, os investimentos visam à implementação de melhorias, modificações e até expansões, com o intuito de que as empresas obtenham retorno financeiro com os financiamentos realizados. Para Gitman e Madura (2003), os investimentos possibilitam que sejam gerados fluxos de caixa, para que o capital investido retorne para as empresas. O gestor financeiro é responsável por analisar se os investimentos de fato irão apresentar o retorno esperado. O gestor financeiro2 Além dos demonstrativos citados anteriormente, há outras ferramentas de análise que permitem mensurar o retorno de possíveis investimentos das organizações e, para isso, além dos demonstrativos, outras ferramentas, que visam a estimar o retorno dos fluxos de caixa, podem ser utilizadas para subsidiar as decisões dos gestores financeiros. O processo decisório dos gestores financeiros, em relação aos investimen- tos realizados pelas empresas, pode ocorrer baseado por meio de aspectos subjetivos, ou seja, nas experiências e percepções dos gestores, mas, princi- palmente, por aspectos quantitativos baseados em fórmulas ou cálculos. Para Silva (2012, p. 7): A análise qualitativa é estritamente subjetiva. Cabe a cada empresa analisar as suas experiências para a execução dos projetos de investimentos. Já a análise quantitativa é obtida por meio de fórmulas financeiras. Consiste basicamen- te em três fórmulas: cálculo do payback; cálculo do valor presente líquido (VPL); e cálculo da taxa interna de retorno (TIR). Além disso, considera-se uma análise de taxas de juros e seleção de projetos. Cada uma das ferramentas que auxiliam o gestor financeiro na tomada de decisão é descoberta por meio de fórmulas distintas e seus resultados permitem diferentes interpretações em relação aos aspectos de investimentos para as organizações. O payback é um índice que mensura o prazo de retorno de um investimento em um determinado período, apontando em quanto tempo o empreendedor irá recuperar um investimento inicial. O ideal é que o payback seja o menor possível, mas a análise do indicador varia de acordo com o fôlego financeiro de cada empreendimento. O cálculo do payback é simples, basta dividir o investimento inicial pelo ganho de capital no período. De acordo com Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001, p. 425), “[…] o período de payback é definido como o número de anos necessário para recuperar o investimento dos fluxos líquidos de caixa descontados”. A taxa interna de retorno (TIR) representa o indicador que iguala o valor presente líquido (VPL) a zero, apontando qual taxa de um investimento não apresenta nem lucro, nem prejuízo, sendo um indicador que indica a viabi- lidade de um investimento. A fórmula da TIR iguala o VPL a zero e projeta os fluxos de caixa futuros. Conforme Schubert (1989, p. 50), a TIR permite “[…] encontrar a taxa de retorno, que fará com que o valor presente de caixa líquido esperado, ou projetado, de um investimento se iguale ao valor presente dos desembolsos de caixa aplicados no projeto”. 3O gestor financeiro O VPL é uma técnica que permite projetar para o presente os fluxos de caixa futuros de um investimento. Na fórmula para encontrar o VPL, ainda é necessário estimar uma taxa mínima de atratividade que representa o mínimo esperado de remuneração de um investimento, para que o negócio seja consi- derado viável. Souza e Clemente (2015) definem o VPL como a projeção dos valores esperados de fluxo de caixa para a data zero. O resultado do cálculo do VPL, caso positivo, indica que o investimento é financeiramente viável, e caso o VPL seja inferior a 0, o gestor financeiro está diante de um investi- mento inviável. Veja, a seguir, a fórmula do cálculo do VPL, que envolve a taxa mínima de atratividade, as projeções de fluxos de caixa e o investimento inicial (EGESTOR, 2020). Há uma série de técnicas, ferramentas e demonstrativos que possibilitam que o gestor financeiro esteja amparado no seu processo de tomada de decisão, tanto em aspectos quantitativos quanto qualitativos, dessa maneira, destaca-se a importância da gestão do financeiro. Decisões de financiamento Outra responsabilidade dos gestores fi nanceiros tem relação com a tomada de capital pelas organizações. Esta se dá pela necessidade na realização de manutenção ou crescimento do negócio. Tanto as decisões de fi nanciamento como as deinvestimento são de extrema importância, entretanto, as decisões de investimento permitem uma análise mais profunda, por meio de indica- dores e demonstrativos, enquanto as decisões de fi nanciamento carecem da percepção dos gestores sobre a capacidade de endividamento da empresa. No processo de decisão de fi nanciamento, segundo Gitman e Madura (2003, p. 6), “[…] devem ser estabelecidos os níveis de fi nanciamento de curto e longo prazos. Uma segunda preocupação, igualmente importante, é determinar as melhores fontes de fi nanciamento”. O gestor financeiro pode, ainda, em relação ao financiamento, optar por investimento de capital de terceiros ou, ainda, de capital próprio, sempre optando pela melhor opção de investimento. É importante ressaltar ainda, em relação às decisões de financiamento, que há um custo para esse capital, que pode envolver novos projetos e investimentos. O custo de capital é o retorno de um investimento feito por uma empresa. Caso o retorno financeiro de um projeto, ou investimento, seja superior ao custo de capital, há um aumento do O gestor financeiro4 valor da empresa, nesse sentido, o custo financeiro da decisão representa o custo de capital, cabendo ao gestor financeiro analisar os impactos de suas decisões. Conforme Silva (2012, p. 8), o gestor financeiro deve levar em conta, no momento de analisar a possibilidade de financiamento: O seu custo financeiro. Qual a taxa de juros? Existem impostos? Para responder a estas perguntas, os gerentes financeiros precisam avaliar: disponibilida- de de crédito; concorrência do setor bancário; retorno do negócio; risco de inadimplência; taxa de juros; nível de atividade da economia; e vantagens competitivas. 2 Aspectos importantes na tomada de decisão pelo gestor financeiro Como é possível observar, o gestor fi nanceiro tem muitas responsabilidades em relação à condução do negócio, sendo uma fi gura indispensável na coleta de informações e tomadas de decisões presentes, que irão impactar o futuro a curto, médio e longo prazos. O processo decisório de gestores fi nanceiros leva em conta alguns elementos, como a gestão de recursos disponíveis, o processo orçamentário, mas também uma série de teorias voltadas a compreender a estrutura lógica do processo de tomada de decisão dos gestores fi nanceiros. No decorrer deste capítulo serão abordados os elementos teóricos con- ceituais, que sustentam a tomada de decisão de gestores financeiros, e ainda aqueles que envolvem o dia a dia e os aspectos cotidianos desses gestores. Teorias relacionadas à tomada de decisão financeira As atividades do gestor fi nanceiro estão relacionadas à tomada de decisão de fi nanciamento, investimento, captação e análise de recursos e, ainda, à orga- nização de todo o planejamento organizacional. Levam em conta os objetivos da empresa de forma sistêmica, para guiar a condução do processo decisório, por meio da escolha das melhores estratégias que permitem o alcance de tais objetivos. Para Kalil (2011, p. 27–28), a escolha dessas estratégias “[…] nada 5O gestor financeiro mais é que a escolha dos caminhos, ou do melhor caminho, que levarão o negócio até o seu objetivo. Parece simples, mas defi nir uma estratégia, em muitos casos, é uma tarefa ampla e, inclusive, complexa”. A gestão financeira, como teoria, surge com a ampliação das funções básicas de uma empresa, abordadas por Fayol em seus estudos sobre a teoria clássica, que define a função financeira como uma das seis funções de uma empresa, descrevendo essa função como aquela relacionada ao gerenciamento de capitais. Conforme a evolução das empresas, a sua organização e estrutura e a importância que o gestor financeiro assume em relação à tomada de decisão, evoluíram também as teorias relativas ao tema gestão financeira e, princi- palmente, a forma como são tomadas as decisões por parte dos gestores. O Quadro 1 aponta os modelos teóricos que apoiam a tomada de decisão dos gestores financeiros, elencando os autores que influenciaram essas teorias, os pressupostos básicos e o impacto desses conceitos na gestão financeira contemporânea. As teorias apresentadas destacam as estratégias e os modelos teóricos que conduzem o processo de tomada de decisão dos gestores financeiros. O gestor financeiro6 Fo nt e: A da pt ad o de B ra si le iro e S ilv a (2 01 6) . M o d el o t eó ri co P ri n ci p ai s te ó ri co s P re ss u p o st o s In fl u ên ci a n a g es tã o fi n an ce ir a co n te m p o râ n ea M od el o re la ci on al M ax W eb er Te m c om o ob je tiv o al ca nç ar a m áx im a ef ic iê nc ia p or m ei o de a çõ es o rg an iz ad as e m et as p ré -d et er m in ad as . O s pr oc es so s de ci só rio s se b as ei am n o pr in cí pi o da ra ci on al id ad e ec on ôm ic a, s en do qu e as d ec is õe s do s in di ví du os p od em s er ex pl ic ad as p el a m ot iv aç ão d es se s na b us ca p el a p ot en ci al iz aç ão d os g an ho s, m es m o qu e el es a pr es en te m s ua s pr ef er ên ci as d e es co lh a. Fi na nç as co m po rt am en ta is H eb er t S im on Co m pr ee nd e o in ve st id or e o s eu co m p or ta m en to , c on si de ra do ir ra ci on al . D es sa fo rm a, v em c on te st ar a ra ci on al id ad e na to m ad a de d ec is ão p re ga da p el as te or ia s ec on ôm ic as tr ad ic io na is . Pa rt e do p rin cí pi o de q ue a s p es so as co m pr ee nd em a s in fo rm aç õe s de fo rm a di fe re nt e um as d as o ut ra s, ba se ad as e m s ua s cr en ça s e va lo re s, cu ja a da pt aç ão s e dá d e fo rm a in di vi du al , p od en do s er in fe rio r à d os ac on te ci m en to s do m er ca do fi na nc ei ro . Te or ia d os pr os p ec to s D an ie l Ka hn em an , A m ós T ve rs ky e Ri ch ar d Th al er O in di ví du o, a o to m ar u m a de ci sã o, o pt a p or um a al te rn at iv a pr ov av el m en te ra ci on al , c on tu do , ut ili za -s e de u m a vi sã o lim ita da d a si tu aç ão . Re la ci on ad o ao s as p ec to s de p er da s e ga nh os q ue o s in di ví du os s e ba se ia m no p ro ce ss o de to m ad a de d ec is ão . Q u ad ro 1 . M od el os te ór ic os d a to m ad a de d ec is ão fi na nc ei ra 7O gestor financeiro Entretanto, outros elementos são fundamentais e servem como subsídios para o processo decisório dos gestores financeiros, como a análise da estrutura financeira da empresa e a gestão dos recursos disponíveis. Recursos disponíveis e processo decisório Há uma série de elementos que podem subsidiar o gestor fi nanceiro em rela- ção ao processo decisório, entre eles os recursos fi nanceiros, disponíveis nas organizações, que auxiliam a indicar os níveis de liquidez das empresas. Esses elementos podem ter origem tanto no ambiente interno quanto no externo das organizações. Um importante aspecto, que infl uencia a tomada de decisão do gestor fi nanceiro, é o gerenciamento dos recursos disponíveis, ou seja, o capital que uma empresa tem relacionado às suas operações diárias. Roth (2011) defi ne esse capital como o fl uxo fi nanceiro de uma empresa, apontando se foi possível ou não maximizar a disponibilidade de dinheiro de uma organização. Podem ser elencados como os elementos que evidenciam os recursos disponíveis e subsidiam o processo decisório dos gestores fi nanceiros: Caixa e banco — O caixa da empresa representa o valor de liquidez imediata da organização e a capacidade que a empresa tem para saldar obrigações. Conforme Farias (2013), o gestor fi nanceirodeve acompanhar o saldo em caixa e observar se este está alinhado aos planos fi nanceiros. Contas a pagar e receber — Contas a pagar são os créditos, em geral advindos da comercialização dos produtos ou serviços de uma empresa. Todavia, as contas a receber são as obrigações das empresas relativas aos fornecedores. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000) teorizam que as contas a receber são aquelas originadas das vendas a prazo. Gitman (2002), por sua vez, aponta que as contas a pagar são os desembolsos futuros a ser provisionados. O acompa- nhamento das contas a pagar e receber possibilita observar a capacidade real de liquidez da empresa e de honrar as suas obrigações. Taxa de juros — Originada do ambiente externo das organizações, a taxa de juros representa a remuneração cobrada sobre uma negociação fi nanceira. Guerra (2001, p. 41) afi rma que juros é “[…] uma compensação em dinheiro pelo uso de um capital, por determinado tempo, a uma taxa combinada”. Cabe ao gestor observar qual é o percentual da taxa de juros para optar ou não pela realização de fi nanciamento. O gestor financeiro8 Infl ação — Também um aspecto externo que infl uencia a tomada de decisão, a infl ação é o aumento de preços de forma generalizada. Esse aumento acaba ocasionando a perda do poder de compra da população e o aumento dos custos de produção. A redução do poder de compra da população impacta nos resultados da empresa devido à redução das vendas. Todos esses elementos são indispensáveis para auxiliar a tomada de decisão do gestor financeiro, influenciam nas decisões de financiamento e investimento e na definição do processo orçamentário. Gestor financeiro, tomada de decisão e processo orçamentário No sentido de conduzir o processo de planejamento e tomada de decisão, o processo orçamentário é uma ferramenta poderosa no auxílio a gestores fi nanceiros, no intuito de defi nir como serão organizados os recursos humanos fi nanceiros e os materiais de uma organização, na busca de obtenção de seus objetivos e metas. Brookson (2000, p. 6) define e conceitua orçamento como: […] uma declaração de planos financeiros para o período que está por vir, normalmente de um ano. Em geral, imagina-se que ele deve incluir somente as entradas e as saídas de dinheiro (conta de lucros e perdas, ou de resultados), que representam, respectivamente, as receitas esperadas e as despesas autori- zadas. No entanto, o orçamento também precisa conter os planos da empresa para seus ativos e passivos (balanço orçado) e as estimativas de épocas e de valores previstos para as entradas e as saídas de caixa (fluxo de caixa orçado). O orçamento é um guia condutor no processo de tomada de decisão do gestor financeiro. As definições de como serão aplicados os recursos conduzem todas as ações, possibilitando um maior controle do capital e a forma como todos os departamentos da organização irão convergir para o processo decisório. A Figura 1 apresenta o orçamento mestre, no qual o processo orçamentário é dividido em diferentes orçamentos, o operacional, voltado ao processo produ- tivo e de comercialização de produtos ou serviços, e o financeiro, envolvendo todas as projeções financeiras e contábeis. 9O gestor financeiro Figura 1. Fluxo do processo orçamentário. Fonte: Vasconcelos (2012, p. 51). Por meio do processo orçamentário é possível definir de forma mais as- sertiva os planos e as metas organizacionais. Dessa forma, as decisões do gestor financeiro são amparadas por importantes elementos, como os recursos disponíveis, a análise e o adequado alocamento desses. 3 Principais relatórios de apoio à tomada de decisão A movimentação fi nanceira das empresas ocasiona uma série de documentos e demonstrativos que apontam a saúde fi nanceira da organização. Alguns desses demonstrativos, inclusive, representam obrigações das empresas, no sentido de manter registrados o fl uxo de capitais e as alterações relativos ao patrimônio da organização. Neste capítulo, serão apresentados os principais demonstrativos financeiros e contábeis, que servem como base para o processo decisório dos gestores financeiros. O Quadro 2 apresenta os principais demonstrativos financeiros e contábeis, a conceituação de cada um deles e, ainda, de qual forma esses demonstrativos influenciam no processo decisório das organizações. O gestor financeiro10 Fo nt e: A da pt ad o de C os ta e t a l. (2 01 6) , H oj i ( 20 00 ), M on tib el le r ( 20 12 ), Pa do ve ze (2 01 7) , R os a e Si lv a (2 00 2) e S an to s (2 01 6) . D em o n st ra ti vo C o n ce it o A n ál is e n o p ro ce ss o d ec is ó ri o Ba la nç o pa tr im on ia l O b al an ço p at rim on ia l é c on st itu íd o p el o at iv o, qu e ap re se nt a os b en s e di re ito s; pa ss iv o, q ue sã o as o br ig aç õe s em d et er m in ad a da ta ; e pa tr im ôn io lí qu id o, q ue é a d ife re nç a en tr e at iv o e pa ss iv o, e s ua fi na lid ad e é de m on st ra r a s itu aç ão qu an tit at iv a e qu al ita tiv a da e m pr es a no fi na l d e um d et er m in ad o p er ío do (M O N TI BE LL ER , 2 01 2) . “O b al an ço p at rim on ia l é u m d os re cu rs os q ue o a dm in is tr ad or p od e ut ili za r e m b en ef íc io d e su a em pr es a, p oi s ne le p od em s er vi su al iz ad os o s gr up os d e co nt as [. ..] q ue s ão re sp on sá ve is p or gr an de p ar te d a m ov im en ta çã o do s oc or rid os d a en tid ad e, o u se ja , n el e o ad m in is tr ad or p od e vi su al iz ar a s aú de d a em pr es a, au xi lia n o co nt ro le d as a tiv id ad es , e p rin ci pa lm en te p od e in flu en ci ar n as to m ad as d e de ci sõ es ” ( CO ST A e t a l, 20 16 , p . 6 5) . Fl ux o de c ai xa “[… ] O fl ux o de c ai xa é u m e sq ue m a qu e re pr es en ta a s en tr ad as e s aí da s de c ai xa a o lo ng o do te m p o. E m u m fl ux o de c ai xa , d ev e ex is tir p el o m en os u m a sa íd a e p el o m en os u m a en tr ad a (o u vi ce -v er sa )” (H O JI, 2 00 0, p . 7 9) . “P or m ei o do fl ux o de c ai xa p ro je ta do , o g es to r p od e pr og ra m ar e a co m pa nh ar a s en tr ad as e a s sa íd as d e re cu rs os fin an ce iro s, ta nt o a cu rt o co m o a lo ng o pr az o. É p el o flu xo de c ai xa re al iz ad o qu e o us uá rio e xt er no p od e co nh ec er e av al ia r o c om p or ta m en to d o flu xo d e in gr es so s e de se m b ol so s do s re cu rs os fi na nc ei ro s da e m pr es a em d et er m in ad o p er ío do , p er m iti nd o, a ss im , u m a an ál is e m ai s se gu ra d a si tu aç ão fi na nc ei ra d a em pr es a” (R O SA ; S IL VA , 2 00 2, p . 8 3) . D em on st ra çã o do re su lta do d o ex er cí ci o (D RE ) Pa do ve ze (2 01 7) a p on ta o D RE c om o a fe rr am en ta qu e ap re se nt a o lu cr o ou o p re ju íz o ac um ul ad o. O D RE p er m ite “[ ...] a s to m ad as d e de ci sã o m ai s as se rt iv as . I ss o, p or qu e el e re ún e e ap re se nt a co m e xa tid ão a s in fo rm aç õe s ne ce ss ár ia s pa ra a va lia r o d es em p en ho d a em pr es a e m ed ir o al ca nc e do s ob je tiv os e st ab el ec id os p ar a ca da um a de s ua s ár ea s” (S A N TO S, 2 01 6, d oc um en to o n- lin e) . Q u ad ro 2 . D em on stra tiv os fi na nc ei ro s e co nt áb ei s 11O gestor financeiro Cada um dos demonstrativos financeiros tem diferentes funções e auxilia na tomada de decisão de distintas formas, sendo assim, é necessário compreender de forma mais ampla cada uma dessas demonstrações. Análise de balanço patrimonial Como apontado no Quadro 2, o balanço patrimonial permite analisar os bens, os direitos e as obrigações de uma empresa em um determinado período. Por meio do balanço patrimonial há a compreensão da situação do patrimônio de uma organização. O balanço patrimonial permite observar a evolução desse patrimônio com o passar dos anos, e observar o ativo, o passivo e o patrimônio líquido, que é a diferença entre essas duas classifi cações de contas de uma empresa. O ativo é dividido em circulante e não circulante, sendo o circulante aquele que tem rápida liquidez, ou seja, pode ser transformado em dinheiro em um curto período, como o caixa, as contas em banco, os estoques e as contas a receber em curto prazo. O ativo não circulante tem baixa liquidez, não havendo possibilidade de transformar em dinheiro em curto prazo, como as máquinas, os equipamentos, os imóveis e os valores a receber no longo prazo. Nesse sentido, é possível acompanhar a capacidade de endividamento e investimento da empresa por meio da observância da saúde fi nanceira dela. No balanço patrimonial ainda é possível observar as contas referentes ao passivo, havendo também a classificação de passivo circulante e passivo não circulante. A diferença entre estes dois tipos de classificação de conta é o tempo para que essas sejam realizadas. O passivo circulante são aquelas contas realizáveis em um curto prazo, e o passivo não circulante, aquelas contas que não podem ser realizadas no exercício vigente do balanço apresentado. São exemplos de contas do passivo: empréstimos, dividendos e impostos. Se uma empresa transformar todo o seu ativo em capital e liquidar todas as suas obri- gações, o valor restante dessa operação é o patrimônio líquido. Dessa forma, é possível acompanhar a evolução do patrimônio da empresa e a capacidade de geração de liquidez em curto e longo prazos. No processo de análise de um balanço patrimonial, uma organização que tem ativo muito maior que passivo é uma organização com baixo endi- vidamento, apontando um valor alto de patrimônio líquido. Nesse caso, há uma organização saudável financeiramente. Caso o passivo seja similar ou superior ao ativo, a empresa não é saudável financeiramente, dessa forma, é pouco competitiva. Essa análise é fundamental para a tomada de decisão do gestor financeiro. O gestor financeiro12 Análise do demonstração do resultado do exercício A demonstração do resultado apresenta o resultado de uma empresa em um período, sendo esse resultado o lucro ou o prejuízo. O demonstrativo apre- senta a receita bruta da organização em um determinado período, e o DRE demonstra quanto a empresa ganhou e como adquiriu capital em um exercício. São apresentados nessa demonstração os resultados, deduzidos os custos, e as despesas da organização, apontando como resultado o lucro ou o prejuízo do exercício. Esse demonstrativo pode apontar o lucro bruto, as deduções e o impacto percentual de cada uma dessas deduções sobre a receita bruta da empresa, como é possível observar no Quadro 3. A partir do DRE é possível adequar os custos e os gastos, além de observar a capacidade de uma empresa em gerar lucro. Fonte: Adaptado de Padoveze (2017). Receita operacional bruta (–) Impostos sobre as vendas Receita operacional líquida (–) Custo de produto vendido Lucro bruto (–) Despesas administrativas e comerciais Lucro operacional (–) Despesas financeiras Lucro antes dos impostos (–) Impostos sobre o lucro Resultado do exercício R$ 50.000,00 R$ 8.000,00 R$ 42.000,00 R$ 19.000,00 R$ 23.000,00 R$ 6.500,00 R$ 16.500,00 R$ 4.500,00 R$ 12.000,00 R$ 3.000,00 R$ 9.000,00 100% 16% 38% 13% 9% 6% 18% Quadro 3. Demonstração do resultado do exercício 13O gestor financeiro A demonstração dos resultados é uma ferramenta de grande importância para subsidiar os gestores financeiros, entretanto, não abrange as aquisições relacionadas aos estoques e ao patrimônio de uma organização, ficando esse controle submetido ao fluxo de caixa. Análise do fluxo de caixa O fl uxo de caixa aponta a fl uidez de capital de uma organização, controlando a entrada e a saída de valores dela. Ao contrário do DRE, por meio da análise de fl uxo de caixa é possível observar de forma instantânea a geração de caixa da empresa e os gastos mais relevantes e signifi cativos no dia a dia da organização. O fluxo de caixa acompanha a entrada de capital, por meio dos valores ad- vindos da comercialização de produtos e serviços, e a saída de valores referente a encargos, custos e gastos relacionados ou não ao processo produtivo, à folha de pagamento, entre outros. Mediante a projeção do fluxo de caixa é possível vislumbrar a saúde financeira da organização, por meio do acompanhamento do valor em caixa da organização, sendo necessário ter atenção especial caso as projeções indiquem queda no valor em caixa da empresa. Há, ainda, uma série de indicadores que podem ser gerados por meio dos demonstrativos financeiros e contábeis. Estes índices possibilitam compreender de forma mais ampla os resultados de uma empresa, facilitando o processo decisório. O Quadro 4 aponta os principais indicadores gerados por meio dos elementos presentes nos demonstrativos financeiros. O gestor financeiro14 Fo nt e: A da pt ad o de A ra új o et a l. (2 01 3) . In d ic ad o r Fó rm u la d o c ál cu lo D es cr iç ão d o ín d ic e Pa rt ic ip aç ão d o ca pi ta l d e te rc ei ro s Ín di ce g er al d a es tr ut ur a de c ap ita l d a en tid ad e, re la ci on an do o s re cu rs os p ró pr io s co m o s de te rc ei ro s Li qu id ez g er al Es te ín di ce in di ca a s itu aç ão d a em pr es a no lo ng o pr az o e co nf ro nt a o to ta l d o at iv o co m o to ta l d o ca pi ta l d e te rc ei ro s, in di ca nd o qu an to a e m pr es a te m d e in ve st im en to s de c ur to e lo ng o pr az os M ar ge m lí qu id a M os tr a o p er ce nt ua l d e lu cr o líq ui do e m ca da u ni da de m on et ár ia v en di da Re nt ab ili da de d o pa tr im ôn io lí qu id o Ín di ce q ue fo rn ec e a re nt ab ili da de d o em pr ee nd im en to s ob re o ca pi ta l d os s óc io s, ac io ni st as o u pr op rie tá rio s da e m pr es a Q u ad ro 4 . D em on st ra tiv o do re su lta do d o ex er cí ci o 15O gestor financeiro Os demonstrativos financeiros e contábeis servem para subsidiar o gestor em seu processo decisório. Tais documentos podem ser analisados por meio de uma apreciação horizontal ou vertical. A análise horizontal é realizada acompanhando a evolução em diferentes períodos dos demonstrativos, no entanto, a análise vertical realiza uma análise de cada demonstrativo, de cima para baixo, apontando o percentual de cada um dos elementos que compõem os diferentes demonstrativos. Assaf Neto (2015, p. 102) define análise vertical como a “[…] comparação que se faz entre os valores de uma mesma conta ou grupo de contas em diferentes exercícios sociais” e difere a análise vertical apontando que esse tipo de análise (ASSAF NETO, 2015, p. 104) “[…] não utiliza um critério temporal para sua execução, e sim a influência de cada grupo de contas (patrimoniais e de resultado) para o desempenho da entidade”. Ambos os tipos de análises são importantes e podem servir como análise e, inclusive, projeção dos resultados financeiros da organização, impactando na tomada de decisão do gestor financeiro. ARAÚJO, J. G. N. et al. Análise vertical, horizontale através de índices e regressão linear simples como elementos para viabilizar a projeção das demonstrações contábeis e avaliação de empresas: um estudo de caso com empresa listada na BM&F-Bovespa. FACEP Pesquisa — Desenvolvimento e Gestão, v. 16, n. 3, p. 371–386, 2013. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/facefpesquisa/article/download/750/589. Acesso em: 20 maio 2020. ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2006. BRASILEIRO, S. H. S.; SILVA, A. V. O processo de tomada de decisão em cenários financeiros: uma revisão teórica. 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Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. O gestor financeiro18
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