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FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 9NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA APRESENTAÇÃO Nesta unidade será apresentada a introdução ao estudo antropológico onde foi traçado um breve contexto histórico a respeito da sua evolução enquanto ciência, apresentação de conceitos básicos da antropologia, tais como estranhamento e alteridade, etnocentrismo e relativismo cultural, apresentação das cinco principais áreas do campo antropológico: antropologia biológica, antropologia pré-histórica, antropologia linguística, antropologia psicológica e antropologia social e cultural. Abordagem das principais correntes antropológicas: evolucionismo, funcionalismo e estruturalismo, além de apresentar alguns dos principais teóricos da antropologia, tais como Franz Boas, Radcliffe Brow, Bronislaw Malinowski, Emile Durkheim e Marcel Mauss. U N ID A D E 1 1- Colocar o outro no lugar do ser; relação estabelecida na tentativa de reconhecimento do outro, da diferença, do estranhamento causado pelo choque de culturas distintas. ANTROPOLOGIA: ORIGENS, CONCEITOS E PRINCIPAIS TEÓRICOS 10 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANTROPOLOGIA Disponível em: <http://www.cecm.usp.br/~lfsr/simbolo/vitrea.jpg>. Acesso em: 06/01/2014. A antropologia é conhecida pelo senso comum como sendo algo que estuda hábitos ou costumes ditos estranhos, em outras palavras consideradas ainda como sendo coisas exóticas ou bizarras, ou ainda relacionadas somente à cultura indígena (COSTA, 1997; VELHO, 2003). De acordo com o antropólogo Gilberto Velho (VELHO, 2003, p.11) a antropologia ampliou seu campo de atuação que se torna difícil de apontar algum objeto de pesquisa que não tenha sido ainda estudado ou merecido algum tipo de reflexão, que as pesquisas e estudos de campo, não ficam restritos ao meio natural, mas também as cidades. No decorrer desta unidade será possível compreender que a antropologia traz uma nova visão sobre as coisas e o mundo, uma nova maneira de interpretar aquilo que é diferente de nossa cultura, afastando-se assim de certos pré-conceitos já formados, assumindo uma postura de alteridade em relação ao outro. Segundo Laplantine (2007, p.14) o interesse pela reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto à humanidade e é a partir do século XVIII que a antropologia busca adquirir caráter científico, onde o homem passasse a ser considerado objeto de conhecimento, no entanto, a constituição desse projeto antropológico em ciência só passa ter legitimidade na segunda metade do século XIX. O desenvolvimento e o processo de expansão do capitalismo pelo mundo propiciou o florescimento da antropologia! O termo antropologia é de origem grega e seu significado é o resultado da junção dos termos antropos (homem) e logos (teoria ou ciência), nesse sentido, a antropologia pode ser conceituada como sendo uma ciência do homem como ser biológico, social e cultural, ou ciência que estuda o homem, ou ainda o conjunto das disciplinas que estudam o homem (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p.13). UNIDADE 1 FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 11NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA Pode-se dizer em estudo antropológico mesmo antes da criação de um método antropológico, nesse sentido, é possível inferir que tanto o nascimento do pensamento antropológico e da antropologia enquanto ciência são resultados do processo de expansão europeu, pois os conquistadores tinham o objetivo de conhecer os povos existentes em outros territórios a fim de colonizá-los e dominá-los, dentro deste contexto pode-se destacar o papel que os jesuítas tiveram nesse processo de compreender, desenvolvendo assim pesquisas antropológicas (LAPLANTINE, 2007). Segundo Costa (1997, p.108) “a antropologia servia, portanto, a outros interesses além dos científicos e, para ordenar teoricamente essa realidade que expandia o capitalismo europeu ao resto do mundo, desenvolveram-se as teorias evolucionistas”. Ainda de acordo com a autora, os antropólogos e cientistas do século XIX procuravam descobrir as diferentes espécies humanas e que depois passaram a ser classificadas em uma ordem evolutiva das mais atrasadas e simples até as mais evoluídas e complexas. Tabela 1. Principais escolas antropológicas Áreas de investigação privilegiadas Estudo das personalidades culturais e dos processos de difusões, contatos e trocas interculturais. Estudo da organização dos sistemas sociais. Estudo dos sistemas de representações. Modelos teóricos utilizados Modelos histórico (o evolucionismo e neoevolucionismo), geográfico (o difusionismo), psicológico e psicanalítico (o culturalismo). Modelo sincrônico e funcionalista do estruturalismo inglês. Tendência “intelectualista” e filosófica. Modelos sociológicos, estruturalista, marxista. Pesquisadores influentes Franz Boas Alfred Kroeber Ruth Benedict Bronislaw Malinowski Radcliffe-Brown Émile Durkheim Marcel Mauss Marcel Griaule Fonte: (LAPLANTINE, 2007, p.100) De acordo com Laplantine (2007) os evolucionistas entendiam que a humanidade seria composta de diferentes espécies e estariam em diferentes etapas na cadeia evolutiva. Um dos principais defensores do evolucionismo foi o norte-americano Lewis H. Morgan (1818-1881) que classificou a evolução humana em três estágios distintos, a saber: selvageria, barbárie e civilização. O trabalho de Edward Burnett Tylor (1832-1917) vem de encontro ao de Morgan, ampliando o objeto de estudo para além da questão da evolução humana ao analisar questões religiosas, mas que não foram poupadas de críticas pelos etnólogos a respeito das generalizações e extrapolações que empobreciam a realidade e as análises, na tentativa de compreensão do outro (LAPLANTINE, 2007, p. 99). UNIDADE 1 12 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Os defensores do evolucionismo acreditavam que todas as culturas deveriam passar pelos mesmos estágios de evolução social, nesse sentido, tais ideias serviram para justificar a escravidão de diversas etnias e culturas por estarem abaixo da cadeia evolutiva que tinha como modelo de sociedade evoluída e complexa a branca europeia. Se a antropologia passou a se constituir enquanto ciência a partir da metade do século XIX, antes a maioria dos antropólogos apesar de realizarem estudos e análises, muito das informações coletadas não eram propriamente colhidas por eles próprios, ou seja, o cientista não tinha contato com os povos primitivos analisados, as informações eram provenientes de viajantes que anotavam suas percepções e observações simples sem um cuidado metodológico e científico. Para Laplantine (2007, p.30) o trabalho do antropólogo está condicionado a ir ao campo, fazer suas próprias observações e análises, sem alterar ou transformar a percepção daqueles grupos que são estudados, o papel da antropologia é compreender e preservar a cultura, no entanto, a luta pelos direitos humanos e das minorias étnicas trata-se de uma consequência da profissão, mas que não pode ser traduzida como sendo a profissão propriamente dita. Acesse o link abaixo e faça o download do Livro Aprender Antropologia do autor Laplantine. Disponível em: <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/80913/mod_resource/ content/3/Aprender%20Antropologia%20(Fran%C3%A7ois%20Laplantine).pdf>. Acesso em: 06/01/2014. A antropologia é muito mais que somente o estudo daquilo que compõe uma sociedade, ela é em si o estudo de todas as sociedades, das várias culturas existentes, pois não existe somente uma única cultura e tão pouco uma cultura melhor ou inferior à outra, ou seja, é o estudo das culturas comoum todo em suas diversidades históricas e geográficas (LAPLANTINE, 2007, p. 12). A primeira escola de fato antropológica foi a Funcionalista! O campo da antropologia engloba cinco áreas principais, que são: antropologia biológica, antropologia pré-histórica, antropologia linguística, antropologia psicológica e antropologia social e cultural. • Antropologia biológica é entendida como sendo uma área de estudo que focaliza as variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e tempo. Seu objeto de análise centra-se nas relações existentes entre a herança genética e o meio que pode ser o geográfico, ecológico e/ou social, analisa a questão morfológica e fisiológica condicionada a um ambiente, contudo, tais análises devem estar ligadas a questão cultural, ou seja, levar em consideração que os fatores culturais influenciam o desenvolvimento dos indivíduos; • Antropologia pré-histórica é a ciência que busca compreender o homem por meio da herança material, ou seja, dos vestígios históricos (produções culturais, artísticas e ossadas). É uma área que tem forte ligação com a arqueologia, pois remete a reconstituir, ou seja, contar a história das sociedades que já não existem mais ou que foram se perdendo ao longo do tempo; • Antropologia linguística: é o que se pode chamar de estudo da língua, pois se parte do princípio de que ela é parte importante do patrimônio cultural de uma sociedade, além de que permite compreender como os homens pensam, como se UNIDADE 1 FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 13NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA expressam, o que vivem e o que sentem, e como interpretam o seu próprio saber e o saber fazer; • Antropologia psicológica: consiste no estudo dos processos e do funcionamento da psique humana, ou seja, análise dos comportamentos sejam eles conscientes ou inconscientes dos seres humanos, pois não é possível dissociar a dimensão psicológica da apreensão e estudo antropológico; • Antropologia social e cultural: é uma área da antropologia conhecida também como etnologia, diz respeito a tudo que corresponde e constitui a sociedade, a saber: modo de produção econômica, técnicas, organização política e jurídica, sistema de parentesco, conhecimento, crenças religiosas, língua, psicologia e criações artísticas (LAPLANTINE, 2007, p.17-20). O navegador Marco Polo ao retornar da China indagou-se como povos tão parecidos biologicamente e fisicamente pode constituir culturas diferentes, ou melhor, apesar de sermos biologicamente muito parecidos culturalmente somos muito diferentes, e esse questionamento tornou-se parte fundante do pensamento antropológico (LÉVI- STRAUSS, 2012, p.13). E o olhar para um povo e sua cultura envolve duas situações primordiais da antropologia que é o estranhamento e a alteridade. O estranhamento significa que primeiramente deve-se partir do princípio de que não existem culturas mais ou menos, melhores ou piores, superiores ou inferiores, o que existe na verdade são estágios diferentes de evolução e isso não significa que uma esteja acima ou abaixo da outra. Para compreender a cultura de outrem é preciso que o pesquisador se afaste de suas pré-noções e julgamentos, e tenha noção de que cada cultura é diferente por si só, ou seja, uma modificação do olhar. Já exercer a alteridade é compreender e faz parte do pressuposto d que todo homem social interage e interdepende de outros indivíduos, em outras palavras, é ser capaz de compreender o outro na sua plenitude e na sua diferença, pode-se dizer ainda que em uma sociedade quanto menos alteridade existir a tendência é que existam mais conflitos (LAPLANTINE, 2007, p.21). A alteridade por assim dizer faz com que o antropólogo relativize suas próprias verdades, de se coloca fora do centro, de acordo com Geertz (1989, p.321) essa relativização permite o antropólogo compreender a sociedade a qual ele se propõe estudar captando assim as conexões entre os objetos materiais, ações e intencionalidades. PRINCIPAIS CORRENTES ANTROPOLÓGICAS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA: BOAS E MALINOWSKI A etnografia está intimamente ligada à ideia de pesquisa de campo, em outras palavras, é a ida do pesquisador ao campo de pesquisa para ele mesmo poder vivenciar e colher os próprios dados a serem analisados, ou seja, é “[...] o pesquisador que deve efetuar no campo a sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa” (LAPLANTINE, 2007, p.75). Nota-se uma diferença entre o fazer antropologia antes dos estudos etnográficos, pois antes os pesquisadores confiavam nas informações trazidas e coletadas pelos UNIDADE 1 14 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO viajantes, no entanto, essas vinham carregadas de juízos de valor, preconceitos e imprecisões, a partir do século XIX que o antropólogo passa a realizar todas as etapas da pesquisa, ou seja, a observação in locu, o registro de informações e análise de todo material coletado (LAPLANTINE, 2007; COPANS, et al, 1971). De acordo com Laplantine (2007, p.76) os antropólogos que não se submetiam a ida ao campo para coletar as informações recebiam a alcunha de antropólogos de gabinetes, pois estes se recolhiam dentro de suas salas a espera das informações coletadas por viajantes, missionários e administradores. A etnografia é uma descrição densa, ou seja, é todo material levantado e colhido na pesquisa de campo, já a etnologia é o estudo os fatos e documentos levantados pelo trabalho etnográfico, buscando analisar analiticamente e comparativamente as culturas. Dentro deste contexto da etnografia e etnologia destacam-se os trabalhos de Franz Boas, Bronislaw Malinowski, Willian Halse Rivers e Radcliffe Brown. O início do século XX marca o surgimento da escola funcionalista dentro da antropologia, ela sucedeu à escola evolucionista, em resposta as críticas ao eurocentrismo e ao etnocentrismo (COSTA, 1997, p.110). Segundo Costa (1997, p.110) o eurocentrismo era a tendência de interpretar as sociedades não europeias a partir dos valores e princípios europeus, assumindo assim como sendo o modelo e padrão de sociedade. Já o etnocentrismo era o princípio de considerar uma raça como sendo o modelo a ser seguida, a busca pela excelência humana. Um dos pressupostos metodológico antropológico importante na compreensão do outro diz respeito ao relativismo cultural, pois não é possível julgar, avaliar ou condenar os padrões e valores culturais de uma determinada cultura por um único ponto de vista, nesse sentido, trazendo ao indivíduo uma reflexão e respeito à estrutura de funcionamento de cada cultura, sejam eles, normas, valores, padrões ou expressões. Franz Boas (1858-1942) Disponível em: <http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ biografias/franz-boas.jpg>. Acesso em: 07/01/2014. Alemão naturalizado norte-americano, seu principal trabalho foi Oe esquimós centrais, publicada em 1888, contribuiu para o debate entre raça e cultura, e raça e linguagem, pois o conceito de cultura era entendido como sendo resultado do pensamento racional do homem e que estaria manifesto em diferentes graus de evolução, onde a história cultural era tida como um processo unilinear e universal, sua crítica era contra do determinismo vivenciado naquela época, pois as culturas humanas não percorrem os mesmos caminhos, defendia que existiam diferentes desenvolvimentos históricos resultantes de diferentes processos (LAPLANTINE, 2007, p.70). Sugestão de leitura! MOURA, Maria Margarida. Franz Boas: a antropologia cultural no seu nascimento. In: REVISTA USP, São Paulo, n.69, março/maio, 2006. p. 123-134. Disponível em: <http://www.usp.br/ revistausp/69/12-margarida.pdf>. Acesso em: 07/01/2013. UNIDADE 1 FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 15NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVADisponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/sentidos-do-mundo/imagens/ antropologiaepsicanalise02.jpg>. Acesso em: 07/01/2014. Bronislaw Kaspar Malinowski (1884-1942) Polonês naturalizado inglês, seu principal estudo de campo foi desenvolvido entre os habitantes das ilhas Trobriand, localizada próxima à Nova Guiné, dentro de seus estudos destaca-se a obra Argonautas do Pacífico Ocidental, onde analisa o Kula, instituição responsável pela integração cultural daqueles povos a Inglaterra, o Kula nada mais era do que uma forma de troca intertribal praticada pelas comunidades situadas próximas ao conjunto de ilhas do norte ao leste e ao extremo oriental da Nova Guiné, esse processo de troca não simbolizava apenas uma troca material por si só, mas sim era uma forma de estabelecer relações sociais e ganhar prestígio social. Sugestão de leitura! Disponível em: MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Sul. In: Ethnologia. São Paulo: Abril Cultural, 1997. p.17-37. <http://www.moodle.ufba.br/ file.php/12439/textos_complementares/Bronislaw_Malinowski_Os_argonautas_do_ Pacifico_Ocidental.pdf>. Acesso em: 08/01/2014. Franz Boas e Bronislaw Malinowski vão romper com o método comparativo e vão tecer severas críticas ao método evolucionista, os autores analisam que as instituições e a cultura de forma geral, existem para responder as necessidades biológicas, materiais e psicológicas dos indivíduos, nesse sentido, o objetivo da antropologia seria identificar estas necessidades e as funções e instituições que os homens criariam para respondê- las. O evolucionismo suscitou ainda criticas por parte dos defensores do difusionismo, que entendiam que o desenvolvimento cultural é resultado da difusão de elementos culturais, que eram transmitidos de um povo a outro, nesse sentido, destacam-se o trabalho de Willian Rivers (11864-1922), Grafton Elliot Smith (1871-1937) e Willian James Perry (1887-1949) no processo de reconstrução histórica dos povos estudados. O difusionismo tornou-se uma teoria alternativa no processo de compreensão da diversidade cultural ao refutar a ideia de que existem culturas mais desenvolvidas do que outras, para os difusionistas a diversidade cultural seria resultado da difusão de certos traços culturais vindo de um único centro. UNIDADE 1 16 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 Malinowski define função como sendo uma resposta de uma determinada cultura a uma necessidade básica do homem, é também considerado o fundador da antropologia social e o primeiro a realizar a pesquisa de campo. Em seus trabalhos Franz Boas analisa que as diferenças observadas entre as populações originam-se de fatores sociais e ambientais, refutando assim o determinismo biológico, de que as diferenças culturais são fruto das diferenças biológicas, que estas condicionariam o cultural, nesse sentido, qualquer método ou tentativa de provar que determinado grupo social é superior ou inferir é inadequado, reafirmando assim sua critica ao evolucionismo (REIS, 2004). Segundo a escola funcionalista “cada sociedade deve ser estudada como uma totalidade integrada e constituída de partes interdependentes e complementares, cuja função é satisfazer as necessidades essenciais de seus integrantes” (COSTA, 1997, p.110). O antropólogo Franz Boas definiu a cultura como sendo única e repleta de elementos diversificados, rompe com a ideia da existência de cultura superior e inferior. Partindo do princípio de que o antropólogo deve abandonar seu gabinete e ir ao campo de estudo, Malinowski propõe uma observação participante, segundo Costa (1997) esse método de pesquisa revolucionou os estudos antropológicos, pois substituiu a análise de informações superficiais e questionários inadequados por um estudo sistematizado e orientado por teorias que convergem à realidade estudada. Radcliffe-Brown (1881-1955) Disponível em: <http://ocw.unican.es/humanidades/ introduccion-a-la-antropologia-social-y-cultural/material- de-clase-1/autores/Alfred_Radcliffe-Brown.jpg>. Acesso em: 08/01/2014. Pesquisador de origem inglesa, um de seus primeiros trabalhos de pesquisa de campo foi com os nativos das ilhas Andaman, no Golfo de Bengala, suas principais obras são: A organização social das tribos australianas, Sistemas africanos de parentesco e casamento e Estrutura e função na sociedade primitiva. Foi o fundador da abordagem teórica antropológica conhecida como estrutural- funcionalismo, ou escola estruturalista-funcionalista. Esta escola do pensamento antropológico por meio de estudos comparativos dos povos primitivos procurava descobrir leis gerais e universais que regessem sobre o funcionamento das sociedades humanas, os principais conceitos utilizados nas análises eram o de processo social, estrutura social e função social (COSTA, 1997, p.112). O método defendido pela escola funcionalista tem como enfoque a observação detalhada da vida social, em outras palavras, uma descrição densa, um olhar atento para os mínimos detalhes, dos mais comuns e incomuns, aos óbvios e não óbvios, a fim de esmiuçar toda a realidade. A partir destas observações o antropólogo deverá realizar uma seleção do que for mais importante e significativo, para o entendimento do grupo estudado e por último uma síntese na qual revele o quadro das instituições sociais, assim as sociedades não europeias passaram a ser analisadas e entendidas dentro de sua própria lógica e passaram a constituir formas de integração e redefinição de padrões culturais (COSTA, 1997, p.111-12). FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 17NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA UNIDADE 1 PRINCIPAIS TEÓRICOS DA ANTROPOLOGIA: DURKHEIM, MAUSS E LÉVI-STRAUSS Em meio à busca de instrumentos operacionais que garantissem de fato um verdadeiro objeto científico, surgem os pesquisadores franceses da escola francesa de sociologia, que se empenharam em demonstrar de onde vem à autoridade da ciência, para os principais representantes da escola francesa Emile Durkheim e Marcel Mauss é preciso buscar o que há de comum nas instituições sociais e derivar regras gerais. Ao contrário dos funcionalistas, os autores defendem que existem muito mais relações existentes entre uma simples troca de presentes como foi descrito por Malinowski, mas que há em jogo relações de poder, política, economia, magia em torno dos presentes, disputa pelos melhores presentes, e que essas não são meramente trocas simples e de representação de status social. Para Durkheim a antropologia tem caráter cientifico e pluridisciplinar. As contribuições de Durkheim e Mauss para a antropologia é sem dúvida a busca de uma autonomia científica para a antropologia, mesmo o primeiro defendendo que os dados coletados pelos etnólogos deveriam ser analisados pelos critérios da sociologia, sendo assim, a considerava um ramo da sociologia, já para Mauss o lugar da antropologia não é dentro da sociologia, mas sim que o lugar da sociologia é dentro da antropologia, defendendo assim a legitimidade da ciência antropológica (LAPLANTINE, 2007, p.90). Para Laplantine (2007) apesar de divergências, Durkheim e Mauss deixam um legado para a antropologia, a primeira questão diz respeito ao distanciamento do objeto, atualmente é pouco provável que isso ocorra e que haja o distanciamento sociológico que Durkheim defende em suas obras e em seu método, no entanto para Mauss a ciência antropológica está muito próxima da prática etnográfica defendida por Malinowski, a segunda questão faz referência aos fenômenos sociais de que estes devem ser compreendidos tanto pelo olhar de fora, quanto pelo olhar de dentro do grupo a ser estudado. Émile Durkheim (1858-1917) Disponível em: <http://revistaescola.abril.com. br/img/historia/emile-durkheim.jpg>. Acesso em: 08/01/2014. Sociólogo e filósofo francês, conhecidoe considerado o fundador da sociologia científica. Empenhou seu espírito a elaborar uma ciência do fato social, baseada em princípios éticos, buscando ainda caracterizar o fato social como fenômeno coletivo, valorizando inclusive a interpretação histórica (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p.79- 80). 18 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Marcel Mauss (1872-1950) Disponível em: <http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2004/ jusp679/ilustras/ilustra12a.jpg>. Acesso em: 08/01/2014. Sociólogo e antropólogo francês, considerado o pai da etnologia francesa, sobrinho de Émile Durkheim. Seu trabalho foi de grande importância para a sociologia e antropologia social contemporânea ao criticar as concepções individualistas e interpretações meramente de caráter econômico (COSTA, 1997, p.116). Dentre as escolas antropológicas destaca-se também o estruturalismo, que tem em Lévi-Strauss (1908-2009) o grande representante da escola francesa, considerado o fundador do estruturalismo francês. Lévi-Strauss entende que cada cultura possui uma forma diferente de observar o mundo e que o ser humano está acostumado a olhar para a cultura do outro e avalia-la por meio daquilo que entende o que é cultura, do que é certo ou errado, e de como a cultura deveria agir, ou seja, deveria agir de acordo com aquela que julga como sendo o modelo e a mais correta, pois é o seu referencial de cultura. O autor ao criticar o etnocentrismo, faz uma analogia das culturas como sendo trens, e cada trem possui caminhos e velocidades diferentes, sendo assim as culturas não são todas iguais, podem até possuir elementos e símbolos parecidos, no entanto, não caminham todas na mesma direção e velocidade, sendo assim, ao olhar para uma cultura diferente da sua o viajante deste trem pode pensar que ela está parada em relação a sua, na verdade o que ocorre é que ele não consegue compreender o sentido do seu desenvolvimento (LÉVIS-STRAUSS, 1980). Para Lévi-Strauss cada cultura possui uma forma diferente de observar o mundo. Segundo Costa (1997, p.116) o estruturalismo antropológico é um método desenvolvido por Lévi-Strauss para investigação e interpretação, utilizada na análise das estruturas sociais, políticas e linguísticas. Lévi-Strauss diverge dos funcionalistas, pois acredita que a estrutura é uma elaboração teórica capaz de dar sentido aos dados empíricos coletados de determinada realidade, ao contrário dos funcionalistas que defendiam que a estrutura social correspondia à organização social de dados empíricos (COSTA, 1997). O estruturalismo tem como um de seus objetivos, desvendar os símbolos que revelam a estrutura que ordena o comportamento humano. O método estruturalista foi aplicado por Lévi- Strauss no “[...] estudo dos mitos e das relações de parentesco nas sociedades primitivas, tomando as estruturas sociais como modelos a serem descritos, estabelecendo assim o sentido da cultura em questão” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p.96). De acordo com o pensamento estruturalista a intenção não era propor leis e regras universais para explicar a passagem de uma estrutura simples para uma mais complexa, ao contrário, entendiam que cada sociedade só pode ser entendida dentro de suas próprias especificidades e contexto histórico, e da relação que cada sociedade possui com o meio natural e social (COSTA, 1997). UNIDADE 1 FUNDAMENTOS SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO 19NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA19 NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFFCL DE ITUVERAVA - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA Claude Lévi-Strauss (1908-2009) Disponível em: <http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ biografias/levi-strauss.jpg>. Acesso em: 09/01/2014. Filósofo e antropólogo belga; é considerado um dos principais representantes da escola estruturalista francesa de antropologia, ajudou na formação da Universidade de São Paulo (1934-1937), onde foi professor e conduziu pesquisas antropológicas junto aos índios bororos e nhanbiquaras no Brasil Central. Foi também professor nos Estados Unidos onde passou grande parte de sua carreira estudando o comportamento dos índios americanos onde utilizou seu método para analisar a organização social das tribos indígenas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender a importância da antropologia enquanto ciência vai além de considerá-la apenas como sendo um ramo da sociologia, mas entender o seu lugar de destaque enquanto uma ciência autônoma e reconhecer a sua contribuição para a análise do homem em sociedade. Ao longo da unidade foram apresentadas as principais áreas da antropologia, bem como conceitos básicos e introdutórios que serão úteis no decorrer não só da disciplina de antropologia, mas de todo o curso de pedagogia, salientando assim o seu diálogo com as demais áreas do conhecimento e a aplicabilidade do método antropológico no dia a dia. REFERÊNCIAS COPANS, Jean, et al. Antropologia ciência das sociedades primitivas? Lisboa: Edições 70, 1971. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. JAPIASSÚ, Hilton.; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2007. LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: LÉVIS-TRAUSS, Claude. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril, 1980. LÉVI-STRAUSS, Claude. A antropologia diante dos problemas do mundo moderno. Tradução: Rosa Freire d’Aguiar. 1º Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. REIS, Nicole Isabel dos. Antropologia cultural. Horiz. antropol. [online]. 2004, vol.10, n.22, p. 355-357. In: <http://www.scielo.br/pdf/ha/v10n22/22708.pdf>. Acesso em: 14/01/2014. UNIDADE 1