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LEUCEMIAS E LINFOMAS Lara Camila – 5º Semestre - Medicina LEUCEMIAS -> Transformação Maligna de uma célula hematopoiética de determinada linhagem (mieloide ou linfoide), gerando duas características básicas: (1) perda total ou parcial da capacidade de amadurecimento e (2) proliferação intensa e descontrolada. Como consequência, essas células malignas se acumulam na medula óssea e prejudicam a produção normal das células sanguíneas, mas podem também se acumular em outros tecidos e órgãos, cujas funções são frequentemente comprometidas. LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA (LMA) Grupo heterogêneo de doenças que se caracterizam pelo aumento de blastos na medula óssea e, normalmente, no sangue periférico. • É o tipo mais comum de leucemia aguda em adultos (90% dos casos); • É rara em crianças com idade inferior a 10 anos (15% dos casos); • Sua incidência aumenta com a idade; Manifestações clínicas: em geral, os sinais e sintomas são decorrentes da falência da hematopoese e/ou da infiltração de tecidos por células leucêmicas. • Fadiga, palidez e fraqueza -> anemia • Infecções frequentes -> leucopenia • Febre -> resultado de infecções ou da própria leucemia • Em 50% dos casos: hemorragias, petéquias e epistaxe -> trombocitopenia • Hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia, hipertrofia de gengivas e dor óssea -> infiltração de órgãos e tecidos pelas células leucêmicas • Cefaleia, convulsões ou alteração visual -> infiltração do SNC Etiologia Na maioria dos casos, a LMA surge sem motivos aparentes, embora algumas vezes seja possível identificar possíveis causas, como: radiação ionizante, vírus oncogênicos (HTLV-1), fatores genéticos e congênitos, algumas substâncias químicas e fármacos (benzenos e agentes alquilantes), predisposição a doenças hematológicas. Achados laboratoriais: ao diagnóstico, as contagens hematológicas são muito variáveis nos casos de LMA. • Leucocitose (>50% dos casos); hiperleucocitose (>100.000/mm³) ocorre em menos de 20% dos casos; • Anemia normocrômica e normocítica • Plaquetopenia • Mieloblastos (célula sanguínea imatura precursora do promielócito, que pode dar origem a um granulócito: basófilo, neutrófilo ou eosinófilo). OMS: a detecção de 20% ou mais de mieloblastos entre os leucócitos do sangue periférico é considerada o critério diagnóstico de LMA; Na análise morfológica do aspirado de medula óssea, além da infiltração por mieloblastos, também releva a diminuição do número de células das outras linhagens hematológicas. Além disso, podem ocorrer também alterações qualitativas (displasias) em alguns casos. • Alterações da hemostasia podem ser encontradas, e a causa mais frequente é o consumo de fatores plasmáticos da coagulação; • Hiperuricemia -> resultado da elevada produção e da lise de células tumorais; OBS: leuco normal => 20-30% dos casos | leuco diminuído => 20-30% dos casos | hiperleuco => 20%. Diagnóstico • Amostras da medula óssea e sangue periférico devem ser obtidas antes de qualquer intervenção terapêutica; • Para diagnóstico definitivo, é necessária a detecção de pelo menos 20% de blastos leucêmicos em aspirado de medula óssea ou em sangue periférico. Os mieloblastos podem conter um número variável de bastonetes de Auer – grânulos azurófilos anormais nos lisossomos. Os bastonetes de Auer são patognomônicos de LMA. Além disso, é possível observar claustre de blastos (aglomerados). • A imunofenotipagem é uma técnica importante na caracterização das LMAs, pois a detecção de marcadores associados a diferentes linhagens pode caracterizar melhor a origem dos mieloblastos. Além disso, a imunofenotipagem pode identificar blastos muito imaturos, que não apresentam os grânulos com mieloperoxidase, e assim podem ser erroneamente classificados como linfoblastos com base nas análises morfológica e citoquímica. A avaliação diagnóstica da LMA deve sempre incluir a análise genética, pois essas alterações são as que possuem maior correlação com o prognóstico e influenciam na estratégia terapêutica. LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA É uma doença clonal da célula progenitora hematopoética, caracterizada pela presença do cromossomo Filadélfia (cromossomo Ph ou Ph1), produto da translocação t(9;22)(q34;p11) e que resulta na fusão dos genes ABL e BCR, gerando um novo gene híbrido e anormal: o gene BCR-ABL. Esse gene produz uma proteína com elevada atividade tirosinocinase que regula a proliferação celular. • A LMC constitui 14% de todas as leucemias • A idade mediana do diagnóstico localiza-se entre a quinta e a sexta década • Discreta predominância no sexo masculino • Radiação ionizante é o único fator de risco conhecido a se relacionar com o desenvolvimento da LMC Manifestações clínicas: dependem da fase e do volume da doença. (1) Fase crônica => fase de excessiva proliferação da linhagem mieloide; é uma fase mais prolongada (3 a 5 anos) e com poucos sintomas: fadiga, perda de peso, sudorese e febrícula (38 graus); palidez e esplenomegalia. A intensidade das manifestações clínicas depende do volume da doença existente, traduzido pela leucocitose e organomegalia: • A esplenomegalia está presente em mais de 80% dos casos e, a depender do volume, pode causar: desconforto abdominal, efeitos compressivos nas vísceras ocas ocasionando plenitude pós-prandial e outros distúrbios digestivos; • Hepatomegalia discreta a moderada pode ser encontrada; • Manifestações de hiperviscosidade, como priapismo, zumbido e alterações visuais, são observadas raramente e ocorrem em pacientes com acentuada leucocitose. Exame laboratorial: • Leucocitose normalmente > 25.000/uL, raras vezes atinge > 400.000/uL; • Mieloblastos e promielócitos representam menos de 10% na contagem diferencial dos granulócitos (predomina mielócitos e formas maduras); • Basofilia é um achado comum e eosinofilia pode estar presente; • Anemia normocrômica e normocítica é comum; • A contagem de plaquetas é normal ou aumentada; A medula óssea mostra intensa hiperplasia granulocítica, com morfologia geralmente normal; número de blastos é inferior a 10%; A biópsia da medula é útil para ratificar a hiperplasia e detectar a presença de fibrose (mielofibrose); (2) Fase acelerada => fase que tem duração de alguns meses; caracteriza-se pela resistência à terapêutica citorredutora, aumento da esplenomegalia, da basofilia e do número de células blásticas, trombocitose ou trombocitopenia, mielofibrose e evolução clonal citogenética; os pacientes podem estar assintomáticos, mas frequentemente: febre, sudorese noturna, perda de peso e dores ósseas. . (3) Fase blástica/Crise blástica => considera-se que o paciente está em crise blástica quando o número de células blásticas (em 50% dos casos: mieloblastos) é superior a 20% (critério da OMS) na medula óssea ou no sangue periférico. Nessa fase, é comum: febre, sudorese noturna, anorexia, perda de peso e dores ósseas. • Aumento da esplenomegalia; • Infiltração extramedular pode estar presente, principalmente nos linfonodos, pele, ossos e SNC; • A crise blástica como manifestação inicial da LMC é incomum, e deve-se procurar diferenciá-la das leucemias mieloides e linfoides agudas. OBS: a LMC pode agudizar para uma LLA (2-4% dos casos) -> fisiopatologia do cromossomo Ph também pode causar LLA; Diagnóstico diferencial Leucocitose neutrofílica + células mieloides em várias fases de maturação + basofilia + inexistência de doença infecciosa ou neoplasia sistêmica => praticamente definem o diagnóstico. • Como confirmar? Através da identificação do cromossomo Filadélfia (Ph) ou do gene BCR-ABL (através da reação de cadeia de polimerase – PCR) LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA Resulta da proliferação clonal de precursores linfoides anormais na medula óssea; a etiologia é desconhecida, mas existe a sugestão da participação de fatores genéticos. • Doença maligna maisfrequente na infância; em adultos é rara (15%) com maior incidência entre 25-37 anos; • LLA tem dois picos de incidência: 2-5 anos e entre 30-40 anos. • Alterações genéticas aumentam a probabilidade de uma criança desenvolver leucemia em geral; 1/10 crianças com Síndrome de Down desenvolvem leucemia. Fatores químicos e ambientais também têm sido associados a leucemia: benzeno, radiação ionizante e certos alimentos. Manifestações clínicas: as queixas mais comuns derivam da supressão da hematopoese normal causada pela infiltração da medula óssea por células leucêmicas. ➢ Palidez, fraqueza, cansaço e indisposição; ➢ Febre e sudorese noturna – associada ou não a infecções; ➢ Manifestações hemorrágicas em pele e mucosas – 1/3 dos casos; ➢ Artralgia e dor óssea são menos frequentes em adultos do que em crianças, e resultam da infiltração leucêmica com distensão do periósteo ou estruturas periarticulares; ➢ Manifestações neurológicas, como confusão mental, edema de papila, cefaleia e comprometimento dos nervos cranianos (Vi e VII pares) resultam de infiltração leucêmica, de hemorragia no SNC ou de leucostase. ➢ 50% apresentam hepato-esplenomegalia e/ou enfartamento ganglionar. OBS: não há como distinguir LMA da LLA com base apenas nas manifestações clínicas iniciais. Terapêutica => eliminação do clone leucêmico com a cura do paciente. Inclui medidas de suporte, quimioterapia sistêmica e a profilaxia do SNC; em alguns casos, inclui o transplante de células progenitoras hematopoéticas. Exames laboratoriais • Anemia, trombocitopenia, presença de blastos na contagem diferencial dos leucócitos. • Exame da medula óssea: infiltração da medula pelas células leucêmicas é evidente. OBS: em aproximadamente 20% dos casos de LLA não há blastos no sangue periférico. Diagnósticos diferenciais: artrite reumatoide juvenil; mononucleose infecciosa, anemia aplástica. • 80% dos casos das LLA expressam marcadores específicos de linfócitos da linhagem B, e 20% da linhagem T. LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA Tem origem a parte de células linfoides maduras (periféricas), que além de infiltrarem órgãos linfoides, como gânglios linfáticos e baço, também estão presentes na medula óssea e no sangue periférico. A etiologia da LLC é desconhecida, mas a existência de casos familiares sugere uma predisposição genética em alguns pacientes. Fatores ambientes, como a exposição a agentes químicos e derivados do petróleo, estão associados ao aumento do risco para a doença. • A Leucemia Linfocítica Crônica-B (LLC-B) é a mais comum das doenças linfoproliferativas crônicas; acomete pacientes com idade média de 65 anos, e é rara em pessoas com menos de 50 anos. • Mais frequente em homens Manifestação clínica: a maioria dos pacientes são assintomáticos. • Linfoadenopatia generalizada, perda de peso e cansaço; • Gânglios com consistência normal, móveis e indolores; • Hepatomegalia; • Esplenomegalia em geral não é volumosa; • Infiltração leucêmica pode ocorrer em praticamente todas as partes do corpo, incluindo as tonsilas, meninges e pele; • Sinais e sintomas de anemia podem estar presentes, mas raramente são intensos. • Petéquias e equimoses são raras; • Infecções bacterianas, em geral pneumonias, são frequentes; Exames laboratoriais • Linfocitose persistente; > 5.000/L linfócitos B presentes por mais de três meses; • 20% dos pacientes apresentam anemia ou trombocitopenia; • A medula óssea está infiltrada por mais de 30% de linfócitos; • Fenômenos autoimunes são frequentes; LINFOMAS: câncer do sistema linfático do corpo envolvendo células do sistema imune. LINFOMA DE HODGKIN Pode ser definido como neoplasia de origem linfoide caracterizada por proliferação de células neoplásicas de morfologia variável, denominadas Células de Reed-Sternberg (CRS), imersas em um substrato celular característico, de aspecto inflamatório. O fator etiológico mais estudado e mais provavelmente implicado na etiologia do linfoma de Hodgkin é o vírus Epstein-Barr (EBV); • O diagnóstico é estabelecido pelo achado de células de RS, ou de suas variantes, em meio a processo inflamatório polimorfo. Sendo assim, no LH clássico temos dois elementos importantes para estabelecer o diagnóstico: o neoplásico e a resposta inflamatória. • Estudos indicam que a CRS se origina de célula da linhagem B; • As células diagnósticas de RS são grandes, com núcleos polilobados ou multinucleados; essas células são conhecidas como olho em coruja; Atualmente, é muito valorizado o infiltrado inflamatório reacional, no qual as células RS estão de permeio. Em geral, é polimorfo, com predomínio de linfócitos, mas também são encontrados eosinófilos, neutrófilos, histiócitos, plasmócitos e fibroblastos em quantidades variáveis. • O número de eosinófilos pode variar enormemente, desde abscessos eosinofílicos até escassas células. Subtipos histológicos (1) Esclerose Nodular (EM) => subtipo mais comum (cerca de 70% dos casos de LHC); dos subtipos hisotológicos, é o que menos frequentemente se associa com o vírus de Epstein-Barr; caracterizado por três aspectos: modularidade, bandas de colágeno espesso e a presença de células RS do tipo lacunar; eosinófilos e neutrófilos são frequentes; necrose pode ser abundante As células RS do tipo lacunar são as mais frequentemente encontradas na EM e podem formar grandes agregados no centro dos nódulos. (2) Celularidade mista => 25-30% dos casos de LH clássico; caracteriza-se por um infiltrado inflamatório polimorfo, com linfócitos, eosinófilos, histiócitos, plasmócitos e fibroblastos; único tipo em que plasmócitos são encontrados com facilidade; células RS são fáceis de encontrar; pode ocorrer necrosa, mas não é tão extensa como na EM. (3) Depleção linfocitária => o LH clássico forma depleção linfocitária, é o tipo mais raro da doença; Na fibrose difusa as células RS estão de permeio com a fibrose difusa, fina, que envolve praticamente todas as células individualmente; Na forma reticular, há a presença de agregados de células RS pleomórficas; OBS: no Brasil, a prevalência do EBP é de aproximadamente 50% em adultos e 80% em crianças, sendo que a positividade é maior nos casos de celularidade mista. Manifestações clínicas • Aparecimento de uma tumoração cervical indolor; com consistência de borracha, causada pelo aumento de um gânglio ou de um grupo de gânglios linfáticos; • O gânglio é levemente doloroso à palpação, ou torna-se dolorido com a ingestão de álcool – queixa incomum; A maioria dos pacientes que se apresentam sem linfadenomegalia periférica tem uma massa mediastinal revelada em radiografia de tórax, solicitada devido a sintomas respiratórios, ou raramente um prurido intenso e disseminado; • Emagrecimento, sudorese noturna e febre; prurido (menos comum). A disseminação para os ossos ocorre em 5-15% dos pacientes, mas não tem a mesma gravidade do envolvimento da medula óssea. • Dor óssea, principalmente: coluna vertebral, pelve, arcos costais, fêmur e esterno. • Fraqueza muscular, alterações sensoriais e disfunção esfincteriana -> compressão medular grade; Exames laboratoriais • Anemia de doença crônica de moderada intensidade; alguns apresentam anemia grave, relacionada à infiltração extensa da medula óssea ou à fibrose medular; • VHS aumentado – correlaciona-se com fatores de progressão da doença: número de áreas linfoides envolvidas, presença de sintomas sistêmicos e de grande massa; • Leucocitose neutrofilica, eosinofilia e trombocitose; • Neutrofilia e linfopenia – pior prognóstico; • Eosinofilia pode estar acentuada em pacientes com prurido; Exames de imagem: Rx de tórax, tomografia, RNM, PET Scan, cintilografia óssea; Diagnóstico: avaliação histopatológica do tecido acometido pela doença, obtido por biópsia. LINFOMA NÃO HODGKIN Proliferações malignas clonaisde células linfoides do tipo B ou T; Entre os linfomas, é o mais presente na infância; homens têm maior predisposição. Diagnóstico morfológico: cortes histológicos corados pela Hematoxilina e Eosina (HE); imunofenotipagem; Classificação do LNH O linfonodo é dividido em três áres: zona folícular (B), zona do manto (T) e zona marginal. A depender da zona afetada, o LNH pode ser indolente, agressivo ou altamente agressivo. Linfoma folicular: as células tendem a crescer em um padrão circular nos lindofonos; é raro em pessoas jovens; são de crescimento lento e respondem bem ao tratamento, mas são difíceis de serem curados; não precisa de tratamento imediato, os pacientes passam a ter um acompanhamento médico até que o linfoma passe a provocar sintomas evidentes; pode se transformar em linfomas difusos de grandes células B, de crescimento rápido. Linfoma de células do manto: mais comum em homes com idade média de 60 anos; acomete os gânglios linfáticos, medula óssea e baço; não é de crescimento rápido, mas é dificil tratar; tratamentos agressivos. Linfoma da zona marginal: tendem a ter crescimento lento (indolente); CASO CLÍNICO Um paciente do sexo masculino, 48 anos, branco, comparece ao consultório médico com queixas de um caroço no pescoço observado há quatro semanas, indolor, associado a sudorese noturna, episódios de febre e perda de peso (20 kg em 6 semanas). Ao realizar exame, verificam-se sinais vitais normais. Há linfadenopatia indolor na cadeia cervical anterior. Os exames iniciais evidenciam hemoglobina de 9,5 g/dL, (ANEMIA) leucócitos de 16.000/ L (LEUCOCITOSE), plaquetas de 214.000/ L, albumina de 3 g/dL (BAIXA). Por meio da tomografia de pescoço, confirma-se linfadenopatia na cadeia cervical anterior. A partir da tomografia de tórax, observa-se linfadenopatiamediastinal, enquanto, na tomografia abdomino- pélvica, evidencia-se hepatoesplenomegalia; HD: linfoma de Hodgkin (envolvimento mediastinal), mas para comprovar é necessário fazer biópsia do tecido acometido pela doença.
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