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ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO Prof. Dr. José Luiz Izidoro Prof. Guilherme Bernardes Filho Diretor Presidente Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes Diretor Tesoureiro Prof. Frederico Ribeiro Simões Reitor UNISEPE – EaD Prof. Melquisedeque de Jesus Santos Coordenador EaD de área Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD) Material Didático – EaD Equipe editorial: Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 Isis Gabriel Alves Pedro Ken-Iti Torres Omuro Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável Apoio técnico: Alexandre Meanda Neves Anderson Francisco de Oliveira Douglas Panta dos Santos Galdino Fabiano de Oliveira Albers Gustavo Batista Bardusco Kelvin Komatsu de Andrade Matheus Eduardo Souza Pedroso Vinícius Capela de Souza Revisão: Isabela da Silva Pery, Vanessa Schreiner, Débora de Freitas Dias Diagramação: Diego Macedo Pedroso, Nikolas Fellipe de Morais SOBRE O AUTOR: José Luiz Izidoro Nascido em Iguape, Estado de São Paulo. Possui graduação (bacharelado) em Teologia pelo Instituto Teológico de São Paulo (1995); graduação (licenciatura plena) em Filosofia pela Universidade Faculdades Associadas do Ipiranga (1988); mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2005), com ênfase em Antropologia; doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2010), com ênfase em Antropologia e Historiografia antiga; e pós-doutorado em Ciências da Religião pela UMESP (2013), com ênfase em Antropologia e Teorias da Linguagem. Possui estágio de experiência intercultural no Equador e América Central por oito anos. Possui o curso de Língua Espanhola pela PUC de Quito - Equador. Possui o curso de Língua Inglesa pela English School of Maynooth - Irlanda. Possui experiência de Administração Educacional como Vice Reitor pelo Centro de Ensino Superior de Ensino - CES - e como Vice-Diretor pelo Colégio Cristo Redentor - Juiz de Fora por quatro e cinco anos respectivamente. Está na carreira docente, em escola pública e faculdades particulares, desde 1987. Possui estágio de atualização acadêmica em Bíblia, Teologia e Espiritualidade, realizado na Holanda e na Itália em 2016. Foi professor do Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) em Belo Horizonte - MG, no curso de pós graduação latus sensus em CIÊNCIAS DA RELIGIÃO, com a disciplina de ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO. Possui experiências com o ensino a distância (ISTA - Montes Claros) com as disciplinas ECUMENISMO E DIÁLOGO INTERRELIGIOSO e HISTÓRIA COMPARADA DAS RELIGIÕES. Atualmente é professor de Filosofia na UNISEPE, Registro, SP. Atua como pesquisador no grupo de pesquisa Religião, Ecologia e Modernidade da PUC-Minas. Atua principalmente nos seguintes temas: cristianismo, sociologia da religião, religiões, experiências do sagrado e contemporaneidade, religiosidades, espiritualidades, diálogo inter-religioso, ecumenismo, Bíblia, culturas, etnias, antropologia, sociologia, filosofia, sociedades, políticas públicas, identidades, semiótica da cultura, realidade latino-americana. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4642500737287289 SOBRE A DISCIPLINA: A disciplina de Antropologia da Religião tem o objetivo de apresentar a Religião na perspectiva das ciências sociais, sobremaneira da Antropologia. Se trata de um olhar científico e de aproximação aos estudos das religiões no horizonte das culturas. Serão apresentadas três unidades, cada unidade terá dois capítulos, que terão os seguintes conteúdos: Cultura e religião, O homem e a experiência religiosa na história e nas sociedades, O locus religioso no mundo contemporâneo e a memória cristã, Ética e religião, Diálogo e tolerância entre as religiões e As discussões sobre a religião nos espaços públicos. Desejamos êxito aos alunos e alunas do curso de Teologia da UNISEPE – UNIVR. http://lattes.cnpq.br/4642500737287289 Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. SUMÁRIO UNIDADE I ........................................................................................... 05 1º Cultura e religião................................................................... 05 2º O homem e a experiência religiosa........................................... 12 UNIDADE II ........................................................................................... 22 3º O locus religioso no mundo contemporâneo e a memória cristã...... 22 4º Ética e religião...................................................................... 30 UNIDADE III .......................................................................................... 38 5º Diálogo e tolerância entre as religiões....................................... 38 6º As discussões sobre a religião nos espaços públicos................... 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 55 5 UNIDADE I CAPÍTULO 1 - CULTURA E RELIGIÃO No término deste capítulo, você deverá saber sobre: ✓ A religião enquanto sistema cultural; ✓ As perspectivas da religião; ✓ A religião como chave de compreensão do ser humano; ✓ O sagrado como ascese. Introdução Cultura e religião são temas recorrentes nos debates atuais sobre as religiões, sobretudo nos estudos comparados das religiões, nas ciências sociais e em ciências da religião. Quanto às ciências sociais sobremaneira em antropologia da religião, se conecta o objeto da pesquisa, isto é, a religião, na sua dimensão fenomenológica e os métodos enquanto ferramentas de análise e com o rigor científico. Certamente temos que manter as devidas distâncias entre o rigor científico aplicado à análise dos fenômenos religiosos, as produções teológicas ondem emergem os elementos confessionais e as próprias experiências religiosas ou as diferentes religiosidades. Nosso foco é o antropológico, pois a religião é concebida no seio das culturas das diferentes sociedades e suas representações simbólicas evocam as mais deferentes formas de vida religiosa, onde o mistério do sagrado se entrelaça com o cotidiano da vida. A religião pode ser uma das grandes chaves para a compreensão do ser humano. Ela evoca, por meio de seus ritos e representações simbólicas, a própria identidade individual e também dos grupos socioculturais. O sagrado se constitui como movimento espiritual humano que está na própria essência do ser humano, cuja dinâmica é a ascese. Consiste no exercício interior, que é um processo, um caminho para uma experiência espiritual, e que tem como ferramenta principal a oração, cujo objetivo é o discernimento da consciência humana. Assim, a religião em sua prática torna-se muito complexa em suas manifestações, de rituais, textos, fórmulas, etc., bastante fluidos e diferenciados, evocando diferentes significados em consonância com as buscas infindáveis do ser humano e estabelecendo um componente significativo para os estudos e pesquisas acadêmicas. 1.1 A religião enquanto sistema cultural - Os estudos antropológicos Todas as religiões apresentam os seus símbolos ou sistema simbólico, isto é, símbolos de desenhos, prédios, imagens, vitrais, locais de culto, objetos sagrados, músicas, rituais, coisas através das quais a pessoa identifica aquela religião metaforicamente e na busca de sentido para a sua vida. Todas as religiões externam aquilo que elas acreditam por meio de imagens materiais ou imateriais. O conceito de cultura denota um padrão de significado transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida. Os símbolossagrados funcionam para sintetizar o ethos de um povo – o tom, o caráter e a qualidade da sua vida, seu estilo e disposições morais e estéticas – e sua visão de mundo (GEERTZ, 1989, p. 66-67). 6 Para Clifford Geertz: uma religião é um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosos, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas (1989, p. 67). A religião pode ser uma das grandes chaves para a compreensão do ser humano. Ela evoca, por meio de seus ritos e representações simbólicas, a própria identidade individual e também dos grupos socioculturais. Essa realidade se torna presente quando perguntamos se sou cristão católico, cristão evangélico, judeu, islâmico, budista, hindu ou de fé pessoal, mas não frequento nenhuma instituição, ou se sou ateu, agnóstico, cético. A fé é campo pessoal, subjetivo, sentimento interior, convicção do ser humano; a religião é coletiva, pressupõe junção de muitos tipos de fé, muitas pessoas que se agrupam em grandes unidades, religiões menores e religiões maiores. Quando se fala em convicção pessoal, se fala de campo interno, muito difícil de ser demonstrado, ou seja, aquela pessoa que diz com total veracidade de seu mundo: eu sinto dentro de mim que existe um Deus, sinto dentro de mim forças superiores, sinto que elas me protegem, forças que me dão destinos e que há vida após a morte, isso já é um grande recorte para a ideia de fé. Por sua vez, quando uma pessoa frequenta uma sinagoga, mesquita, Igreja, rito católico ou evangélico, ou alguma cerimônia judaica, ou islâmica, a fé se torna mais externa, mais social. Nesse caso, a religião se torna um fenômeno sociológico que torna externo e objetivo o que emerge inicialmente como fenômeno subjetivo e individual. Hoje, no mundo do século XXI, a religião está sendo muito subjetiva, aí podemos chamar de customização da fé ou customização das religiões. Cada indivíduo pega do campo religioso e às vezes mistura-se diversas tradições, aquilo que mais agrada seu universo, o que mais diz respeito à sua convicção. Religião é fundamental, sem ela não há sentido em grande parte da arte, da literatura, da gramática da sociedade, pois elas se relacionam com as ideias que as pessoas têm do além, do sagrado e da vida após o plano terrestre. Se estudamos o período da história medieval, sobretudo no auge do teocentrismo e logo no início da história moderna, com o movimento do renascimento, então constatamos a presença, a importância e a vivacidade da religião por meio da arte (os vitrais das catedrais), da escultura, da arquitetura, entre outras expressões artísticas. Daí surge um pensamento: como refletir sobre as religiões? Existem algumas maneiras para se entender a análise religiosa, isto é, pode-se pegar os conceitos como orações, rituais, sacrifícios, jejuns, liturgias, símbolos religiosos, etc. e estabelecer com isso os componentes de estudos sobre as religiões, tanto no seu campo fenomenológico como hermenêutico? O termo fenomenologia, ou seja, a ciência que estuda, que investiga os fenômenos reais ou não, de que maneira eles se apresentam na consciência humana, veio da filosofia para a questão religiosa. Para Aldo Natale Terrin, a fenomenologia da religião repete o estudo comparado das religiões, porém num nível mais profundo, uma vez que tem a convicção de que é possível chegar à essência da religião e captar sua própria verdade e a da experiência religiosa (2003, p. 29). A história das religiões não pretende apenas informar e oferecer dados, mas quer também oferecer seu método específico de pesquisa. Os pontos de maior evidência, considerados segundo a perspectiva do método, poderiam ser assim resumidos, segundo Aldo Natale Terrin: 7 ...em primeiro lugar, a história das religiões utiliza um estudo meticuloso das fontes das respectivas línguas originais (estudo de textos sagrados e dos documentos mais importantes); em segundo lugar, demonstra especial preocupação com o estudo das religiões na linha vertical, isto é, segue o desenvolvimento histórico e as passagens internas que ocorrem no tempo; em terceiro lugar, a história das religiões procurou e procura manter certa neutralidade diante do objeto de seu estudo, isto é, a própria religião, para não comprometer o caráter científico da pesquisa. Ressalta-se que esse ponto de vista será um dos mais contestados por outras disciplinas, especialmente pela fenomenologia da religião; enfim, a história das religiões apresenta-se como uma disciplina altamente especializada em seu setor, em seu campo de pesquisa, razão pela qual tem como consequência também outra limitação: não pode ter a pretensão de chegar a um conhecimento específico de todas as religiões. Cada historiador das religiões é especialista em uma religião, mas conhece as outras religiões apenas indiretamente. Assim, um estudioso de religiões ou é budólogo e indólogo, ou é grecista, ou é egiptólogo etc. (2003, p. 20). Desse modo, os estudos das religiões para a ciência das religiões se tornam um importante e necessário exercício investigativo para a aproximação da religião enquanto fenômeno sociocultural, que se desenvolve de maneira individual e coletiva nas diferentes sociedades e culturas e que, por sua função, estabelece o sentido existencial, espiritual, psicológico e social e no contexto das culturas, se destacando pelos estudos da antropologia da religião. 1.2 Perspectivas da Religião O sagrado se constitui como movimento espiritual humano que está na própria essência do ser humano, cuja dinâmica é a ascese, do grego ἀσκέω, "se esforçar, procurar" (Eis por que também eu me esforço por manter uma consciência irrepreensível constantemente, diante de Deus e diante dos homens – Atos dos Apóstolos, cap. 24, 16). Consiste no exercício interior, que é um processo, um caminho para uma experiência espiritual e que tem como ferramenta principal a oração, cujo objetivo é o discernimento da consciência humana. Essa experiência deve ser vivida no núcleo mais íntimo de cada pessoa, de seus sentimentos, de sua consciência e de sua afetividade. A ascese da humanidade cria um movimento espiritual que extrapola a dimensão humana e aí emerge o transcendente. É o mais profundo do ser humano. Quanto mais humano somos, mais tocamos o divino dentro de nós mesmos e aí emerge a conexão do humano com o sagrado. Na pluralidade das experiências religiosas e do sagrado emerge a diversidade de perspectivas da religião e como vão se arquitetando em sua materialidade, isto é, nas igrejas e templos sagrados. O enfoque do historiador não é dizer que uma religião é viva ou morta, mas entender a força que transforma, que une, que dá características, que faz crescer, expandir e que assume as diversas formas que cada religião concebe o mundo, passado ou presente, nas diferentes sociedades e culturas. Assim, a religião em sua prática torna-se muito complexa em suas manifestações, de rituais, textos, fórmulas, etc., bastante fluidos e diferenciados, evocando diferentes significados em consonância com as buscas infindáveis do ser humano. Também se faz importante pensar as religiões monoteístas, aquelas que concebem a existência de um único Deus, criador de tudo, onipotente, onisciente, onipresente e pensar as religiões politeístas, dualistas, religiões animistas, que concebem a ideia de Deus de diferentes maneiras. Aqui dá-se a importância dos estudos comparativos das religiões, onde se estabelecem os eixos comuns das religiões a partir do método comparativo. 8 O tema religião não foi muito tratado pelos historiadores do passado, ou era tratado num recorte amplo que chamamos de sociedade. A mudança começa no século XIX, com Émile Durkheim, sociólogo e antropólogofrancês, nascido em 1858 e falecido em 1917, que lançou as formas elementares da vida religiosa tentando distinguir a religião da magia, e também Rudolf Otto – teólogo alemão nascido em1869 e falecido em 1937, autor da obra O Sagrado, publicada pela primeira vez em 1917. Essa obra de Rudolf Otto foi considerada uma das mais importantes do século XX e é mais conhecida do público pelo seu conceito de numinoso, que significa aquela emoção espiritual que desperta ou inspira aquelas qualidades e virtudes conectadas com o sagrado e o seu mistério. Outros estudiosos das religiões se destacaram na pesquisa sobre o tema, entre eles Aldo Natale Terrin (1942), Giovanni Filoramo (1945), Carlo Prandi (1931), entre outros. Também podemos mencionar outros autores que se sobressaíram com o tema da religião, que passa pela filosofia, sociologia, psicologia, antropologia e teologia. No artigo de Adriani Milli Rodrigues: “Religião, teologia e antropologia: o confronto entre Karl Barth e Ludwig Feuerbach”, a autora menciona alguns autores, citando Weber e Harvey. Segundo Adriani, para Weber (1966, p. 28) Feuerbach foi o precursor de Marx, Nietzche e Freud, pois sua teoria da religião permanece como modelo geral da explicação psicológica e sociológica da origem e natureza da religião que domina o mundo moderno. Já para Harvey (1997, p. 30), a partir de sua análise religiosa, Feuerbach antecipou muitos temas do século XX, tais como a teoria marxista da alienação, a ênfase freudiana no papel do desejo, a ênfase empirista na experiência sensível, a preocupação fenomenologista com o corpo e a preocupação existencialista com o confronto da consciência com a ansiedade e a morte. Considerações finais A religião pode ser uma das grandes chaves para a compreensão do ser humano. A fé é campo pessoal, subjetivo, sentimento interior, convicção; a religião é coletiva, pressupõe junção de muitos tipos de fé, muitas pessoas que se agrupam em grandes unidades, religiões menores e religiões maiores. Quando se fala de convicção pessoal, se fala de campo interno, muito difícil de ser demonstrado, ou seja, aquela pessoa que diz com total veracidade de seu mundo: eu sinto dentro de mim que existe um Deus, sinto dentro de mim forças superiores, sinto que elas me protegem, forças que me dão destinos e que há vida após a morte, isso já é um grande recorte para a ideia de fé. Nos dias atuais, a religião está sendo muito subjetiva e cada indivíduo pega do campo religioso e às vezes mistura-se diversas tradições, aquilo que mais agrada seu universo, o que mais diz respeito à sua convicção. Na pluralidade das experiências religiosas e do sagrado, emergem a diversidade de perspectivas da religião e como vão se arquitetando também em sua materialidade, isto é, nas igrejas e templos sagrados, por meio de seus ritos e símbolos, sendo esse um vasto campo para os estudos das religiões nos diferentes contextos históricos das sociedades e das culturas. A religião, por meio de seus símbolos, tem a função de sintetizar o modo de vida de determinado povo e cultura, isto é, reúne os elementos principais constitutivos do ethos de um povo e da visão que ele tem do mundo. Assim, todas as religiões externam aquilo que elas acreditam por meio de imagens materiais ou imateriais. 9 Daí surge um pensamento: como refletir sobre as religiões? Existem algumas maneiras para se entender a análise religiosa, pode-se pegar os conceitos como orações, rituais, sacrifícios, jejuns, liturgias, símbolos religiosos, etc. e estabelecer com isso os componentes de estudos sobre as religiões, tanto no seu campo fenomenológico como no hermenêutico? Tais questões são respondidas, enquanto tentativas, pelas inúmeras bibliografias que tratam o tema “religião e cultura”. Desse modo, os estudos das religiões para a ciência das religiões se tornam um importante e necessário exercício investigativo para a aproximação da religião enquanto fenômeno sociocultural, que se desenvolve de maneira individual e coletiva nas diferentes sociedades e culturas. Os símbolos sagrados funcionam para sintetizar o ethos de um povo – o tom, o caráter e a qualidade da sua vida, seu estilo e disposições morais e estéticos – e sua visão de mundo (GEERTZ, 1989, p. 66-67). A religião pode ser uma das grandes chaves para a compreensão do ser humano. Ela evoca, por meio de seus ritos e representações simbólicas, a própria identidade individual e também dos grupos socioculturais. Para Clifford Geertz, uma religião é um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosos, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realista (1989, p. 67). O sagrado se constitui como um movimento espiritual humano que está na própria essência do ser, cuja dinâmica é a ascese, do grego ἀσκέω, "se esforçar, procurar" (Eis por que também eu me esforço por manter uma consciência irrepreensível constantemente, diante de Deus e diante dos homens – Atos dos Apóstolos, cap. 24, 16). Investigue nos dicionários o conceito de ascese e compare com o conceito em Atos dos apóstolos 24,16. 10 ............................................. para a compreensão do ser humano. Ela evoca, por meio de seus ritos e representações simbólicas, a própria identidade individual e também dos grupos socioculturais. A) A religião pode ser uma das grandes chaves B) A religião não pode ser uma das grandes chaves C) A cultura pode ser uma das grandes chaves D) Os grupos sociais podem ser uma das grandes chaves E) A mística pode ser uma das grandes chaves A resposta correta: A, pois é também por meio da religião que se pode compreender o ser humano. O tema religião não foi muito tratado pelos historiadores do passado ou foi tratado num recorte amplo que chamamos de sociedade. ..................................... com Émile Durkheim, sociólogo e antropólogo francês, que lançou as formas elementares da vida religiosa e tentava distinguir a religião da magia. A) A mudança começa no século XX B) A mudança começa no século XIX C) A mudança começa no século XVIII D) A mudança começa no século XVII E) A mudança começa no século XVI A PERSPECTIVA DO SAGRADO NA OBRA DE RUDOLF OTTO Autor: Bruno de Oliveira Silva Portela Resumo: O objetivo desse artigo é apresentar a concepção de Rudolf Otto acerca da experiência religiosa, o Sagrado, numinoso e suas categorias, além de apontar para o sentimento que a experiência religiosa provoca no ser humano. Otto destaca que o elemento essencial da experiência religiosa é o Sagrado. O Sagrado, entretanto, não se confunde com a pureza moral, nem com os elementos de uma ética religiosa, ele possui os elementos racional e irracional. O elemento racional possui aspectos mais imanentes, que se deixam ser conceituados pela linguagem e estão presentes nas elaborações reflexivas do ser humano. O elemento irracional, por sua vez, é aquele que extrapola os limites da linguagem, possuindo atributos sobre os quais o ser humano não se assenhora. Ele leva o ser humano a apenas sentir e se reconhecer num sentimento de criatura diante da realidade maior do que ele. A esse elemento transcendente, Otto dá o conceito de numinoso. 11 https://www.youtube.com/watch?v=zj9r0J9Os9E Faustino Teixeira - O ritmo encantado das religiões no Brasil – 5 set.2019 O tema religião não foi muito tratado pelos historiadores do passado, ou foi tratado num recorte amplo que chamamos de sociedade. A mudança começa com Émile Durkheim. Amplie o seu conhecimento e saiba mais. Leia Émile Durkheim (1996). As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Resposta correta: B https://www.youtube.com/watch?v=zj9r0J9Os9Ehttps://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim http://books.google.com.br/books/about/As_formas_elementares_de_vida_religiosa.html?id=PqGiAAAACAAJ&redir_esc=y http://books.google.com.br/books/about/As_formas_elementares_de_vida_religiosa.html?id=PqGiAAAACAAJ&redir_esc=y https://pt.wikipedia.org/wiki/Martins_Fontes 12 UNIDADE I CAPÍTULO 2 - O HOMEM E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA No término deste capítulo, você deverá saber sobre: ✓ O contexto religioso no mundo contemporâneo; ✓ O fenômeno religioso, suas interpretações e suas implicações na formação das sociedades; ✓ O contexto gerador dos movimentos religiosos emergentes; ✓ A desregulação do religioso ou desregulação institucional. Introdução A religião torna-se um dos principais caminhos para a compreensão do ser humano. Porém, dada a complexidade de se compreender o ser humano no estágio em que nos encontramos na sociedade contemporânea, também se exige novas metodologias e ferramentas próprias das ciências sociais para uma análise mais profunda das culturas e das sociedades. Contudo, no mais profundo do ser humano reside o mais profundo da força do sagrado que alimenta aquela dimensão transcendente e metafísica. Por isso, religião é o religar do humano ao divino, ao transcendente, por meio das representações simbólicas, das imagens, dos ritos e da ascese. Temos que compreender o fenômeno religioso dentro de um contexto de rápidas e significativas mudanças socioculturais e cósmicas e, por isso, de maneira “buliçosa e inquieta”, inserido nos diferentes espaços institucionais e sistemas culturais. Contudo, ele também é disseminado amplamente nos diversos espaços do cotidiano como “vivência do sagrado e do espiritual”, revestido de “força e de poder”. Os estudiosos que pesquisam as religiões contextualizam o surgimento das novas formas religiosas vendo-as como um produto de respostas das sociedades aos processos de secularização, globalização, fragmentação e individualização. Todos esses novos movimentos religiosos têm em conta os novos desafios que são impostos pelas novas conjunturas mundiais. Os movimentos religiosos emergentes, que surgem mais ou menos nos anos 60, principalmente na Europa, no Brasil, nos Estados Unidos, Japão etc., foram resultados das profundas mudanças nas sociedades. Tais mudanças se davam no âmbito social, político e cultural, sobretudo no contexto pós-guerra, cujo movimento se denominava contracultura. Nesse contexto de mudanças socioculturais, políticas, econômicas, ideológicas e também de mobilidade religiosa se desenvolvem os movimentos que emergem enquanto experiência religiosa ou espiritualidade. 2.1 O contexto religioso no mundo contemporâneo A Modernidade e a Pós-modernidade mostram o seu poder paradoxal e ambíguo. Secularização da sociedade e, ao mesmo tempo, revitalização e renovação do universo religioso. Duas faces de uma mesma moeda cuja lógica está na interação dialética do moderno que desabriga a religião e, nesse desabrigar, lhe possibilita novas moradas, conquanto mais esparsas e menos institucionais e influenciáveis no todo social (PORTELLA, 2006, p. 77). Para Antônio Flávio Pierucci, secularização 13 e efervescência religiosa não se obstam, mas se combinam e polinizam-se (apud PORTELLA, 2006, p. 77). Não podemos afirmar ligeiramente que a religião ou as religiosidades estão em declínio, decadência, diminuindo ou até mesmo desaparecendo nas sociedades contemporâneas. Temos que compreender o fenômeno religioso dentro de um contexto de rápidas e significativas mudanças socioculturais e cósmicas e, por isso, de maneira “buliçosa e inquieta”, inserido nos diversos espaços institucionais e sistemas culturais. Contudo, ele também é disseminado amplamente nos diferentes espaços do cotidiano como “vivência do sagrado e do espiritual”, revestido de “força e de poder”. Silas Guerriero afirma que: Não houve um desencantamento do mundo e, em consequência, também não houve o reencantamento da pós-modernidade. Não houve desencantamento, pois não chegou a termo a racionalização dos objetos sacrais por parte da própria religião, nem a magia desapareceu e nem as entidades sobrenaturais deixaram de conviver com os personagens sociais. O crente também nunca se desencantou. Continua vivendo num mundo encantado. Podemos dizer que o mundo não está encantado da mesma maneira de antes, mas que, de alguma maneira, o encantamento permanece (in SOUZA e MARTINO – orgs., 2004, p. 168). Desse modo, o sagrado se dispõe em suas representações simbólicas e mistéricas a partir de novas configurações, novas ressignificações e de acordo com os novos perfis e vieses dos diferentes tecidos socioculturais. Nas palavras de Robert Schreiter “o mundo hoje, considerado em sua totalidade, pode ser mais religioso do que era há vinte anos” (in: Revista Concilium, 2011, p. 29). A religião, que se expressa nas diferentes formas de crenças e com distintos símbolos e ritos, continua existindo de maneira disseminada, fluida, subjetiva e autônoma, onde se articulam os símbolos, as representações comuns, as improvisadas imagens que emergem na singularidade dos desejos e das necessidades existenciais e afetivas do “homem religioso”. A religião continua a existir e coexistir de maneira fragmentada e interativa em suas experiências e livre das forças reguladoras e até mesmo institucionais de controle. Para Silas Guerriero, a secularização possibilitou o avanço do pluralismo e do trânsito religioso, uma vez que não havendo as amarras das instituições religiosas, o indivíduo pode manipular os bens simbólicos construindo seus arranjos religiosos sem medo de quebrar o eixo central onde está apoiado ((in SOUZA e MARTINO – orgs., 2004, p. 168). No âmbito da autonomia e da liberdade de escolhas e opções, as sociedades contemporâneas tecem sua teia, no emaranhado dos tecidos socioculturais e religiosos, como estratégia de espaços alternativos de sentido e de equilíbrio entre a humanidade, a natureza e o cosmo. A crise institucional possibilita a vivência das experiências sagradas no âmbito pessoal, na articulação coletiva das individualidades e na criação de espaços e de comunidades de pertencimento para viver sua subjetividade mística e religiosa. De acordo com Terrin, é o novo “romântico”, o “subjetivo” do nosso olhar sobre o mundo que, a partir da nossa subjetividade, nos permite prestar atenção ao novo modo de ver “crenças” tão variadas, tão difíceis de decifrar e ao mesmo tempo tão importantes (2004, p. 9). Existe um movimento sincrônico de desencantamento e reencantamento do mundo na contemporaneidade. Para Claude Geffré, diante da angústia provocada pelo vazio de sentido e o fim 14 das ideologias do progresso, da ciência, do socialismo há uma aspiração geral pela função tutelar do sagrado, que desempenha o papel da mãe original (2013, p. 216). A pós-modernidade não seria outra coisa que o esgotamento do projeto moderno da metafísica clássica, da maneira de interpretar o ser como presença, como algo de fixo, de rígido e incapaz de acolher as identidades alheias, as diferenças culturais e religiosas. O abandono da metafísica forte em favor de uma débil deveria ajudar não apenas a Igreja, mas também as estruturas políticas ocidentais a elaborar projetos e morais mais tolerantes e atentas ao pluralismo típico do fim da modernidade (in: REB 72 – Revista Eclesiástica Brasileira, 2012, p. 630, 632). 2.2 O fenômeno religioso, suas interpretações e suas implicações na formação das sociedades Segundo Donizete Rodrigues, em tempos mais recentes, em função do reencantamento do mundo, da revalorização da religião, materializada na proliferação de novos movimentos religiosos e na privatização da vida religiosa, o denominado sistema, self-service religioso, onde cada pessoa pode criar a sua própria maneira de buscar e viver o religioso, a teoria da secularização, estãosendo fortemente criticados. Temas como a secularização e sectarismo dominaram os estudos sociológicos e antropológicos nos anos 70 do século XX e os novos movimentos religiosos despertaram grande interesse a partir dos anos de 1980-90 que continua até hoje. A fragmentação e a privatização da religião, a desterritorialização do espaço religioso e o grande aumento do mercado dos bens simbólicos provocaram o fim do monopólio das religiões/Igrejas históricas (2008, p. 34-35) e abriram espaços para o emergir de novas formas religiosas. Essas novas formas da vida religiosa exigem novos métodos para a sua interpretação, tendo em vista suas implicações na formação das sociedades. Os estudiosos que pesquisam as religiões contextualizam o surgimento das novas formas religiosas vendo-as como um produto de respostas das sociedades aos processos de secularização, globalização, fragmentação e individualização. Todos esses novos movimentos religiosos têm em conta os novos desafios que são impostos pelas novas conjunturas mundiais. O uso do termo novos exige normalmente que o grupo religioso que emerge seja diferente dos já existentes. A diferença aplica-se à vivência da fé que pode contrariar as regras e os credos de outras religiões e grupos religiosos considerados oficiais. Essas novas formas de vida religiosa emergem em diferentes contextos históricos, quando tirados do seu contexto histórico tradicional, e quando surgem apresentam novos rostos e novas formas modificadas, novas metodologias e novas práticas religiosas, com uma variação em termos de lideranças, de organização e de concepção ética familiar. A religião em seu formato tradicional de Dossel Sagrado (BERGER, 1967) já não oferece, em sua totalidade, aquela proteção e a guarda aos indivíduos que a buscavam e que a aderiam para a sua vida. Contudo, a religião, quando já não responde as inquietações e os desejos manifestados pelos indivíduos, poderá se apresentar, na perspectiva de seus buscadores, com nova configuração, isto é, como novos movimentos religiosos. Portanto, se especula que essa dinâmica é resultado da dinâmica global contemporânea. Existem as diferentes e múltiplas ofertas religiosas que se traduzem nesses novos movimentos religiosos que atendem as diferentes e múltiplas necessidades e que cada vez mais tomam um caráter particular. 15 Na opinião de Eliane Hojaij Gouveia, as comunidades sagradas modernas, fragmentadas, pluralizadas abrem-se para o encontro com as diversas linguagens e conectam-se às novas redes de comunicação à distância, utilizam-se dos novos e velozes meios de transporte e comunicação de massa. As comunidades religiosas tornam-se móveis, desterritorializadas e propiciam aos seus adeptos o direito a uma pertença também móvel e transitória, bem como propiciam aos fiéis variados encontros com parceiros de fé. Tais parceiros religiosos costumam ter as mais diversas origens étnicas e são provenientes dos mais diversos locais das cidades, do planeta e dos mais variados níveis socioeconômicos (SOUZA; MARTINHO – orgs., 2004, p. 152). No contexto das sociedades contemporâneas ocorre um processo de assimilação e de adaptação das diferentes religiões, religiosidades e das múltiplas espiritualidades para um reencantamento do mundo. A religião como componente histórico, socioantropológico e teológico é uma realidade permanente dos grupos humanos e está em constante mudança de acordo com os movimentos das sociedades, portanto, jamais desaparecerá. Ela surge e ressurge com novos rostos e novas configurações, o que exige um olhar diferenciado no que se refere ao fenômeno religioso e suas diferentes interpretações. 2.3 O contexto gerador dos movimentos religiosos emergentes Os movimentos religiosos emergentes, que surgem mais ou menos nos anos 60, principalmente na Europa, no Brasil, nos Estados Unidos, Japão etc., foram resultados das profundas mudanças nas sociedades. Tais mudanças se davam no âmbito social, político e cultural, sobretudo no contexto pós-guerra, cujo movimento se denominava contracultura. Contracultura era um movimento que teve seu auge na década de 1960, era um estilo de mobilização e de contestação social que utilizava novos métodos e meios de comunicação em massa. Foi um movimento apreciado, sobretudo pelos jovens a partir de uma crítica social. Os jovens inovavam seus estilos de vida, se aproximando mais a uma atitude antissocial aos olhos dos grupos conservadores. Nesse contexto de mudanças socioculturais, políticas, econômicas e ideológicas e também de mobilidade religiosa, se desenvolvem os movimentos religiosos emergentes. De acordo com Donizete Rodrigues, os crentes, os fiéis, ao encontrarem, ao longo de suas vidas, outras alternativas religiosas, ou melhor, outros caminhos para se chegar à salvação da alma, abandonam a Igreja ou confissão religiosa original e mudam de confissão religiosa, de religião ou de Igreja. No caso específico do Brasil e de Portugal, partindo da Igreja Católica Romana, considerada, durante séculos, como a única instituição religiosa capaz de guiar o Homem no caminho da salvação, os fiéis transitam para os novos movimentos religiosos ou outras práticas alternativas (2008, p. 32). Desse modo, é compreensível que, em um contexto social conturbado, complexo e com grandes problemas econômicos e sociais, a atitude dos movimentos religiosos emergentes sejam flexíveis e de acesso a todas as pessoas, com um pensamento otimista, um discurso adaptado à nova realidade histórica e um discurso teológico e eclesiológico voltado para a prosperidade e para as promessas de salvação imediata. Esses componentes constituem como força e autoridade para a aceitação popular e para o crescimento global dos mesmos, num contexto de crise institucional das religiões oficiais e no ensejo de se criar novas identidades religiosas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura_da_d%C3%A9cada_de_1960 https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica%C3%A7%C3%A3o 16 A perda de força da observância, o desenvolvimento de uma religião à la carte, a proliferação das crenças combinadas a partir de várias fontes, a diversificação das trajetórias de identificação religiosa, o desdobramento de uma religiosidade peregrina: todos esses fenômenos são indicadores de uma tendência geral à erosão do crer religioso institucionalmente validado. Em uma França majoritariamente católica, esse fenômeno atinge de maneira particularmente visível a Igreja Romana. Porém, todas as igrejas cristãs e o conjunto das instituições religiosas se confrontam, de maneira diversa, com o enfraquecimento de sua própria capacidade reguladora (HERVIEU-LÉGER, 2015, p. 170-171). Esse processo denominado desregulação do religioso ou desregulação institucional, paralelamente, corresponde à construção de novas identidades religiosas baseadas nas trajetórias específicas dos indivíduos e suas experiências. A desregulação consiste no deslocamento da noção de verdade autorizada – que é uma revelação preservada pela instituição na figura de um profissional – para verdades constituídas pela autenticidade dos sujeitos. Tal deslocamento faculta a recomposição do campo religioso, agora baseado numa lógica plural que garante alguma transmissão e continuidade de linhagem religiosa, todavia, submetida aos processos de construção e de reconstrução das subjetividades dos indivíduos e de laços fundados em afinidades (RODRIGUES, p. 55-56). Donizete Rodrigues aponta os seguintes fatores para a expansão dos movimentos religiosos emergentes (2008, p. 33): 1. O contexto da globalização e consequente perda de identidade cultural e religiosa; 2. Aumento da insensibilidade e do individualismo do mundo moderno, em geral, e das grandes cidades, em particular; 3. Aumento dos problemas sociais e econômicos, tais como: desemprego, marginalidade, toxicodependência, prostituição, racismo, violência urbana,etc.; 4. Problemas do foro psicológico, tais como angústia, ansiedade e falta de sentido para a vida, etc.; 5. Falta de capacidade e, às vezes, interesse por parte das Igrejas históricas tradicionais para enfrentar os problemas socioeconômicos, psicológicos e espirituais da maioria da população carenciada; 6. Afastamento gradual dos fiéis da sua Igreja original, pois ela apresenta, de uma forma geral, um discurso desatualizado quanto à realidade social, cultural e religiosa de hoje; 7. No caso dos países do Terceiro Mundo, a falta de vontade política dos governantes de realizar uma verdadeira mudança na sociedade, na tentativa de resolver ou amenizar a situação de extrema pobreza em que vive a maior parte da população, isso faz com que haja um descrédito generalizado da classe política e uma valorização das obras assistenciais de organizações não-governamentais e de Igrejas e outras associações religiosas, não conotadas com o poder político. Os movimentos religiosos emergentes atuam no contexto das religiões já instituídas e nem sempre há o diálogo e o respeito mútuo entre elas. Também existe rispidez e aspereza em muitos espaços de relações interconfessionais e inter-religiosos. Como exemplo dessa realidade no contexto das sociedades contemporâneas, a Igreja, numa tentativa de proteger, garantir e perpetuar o seu poder e reconhecimento social, faz várias tentativas para impedir o progresso desses no mercado religioso, bem como sua nova atuação no contexto da privatização da prática religiosa, porém, mais se sugere uma convivência pacífica entre as diferentes compreensões e experiências religiosas, ainda que fragmentadas, pluralizadas e em constante mobilização e desterritorialização. 17 Segundo a compreensão de Elisa Rodrigues (2009, p. 56-57), a modernidade torna-se a condição principal de existência das novas alternativas religiosas, visto que é ela que provê as liberdades que garantem ao indivíduo possibilidade de livre arbítrio, de autonomia e de consciência religiosa. Inclusive, a modernidade provê condições para, contraditoriamente, o florescimento de modos religiosos fundamentalistas. Tais grupos também podem ser compreendidos na chave da rejeição aos pressupostos da modernidade. Os movimentos religiosos emergentes expressam uma tentativa criativa de sobrevivência da religião na era secular. Menos como um protesto sociorreligioso e mais como um beliscão que serve para a explicitação de que, entre público e privado, cada vez mais as fronteiras tornam-se imprecisas e isso garante à religião o entre lugar, a possibilidade de não ser moderna tampouco antimoderna. Contudo, o verdadeiro locus do sagrado é o corpo e os corpos como espaço de manifestação das diferentes linguagens religiosas e que se apresentam por meio dos ritos, dos símbolos e das diferentes narrativas míticas. Para Emerson José Sena da Silveira (IZIDORO; WERNECK; ARAÚJO Orgs., 2019, p. 47), sagrado e dessacralização andam juntos nas sociedades pós-seculares: há espaço para múltiplas linguagens, a mítica, a científica, a acadêmica, a religiosa, a poética, a histórica. Não obstante, nos indícios aparentemente ameaçadores àquelas estruturas religiosas sólidas, fixas e reguladoras da moral social das sociedades, no entanto, não se vislumbra nenhuma investida mortal contra a religião tradicional e histórica, isto é, à Igreja. O que se vislumbra é um panorama religioso multifacetário que se desloca e vai assumindo novas identidades e fisionomias como resposta aos desafios das sociedades em mudanças. É certo também que, nas novas configurações socioculturais e religiosas, aqueles valores que eram considerados perenes no âmbito da vida e da liberdade humana estarão também em mudanças e serão deslocados, substituídos ou suprimidos. No entanto, é possível que haja lugar para todos nessa ampla casa cósmica que abriga os vários rostos do sagrado e as várias cores culturais e que exige a tolerância e o respeito às diferentes concepções da vida e às múltiplas experiências do sagrado. Faustino Teixeira compreende que: a Igreja é sinal e instrumento do Reino de Deus na história, mas não de forma exclusiva, pois o Reino se faz também presente através da atuação de outras tradições religiosas. Os outros também participam da realidade do reino de Deus. À medida que se reconhece as riquezas envolvidas nas doutrinas e práticas das outras tradições religiosas abre-se o essencial espaço para uma interpretação novidadeira do cristianismo. O verdadeiro diálogo inter-religioso acontece quando se respeita em profundidade o enigma da pluralidade religiosa em sua diferença irredutível e irrevogável. O diálogo requer uma sensibilidade nova, um despojamento profundo, uma consciência de humildade, uma busca incessante e, sobretudo, uma convicção de estar diante do solo sagrado do outro. O diálogo é, antes de tudo, um ato espiritual, pois pressupõe atenção, escuta, respeito e abertura, bem como uma atitude de confiança e entrega a um mistério sempre maior (2012, p. 175). Considerações finais O sagrado se dispõe em suas representações simbólicas e mistéricas a partir de novas configurações, novas ressignificações e de acordo com os novos perfis e vieses dos diferentes tecidos socioculturais. A religião, que se expressa nas diferentes formas de crenças e com distintos símbolos e ritos continua existindo de maneira disseminada, fluida, subjetiva e autônoma, onde se 18 articulam os símbolos, as representações comuns, as improvisadas imagens que emergem na singularidade dos indivíduos e das necessidades existenciais e afetivas do “homem religioso”. A religião em seu formato tradicional de Dossel Sagrado (BERGER, 1967) já não oferece, em sua totalidade, aquela proteção e a guarda aos indivíduos que a buscavam e que a aderiam para a sua vida. Contudo, a religião, quando já não responde as inquietações e os desejos manifestados pelos indivíduos, poderá se apresentar, na perspectiva de seus buscadores, com nova configuração, isto é, como novos movimentos religiosos. A religião como componente histórico, socioantropológico e teológico é uma realidade permanente dos grupos humanos e está em constante mudança de acordo com os movimentos das sociedades, portanto, jamais desaparecerá. Ela surge e ressurge com novos rostos e novas configurações que exigem um olhar diferenciado no que se refere ao fenômeno religioso e suas diferentes interpretações. Os movimentos religiosos emergentes atuam no contexto das religiões já instituídas e nem sempre há o diálogo e o respeito mútuo entre elas. Também existe rispidez e aspereza em muitos espaços de relações interconfessionais e inter-religiosos. Não obstante, os indícios aparentemente ameaçadores àquelas estruturas religiosas sólidas, fixas e reguladoras da moral social das sociedades, no entanto, não se vislumbra nenhuma investida mortal contra a religião tradicional e histórica, isto é, à Igreja. O que se vislumbra é um panorama religioso multifacetário que se desloca e vai assumindo novas identidades e fisionomias como resposta aos desafios das sociedades em mudança. A contemporaneidade apresenta o seu poder paradoxal e aparentemente contraditório, secularização da sociedade em suas diversas facetas e simultaneamente revitalização e mudanças do universo religioso. Dois rostos que fazem parte de uma lógica que está na força dialética do moderno que desloca e desabriga a religião e, nesse mesmo movimento, lhe possibilita novas fisionomias e novas formas de experimentá-la com mais autonomia e incidência social. O contexto religioso atual apresenta uma diversidade de experiências religiosas e espiritualidades que respondem as mudanças de ordem social, política, econômicas, cultural e existencial que emergem nas sociedades contemporâneas. Desse modo, os fenômenos religiosos devem ser compreendidos a partir das experiências religiosas, de seuprocesso hermenêutico e de suas implicações no cotidiano das pessoas e na dinâmica das diferentes culturas e sociedades. Nas novas configurações socioculturais e religiosas que emergem, aqueles valores que eram considerados perenes no âmbito da vida e da liberdade humana estarão também em mudança e serão deslocados, substituídos ou suprimidos. No entanto, é possível que haja lugar para todos nessa ampla casa cósmica que abriga os vários rostos do sagrado e as várias cores culturais e que exige a tolerância e o respeito às diferentes concepções da vida e às múltiplas experiências do sagrado. 19 Para Antônio Flávio Pierucci, secularização e efervescência religiosa não se obstam, mas se combinam e polinizam-se (apud PORTELLA, 2006, p. 77). Não podemos afirmar ligeiramente que a religião ou as religiosidades estão em declínio, decadência, diminuindo ou até mesmo desaparecendo nas sociedades contemporâneas. Temos que compreender o fenômeno religioso dentro de um contexto de rápidas e significativas mudanças. De acordo com Donizete Rodrigues, os crentes, os fiéis, ao encontrarem, ao longo de suas vidas, outras alternativas religiosas, ou melhor, outros caminhos para se chegar à salvação da alma, abandonam a Igreja ou confissão religiosa original e mudam de confissão religiosa, de religião ou de Igreja. No caso específico do Brasil e de Portugal, partindo da Igreja Católica Romana, considerada, durante séculos, como a única instituição religiosa capaz de guiar o Homem no caminho da salvação, os fiéis transitam para os novos movimentos religiosos ou outras práticas alternativas (2008, p. 32). Donizete Rodrigues aponta alguns fatores para a expansão dos movimentos religiosos emergentes (2008, p. 33). Quais são esses fatores? Investigue no 2.3 deste capítulo. 20 ........................................ não seria outra coisa que o esgotamento do projeto moderno da metafísica clássica, da maneira de interpretar o ser como presença, como algo de fixo, de rígido e incapaz de acolher as identidades alheias, as diferenças culturais e religiosas. A) A pós-modernidade B) A modernidade C) A modernidade clássica D) A antiguidade E) A era medieval Resposta correta: A, pois o forte esgotamento do projeto moderno da metafísica clássica é característica da pós-modernidade. A religião em seu formato tradicional de Dossel Sagrado já não oferece, em sua totalidade, aquela proteção e a guarda aos indivíduos que a buscavam e que a aderiam para a sua vida. Quem é o autor dessa afirmação? A) Bultmann B) Berger C) Dussel D) Beozo E) Joachim Jeremias https://www.youtube.com/watch?v=S2m0Thg4OW4 Religare - Conhecimento e Religião sobre antropologia e religião Carlos Brandão – Antropólogo Flávio Senra – Cientista da Religião https://www.youtube.com/watch?v=S2m0Thg4OW4 21 RODRIGUES, Adriani Milli. Religião, teologia e antropologia: o confronto entre Karl Barth e Ludwig Feuerbach. Horizonte, Belo Horizonte, v. 7, n. 14, jun. 2009. Resumo da autora: O objetivo desse artigo é sintetizar os principais elementos do confronto entre o pensamento do teólogo reformado Karl Barth e o do filósofo alemão Ludwig Feuerbach com relação aos temas da religião, teologia e antropologia que, na abordagem de ambos, apresentam conexão direta. Para tanto, esse estudo inicia-se com uma panorâmica apresentação feuerbachiana da interpretação antropológica da teologia e da religião, particularmente a partir de sua obra mais famosa, A essência do cristianismo, que conduz às suas conclusões de ataque à teologia e ressignificação da função da religião. A seguir, a reação de Barth às ideias de Feuerbach é contemplada a partir de sua visão teológica teocêntrica. Nesse sentido, há a exposição de duas fases da reação barthiana ao pensamento de Feuerbach. Na primeira delas, Barth apresenta certos elementos de concordância e aproveitamento das noções feuerbachianas, enquanto na segunda fase a discordância é total. Em suas conclusões, o artigo indica que o debate entre Barth e Feuerbach gira em torno da ideia de reducionismo teológico ou religioso, tão presente nos debates epistemológicos dos estudos em Ciências da Religião. Leia e saiba mais sobre o sagrado revelado: IZIDORO, José Luiz, WERNECK, Mário, ARAÚJO, Paulo Sérgio (Orgs.). O Sagrado Revelado: nas Teias Socioculturais da Contemporaneidade. São Paulo: Fonte Editorial, 2019. Resposta correta: B 22 UNIDADE II CAPÍTULO 3 - O LOCUS RELIGIOSO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E A MEMÓRIA CRISTÃ No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ O locus religioso no mundo contemporâneo; ✓ A memória cristã; ✓ As experiências cristãs diversificadas; ✓ Identidades cristãs Introdução A religião torna-se um dos principais caminhos para a compreensão do ser humano. É a chave para a compreensão da vida social, das práticas institucionais, para compreender as experiências cotidianas da vida e os processos de mudança socioculturais. A religião é um fator de coesão social porque produz cultura. Existem diversas formas de expressões religiosas, e estas nunca saturam o mercado, havendo oportunidades e espaço para novos grupos, que podem apresentar objetivos parecidos ou distintos, dependendo de como se articulam os interesses e as motivações para seu surgimento. Atualmente, a crença continua ocupando um espaço importante na vida das pessoas e se configura ou reconfigura de acordo com as diferentes realidades socioculturais de cada sociedade. Desse modo, a religião e as religiosidades não desaparecem, elas se desdobram, ampliam-se e diversificam-se simultaneamente. O mundo atual continua conectado à religião do ponto de vista das diferentes espiritualidades ligadas ao transcendente que convergem o humano com a natureza e com todo o cosmo numa perspectiva holística. Nessa relação, a dimensão humana transcende na própria profundidade do ser e, de uma realidade subjetiva, emerge para as diferentes realidades objetivas por meio de seus ritos, suas imagens, templos, seus escritos e sistemas simbólicos. Desde os tempos antigos, o Cristianismo esteve presente de maneira significativa em muitas geografias da região da Palestina e, também, fora desse ambiente, com uma imagem plural e diferentes tendências e identidades. Como em suas origens, atualmente o Cristianismo, ou os Cristianismos, encontram-se também em movimentos de diásporas; portanto, assumem diferentes fisionomias na constante tensão entre a tradição e as adequações oriundas do surgimento de novos quadros hermenêuticos e epistemológicos. 3.1 Memória cristã e religião na contemporaneidade Conforme mencionado com outras palavras na Unidade I, a religião torna-se um dos principais caminhos para a compreensão do ser humano. Para Donizete Rodrigues (2008, p. 17-42), em seu artigo “Novos movimentos religiosos: realidade e perspectiva sociológica”, a religião, como expressão simbólica das experiências sociais, como fenômeno social, como subsistema cultural/social, é de primordial importância na análise de todas as sociedades humanas. É a chave para a compreensão da vida social, das práticas institucionais, para entender as experiências 23 cotidianas e os processos de mudança social. Desde o surgimento da Sociologia que um tema central desta ciência é o complexo processo de secularização ou “desencantamento do mundo”, no sentido weberiano. A maioria dos teóricos, clássicos e modernos, prós ou contras, valorizaram esta problemática nas suas teorizações. Para Edson Martins (2017, p. 7-16), como conclusão de seu artigo “Novos Movimentos Religiosos: duas questões”, ele diz que é possível concluir que a religião é um fato presente na vida do ser humano desde o início da História. Ela é um fator de coesão social, produtora de cultura e pode ser benéfica ou nociva, dependendo de quem a manipula. É possível, ainda,constatar que, apesar de existirem expressões religiosas dos mais variados matizes, as religiões não saturaram o mercado, havendo espaço para o surgimento de mais grupos com propostas e objetivos ora semelhantes, ora distintos uns dos outros. É um movimento que parece não ter fim. Esse fenômeno é causado principalmente pelas mudanças sociais e pela incapacidade de as grandes religiões darem respostas rápidas às demandas das pessoas. Essa inadequação das grandes religiões abre brechas para o surgimento de grupos pequenos, com propostas bastante específicas. Dentre esses novos grupos, há aqueles que surgiram por meio de dissidências de grupos já existentes, há aqueles de matriz oriental, de matriz indígena e aqueles que praticam um visível sincretismo, fato normal quando se fala em novos movimentos religiosos. O que se conclui, portanto, é que o surgimento dos novos movimentos religiosos é fruto do espírito do nosso tempo: muita oferta para o atendimento das necessidades, que estão ficando cada dia mais particulares. Aqui também acrescentamos os grupos de matriz africana, caiçara e dos diferentes grupos de imigrantes que no Brasil se fixaram. Não se trata de pequenos grupos e, sim, de proporções de pessoas e grupos humanos que respondem, no que concerne à religião, aos desafios que se apresentam na dinâmica atual da mobilização das diferentes sociedades e culturas, que podem ser de grandes, pequenas ou médias proporções humanas. Na opinião de Danièle Hervieu-Léger (2015, p. 22, 23, 28), o religioso é uma dimensão transversal do fenômeno humano que trabalha, de modo ativo e latente, explícito ou implícito, em toda a extensão da realidade social, cultural e psicológica, segundo modalidades próprias a cada uma das civilizações dentro das quais se tenta identificar sua presença. Essa pulverização de identidades religiosas individuais não implica, necessariamente, o enfraquecimento ou mesmo o desaparecimento completo de toda forma de vida religiosa comunitária. Muito ao contrário, como o aparato das grandes instituições religiosas se mostra cada vez menos capaz de regular a vida de fiéis que reivindicam sua autonomia de sujeitos que creem, assiste-se a uma efervescência de grupos, redes e comunidades, dentro das quais os indivíduos trocam e validam mutuamente suas experiências espirituais. A crença continua ocupando um espaço importante na vida das pessoas e se configura ou reconfigura de acordo com as diferentes realidades socioculturais de cada sociedade e do exercício da memória individual e coletiva dos grupos. Desse modo, a religião e as religiosidades não desaparecem, elas se desdobram, ampliam-se e diversificam-se simultaneamente. Danièle Hervieu- Léger (2015, p. 51) define esse fenômeno como “Believing without Belonging” – “crer sem pertencer”. Isso não quer dizer que não exista mais nenhum tipo de vínculo, por exemplo, entre a crença cristã e a pertença institucional, as práticas rituais, os estilos de vida familiar, a lógica da aliança matrimonial, comportamentos sexuais, opções políticas etc.; mas se reconfigura o universo religioso das pessoas com diferentes fisionomias. 24 O mundo atual continua conectado à religião, do ponto de vista das diferentes espiritualidades ligadas ao transcendente que convergem o humano com a natureza e com todo o cosmos numa perspectiva holística. Nessa relação, a dimensão humana transcende a própria profundidade do ser e de uma realidade subjetiva emerge para as diferentes realidades objetivas por meio de seus ritos, suas imagens, templos, seus escritos e sistemas simbólicos. Assim como as grandes religiões, o Cristianismo passou por diversos processos de leituras, releituras e interpretações e que, hoje, também exige o uso de novas ferramentas metodológicas de análises, como também os novos olhares às diferentes expressões religiosas, religiosidades e às novas espiritualidades que emergem, as quais, em muitas situações, são oriundas ou vertentes do Cristianismo no percurso da História. 3.2 Cristianismos de origens: experiências cristãs diversificadas Como em suas origens, atualmente e no marco da globalização das sociedades, o Cristianismo, ou os Cristianismos, encontram-se também em movimentos de diáspora; portanto, assumem diferentes fisionomias na constante tensão entre a tradição e as adequações oriundas do surgimento de novos quadros hermenêuticos e epistemológicos. Já não se trata de fixar regras e estabelecer rígidas estruturas no âmbito das experiências religiosas cristã na atualidade, mas, sim, de buscar compreender, nas mesmas experiências, o “sentido” da relação do mistério implícito do sagrado explicitado de diferentes maneiras e com base nos desejos e nas aspirações humanas num constante diálogo com as diferenças. Trata-se de uma compreensão sincrética das experiências religiosas e das diversidades de espaços do sagrado, em que os elementos antropológicos e religiosos não se misturam, mas interagem recíproca e dialeticamente. Segundo Felix Wilfred (2011, p. 24-25), no que diz respeito ao Cristianismo, as fronteiras estão se tornando porosas, e talvez não possamos fixar identidades rigidamente confessionais. Em alguns casos, haverá manifestações abertas de pertença institucional ao Cristianismo. Em outros, o Cristianismo será significativamente mudado pelo encontro com outras cosmovisões representadas por outras tradições religiosas e culturas autóctones. No contexto global da atualidade, a missão é o diálogo e a partilha de suas experiências religiosas e espirituais com os outros, levando a um mútuo enriquecimento e reconhecimento da presença de Deus e do Reino de Deus por cima de limites e fronteiras. A missão, atualmente, não é prerrogativa de nenhuma experiência religiosa particular; é algo que todos os crentes precisam praticar enquanto continuam a encontrar o Divino em sua jornada espiritual. Desde os tempos antigos, o Cristianismo esteve presente de maneira significativa, em muitos ambientes da Palestina e, também, fora dele, como na Ásia e em outras geografias, com uma “imagem mais diversificada do cristianismo primitivo, em cujo seio havia múltiplas correntes e tendências bem pouco diferenciadas entre si, compondo um grande leque” (FREEDMAN, 1992, p. 290), do qual os extremos, posteriormente, seriam a ortodoxia e a heresia. Convém considerar que o Cristianismo primitivo, em seu início, por seu caráter pluralista e sincrético, certamente não apresentava uma estrutura já consolidada das categorias “heterodoxia e ortodoxia”. Philipp Vielhauer (1991, p. 806), mencionando a Papias e Hegesipo, diz que “ambos lutaram contra o gnosticismo, em uma época na qual não existiam instituições reconhecidas ou documentos admitidos por todos como notae ecclesiae e em que estas coisas – estrutura comunitária, episcopado monárquico, regras do cânon – achavam-se em estado incipiente”. Paulo Augusto de Souza Nogueira (2003, p. 129;133) considera que a Ásia Menor do fim do século I d.C. continha a maior diversidade de expressões religiosas e formas de organização de comunidades de todo o 25 Cristianismo desse período. Essa mobilidade na diáspora foi determinante para a expansão do Cristianismo emergente e para a intensa troca de práticas e crenças que se tornou característica do Cristianismo asiático. Em uma primeira fase do Cristianismo primitivo, encontramos os testemunhos dos que estiveram junto a Jesus Cristo. Posteriormente, a partir da segunda geração de discípulos e discípulas, encontramos aqueles grupos que difundiram o Cristianismo por meio do querigma pascoal anunciado. Na comunidade cristã primitiva, Jesus, conhecido como “aquele que anunciava e dava seu testemunho”, isto é, o portador da mensagem, passa a ser “anunciado”, agora, como “Boa nova” (Evangelho) pelos cristãos. Segundo Rudolf Bultmann (2004, p. 74), “conforme mostra a tradição sinótica, a comunidadeprimitiva retomou a pregação de Jesus e continuou a anunciá-la. E na medida em que o fez, Jesus tornou-se para ela o mestre e profeta. Mas ele é mais: é, ao mesmo tempo, o Messias; e assim ela passa a anunciar – e isso é o decisivo – simultaneamente a ele mesmo”. O Cristianismo, desde seu início, empreendeu grandes esforços individuais e coletivos para estabelecer, talvez, um possível perfil de Jesus que catalisasse as diversidades e as expectativas messiânicas. Atos 1,1 é enfático em apontar as tentativas e “variedades” de escritos existentes para narrar “os fatos que se cumpriram entre nós”. Para Jacir de Freitas Faria (2003, p. 10-11), por meio desse esforço coletivo para traçar o perfil do mestre, surgiram vários Cristianismos, isto é, vários modos de interpretar Jesus. Do “cristianismo dos ditos de Jesus (Q); passando pelo cristianismo da cura e do caminho de Marcos; pelo cristianismo do Jesus Filho de Deus, Messias e seguidor do judaísmo de Mateus; o cristianismo da salvação para judeus e não judeus de Lucas; o cristianismo do discurso teológico elaborado e dos sinais de João; o cristianismo do Jesus ressuscitado e glorioso de Paulo; entre outros cristianismos; até o cristianismo gnóstico, que mostra Jesus, o ressuscitado que traz a salvação”. No horizonte mais amplo de Atos dos Apóstolos, podemos observar outras vertentes de irradiação do Cristianismo primitivo. Os helenistas, por meio da dispersão (Atos 8,1bss.), colocam-se no horizonte de Atos 1,8, isto é, a missão cristã de Jerusalém, passando pela Judéia, Samaria até os confins da Terra, com o deslocamento de Filipe ao sul, pelo “caminho de Gaza” ao encontro com o “Etíope eunuco” (Atos 8,26-40). Também em Damasco poderíamos estabelecer um elo com o Cristianismo de Ananias e a missão gentílica de Paulo (Atos 9,10a.15). Na Selêucia, Chipre, Panfilia, Antioquia da Psidia, Icônio, Síria, Cilícia, Derbe, Listra, Frígia, Galácia, Trôade, Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto, Éfeso, Cesaréia, Roma etc., poderíamos considerar a presença de núcleos ou pequenas comunidades cristãs que, no contexto neotestamentário, apontariam para outras fronteiras étnicas e geográficas. Archibald Mulford Woodruff (1996, p. 78-79) aponta as experiências cristãs que existiam antes do auge da atividade de Paulo, isto é, a Igreja Síria Oriental e a Igreja Síria Ocidental, ou seja, a Igreja Antioquenha. Woodruff oferece algumas características elementares dessas duas igrejas no âmbito do Cristianismo pré-paulino: “A igreja de Síria oriental é conhecida a partir de sua produção literária e história posterior, por sua ética exigente e cristologia sapiencial. Praticava-se o Batismo e a Santa Ceia. A geografia nos permite imaginar que, nos tempos do contato de Paulo com essa igreja, ela estava em contato com o mesmo grupo que produziu a fonte Q, especialmente na Arábia. A igreja de Antioquia é conhecida por sua liberdade concernente à lei, à conversão de gentis, ao querigma da morte e da ressurreição de Jesus, ao tema apocalíptico do futuro triunfo de Deus e a autoconsciência do grupo”. 26 Em relação à Arábia, Jerome Murphy-O’Conner (1993, p. 737), aludindo a Gal. 1,17 e sua localização geográfica, diz que o itinerário Paulino (Damasco – Arábia – Damasco) pode indicar que, no início, Paulo estava convencido que sua missão era para os Gentis, sem, portanto, querer prolongar a permanência de sua missão nesse território. É possível que a missão paulina estivesse fortemente impregnada pelas tradições cristãs que se estabeleceram em vários centros étnico-geográficos em um período muito próximo à ressurreição de Jesus Cristo e que eles muito influenciaram no percurso da missão itinerante de Paulo e na pré-paulina (Atos 26,22-23; 1Co 1,13-17; 1,24; 9,19-20; Gal 1,17; etc.). Nessa amplitude, Jorge Pixley (1998, p. 7) nos diz que “há milhões de cristãos cujas igrejas se remontam aos primeiros séculos (...) Estão as igrejas coptas de Egito e de Etiópia que foram declaradas heréticas como ‘monofísitas’ nas discussões cristológicas dos séculos cinco e seis. Estão as igrejas orientais de tradições tomasina como a ‘Mar Thoma’ na Índia, uma zona cristianizada em tempos remotíssimos que nunca conheceu a dominação romana e que não foi declarada herética pelos bispos aliados dos imperadores, porque estes nem sequer sabiam de sua existência. Um exame do primeiro século da expansão do movimento de Jesus deve dar-nos tolerância até a diversidade que logo se negou em benefício da unidade religiosa que requeria um império em decomposição”. Assim, é na multiformidade das experiências cristãs em suas origens e de sua recepção no processo histórico das sociedades, das culturas e de outras religiões, que vão se construindo a memória religiosa e a identidade cristã. Essa multiformidade de Cristianismos se entrelaça em suas fronteiras étnicas e geográficas, confluindo, assim, nas diversidades de identidades religiosas. Considerações finais O mundo contemporâneo continua ligado à religião, na perspectiva das diferentes espiritualidades ou religiosidades ligadas ao transcendente que convergem o humano com o cosmos numa perspectiva universal. Nessa relação, a dimensão humana se humaniza e transcende na própria profundidade do ser e, de uma realidade subjetiva, emerge para as diferentes realidades objetivas por meio de seus ritos, suas imagens, templos, seus escritos e sistemas simbólicos. Assim como as grandes religiões, o Cristianismo passou por diversos processos de leituras, releituras e interpretações e, atualmente, exige o uso de novos métodos de análises, como também de novos olhares para as diferentes expressões religiosas, religiosidades e as novas espiritualidades que emergem, as quais, em muitas situações, poderão ser oriundas ou variantes do Cristianismo no percurso da História. A religião é uma dimensão transversal que atravessa todo o ser humano de maneira ativa e latente, de forma explícita ou até implícita, e que atinge a extensão social, política, econômica, cultural e psicológica dos indivíduos; claro, de acordo com as diferentes sociedades e nas diferentes etapas históricas. É no processo histórico das sociedades, nos distintos períodos de desenvolvimento dos povos, das culturas e da vida social que se compreendem o fenômeno religioso e as religiões. Na multiformidade das experiências 27 cristãs em suas origens e de sua recepção no processo histórico das sociedades, das culturas e de outras religiões, é que vão se construindo a memória religiosa e a identidade cristã. Essa multiformidade de Cristianismos se entrelaça em suas fronteiras étnicas, culturais e geográficas, confluindo, assim, nas diversidades de identidades religiosas nos diferentes percursos da História. Para Donizete Rodrigues (2008, p. 17-42), em seu artigo “Novos movimentos religiosos: realidade e perspectiva sociológica”, a religião, como expressão simbólica das experiências sociais, fenômeno social e subsistema cultural/social, é de primordial importância para a análise de todas as sociedades humanas. É a chave para a compreensão da vida social, das práticas institucionais, para entender as experiências cotidianas e os processos de mudança social. A crença continua ocupando um espaço importante na vida das pessoas e se configura ou reconfigura de acordo com as diferentes realidades socioculturais de cada sociedade. Desse modo, a religião e as religiosidades não desaparecem, elas se desdobram, ampliam-se e diversificam-se simultaneamente. Segundo Rudolf Bultmann (2004, p. 74), “conforme mostra a tradição sinótica, a comunidade primitiva retomou a pregação de Jesus e continuou a anunciá-la. E na medida em que o fez, Jesus tornou-se para ela o mestre e profeta. Mas ele é mais: é, ao mesmo tempo, o Messias; e assim ela passa a anunciar – e isso é o decisivo – simultaneamente a ele mesmo”. No horizontemais amplo de Atos dos Apóstolos, podemos observar outras vertentes de irradiação do Cristianismo primitivo. Os helenistas, por meio da dispersão (Atos 8,1bss.), colocam-se no horizonte de Atos 1,8, isto é, a missão cristã de Jerusalém, passando pela Judéia, Samaria até os confins da Terra, com o deslocamento de Filipe ao sul, pelo “caminho de Gaza” ao encontro com o “Etíope eunuco” (Atos 8,26-40). Pesquise Atos 1,8; Atos 8,1bss e Atos 8, 26-40; respectivamente. 28 1. A religião torna-se um dos principais caminhos para a compreensão: a) Do ser humano. b) Do universo. c) Do cosmo. d) Da criação. e) Do espírito. A resposta correta: A. Por meio da religião, pode-se compreender o ser humano. 1 - Philipp Vielhauer (1991, p. 806), mencionando _________, diz que “ambos lutaram contra o gnosticismo, em uma época na qual não existiam instituições reconhecidas ou documentos admitidos por todos como notae ecclesiae e em que estas coisas – estrutura comunitária, episcopado monárquico, regras do cânon – achavam- se em estado incipiente”. Assinale a alternativa que completa a lacuna. a) Jerónimo e Josefo. b) Papias e Hegesipo. c) Agostinho e Tomás de Aquino. d) Antão e Nicodemos. e) Ambrósio e Papias. Religare – Conhecimento e Religião sobre Cristianismo das origens. Flávio Senra entrevista Paulo Nogueira. Exibido em: 10 maio 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q69QX9VlCBc. https://www.youtube.com/watch?v=q69QX9VlCBc 29 THEISSEN, Gerd. A Religião dos Primeiros Cristãos: Uma teoria do cristianismo primitivo. São Paulo: Paulinas, 2009. Esse volume traz uma análise do Cristianismo primitivo, seguindo o estilo das pesquisas na área das Ciências da Religião. Theissen procura apresentar os conteúdos do Cristianismo no primeiro século de uma forma que os leitores, independentemente de suas convicções religiosas particulares, tenham acesso ao objeto pesquisado. O autor quer fazer compreender, sobretudo, a força da fé cristã na vida e na História da Antiguidade. Dois objetivos norteiam sua pesquisa: primeiro, a pesquisa sobre a vida dos primeiros cristãos, investigando as afirmações teológicas deles por meio de uma aproximação semiótica, psicológica e histórica, tornando-se visíveis, com categorias científico-religiosas, a fé, o culto e a ética da igreja primitiva; segundo, mostra como o Cristianismo primitivo se desenvolveu ao se distanciar do Judaísmo, criando um mundo autônomo de símbolos religiosos, sendo que este último tinha a força de formar comunidade e transformar toda a História do mundo até então conhecido. Theissen é cristão, todavia acredita na comunicação científica, a qual torna possível a compreensão das coisas por todos, apesar de posições religiosas diferentes dos participantes do diálogo. Para aprofundar seu conhecimento a respeito do tema “Antropologia da Religião”, leia a obra: IZIDORO, José Luiz, WERNECK, Mário, ARAÚJO, Paulo Sérgio (Orgs.). O Sagrado Revelado: nas Teias Socioculturais da Contemporaneidade. São Paulo: Fonte Editorial, 2019. Respostas: 1 – Alternativa “b”; 30 UNIDADE II CAPÍTULO 4 – ÉTICA E RELIGIÃO No término deste capítulo, você deverá saber: ✓ O que é a ética; ✓ A ética enquanto princípio categórico; ✓ A religião e a ética; ✓ O diálogo como exigência ética para as religiões. Introdução Ética e religião, são dois temas importantes e complementares em sua essência, não somente para o debate acadêmico e eclesial, mas, sobretudo, para a prática da vida cotidiana. A ética torna-se um princípio categórico e universal da humanidade, porém que tem sua ação prática intrínseca à pessoa, por meio de seu comportamento, conduta e atitudes. A ética, assim como a moral, encontra-se vinculada ao processo de desenvolvimento e de construção dos indivíduos nas diferentes sociedades e culturas por meio de seus hábitos e costumes. A ética tem a ver com a realidade humana que é construída com base em sua história e nas relações socioculturais das pessoas nas sociedades em que se originam e se desenvolvem. A ética cristã reúne os componentes antes mencionados e é compreendida no horizonte da fé cristã e de suas exigências atitudinais, fundamentada na Sagrada Escritura. Na perspectiva da ética, a religião deveria ser um espaço consagrado para a prática da justiça, da caridade, do amor e da misericórdia, temas, por vezes, despistados ou omissos nas instituições religiosas. A religião, desde os espaços instituídos para sua prática cúltica e social deve ser, em sua essência, geradora de possibilidades do cultivo da ética. E como cultivo da ética, considerando o pluralismo religioso, a diversidade de experiências do Sagrado, as distintas espiritualidades, podemos situar o tema do diálogo religioso e inter-religioso como uma exigência ética de vivência e de respeito às diferenças religiosas e confessionais. 4.1 O que é a ética No livro que o Pastor Melquisedeque (2021, p. 6) escreveu para o curso de teologia da UNISEPE|UNIVR, Ética, Bioética, Moral Social e Família, a palavra ética apresenta os seguintes sentidos etimológicos: Vem do grego ethos, que significa “costume”, “disposição” ou “hábito”. A sociedade romana traduzia esse termo para o latim mos (ou moris, plural), que quer dizer “costume”, de onde vem à palavra moral. Tanto ethos como mos falam de um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural; ou seja, o homem não nasce com ele, como se fosse um instinto, mas adquire ou conquista por hábito. A ética, pela própria etimologia, nos diz a respeito da realidade humana construída a partir da sua história e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. Assim, a ética estuda as ações do indivíduo isoladamente ou coletivamente. 31 O professor Luís Carlos (2020, p. 21-22), no livro que escreveu em 2020 para o curso de teologia da UNISEPE-UNIVR, Teologia Cristã, apresenta o seguinte significado para o conceito de ética e de ética cristã: É a forma rotineira em textos acadêmicos ou não e nas conversas cotidianas, fazendo parte daqueles conceitos tratados pelo senso comum. É usada em diferentes situações e lugares, por diferentes culturas. No entanto, sua definição é mais complexa que seu uso e outra questão polêmica que precisa ser respondida é sobre os limites entre o conhecimento da ética e da moral. Encontra-se uma excelente distinção de ética e moral em paul ricoeur (2011), importante filósofo protestante, seguidor de Karl Barth. Ele afirma que na etimologia das palavras, ambas remetem para a ideia de costumes (ethos, mores), sendo uma de origem grega e outra de origem latina. O que as difere, de forma bem sutil, é a diferença entre bom e obrigatório. Quanto a ética cristã, entende-se como a ética fundamentada na sagrada escritura e na tradição cristã. É em sua doutrina e em seus conceitos cristãos o que o teólogo encontrará enquanto sentido para a prática dos costumes, ou seja, para o viver bem, em harmonia consigo, com a natureza e com as pessoas, objetivando a finalidade última de sua existência. A ética cristã é composta pelos princípios que são derivados da própria fé cristã que determinam as ações de seus fiéis. De acordo com o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, Ética é o ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre a essência dos princípios, valores e problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo como base as normas consideradas universalmente válidas e que norteiam o comportamento humano. De acordo com a filósofa Marilena Chauí (2002, p. 337), Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência