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O que é Casamento Avuncular? August 8, 2017 | Melissa C. De Camargo Miwa O casamento avuncular nada mais é o nome que se dá ao casamento entre tios (as) e sobrinhos (as), ou seja, entre parentes colaterais em terceiro grau. Em 1941 foi editado um Decreto-Lei que versou sobre a possibilidade do casamento entre tio (a) e sobrinho (a). Referido decreto-lei tratou a questão unicamente sob a ótica médica, ou seja, autorizando o casamento avuncular desde de que com autorização judicial e desde de que fosse atestado por dois médicos de que não haveria risco à eventual prole do casal, ou seja, desde que atestado que seus filhos não nasceriam com problemas de saúde ou deformidades. O decreto-lei não discutia questões morais ou religiosas mas tão somente questões relacionadas a saúde tanto do novo casal quanto de seus filhos. Passados 61 anos, com advento o atual Código Civil Brasileiro de 2002, o reconhecimento do casamento avuncular foi proibido. O inciso IV do artigo 1521 do Código Civil foi explícito ao proibir este tipo casamento ao dispor que os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais até o terceiro grau (tio e sobrinhos) não podem se casar entre si. No entanto, o entendimento jurídico sobre o tema é que o atual Código Civil Brasileiro não revogou o Decreto-lei de 1941, ou seja, o Decreto de 1941 ainda está em vigor. Inclusive, há um enunciado aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que diz que o inciso IV do art. 1.521 do novo Código Civil (aquele que proíbe este tipo de casamento) deve ser interpretado à luz do Decreto-Lei n. 3.200/41 no que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º https://www.decamargoeamaral.com.br/noticias-artigos/author/Melissa-C.-De-Camargo-Miwa https://www.decamargoeamaral.com.br/noticias-artigos/author/Melissa-C.-De-Camargo-Miwa grau. Em outras palavras, atualmente é possível o reconhecimento do casamento avuncular desde que não traga riscos a vida e saúde do novo casal e de seus eventuais filhos e desde que com autorização judicial. A justiça paulista já decidiu neste sentido ao reconhecer a possibilidade jurídica no pedido de autorização judicial para casamento entre tio e sobrinha (TJSP, APC 414.053-4/0-00) e o reconhecimento da declaração de existência de União Estável entre tio e sobrinha (TJRS, APC nº 70006562763 e nº 7002276145). Mas é importante frisar que se trata de tema bastante polêmico com entendimentos diversos do apontado acima. DECISÃO MONOCRÁTICA STJ AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.087.955 - RS (2017/0088061-7) DECISÃO Trata-se de agravo manejado contra decisão que não admitiu recurso especial, este interposto com fundamento no art. 105, III, a e c, da CF, desafiando acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado (fl. 199): APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. UNIÃO ESTÁVEL AVUNCULAR (TIO E SOBRINHA). RECONHECIMENTO PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS. INADMISSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. Em tese, não haveria impedimento legal a obstar o direito à pensão previdenciária deixada por tio à sobrinha, acaso comprovada a união estável. Para o reconhecimento da união estável, de se supor a intenção do casal de constituir família. Sendo um pressuposto de ordem subjetiva, imperiosa a demonstração de que, entre as partes, estava presente o afeto e a intimidade normal à relação entre homem e mulher, tratando-se de casal heterossexual. Em que pese a fé pública da escritura de união estável, quando da declaração o falecido servidor já estava com a saúde debilitada, fazendo-se evidenciar o conhecido casamento- negócio, o que não dá direito à parte postular a condição de dependente para fins previdenciários (art. 9o, II, da Lei Estadual n. 7.672/82). APELO DESPROVIDO. Não foram opostos embargos declaratórios. Nas razões do recurso especial, a parte agravante aponta violação aos arts. 1.723 do CC e 1º do Decreto-Lei n.º 3.200/41. Sustenta que ficou demonstrada a existência de união estável e que ela "nunca foi contestada por ninguém, nem mesmo pelo ente previdenciário, ora réu, que inclusive pagou a pensão para a requerente". Alega, ainda, que "o único motivo pelo qual o IPE cancelou a pensão por morte que estava sendo paga para a recorrente é o fato de que além de companheira do de cujas a mesma também é sobrinha dele, e sendo assim, no entendimento do recorrido haveria impedimento para esta união (1521 cc)", mas que "tal normativa vem sendo mitigada pela legislação e pela orientação jurisprudencial" (fl. 227). É o relatório. O inconformismo não merece prosperar. Ao contrário do afirmado pela parte recorrente, a Corte de origem entendeu que, apesar de não haver impedimento legal nem jurisprudencial que obste o direito da autora à pensão em debate, no caso concreto não ficou configurada a existência de união estável. Confiram-se os seguintes trechos do acórdão recorrido: "Na situação examinada, não haveria, portanto, impedimento legal, nem jurisprudencial a obstar o direito da autora à pensão previdenciária, acaso comprovada a união estável. Por mais que soe estranha a existência de relação marital entre tio e sobrinha, restando comprovada, de fato, a formação de um núcleo familiar e a conseqüente dependência econômica, não poderia o Poder Judiciário negar proteção ao direito da parte. Quanto mais, diante do contido no § 3o do art. 226 da Constituição Federal, que assegura, para efeito de proteção do Estado, o reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar. (...) Assim como o fizera a Lei n. 9.278/96, o Código Civil exige, para o reconhecimento da união estável, a intenção do casal de constituir família, ainda que sem prole. Sendo um pressuposto de ordem subjetiva, imperiosa a evidência de que, entre as partes, estava presente o afeto e a intimidade normal à relação entre homem e mulher, no caso de casal heterossexual. (...) Esse, contudo, não é o quadro que se apresenta, tendo em vista a completa ausência de provas de que a autora e o falecido segurado se uniram com o objetivo de constituir uma família. Ao contrário do que sustenta a apelante, para o reconhecimento da união estável não basta a mera coabitação ou a existência de um afeto ou auxílio entre duas pessoas. No caso, a autora não logrou provar a existência de uma relação de casal com o falecido segurado, qualificada pela comunhão de interesses, o respeito mútuo e a fidelidade, como se um núcleo familiar fosse. Os elementos de convicção dos autos revelam nada mais que uma relação de tio e sobrinha, em que a demandante atuou como cuidadora do segurado no final de sua vida. A única testemunha ouvida - nora da recorrente em que pese a preocupação em registrar, ao longo de seu depoimento, que havia um "relacionamento de homem e mulher" entre a autora e Elpidio, acabou afirmando ter convivido com ambos apenas após 1997, época em que a demandante apenas cuidava do falecido segurado doente. Chegou a referir ter conhecimento de que foi nessa época que o segurado foi morar com a autora, tendo chegado em uma ambulância na qual a companheira que tinha em Porto Alegre o colocou. Flagrantemente, a intenção das partes, ao realizar a escritura pública de união estável era, fora de dúvida, permitir à ora apelante ser reconhecida como beneficiária da pensão por morte do segurado. Fato que, a toda evidência, não pode ser convalidado, pena de se permitir uma verdadeira fraude contra a autarquia previdenciária. É dizer como o fez a Juíza de Direito, Drª Carmen Carolina Cabral Caminha, em que pese a fé pública que possui a escritura pública de união estável da fl. 22, verifica-se que quando da declaração o falecido servidor já estava com a saúde debilitada, mais uma vez fazendo-se evidenciaro referido casamento-negócio. Também datam para depois da debilidade do falecido servidor a declaração de dependente de fl. 11, bem como os documentos de fls. 13 e 14. Do conjunto probatório colhido é possível inferir que a aproximação da sobrinha com o tio decorreu de seu interesse em ser, posteriormente a sua morte, dependente dele perante o ente previdenciário. Outra conclusão não é possível extrair da parca prova amealhada, não se desincumbindo a autora do ônus da prova do fato constitutivo do seu direito, nos termos do art. 333, I, do CPC. Não comprovada a união estável, a autora não preenche, por conseguinte, a condição estabelecida pelo art. 9o, II, da Lei Estadual n. 7.672/82, para reconhecimento da dependência, devendo ser confirmada, neste grau de jurisdição, a sentença que julgou improcedente a pretensão". Nesse contexto, a alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem, tal como colocada a questão nas razões recursais, no sentido de que restou configurada a existência de união estável, demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial, conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. Ante o exposto, nego provimento ao agravo. Levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, impõe-se à parte recorrente o pagamento de honorários advocatícios equivalentes a 20% (vinte por cento) do valor a esse título já fixado no processo (art. 85, § 11, do novo CPC/2015), observando-se, contudo, o disposto no art. 12 da Lei 1.060/50, em razão da concessão do benefício da assistência judiciária gratuita. Publique-se. Brasília (DF), 11 de maio de 2017. MINISTRO SÉRGIO KUKINA Relator (Ministro SÉRGIO KUKINA, 15/05/2017) DECISÃO MONOCRÁTICA STJ AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 417.119 - RJ (2013/0356046-2) DECISÃO Trata-se de agravo contra decisão que inadmitiu recurso especial. O apelo extremo, fundamentado no artigo 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, insurge-se contra acórdão assim ementado: "CASAMENTO AVUNCULAR. IMPEDIMENTO. DECRETO-LEI 3200/41. MITIGAÇÃO. PROTEÇÃO DA PROLE. Ação declaratória de nulidade de casamento, ajuizada pelo apelante através da qual alegou ter vivido em união estável homoafetiva com o falecido marido da ré que, por seu turno, era sobrinha do de cujus. Requereu, em razão disso, a declaração de nulidade do casamento por infringência de impedimento legal A existência de união homoafetiva entre o autor e o falecido não guarda relação com o pleito contido neste processo, na medida em que este se trata de ação de nulidade de casamento. A possibilidade de casamento avuncalar é descrita pelo art. 1º e regulamentada pelo art. 2º, do Decreto-Lei 3200/41. Tal norma foi editada com o precípuo propósito de proteger a prole, advinda do casamento, de possível malformação genética, afastando-se a possibilidade de defeitos eugênicos dos eventuais descendentes. Assim, diante da constatação de que a ré havia se submetido à histerectomia total antes da boda, a apresentação dos atestados tomou-se despicienda. Recurso desprovido, nos termos do voto do Desembargador Relator". Nas razões do especial, o recorrente alega violação dos artigos 1.521, VI e 1.548, inciso II, do Código Civil, sustenta, em síntese a nulidade do casamento entre colaterais de terceiro grau realizado sem o exame médico exigido pelo Decreto-Lei nº 3.200/1941, afirmando que essa perícia visa preservar, além da saúde prole, a saúde dos próprios nubentes. Parecer do Ministério Público Federal opinando pelo desprovimento do recurso. É o relatório. DECIDO. Ultrapassados os requisitos de admissibilidade do agravo, passa-se ao exame do recurso especial. Eis a letra do acórdão recorrido transcrito no que interessa à espécie: "A possibilidade de casamento avuncular é descrita pelo art. 1° e regulamentada pelo art. 2°, do Decreto-Lei 3200/41, o qual exige atestado médico emitido por dois médicos afirmando não existir inconveniente sob o ponto de vista da sanidade e da saúde de qualquer deles e da prole. Cumprida a exigência. mitiga-se o impedimento contido no inciso IV, do artigo 1.521, do Código Civil(...) (...) Tal norma foi editada com o precípuo propósito de proteger a prole, advinda do casamento, de possível malformação genética, ou seja, afastando-se a possibilidade de defeitos eugênicos dos eventuais descendentes, o casamento convalida-se. Assim, diante da constatação de que a ré havia se submetido à histerectomia total (fl. 67), antes da boda (ocorrida em 24/04/2008 - fl. 21), a apresentação dos atestados tornou-se despicienda". Tal posicionamento esta em consonância com a jurisprudência desta Corte firmada no sentido de que a exigência da perícia médica é para evitar a ocorrência de riscos eugênicos, visando a preservação da sanidade de uma eventual prole. A propósito: "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CASAMENTO NUNCUPATIVO. VALIDADE. COMPROVAÇÃO DE VÍCIO QUANTO A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE INEQUÍVOCA DO MORIBUNDO EM CONVOLAR NÚPCIAS. COMPROVAÇÃO. 1. Ação de decretação de nulidade de casamento nuncupativo ajuizada em novembro de 2008. Agravo no recurso especial distribuído em 22/03/2012. Decisão determinando a reautuação do agravo em recurso especial, publicada em 12/06/2012. 2. Recurso especial que discute a validade de casamento nuncupativo realizado entre tio e sobrinha com o falecimento daquele, horas após o enlace. 3. A inquestionável manifestação da vontade do nubente enfermo, no momento do casamento, fato corroborado pelas 6 testemunhas exigidas por lei, ainda que não realizada de viva voz, supre a exigência legal quanto ao ponto. 4. A discussão relativa à a nulidade preconizada pelo art. 1.548 do CC-02, que se reporta aos impedimentos, na espécie, consignados no art. 1.521, IV, do CC-02 (casamento entre colaterais, até o terceiro grau, inclusive) fenece por falta de escopo, tendo em vista que o quase imediato óbito de um dos nubentes não permitiu o concúbito pós-casamento, não havendo que se falar, por conseguinte, em riscos eugênicos, realidade que, na espécie, afasta a impositividade da norma, porquanto lhe retira seu lastro teleológico. 5. Não existem objetivos pré-constituídos para o casamento, que descumpridos, imporiam sua nulidade, mormente naqueles realizados com evidente possibilidade de óbito de um dos nubentes - casamento nuncupativo -, pois esses se afastam tanto do usual que, salvaguardada as situações constantes dos arts. 166 e 167 do CC-02, que tratam das nulidades do negócio jurídico, devem, independentemente do fim perseguido pelos nubentes, serem ratificados judicialmente. 6. E no amplo espectro que se forma com essa assertiva, nada impede que o casamento nuncupativo realizado tenha como motivação central, ou única, a consolidação de meros efeitos sucessórios em favor de um dos nubentes - pois essa circunstância não macula o ato com um dos vícios citados nos arts. 166 e 167 do CC-02: incapacidade; ilicitude do motivo e do objeto; malferimento da forma, fraude ou simulação. Recurso ao qual se nega provimento" (REsp 1.330.023/RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 5/11/2013, DJe 29/11/2013). Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso especial. Publique-se. Intimem-se. Brasília-DF, 30 de junho de 2015. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Relator (Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, 05/08/2015) JURISPRUDENCIAS ESPARÇAS SOBRE O TEMA ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PENSÃO POR MORTE. UNIÃO ESTÁVEL ENTRE TIO E SOBRINHA. POSSIBILIDADE. QUALIDADE DE DEPENDENTE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 217, III, DA LEI 8.112/90. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. 1. 1. A pensão por morte de servidorpúblico é devida a companheiro (a) que comprove a existência de união estável, sendo presumida a sua dependência econômica, nos termos do art. 217, III da Lei n. 8.112/90. 2. O fato de o casal estar legalmente impedido de contrair matrimônio, nos termos do art. 1.521, IV, do Código Civil, não obsta o reconhecimento da união estável havida entre ambos para fins previdenciários. Nesses termos, tem-se admitido o reconhecimento de união estável entre tio e sobrinha, para fins de concessão de pensão por morte, desde que comprovada a convivência marital e duradoura. 3. Hipótese em que não restou comprovado a união estável, considerada esta a convivência pública, contínua, duradoura e com intenção de formar unidade familiar, desde o início da convivência marital até a data do óbito do instituidor da pensão, sendo inviável a outorga de pensão por morte. (TRF-4 - AC: 50110753420174047201 SC 5011075-34.2017.4.04.7201, Relator: ROGERIO FAVRETO, Data de Julgamento: 13/05/2019, TERCEIRA TURMA) ADMINISTRATIVO. PENSÃO MILITAR. POLICIAL MILITAR DO ANTIGO DISTRITO FEDERAL. UNIÃO ESTÁVEL ENTRE TIO E SOBRINHA. RECONHECIMENTO PARA FINS DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. NÃO COMPROVAÇÃO. 1. Pleiteia a autora o reconhecimento da união estável e com isso sua habilitação para o recebimento da pensão militar em razão do falecimento de seu companheiro, Primeiro- Tenente Swami Vivekananda Alves Carneiro, Policial Militar do antigo Distrito Federal, que ocorreu em 12/02/13, não deixando filhos. 2. O art. 1.723, § 1º, do CC estabelece que a união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521, do CC, que prevê que não poderá haver casamento entre colaterais até o terceiro grau inclusive. 3. A jurisprudência pátria tem admitido o reconhecimento de união estável entre tio e sobrinha, para fins de concessão de benefício previdenciário de pensão por morte, desde que comprovada a convivência marital e duradoura. 4. A Escritura Pública Declaratória de União Estável, por se tratar de documento produzido de modo unilateral, não pode servir como elemento de prova seguro, na medida em que pode ensejar burla à lei, com declarações que não correspondem à verdade. 5. As provas trazidas aos autos demonstram que em virtude de contingências e interesses particulares da apelante e do falecido, passaram a coabitar. De acordo com o art. 1.723 do Código Civil, para a configuração da união estável, a relação deve apresentar-se duradoura, contínua e pública, possuindo os conviventes o objetivo de formar a entidade familiar, não bastando para tal a comprovação de dependência econômica. 6. Vencida a demandante em seu apelo, cabe-lhe suportar o ônus dos honorários advocatícios recursais, porquanto a sentença foi publicada na vigência do CPC/2015. 7. No caso concreto, considerando-se o entendimento do STJ no AgInt nos EDcl no REsp 1.357.561 / MG (Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, DJe 19/04/2017), os honorários advocatícios devem ser majorados para 11% (artigo 85, § 11, do CPC/2015). 8. Apelação conhecida e desprovida. (TRF-2 - AC: 00044979720144025101 RJ 0004497- 97.2014.4.02.5101, Relator: JOSÉ ANTONIO NEIVA, Data de Julgamento: 18/08/2017, 7ª TURMA ESPECIALIZADA) CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CASAMENTO NUNCUPATIVO. VALIDADE. COMPROVAÇÃO DE VÍCIO QUANTO A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE INEQUÍVOCA DO MORIBUNDO EM CONVOLAR NÚPCIAS. COMPROVAÇÃO. 1. Ação de decretação de nulidade de casamento nuncupativo ajuizada em novembro de 2008. Agravo no recurso especial distribuído em 22/03/2012. Decisão determinando a reautuação do agravo em recurso especial, publicada em 12/06/2012. 2. Recurso especial que discute a validade de casamento nuncupativo realizado entre tio e sobrinha com o falecimento daquele, horas após o enlace. 3. A inquestionável manifestação da vontade do nubente enfermo, no momento do casamento, fato corroborado pelas 6 testemunhas exigidas por lei, ainda que não realizada de viva voz, supre a exigência legal quanto ao ponto. 4. A discussão relativa à a nulidade preconizada pelo art. 1.548 do CC-02, que se reporta aos impedimentos, na espécie, consignados no art. 1.521, IV, do CC-02 (casamento entre colaterais, até o terceiro grau, inclusive) fenece por falta de escopo, tendo em vista que o quase imediato óbito de um dos nubentes não permitiu o concúbito pós-casamento, não havendo que se falar, por conseguinte, em riscos eugênicos, realidade que, na espécie, afasta a impositividade da norma, porquanto lhe retira seu lastro teleológico. 5. Não existem objetivos pré- constituídos para o casamento, que descumpridos, imporiam sua nulidade, mormente naqueles realizados com evidente possibilidade de óbito de um dos nubentes - casamento nuncupativo -, pois esses se afastam tanto do usual que, salvaguardada as situações constantes dos arts. 166 e 167 do CC-02, que tratam das nulidades do negócio jurídico, devem, independentemente do fim perseguido pelos nubentes, serem ratificados judicialmente. 6. E no amplo espectro que se forma com essa assertiva, nada impede que o casamento nuncupativo realizado tenha como motivação central, ou única, a consolidação de meros efeitos sucessórios em favor de um dos nubentes - pois essa circunstância não macula o ato com um dos vícios citados nos arts. 166 e 167 do CC-02: incapacidade; ilicitude do motivo e do objeto; malferimento da forma, fraude ou simulação. Recurso ao qual se nega provimento. (REsp 1330023/RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2013, DJe 29/11/2013) Como é sabido o Código Civil de 1916 vedava o casamento entre parentes até o terceiro grau civil inclusive, portanto não era possível o casamento entre tios e sobrinhos, ocorre que o Decreto-lei nº 3.3200/41 passou a permitir o casamento entre tios e sobrinhos, desde que preenchido alguns requisitos, revogando, dessa foram, a vedação do Código Civil. No entanto, com o novo Código Civil sancionado recentemente pelo Presidente da República e que deverá entrar em vigor em janeiro de 2003, o art. 1521, IV, voltou a vedar a possibilidade de parentes de terceiro grau contraírem matrimônio, dessa forma a partir da entrada em vigor do novo código é de se presumir que o Decreto-lei que permitia o casamento entre parentes está revogado. DECRETO-LEI Nº 3.200, DE 19 DE ABRIL DE 1941. Produção de efeito Dispõe sobre a organização e proteção da família O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta: CAPÍTULO I Do Casamento de Colaterais do Terceiro Grau Art. 1º O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau, é permitido nos termos do presente decreto-lei. Art. 2º Os colaterais do terceiro grau, que pretendam casar-se, ou seus representantes legais, se forem menores, requererão ao juiz competente para a habilitação que nomeie dois médicos de reconhecida capacidade, isentos de suspensão, para examiná-los e atestar-lhes a sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da saúde de qualquer deles e da prole, na realização do matrimônio. (Vide Lei nº 5.891, de 1973) § 1º Se os dois médicos divergirem quanto a conveniência do matrimônio, poderão os nubentes, conjuntamente, requerer ao juiz que nomeie terceiro, como desempatador. § 2º Sempre que, a critério do juiz, não for possível a nomeação de dois médicos idôneos, poderá ele incumbir do exame um só médico, cujo parecer será conclusivo. § 3º O exame médico será feito extrajudicialmente, sem qualquer formalidade, mediante simples apresentação do requerimento despachado pelo juiz. § 4º Poderá o exame médico concluir não apenaspela declaração da possibilidade ou da irrestrita inconveniência do casamento, mas ainda pelo reconhecimento de sua viabilidade em época ulterior, uma vez feito, por um dos nubentes ou por ambos, o necessário tratamento de saúde. Nesta última hipótese, provando a realização do tratamento, poderão os interessados pedir ao juiz que determine novo exame médico, na forma do presente artigo. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%203.200-1941?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3200.htm#art42 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5891.htm § 5º Quando não se conformarem com o laudo médico, poderão os nubentes requerer novo exame, que o juiz determinará, com observância do disposto neste artigo, caso reconheça procedentes as alegações. (Revogado pela Lei nº 5.891, de 1973) § 6º O atestado, constante de um só ou mais instrumentos, será entregue aos interessados, não podendo qualquer deles divulgar o que se refira ao outro, sob as penas do art. 153 do Código Penal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5891.htm#art3