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O processo de gestão de estoque do cliente pelo fornecedor: Vendor Managed Inventory (VMI) Charlene B. S. Luz Introdução O VMI (Vendor Managed Inventory) ou Estoque Gerenciado pelo Fornecedor mostra a relevân- cia do fornecedor no controle de estoques. Nesta aula, você compreenderá como o VMI atua para gerar eficiência na cadeia de suprimentos. Vamos lá? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer o processo de VMI, sua complexidade, riscos, vantagens e desvantagens; • compreender as etapas de planejamento do VMI. 1 Conceitos e objetivos do VMI O VMI foi baseado no ECR (Efficiente Consumer Response ou Resposta Eficiente ao Consu- midor). Porém, os focos desses sistemas são diferentes. No ECR, o cliente gerencia a reposição de estoques. Já no VMI, o fornecedor tem o papel de administrar quantidades e prazos de supri- mento no cliente. Assim, conforme Vivaldini e Pires (2010), o objetivo principal do VMI é o forne- cedor gerenciar os estoques do cliente. Para alcançar esse objetivo principal, existem os objetivos específicos, os quais são: • reduzir estoques: diminuir e/ou eliminar estoques; • manter o nível de serviços: não deixar faltar mercadorias; • possibilitar a demanda puxada: o fornecimento se realiza de acordo com as necessi- dades do cliente; • conhecer a demanda: o fornecedor precisa saber sobre as oscilações de compra e conhecer o mercado do seu cliente para atendê-lo. EXEMPLO Uma empresa implantou o VMI e o fornecedor passou a gerenciar os seus esto- ques. O nível de serviços ao cliente melhorou, pois não faltava produtos na prate- leira. O fornecedor controla os estoques continuamente e sabe quando a demanda aumenta, fornecendo as quantidades adequadas. O VMI mantém os estoques em quantidades combinadas por contrato, com propriedade do cliente. Assim, o fornecedor acessa os dados do cliente referentes ao inventário e vai controlando por EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados) para suprir a mercadoria sempre que alcançar deter- minada quantidade. Além disso, o fornecedor se responsabiliza pelas ordens de compra do seu material. (VIVALDINI E PIRES, 2010) Figura 1 - Parceria com fornecedor Fonte: goodluz/Shutterstock.com. SAIBA MAIS! No artigo “O Sistema de Gerenciamento de Inventário pelos Fornecedores (VMI) e o Processo de Planejamento de Vendas e Operações”, Guenka e Rebelo mostram a aplicação do VMI. Leia o artigo acessando: <http://www.convibra.com.br/upload/ paper/adm/adm_1420.pdf>. Segundo Vivaldini e Pires (2010, p. 37), “a implementação e a operacionalização do VMI só faz sentido se for baseada em uma relação de parceria e confiança, com efetivo compartilhamento de informações”. Então, o fornecedor torna-se uma extensão do setor de gestão de materiais da empresa. Assim, o VMI funciona com base na relação de parceria entre cliente e fornecedor, pois as informações são compartilhadas de forma transparente e em tempo real. 2 Exemplos de empresas que usam o processo de VMI Empresas do mundo inteiro adotam o VMI, em função da sua eficiência. Na Alemanha e nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria das empresas utilizam VMI. Já no Brasil, quase metade das grandes empresas adotam o sistema. Como o VMI é global, quanto mais as empresas adota- rem esse sistema, mais estarão inseridas no mercado internacional. (ARBACHE, 2011) Figura 2 - Abrangência do VMI Fonte: nmedia/Shutterstock.com O VMI pode ser utilizado em diferentes empresas para melhorar a gestão dos estoques. Alguns setores em que o sistema está fortemente presente são: distribuidoras, supermercados, livrarias, hospitais e indústrias. EXEMPLO Segundo Arbache (2011, p. 121), uma montadora de automóveis, com a implanta- ção do VMI, conseguiu em nove meses baixar o custo com o estoque, e o índice de disponibilidade de peças ao consumidor passou de 85% para 93%. FIQUE ATENTO! Empresas em diversos países utilizam o VMI, inclusive no Brasil. Negócios de qual- quer área podem adotar esse sistema com a finalidade de aprimorar a gestão de estoques. Observa-se que essas empresas atuam em nível global, tendo filiais e fornecedores em diver- sas partes do mundo. Apesar de serem de diferentes áreas, essas empresas têm em comum a adoção do VMI, permitindo que o fornecedor tenha acesso às informações e gerencie o estoque. Se em empresas com tamanha complexidade o VMI é um sucesso, em empresas menores, tam- bém pode ser bem-sucedido. 3 Vantagens e desvantagens do VMI A adoção do VMI apresenta benefícios e desvantagens dependendo do nível de integração da empresa entre os setores e com seus fornecedores e clientes. Quanto mais confiança houver entre os elementos da cadeia de suprimentos, maior será a possibilidade de o VMI ser vantajoso. Segundo Vivaldini e Pires (2010, p. 37), o VMI “requer uma integração significativa de informações e de coordenação de processos e de operações entre as empresas da cadeia de suprimentos”. Assim, essa integração é pré-requisito para o funcionamento do VMI. Segundo Corrêa (2010), é uma questão de a empresa se preparar antes de implantar o VMI e assim desfrutar de diversas vantagens como: • redução de estoque: as reposições consideram a demanda que o fornecedor visualiza no estoque do cliente. • melhoria do nível de serviço e atendimento: evita a falta de produtos ao cliente. • aumento do faturamento: a receita aumenta, pois os produtos são vendidos conforme a necessidade do cliente, sem precisar baixar o preço para vender. • excelência operacional: o fornecedor providencia a reposição na empresa com exce- lência, por ter interesse em continuar vendendo. • maior tempo para atividades estratégicas: segundo Corrêa (2010, p. 285), a principal vantagem do VMI é “focalizar-se nas suas atividades-fim, deixando a gestão de esto- ques dos insumos a cargo do fornecedor”. Figura 3 - Foco na estratégia Fonte: Dreamstime.com. Apesar de todas essas vantagens, segundo Corrêa (2010), há algumas desvantagens refe- rentes à adoção do VMI, tais como a falta de confiança nos fornecedores, pois há diversas causas como informações incompletas e falhas na comunicação. Nesses casos, a previsão da demanda não possui exatidão. FIQUE ATENTO! A principal vantagem do VMI é que, ao delegar a gestão de estoques ao fornecedor, sobra mais tempo para focar nas atividades da sua empresa. Por isso, antes de im- plantar o VMI, a empresa precisa ter uma boa relação com fornecedor, pois a falta de confiança é o principal motivo de fracasso do VMI. Continue a leitura para aprender mais sobre o VMI! 4 Risco de atuação do VMI Alguns riscos estão associados à implantação do VMI, especialmente no que se refere ao contato com os fornecedores. Hara (2011, p. 104) afirma que “ao receber informações diárias de vendas no varejo, ele tem o compromisso de manter o estoque do varejista, fazendo o aprovisio- namento do que é necessário.” Dessa forma, há o risco de o fornecedor ser desatento e não controlar a necessidade de material do cliente, atrasando a entrega. Há também o risco de o fornecedor ter muita demanda e priorizar o atendimento de determinados clientes, deixando outros sem material ou fornecendo quantidade inferior à necessária. 5 Etapas do planejamento do VMI O VMI faz sentido em duas situações principais: “quando o fornecedor tem mais foco ou mais informações sobre a demanda do que o cliente” (CORRÊA, 2010, p. 284). Essa consciência da importância do fornecedor para o negócio é premissa para o planejamento da implementação do VMI. Além dessa questão de confiança no fornecedor, deve existir compromisso dos líderes para motivar a equipe para que a mudança com o VMI seja encarada de forma positiva. Assim, os colaboradores terão adesão à ideia e não esconderão informações do fornecedor. SAIBA MAIS! O artigo “A aplicação do VMI a um modelo de gestão integrada de estoques”, de Perales, Lima e Mitzcun (2008), mostra como o VMI pode ser implementado. Você pode acessá-lo em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_tn_stp_069_492_12221.pdf>. Alguns passos são importantes para a implementação do VMI ser mais do que um sistema novo na empresa. O VMI deve ser encarado como a solução que aproxima a empresa de seus for- necedores e clientes. Assim, ao planejar a implementação do VMI, deve-se considerar itens como: • apoio: obter aceitação de todos envolvidos, principalmente dos colaboradores; • transparência na comunicação: empresa e fornecedor devem estipular em contrato detalhes sobre o nível de estoque a ser mantido, a quantidade a ser reposta, por exemplo. As responsabilidades de cada parte também precisam ser definidas para evitar conflitos; • preparação para implementação: tomar o cuidado de planejar a interface dos sistemas das empresas para o VMI funcionar bem; Figura 4: Interface Fonte: Shutterstock.com. • fazer testes: é de vital importância testar o funcionamento do sistema antes de imple- mentá-lo para corrigir possíveis falhas antes da sua implementação; • fornecer histórico: o fornecedor precisa ter o histórico da demanda da empresa o mais completo possível. Assim, ele terá uma base de dados para prever o comportamento da demanda. FIQUE ATENTO! O planejamento da implantação do VMI precisa considerar a confiança no forne- cedor e aceitação dos colaboradores. Assim, os principais passos para planejar a sua implementação são: apoio dos envolvidos, transparência na comunicação, preparação para implementação, testes e histórico para o fornecedor ter um ponto de partida na gestão de estoques. Agora, você já sabe o quanto o VMI fortalece a relação entre empresa, fornecedor e cliente, através da gestão de estoques! Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender conceitos e objetivos do VMI; • identificou as vantagens e desvantagens do VMI; • compreendeu as etapas do planejamento do VMI. Referências ARBACHE, Fernando (org). Gestão de logística, distribuição e trade marketing. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2011. CORRÊA, Henrique Luiz. Gestão de Redes de Suprimentos. São Paulo: Atlas, 2010. GUENKA, Fábio; REBELO, Luiza Maria Bessa. O Sistema de Gerenciamento de Inventário pelos Fornecedores (VMI) e o Processo de Planejamento de Vendas e Operações. VII Convibra Admi- nistração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração. Disponível em: <http://www.convibra. com.br/upload/paper/adm/adm_1420.pdf>. Acesso em: 30 out. 2017. HARA, Celso Minoro. Logística: Armazenagem, distribuição e trade marketing.4. ed. São Paulo: Editora Alínea, 2011. JULIANELLI, Leonardo. Colaboração externa no planejamento da demanda. Disponível em: <http://www.ilos.com.br/web/colaboracao-externa-no-planejamento-da-demanda-uma-realidade- -ainda-distante-para-a-maioria-das-empresas-brasileiras/>. Ilos, 29 dez. 2015, Acesso 11 out. 2017 PERALES, Wattson José Saenz; LIMA, Gustavo Martins de; MITZCUN, Gabriel Brito. Aplicação do VMI a um modelo de gestão integrada de estoques em um órgão público. XXVIII Encontro Nacio- nal de Engenharia de Produção, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, out. 2008. Disponível em: <http://www. abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_tn_stp_069_492_12221.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2017. VIVALDINI, Mauro; PIRES, Sílvio. Operadores Logísticos: Integrando operações em cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas: 2010.