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Fígado 1. Anatomia Introdução · Pesa aproximadamente 1,5kg, cerca de 2,5% do peso corporal adulto (variável) Localização · Localizado principalmente no hipocôndrio direito e na região epigástrica, estendendo-se para o hipocôndrio esquerdo · Pode-se dizer que está localizado nos quadrantes direito (maior parte) e esquerdo (menor parte) · Limite superior no 4° espaço intercostal direito e a esquerda na costela V · A margem inferior no fígado na linha medioclavicular coincide com o arco costal à direita, de modo que o fígado não é palpável em condições normais Relações Anatômicas · Relaciona-se anteriormente com: · Diafragma, margens costais direita e esquerda, processo xifoide, parede abdominal anterior no ângulo subcostal · Relaciona-se posteriormente com: · Diafragma, rim direito, flexura direita do colo, duodeno, vesícula biliar, veia cava inferior, esôfago e fundo do estômago Recessos · Espaços virtuais entre fígado e outros órgãos · Possuem líquido peritoneal para realizar a lubrificação e facilitar a movimentação · R. Hepatorrenal: situada entre a parte direita da face visceral do fígado e o rim e a glândula suprarrenal direitos · R. Subfrênico: Entre o diafragma e as faces anterior e superior da face diafragmática do fígado Faces · Face diafragmática: · Superfície convexa voltada para o diafragma (superfície inferior do diafragma) · Ela está dividida em: parte superior, parte anterior e parte direita ou área nua (única porção do fígado não coberta por peritônio) · A área nua é delimitada pelo ligamento coronário · Face visceral: · Coberta pelo peritônio visceral, exceto na fossa da vesícula biliar e na porta do fígado Porta do fígado é local de entrada e saída de alguns vasos/nervos (veia porta do fígado, artéria hepática própria, ductos hepáticos, ducto biliar, plexo nervoso), também chamada de hilo hepáticopo · É côncava e está direcionada inferiormente · Apresentando várias impressões viscerais: fissura do ligamento redondo (entre lobo esquerdo e quadrado), impressão esofágica (lobo esquerdo), impressão gástrica (lobo esquerdo), impressão duodenal (lobo direito), impressão cólica (lobo direito), impressão renal (lobo direito), impressão suprarrenal (lobo direito) e fossa da vesícula biliar (entre lobo quadrado e direito) · Dividida em parte posterior e inferior Lobos · Os quatro lobos anatômicos do fígado são definidos por características externas (reflexões peritoneais e fissuras) · Existem dois lobos principais (direito e esquerdo) e dois acessórios (quadrado e caudado) · Lobo Hepático Direito: · Maior lobo · Possui os lobos quadrado e caudado como resultantes dele, porém são funcionalmente distintos · Separa-se do lobo esquerdo pelo ligamento falciforme · Lobo Hepático Esquerdo · Lobo Quadrado · Lobo Caudado: · Entre a veia cava inferior e o ligamento venoso · Separa-se do lobo quadrado pelo ligamento hepato duodenal · É assim denominado porque muitas vezes dá origem a uma “cauda” na forma de um processo papilar alongado Ligamentos · O fígado está ligado à parede da cavidade abdominal através de cinco ligamentos formados por dobras do peritônio · L. Triangular Direito: divide-se para formar as lâminas do ligamento coronário · L. Coronário: Recebe esse nome pois circunda o fígado como uma “coroa”. Divide-se em lâminas anterior (superior) e posterior (inferior) para demarcar a área nua do fígado. As lâminas anteriores formam o ligamento falciforme, enquanto as lâminas posteriores formam o omento menor · Omento menor faz a ligação entre fígado, curva menor do estômago e duodeno (peritônio é dividido em omento menor e maior) · L. Falciforme: remanescente do ducto venoso fetal, que desviava o sangue da veia umbilical para VCI (veia cava inferior), evitando passar pelo fígado. Divide lobo direito do esquerdo e prende o fígado anteriormente a cavidade abdominal · L. Redondo do Fígado: remanescente fibroso da veia umbilical, que conduzia sangue muito oxigenado e rico em nutrientes da placenta para o feto, prende a linha alba (tecido no abdome) · L. Triangular Esquerdo: formado pelo encontro das lâminas superior e inferior do ligamento coronário no lado esquerdo · L. Hepatocaval: prende a veia cava no fígado · L. Hepatoduodenal: liga fígado ao duodeno, divide lobo caudado de quadrado e origina o omento menor Irrigação · Somente 20 a 30% do sangue que circula no fígado é arterial · O suprimento arterial para o fígado inclui: · A artéria hepática direita a partir da artéria hepática própria (um ramo da artéria hepática comum a partir do tronco celíaco) · Ramo direito irriga artéria cística, cápsula fibrosa perivesicular e canais biliares · Ramo dir. anterior irriga seg. 5 e 8 · Ramo dir. posterior irriga seg. 6 e 7 · A artéria hepática esquerda a partir da artéria hepática própria (um ramo da artéria hepática comum a partir do tronco celíaco) · Ramo esquerdo irriga lobo quadrado, caudado e esquerdo · A drenagem venosa é feita pela veia hepática que desemboca na veia cava inferior · Cerca de 70 a 80% do sangue que circula no fígado é proveniente da veia porta (baixo em oxigênio, mas rico em nutrientes) · Fígado é responsável pela drenagem/filtragem do que passa pelo sistema digestivo Inervação · Plexo nervoso hepático, derivado do plexo celíaco · Um ramo hepático do tronco vagal anterior · Os nervos do fígado são derivados do plexo hepático, o maior derivado do plexo celíaco · O plexo hepático acompanha os ramos da artéria hepática e da veia porta até o fígado · Esse plexo é formado por fibras simpáticas do plexo celíaco e fibras parassimpáticas dos troncos vagais anterior e posterior 2. Histologia Lóbulo Hepático · As células hepáticas, os hepatócitos, estão agrupadas em placas interconectadas · O lóbulo hepático é formado por uma massa poligonal de tecido cujo tamanho oscila em torno de 0,7x2 mm · Nos humanos, os lóbulos estão em contato ao longo de grande parte de seu comprimento, tornando difícil o estabelecimento de limites exatos entre lóbulos diferentes · O fígado humano contém de 3 a 6 espaços porta por lóbulo, cada um contendo um ramo da veia porta, um ramo da artéria hepática, um dueto (parte do sistema de duetos biliares) e vasos linfáticos · Todas essas estruturas estão envolvidas em uma bainha de tecido conjuntivo · São encontradas nos cantos dos lóbulos · A veia porta contém sangue proveniente do trato digestivo, pâncreas e baço · A artéria hepática contém sangue proveniente do tronco celíaco da aorta abdominal · O ducto, revestido por epitélio cúbico, transporta bile sintetizada pelos hepatócitos, a qual desemboca no dueto hepático · Um ou mais linfáticos transportam linfa, a qual eventualmente entra na circulação sanguínea · Os hepatócitos estão radialmente dispostos no lóbulo hepático, arranjados como os tijolos de uma parede · Essas placas celulares estão direcionadas da periferia do lóbulo para o seu centro e anastomosam-se (bifurcam) livremente, formando um labirinto semelhante a uma esponja · Os espaços entre essas placas contêm capilares, os sinusoides hepáticos · Capilares sinusoides são vasos irregularmente dilatados compostos por uma camada descontínua de células endoteliais fenestradas · Além das células endoteliais, os sinusoides contêm macrófagos conhecidos como células de Kupffer · São circundados e sustentados por uma delicada bainha de fibras reticulares · Mistura de sangue venoso e arterial · As células endoteliais são separadas dos hepatócitos adjacentes por uma lâmina basal descontínua (dependendo da espécie) e um espaço subendotelial conhecido como espaço de Disse, que contém microvilos dos hepatócitos · Fluidos provenientes do sangue passam rapidamente a parede endotelial e fazem um contato muito próximo com a parede dos hepatócitos, o que possibilita uma troca fácil de macromoléculas entre o lúmen sinusoidal e os hepatócitos, e vice-versa · Essa troca é fisiologicamente importante não apenas devido ao grande número de macromoléculas (p. ex., lipoproteínas, albumina, fibrinogênio) secretadas dos hepatócitos para o sangue, mas também porque o fígado captae cataboliza muitas moléculas grandes · Células de Kupffer: · Presentes nos sinusoides, podendo ser migratórios · Metabolizar hemácias velhas, digerir hemoglobina, secretar proteínas relacionadas com processos imunológicos e destruir bactérias que eventualmente penetrem o sangue portal a partir do intestino grosso · Constituem cerca de 15% da população celular no fígado · Muitas estão localizadas na região periférica do lóbulo hepático, onde são muito ativas na fagocitose · Células de Ito: · Presentes no espaço de Disse (espaço perissinusoidal) · São células armazenadoras de lipídios · Desempenham várias funções, como captação, armazenamento e liberação de retinoides, síntese e secreção de várias proteínas da matriz extracelular e proteoglicanos, secreção de fatores de crescimento e citocinas e regulação do diâmetro do lúmen sinusoidal em resposta a diferentes fatores reguladores (prostaglandinas, tromboxano A2, etc.) Suprimento Sanguíneo · O fígado é um órgão incomum, por receber sangue de duas fontes diferentes: · 80% do sangue derivam da veia porta, que transporta o sangue pouco oxigenado e rico em nutrientes provenientes das vísceras abdominais · 20% restantes derivam da artéria hepática, que fornece sangue rico em oxigênio · Sistema Portal Venoso · Sistema Arterial Hepatócitos · Células poliédricas, com seis ou mais superfícies, com diâmetro de 20 a 30 mm · Citoplasma do hepatócito é eosinofílico, principalmente devido ao grande número de mitocôndrias e algum retículo endoplasmático liso · Componentes citoplasmáticos dos hepatócitos: · O hepatócito tem um ou dois núcleos arredondados, contendo um ou dois nucléolos · O hepatócito contém abundante retículo endoplasmático, tanto liso quanto granuloso · O retículo endoplasmático granuloso forma agregados que se dispersam no citoplasma, os quais são frequentemente denominados corpos basofílicos · Cada hepatócito contém aproximadamente duas mil mitocôndrias · Os complexos de Golgi no hepatócito também são numerosos - até 50 por célula (formação de lisossomos e a secreção de proteínas, glicoproteínas e lipoproteínas) · A superfície de cada hepatócito está em contato com a parede do capilar sinusoide, através do espaço de Disse, e com a superfície de outros hepatócitos · Sempre que dois hepatócitos se encontram, eles delimitam um espaço tubular entre si conhecido como canalículo biliar · Os canalículos, que constituem a primeira porção do sistema de duetos biliares, são espaços tubulares com cerca de 1 a 2 µm de diâmetro · Eles são delimitados apenas pela membrana plasmática de dois hepatócitos e contêm poucos microvilos em seu interior · Junções comunicantes do tipo gap são frequentes entre os hepatócitos e são importantes na comunicação intercelular, participando do processo de coordenação das atividades fisiológicas dessas células · Cerca de 5% da proteína exportada pelo fígado é produzida pelas células de Kupffer; o restante é sintetizado pelos hepatócitos Regeneração Hepática · Apesar de ter um ritmo lento de renovação celular, o fígado apresenta uma capacidade de regeneração extraordinária 3. Fisiologia Metabolismo da glicose e de outros açúcares Metabolismo de lipídios · Lipídios representam a maior reserva energética do corpo · Quando o organismo precisa de energia a lipólise é ativada (catabólica) · Lipólise · Digestão de lipídios: 1. Gordura da dieta passa pelo estômago em direção ao intestino 2. Durante o caminho a vesícula biliar secreta os sais biliares que vão emulsificar (suspensão) a gordura em micelas menores 3. No intestino, essas micelas (triglicerídeos) penetrarão os enterócitos, onde se ligarão a proteínas tornando quilomícrons 4. Quilomícrons irão para os capilares, parte deles sendo transportados para os miócitos, tecido adiposo e glândulas mamárias 5. Remanescente de quilomícrons (contendo na maior parte proteínas e colesterol) irá ao fígado através do sistema porta · Quando há excesso de energia acontece a lipogênese (anabólica) · HDL, LDL, IDL, VLDL Lipólise · Estimulada pelos hormônios glucagon, cortisol e adrenalina · Ocorre em períodos de jejum, exercícios físicos, estado de alerta ou de estresse Lipogênese · Acontece quando há excesso de glicose, ATP, Acetil-CoA ou NADPH (energia) · Acontece nas células do fígado e do tecido adiposo · Ocorre no citoplasma da célula · 1ª etapa: produção de malonil · Percursores: Acetil-CoA (proveniente da hidrólise dos TAG em ácidos graxos que serão convertidos na enzima) · 2ª etapa: alongamento da cadeia (repetição da 1ª etapa quantas vezes precisar) · 3ª etapa: adição do glicerol · Produto final é o triglicerídeo que é armazenado em forma de gordura Síntese do Colesterol · 1ª etapa: formação do melavonato · Precursor: Acetil-CoA (estimulado pela insulina) · 2ª etapa: formação das unidades isoprenóides · 3ª etapa: formação do esqualeno (3 colesteróis) · 4ª etapa: formação do colesterol (lise do esqualeno) Metabolismo de aminoácidos · O fígado é capaz de sintetizar todos os aminoácidos não essenciais (alanina, arginina, asparagina, aspartato, cisteína, glicina, glutamato, glutamina, prolina, serina e tirosina), ou seja, aqueles que não precisam ser adquiridos da dieta · Os aminoácidos sintetizados pelo fígado, juntamente com os provenientes da dieta, são utilizados na síntese de proteínas hepáticas, de proteínas plasmáticas e teciduais, de hormônios proteicos e de nucleotídeos Síntese de proteínas do plasma · A maioria das proteínas plasmáticas é sintetizada no fígado (com exceção de imunoglobinas, anticorpos) · Albumina, importante na manutenção da pressão osmótica e no transporte de alguns hormônios e de outras moléculas; · Proteínas de fase aguda, aumentam suas concentrações plasmáticas em resposta à inflamação; · Proteínas transportadoras de hormônios esteroides; · Fatores de crescimento; · Fatores pró-coagulantes e anticoagulantes; · Lipoproteínas; · Proteínas envolvidas na resposta imune; · Angiotensinogênio; · Entre outras. · Quando as proteínas são degradadas nos tecidos, liberam aminoácidos que são catabolizados, formando amônia, que é extremamente tóxica. A conversão de amônia em ureia, um composto menos tóxico, ocorre principalmente no fígado, por meio do ciclo da ureia. Esta ureia é transportada para o sangue e eliminada na urina Digestiva · O fígado participa na digestão de lipídios através da síntese e secreção de bile no duodeno · A bile é essencial para a digestão de lipídios no trato gastrintestinal Endócrina · Pode converter hormônios em formas mais ativas, em que se destacam a desiodinização da tiroxina em tri-iodotironina e a síntese de IGF-I em resposta ao hormônio de crescimento · O fígado ainda secreta o angiotensinogênio, que, pela ação da renina, é convertido em angiotensina I, molécula precursora da angiotensina II, um potente vasoconstritor Imunológica · Função imunológica é realizada pelas células de Kupffer, macrófagos residentes fixos nas membranas dos capilares sinusoides · Essas células fagocitam bactérias, parasitas e endotoxinas, provenientes do trato gastrointestinal, antes que alcancem a circulação geral · As células de Kupffer endocitam pelo menos 99% dos microrganismos que chegam ao fígado, impedindo que entrem na circulação sanguínea · Além disso, fagocitam partículas endógenas, como restos celulares e eritrócitos envelhecidos Armazenamento · Armazena vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e hidrossolúveis (B9 e B12)