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Para conferir o grau de excelência do ensino católico no Brasil, a Associação Nacional de Escolas Católicas (Anec) implementou em 2009 um sistema de avaliação educacional em parceria com a AVALIA. Os resultados já podem ser conferidos em ação PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA AVALIA ASSESSORIA EDUCACIONAL | Nº 3 2010 FUNDAÇÃO BRADESCO Educação de Jovens e Adultos (EJA) é avaliada ENTREVISTA ESPECIAL Prof. Lino de Macedo debate o papel da escola ARTIgO DE MESTRE Prof. Dalton Andrade apresenta aspectos importantes da teoria da resposta ao item Ensinar com qualidade e valores A Avaliação Educacional abrange, além do desempenho acadêmico dos alunos, questões relacionadas a gestão, processos e recursos educacionais, oferecendo informações objetivas para formulação de planos de excelência. • Testes – matrizes de competências comparáveis com as do Saeb, Enem e Pisa. • Relatório final com resultados comparáveis aos apresentados pelo Saeb. Avaliar, Analisar e Refletir Ações fundamentais para escolas e sistemas de ensino públicos e privados, tornarem-se referência. Língua Portuguesa com Produção de Texto Matemática Aprendizado dos alunos Testes Questionários Relatório da Escola – Pedagógico Relatório de Percepção da Comunidade Ciências da Natureza Ciências Humanas AVALIAÇÃO EDUCACIONAL Contexto e Opinião dos alunos e da comunidade Devolutiva Perfil sociocultural do aluno e da família Visão da escola ou rede FERRAMENTAS DE COLETA DE INFORMAÇÕES • Testes de Língua Portuguesa com Produção de Texto, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas para os alunos de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. • Questionários aos diversos públicos da Escola ou Sistema de Ensino, alunos, pais, professores e gestores. RELATÓRIOS • Relatório de Desempenho da Escola. • Relatório da Percepção da Comunidade. • Sumário Executivo. • Relatório de Frequência (versão digital) • CD-ROM, com a versão digital de todos os relatórios relacionados à avaliação. Avalia Assessoria Educacional Avalia Assessoria Educacional www.avaliaeducacional.com.br atendimento@avaliaeducacional.com.br DDG: 0800 77 33990 anuncio-avalia-novo.pdf 1 3/8/10 12:03 PM 4 5 Trabalhar com avaliação na área educacional exige a combinação de alguns fatores: alto padrão de qualidade, seguir sistemas e escalas oficiais já consagradas, como as do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb) e do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), e ao mesmo tempo ter um olhar atento às diversidades. Afinal, o caminho da aprendizagem não é único nem linear, cada instituição tem seu método de ensinar e de formar cidadãos. Nesses cinco anos de trabalho, a AvAliA construiu sua experiência e sua reputação aliando esses três importantes fatores à inclusão de profissionais extremamente qualificados e à formação de um Conselho Consultivo, cujos profissionais são expoentes na área da educação no Brasil e em outros países. Nas próximas páginas desta edição da revista AvAliA em Ação, mostramos como a nossa experiência é posta em prática. Um dos exemplos é a reportagem de capa, que aborda a parceria de nossa instituição com a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec) para o desenvolvimento de uma avaliação educacional externa e especial para as escolas católicas – o Sistema de Avaliação Educacional da Anec. Esse modelo foi capaz de representar as necessidades e peculiaridades do ensino em instituições católicas, sem perder de vista a importância da comparabilidade externa por meio da utilização da escala compatível com a utilizada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Outras duas experiências notáveis são as avaliações realizadas junto com a Fundação Bradesco, no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e o trabalho de divulgação dos resultados das avaliações levadas a cabo pelo Sistema UNO de Ensino. Esta edição ainda está premiada com artigos dos mais renomados professores e doutores em educação e avaliação educacional. Eles trazem tendências e colocam em discussão temas importantes. E só mensurando, revendo e melhorando os processos é possível chegar à excelência. Boa leitura, Giovanni Peduto Diretor-geral da AvAliA Aliamos sistema de avaliação de qualidade e olhar atento às diversidades, a uma equipe experiente e a um Conselho Consultivo de renomados especialistas em educação E D IT O R IA L 9 ARTIGOSantiago Cueto S U M Á R IO 6 ENTREVISTALino de Macedo 10 CAPAAvaliação do ensino católico Ensinar valores faz parte da educação nas escolas da Anec MITOS E VERDADES Marisa Lajolo16 21 ARTIGO Renato Júdice 26 ARTIGO Dalton Andrade 31 ARTIGO Ilona Becskeházy 33 DEPOIMENTO Mônica Messenberg 34 ARTIGO Francisco Soares CASE AVALIA Fundação Bradesco18 22 REPORTAGEM Conselho Consultivo 32 REPORTAGEM Guarulhos 28 REPORTAGEM Devolutivas Expediente Conselho Editorial: Giovanni Peduto, Ana Astiz, Maria Zélia Dias Miceli, Luiz Magalhães Filho Coordenação editorial: Prata Design Editora executiva: Anna Costa – Quintal 22 Projeto gráfico e direção de arte: Didiana Prata – Prata Design Redator-chefe: Fernando Leal Redação Quintal 22: Débora Baptista, Letícia Tavares, Marina Petrolli, Paula Meireles, Renata Rossi Arte: Iara Camargo – Prata Design Revisão: Márcia Melo Articulistas: Prof. Dr. Danton Andrade, Prof. Dr. Francisco Soares, Ilona Becskeházy, Prof. Dr. Renato Júdice, Prof. Dr. Santiago Cueto Jornalista responsável: Anna Costa (MTB 22255) A revista AVALIA em Ação é uma publicação semestral da Avalia Assessoria Educacional, com tiragem de 15 mil exemplares e distribuída gratuitamente para as instituições educacionais, fontes de informação, governos e ONGs. Direitos reservados - é proibida a reprodução total ou parcial. Correspondências para a revista: atendimento@avaliaeducacional.com.br Quem somos A AVALIA Assessoria Educacional é uma Instituição especializada na avaliação de escolas e sistemas educacionais das redes particular e pública. Desenvolvida com foco nas necessidades da escola brasileira, a avaliação educacional da AVALIA se constitui numa poderosa ferramenta de gestão cuja finalidade é orientar ações de melhoria da qualidade do ensino. Saiba mais: www.avaliaeducacional.com.br Endereço: Avenida São Gabriel, nº 201 Conjunto 1409 - CEP 01435-001 Jardim Paulista - São Paulo, SP Telefone: 0800 77 33990 Central: (11) 3704 7330 Prata Design: 11. 3023 1569 www.pratadesign.com.br Quintal 22: 11. 3819 7808 www.quintal22.com.br em ação R o gé ri o A ss is D en is F re it as R o gé ri o A ss is C A P A S U M Á R IO 7 por Fernando Leal O debate sobre o papel da escola no desenvolvi- mento de habilidades e competências que vão além da grade curricular entrou definitivamente em pau- ta na medida em que os governos puseram em prá- tica sistemas de avaliação do ensino que oferecem. Deve-se medir não apenas o que o aluno domina do conteúdo que lhe foi ensinado, mas também habilida- des que vão do reconhecimento à interpretação desse conteúdo e ̀a capacidade de aplicá-lo no dia a dia. Nesta entrevista, Lino de Macedo, professor ti- tular da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), defende mecanismos de avaliação dos sistemas educacionais e mostra como o aprendi- zado integrado de “noções e conceitos”, “atitudes” e “procedimentos” responde às exigências da socieda- de contemporânea. O professor Lino de Macedo, da Faculdade de Psicologia da USP, explica que a educação deve oferecer aos alunos mais que um bom conteúdo. É preciso desenvolver habilidades e competências que os tornem aptos a aprender melhor e enfrentar os desafios da vida adulta Uma escola preparada para o mundo moderno L in o d e M a ce d o P ro fe ss o r T it u la r da F ac u ld ad e de P si co lo go a da U n iv er sida de d e S ão P au lo Qual a importância da discussão sobre competências e habilidades no âmbito das avaliações dos sistemas educacionais? Antes de tudo, é fundamental compreender por que a avaliação de sistema é importante. Na me- dida em que o Estado é obrigado a financiar uma educação básica a todas as crianças entre 4 e 17 anos – da educação infantil ao ensino médio –, e isso significa na prática recursos, ele está obriga- do a responder socialmente se esse dinheiro está sendo bem investido. Se as crianças aprenderam, o dinheiro foi bem investido. As avaliações são, portanto, uma resposta social que o governo dá aos cidadãos, se esse investimento obrigatório por lei está cumprindo sua função. É preciso se perguntar, também, o que os alunos aprenderam. Eu gosto de separar a apren- dizagem em três níveis: o aluno aprende noções e conceitos, atitudes e procedimentos. Mas, afinal, o que isso quer dizer? Ler é uma atitude quando eu gosto de ler, valorizo a leitura, acho que ler não é perder tem- po. E as atitudes são válidas para o estudo e para a vida. Por exemplo: respeito, atenção, concentra- ção, disciplina, colaboração, cooperação. Também se pode pensar a leitura como proce- dimento. Se eu comprei uma televisão, há um texto instrucional a ser lido para aprender como operá-la. E eu tenho de aprender como ler um texto desse tipo. Numa sociedade tecnológica como a nossa, o gênero chamado instrucional é muito importante. Há procedimentos diferentes para ler um manual, um romance, um livro de Matemática ou um mapa. Por fim, há a coisa lida, o conteúdo lido, o que está escrito. Se eu li o jornal, devo saber o que está escrito, qual a informação que está ali. O que o jornalista quis dizer, qual é o conteúdo da men- sagem. São as noções e os conteúdos. A escola tradicionalmente valorizava mais os conteúdos, as noções e os conceitos, as infor- mações contidas no texto. Mas os três elementos são fundamentais e, hoje, valorizados. Eu preciso saber o conteúdo lido, desenvolver atitudes favo- ráveis a esse recurso sociocultural que é a leitura e dominar os procedimentos na multiplicidade de linguagens que isso implica. E as habilidades? O mesmo se aplica às habilidades. Certas habili- dades, as mais importantes, valem para qualquer disciplina: comparar, reconhecer, identificar, co- mentar, argumentar, ordenar, localizar, antecipar, e assim por diante. Não são exclusivas de uma ou outra disciplina, mas há especificidades. Mapear tem um significado na Geografia, outro na Mate- mática e outro na vida. Se você observa as questões do Enem [Exa- me Nacional do Ensino Médio], por exemplo, as habilidades estão lá, refletidas nos verbos utiliza- dos nas perguntas: compare, identifique, escolha. São verbos que propõem uma tarefa. E todas va- lem para a vida. Isso não era importante há, digamos, 30, 50 anos? Na escola tradicional, atitudes e procedimentos eram valorizados, mas vinham na máquina cha- mada criança. Vinham no hardware. A escola tra- balhava com os programas [os softwares], mas as atitudes e os procedimentos já estavam lá. Além disso, competências e habilidades sempre foram pensadas na perspectiva dos adul- 7 E n T R E v IS TA R o gé ri o A ss is Qualidade e equidade na educação Santiago Cueto, pesquisador peruano, é doutor em Psicologia Educacional pela Universidade de Indiana (EUA) e membro do Conselho Consultivo da AvAlIA A R T IG O | Sa n ti a g o C u et o 9 É comum nestes dias ou- vir que falta qualidade à educação básica. Mas o que significa esse concei- to? Costuma-se associar qualidade ao resultado ob- tido pelos estudantes em exames padronizados de desempenho, em geral de linguagem e matemática. Trata-se, sem dúvida, de uma definição parcial que, de qualquer forma, encon- tra defesa no importante papel que esse aprendiza- do desempenha no de ou- tras áreas acadêmicas e em sua relação com o acesso ao ensino superior e com a inserção econômica dos indivíduos. São necessá- rios, sem dúvida, modelos mais amplos de qualidade educacional, para incluir, por exemplo, a formação moral e o desenvolvimen- to físico e artístico, mas sem se esquecer do papel central do aprendizado da lin- guagem e da matemática. Também se ouve que a educação básica esconde grandes desigualdades, e esse é outro conceito que pode ser definido de muitas maneiras. No entanto, equidade não é o mesmo que igualdade nos resultados. Isso por- que seria ilusório pretender que todos os estudantes obtivessem médias similares. O que se costuma indicar com o termo equidade é que todos os estudantes deve- riam apresentar um nível mínimo de aprendizado em todas as áreas acadêmicas, definido geralmente com ba- se no currículo escolar; e, para além desse rendimento mínimo, as diferenças entre grupos de estudantes não deveriam estar associadas a certas características pes- soais e familiares. Assim, um sistema educacional seria de qualidade se todos os seus estudantes apresentassem um nível de aprendizado aceitável e seria equitativo se o desempenho de pobres e ricos, por exemplo, fosse, na média, similar. Como conseguir quali- dade com equidade na edu- cação básica? Infelizmente não há consenso sobre isso nem entre os pesquisadores nem entre os políticos. Há, porém, alguns estudos que propõem modelos que in- cluem intervenções coorde- nadas em vários níveis: do es- tudante, da escola, da região e do país. Do ponto de vista da escola, o que esses estudos sugerem é, principalmente, que se possa contar com es- colas flexíveis, que se adap- tassem às características dos estudantes que a frequentam e promovam seu potencial, contando com os recursos necessários para isso. Geralmente os gover- nos se esquecem de que a atenção a estudantes que vivem em contextos de risco é mais custosa do que a requerida por outros alunos, e isso é importante se o sistema tem como meta superar a desigualdade. Se o investimento por estudante for igual para todos, o sistema educacional vai reproduzir as desigualdades sociais que os estudantes apresentam no início de sua escolarização, pois o nível de bem-estar da família vai determinar o sucesso de seus filhos na escola. Assim, talvez a principal pergunta que se deva fazer em países como o Brasil é em que medida a educa- ção serve simultaneamente aos propósitos de melhora da qualidade e redução da desigualdade. A educação de- veria ser um instrumento de melhora social, algo que parece hoje muito distante na América Latina. D en is F re it as tos, das profissões. No caso das crianças, associa- das a dons. O dom para a música, o jeito para o fu- tebol; como coisa inata, uma facilidade, que valia também para os números ou a leitura. Hoje, com dom ou sem dom, o aluno tem de aprender. Um tem dom para a leitura, outro, para a matemática, mas os dois precisam ser bons em leitura e matemática. Porque essas são ferramentas do mundo atual. Mesmo profissões aparentemente simples ganharam socialmente uma complexidade funcional, tendo em vista as condições do mundo moderno. Não nos falta informação. O que se pre- cisa é de ferramentas para encontrá-la e de pro- cedimentos para saber encontrá-la. A memória do computador é muito mais poderosa do que a nossa memória do ponto de vista de conteúdo. Mas é preciso aprender a processar informações. Aprender a valorizar e processar informações. Aí entram as habilidades: encontrar, anular, reco- nhecer, comparar, juntar etc. Portanto, tudo isso era importante. Mas vi- nha no hardware. Numa sociedade tradicional, os valores já estavam definidos: como você de- via se comportar, sua profissão e até com quem iria se casar. Havia valores, e muitos, e estavam embutidos, implícitos no cotidiano. Assim, os conteúdos eram mais exigidos porque as com- petências e as habilidades eram mais hardware do que software. Agora a escola desempenha papel mais amplo... Muito mais amplo. A educação é a forma maisre- volucionária de transformação social. não nos falta informação, mas sim ferramentas para aprender a valorizá-la e a processá-la. Aí entram as habilidades: encontrar, anular, reconhecer, comparar, juntar etc. E n T R E v IS TA 8 A escola atual está preparada para desenvolver esse tripé de conceitos e noções, atitudes e procedimentos? Eu digo que não. Até pelos resultados das avalia- ções e pelas queixas dos professores. Eles não se sentem preparados para isso, e dizem que não têm tempo, formação e recursos. Mas sou otimista. A escola deve se preparar fazendo, trocar a peça com o carro andando, e há uma consciência generalizada de que essas coisas se tornaram mais importantes no século atual. Desenvolver competências e habilidades é uma tarefa bastante desafiadora para a escola. No ensino médio, esse desafio é ainda maior? Sim. As intersecções, favoráveis e desfavoráveis, são maiores. Há jovens, moças e rapazes, que já têm filhos, são mães, pais de família. E as desi- gualdades são maiores. Há alunos que estão no ótimo de suas possibilidades e aqueles que estão sobrevivendo na vida escolar. Como o senhor vê o novo Enem, que tanta polêmica provocou em 2009? A educação básica é um direito e uma necessidade de todas as crianças e de todos os jovens. Já ensino superior é pensado para atender a profissões que exigem o domínio de conteúdos, atitudes e proce- dimentos específicos. São profissões de uma com- plexidade tal que a educação básica, mesmo a me- lhor do mundo, não daria conta. Por exemplo: a me- dicina exige uma profundidade em biologia que a melhor educação básica não consegue oferecer. O Enem se propunha a avaliar como o es- tudante estava saindo da escola, partindo do pres- suposto de que todos têm direito a uma educação básica de qualidade. Avaliava o aluno pelo seu presente em relação ao passado. Para selecionar o futuro aluno de um curso superior, porém, é preciso verificar se ele é bom em biologia, no caso da faculdade de medicina, ou em matemática, no caso de engenharia, com questões específicas de cada área. No vestibular, devo avaliá-lo pelo seu presente em relação ao fu- turo. Ele é bom em biologia? Não? Então não vai dar conta do nível de partida da faculdade. O novo Enem quis juntar as duas coisas [avaliando o ensi- no médio e, ao mesmo tempo, servindo como nota de seleção para ingresso na universidade]. A ideia é boa, mas, na prática, houve vários problemas, co- mo ter de aumentar muito o número de questões da prova [de 63 para 180, além da redação]. E n T R E v IS TA 11 Um passo à frente na educação A parceria entre a Anec e a AvAliA alcançou sua primeira meta: desenvolver um sistema de avaliação educacional exclusivo para escolas católicas, que leva em conta suas particularidades. O próximo passo pode ser um índice específico de desenvolvimento dessas escolas Observar o conhecimento aprendido pelos alunos é tão importante quanto mensurar os valores incorporados pelos jovens e percebidos por seus pais 110 instituições da Rede Salesiana de Escolas participaram dessa avaliação de âmbito nacional e começam a receber seus resultados a partir de março por Fernando leal 11 R E P O R TA G E M D E C A P A R o gé ri o A ss is Um dos pontos altos da avaliação é o momento da devolutiva, no qual são apresentadas as ferramentas para compreensão e utilização dos resultados C A P A 13 Resultados em tempo recorde Quando a equipe da AvAliA foi procurada pela Anec, em junho de 2009, sabia que iria precisar trabalhar em dobro para cumprir os prazos previstos nos programas de avalia- ção que realiza. “Normalmente as escolas se cadastram até maio, para que os testes sejam aplicados em novembro, e já estávamos em junho. Para garantir o pronto atendimento às necessida- des da Anec, reforçamos a equipe e fizemos em 30 dias o que costuma levar dois ou três meses”, afirma luiz Maga- lhães Filho, gerente de Operações e Marketing da AvAliA. O primeiro passo do trabalho é buscar a adesão das escolas. Com esse intuito, foram realizadas reuniões para apresentar o Sistema de Avaliação Educacional Anec aos gestores nos escritórios regionais da instituição, em São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Magalhães conta que a meta era garantir a adesão de 11 escolas e a participação de 6 mil alunos na avaliação de desempenho. Ao final, foram cadastradas 164 escolas, com 76 mil estudantes, graças, em grande parte, à maciça adesão da Rede Salesiana de escolas (ver quadro na próxima página.). Em seguida, organiza-se um banco de dados com o nome de todos os alunos. Nas escolas que aderem ao pro- grama de avaliação, todos os matriculados no 5o e no 9o ano do ensino fundamental e no 3o ano do ensino médio devem fazer os testes de língua Portuguesa e Matemática. O passo seguinte é a escolha do coordenador da ava- liação em cada escola e a capacitação de gestores, professo- res e funcionários. Essa capacitação envolve palestras sobre o marco teórico da avaliação, entrega do manual do coorde- nador e entrega do manual dos aplicadores. Cabe ao coor- denador, profissional-chave em todo o processo, informar o andamento dos preparativos para a rea lização da avaliação. A professora Maria Zélia Dias Miceli, gerente de Re- lações institucionais da AvAliA, explica que a aplicação dos testes é uma tarefa sob responsabilidade das escolas. “Envolvendo seus profissionais, mostramos que todos são importantes no processo de avaliação”, afirma. Por fim, são realizadas as devolutivas, que, no caso da Anec, envolvem cerca de 900 pessoas das mais diver- sas escolas participantes do processo de avaliação, em ci- dades como São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Ma- naus e Brasília. Em apresentações que duram em média 4 horas, são mostrados a tecnologia utilizada pelo sistema de avaliação, os instrumentos levados a campo e os relató- rios que a escola recebe. “O objetivo é muito mais do que apresentar resultados. Fazemos uma reflexão sobre como os relatórios podem colaborar para a gestão da escola”, ex- plica luiz Magalhães Filho. E mbora juridicamente ainda recém-nasci- da, a Associação Nacional de Escolas Ca- tólicas (Anec) possui raízes em uma lon- ga tradição de mais de 60 anos, advinda das três instituições que se uniram para formá-la: a Associação de Educação Católica do Brasil (AEC), com foco na educação básica, a Associação Brasi- leira de Escolas Superiores Católicas (Abesc) e a Associação Nacional de Mantenedoras de Escolas Católicas do Brasil (Anamec). Para representar esse importante segmento educacional do país, com cerca de 35% do total de alunos do ensino particular e 8% de todos os estudantes brasileiros, a Anec atua com base em três pilares funda- mentais: a defesa dos inte- resses das associadas junto aos governos, a promoção da educação católica e a colabo- ração com as escolas associa- das no que diz respeito à ges- tão, difundindo as melhores práticas e modelos de desenvolvimento institucional. A parceria com a AvAliA veio atender às necessidades que se encaixam no terceiro pilar de atuação da Anec. “A educação católica sempre teve a marca da excelência. Sentimos que era pre- ciso lançar um olhar interno sobre os padrões de qualidade das escolas associadas à Anec”, afirma o secretário executivo da associação, Dilnei Giseli lorenzi. Para isso, segundo ele, a Anec encontrou na AvAliA o parceiro ideal, por suas condições técnicas e também porque era capaz de fornecer algo crucial. “Precisávamos de um olhar especial, que respeitasse as peculiaridades da educação ca- tólica”, lembra lorenzi. Do ponto de vista das escolas católicas, não basta dar ao aluno uma educação baseada nos con- teú dos que devem ser ensinados e aprendidos em sala de aula. É preciso preparar crianças e jovens para o mundo com base em valores essenciais pa- ra o ser humano. Somente assim o estudante pode recebera formação integral de que precisa, tanto para desempenhar seu papel de cidadão como para ser um excelente profissional. Questionário de valores A AvAliA desenvolveu um sistema de avaliação especial para a Anec, levando em conta as necessi- dades de verificação da instituição. Assim foi cria- do o Sistema de Avaliação Educacional Anec, que mediu o desempenho dos alunos do 5oº e do 9o ano do ensino fundamental e do 3o ano do ensino mé- dio. Foram aplicadas testes de língua Portuguesa e Matemática, a partir de metodologia e escala com- patível com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação. Também foram colhidas as percepções de alunos, familiares, professores e equipe gestora da instituição a respei- to da realidade de cada uma das escolas que partici- param da avaliação. O diferencial mais importante do sistema da Anec, porém, em relação a trabalhos anteriores rea lizados pela AvAliA, foi o Questionário de Ati- tudes e valores. “As escolas tinham uma angústia. Elas se perguntavam: ‘O que ensinamos foi apren- dido? O que foi desenvolvido quanto a atitudes e valores ficou?’ E queriam saber até que ponto esses valores transmitidos contribuem para a formação do cidadão”, explica Maria Zélia Dias Miceli, geren- te de Relações institucionais da AvAliA. O ponto de partida para a elaboração do questionário foi um trabalho semelhante de- senvolvido pela AvAliA em 2008. A partir dele, foi realizado um profundo estudo sobre “valores universais” permearem as várias cor- rentes da educação católica e sobre como as escolas que participaram da avaliação prepa- ram seus alunos para o exercício da cidadania, O ensino católico no Brasil 1,5 milhão de alunos, 35% do total de estudantes das escolas particulares 1.400 escolas de ensino fundamental e médio 80 instituições de ensino superior 90 mil professores e funcionários A ce rv o A n ecAs 110 escolas da Rede Salesiana começam a receber os resultados da avaliação C A P A 15 Rede Salesiana de escolas: prioridade para a avaliação No primeiro ano de implementação do Sistema de Avaliação Educacional Anec, todas as 110 escolas da Rede Salesiana, a maior rede católica de es- colas do país, aderiram à proposta de avaliação em parceria com a AvAliA. “A proposta da Anec e da AvA- liA combinou com nossa proposta pedagógica”, afirma o padre Nivaldo luiz Pessinatti, diretor-geral da rede, que também é uma das mais antigas do país, com 120 anos. A Rede Salesiana oferece aos alunos uma aprendizagem de qualida- de, com atenção especial à diversida- de, à centralidade do jovem, sobretu- do nos aspectos afetivo e emocional e nas sensibilidades e linguagens. Essa aprendizagem, de acordo com a proposta pedagógica dos salesianos, deve ter foco na qualidade, com a de- vida importância aos objetivos e aos conteúdos, sem perder de vista o con- texto e a contemporaneidade. Para isso, a rede desenvolveu práticas que envolvem toda a esco- la: currículo, comunidade educativa, avaliação, tempos e espaços. isso inclui material didático exclusivo, que passa por avaliação de satisfa- ção regularmente. Segundo o padre Pessinatti, am- pliar a cultura da avaliação é uma das quatro principais políticas das escolas salesianas para os próximos anos, a começar em 2010, no âmbito nacional e internacional. Sobre o trabalho realizado pela AvAliA, o diretor da rede destaca o profissionalismo e a seriedade com que o processo de avaliação foi conduzido, “que imprimiram uma maior consciên- cia sobre a importância da iniciativa e desencadearam nas escolas forte ex- pectativa em relação às devolutivas”. Dessa maneira, segundo o padre Pessinatti, a avaliação realizada no ano passado foi fundamental para ins- taurar definitivamente essa cultura de avaliação na rede, impulsionando o cumprimento das metas para 2010. A escola Madre Cabrini foi uma das que passaram pelo Sistema de Avaliação Educacional Anec. No total foram avaliadas 164 instituições educacionais católicas ou seja, para que cum- pram com seus deveres e saibam cobrar seus di- reitos. Junto com espe- cialistas da Anec, foram feitos os ajustes neces- sários até a versão final do questionário. Diante dos resultados O ciclo da avaliação externa não se completa sem a interpretação dos resultados obtidos nos testes e nos questionários, e esse é um passo fundamental para chegar a ações concretas que possam reforçar ou corrigir as práticas adotadas pelas escolas. Para que essa interpretação se dê da forma mais eficaz possível, a AvAliA realiza as “devolutivas”, mo- mento no qual mostra à escola como compreender os resultados da escola de modo a poder utilizá-los no planejamento de seu ano letivo, por exemplo. Para lorenzi, é fundamental, a partir dos re- sultados apresentados pela AvAliA, verificar os pontos fortes das escolas católicas como um todo e de cada uma em particular. Ele admite que a cul- tura da avaliação, a exemplo do que acontece no país, ainda é nova entre as escolas. Mas acredita que a etapa de sensibilização de professores e ges- tores para a importância do processo já foi venci- da. “Basta dizer que, ao longo de todo o processo, vi muitos professores ansiosos pelos resultados para, a partir daí, poderem rever o planejamento para este ano”, conta. O padre Benedito Nivaldo Sapia Spinosa, di- retor do liceu Coração de Jesus, uma das escolas que participaram da avaliação, admite que ficou surpreso com a profundidade e com o detalhamen- to dos dados e das percepções resultantes dos testes e questionários aplicados. “O trabalho da AvAliA jogou luz sobre alguns valores importantes, pra- ticados naturalmente por nós, que nem sempre ganham o devido destaque no dia a dia”, afirma. O padre Spinosa diz também que já marcou reuniões com os pais para discutir os pontos mais relevantes apontados pela avaliação. Meta de crescimento A utilização dos parâmetros do Saeb no Sistema de Avaliação Educacional Anec mostra disposição não apenas para avaliação, mas para fazê-la de forma a poder comparar com outras escolas e com o país. Essa disposição vai ainda mais longe na intenção da Anec, ainda embrionária, de desenvolver em parce- ria com a AvAliA um índice próprio, nos moldes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ideb), criado pelo instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (inep). Além disso, o processo de avaliação levado a cabo pela AvAliA junto à Anec não se concen- tra apenas nos resultados provenientes da sala de aula, ou seja, no desempenho dos alunos. São con- sideradas também as questões relativas à gestão das escolas, aos processos utilizados e aos recur- sos investidos. Para 2010, lorenzi afirma que a meta é dobrar o número de alunos que participarão do processo de avaliação para cerca de 150 mil. “Um dos nossos objetivos para o ano é a consolidação do Sistema de Avaliação da Anec”, garante. Essa consolidação, por sua vez, atende a propósitos ainda maiores, como sintetiza bem o presidente da Anec, padre José Marinoni: “Nossa preocupação é garantir que nos próximos anos seja possível aferir um diagnóstico minucioso sobre o que acontece dentro e fora da sala de aula em nos- sas instituições de ensino. As escolas de educação católica pretendem oferecer mais do que conteúdo de qualidade. O que queremos é que as instituições de ensino continuem ofertando uma educação integral e humanista. Portanto, esse instrumento vai ajudar a identificar soluções inteligentes, bem como retificar pequenas falhas. A ferramenta tam- bém aumentará cada vez mais a qualidade do ensi- no católico, contribuindo assim para a melhoria da educação no país”. Mais de 900 profissionais da área da educação e administração escolar participarão das devolutivas da avalição. A reflexão sobre os resultados e as ações, porém, cabem a cada equipe em cada escola R o gé ri o A ss is A ce rv o A n ec A ce rv o A nec por Renata Rossi Apaixonada pelas letras, Marisa Lajolo escolheu ser educadora. Graduou-se em Letras pela Univer- sidade de São Paulo, onde também fez mestrado e doutorado. Pós-doutora pela Brown University, nos Estados Unidos, é professora titular (aposentada, colaboradora voluntária) do Departamento de Teo- ria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp, e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em 2009, recebeu o Prê- mio Jabuti na categoria Teoria/Crítica Literária, com a obra Monteiro Lobato: Livro a Livro, a ter- ceira de sua carreira. Entre suas linhas de pesquisa, a literatura infantil e a juvenil têm grande desta- que. Defensora contundente da leitura como ins- trumento para alavan car a educação, a professora desvenda, nesta entrevista, alguns mitos e verdades sobre o ensino da língua portuguesa. O ensino da língua muda ao longo do tempo. VERDADE. As línguas vivas – aquelas que ain- da são faladas – vão se modificando ao longo do tempo, a partir das diferentes necessidades das pessoas que delas se utilizam e das várias manei- ras pelas quais seus falantes se expressam nelas. Consequentemente, os aspectos trabalhados no ensino da língua nas escolas precisam ser atuali- zados e adequados. A idade ideal para alfabetizar as crianças é aos 6 anos. MITO. Não creio que haja uma idade ideal para a alfabetização. A maturidade da criança é que vai determinar o momento de iniciá-la em ati- vidades sistemáticas voltadas para o domínio da leitura e da escrita. Acredito, no entanto, que a criança manifestará prontidão para ser alfabe- tizada se, desde muito cedo, vivenciar cenas de 17 leitura: contato com livros, familiarizar-se com adultos lendo, se outras pessoas lerem para ela, enfim, se viver em ambientes “letrados”, isto é, ambientes dos quais a leitura faça parte. Estimular a leitura desde cedo acelera o processo de aprendizagem. VERDADE. A leitura é a atividade através da qual se desenvolve parte muito significativa da aprendizagem, dentro e fora da escola. Quem lê mal dificilmente aprende bem. A capacidade de interpretar textos é consequência da alfabetização. VERDADE. Hoje a noção de alfabetização vai bem além da capacidade técnica de decodifica- ção do som das letras. Ou seja, não basta saber que B+O = BO e L+A = LA, e portanto B+O+L+A = BOLA. Ser alfabetizado é ler entendendo e in- terpretando o que se lê. Saber, por exemplo, que os sinais gráficos BOLA correspondem, sim, aos sons da palavra que designa uma esfera, muitas vezes usada como brinquedo: quem topa jogar bola comigo? Mas, em outras situações, a mesma palavra aparece em expressões que têm outro sentido: comer bola num jogo de cartas, dar bola para alguém numa festa, ser a bola da vez. Há falta de professores alfabetizadores no país. MITO. É muito grande o número de cursos que habilitam profissionais a trabalhar nos primei- ros anos do ensino fundamental, que é quando se aprende a ler e a escrever. Assim, não há falta de professores alfabetizadores. A questão dos profis- sionais da educação, portanto, não é quantitativa, mas qualitativa: a formação do professor é muito precária, geralmente insuficiente e inadequada pa- ra que ele seja capaz de ensinar o que os alunos pre- cisam aprender. Resultados recentes de concursos de professores mostram isso de forma dramática. O maior desafio do professor de Língua Portuguesa é a alfabetização. DEPENDE. A alfabetização ocorre num mo- mento muito específico da escolarização do aluno, logo nos primeiros anos. Nem todo pro- fessor de Língua Portuguesa tem habilitação pa- ra alfabetizar alunos, nem é tarefa dele. Depois dos primeiros anos do ensino fundamental, por exemplo, os desafios dos professores são outros, embora quase sempre incluam – infelizmente – consertar o despreparo dos alunos para a escrita e para a leitura. Desde os primeiros anos de escolarização, a produção de textos deve ser incentivada. VERDADE. Ensinar o aluno a produzir e a apri- morar textos escritos e orais – adequados a dife- rentes situações e de diferentes gêneros – é uma das maiores e mais belas missões da escola. Ain- da antes das primeiras experiências escolares, desde que a criança começa a manifestar capa- cidade de fala (ainda que não se entenda o que o bebê diz, ele está falando), a produção de textos deve ser muito incentivada. É preciso entender, no entanto, que os textos escritos e orais produ- zidos pelas crianças precisam ser tratados como um diálogo que ela estabelece com os adultos ou com outras crianças – e, como diálogo, deve gerar textos-resposta. O método construtivista é mais eficaz que o fonético quanto à alfabetização. MITO. Acredito que muitos educadores e pes- quisadores discutiriam se o construtivismo é um método. Talvez seja uma filosofia, uma teoria. De qualquer forma, diferentes métodos de alfabetização são apenas métodos. Nas mãos de professores bem formados, que gostem de ler e, sobretudo, que motivem seus alunos para o aprendizado e o exercício da leitura, qualquer método funciona bem. E, nas mãos de profes- sores despreparados, que não gostam de ler, nenhum método funciona. O recente acordo ortográfico vai facilitar a vida dos estudantes. MITO. Ortografia é uma convenção propos- ta por alguns profissionais da língua, como escritores, professores, linguistas e filólogos. Convenciona-se que certos sons da lingua- gem oral, na escrita, são representados por certas letras, e não por outras. Passarinho, por exemplo, poderia perfeitamente ser escrito com “ç”, mas é escrito com “ss”. O estabele- cimento das convenções da escrita leva em conta vários fatores, entre eles a origem da pa- lavra. “Hoje”, por exemplo, tem um “h” inicial porque vem da palavra latina hodie. Quando povos de diferentes países falam a mesma língua – como é o caso do português, falado na África, na América, na Ásia e na Europa –, acordos internacionais favorecem a circula- ção de livros e impressos nessa língua. Assim, acordos ortográficos têm um perfil político e econômico, que pouco ou nada tem a ver com questões escolares. Nossa língua: aprendê-la é só o primeiro passo Superar o desafio de alfabetizar e formar alunos que saibam não apenas ler, mas sobretudo interpretar faz parte do dia a dia dos professores, segundo a educadora Marisa Lajolo Fá bi o T ie ri M IT O S E V E R D A D E S M a ri sa L a jo lo por Fernando Leal Fundação Bradesco prioriza educação voltada para a realidade por Renata Rossi A educação de qualidade garante a forma- ção de cidadãos e de profissionais. E mais: traz um bom panorama para o futuro do país. Como um dos compromissos da Fundação Bradesco é melhorar continua- mente o ensino oferecido, é preciso lançar mão de ferramentas que garantam essa evolução. Avaliações internas já fazem parte do dia a dia. Entretanto, a avaliação institucional, feita por uma empresa con- tratada, tem se mostrado de grande valia. No segmento de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Fundação, anualmente é feita uma avaliação de aprendizagem elaborada e aplicada por profissionais da equipe técnica, composta de oito profes- sores, de diferentes especialidades. “Era ne- cessário ir além e buscar uma ferramenta que nos possibilitasse ter parâmetros ex- ternos de comparação, dados ainda escas- sos no caso da EJA”, afirma Antonio Carlos das Neves, gerente-geral do Departamento de Educação Básica da Fundação Bradesco. Depois de um ano de trabalho, con- tando inclusive com uma assessoria ex- terna, foi elaborada a Matriz de Referência para Avaliação da Fundação Bradesco, im- plantada em 2008. Referenciada nas ma- trizes da Prova Brasil, do Exame Nacional 18 FU N D A Ç Ã O B R A D E S C O A partir de uma matriz de referência com competências e habilidades essenciais para compreender o mundo atual e lidar com situações do dia a dia, entidade avalia os alunos de EJA e direcionaseu planejamento estratégico do Ensino Médio (Enem) e do Exame Na- cional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), foi construí- da a partir de escolhas dentro do currículo nacional da EJA da própria Fundação. Levando em consideração as especi- ficidades que esse segmento da educação apresenta, como idades e níveis socio- culturais variados entre os estudantes, a matriz expressa as competências e as habilidades consideradas essenciais pa- ra o aluno ampliar a compreensão sobre a sociedade atual e, consequentemente, suas chances de inserção no mercado de trabalho. Além disso, possibilita obter dados sobre seu desempenho diante de situações-problema. “Priorizamos o que entendemos ser mais importante para nossos alunos aprenderem, que lhes possibilite a cons- trução do conhecimento”, diz Christiane Esteves Chaves, gerente do Departamen- to de Educação de Jovens e Adultos da Fundação Bradesco. Segundo Christiane, os itens ela- borados pela AvALiA – a partir da ma- triz de referência que norteia o traba- lho pedagógico da Fundação Bradesco – deixam de aferir apenas a capacidade do estudante de memorizar datas, fatos ou procedimentos de cálculo e buscam modos de verificar as capacidades mais amplas de ação diante de situações nas quais ele deve colocar em jogo seus conhecimentos, tanto escolares como extraescolares. “isso aponta a necessidade de mu- danças na prática pedagógica, pois é a escola que deve oferecer a oportunidade da vivência de situações em que o conhe- cimento escolar se relacione com a reali- dade, tendo em vista o desenvolvimento de competências”, completa. Planejamento e comparação Com essa matriz constituída tanto para o programa de alfabetização quanto para o ensino fundamental e o médio, a Funda- ção sentiu a necessidade de ter um olhar de fora sobre seu trabalho. Esse segmento de ensino foi avaliado externamente pela primeira vez em 2009, pela AvALiA. “Bus- camos uma instituição de comprovado conhecimento técnico em avaliação de grande porte”, explica Christiane. O objetivo é conhecer o nível de proficiência dos alunos para ter parâme- tros de comparação com as avaliações promovidas internamente para, assim, estabelecer planos de ação mais focados. A avaliação geral da proficiência dá fer- ramentas para que a instituição encontre pontos de aperfeiçoamento no processo de aprendizagem. isso pode significar a mudança da didática, o desenvolvimen- to de um material mais esclarecedor, o incremento da formação de professores e da estrutura do curso. A partir dos resultados, a Fundação pretende direcionar investimentos e fazer o planejamento estratégico. “A avaliação externa nos possibilita receber o diagnós- tico do nosso trabalho e é um instrumen- to de gestão imprescindível, que nos aju- da em busca de nossa meta, a excelência no ensino”, explica Neves. Por meio da educação, a Fundação tem por objetivo a inserção de jovens e adultos de nível socioeconômico mais baixo na sociedade no mesmo patamar de alunos que têm mais oportunidades. “Com a avaliação institucional, conse- guimos medir quanto estamos inserindo nossos alunos na sociedade por meio do conhecimento. Essa medida é importan- te, senão não há ação e a igualdade social que propomos acaba não acontecendo”, defende Maria Cristina Telles, gerente do Departamento de Educação Básica e Ava- liação da Fundação Bradesco. A avaliação na prática Os alunos dos ciclos de alfabetização, fun- damental ii e médio foram avaliados na pri- meira quinzena de novembro, em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal. As escolas e as empresas conveniadas foram preparadas por meio de reuniões, diretrizes de orientação e treinamento dos coorde- nadores do processo – destacados entre os funcionários da equipe técnica da Funda- ção –, tanto na sede administrativa quanto por videoconferência, com aplicadores da rede de escolas espalhadas pelo país. “Mais do que organizar e aplicar a avaliação, era essencial que todos os en- volvidos no processo soubessem da im- portância da avaliação e o que os indica- dores representariam para a melhoria na qualidade do ensino”, explica Christiane. Para alinhar o processo foram ela- Atuação da EJA em números Em 2009, a Fundação Bradesco atendeu 17.063 alunos, em sua rede de escolas 24 são as empresas conveniadas, que abrem suas portas para que funcionários e membros da comunidade local possam estudar A ce rv o F u n da çã o B ra de sc o Nas salas de EJA, o apoio dos professores e o engajamento dos estudantes são fundamentais Por dentro do banco de itens A R T IG O | Re n a to J ú d ic e 21 Em uma busca rápida pelo significado da palavra “ban- co”, é possível encontrar outras citações que não apenas aquelas ligadas ao contexto econômico-financeiro. Na medicina, por exemplo, a palavra associa-se a um local com equipamentos especiais para a guarda de material humano a ser utilizado posteriormente. Na informáti- ca, há o banco de dados. Já no cenário educacional, com a consolidação das avaliações em larga escala, quem ga- nhou destaque foi o banco de itens. De início, já se faz necessária uma diferenciação importante. Assim como no cenário financeiro existem os bancos comerciais, os de investimentos e os múlti- plos – que parecem iguais, mas são instituições com fins diversos –, também no campo educacional banco de questões e banco de itens não são a mesma coisa. Uma questão é, em última instância, uma pergunta. É comu- mente utilizada nas provas escolares, nos simulados, nos vestibulares e nos concursos públicos. São várias as estruturas possíveis para uma questão, desde as questões abertas até as fechadas, en- tre as quais a mais comum é aquela em que se deve escolher apenas uma al- ternativa entre as possíveis respostas apresentadas pa- ra a pergunta. Assim, um banco de questões é um sistema de armazenamen- to e gerenciamento de perguntas. Com os recur- sos tecnológicos de que se dispõe hoje em dia, certamente esse gerenciamento con- templa vários filtros e categorizações que ajudam muito a vida do usuário. Ampliando essa visão chega-se ao banco de itens. Uma questão, portanto, está contida em um item, o qual poderia ser entendido não só como a pergunta que é apresentada ao respondente, mas também como o pa- drão de comportamento das respostas a essa pergunta. Ao aplicar um conjunto de questões, o objetivo, nor- malmente, é identificar quantas delas cada respondente acerta. Já ao aplicar um conjunto de itens, pretende-se identificar o que o respondente sabe. Isso implica na di- ferença básica entre essas estruturas: o item precisa estar calibrado1, isto é, já deve ter sido levado a campo de tal forma que seu funcionamento seja previamente conhe- cido. Um banco de itens não armazena e gerencia apenas perguntas (questões), mas sobretudo os parâmetros de funcionamento dessas questões. No cenário da avaliação educacional, a nota do alu- no não é o fito. Deseja-se conhecer o que ele sabe, ou, em palavras mais técnicas, deseja-se conhecer sua posição na escala da competência avaliada. O item é o que nos permite posicionar cada aluno e, posteriormente, inter- pretar do ponto de vista pedagógico o que significa aque- la posição ocupada pelo aluno. Um banco de itens deve, consequentemente, ser: 1) amplo o suficiente para cobrir todos os matizes da competência avaliada; 2) numeroso, de tal forma que não sejam necessá- rias repetições desnecessárias; 3) dinâmico, refletindo a estrutura não estática que é o conhecimento. Para terminar, vale a analogia com o mercado fi- nanceiro, em que os bancos guardam verdadeiros tesou- ros. Ou seja, o banco de itens armazena, de fato, o grande tesouro da avaliação educacional! O banco armazena também perguntas e os parâmetros de funcionamento das questões Renato Júdice é doutor em Educação pela UFME e gerente da Área Técnica da AvAlIA Educacional 1No campo da psicometria, utiliza-se o verbo “calibrar” com o signifi- cado de identificar os parâmetros estatísticos de um item, após uma aplicação a um grupo de respondentes, de tal forma que o comporta- mento e a curva característica desse item sejam conhecidos. D en is F re it as F U N D A Ç Ã O B R A D E S C O 20 borados manuais de orientação pela Fun- dação Bradesco e pela AvALiA, direciona- dos aos coordenadores e aos professores aplicadores, levando em consideração as especificidades da EJA. Para cada escola e empresa conve- niada, foi selecionado um coordenador, responsável pelo cumprimento das di- retrizes institucionais destacadas, junto com a AvALiA. Os profissionais foram até as escolas e empresas conveniadas e acompanharam todo o processo, garan- tindo sigilo, credibilidade e transparência. Os professores aplicadores foram ca- pacitados e, no decorrer do processo, con- taram com a presença dos coordenadores da Fundação e com o serviço de atendi- mento da AvALiA. Durante a aplicação das avalia- ções, o comitê de funcionários da Fun- dação acompanhou o processo a distân- cia, na sede administrativa, em Osasco. Como as informações eram encaminha- das diariamente pela rede de escolas aos coordenadores, foi possível observar em tempo real detalhes como a adesão dos alunos, a infraestrutura das equipes escolares e o envolvimento dos aplica- dores. “Além disso, a possibilidade de tirar dúvidas e verificar ocorrências e decisões tomadas em conjunto com a AvALiA fez com que o processo fosse conduzido de forma tranquila e organi- zada”, afirma Maria Cristina. A adesão foi de 80% dos alunos. Diferentemente das crianças, o adulto não é conduzido. Tem autonomia para aderir à avaliação. A equipe da Funda- ção Bradesco atribui o alto índice de adesão ao envolvimento dos profissio- nais e dos alunos na busca de um ensino de qualidade. O processo de avaliação se comple- tou com sucesso e a Fundação Bradesco recebeu vários relatórios da AvALiA – da rede, de cada unidade escolar e ainda es- pecíficos por nível (alfabetização, ensino O adulto, diferentemente da criança, não é conduzido: tem autonomia para aderir à avaliação fundamental ii e ensino médio) –, além de conhecer a percepção da escola pela comunidade. Com esses documentos em mãos, representantes da AvALiA e da Fundação Bradesco encontraram-se para a devolutiva, momento em que foram fornecidos esclarecimentos e orienta- ções sobre como ler e interpretar os re- sultados da avaliação. O alto índice de adesão dos alunos às provas é atribuído, pela Fundação Bradesco, ao envolvimento dos profissionais e dos estudantes na busca de um ensino de qualidade 23 R E P O R TA G E M Conselho Consultivo: a marca da diversidade “Para mim, é um honra ser membro desse conselho, que conta com profissionais de destaque, brasilei- ros e do exterior, ligados a temas como práticas pe- dagógicas, políticas educacionais, pesquisas sobre eficácia das escolas e avaliação e análise de resulta- dos em educação.” Assim o professor Santiago Cue- to, do Peru, define sua participação no Conselho Consultivo da AvAliA e revela a diversidade que marca o grupo. Cueto é um dos oito integrantes do Conselho. Com formação em Psicologia Educacional, estará sentado ao lado, por exemplo, de Amaury Patrick Gremaud, economista e ex-diretor de Avaliação da Educação Básica do instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (inep); Simon Schwartzman, ex-presidente do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (iBGE); e Mari- sa lajolo, do Departamento de Teoria literária do instituto de Estudos da linguagem (iEl), da Uni- versidade Estadual de Campinas (Unicamp). Reunir um grupo com esse perfil e capaci- dade profissional não é fácil. Mais difícil, porém, é se mostrar aberto a seu escrutínio. A AvAliA não tem dúvidas quanto a essa disposição. Criou o Conselho Consultivo para que este desempenhe um papel crítico, analisando projetos e produtos da empresa e sugerindo mudanças, a fim de evitar a cristalização de abordagens que perderam a efi- cácia com o tempo ou com os avanços da socieda- de e da educação. Somente assim a AvAliA será capaz de alcan- çar seus objetivos, que não são simples, como apon- ta o professor Cueto: “O projeto da AvAliA é novo na América latina. As pesquisas internacionais de- monstram que as reformas educacionais não podem depender apenas do governo. Necessitam da partici- pação de professores, gestores e outros profissionais da escola, para educar de forma criativa, em aliança com a escola, com a família e com os próprios estu- dantes. A AvAliA busca ajudar esses atores a alcan- çar suas metas educacionais, que podem ser especí- ficas de cada escola”. Relatório da Escola O Conselho Consultivo da AvAliA se reunirá duas vezes por ano. Em outubro de 2009 foi realizada a primeira reunião, com sua composição completa. O objetivo foi discutir o Relatório da Escola, que é entregue às escolas que passam pelo processo de avaliação. O professor Francisco Soares, presidente do Conselho, explica que a discussão entre os profissio- nais da escola sobre o Relatório é a atividade mais importante da avaliação, pois traduz para a prática pedagógica os números obtidos. “O Relatório da Es- cola da AvAliA foi desenvolvido com uma organi- zação voltada para a utilização nessa atividade, para servir de apoio a essa discussão”, afirma. Seu formato foi bem recebido pelo Conselho Consultivo. “O relatório tem um nível bastante alto”, diz Gremaud, sintetizando uma percepção comum aos demais integrantes do grupo. isso não impediu que sugestões de melhorias fossem apre- sentadas. A proposta inicial do Relatório foi anali- sada pelos membros do Conselho. Para Schwartz- man, o principal desafio é tornar os resultados da avaliação inteligíveis para aqueles que vão utilizá- los para redirecionar as práticas pedagógicas e o planejamento do ano letivo da escola. isso signi- fica, como explica Soares, investir mais tempo e mais energia no leitor final típico dos relatórios, ou seja, professores e gestores escolares. Para montar um bom time, não basta escalar os craques; é preciso ter grandes jogadores em todas as posições. Assim é o Conselho Consultivo da AvAliA. Sob a presidência do professor Francisco Soares, profissionais com comprovada experiência e de diferentes áreas do conhecimento – psicologia, pedagogia, ciências sociais, economia e estatística – compõem um grupo marcado pela diversidade, capaz de analisar de forma crítica os projetos e produtos da AvAliA e sugerir alterações de rota. Desse modo, será possível evitar a cristalização de abordagens que perderam a eficácia. Na primeira reunião, em outubro do ano passado, o tema em debate foi o formato ideal do Relatório da Escola, documento entregue às escolas na fase final da avaliação. Com a presença de todos os conselheiros, o Relatório da Escola concentrou as discussões na primeira reunião de 2010. Nenhum detalhe escapou à análise dos especialistas reunidos no grupo Fá bi o T ie ri Katia CRistiNa stoCCo smolE Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), na área de ensino de Ciências e Matemática, é coordenadora do Grupo Mathema, de formação e pesquisa. Foi professora de Matemática no ensino médio na rede pública estadual de São Paulo. saNtiago CuEto Formado em Psicologia Educacional pela Pontificia Universidad Católica del Perú, com doutorado na Universidade de indiana, nos Estados Unidos, dedica-se a pesquisas relacionadas aos temas do aprendizado e do desenvolvimento na infância e na adolescência. “Devemos procurar reduzir a inequidade social e educacional”, afirma. maRisa lajolo Professora titular (aposentada, colaboradora voluntária) do Departamento de Teoria literária do instituto de Estudos da linguagem (iEl), da Unicamp, e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É autora, entre outros, de AFormação da leitura no Brasil e Do Mundo da leitura para a leitura do Mundo (Ed. Ática). Foi secretária de Educação de Atibaia e acredita que pode trazer para o Conselho um pouco da “familiaridade com a ‘cultura’ de educadores da rede pública” que adquiriu com essa experiência. Kaizô iwaKami BEltRão Matemático, com Ph.D. em Estatística pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. É consultor do Banco Mundial e da Organização internacional do Trabalho (OiT) e, no Brasil, de órgãos como o Ministério da Fazenda. Para ele, “a diversidade do grupo enriquece a contribuição que cada um pode dar ao Conselho”. FRaNCisCo soaREs Presidente do Conselho. Estatístico com pós-doutorado em Educação pela Universidade de Michigan Ann Arbor, nos Estados Unidos. “o Conselho poderá avaliar de forma crítica nossos projetos e produtos. são pessoas que pensam a educação de diferentes perspectivas”, afirma. PhiliP R. FlEtChER Estatístico com Ph.D. pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, possui mais de 20 anos em pesquisas e avaliações de larga escala. No Brasil, atuou no instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (ipea) e na Fundação Carlos Chagas, quando contribuiu para o desenvolvimento do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em 1995. simoN sChwaRtzmaN Sociólogo, é presidente do instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (iETS), no Rio de Janeiro, e ocupou a presidência do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (iBGE) entre 1994 e 1998. “minha contribuição será na discussão das políticas educacionais e dos sistemas de avaliação, como cientista social”, explica. amauRy PatRiCK gREmauD Economista, foi diretor de Avaliação da Educação Básica do instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (inep), do Ministério da Educação, entre 2006 e 2008. É autor de Avaliação da Qualidade da Educação no Brasil (Fundação Santilliana). Para ele, a diversidade dos integrantes do conselho, “cada um envolvido de uma forma diferente com o processo educativo”, tornará as reuniões extremamente ricas. R E P O R TA G E M 24 Conheça os integrantes do Conselho Consultivo 26 A R T IG O | D a lt o n A n d ra d e Usualmente, quando desejamos medir a proficiên cia de um aluno em uma área do conhecimento, faze mos uso do escore, o número de acertos, do aluno em um teste com determinado número de itens (questões). Os itens são analisados através de parâ metros denominados “discriminação” e “dificulda de”, que dependem fundamentalmente do grau de dificuldade do teste e do escore do aluno e do grupo de respondentes. Nesse caso, comparações entre de sempenhos de alunos de diferentes anos e ao longo dos anos são difíceis de ser realizadas. Para contornar tais dificuldades e também pa ra permitir uma medida mais apropriada da profi ciência do aluno, foi desenvolvida a Teoria da Res posta ao Item (TRI), cujo foco principal, como bem diz o seu nome, é o item, e não o teste como um todo. Dentro do contexto da TRI, a medida de proficiência de um aluno não depende dos itens apresentados a ele, assim como os parâmetros de discriminação e de dificuldade do item não dependem do grupo de respondentes. Em outras palavras, um item mede determinado conhecimento, independentemente de quem o está respondendo, e a proficiên cia de um aluno não depende dos itens a ele apresentados. A TRI é um conjunto de modelos que relacionam a probabilidade de um aluno apresentar determinada respos ta a um item com sua proficiência e com as características (parâmetros) do item. Os itens podem ser de diferentes tipos. Para cada um deles existe um modelo apropriado na TRI. Importantes avaliações, tais como o Sistema de Avaliação da Edu cação Básica (Saeb) e, mais recentemente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), utilizam mode los logísticos da TRI. Além dos parâmetros de discriminação e de di ficuldade, algumas avaliações fazem uso ainda de um parâmetro para controlar o acerto casual. Este último tem um papel bastante importante nas ava liações com itens de múltipla escolha. O modelo logístico parte do princípio de que, quanto maior a proficiência do respondente, maior sua probabilidade de acerto, construto acumulativo. Seu parâmetro de dificuldade é medido na mesma escala da proficiência, o que permite a comparabi lidade entre resultados de diferentes testes e a cons trução e interpretação de escalas de proficiência, como a escala nacional de proficiência cons truída pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu cacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC), para Matemática e Língua Portu guesa (www.inep.gov.br). Outra leitura para esse pa râmetro, a qual nos parece mais apropriada, é dizer que ele representa a proficiência mínima que um respondente deve possuir para que sua probabilida de de acerto seja alta. O parâmetro de discriminação, como já diz seu nome, deve ser um valor mínimo, de modo a garantir Avaliações de educação, como Saeb e Enem, utilizam modelos logísticos da Teoria de Resposta ao Item A Teoria da Resposta ao Item que respondentes com proficiências diferentes tenham probabilidades diferentes de acerto. O grau de informação do item está diretamente re lacionado a esse parâmetro. Em situações em que não existe a pos sibilidade de acerto casual, temos o modelo logístico de dois parâmetros, e quando todos os itens possuem o mesmo parâmetro de dis criminação temos o modelo logístico de um parâmetro, ou, como é muito mais conhecido, modelo de Rasch. A Provinha Brasil e o Pisa fa zem uso desse modelo. Em avaliações em que o acerto casual é possível, a medida de proficiência da TRI leva em conta não só o número de acertos como também o padrão de respostas do aluno. Em outras pala vras, dois alunos com o mesmo escore podem receber da TRI diferentes valores de proficiência. Receberá maior proficiência aquele que apresen tar respostas aos itens de forma mais coerente com o construto que está sendo medido. A partir de um banco de itens calibrados, is to é, itens com seus parâmetros todos na mesma escala de proficiência, podemos construir um ou mais testes com graus de dificuldade apro priados para atender aos objetivos de uma ou mais avaliações. Tudo o que precisamos é que o banco de itens seja constituído por itens com boa discriminação e com diferentes valores do parâmetro de dificuldade. Um teste montado com itens com boa discriminação e diferentes valores do parâmetro de dificuldade será bas tante informativo e permitirá boas estimativas das proficiências dos respondentes. Testes (provas) diferentes, porém com itens comuns, podem ter seus resultados comparados todos em uma mesma escala de medida de pro ficiência. Esse processo é conhecido como equa lização. No Brasil, exemplos importantes seriam o Saeb – com a utilização de itens do 4o ano do ensino fundamental na prova do 8o ano e de itens de 8o ano na prova de 3o ano do ensino médio – e o projeto do Ministério da Educação que acom panhou alunos do 1o até a 4o ano. Nesse estudo longitudinal, itens de 1o ano foram utilizados na prova de 2o ano, itens de 2o. na de 3o ano e itens de 3o na do 4o ano. Ao final, foi possível analisar a curva de crescimento não só das séries, mas tam bém dos alunos que participaram ao longo de todo o período analisado. Estudos de simulação mostram que testes diferentes com pelo menos 20% de itens comuns permitem uma boa equali zação de seus resultados. Outra forma de avaliação mais recente, e fundamentalmente dependente da TRI, são os deno minados Testes Adaptativos por Computador (CAT, na sigla em in glês). Neles, cada avaliado pode ser submetido a uma prova diferente: porém, todos os resultados são re presentados na mesma escala de medida e, portanto, comparáveis. Para cada avaliado é construído, in terativamente, um teste no qual o próximo item é selecionado dependendoda resposta que o avalia do apresentou ao item anterior. Podemos concluir que a TRI é uma meto dologia que pode, e muito, contribuir para as avaliações brasileiras. Em nossa opinião, ela não vem sendo mais amplamente utilizada pe lo fato de sua aplicação exigir um uso bastante intensivo de programas computacionais espe cíficos. A capacitação de pessoal nessa metodo logia e nos programas computacionais neces sários para sua aplicação bastaria para tornála mais conhecida e utilizável. Dalton Andrade é Doutor em Biostatistica pela Universidade da Carolina do Norte e professor titular do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina Testes diferentes, com itens comuns, podem ter seus resultados comparados em uma mesma escala de medida de proficiência D en is F re it as C A P A 29 R E P O R TA G E MHora de traduzir os números e partir para a ação Não basta avaliar; é fundamental interpretar resultados e utilizar a análise como ferramenta de intervenção pedagógica. Por isso, a AvAliA faz da devolutiva um de seus diferenciais Nas últimas décadas, o Brasil implementou com su- cesso a Prova Brasil, o Sistema de Avaliação da Edu- cação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Do ensino fundamental ao médio, os estudantes são submetidos a exames que revelam seu nível de proficiência. O que esses resultados signifi- cam? O que se faz com eles na prática? Como podem contribuir para melhorar a qualidade da educação? Essas são perguntas que muitos gestores, pro- fessores, alunos e até mesmo pais se fazem. A pre- ocupação tem razão de ser. Afinal, medir o desem- penho dos estudantes não basta; é preciso investir igualmente na divulgação dos resultados, gerando a compreensão adequada da importância dos exa- mes e a tradução dos números em ações efetivas. Para mostrar o que significam os resultados da ava- liação educacional e fazer com que os números tenham aplicação peda- gógica, a AvAliA tem na devolutiva um dos diferenciais de seu processo de avaliação. Mapeamento A AvAliA não faz intervenção pedagógica nas instituições que a contratam, mas sim oferece as fer- ramentas capazes de direcionar o planejamento das ações. O primeiro passo é enviar à escola os relató- rios da avaliação, um material que contém os resultados consolidados, dados comparativos, contextualiza- ção sobre as competências, aspectos socioculturais e níveis de proficiên- cia (Abaixo do Básico, Básico, Proficiente e Avança- do). Não há notas, para evitar uma imagem detur- pada da medição. Os relatórios são uma espécie de diagnóstico da escola, a partir do desempenho dos alunos e de sua percepção, assim como a dos pais, dos profes- sores e da comunidade, sobre a escola. O objetivo é que esse material sirva para orientar as intervenções pedagógicas, melhorando a qualidade do ensino ofe- recido. Trata-se do instrumento que direciona o fe- chamento do ciclo: ensino, avaliação, desempenho, resultados, interpretação e, por fim, ação. Para que esse fechamento se dê da melhor forma possível, é essencial que ocorra a devolutiva, momento em que a AvAliA orienta e esclarece a escola sobre como ler e interpretar os resultados da avaliação. O impacto do processo na escola é evidente. “A partir da devolutiva encontramos pontos de me- lhoria, principalmente na área de interpretação e geometria. Para solucionar as questões, reorganiza- mos o planejamento dos anos e criamos oficinas de aprofundamento nessas áreas”, afirma Alexandre Abatepaulos, diretor do Colégio lourenço Casta- nho, em São Paulo (veja quadro na pág. ao lado). Os alunos são avaliados no último ano da primeira e da segunda etapa do ensino fundamental e ao final do ensino médio, para medir as competências ad- quiridas ao longo da escolarização. Em geral, os tes- tes são aplicados anualmente, mas a periodicidade é um critério definido pelas escolas. A avaliação, além dos testes, é composta de quatro questionários, cada um destinado a um público: aluno, família, gestor e professor. São ava- liados mais de 300 itens, dos quais resultam 43 indicadores analisados. E estes serão explorados na devolutiva. Entre os indicadores, o envolvimen- to dos pais é um dos que despertam grande inte- resse. Com a devolutiva, o gestor pode analisar esse dado e perceber se os pais estão se envolvendo ou não na educação dos filhos. Assim, é possível orien- tá-los sobre como participar. Embora pareça óbvio, muitos pais têm uma visão distorcida sobre o que é participar da vida escolar. Não é resolver as tarefas escolares em casa nem dar respostas prontas quando questionados. É preciso oferecer ferramentas de pesquisa, cobrar, ajudar os filhos na elaboração das respostas. Mui- tas vezes o gestor precisa explicitar isso aos pais para orientá-los na direção certa. O desempenho do aluno não está atrelado ape- nas ao currículo da escola e à forma como é ensinado. Melhorar outros fatores, como a infraestrutura, o ma- terial didático, a qualidade dos professores e a comu- O setor público e o privado já se deram conta da importância da avaliação educacional externa para melhorar a qualidade da educação. Boa parte das escolas utiliza a devolutiva como instrumento para direcionar suas ações pedagógicas 29 Experiências com a devolutiva “A devolutiva possibilita identificar em quais competências e habilidades, nas áreas de compreensão leitora e matemática, a escola deve investir. Esse diagnóstico apresenta aspectos importantes, com detalhamento e indicadores comparativos que nos permitem balizar o trabalho. Para receber a devolutiva, fizemos uma reunião com toda a liderança da escola – direção, coordenação de série e de área – e assessores. Os resultados foram analisados e surgiram propostas de encaminhamentos para o trabalho. Os coordenadores foram os responsáveis por fazer a informação chegar aos professores. A partir da devolutiva, encontramos pontos de melhoria, principalmente na área de interpretação e geometria. Para solucionar as questões, reorganizamos o planejamento dos anos e criamos oficinas de aprofundamento nessas áreas.” Alexandre Abatepaulos Diretor do Colégio lourenço Castanho, em São Paulo “A devolutiva é um diferencial que permite democratizar a instituição, pois cada ator do processo ensino-aprendizagem se manifesta, contribuindo para a busca de melhores resultados. Para recebê-la, o primeiro passo foi reunir a equipe técnica, que teve a oportunidade de fazer releituras e reavaliar as ações pedagógicas. Depois, os professores tiveram contato com os resultados, bem como alunos e pais. Conhecer a avaliação permitiu que todos os envolvidos se sentissem parte do processo. Novos projetos e avaliações foram realizados, o que possibilita adequações futuras.” Pastor Wagno Alves Bragança Diretor do Colégio Batista Mineiro de Uberlândia nicação com os pais, influencia positivamente. E a me- lhoria deve ser concomitante. Não adianta incremen- tar a qualificação dos professores e manter o material didático defasado ou a infraestrutura insuficiente. Novos caminhos A apresentação dos dados pode ser feita por um profis- sional da AvAliA, ou ainda por consultores capacita- dos pela AvAliA, no caso do Sistema UNO (veja repor- tagem na pág. 30). A forma como se dará o encontro é definida de comum acordo. Algumas instituições preferem que os resultados sejam expostos aos ges- tores, outras convidam coordenadores pedagógicos e professores. Há ainda as que posteriormente dividem o diagnóstico com pais e alunos. Na devolutiva, os profissionais da escola ve- rificam o que o aluno que está no nível proficiente consegue fazer e, ao mesmo tempo, o que aquele que está abaixo do básico deveria saber. Um estu- dante no nível avançado na compreensão leitora não precisa de aulas de reforço, mas de incentivo para participar de um concurso de redação, por exemplo. Já o que está abaixo dobásico em Mate- mática pode ser auxiliado pelo colega que demons- trou resultado avançado nessa disciplina. Assim, com ações práticas, encerra-se o ciclo proposto pelo processo de avaliação, cujo propósi- to maior é elevar o nível da educação. “Conhecer a avaliação permitiu que todos os envolvidos se sen- tissem parte do processo. Novos projetos e avalia- ções foram realizados, o que possibilita adequações futuras”, atesta o pastor Wagno, diretor do Colégio Batista Mineiro de Uberlândia. R o gé ri o A ss is D E v O l U T iv A 30 Sistema UNO: diagnóstico e correção Sistema UNO em números 500 escolas conveniadas em todo o Brasil 90mil alunos de instituições privadas 50mil alunos de escolas públicas Um dos principais clientes da AvAliA contribui para o planejamento estratégico das escolas conveniadas a partir dos resultados apresentados na devolutiva O Sistema UNO de Ensino conta atualmente com uma rede conveniada de cerca de 500 escolas. A avaliação educacional realizada pela AvAliA é um diferencial entre as soluções educacionais ofereci- das às instituições, assim como a devolutiva, que fica a cargo dos consultores de serviços capacita- dos pela AvAliA. “O diagnóstico e a devolutiva, associados ao plano de ação, com medidas corretivas e de orienta- ção desenvolvidas pelo consultor de serviços, confi- guram uma potente ferramenta de gestão oferecida ao conveniado do Sistema UNO de Ensino, visando ajudá-lo no processo de melhoria da qualidade”, ex- plica Nelson Azevedo, diretor de Marketing, Comer- cial e Serviços do Sistema UNO de Ensino. As ações relacionadas à avaliação institucional são planejadas anualmente e o mesmo cronograma se aplica a todas as escolas do UNO. As atividades contempladas no planejamento são: divulgação, ca- dastro de alunos, logística de entrega, aplicação dos instrumentos, processamento, análise e devolutiva. O cronograma e tem como objetivo prioritário apresen- tar o resultado da avaliação no momento adequado para que a escola possa utilizá-lo em seu planejamen- to do ano letivo corrente. “A devolutiva da avaliação educacional é um momento importantíssimo na nossa relação com a escola e, para isso, temos uma equipe plenamente capacitada na leitura dos relatórios e do diagnósti- co”, explica Azevedo. Outro ponto importante é a relação que o consultor de serviços mantém com a escola: “Ele a atende durante o ano todo, então tem profundo conhecimento da realidade da instituição. Por isso, apresenta e discute o diagnóstico com os gestores conveniados e ajuda a desenvolver um plano deta- lhado de ações, com as intervenções pedagógicas pontuais necessárias”, completa. A ce rv o C o lé gi o A rb os Ilona Becskeházy é especialista em administração para organizações sem fins lucrativos pela Harvard Business School e diretora executiva da Fundação Lemman. Sobre a Fundação Lemann A Fundação Lemann é uma organização sem fins lucrativos voltada para a melhoria da qualidade do ensino básico público, por meio de projetos de gestão e formação de lideranças. Para mais informações, assim como para a íntegra do Boletim da Educação no Brasil, acesse: www.fundacaolemann.org.br e www.lideresemgestaoescolar.org.br A R T IG O | llo n a B e cs ke h á zy 31 O uso das avaliações para melhorar o aprendizado Boletim da Educação no Brasil mostra os avanços dos sistemas de avaliação no país, mas alerta para a falta de utilização dos dados na sala de aula Avaliar processos e resultados de escolas e redes de ensino é um passo indispensável para a melhoria da educação de um país. São as avaliações, afinal, que oferecem informações objetivas para a produção de um diagnóstico preciso sobre um sistema educacional. No Brasil, atualmente, os sistemas de avaliação já estão tecnicamente consolidados e são considerados avançados em relação a muitos países. O Ministério da Educação e algumas Secretarias da Educação estaduais e municipais coletam regularmente informações sobre o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, seu perfil socioeconômico, características dos professores e das escolas. Além disso, realizam censos de vários tipos para todos os níveis e modalidades de ensino. A divulgação dos resultados das provas na internet, de forma clara e simples, dá acesso ao público em geral à informação por escola. A metodologia das avaliações permite que os resultados sejam comparados ao longo do tempo. As bases de dados, com informações mais complexas, estão disponíveis para pesquisadores e formuladores de políticas públicas. A sociedade passou a contar, portanto, com mais e melhores informações, o que foi decisivo para o aumento da cobertura da imprensa e da mobilização de grupos de pressão em torno do tema. Esse cenário positivo rendeu o conceito “bom” ao quesito “Sistemas de Avaliação” no recém-lançado Boletim da Educação no Brasil: Saindo da Inércia? A publicação foi produzida pela Fundação Lemann, em parceria com o Programa de Promoção da Reforma Educacional na América Latina e Caribe (Preal). Inspirado nos documentos utilizados nas escolas para avaliar os alunos, o Boletim dá nota a nove temas considerados cruciais para o desenvolvimento da educação no país. “Sistemas de Avaliação” é um deles. Em sete quesitos, o país recebeu conceito “regular” ou “insatisfatório”. O Boletim ressalta que, apesar dos avanços alcançados com as avaliações, os dados fornecidos por elas ainda são pouco utilizados pelos gestores escolares para orientar a tomada de decisões pedagógicas. Ainda existe uma grande dificuldade de traduzir, para professores e gestores, os resultados de desempenho dos alunos de modo a evidenciar as lacunas de aprendizagem. E, no entanto, para gerar mudanças nas escolas e nas salas de aula, é essencial que esses profissionais sejam capazes de identificar os problemas que levam seus alunos a não dominar determinadas habilidades e competências para, a partir daí, reformular suas práticas de ensino. Um dos caminhos para atingir esse objetivo é oferecer aos docentes recursos técnicos – materiais didáticos, guias curriculares, cursos de formação – que auxiliem, e portanto estejam alinhados com as competências medidas pela avaliação. Isso ainda não existe de forma sistemática no Brasil. É, sem dúvida, um aspecto em que precisamos melhorar se desejarmos atingir o conceito “excelente” nos próximos Boletins. D en is F re it as 32 G U A R U L H O S Diante da demanda da rede municipal por um do- cumento orientador das diretrizes curriculares, a Secretaria de Educação de Guarulhos se propôs, no início de 2009, a levar a cabo a tarefa de elaborar o Quadro de Saberes Necessários (QSN), parte de sua proposta curricular. E mais: fazer isso com ampla participação de diretores, coordenadores e funcio- nários das escolas, e até mesmo dos pais de alunos. “Queríamos um documento nosso, com a nossa cara”, afirma a professora Sandra Soria, dire- tora do Departamento de Orientação Educacional e Pedagógica da secretaria. Assim, partindo de um projeto político-pedagógico já consolidado, a secre- taria pediu que cada escola preparasse um quadro de saberes que, como explica a diretora, deveria ter seu foco no desenvolvimento do aluno como um todo, e não apenas no conteúdo curricular. A rede municipal de ensino de Guarulhos conta com 124 escolas de educação infantil e ensi- no médio, com cerca de 5 mil professores e 110 mil alunos. A maior parte das unidades fez a lição de casa e apresentou sua proposta de quadro de sabe- res. Daí para a frente, coube ao departamento pe- dagógico consolidar o material recebido. “Foi um trabalho homérico”, lembra a diretora, explicando que o esforço contou com um grupo de trabalho formado por diretores e coordenadores pedagógi- cos das escolas. O documento preliminar, estruturado a par- tir de cinco eixos (Corpo e Movimento, Interação Social, Autonomia e Identidade, Comunicação e Expressão