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Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Caso 01 – HAS Denise, 48 anos, natural e procedente de Salvador, casada, mãe de 2 filhos adolescentes, dona de uma empresa de transportes urbanos e gestora da mesma, procurou atendimento médico com queixa de palpitações frequentes. Foi atendida na Clínica FTC, pelo cardiologista. Denise referiu que as palpitações ocorrem quando ela se estressa no trabalho ou com os filhos, que atualmente lhe dão muito trabalho e preocupação. Sente o coração batendo forte e mais rápido, por alguns segundos e fica ofegante, sentindo falta de ar. Depois tudo passa. Como sua vida é muito agitada e cheia de compromissos, responsabilidade, preocupações e aborrecimentos, esses episódios estão ocorrendo quase que diariamente. Em casa, à noite, costuma ter dor de cabeça, em geral occipital, às vezes holocraniana, o que vem comprometendo seu casamento, pois fica mal humorada e briga com o marido. Faz uso de dipirona por conta própria, com melhora da cefaléia. Refere insônia e diminuição da libido. Refere também dor epigástrica em queimor relativamente freqüente. Sem outras queixas. Já foi atendida por médicos em momentos em que estava com cefaléia e estes lhe informaram que sua tensão arterial (TA) estava elevada; nessas ocasiões, os médicos prescrevem hidroclorotiazida; em outros momentos a TA encontrava-se normal. Denise considera-se uma pessoa nervosa. Sua prioridade é o trabalho, pois é ambiciosa e consumista. Nos curtos períodos em que sai de férias com a família, os sintomas de palpitação, insônia e cefaléia diminuem muito ou mesmo desaparecem. É tabagista desde os 18 anos, fumando em torno de 15 cigarros/dia. Há vários fumantes entre seus pais e tios. Seu pai morreu subitamente aos 46 anos; seu avô paterno, aos 55 anos, por acidente vascular cerebral. Seu irmão e sua mãe têm hipertensão lábil. Exame físico: Bom estado geral e nutricional, ansiosa, taquipsíquica, com idade aparente compatível com a referida, sem sinais aparentes de doença. Altura – 1,65m; peso – 59 Kg; cintura abdominal - 75 cm. Pulso radial – rítmico, cheio, 90/min; TA nos membros superiores – 180/90 mmHg (em posição deitada) e 140/80 mmHg (em posição sentada); frequência respiratória (FR) – 14/min; temperatura axilar – 36,2oC . Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Exame geral: pele seca, sem lesões, com turgor e elasticidade normais; fâneros – pelos secos, unhas quebradiças; mucosas coradas, sem lesões; TCSC – em quantidade normal, sem edema; gânglios pequenos, elásticos, móveis, indolores, em região cervical posterior; dois gânglios aumentados, dolorosos, em região submandibular direita; nas demais regiões (supra e infra-claviculares, axilares, epitrocleares e inguinais) não se palparam gânglios. Exame segmentar: Cabeça sem pontos dolorosos à palpação; olhos, nariz, ouvidos e boca sem alterações; orofaringe com hiperemia de pilares amigdalianos e amígdalas. Pescoço cilíndrico, simétrico, sem tumorações, sem estase de jugular; carótidas simétricas, sem frêmito; tireóide palpável de consistência elástica, tamanho e forma normal, sem nódulos. Tórax – forma normal, simétrico; sistema respiratório - boa expansibilidade; frêmito tóraco- vocal, percussão e ausculta normais, sem ruídos adventícios; precórdio ativo, ictus cordis no quinto espaço intercostal esquerdo, impulsivo+/IV, envolvendo duas polpas digitais; ritmo cardíaco regular; bulhas normofonéticas; ausência de 3ª ou 4ª bulha; sem sopros. Abdome - flácido, indolor, sem visceromegalia; ruídos hidroaéreos (RHA) normais. Extremidades com boa perfusão, sem cianose e sem edema. Após avaliar Denise, Dr. Alencar formulou suas hipóteses diagnósticas, solicitou alguns exames e fez a prescrição de medicamentos. Fez também algumas orientações não medicamentosas. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Caso 01 – HAS INTRODUÇÃO A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença crônica, cuja condição é multifatorial (depende de fatores genéticos, ambientais, epigenéticos e sociais) e caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial. Ou seja: PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90mmHg, medida com a técnica correta, em duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. A HAS pode ser classificada em: Primária: antes chamada de essencial, o paciente não possui uma doença de base. Secundária: o paciente tem alguma doença de base que desencadeia o aumento da pressão, como a apneia do sono, doença renal crônica, feocromocitoma. HAS persistente é a hipertensão que não consegue ser controlada mesmo tomando medicamentos (3 ou + classes, sendo um deles um diurético). A crise hipertensiva ocorre quanto temos uma elevação rápida de pressão e/ou lesão de órgão alvo de forma aguda (principalmente coração, cérebro e rim). EPIDEMIOLOGIA - Doença crônica mais prevalente; - Acomete 30% dos adultos no Brasil; - A chance de desenvolver a doença aumenta com a idade; - Aumenta a chance de Doença Cardiovascular (IAM, AVC, DRC) e as DCV são o tipo de doença que mais matam no mundo. HIPERTENSÃO PRIMÁRIA Fatores de risco: • Idade; • Etnia – Negros; • Obesidade; • Sedentarismo; • Alta ingesta de sal; Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Fisiopatologia Existem três mecanismos principais da hipertensão: 1 – Mecanismo Hormonal – Sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona O aparelho justaglomerular funciona como o vigia do rim, ele que fiscaliza o que chega ao rim, verifica o volume que está chegando através da dilatação da arteríola e quantidade de sódio que chega na região da mácula densa. Existe uma enzima renal (zimogênio), chamada pró-renina, que está inicialmente inativa. Mas quando o fluxo renal reduz, ou seja, quando ocorre uma hipoperfusão/hipovolemia ou quando diminui a quantidade de sódio que chega ao rim, essa pró- renina é ativada e vira a renina. A renina atua convertendo o zimogênio Angiotensinogênio, que é produzido por alguns tecidos do corpo – principalmente no fígado-, em Angiotensina I. A A1 também é inativa e será ativada através da enzima pulmonar ECA (enzima conversora de angiotensina) em Angiotensina II. A AII tem ação metabólica, se liga ao receptor AT1, e realiza as seguintes funções: - SNC: ativação simpática, liberação de catecolaminas como noradrenalina, dopanima e epinefrina; - Endotélio: causa uma disfunção endotelial e inflamação da musculatura lisa dos vasos; - Células miocárdicas: crescimento e fibrose, causando a longo prazo uma hipertrofia; - Rins: estimula a retenção de água e sódio; - Córtex da adrenal: ativação da aldosterona que atua no túbulo contorcido distal estimulando a retenção de água e sódio, eliminando potássio na urina. O efeito final será a vasoconstricção e retenção de água e sódio. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Espaço reservado para o SRAA Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 2 – Mecanismo Neural – Sistema nervoso simpático Pessoas hipertensas possuem uma ativação mais exacerbada do sistema nervoso simpático. O SNSatua: • Estimulando a liberação de renina pelas células justaglomerulares. Então, além da renina liberada devido a hipoperfusão e diminuição da quantidade de sódio que chega ao rim, é liberado mais renina devido a ação do SNS; • Estimula a retenção de água e sódio no rim; • Causa vasoconstrição de vasos. Desse modo, o efeito final da ação do simpático é semelhante à do SRAA: Retenção de água e sódio e vasoconstrição. ! Um sistema estimula o outro: o sistema renina estimula a resposta simpática e a atividade simpática estimula a liberação de renina, causando um feedback positivo. 3 – Mecanismo renal: curva pressão x natriurese O terceiro mecanismo é o renal. O paciente hipertenso tem um SET POINT alterado e precisa de uma pressão de base maior para liberar a mesma quantidade de sódio que uma pessoa normal. Existem pessoas que são “sal sensíveis”, ou seja, quando esse indivíduo ingere sal, a pressão sobe mais rápido que um indivíduo normal. Isso pode ocorrer tanto com um paciente normal quanto com o hipertenso. Quadro Clínico Assintomático! Em geral, o paciente hipertenso não apresenta sintomas, esse é o maior problema da hipertensão. Cefaleia: Paciente com PAS de 140/150mmHg muito possivelmente não apresentará cefaleia (famosa dor da nuca), ocorre normalmente quando a pressão sobe muito, cerca de 170/180/190mmHg de sistólica. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 O paciente começa a desenvolver sintomas quando existe lesão de órgão alvo (LOA). Lesão cardíaca pode causar dor torácica se doença coronariana ou dispneia se insuficiência cardíaca. Lesão em SNC pode causar AVE ou AVC, causando afasias ou paresias. Lesão renal causando uma doença renal crônica, apresentando sintomas como oligúria e anasarca. O ideal é que o paciente seja avaliado periodicamente para que se hipertenso, identificar e tratar o paciente ainda assintomático e sem LOA. Exame físico - Aferir PA dos dois MMSS, pois se houver assimetria deve investigar doenças específicas como coarctação ou secção de aorta. ➔ Diferença: >20mmHg de sistólica ou >10mmHg de diastólica. - Aferir PA em membro superior e inferior (tornozelo), se a PA inferior for muito baixa e discrepante, é sinal de gravidade (aterosclerose). - Ausculta cardíaca: paciente com doença valvar pode apresentar sopro, se presença de B3 em paciente com insuficiência cardíaca sistólica e B4 em paciente com insuficiência cardíaca diastólica. - Ausculta pulmonar: crepitações em pacientes com insuficiência cardíaca. - Ausculta abdominal: pacientes com doença renovascular podem apresentar sopros à ausculta. - Avaliação neurológica de pares cranianos e força motora, avaliar possível comprometimento neurológico. Aferição da PA: - Lembrar que: o paciente não deve ter feito exercício físico na última hora, não pode ter fumado nos últimos 30 minutos - Posicionar o manguito na linha média entre o olecrano e o acrômio. - Insuflar 20mmHg acima da PAS (pulso). - PAS: primeiro som, fase I de Korotkoff; - PAD: desaparecimento do som, fase V de Korotkoff; Quando aferido em dois momentos distintos. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 O paciente pode ter uma hipotensão ortostática, isto é, uma queda de pressão (PAS >20/PAD >10) ao levantar-se. Ocorre principalmente em idosos e pacientes diabéticos. MRPA MRPA - Medida residencial da pressão arterial: ➔ Três medidas pela manhã e três medidas a noite durante 5 dias ou 2 medidas de manhã e 2 medidas a noite durante 7 dias. Será HAS quando > ou = a 135/85mmHg. Mapa Aparelho fixado no braço do paciente que fará medições a cada 15 a 30 minutos durante 24h. Esse método tem a vantagem de aferir a noite e aferir em diferentes momentos do dia do paciente. Usaremos a média da PA em vigília, durante as 24h e durante o sono. As medidas da imagem são consideradas normais, será hipertensão quando maior que esses valores. As medidas em casa e no consultório podem ser confluentes ou convergentes. ➔ Se normal em consultório e normal em casa = normotenso ➔ Se alta no consultório, mas normal em casa = hipertensão do jaleco branco. Tem maior risco de desenvolver doença cardíaca, mas ainda não é hipertenso. ➔ Se normal no consultório e alta em casa = hipertensão mascarada, é HAS. ➔ Se alta em consultório e alta em casa = hipertenso ou hipertenso medicado não controlado. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 A hipertensão sistólica isolada é mais comum ocorrer em idosos. Exames complementares Hemograma; Função renal com eletrólitos: Ureia, creatinina, sódio e potássio; Glicemia de jejum: verificar descompensação do diabetes quando hipertenso; Perfil lipídico; Urina tipo 1 + albinoglobinúria; ECG: avaliar sobrecarga ventricular ou arritmias; RX tórax: verificar pulmão e área cardíaca; Ecocardiograma: avaliar massa ventricular e possível doença ventricular associada; USG de carótidas: avaliar espessamento de carótidas que é um marcador de órgão- alvo; Exame de fundo de olho: é um espelho da microcirculação do organismo e detecta retinopatia hipertensiva. Estadiamento O paciente pode ser classificado em 3 opções de grupos: ➔ Paciente com fator de risco para desenvolver LOA; ➔ Paciente com LOA; ➔ Paciente com DCV estabelecida. Fatores de risco Doença cardiovascular prematura é a que ocorre antes de 55 anos em homens e antes de 65 anos em mulheres. Lesão de órgão-alvo Paciente mais grave pois já começou a apresentar problemas. - HVE – Hipertrofia ventricular esquerda: pode ser avaliada pelo ECG e ECO. - EMI – Espessura média intimal da carótida, quanto mais espessa pior, pois é sinal de aterosclerose. EMI acima de > 9mm significa LOA. - ITB – Índice tornozelo braquial quando < 0.9, sinal de aterosclerose. - Albuminúria (>30mg/24h): eliminação de proteína na urina. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 - DRC estágio 3. Doença cardiovascular estabelecida: Paciente que já desenvolveu uma DCV: ➔ Cerebrovascular: AVC ➔ Arterial coronariana ou periférica ➔ DRC estágio 4 e 5 ➔ DM I ou II ➔ Retinopatia avançada III e IV ➔ Insuficiência cardíaca O estadiamento determina o tratamento do paciente. Quanto mais alto o risco, mais agressivo deve ser o tratamento, a fim de evitar complicações decorrentes da HAS. Tratamento Não farmacológico A base do tratamento é a mudança de estilo de vida! • Perda de peso: perda de 5% do peso reduz cerca de 20- 30% da PA, se obeso. • Alimentação: pouco sódio, até 5g de sal (2g de Na). • Atividade Física: realizar 30 minutos diários durante 5 dias na semana. • Reduzir consumo de álcool. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Farmacológico 1ª Linha: função de agir na fisiopatologia da doença. - IECA/BRA: IECA - inibir a ECA, inibindo todo o SRAA. BRA – bloqueador do receptor de angiotensina II, inibindo o SRAA. - Bloqueador de canal de cálcio: Fazem vasodilatação, portanto atuam contra a vasoconstrição causada pela fisiopatologia da doença. - Diuréticos tiazídicos: Aumentam a eliminação de água e sódio, agindo contra a fisiopatologia que atua retendo água e sódio. Ex: hidroclorotiazida 2ª linha: Betabloqueadores: inibem o sistema nervoso simpático. Diuréticos de alça: furosemida Antagonista de aldosterona Vasodilatadores diretos Alfa1-bloqueadores Alfa2-agonista central Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Meta de PA segundo a diretriz brasileira de hipertensão arterial: Hipertensão secundária Hipertensão com etiologiadefinida, isto é, existe uma doença de base que desencadeou uma hipertensão. HAS resistente: sem controle com > ou + classes de fármacos, sendo um deles um diurético. Hipertensão maligna: começa em estágio III (PA > 180/110) + retinopatia estágio III ou IV. Epidemiologia Ocorre em 3-5% dos pacientes no mundo. A porcentagem de pacientes com HAS secundária é baixa, então a primeira hipótese não deve ser a do tipo secundária. Quando pensar em HAS secundária? Pistas para diagnóstico: ➔ Paciente medicado, seguindo corretamente o tratamento e com Hipertensão Resistente; ➔ Paciente < 30 anos (não obesos e sem história familiar); ➔ Paciente medicado, bem controlado, mas que desregula sem motivo aparente. ➔ Paciente com hipertensão maligna. ➔ Achados específicos do exame físico e de exames complementares. Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono Comum em pacientes que roncam, possuem sonolência diurna e síndrome metabólica. Esses pacientes têm um colabamento da faringe e região da laringe durante o sono causando uma obstrução que não permite a passagem de ar. Por conta disso, o paciente tem microdespertares noturnos causando a sonolência diurna. Tutoria Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Exames complementares Polissonografia: exame do sono. IAH: índice de hipopneia por hora. Tratamento: - Perda de peso; - Exercício físico; - Evitar álcool em excesso; - CPAP: máscara utilizada durante o sono que faz uma pressão positiva contínua na via aérea.
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